Revista Babel - Número 1

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Revista B BEL A REVISTA DE ARTE E CULTURA DA ESCOLA POLITÉCNICA NÚMERO 1

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Primeira edição da revista de arte e cultura da Poli USP.

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Page 1: Revista Babel - Número 1

R e v i s t aB B E LA R E V I S TA D E A R T E E C U LT U R A D A E S C O L A P O L I T É C N I C A

N Ú M E R O 1

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Conteúdo desta edição

Insólito - Arthur V Salles 5

O Pequeno Labirinto de Bach - João Loula 8

Poesias - Diversos Autores 10

Prometeu Moderno - Arthur V Salles 6

Maldita Rotina - Amanda S Fernandes 9

Animalia - Catharina Moreira 14

Retratos - Laís I Kurusu 17

Lula Catadora de Sonhos - Luciana Marques 16

Vigiar e Punir - Arthur V Salles 20

No teu Deserto - Amanda S Fernandes 23

Exposições 24

Clássica São Paulo - Giulia A Mendonça 27

Cinema 25

B B E L

Artes Visuais

Lemos e Gostamos

Guia

Literatura

Michael Foucault, filósofo francês, autor, dentre outras grandes obras, de Vigiar e Punir, livro abordado nesta edição

A Protagonista - Amanda S Fernandes 4

Temas Circulares - Giulia A Mendonça 18

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E d i t o r i a lTodos nós conhecemos a famosa história da Torre de

Babel: após o dilúvio os descendentes de Noé de-cidiram reunir-se para construir uma torre que al-

cançasse os ceús e os aproximasse de Deus. Irritado, Javé (o deus hebraico) desce à terra para ver a construção da torre que se erguia, pouco a pouco, de tijolos e betume. Indignado com a petulância humana de tentar alcançar o Criador, ele profere: “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam a fala um do outro.” Os idiomas foram criados junto com o desentendimento humano.

Engenharia, literatura, cálculo, pintura, física, música, to-dos esses conhecimentos jogados assim no papel parecem dispares e alheios uns aos outros, aparentando ser a pró-pria Babel dos tempos modernos. Mas não é verdade. Ke-pler descreveu o movimento dos planetas por meio de um acorde de dó maior. Saturno, o planeta mais distante e mais lento, emitia a nota mais grave das seis notas de seu acor-de; Mercúrio, a mais aguda. M.C Escher, o famoso pintor austríaco, desenhou paradoxos topológicos complexos sem

jamais ter cursado Matemática. A verdade é que arte e ci-ência são complementares e caminham juntas na formação do conhecimento humano.

Agora, alguns milhares de anos depois daquela mítica que-rela, um grupo de alunos decidiu reunir-se para construir uma torre um pouco diferente. Uma torre que também par-te da multiplicidade de linguagens, mas que tem nessa, não sua infeliz destruição, mas o alicerce de toda sua concep-ção. Somos todos engenheiros, mas somos também artistas muitas vezes incomunicáveis. O que queremos é construir um espaço em que as mais diversas vozes e gostos possam se manifestar e também se encontrar. Foi pensando nisso que criamos a revista Babel. Um espaço no qual os alunos da Poli podem deixar um pedaço de todas as suas criações: literatura, fotografia, música, desenho. Até guia para deixar os engenheiros por dentro dos filmes e exposições mais le-gais que a cidade tem para oferecer, você vai encontrar nes-sa revista. E o melhor é que você também pode fazer parte dela, ajudando a colocar mais tijolos nesse projeto que se inicia aqui, com essa revista que se encontra nas suas mãos.

C o n s t r u t o r e s d e b a b e lAmanda Simões

FernandesArthur Valle

SallesAugusto Ruy

MachadoBruno

BeltraminiGiulia Avallone

Mendonça

Laís Inoue Kurusu Martim Zurita Pedro Chazanas Tiago Colin Você

?

Editora-chefe Diretor GeralDiretor do Guia

Cultural Diretor de Prosa Colaboradora

Diretora de Imagem

Diretor de Artes Visuais

Diretor de Poesia Colaborador Colabore também conosco!

Page 4: Revista Babel - Número 1

4 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Literatura

Eram por volta das duas da tarde, quando o homem cruzou a Alameda dos Alfaiates. Pensar-se-ia que era uma paisa-gem provinciana, céu aberto, sol a pino, barro escaldante,

poucos casebres, talvez um ou outro armazém e a pequena loja de penhores quase no final da galeria. Mas não o era, estávamos quase no século XIX em um bairro qualquer da antiga Londres. Se bem que naquela época não existissem mesmo muitos bairros. A primeira Revolução Industrial havia chegado ao país, embora a população contemporânea não a percebesse. Tudo que viam, era a constante invasão da massa campestre, a pesada nuvem de car-bono tocando os telhados, o cheiro pútrido de urina invadindo as janelas e a orgia de ratos, baratas e lacraias sob os pés huma-nos. As pessoas ouviam, cheiravam, sentiam a mudança sob sua carne, bem debaixo do nariz das ratazanas, quase no fundo dos esgotos, mas não a percebiam. Não percebiam no meio daquele caótico borbulhar urbano, o início do metamorfismo, da transfi-guração humana. Enfurnados nas fábricas, nas ruas, nas famílias e no maquinismo eram todos iguais. Homens, cadelas, formigas, indústria. Acordavam todos cedo, embora naqueles tempos pou-cos tivessem um relógio; demarcar o tempo era coisa divina, dig-na dos sinos da igreja. Vestiam-se. Ainda que não houvesse mes-mo muitas roupas, talvez uma camisa cinza, um corpete preto e uns sapatos marrons e estavam todos trajados. A cor dos sapatos, não era em si muito diferente da dos céus e muito menos da das fábricas. Digamos que o mundo, assim... combinava, e variava na escala do preto, mas também não muito.

O fato era que esse homem não era um sujeito comum. Sem dúvida não o era! As pálpebras recaídas quase lhe invadindo a boca, a pele seca, rugosa; o pelo áspero que arranhava a própria fuligem; as batatas da perna grossas, peludas; o nariz de abutre assanhado e a esdrúxula cicatriz no braço esquerdo. Era ele o homem! Aquele típico corvo solitário de taberna, humano sem vocabulário e nem dores, com a carrancuda cicatriz como arma-dura. Mas a verdade é que aquela impontualidade o diferenciava de nós, bordava naquela escala de preto um pingo de púrpura. E era isso que me chamava a atenção, despertava na minha come-dida existência de criança uma fatia de desconfiança aguda. Ah, e dessa fatia eu fazia um banquete! Jubilava-me com a sua pre-sença fantasmagórica em nosso bairro, com a forma como que olhava sempre para além, além de mim, além de todos nós. E eu o seguia, seguia até a estepe, até onde a cidade não abrigava mais gente, até onde os pés do estranho assassino me levassem. Ele de-via ter matado umas cinco mulheres, mas nunca notara a minha presença. Era mesmo difícil reconhecer-me, pequena, ranzinza, morena, eu não passava de uma sombra indistinguível para os olhos do sanguinário abutre, uma ridícula mancha na fantásti-ca aquarela cinza de Londres. Mas ele não gostava de manchas,

Amanda Simões Fernandesna verdade nem as notava, eram todas mínimas para ele, ponto grosso e púrpuro na alameda. E eu o seguia, seguia aquele ho-mem como a um ídolo silencioso e sucinto.

Percebi ao longo do tempo algumas constantes em seus movimentos: a forma como apertava o passo sempre que vira-va uma esquina, a maneira furtiva que se metia nos guetos e a maestria como que juntava as mãos no pescoço da vítima, que em seus braços era silenciosa, atônita, pequena como eu. Pensei até mesmo em um dia chamar-lhe, esticar todo meu corpo de menina até a ponta dos dedos para bater-lhe nas coxas e quando ele se virasse, pularia, me debateria até o deformado assassino entregar-me como mais doce presente a morte, a deselegância de seus dedos em minha epiglote. Mas não o fiz, na verdade eu nunca nem ao menos descobri o seu nome, mas também eu não precisava Percebi silenciosamente que apenas espiar sua existên-cia, já me colocava em êxtase, em pleno regozijo. E eu fiz sempre o mesmo, ao longo de quatro anos: seguia o homem até sua casa, decorava seus horários, sabia os lugares dos próximos espetácu-los e desejava internamente ser a próxima protagonista.

Com o tempo, meu corpo foi adquirindo formato: os om-bros espaçaram-se, os quadris não cabiam mais nos vestidos e os cabelos escondiam o busto. Cresci e já era difícil seguir o pri-moroso assassino sem ser notada, sem ter de franzir-me entre as paredes, esmagar o vestido nas rachaduras. E um dia ele virou, notou não sei bem se meu passo ou o desenho de minha silhueta em sua casaca. Sei que virou com fome de morte, com aqueles olhos negros de abutre que finalmente fitavam o meu franzino cenho de minhoca. Juntou as mãos com maestria em meu pesco-ço, da mesma forma simiesca que eu sempre amara, era eu enfim a vívida protagonista.

Deixou no chão mais uma mancha púrpura em meio à aqua-rela negra de Londres.

A Protagonista

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5Contribua com sua arte: [email protected]

Querida K, Infelizmente creio não ser possível responder à sua carta no

mesmo espírito jovial e alegre. Devo confessar – e espero que nossa amizade de longa data permita-me fazê-lo – que tudo vai de mal a pior.

