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  • 8/8/2019 61Pratica Linguas Estrangeiras

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    Carmen Zink BologniniDoutora em Lingustica IEL/Unicamp

    Linguagemeletra

    mento

    emfoco

    Prticas na sala de aula

    de lnguas estrangeiras

    Trocando em midos a teoria e a prtica

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    MINISTRIO DA EDUCAO

    Presidente: LUIS INCIO LULA DA SILVA

    Ministro da Educao: FERNANDO HADDAD

    Secretrio de Educao Bsica: FRANCISCO DAS CHAGAS FERNANDES

    Diretora do Departamento de Polticas da Educao

    Infantil e Ensino Fundamental: JEANETE BEAUCHAMP

    Coordenadora Geral de Poltica de Formao: ROBERTA DE OLIVEIRA

    Cefiel - Centro de Formao Continuada de Professores do Instituto de Estudos da

    Linguagem (IEL)*

    Reitor da Unicamp: Prof. Dr. Jos Tadeu Jorge

    Diretor do IEL: Antonio Alcir Bernrdez Pcora

    Coordenao do Cefiel: Marilda do Couto CavalcantiCoordenao da coleo: Marilda do Couto Cavalcanti

    Coordenao editorial da coleo: REVER - Produo Editorial

    Projeto grfico, edio de arte e diagramao: A+ comunicao

    Reviso: REVER - Produo Editorial; Sandra Barbosa de Oliveira

    * O Cefiel integra a Rede Nacional de Formao Continuada de Professores da EducaoBsica. A Rede formada pelo MEC, Sistemas de Ensino e Centros de Pesquisa eDesenvolvimento da Educao Bsica.

    Impresso em fevereiro de 2008.

    Cefiel/IEL/Unicamp

    proibida a reproduo desta obra sem a prvia autorizao dos detentores dos direitos.

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    Sumrio

    Apresentao / 5

    Atividade 1 Linguagem, histria, ideologia e cultura Provrbios na

    aula de lngua estrangeira / 7

    Introduo / 7Objetivo da atividade / 9

    Justificativa / 9

    Pressuposto para a anlise / 12

    Algumas observaes / 15

    Atividade 2 Provrbio e escola Sobre ensino e aprendizagem / 18

    Introduo / 18

    Objetivo da atividade / 19

    Justificativa / 20

    Algumas consideraes / 22

    Atividade 3 Sujeito e linguagem Da traduo para o sujeito/24

    Introduo / 24

    Objetivo da atividade / 26

    Justificativa / 26

    Consideraes finais / 30

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    Atividade 4 Lngua materna e lngua estrangeira O churrasco

    ao meio-dia / 32

    Introduo / 32

    Objetivo da atividade / 33

    Justificativa / 33

    Para terminar / 34

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    5.

    Apresentao

    O fascculo terico intitulado Lnguas estrangeiras no Brasil: hist-ria e histrias, da coleo Linguagem e Letramento em Foco,conta, como seu prprio nome diz, histrias a respeito da chegada

    de lnguas estrangeiras ao Brasil. O objetivo dos autores naquele

    fascculo foi promover, com o profissional que trabalha com o ensi-

    no de lnguas estrangeiras, reflexes a respeito da constituio doBrasil, um pas que nasceu a partir de uma relao com o estran-

    geiro: o portugus.

    Este fascculo, por sua vez, tem por objetivo demonstrar que

    qualquer atividade em sala de aula implica trabalhar com concei-

    tos de linguagem e de sujeito. Para tanto, apresentamos ativida-

    des, convidamos os professores a execut-las, e os envolvemos

    nas discusses que as acompanham.

    Bom trabalho!

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    7.