Como bem sabe, meses atrás descobri meu ventre habitado. Inesperado? Talvez, mas decerto não totalmente mal recebido. Por sorte os negócios da família do João vão bem e não tem fal-tado nada por aqui. Ou melhor, não faltava nada até que... Não, não colocarei os bois à frente da carroça, como diziam os anti-gos. Pois bem, com o milagre da vida veio toda uma miríade de necessidades, que fazem os enjoos parecerem nada. A pior de todas foi encontrar um bom apartamento que acomodasse nossa nova família. Dias e dias entre cartões-de-visita, portarias e sor-risos engravatados dos corretores imobiliários pareciam não tra-zer resultado: aquele é muito caro; este, muito aberto e perigoso para o bebê. Já perdíamos a esperança quando um corretor mal--humorado nos trouxe para um prédio antigo escondido entre os tantos arranha-céus nas proximidades da praça J. Vizinhan-ça tranquila, preço razoável e ainda totalmente mobiliado (com certo mau gosto, mas há de se perdoar). Com alguns reparos se-ria o lar perfeito.

Não foi necessária longa espera para me descobrir tremen-damente errada. Aquele lugar que agora nos pertencia poderia estar entre os círculos visitados por Dante no inferno. Lar, doce lar? Jamais. Hoje pela manhã, quando abri a gaveta à cata de uma colher para servir a sopa e só encontrei uma profusão de gar-fos, não me abati: deveriam estar nas caixas. Uma rápida busca pela casa bastou para revelar que tudo já fora guardado em seu devido lugar, inclusive os talheres como confirmou João após um telefonema. Parece-lhe estranho? O que dizer então da mesa sobre a qual pretendia escrever esta carta? Já estava preparada com caneta e papel a postos quando puff: diante dos meus olhos a bela mesa de mogno transformou-se em um enorme aquário. Respirei fundo, contive o ímpeto de declamar a longa lista de palavrões que acumulei em vida. O controle não durou muito, pois logo a luminária que me auxiliava na redação também su-miu, sendo substituída por um irritante globo de luz. Assim é impossível continuar. As desventuras deverão esperar para se-rem vertidas para o papel.

Com os desmandos desta casa precisei ficar distante, mas agora retomo nossa comunicação. Agora, preciso registar o que se passou desde então. Alguns dias depois de ser obrigada a lar-gar a caneta, ao chegar esgotada da clínica, já me preparava para me lançar no confortável sofá quando me deparei com uma bi-cicleta ergométrica em seu lugar. Afinal conclui que poderia ser

algo bom, quem sabe não desapareceria também a barriga do maridão? Ao chegar em casa, porém, desmentiu que fosse sua aquisição. Estaria ficando louca?

Com certeza não: nos dias seguintes muito aconteceu para corroborar o fato de que o maldito corretor não foi inteiramen-te sincero quanto aos atributos do local. Tivéssemos sido devi-damente avisados da forte personalidade do espaço, corríamos para outro ou, ao menos, negociávamos um desconto proporcio-nal aos inconvenientes. Não pude, contanto, inundar o ouvido do desgraçado com as verdades que ele merecia, pois no lugar do telefone agora se situa um rádio de pilhas. Já começa a irritar esse roteiro de comédia paspalhão? Não faz mal, pararei por aqui.

Amiga, agora tudo foi por água abaixo. Uma vida confusa, porém possível? Só ilusão. Este é de fato o inferno. Sabe o que por fim me aconteceu? Não, claro que não. Você ainda não teve notícias minhas, como nunca as terá por certo. Merda. Por que logo hoje? Hoje que acordara com a certeza de ter um dia ale-gre. Hoje que, depois de tomar uma cerveja (que preenchia uma garrafa de Merlot – totalmente perdoável), resolvi inaugurar o ninho do amor da nova casa. Assim sorri para o João e não fo-ram necessárias palavras para que ele entendesse que estava no clima, que casa maluca alguma impediria a realização dos meus desejos neste dia. Enquanto tomava uma rápida ducha, sentia a ansiedade latejar em cada parte de mim. Beijar seus lábios, sen-tir sua mão forte contra minhas costas e o olhar, ai aquele olhar que invade e domina. A excitação cresceu ainda mais ao sair e encontrar o quarto às escuras: devia estar preparando alguma surpresa. Deitei-me ao seu lado, acendi o pequeno abajur, virei--me e estendi os braços para... um gato! Golpe fatal desta água furtada miserável. Execrável purgatório. Joguei o animal pela janela e gritei pelo filho-da-puta que me deixara sozinha no lei-to conjugal. Silêncio. Onde estaria esse canalha? Não no quarto, nem na sala, nem mesmo na cozinha. Só então me lembrei do olhar do animal: nada felino, mas choroso e humano. Cobri-me com um trapo qualquer e arremeti contra a porta. Mas que por-ta? No lugar da tábua, estava lá um vidro; a porta virara janela, sem maçaneta, sem liberdade.

Não sei por que ainda escrevo esta carta. Talvez imagine que a encontrem junto a meu corpo inerte no dia em que resolver--se a abrir-se mais uma vez a tirana. Nada mais é o mesmo aqui dentro. Devo terminar este registro antes que a também a canet...

Evidência n°5 – escrito encontrado sobre um trampolim no quarto do casal, ao lado de uma batuta e de um esfuminho.

Arthur Valle Salles

Insólito

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6 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Literatura

Por entre pesadas gotas chuva, vejo um homem caminhando sob terrível temporal. Vai curvado, carregando consigo o enorme peso de seu azar. Sem aviso levanta a cabeça e fita

o alto. Talvez siga, em busca de sua origem, um filete de luz que lhe alcançou os olhos. Esperançoso ergue a visão ao céu, teria de-cidido mostrar-se finalmente o astro rei? Amarga ilusão: apenas negras nuvens devolvem seu olhar.

O aquecedor do carro ruge, inundando o veículo de recon-fortante calor. Tudo estaria perfeito neste fim de tarde de domin-go, não fosse a visão do maltratado andarilho. O que leva esse rapaz a deixar o abrigo de um possível alpendre e desafiar desse modo a tormenta? Talvez o aguarde uma família, com olhos la-crimosos, ressentida da ausência do amado. Ou é então mais um louco, derrotado pelo mundo e sua lógica imbatível.

Indignado, grita o peito para que pare o carro. Que desuma-no passar indiferente ao lado de tamanho sofrimento. Coitado, mal sabe que estão, neste momento, surdos os pés e as mãos aos seus apelos. Ingratos membros, deixam-se ficar largados quando, perante a grandes emoções, titubeia o coração; agora que este lhes grita esbaforido, fazem-se de desentendidos. Não culpemos, contudo, tão servis apêndices. Conhecem a hierarquia e a ordem vinda do topo foi clara: sigam em frente, não vale o risco. Quem sabe carregue este homem misterioso uma arma e venha agora mesmo fugindo de sua última barbárie. Como é cego este órgão que nos controla, ainda que ao lado dos olhos, mal pode discer-nir dor de ameaça.

Assim protegido do acaso pela firme decisão da razão, sigo em frente, acelerando ao máximo para livrar-me logo da dúvida e da culpa. Não consigo, contudo, furtar-me de olhar uma última vez pelo retrovisor. Sinto que o homem tem os olhos voltados em minha direção. Busco ansiosamente decifrar sua feição, seu olhar. Nossos olhos se tocam no espelho, entretanto sinto que encara um infinito muito além de mim, alheio à minha presença.

A chuva cai sem dó nem piedade. Sua força me impede de le-vantar os olhos. Vou assim de cabeça baixa, atento ao som dos car-ros que não vejo. Melhor tomar cuidado, se um desses aí me pega

lá se vai o esperado encontro.A alguns passos de distância na estrada, mas tão distantes na

realidade, aceleram os motoristas na esperança inútil de salvarem alguns minutos. Idiotas. Se ao menos brecassem um pouco na cor-rida contra o tempo e olhassem o mundo com olho de pedestres. Sim, pedestre tem olho de tudo diferente: acostumado a velocidades baixas, aos detalhes. Mas não, seguem desembestados sem nota-rem que o esforço de nada vale. Passam cada segundo tentando segurar o tempo, mas ele vai se embora sem demora. Como uma pedra que se ergue apenas para logo em seguida voltar ao chão. Tempo indomável.

É por ser sabido nos assuntos do tempo que vou contente de-baixo da chuvarada. O tempo é meu amigo. Não o tempo de que falam as moças na rádio, é claro; o tempo do sol e da neblina, que mais uma vez mostra que não sou um de seus preferidos e não me dá mais que um raiozinho fraco de luz. É o tempo do tique-taque e do cuco que me presenteia com sua afeição.

Pode parecer impossível travar amizade com companheiro tão sem corpo. Mas é muito simples, seu moço: do tempo do relógio peço muito pouco, deixo que leve com ele o que, se virou passado, é porque pra nada serve no presente. Por que negaria que ele reali-zasse seu trabalho? Não tenho motivos.

Vou sem pressa. Não tenho inveja desses homens que passam com seus carros roncando do meu lado. Se entrasse em um deles, tornariam-se irmãos seu motor e meus sentidos. Embaralhados em tanta engrenagem, logo pensaria eu também que nem máquina. Que seja para outro, não quero ser também escravo da lei do má-ximo desempenho.