    Atividade 1

    LINGUAGEM, HISTRIA, IDEOLOGIA E CULTURA

    Provrbios na aula de lngua estrangeira

    Introduo

    A cultura entrou como tema de discusso no ensino de lngua

    estrangeira principalmente a partir de meados dos anos 1970,

    quando pesquisas na rea da linguagem a relacionaram a questes

    sociais. Nessa poca, ganhou fora entre os pesquisadores volta-dos para o ensino/aprendizagem de lngua estrangeira o ensino

    comunicativo. Baseado em parmetros que privilegiavam a intera-

    o entre sujeitos, e reconhecendo a importncia de questes cul-

    turais e das funes da linguagem para o sucesso da comunicao,

    o foco do ensino de lngua estrangeira mudou. A estrutura da lngua

    sua gramtica deixou de ser o foco principal do ensino.

    Essa mudana introduziu novos tpicos na aula de lngua

    estrangeira. Deixando de ser elemento norteador das unidades

    didticas, a gramtica passou a ser ensinada como decorrncia do

    tpico da unidade. E os tpicos foram sendo escolhidos por sua

    importncia como acervo cultural do pas e dos sujeitos falantes

    da lngua-alvo. Dessa maneira, provrbios passaram a ser utiliza-

    dos por professores, na sala de aula de lngua estrangeira, normal-

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    mente para alunos de nveis mais avanados, como mais um dos

    aspectos culturais a serem ensinados, assim como alimentao,

    vestimentas, festas tpicas, entre tantos outros.Concordamos que o ensino de provrbios uma forma de fazer

    o aluno, aprendiz de uma lngua estrangeira, entrar em contato

    com o acervo cultural do grupo falante da sua lngua-alvo.

    Entretanto, gostaramos de ressaltar o fato de que, dentro da pers-

    pectiva terica da Anlise de Discurso1, com a qual estamos tra-

    balhando, os provrbios no so um efeito da cultura de um grupo,

    mas, sim, contribuem para constituir a cultura de um povo.

    Essa questo bsica. A cultura inexiste fora da linguagem, egrande parte dela constituda pela lngua. E os provrbios esto

    nessa dimenso: na dimenso da lngua. Dessa maneira, por

    constiturem o acervo cultural de um povo, consideramos, sim,

    importante trabalhar com provrbios. Entretanto, e principalmente,

    tambm consideramos o trabalho com provrbios interessantssi-

    mo para trabalhar questes relativas histria e ideologia de um

    grupo falante da mesma lngua.

    desse aspecto que trataremos aqui. Principalmente porqueconsideramos que a tarefa do professor de lngua estrangeira tem

    uma dimenso muito especial: o professor no s atua na relao

    de seu aluno com o estrangeiro, sua histria, sua ideologia, sua cul-

    tura; o professor atua na relao de seu aluno com seu prprio

    grupo social, sua ideologia, sua histria. Esse dado no novo. Ele

    j conhecido desde quando os europeus passaram a olhar para

    si prprios aps o contato com os outros os asiticos, os africa-

    nos, os americanos. Guardadas as devidas propores, a sala deaula de lngua estrangeira funciona como o lugar no qual a alterida-

    de trabalhada e, esperamos, constitutiva dos alunos aprendizes.

    .

    8.

    1 Toda a discusso terica da Anlise de Discurso est baseada nas reflexes de Eni

    Orlandi.

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    Objetivo da atividade

    Conforme mencionado anteriormente, o trabalho com provrbi-

    os na sala de aula de lnguas estrangeiras justificado pela sua

    relao com os aspectos culturais. Pretendemos demonstrar,

    entretanto, que relacionar provrbios a um acervo cultural dizer

    pouco a seu respeito. Isso porque merece ser salientado toda

    e qualquer manifestao cultural se d por meio de uma forma de

    linguagem. Portanto, imprescindvel que, antes que questes

    relativas cultura sejam discutidas, a linguagem, sua concepo

    e seu funcionamento sejam objeto de reflexo.

    O exemplo de uma anlise de provrbios feita aqui ter por

    objetivo argumentar a favor do fato de que eles, por serem objetos

    simblicos que acontecem na lngua, contam e fazem uma hist-

    ria. Porque, ao contarem uma histria, eles a trazem de volta cada

    vez que so enunciados, e estabilizam tambm sua ideologia.

    Confira comentrio da pgina 21 do fascculo Lnguas estran-

    geiras no Brasil: histria e histrias2.

    Justificativa

    O trabalho do professor de lngua estrangeira (LE) o de colo-

    car em contato dois ambientes histricos e ideolgicos, duas so-

    ciedades, por intermdio de duas lnguas: a lngua materna do

    aluno e a lngua estrangeira que ele est aprendendo.

    Os aspectos histricos e ideolgicos envolvidos no ensi-no/aprendizagem de lngua estrangeira tm menos espao de dis-

    cusso do que o reconhecimento da importncia das atividades de

    .

    9.

    2 O fascculo Lnguas estrangeiras no Brasil: histria e histrias ser, aqui, simplesmente

    chamado de fascculo terico.

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    sala de aula de LE como um lugar no qual no mnimo duas cultu-

    ras entram em contato. O foco na cultura colocado por pratica-

    mente todos os autores de materiais didticos produzidos a partirda dcada de 1980, comprometidos com a proposta comunicativa

    de ensino. Essa tarefa apresentada nos materiais didticos a

    partir da proposio de atividades que contrastem costumes de

    diversas sociedades, como nos exemplos j citados acima fes-

    tas tpicas, atividades de lazer, alimentao etc.

    Concordamos que essas propostas so importantes e que con-

    tribuem para a formao do aluno. Entretanto, queremos demons-

    trar que questes culturais sempre esto presentes quando traba-lhamos com a linguagem. Isso porque partimos do pressuposto de

    que a cultura no existe fora da linguagem. Se concordamos que a

    linguagem histrica e ideolgica, concordaremos que as mani-

    festaes culturais so histrica e ideologicamente determinadas.

    Alm de trabalharmos com o pressuposto de que todas as

    manifestaes culturais se do pela linguagem, e que so, portan-

    to, determinadas pela histria e pela ideologia, tambm trabalha-

    mos com o pressuposto de que os objetos simblicos tm seusentido dado pela histria e pela ideologia.

    Sendo assim, na condio de objeto simblico da linguagem

    verbal, da lngua, um provrbio conta uma histria. Uma histria,

    como todas as outras, ideolgica. Argumentaremos, portanto, no

    sentido de que a histria e a ideologia produzem os efeitos de sen-

    tido dos objetos simblicos, entre eles, os provrbios. E procurare-

    mos demonstrar que esses efeitos de sentido determinam com-

    portamentos e as manifestaes culturais de uma determinadacomunidade linguageira.

    Confira comentrios sobre lngua e cultura na pgina 51 do fas-

    cculo terico.

    Vejamos, portanto, como os processos histricos, ideolgicos

    .

    10.

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    e culturais acontecem na materialidade da linguagem, a partir de

    uma anlise de dois provrbios: um em lngua inglesa e outro em

    lngua portuguesa.

    1 passo

    Procure a traduo para o portugus do provrbio The early bird

    catches the worm.

    Observao: Uma das dificuldades desta atividade est situa-

    da no conceito de traduo com o qual se trabalha. Como estamosfalando em traduo de provrbios, importante refletirmos sobre

    duas caractersticas dos provrbios: a primeira diz respeito a sua

    forma. Partimos do pressuposto, na Anlise de Discurso, de que a

    forma, a estrutura, produzem efeitos de sentido. Portanto, o fato

    de os provrbios possurem uma estrutura fixa, atravessando gera-

    es sem sofrerem alteraes, garante a estabilidade de seus

    efeitos de sentido; a segunda caracterstica dos provrbios o

    fato de que, justamente por atravessarem geraes com a mesmaestrutura, sua fora argumentativa muito forte. A conseqncia

    dessas duas caractersticas para o tradutor de um provrbio que

    ele deve procurar por outro provrbio. A elaborao de uma frase

    no seria ideal, porque ela no teria os dois componentes citados:

    uma frase no teria uma forma fixa, imutvel, nem teria a fora

    argumentativa de um provrbio3.