Reclinado sobre o divã no conforto domiciliar, reflito sobre o

estranho acontecimento da última hora. Enquanto o sabor forte do licor espanta os últimos resquícios de frio, rememoro a visão do pequeno prometeu moderno que indiferentemente recebia os castigos do alto. Pobre homem; deveria ter parado e lhe esten-dido a mão. No momento parecera-me seguro e sensato apenas seguir em frente, afinal quem sou eu para querer tornar o mundo melhor? Não estaria certa a razão que agira como déspota frente

Prometeu ModernoArthur Valle Salles

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7Contribua com sua arte: [email protected]

à decisão?O intelecto não pode ser julgado, assim como nada mais na

face da Terra pode sê-lo. Se tudo é fruto do desenrolar de uma história anterior a si, combinada às surpresas do acaso, como fa-lar em culpa. Não há certo ou errado, apenas o bom ou o ruim predestinado. Que escolha teria o pensamento se este foi molda-do nas forjas de uma humanidade em que mostrar-se humano tornou-se um risco? Fruto de uma sociedade que nos obriga a fecharmo-nos em nós mesmos em busca da sonhada proteção. Terrível jogo antiético de ser humano sem poder de fato sê-lo.

Já pelo quarto cálice, sinto o controle esmorecer. Surgem dos grotões do inconsciente brados contra o horror circundante: vida terrível, espero apenas que não se junte a morte à brincadeira, negando seus favores e condenando todos à eternidade.

Estou em uma praça de mil cores. Os pássaros cantam nas ár-vores. Belas borboletas dão piruetas pelos ares. Silenciosas respi-ram as grandes aroeiras. Eu apenas observo. Deus quando criou o mundo, pensou nos menores detalhes para a alegria de sua maior criação. Seria um grande pecado ignorar tanta harmonia.

Quieto, sou quase parte da paisagem. Pelo menos assim devem pensar os pombos, que arrulhando passeiam por entre minhas per-nas estendidas sobre a grama. Talvez sintam que não estou ali, no caixão fechado de tronco, braços e pernas. Espalho-me pela relva, penetro pelas raízes das maiores árvores, alcançando o céu para emendar no voo das maritacas. Estou nos peixes do lago e nas for-migas que serpenteiam ao pé do banco. Eu disperso, um não-eu. Somente assim me sinto em paz.

Basta um olhar para a natureza para perceber que nunca es-teve em seu projeto algo similar à igualdade. O mais forte sempre pôde mais. Ali uma mosca enrosca-se na armadilha mortal de uma teia, aqui uma ave despedaça uma minhoca. Nós também, humanos, não nascemos iguais – assim concluo ao dar passagem para mais um corredor que, esbaforido, dispara pela trilha em que caminho com dificuldade apoiado em minha bengala. Esta-ríamos, portanto, destinados à luta através da força?

Alguns milênios atrás, quando o Homo sapiens não se sabia tão sapiens ainda, talvez fosse verdadeiro o raciocínio. Após anos de evolução, com a descoberta da utilidade do polegar opositor, do fogo, da pedra lascada, da escrita, da pólvora... enfim, de todas as maravilhas que o quilo e pouco que carregamos sob os parie-tais permitiu que concebêssemos, dar crédito a tal pensamento, seria completamente infundado. Nas ruas disparam em suas má-quinas velozes tanto gordos quanto magros, na mesma velocida-de ginastas e deficientes físicos. Nos hospitais, esticam-se as vidas quais polímeros insistentes. A caça e coleta, outrora exclusivida-

de dos sãos, agora se realiza com o clique de um botão ou com simples telefonema. Para a conclusão que se assoma em mim há uma abundância de provas. Não está no corpo a desigualdade. Enquanto percorro essas sendas, não imagino fogos de artifício nem bustos ou citações premiando minha soberba conclusão. Ja-mais fui dado à leitura, não obstante, posso imaginar que muitas cabeças chegaram a tal compreensão antes de mim. É justamente nisso, contudo, que reside a novidade: que mesmo uma mente tão pouco dada aos devaneios filosóficos, às grandes causas, pos-sa perceber que o mundo não é mais o mesmo é grave sinal.

Grave, pois não se eliminou a desigualdade física para que reinasse a equidade. No tão cultuado templo da meritocracia, ainda ecoam cânticos de tempos imemoriais. Fraco e forte fo-ram substituídos na nova cultura por esperto e incapaz, esfor-çado e preguiçoso. Nega-se a discriminação pelo corpo, sem se notar que o intelecto é também corpóreo. O respeito à diferença e a elevação do poder da vontade individual pregados pela nova doutrina nada mais são que disfarces para uma transmutação em cuja essência mudança não houve.

Sobre o gramado próximo ao lago estende-se um homem em vestes maltrapilhas, exposto à intempérie, sem o menos sinal de poder da vontade. Pergunto-me então, de que forma pode este homem levantar-se e mudar seu futuro, onde está o prêmio do fim dos tempos de barbárie? Grandes são os esforços para fazer brotar a inteligência em uma mente bruta, excetuados os casos em que a genialidade de forma tão aleatória quanto rara premia um afortunado. Esforços estes permitidos apenas ao seleto grupo dos ditos merecedores. Assim rola-se um dado viciado sem que se mudem apostas ou apostadores, vencedores nem perdedores.

A desigualdade permanece, com novo nome e novos trajes. Como derrotá-la, contudo? A única arma, o livre arbítrio, foi-nos dado em herança quando matamos e enterramos o deus que ou-trora comandava os passos trilhados. Somos livres, inteiramente livres, falta querer.

Neste templo da felicidade, os únicos animais que magoam a visão não são os urubus, nem mesmo os insetos ferozes. É o bicho homem o único capaz de despedaçar o clima de sonho que aqui rei-na. Basta olhar ao lado para ver como se perderam esses infelizes. Saem de seus prédios e carros, de suas vidas artificiais para a meia hora que reservam a natureza e o que fazem? Correm em círculos, quanto mais rápido melhor, com os olhos fechados aos encantos que os cercam. Os olhos voltados para dentro continuam focados na vida que levam no concreto das construções.

Vidas roubadas por uma máquina terrível. Conectados por fios e antenas, nem mesmo no verde da natureza perdem os grilhões da escravidão. Não ouvem o canto do sabiá, porque inundam seus

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8 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Literaturaouvidos as vozes das outras engrenagens, que pedem conselhos ou dão ordens. Nos melhores dos casos, entopem-se de música que deve deixá-los relaxados o suficiente para voltarem eficientes para suas rotinas.

Das conversas apressadas, chegam aos meus ouvidos alguns trechos. Falam de sucesso e conquistas, como se, por girarem bem lubrificados em seus mancais, atingissem o objetivo final de suas vidas. Como verdadeiras polias, rodam em torno de seus eixos, tocando-se por vezes nos extremos, mas sempre sozinhos no cerne. No eterno movimento, esquecem-se do desgaste e da morte: é preci-so manter-se focado na tarefa. Nesse turbilhão, perdem também a verdade da vida. Verdade simples e banal, que seus grandes sábios dizem inexistente para, assim, tranquilizar a ignorância.

Se a natureza dá abrigo, calor, música e alimento, que favor buscar além de seus jardins? Se perco algo me negando a alimentar o terrível monstro da modernidade talvez seja o contato humano. Olhando ao redor, entretanto, é difícil dizer que estes homens tirem algum proveito de tais relações. Por isso crio raízes, desabrocho em flor, estendo minhas asas, cavo um abrigo, aqueço o ninho, torno--me tudo e nada.

É necessário querer o fim da desigualdade. É preciso que todos possam beneficiar-se do fim dos frutos da modernidade. Todos merecem um trabalho que garanta um carro, um plano de saúde e um cartão fora do vermelho. Para alcançar esse objetivo, posso sim fazer a diferença.

Caminho em direção ao homem que deitado sobre a relva desperdiça sua vida, oprimido pela falta de oportunidade. Cum-primento e estendo-lhe a mão, que ele aperta com inegável vigor. Sirvo-me dessa casualidade para iniciar meu discurso: vejo que és jovem e forte, sinto em ti vontade, atributo que falta em tantos jovens por aí. Mas percebo que olha pra mim como se não enten-desse onde quisesse chegar. Ainda assim, continuo: é deplorável

ver tanto potencial desperdiçado, enorme injustiça da vida que te colocou na posição marginal na qual hoje se encontra. Com um sorriso declaro: mas desejo ajudar-te, tirar-te da miséria na qual não optaste por nascer; com seu esforço e minha ajuda em breve verás como as coisas melhoram. A alegria esperada não emana de meu interlocutor, talvez não acredite ainda na sorte que se apresenta diante de si, por isso entro em detalhes: saibas que não brinco contigo, tenho uma fábrica de autopeças na qual facilmente arrumaremos local para ti.

Um estranho sujeito caminha com dificuldade em minha dire-ção e obriga-me a concentrar-me no corpo que me coube por ori-gem. Parece querer algo de mim, com olhos cheios de um brilho que nada de bom pode significar. Já estou pronto a disparar para longe de si quando ele começa a falar.

De forma pausada, como se conversasse com um bebê ou com um retardado, promete mudar minha vida, transformar-me em bem moldada peça para uma fabrica de peças, que ironia. Gosta-ria de poder fazê-lo calar-se, obrigar o homem a se sentar e ver o espetáculo que corre livre ao seu redor. Mas além de manco é surdo, tenho certeza. Deixo que termine seu discurso para só então soltar a enorme gargalhada que continha a muito dentro de mim.

Inesperadamente rompe o homem em alucinado riso. Só en-tão reconheço em si os traços do homem da tempestade. Assim de perto se torna trivial decifrá-lo: é de fato mais um mentecapto, alienado, louco. Qualquer sinônimo cair-lhe-á muito bem. Não quer ser ajudado.