    .

    11.

    3 Os provrbios tambm permitem jogos de linguagem. Por exemplo: Quem espera sem-

    pre alcana pode surgir como Quem espera se cansa. Esses enunciados, entretanto,

    tm seu poder argumentativo por estarem em uma relao interdiscursiva com os

    provrbios. Portanto, eles no negam a existncia do provrbio, nem a sua verdade. Eles

    se sustentam no fato de reconhecerem o poder argumentativo dos provrbios.

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    Para encontrarmos um provrbio em portugus que possa ser

    considerado a traduo mais prxima de um provrbio em ingls,

    seria interessante:

    a) verificar palavras ou expresses que estejam presentes nos

    dois provrbios;

    b) observar qual o efeito de sentido que ele est produzindo.

    Ou seja, a procura pela traduo do provrbio j se configura como

    um incio de anlise. Essa primeira etapa pressupe a procura

    pela semelhana entre os provrbios. Dito de outra maneira, para

    encontrar a traduo interessante localizar, nos dois provrbios,

    elementos que sejam importantes para a produo do efeito de

    sentido comum a ambos.

    E ento? Encontrou o equivalente? A proposta Deus ajuda

    quem cedo madruga parece boa?

    Ns a consideramos boa por dois motivos:

    a) porque estamos estabelecendo uma relao entre os dois pro-

    vrbios por meio da palavra cedo/early; e

    b) porque essas palavras produzem, nos dois provrbios, o efeito

    de sentido de que h vantagens em se levantar cedo.

    Faremos a seguir uma anlise detalhada dos dois provrbios,

    e, caso tenha pensado em outro provrbio em portugus, seria

    interessante que voc procedesse a uma anlise dele tambm.

    Pressuposto para a anlise

    No existe nada fora da materialidade da linguagem. Fala-se,

    popularmente, em ler nas entrelinhas, ou em ler o que est por trs

    das palavras. Dentro da concepo terica com a qual estamos tra-

    balhando, os efeitos de sentido no esto nas palavras, ou entre

    .

    12.

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    linhas, ou por trs das palavras. Os efeitos de sentido so produzi-

    dos porque um smbolo estabelece relao com outros, enunciados

    em outros momentos, anteriores. Dessa maneira, os efeitos de

    sentido de um objeto simblico so dados pela sua histria.

    A relao de um objeto simblico com outros uma relao

    entre discursos, ou seja, uma relao interdiscursiva. E ela que

    produz os efeitos de sentido dos objetos simblicos, e estabelece

    a sua relao com a histria e com a ideologia. Ou seja, no

    que os efeitos de sentido estejam fora da lngua, fora da linguagem,

    entre linhas, ou por trs das palavras. Os efeitos de sentido esto

    e so produzidos na relao de um smbolo com outros.

    Confira a definio de interdiscurso na pgina 23 do fascculo

    terico.

    2 passo

    Para iniciarmos a nossa argumentao, e trabalhando com o pres-

    suposto de que os acontecimentos esto na materialidade da lin-guagem, propomos uma anlise sinttica dos dois provrbios.

    The early bird catches the worm.

    um perodo simples:P sujeito: The early birdP adjunto adnominal: earlyP predicado: catches the wormP verbo transitivo: catchesP objeto: the worm

    Nota-se que o adjunto adnominal ocupa aqui o espao de uma

    orao adjetiva: early, nessa orao adjetiva, funcionaria como

    .

    13.