Enquanto o desiludido filantropo se afasta pela trilha de terra batida, volto a fechar os olhos para melhor ver o que está a meu redor. O esperado encontro com a vida pode continuar.

O princípio do “Pequeno Labirinto Harmônico” de Bach é o seguinte: sempre que ouvimos uma música, rapida-mente identificamos as notas como pertencentes a uma

escala - o tom. Além disso, se percebemos, por exemplo, que o tom de uma música é Dó, sentimos a necessidade de que o último acorde a ser tocado nela seja também um Dó - nesse momento há algumas descargas de serotonina em nosso cérebro e relaxa-mos. Uma música que não termina com a nota do seu tom, em contrapartida, é motivo de grande inquietude e angústia (assim como um parêntese aberto e jamais fechado cria uma tensão que fica conosco o dia todo.

Há, contudo, um porém: é possível alterar o tom em que a música se encontra por um processo chamado modulação. Uma sequência de notas faz com que o tom passe de Dó para Ré, por exemplo. Agora, para que sigamos nosso dia com tranquilidade, precisamos de duas resoluções: uma em Ré e, depois de retornar-mos ao tom original, outra em Dó. O que Bach faz é encadear esse processo: suponha que iniciemos em Sol, seguindo depois para Ré, Dó e Mi. A música prossegue nos fornecendo resoluções em Mi, Dó, Ré e - só. A genialidade está no fato de que o conflito

inicial – em Sol - está tão profundo em nossas mentes que nem reparamos que a música não chegou efetivamente a aliviar essa tensão. Acreditamos ter achado a porta para sair do labirinto que Bach ergueu, mas, ao passarmos por ela, descobrimos que se tra-tava de uma janela.

A obra me remete à triste desventura humana. Quando jo-vens, estamos cientes de todos os grandes problemas: nossa in-significância perante o universo nos inquieta, nossa certeza de que apodreceremos sob o solo nos deprime, nossa ignorância dos princípios que nos regulam e a tudo mais nos envergonha. Conforme envelhecemos, porém, empilhamos sobre esses con-flitos toda sorte de preocupações e “problemas”: temos que ter uma boa educação, encontrar um bom emprego, casar-nos com uma mulher bonita e bondosa ou um homem rico e corajoso e comprar uma linda casa nos subúrbios onde criaremos filhos que terão uma boa educação e encontrarão um bom emprego... Ao enfartar no churrasco da família num domingo à tarde, sorrire-mos olhando para o céu enquanto os paramédicos correm à nos-sa volta, pois atingimos a resolução de todos os conflitos que nós mesmos criamos. Ao gabaritar a checklist da vida, conseguimos viver desprovidos de propósito e esquecer das questões primor-diais, que teriam roubado nosso sono, arrancado nossa alegria.

Eu não me esqueci.

O Pequeno Labirinto de Bach e a Fuga da Vida

João Loula

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9Contribua com sua arte: [email protected]

Eu odeio rotina. Quatro horas da manhã, o frio desértico da madrugada, o som metálico de milhares de desper-tadores. Eu desperto e a cidade também, visto um terno

grosso e uma camisa fina de algodão que dê espaço para a evasão de fuligem. Queria estar no Ceará, mas estou aqui no Sudeste, o sol ainda dorme em Natal, enquanto a garoa corta a janela em São Paulo. O tempo é sempre o mesmo, diria que não é difícil escolher uma roupa: as manhãs são sempre frias, as tardes sem-pre escaldantes e a noite sempre amena, apaziguadora. Tudo que preciso, é de um sapato social, um par velho de meias, uma ca-misa, um grosso agasalho, minha calça preta. Ah, e é claro... Meu relógio, é atordoante viver sem os ponteiros, sem a delimitação do compasso de vida. Tranco a porta e me irrito com o elevador. Atrás de mim, a casa ainda cheira a insônia e grão de café, pelo menos é diferente do trabalho, este cheira a papel e impaciên-cia. O elevador não chega, desisto! Vou mesmo pelas escadas são apenas quatro andares e minha chefe disse que eu preciso me exercitar, sentir novos ares, me afogar em suor. Tudo besteira. Já tentei fazer Yoga, mas não vi nada de reconfortante em contorcer minha coluna ao som robótico de natureza, de cachoeira com-putadorizada.

Eu queria mesmo mudar essa rotina, abandonar o meu mí-sero carro popular e ir viver no campo, longe da obviedade urba-na. Eu poderia produzir queijo branco e me apaixonar por uma ordenhadora de vacas. Ela seria linda, muito mais agradável que minha chefe e muito mais compreensível que minha ex-namora-da. Nós não teríamos que ir ao cinema para ver as estrelas e nem

em restaurantes para comer comida caseira Este é o último farol, na próxima esquina é só virar à esquer-

da e já posso ver o escritório. O prédio é imenso, deve ter uns vin-te e dois andares, mas eu nunca parei, em nenhum outro, sem ser o doze e o térreo. Meus passeios se limitam à secretaria e ao café. É quase doentio o vício que tenho por cafeína, tenho de tomar ao menos cinco copos ao dia para aguentar as fatigantes horas dian-te do computador e para me vacinar contra as conversas vazias, contra as mulheres tentando flertar com a promoção. Mulheres! Estas também são tão óbvias quanto a cidade, pintam a unha de vermelho quando querem permanecer jovens, abaixam a voz quando sentem-se subordinadas ao macho e aumentam o decote quando querem sexo.

Tenho alguns poucos colegas no escritório, mas nenhum amigo. Gosto muito do Roberto e da Marina, que embora tenha um nome delicado, enruga o rosto quando sorri. Gostaria de aca-bar a faculdade, abandonei tudo depois de conseguir esse empre-go, na época eu acreditava que teria uma promoção garantida, eu devia ser mesmo burro, pois também era socialista.

A verdade é que perdi as ideologias, deixei alguns livros de história abandonados debaixo da cama, junto com as revistas pornográficas que também não mais me excitam. Em algum mo-mento eu sei que deixei essa maldita rotina me consumir, tomar vinte horas do meu dia, sendo que as outras quatro eu passo em claro dividindo o silêncio com a minha única garrafa de vodca.

Olho para fora, já é noite e eu ainda queria estar no Ceará, a garoa volta a riscar o concreto e eu abro a janela. Deixo a gar-rafa deitar-se no batente enquanto penso no vento, no frio, no suicídio. Fecho a janela; o pensamento já fugiu muito de minha rotina.

Amanda Simões Fernandes

Maldita Rotina

Fotografia por Martim Zurita

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10 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Literatura

P O E

AldeiaFernando Nakamoto

Doce esforçoo sonho párao olhar, rente ao céu,desembrulhatantas medidas, preços, endereçosDias queridos, de esforços vaziosExiste ainda o sonhoNas melancolias da vidaDos dias apagados irrefletidos pouco usadosAinda retumba, mesmo distanteno peito de todosuma turva vontadeDos fortes ventos da Históriaque restaurem, mesmo que breve,a humanidade.

Mãos VaziasAmanda Simões Fernandes

Você me diz quantas vezes prometeram-te tantas coisasE como voltaste todas de mãos tão vazias

Na vaga de tuas coxas resta ainda um cheiroResquício da poesia mal acabadaDo fomento de delírios tão desconexos

Você me diz de pernas escancaradas que o amor não existeQue o alento não vale mais que o desafetoQue o carinho não incita mais que o álcool

Na complacência de tua cômoda incendiadaRestam ainda contrações descompassadasPesa o fastio de teus divertimentos

Você me encerra com os lábios enfadadosDesconcerta o compasso de todos meus nervosDiz que o prazer antecede a penaE que a pena entorpece o amor

No silencio de tua anca desreguladaDesatina a volúpia ainda ardenteForça os músculos o desejo incipiente

Você então me encara com aconchegoCom um apego que a alma turva ainda desconheceDiz tantas vezes que para sempre me amaForça os quadris tão cansados para meu lado

Na frieza da madrugada casta então me despeçoAbandono em teu leito a tequila e uns poucos trocadosPrometo-te tão poucas coisasE fecho a porta como ti, de mãos tão vazias.

“Você me encerra com os lábios enfadados / Desconcerta o compasso de todos meus nervos / Diz que o prazer antecede a pena / E que a pena

entorpece o amor ”

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11Contribua com sua arte: [email protected]

S I A

O Privilégio do MarMartim Zurita

o concreto da poesiaé a mesma poética da flor,a mesma poética do amor,a mesma poética do motor,enfim, do furor da dó de quem sóem mim não vê prédios edifícios concretosda mais pura poesia, da mais pura euforiaque do barulho dos carros numa grande avenidase tira o mesmo som do mar na alvorada (in)tranquila:a poesia é uma só.a engenharia é uma só.a engenharia é poesiapoesia de sósó não viu quem se mentiuem pensar que a flor tem mais valorque o concreto do asfalto,ó arauto dos céus,quem te toca é o edifício mais alto,tão poético quanto o asfalto,tão poético quanto faltoaos olhos de quem infelizmente se fecha em sermente aberta

MecânicaPedro Chazanas

Essa brisa forte que batesó te importase for derrubara obra?

Não se preocupe.Pois sei precisamenteo torque necessário para que ela caia;assim como sei a tração do elevadorpara que ele suba na velocidade adequada;da mesma forma que sei descrever minuciosamentecomo tudono universoanda.