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    adjunto adverbial do verbo to wake up. Dessa forma, o provrbio

    teria o seguinte formato The bird, that wakes up early, catches the

    worm. Mas isso no suficiente: a ao de levantar cedo s jus-tificada se ela tiver uma finalidade. No caso do provrbio, a finali-

    dade est colocada no predicado: catches the worm4. Worm o ali-

    mento do sujeito da ao, bird. Portanto, levantar cedo significa ter

    alimento, em uma ao descrita pelo verbo to catch. Esse verbo

    demanda uma atuao do sujeito do enunciado: to catch exige

    esforo, exige trabalho.

    Por um processo metafrico, o sentido proposto pelo provrbio

    que se trabalha para que se tenha alimento. Pela anlise, obser-va-se que o sujeito do enunciado, the early bird, recompensado

    pelo fato de poder ser caracterizado como early: ele catches the

    worm, isto , ele no passar fome. O sujeito do provrbio aque-

    le que executa a ao, e imediatamente recompensado pelo seu

    esforo, tanto o de levantar cedo, como o de trabalhar. O provrbio

    em ingls indica o que o sujeito deve fazer (levantar cedo para tra-

    balhar) para viver bem (no passar fome).

    Para fins de anlise, importante ressaltar ainda que, nesseprovrbio, a relao entre o esforo e o benefcio direta; ela

    estabelecida por meio de um verbo transitivo direto.

    3 passo

    Observemos a anlise do provrbio em portugus:

    Deus ajuda quem cedo madruga.

    .

    14.

    4 Como se sabe, o provrbio em lngua inglesa trata da questo de relacionar o trabalho,

    levantar cedo e a recompensa a partir de uma metfora que envolve o pssaro (bird)

    que pega (catches) a minhoca (the worm).

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    um perodo composto:P orao principal: Deus ajudaP sujeito da orao principal: DeusP predicado da orao principal: ajuda quem cedo madrugaP verbo da orao principal: ajudar(um sujeito ajuda algum, que

    o objeto direto)P objeto do verbo ajudar orao subordinada substantiva: quem

    cedo madruga

    P sujeito da orao subordinada: quemP verbo intransitivo da orao subordinada: madrugarP advrbio: cedo

    Pode-se observar que, no provrbio em portugus, o sujeito que

    faz a ao de levantar cedo para trabalhar no tem controle sobre

    os benefcios que receber por executar tal ao. A sua relao

    com o sujeito da orao principal (Deus) de subordinao. O

    sujeito da orao principal (Deus) ir ajud-lo, com certeza o pro-

    vrbio diz isso. Mas no se sabe de que maneira essa ajuda se

    processar, ou qual ser essa ajuda.

    Algumas observaes

    Os provrbios, conforme comentado anteriormente, por serem

    compostos por objetos simblicos, tm todas as caractersticas da

    linguagem: so estabilizadores de ideologias, ou seja, de valores,

    de relaes de poder, que constituem os sujeitos de uma comuni-

    dade. Alm disso, eles atravessam geraes, estabilizando suaideologia e fazendo histria. Como vimos, seu poder argumentati-

    vo reside justamente no fato de que, ao estabilizarem uma ideolo-

    gia e uma histria, esto fazendo histria tambm: espera-se que

    aquele que os ouve atue na direo dos efeitos de sentido que

    .

    15.

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    eles indicam. Eles sempre tm o mesmo formato, a mesma estru-

    tura, o mesmo lxico, ou seja, eles tm estabilidade na materiali-

    dade da sua linguagem. Essa qualidade garante a estabilidade dosefeitos de sentido que eles produzem.