Mas ninguém perguntoucomo andameu coração.

Não pergunte meu nome,nem o que faço ou onde moro.Leia este meu poemapara saber quem sou.Me mostre seu desenho.Me leve ao cinema.Me deixe sorrir sem saber porquê.Me deixe ver a arte atrás dos seus olhoscinzas.

E me deixe,também,viver.

“Me deixe ver a arte atrás dos seus olhos/ cinzas / E me deixe,/ também,

/viver. ”

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12 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Literatura

Senhores, senhores,Quereis o mundo, e quereis agora.Para quê tanta ganância,esses corpos que crepitam, esses ardores?Só o Sol devora como vossa fome.Só o Sol arde como vossa inquietude.Mas o grande astro repudia vossas necessidades

Caros senhores,Pus minha casa a leilão,os lances assolam minha mente todas as noites antes de dormir.Quem quer pedaço tão mórbido de terra?Só nascem nesse asfalto duro os filhos do silícioQue, como pedra, sentam sobre a terra, rolam e quebramSemicondutores semiconduzem semialmas

Amigos, preciso de vocês!Preciso de vossas forças,nesse tempo onde o lixo vale cuponse a vida vale matéria.Tirem-me deste arrolamento, deste negócio mal feito:Ele é a corrosão dos sonhos escrita em slogan,bordado no peito, 12 horas por dia, fora do mundo,costurado com sangue velhas novidades.

Meus caros amigos, por favor, me ouçam,Não se pode mais com as trevas torturantes!As escrituras perderam-se, e acham digno perpetuar dizeres:Falam da lamparina,aquela que salvaria o povo e traria a Terra prometida,mas sua luz chegou, revolucionou, intensificou,sua luz ofuscou, se concentrou, e na cegueira tornamos a viver.

Não posso com as pedras,Permaneço imóvel, tão cheio de vida e oprimido,Apaguem esta luz e me tragam a verdade!Deus, me ouça por outro segundo:permita-me refletir sem se refletir de mim,permita-me ver a todos os rostos erguidos,permita-me seguir um caminho,exclua as dezenas, junte os bilhões, complique as unidades.

Jazem nesta terra homens de fibra,Fibra ótica, vidro:Frágeis, volúveis, transparentes;confortáveis demais para cederem paz,confortáveis demais para serem felizes.

O que é Mais Sensível ao Toque?Giovanni Gardusi

Buscando hipotenusas ao caminhar, afinal, tal como canta-se em outros versos,o relógio insiste e não para de rodar.

Deve de ser tudo isso pra prolongar,o que já está feito ou em progresso,simples, acabou-se de esboçar.

Desde cedo são tantos os trade-offs,margens, custos de oportunidade,inconstantes certezas: constantes incertezas que removem.

Doído entrar na má-dura-idade,preservando velhos doces sonhos utópicos,sem sentir a dor que ecoa da Primavera Árabe.

E o cheiro de algodão-doce entra na janela,enquanto na porta, a mocinha da limpeza espera:espera que o meu futuro estado de espíritoajude seu neto a entrar na universidade do Estado, no mínimo.e que nos lugares-comuns que sento,transforme a culpa de que eu, junto ao meu amor,não me isento, mas sustento:tentoreinventovento, vento.

DissonanteBruno Beltramini

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VoarAriane Jesus

Caminho em direção ao precipícioUm passo a cada minutoNão compreendo o que aconteceuPreciso encontrar outro rumoPalavras, desejos, sequestrosRisadas, vozes, sorrisosO amor não é mais o mesmoA vida já se cansou dissoCheguei bem na beiradaNão tive coragem de pularMas por pura negligência A brisa foi capaz de me derrubarNão sei por que, não encontrei o fimSenti minhas costas coçarMinhas asas se abriramDescobri que podia voar

Regaço o estilhaçoL. Aglinello

Danço nesse doce balanço e relaxoOrdem não é mais a palavra de ordem Proseio estrofes enquanto não sedeSaudade suspeita de seu suspense

Enlaço minhas pernas nas suas encaixoSatisfaço o abraço e transformo em bagaçoRarefaço o ar num pedaço do espaçoEmbaço as janelas com mormaço de braços

Desgraço nossa vida e guerra de açoEu escassa desse incansável descompasso Desembaraço esses nós e faço laçosCaço um motivo e traço os próximos passos

(In)certezaTiago Colin

por mais que tenha te seguidoseu caminho é incerto,sóbrio, só vejo o sórdidoagora jazo num escuro deserto.

memória de você, irresoluta.certeza da perda desta luta, instante suplicado pela saudadefaz pressão sobre meu peito, verdade!

tomara que liberem seu riso empacotado,que minha presença não seja sã e sóassim viverei à custa de meu grito calado.

enfim, seu corpo vil,esticado num chão de pó,suspendeu-se e jamais caiu.

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14 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Artes Visuais

Catharina ANIM

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MoreiraALIA

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16 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Artes Visuais

Lula Catadora de Sonhos por Luciana Marques

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RETRATOS

Laís Inoue Kurusu

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18 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Artes Visuais

Motivos CirCularesGiulia Avallone Mendonça

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De cima para bai-xo: Catedral de Florença por Jes-sica De Oliveira; Vista do Banes-pa para a região central da cidade de São Paulo, por Giulia Avallone Mendonça; Aveni-da Paulista ao en-tardever por Bár-bara Scarton

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20 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Lemos e Gostamos

Vigiar e Punir

Gritos de guerra contra o sistema penitenciário estão cada vez mais comuns: “não cura, apenas multiplica os vícios”, “é um enorme custo para a sociedade”, “é uma punição

branda demais” (ou, em alguns casos, “exagerada demais”). Tais brados não são manifestação recente; datam logo do início da adoção generalizada do encarceramento como forma principal de punição, em meados do século XIX. A pergunta que surge então é “por que continua vivo esse modelo de punição, cujo fra-casso é há tanto reiterado?”. Em Vigiar e Punir (1975), o filóso-fo francês Michel Foucault faz a genealogia dos processos que culminaram com o atual modelo penal em busca da resposta ao complexo questionamento. Sua resposta: as ineficientes prisões atuam como mecanismos de poder útil ao Estado (ou da classe dominante muitas vezes acima deste) que as regula.

Traçando o histórico dos instrumentos penais, a obra apre-senta inicialmente o repulsivo quadro das punições públicas e violentas praticadas à época do Antigo Regime. Nesses atos atro-zes, pelas mãos do carrasco, o poder vigente provava-se mais forte, submetendo e derrotando o transgressor. Não era a justiça que se buscava, mas a reativação do poder real ameaçado pelo desacato à lei.

Com a ascensão da classe burguesa, foi necessário entre os sé-culos XVIII e XIX repensar a forma como a Justiça operava. Den-tre os pensadores do Iluminismo que se dedicaram a questão, houve uma concordância em reduzir a aplicação das penas de suplício. Na opinião de Foucault, mais do que a compaixão, foi o interesse em tornar o sistema penal mais eficiente que moveu tal alteração. Basta lembrar que até então as punições eram incertas, podendo, por exemplo, o monarca decidir de última hora por sua suspensão (como ocorreu a Dostoiévski em 1849, tendo a pena de morte suspensa quando já se encontrava na frente do pelotão de fuzilamento). Que a certeza da pena, e não a dor em si embu-tida, prevenisse novos crimes. Eis a vontade dos reformadores.

Analisando, porém, as propostas de juristas reformadores como Cesare Beccaria (autor de Dos Delitos e das Penas - 1764), percebe-se o quanto as propostas de então diferem do sistema carcerário amplamente adotado a partir do início do século XIX.

Para Beccaria, a pena deveria ser útil à sociedade (entidade lesada pelo delito) e ao mesmo tempo deveria funcionar como “escola” dos bons costumes. Para ser mais bem aceita, para cada crime, dever-se-ia idealmente encontrar uma punição que negasse a tendência natural ao ato, en-trando no cômputo das vantagens e des-vantagens de forma a contrabalancear o que move o crime. Por exemplo: humilhar aquele que foi movido por orgulho; tirar a propriedade de quem roubou, ou a liber-dade de quem mostrou pouco valor pela vida alheia.

Assim os reformadores imaginavam para delitos contra a vida ou contra a pro-priedade principalmente punições basea-das em trabalhos forçados em obras públicas, aliando utilidade e publicidade. Nas palavras do de Foucault: “[os espectadores] devem poder consultar a cada instante o léxico permanente do crime e do castigo”. Pelo lado do condenado, buscava-se não a vindita do Poder ferido, mas sua requalificação como sujeito de direito do pacto social.

Fica claro que há grande incongruência entre tais propostas e a punição praticada nas prisões e reformatórios. Pode-se des-tacar que os efeitos benéficos da publicidade são anulados, dado que tudo se executa por trás de grandes muros. Além disso, ape-sar da modulação temporal, todos recebem uma punição simi-lar: o encarceramento. Perde-se, portanto, o poder de associação natural entre crime e castigo presente nas propostas dos refor-madores. Como explicar então que já em 1810, pouco depois da Revolução Francesa, predominasse ao sistema carcerário como forma de sancionar crimes?

Uma dica está nas origens das primeiras prisões encontradas na Europa do século XVI. Estas possuíam uma função bastante peculiar: reconstruir o “Homoeconomicus”, ou seja, incutir os va-lores do trabalho em vagabundos e mendigos.