    Ao analisarmos as diferenas entre os provrbios em portu-

    gus e em ingls, notaremos que a mais substancial est na maior

    ou menor influncia que o sujeito tem sobre os benefcios que ter

    com a sua ao: ele faz o que se espera dele (levanta cedo e tra-

    balha), mas a recompensa, em ingls, est explicitada no provr-

    bio (alimento), enquanto, em portugus, a recompensa no

    expressa, e est vinculada a Deus, ao qual ele subordinado.Essas diferenas marcam posies ideolgicas distintas para os

    sujeitos: ser responsvel pela sua qualidade de vida, ou comparti-

    lhar essa responsabilidade com Deus. interessante observarmos

    que so vrios os interdiscursos aos quais esses dois provrbios

    podem ser ancorados. A ttulo de curiosidade, temos trabalhos

    escritos que relacionam o capitalismo religio protestante. Como

    se sabe, essa religio, diferentemente da religio catlica, valoriza

    tanto o acmulo de riqueza, como o esforo individual para atingir ariqueza. E esses dois itens fornecem as bases para o capitalismo.

    Se voc for professor de outra lngua estrangeira que no o

    ingls, seria interessante se voc procurasse o provrbio equiva-

    lente nessa lngua, e o analisasse.

    4 passo

    Quais seriam as conseqncias desses dois provrbios na forma-o de falantes de portugus e falantes de ingls?

    A resposta a essa pergunta depende da relao que considera-

    mos existir entre sujeito e linguagem, ou seja, depende da concep-

    .

    16.

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    o de sujeito com a qual trabalhamos. Esse

    ser o assunto da Atividade 3.

    Entretanto, antes de passarmos a discutir aconcepo de sujeito, gostaramos de propor

    mais uma anlise de provrbios. Como estamos

    todos envolvidos com a escola, e com proces-

    sos de ensino/aprendizagem, seria interessante

    se trabalhssemos com um provrbio que faz

    referncia a esse processo.

    .

    17.

    Se voc gostou de

    analisar provrbios, e

    quiser saber mais so-

    bre o assunto, procure o

    artigo de James Obelkevich,

    intitulado Provrbios e His-

    tria Social, publicado no

    livro Histria social da lingua-

    gem (Unesp e Cambridge

    University Press, 1996).

    Sobre a relao entre

    protestantismo e capitalis-

    mo,h o livro de Max Weber,intitulado O esprito protes-

    tante e as origens do capita-

    lismo. (Uma parte desse

    livro est publicada na cole-

    o Os pensadores, da

    Editora Abril.)

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    Atividade 2

    PROVRBIO E ESCOLA

    Sobre ensino e aprendizagem

    Introduo

    Se estamos trabalhando com ensino de lnguas estrangeiras,

    estamos desenvolvendo a percepo para outras histrias, outras

    ideologias e, conseqentemente, outras culturas. Isso se d por-

    que, com todos os estudos que vm sendo realizados a respeito

    da linguagem e suas diversas formas, no h mais como descon-siderar que o fato de a lngua estrangeira ter, em sua materialida-

    de, uma estrutura diferente, remete a acontecimentos diferentes,

    e faz acontecimentos serem diferentes tambm.

    Um dos grandes acontecimentos da histria da humanidade foi

    a institucionalizao do ensino, por meio das escolas. Sabemos

    que elas nem sempre existiram da maneira como as idealizamos:

    um lugar a ser freqentado por todas as crianas de uma comuni-

    dade, no qual circulam os conhecimentos que uma determinadasociedade considera indispensveis a todos os seus membros.

    Da definio de escola, em grego, j podemos observar a gran-

    de diferena: seu significado sala de banho! Porque os gregos

    que tinham posses, e tinham escravos para realizarem o servio

    braal, se reuniam nas salas de banho, para conversar. E essas

    .

    18.

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    conversas eram consideradas formativas e informativas. Da o

    nome escola para as nossas instituies atuais.

    Para o Brasil, as escolas foram trazidas pelos jesutas, que fun-daram os primeiros colgios. O seu objetivo era ensinar a religio

    crist aos habitantes nativos do pas. Isso ocorreu bem mais tarde

    se comparado ao surgimento das primeiras escolas na Europa, por

    exemplo. E essa diferena faz diferena. A relao dos brasileiros

    com a escola diferente da relao dos europeus com a escola,

    porque, entre outros motivos, historicamente as duas instituies

    nasceram de maneira diferente nos dois pases. A necessidade da

    institucionalizao do ensino na Europa se deu muito antes do queno Brasil. Na verdade, a escola, como instituio, foi trazida pelos

    europeus para c.