Após a subida ao poder das classes burguesas na Europa, es-tas teriam buscado mecanismos para tornar as classes inferiores

Arthur Valle SallesNas imagens aci-ma, a evolução no sistema penal; à es-querda: punição do parricida Damiens, morto em 1757, úl-tima pessoa a ser executada na Fran-ça de acordo com métodos que in-cluíam tortura e es-quartejamento. À direita: prisão nos modelos panópti-cos - local de vigi-lância e correção

Page 21: Revista Babel - Número 1

21Contribua com sua arte: [email protected]

dóceis e economicamente úteis. Para tanto, instauraram-se disci-plinas nas escolas, hospitais, exércitos e, é claro, nas prisões, que impõem tempos, movimentos, posições e relações precisas com objetos ou com outros homens.

Entende-se então que, com a implantação das novas disci-plinas, o objetivo se altera. Para citar um exemplo, tomemos o Exército no qual durante milênios a disciplina atuou para evitar certos comportamentos inadequados (como saques ou deser-ção); agora seu escopo vai muito além, atuando sobre a formação de um corpo obediente nos menores detalhes (como marchar, de que modo segurar o rifle, etc.).

No sistema jurídico, a principal consequência direta dessa nova forma de ver a função das instituições do Estado – postas a serviço do interesse da nova elite capitalista – é a troca de objeti-vo: não mais apurar o culpado por um ato e aplicar-lhe uma san-ção; mas determinar também os porquês psicológicos envolvidos e as suas possibilidades de recuperação, para melhor corrigi-lo. O infrator (indivíduo que transgride uma regra) é substituído pelo delinquente (indivíduo com perfil com afinidade ao crime). Não se julga mais o delito, mas a alma dos condenados. Alma trabalhada e moldada pelos mecanismos disciplinares, ou, nas palavras do autor: “a alma, prisão do corpo”.

“O que se procura corrigir nessa técnica de corre-ção não é tanto o sujeito de direito, que se encontra preso nos interesses fundamentais do pacto social: é o sujeito obediente, o indivíduo sujeito a hábitos, regras, ordens, uma autoridade que exerce conti-

nuamente sobre ele e em torno dele, e que ele deve deixar funcionar automaticamente”

Esse argumento para a adoção da prisão, entretanto, parece perder poder se tentarmos aplicá-lo ao caso brasileiro. A principal disparidade encontra-se na indisciplina que até

hoje vigora no país. Basta lançar um olhar para as escolas públi-cas para perceber que a domesticação pela disciplina não é o foco por aqui.

Por outro lado, as críticas à prisão hoje feitas no país podem ser encontradas como que transcritas na obra de Foucault. Mais interessante do que isso: de pose de dados e estatísticas da pri-meira metade do século XIX, o autor afirma que tais argumen-tos contrários nasceram concomitantemente com a adoção do encarceramento como principal mecanismo de punição. Desde o nascimento da prisão percebeu-se que ela não reduz a crimi-nalidade, nem corrige os indivíduos. A reincidência é alta, posto que os ex-detentos são marginalizados e encontram dificuldades na reinserção social e, além disso, fabricam-se delinquentes co-locando em contato autores de pequenos delitos com “más influ-ências”. Ainda, pelas condições miseráveis a que muitas vezes se vê reduzida a família do detento, tal mecanismo indiretamente gera novos delitos. Somemos à falha na correção o elevado custo econômico de manter o sistema carcerário e vemos justificada toda a crítica que perdura há tantos anos.

Por mais que tenha falhado em seu objetivo primordial, isto é, reeducar os detentos, a prisão criou um objeto útil às classes do-

minantes: a figura do delinquente. Além de justificar o poder de punir, a ideia de que a história dos indivíduos e a soma de suas experiências determinam a tendên-cia ao crime é então justificativa mais do que suficiente para que os mecanismos de poder tomem conta de muitas esferas da vida individual.

Sob o nome da delinquência, ilegali-dades políticas, como o ímpeto revolu-cionário gerado em 1848, puderam ser julgadas e punidas na França. Também os interesses divergentes da elite econômica-industrial, como as greves, puderam ser suprimidos sob acusações de vadiagem e manifestação de caráter delinquente. Uma vez encarcerados, reduzidos à pressão e precariedade da prisão, tais indivíduos se calam ou lançam-se a uma criminalidade “politicamente sem pe-rigo e economicamente sem consequência”, a delinquência. As-sim, ao fabricar delinquentes, a prisão favorece a manutenção do status quo vigente.

Além disso, ao dissociar bem o tipo de ilegalidade ligado à delinquência (os pequenos roubos, os crimes passionais, etc.) dos demais crimes, a prisão deixa todo um campo aberto para os crimes praticados pela classe dominante, os “crimes do colarinho branco”, por exemplo. Que melhor resultado poderia advir de um enorme fracasso?

A inversão do po-der nas prisões simbolizada pela visão: de um poder que se exibe em sua onipotência para um poder que se esconde para me-lhor vigiar e acom-panhar os novos delinquentes.

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22 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Lemos e Gostamos

“O sucesso é tal que, depois de século e meio de ‘fracasso’, a prisão continua a existir, produzindo os mesmos efeitos e que se têm os maiores escrú-

pulos em derrubá-la.”

Os mecanismos que definiram e delimitaram o delinquente são os mesmos aos quais não interessa o seu desaparecimento, pois o estado de conflito permanente, veiculados pela mídia e pelas autoridades públicas, justifica o controle da sociedade e mascara os crimes “de cima”, verdadeira fonte da miséria das ca-madas mais amplas.

Essas razões ocultas podem muito bem ser aplicadas ao caso brasileiro. No país já é fato consumado a diferença de tratamen-to aplicado aos atores de pequenos delitos contra a propriedade (como furtos) àquele empregado para sancionar a corrupção e a elevada sonegação de impostos. Basta sintonizar por azar a televisão em programas como Cidade Alerta ou Brasil Urgente, para perceber a forte repressão sobre as “pequenas ilegalidades” da camada social mais baixa.

Com mais de meio milhão de internos, nas lotadas prisões brasileiras, vê-se toda sorte de multiplicação dos vícios que o sis-tema carcerário deveria curar: a violência (em média um preso morre a cada dia no país), a corrupção, a formação de facções, para mencionar apenas alguns. A delinquência parece longe de ser por elas corrigida; ao Poder, contudo, a aplicação anual dos bilhões de reais do contribuinte é ótimo investimento: assustam a população, justificam o controle social e desviam a atenção dos verdadeiros crimes.

A leitura de Vigiar e Punir pode, entretanto, deixar certo sentimento de estranheza. Ao contrário da construção tradicional das críticas ao Poder, o texto não se encerra

com propostas para melhora do sistema. Tal lacuna pode ser en-tendida como consequência da proposta da obra: a denúncia de que os mecanismos de Justiça e de segurança pública não zelam por uma Moral abstrata de imutáveis certos e errados. Na verda-de, essas instituições devem ser vistas como instrumentos do Po-der vigente para construir a realidade. Assim, qualquer reforma do sistema penal deve pensar antes de qualquer questão prática (como punir) em que comportamentos se quer produzir.

Saiba Mais

Ficou interessado pelo assunto? Acesse a página da Revista Babel para ter acesso a um resumo de-

talhado da obra. Se quiser se debruçar ainda mais sobre o assunto, recomen-da-se a leitura da obra de Focault no original. Apesar da compelxidade do tema, o livro é de fácil acesso, rechea-do de exemplos e imagens marcantes. Para maior aprofundamento nas pro-postas dos reformadores, o curto livro de Beccaria pode ser esclarescedor. Já sobre o caso brasileiro, o livro O Crime do Restaurante Chinês traz um ótimo tratamentos de algumas questões tra-tadas por Foucault.

Vigiar e PunirMichel Foucault| Vozes | 264 páginasUtilizando o método da Genealogia, introduzido na filosofia por Nietzs-che, o filósofo francês conduz o leitor pela evolução das formas de punição na Europa. Nesse percurso, muito se revela e grandes paradigmas são que-brados. Não perca, portanto, essa oportunidade de entender melhor essa questão tão viva no debate nacional.

O Crime do Restaurante Chinês Boris Fausto | Companha das Letras | 296 páginasAtravés do relato e análise de um caso marcante da década de 40, o histo-riador Boris Fausto ataca pontos importantes das questões sociais e raciais ligadas à criminalidade e à repressão policial, além do nada novo sensa-cionalismo midiático e das técnicas de apuração da verdade jurídica novas naquela época (incluindo o curioso e terrível antropometria).

Dos Delitos e das PenasCesare Beccaria | Edipro | 128 páginasNesta obra que o imortalizou como um dos maiores juristas reformadores do século XVIII, Beccaria propõe mudanças para alterar a forma de punir vigente durante o Antigo Regime. Em suas poucas páginas, podem se ver alguns princípios que ainda hoje guiam o Direito, além de outros que, ape-sar de esquecidos, deveriam sair da brochura para os Códigos modernos.

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23Contribua com sua arte: [email protected]

No teu deserto é antes de tudo um livro de perda. De amor, silêncio, viagem, solidão, paisagens inóspitas... e perda. Nesse que é o nono romance do jornalista português

Miguel de Sousa Tavares, também um dos nomes mais proeminentes da literatura lusitana; o autor adota uma linguagem intimista e de-purada para nos conduzir ao longo da história de um homem que aos cinquenta e seis anos recorda sua ida ao deserto do Saara duas décadas antes com a jovem Cláudia.

O curtíssimo romance que começa com a escanca-rada afirmação “No fim, tu morres. No fim do livro, tu morres.”. Paralisa-nos des-de o princípio, conduzindo o leitor para uma regressão entre memórias e imagens, que nos alcança no que é mais dolorido: nossa alma. A primeira vez que li “No teu deserto” (porque sim, eu voltei a lê-lo diversas vezes depois daquele dia) eu fiquei abismada, não, pior, enver-gonhada. Envergonhada por ter pensado pouco de um ro-mance tão fino e de um au-tor que até então eu desco-nhecia; fiquei envergonhada acima de tudo por não saber o que fazer depois daquilo, digo depois que fechei o li-vro e me deparei com a ir-remediável parede de meu quarto e o vergonhoso vazio que restara em mim após aquela experiência de cento e onze páginas.

Posso dizer que eu não conhecia a nostalgia antes de Miguel de Sousa Tava-res, pelo menos não tinha consciência de seu poder desolador e irregenerável sobre nós. Foi por meio do

narrador personagem, também jornalista (que ficará até o final do livro sem nome, tendo como única identidade sua narrativa) que conheci Cláudia, jovem quinze anos mais nova que o narra-dor, que o acompanhou durante sua viagem de quarenta dias no deserto do Saara dentro de um jipe UMM munido unicamente de comidas enlatadas, destilados, uma bússola e um mapa mi-

litar dos anos 1950. É durante essa viagem e entre as paisagens desoladoras do deserto que am-bos se conhecem e vivenciam com fascínio e terror a solidão compartilhada. Tornam-se amigos, confidentes, quase que amantes (algo que nunca ficará claro no livro) e depois se des-pedem. Ela volta para sua cida-de natal na Espanha e ele para sua vida medíocre em Portugal.

Mas eles residem um no ou-tro. Entre relatos difusos a voz de Cláudia mistura-se com a do narrador para compor a vívida memória daquela viagem e da vida que os separou depois. Só então percebemos, com assus-tadora verossimilhança e tris-teza, que eles se perderam para sempre, que estão sós. Mas não com a solidão encravada pelo deserto: estão sós com a solidão imposta pela vida, que é talvez o mais cruel e infindo de todos os desertos.

Foi assim que conheci a nostalgia e Tavares. Quando fe-chei o livro Cláudia estava mor-ta e percebi que com ela parte de mim também morrera. Com Cláudia foi-se a minha ilusão, os amigos que nunca mais con-tatei, os amores que perdi, as pessoas que me marcaram e que só ali com aquele peque-no exemplar de Tavares perce-bi abismada, que não estariam mais comigo. E é disso que “No teu deserto” trata: da perda co-tidiana, quase imperceptível que permeia nossas vidas; do deserto tão assustadoramente próximo de nos mesmos, que um dia há de nos cercar, tristo-nhos, atados, tão perdidamente nostálgicos.

No Teu DesertoAmanda Simões Fernandes

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24 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Guia Cultural

O MASP, grande cartão postal da cidade, conta com uma coleção permanente incrível, e renova constantemente as exposições em seus diversos espaços. Sem filas e com ar condicionado, o museu conta atualmente com três exposições de peças de seu acervo, são elas:

- “Passagens por Paris”, um passeio encantador por obras de Van Gogh, Renoir, Portinari, Manet e diversos outros mestres da arte moderna que beberam da inspiração parisiense. - “O Triunfo do Detalhe (e depois, nada)” propõe um exercício de visão e ponto de vista em obras de diversos momentos da arte, bem como a valoração dos detalhes em cada escola, conta com trabalhos de Monet, Velázquez, Cézanne e Picasso, entre outros. - “Deuses e Madonas - A Arte do Sagrado”, esta parte da coleção traz obras de artistas dos séculos 14 a 19 (entre eles Eder Santos, Delacroix, Rafael e El Greco) que retratam a ideia do sagrado na arte ocidental, mostrando tanto manifestações cristãs quanto gregas clássicas do divino.A qualquer época do ano os corredores do MASP e sua coleção são um prato cheio para o deleite de todo amante de arte na cidade. Conta com uma quantidade enor-me de obras de artistas de todo o mundo, especialmente nacionais.Local: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Av. Paulista, 1578.Como Chegar: Estação Trianon-MASP da Linha Verde do MetrôHorário: 10h às 18h (Terça a Domingo) e 10h às 20h (Quinta-feira). A bilhe-teria encerra 30 minutos antes do fechamento.Preço: R$25 (inteira), R$12 (meia)Dica: Chegue cedo e com um único ingresso aproveite todas as expo-sições.

Diferentemente de outras exposições de SP, a de Leonardo da Vinci não conta com filas. Isso é só mais um dos vários atrativos da mostra aos criativos e curiosos por conhecimento. Cientista, engenheiro e inventor: das múltiplas facetas do multi-

-gênio, a mostra resolveu focar nestas – que já tem muito o que mostrar. Pois lá há interessantes sete sessões, nas quais Da Vinci demonstra os vários cam-pos por onde transitou e experimentou. Arriscou a terra, o mar e o ar: armas bélicas, roupas de mergulho, engenhocas voadoras... tudo isso pode ser observado na rica coletânea da exibição. E, para quem se interessa entre a ponte da biologia com a engenharia, é imperdível a sala “Desenhar a partir de organismos vivos”. Da mesma forma como Leonardo observava os fenômenos da natureza para criar, hoje laboratórios tentam imitar animais para cons-truir equipamentos futuristas de ponta. Além de expor várias engenhocas de Da Vinci, a exposição também conta com dez equipamentos interativos. Quem já fez Mecânica 1, finalmente poderá ver em prática alguns dos aprendizados nas sessões de polias e engrenagens. Outra interação é a mesa tou-chscreen, que expõe alguns manuscritos do Leonardo nas mais diversas áreas, traduzidos e espelhados, para quem quiser saber o que raios aquele italiano escrevia nos papeis amare-los. Enfim, aos curiosos de plantão ou àqueles que quiserem inspiração para sua car-

reira, não deixem de ver como pensava e criava um dos maiores gênios e inventores da humanidade.

Local: Galeria de Arte SESI-SP (prédio da FIESP av. Paulista, 1313)Como chegar: pela estação Trianon-Masp da linha verde ou de

ônibus até a PaulistaHorário: diariamente, das 10h às 20h (entrada permi-

tida até 19h), Até quando: 10 de maio de 2015

Preço: entrada gratuitaDica: encontre mais informa-

ções interessantes no site do SESI.

ExposiçõesConfira as dicas das exposições visitadas pela Babel.

Leonardo da Vinci: a natureza da invenção

Exposições do Acervo MASP

Martim Zurita

Augusto Ruy Machado

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25Contribua com sua arte: [email protected]

Cinema

Boyhood (2013)Resenha de Martim Zurita

Enredo: Boyhood conta a trajetória de um menino americano, Manson, desde sua época

de criança até tornar-se adulto. No meio da vida do garoto, seus seus pais divorciados tentam re--equilibrar a vida, e ele próprio tenta equilibrar-se entre seu mundo e o mundo externo. O jovem Manson é criativíssimo (ou “alterna” rs) e luta por não perder essa faceta frente as pressões externas. O filme foi gravado durante 12 anos, 12 verões, com os mesmos atores, realmente crescendo e transformando-se. Dessa forma, o tom de realis-mo é preciso.

Por que ver: além da inovação temporal de direção, Boyhood é daquelas obras que

consegue dar conta de agradar tanto aos adeptos de blockbuster quanto aos de filmes “cult”. A história entretém bem, sem cair em dramalhões, e também contém por detrás do enredo complexas tramas. A juventude é tratada sem manique-ísmos, com diversas pontas deixadas soltas à interpretação público. Quem constrói muito da personalidade de Manson é o próprio espectador. Há também várias histórias paralelas e interessan-tíssimas, como a da mãe de Manson e até de um encanador, que retratam a realidade americana de hoje. Impossível de descrever nessas poucas linhas, Boyhood é recomendadíssimo para os adolescentes e jovens adultos que quiserem rever um pouco de sua própria história.

Preste atenção: Boyhood, lançado em 2014, já está disponível em DVD, no Netflix e até no

avião (eu conferi). O filme, do diretor e roteirista Richard Linklater, faturou o três globos de ouro, dentre os quais o de melhor drama, e um Oscar

Rubber (2011)Resenha de Augusto R Machado

Dirigido pelo Quentin Dupieux, também conhecido como o famoso músico Mr. Oizo, este filme único e bizarro não se compara a nada que você já tenha visto. O enredo e a produção simples logo indicam que nos aproximamos de um clássico filme B que não exige muita reflexão. No entanto, logo nos primeiros segundos vemos a quarta parede ser quebrada e o espectador ser tragado para este universo de estranhezas e da grande crítica que ele traz ao cinema atual.

Enredo: Um pneu descartado no deserto que acaba de descobrir seus poderes

telecinéticos e a capacidade homicida atrelada à eles. Acompanhamos a trilha de destruição causada por ele ao decidir voltar sua atenção aos humanos, especialmente uma mulher que cruza seu caminho e vira sua obsessão.

Porque ver: Não há razão. O filme apre-senta uma premissa em seu prólogo: não

há razão para existir, assim como diversos elementos da sétima arte e, a partir disso, faz este papel brilhantemente. É uma reverência à falta de razão no cinema que, paradoxalmente, prende o espectador.

Preste Atenção: Note o cuidado tomado na fotografia e na manutenção de pequenos

elementos de estranheza que permeiam cada quadro do filme, inclusive os créditos.

Whiplash – Em Busca da Perfeição (2013)

Resenha de Bruno Beltramini

Mais do que construído a partir de uma história real, o núcleo do filme é uma questão humana: a obsessão. De origem do Latim, obsessio, o termo obsessão designava na sua gênese um bloqueio, um cerco. De maneira metonímica, o longa (102 min) estadunidense “Whiplash” trata desse com-portamento e expõe cruamente os “bloqueios” e cegueira decorrentes de uma obsessão

Enredo: O garoto Andrew (Miles Teller) de olhar monótono e de poucos amigos decide

seguir a carreira de músico e ingressa em um dos melhores conservatórios dos EUA como baterista de Jazz. Sua jornada para galgar a perfeição é despertada por um regente (J. K. Simons) cuja personalidade e exigência são difíceis de digerir. Em face de sua obsessão, o jovem baterista, como que em uma peregrinação, abdica de sua namora-da, família e desafia todos os limites de seu corpo em busca de seu alvo.

Por que ver? Em tempos de otimização e caça ao desempenho máximo, é necessário

enxergar de maneira exagerada o ônus que sua aplicação insensata carrega. O esgotamento do personagem se dá de maneira flamejante, rápida. Nem mesmo atropelado ele pode parar: isto é dom ou doença?

Preste atenção: Na maestria expressiva dos atores. No olhar “sem sal”, “ok”, “morno” de

Andrew convertido em fogo e vibração na sua entrega pela bateria. Não perca os xingamentos e as ofensas do professor regente e no riso impie-doso que nos acomete. Ah, qualquer semelhança dos bateristas com seus colegas de trabalho e sala, bem... talvez não seja pura coincidência.

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26 Revista Babel 1ª Edição - Fevereiro de 2015

Guia Cultural

Clássica São Paulo

Bom, ai vão as recomendações artísticas e musi-cais de uma pessoa que no máximo toca cam-painha. Mas para esse tipo de dica não é neces-

sário manjar, faz parte da cultura que todos devem apreciar e conhecer.

O fato é que concertos, óperas e ballets costumam não ser acessíveis para nós, uma porque não são exa-tamente divulgados para nossa faixa etária, outra por-que estamos acostumados a pagar “cinco conto” numa festa open e sermos felizes. Pois bem, guarde esse pou-quinho de dinheiro e aproveite para descobrir novas formas de lazer cultural na cidade rica que é São Paulo.

Osesp – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo

Embora tenha sido criada há bons 61 anos e ser reco-nhecida internacionalmente, não são muitos que tive-ram a sorte de ouvi-la tocar. Isso por que os ingres-sos costumam se esgotar rapidamente e por ser um passeio caro, já que sempre trazem regentes, solistas e músicos internacionais para tocar grandes clássicos.

O mais interessante dessa orquestra é a mescla que fazem com as músicas tradicionais e com composito-res clássicos e populares brasileiros. Isso sem contar o local das apresentações que já é por si só uma obra de arte, a Sala São Paulo.

Empolgado? Bom, a notícia a seguir vai te deixar mais feliz ainda: você, caro universitário, pode ter pas-se livre em boa parte dos concertos. A única coisa que você deve fazer é se cadastrar no site www.ingresso-rapido.com.br/OSESP/PasseLivre/ e esperar. Normal-

mente, eles disponibilizam cerca de 100 ingressos para os universitários, que devem se inscrever nos concer-tos pelo site. No dia da apresentação, é só chegar com certa antecedência, apresentar sua carteirinha USP na bilheteria e curtir!

Dica extra: as cadeiras disponibilizadas para os estudantes não são nos melhores lugares, obviamen-te, mas muitas vezes bons lugares acabam não sendo ocupados. Se você for com jeitinho, durante o inter-valo, falar com funcionários do local - que são bem bacanas - você pode descolar um lugar muito bom!

Osesp MASP – Música Clássica no Museu

Quantas não foram as lagriminhas de felicidade ao sa-ber dessa nova parceria Osesp MASP! Lembra aquelas aulas de artes, de literatura, em que nada fazia lá mui-to sentido? Uma coisa chamada modernismo, outra romantismo, ainda tinha o realismo!

O que a Osesp e o MASP fizeram foi mostrar que a produção artística e musical se dialogam num mesmo contexto histórico.

O programa total é composto de nove apresenta-ções musicais (algumas já foram!) no Grande Auditó-rio do MASP, recém-reinaugurado com seus ares de concreto e estilo. Nelas, estudiosos da música clássica e da arte apresentam, ressaltando os detalhes, um re-pertório de câmara e coral da Osesp seguido de uma coleção de obras do acervo do MASP. Com isso, eles te fazem perceber, quase que didaticamente, as carac-terísticas em comum das duas formas de expressão artística! É incrível!

Para fechar o passeio, vem a aulinha de lab na qual você pode subir no acervo do MASP e apreciar ao vivo e a cores todo o aprendizado da noite.

Como faço para ir? Bom, foi confirmada a existên-cia de lotes minúsculos de ingressos para universitá-rios, mas você precisa estar cadastrado no Passe Livre Universitário Osesp e ser sortudo! Caso você seja só um politécnico normal, driblando nabos para sobre-viver, a meia custa R$50,00 em qualquer lugar (todos são impecáveis). Vale a pena

Para mais informações e também para conferir a

Giulia Avallone Mendonça

Page 27: Revista Babel - Número 1

27Contribua com sua arte: [email protected]

programação que se estende até 24 de novembro, aces-se o site www.masp.art.br/osespnomasp.

EMESP Tom Jobim – Escola de Música do Estado de São Paulo

Com mais de 20 anos de atuação no ensino musical, a Escola, além de ser super reconhecida e especiali-zada na formação de profissionais da música erudita e popular, é responsável pela organização dos Grupos Jovens – Orquestra Jovem do Estado, Banda Sinfônica Jovem do Estado, Coral Jovem do Estado e Orquestra Jovem Tom Jobim.

Jovem é só na idade mesmo, porque esses meninos e meninas são espetacularmente bons no que fazem! O mais legal é que a temporada é bem diversificada, já houve até um concerto só com trilhas sonoras de filmes famosos, tipo Harry Potter, Tubarão, Star Wars e Senhor dos Anéis!

Por vezes, quando o repertório é muito clássico, os regentes fazem uma aulinha para o público durante a apresentação para explicar detalhes da música, do compositor e do momento histórico que a obra foi fei-ta.

E tudo isso com preços que variam de zero a 20 reais. No caso das apresentações gratuitas, você pre-cisa chegar 1h30 antes para pegar os ingressos que são distribuídos lá na hora. As apresentações costu-mam acontecer na Sala São Paulo, no Anfiteatro do Ibirapuera (aquele branco bonito) ou no Memorial da América Latina.

Vale a pena ficar ligado na agenda deles pelo site emesp.org.br/ e procurar pela Temporada 2015!

Theatro Municipal de São PauloAlém de ser um dos mais tradicionais pontos turísti-cos da cidade, palco de grandes eventos da arte bra-

sileira, que o fez símbolo das aspirações cosmopoli-tas do início do século 20, o Theatro Municipal ainda hoje é um polo de atrações culturais de São Paulo.

Antes de qualquer coisa, a primeira dica é ir à visita guiada do Theatro, para você simplesmente se apai-xonar pelo lugar! Elas acontecem todos os dias, são gratuitas e só chegar lá e se inscrever, a partir das 10h.

Depois de se apegar a esse templo de cultura, o pró-ximo passo é ir assistir alguma coisa lá. As opções são inúmeras, afinal lá tem apresentações de ópera, con-certos, ballets, dança flamenca, sapateado irlandês e por ai vai.

O forte do teatro sem dúvida é a temporada lírica, que traz óperas famosas em espetáculos maravilhosos, com grandes cantores, cenário impecável, e tudo que se tem direito. Se você sempre achou que ópera era aquela coisa chata que passava na TV Cultura de do-mingo à noite, bom, vá assistir pelo menos uma vez ao vivo e tenho certeza que você vai mudar de ideia!

E não se acanhe com a desculpa de que “não vou entender nada”, normalmente, uma semana antes da estreia do espetáculo, estudiosos e artistas líricos costumam promover um bate-papo explicativo lá no municipal mesmo (e gratuito) para debater a peça, as-sim você não vai perder nenhum detalhe e vai poder aproveitar tanto a apresentação quanto a história por trás dela.

Um ingresso num lugar bom, para nós que paga-mos meia, costuma sair um pouco mais caro, cerca de 50 a 80 reais. Mas vale a pena ir pelo menos uma vez! Agora se você curtir e quiser não largar as calças em cada apresentação, você pode “assinar uma cadei-ra”, chique não? Funciona assim, todo começo de ano abrem as inscrições, você escolhe uma cadeira e fecha um pacote de 3 a 7 peças. Assim, você tem direito de assistir, em um dos dias de apresentação, à sua esco-lha, na sua cadeira. E vale a pena pelo preço, já que você também paga meia nos pacotes, que podem sair de 75 a 420 reais, dependendo do lugar e do número de peças.

Sobre a programação, é só entrar no site (novo!) theatromunicipal.org.br/ e ficar ligado na Temporada 2015, que os ingressos costumam se esgotar fácil!

Boa São Paulo para você!

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E s t a e d i ç ã o c o n t o u c o m o i n e s t i m á v e l a p o i o :

Diretoria da Escola Politécnica Universidade de São Paulo