    Mas, ateno! O fato de no existirem escolas, no significa

    que no houvesse ensino e aprendizagem no Brasil. Os habitantes

    nativos do pas ensinavam e aprendiam. De outra forma.

    Objetivo da atividade

    Conforme discutimos na Atividade 1, os provrbios, antes de

    fazerem parte do acervo cultural de um grupo de falantes da

    mesma lngua, contam e fazem a histria desse grupo. Procu-

    ramos demonstrar que, cada vez que so enunciados, os provr-

    bios trazem de volta uma histria e a estabilizam, constituindo

    sujeitos dentro daquela histria. A anlise da maneira pela qual

    a escola contada em provrbios fornecer subsdios interessan-

    tes para a compreenso das diferenas entre grupos falantes delnguas diferentes.

    .

    19.

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    Justificativa

    A instituio escola no igual em todas as comunidades

    nem esperado que o seja. Ela no igual em sua estrutura, ou

    seja, na quantidade de anos que uma criana precisa, obrigatoria-

    mente, passar nela para ser considerada formada e informada por

    um grupo social. Tampouco os contedos so os mesmos.

    Analisaremos alguns provrbios, verificando a maneira pela qual

    o ensino e a aprendizagem so ali retratados, observando que dife-

    rentes perspectivas de ensino, diferentes perspectivas de aprendi-

    zagem implicam ancoragem a diferentes concepes de sujeito.

    1 passo

    Vamos comear a Atividade 2 de maneira diferente daquela usada

    para comear a Atividade 1: vamos comear pelo portugus.

    A proposta que voc pense em provrbios em portugus que

    tratem de questes relativas escola, ao processo de ensinoe/ou aprendizagem.

    Observao: Trabalharemos aqui com os mesmos pressupostos

    tericos j apresentados anteriormente a respeito de provrbios.

    Voc deve ter pensado em vrios, no ? A nossa proposta

    iniciarmos a anlise por dois provrbios: de pequenino que se

    torce o pepino e Pau que nasce torto nunca se endireita.

    2 passo

    Vamos verificar as semelhanas entre os provrbios?

    .

    20.

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    Brasil rural: Uma questo que diz respeito especificamente ao

    Brasil o fato de os dois provrbios terem suas origens no Brasil

    rural. Fala-se de ensino e ou aprendizagem por meio de metforas,cujas origens remontam a ambientes nos quais a produo agrco-

    la tem grande importncia. Esses provrbios remetem, portanto, a

    interdiscursos que fazem referncia a um perodo da histria do

    Brasil e trazem essa histria de volta, cada vez que eles so enun-

    ciados. Pois, como se sabe, o Brasil foi um pas predominantemen-

    te agrcola at meados do sculo XX, quando teve incio o proces-

    so de industrializao mais intenso. Esse processo redundou no

    crescimento das cidades e na evaso do campo.O pronomese: No primeiro provrbio, o pronomese faz referncia

    a um agente da ao, ou seja, h algum que ir ensinar, educar,

    formar. No segundo provrbio, o pronome se ambguo: no se

    sabe se ele reflexivo, ou se ele faz referncia a um sujeito, agen-

    te da ao, como no caso anterior. Essa uma questo importan-

    te, porque remete responsabilidade pela educao: no primeiro

    caso, a ausncia de ambigidade deixa evidente a necessidade de

    algum responsvel pela ao (pais, professores etc.). No segundocaso, a responsabilidade, dada a ambigidade, no definida:

    pode ser atribuda a educadores, mas tambm ao prprio sujeito.

    3 passo

    Vamos analisar, agora, qual a grande diferena, em termos de con-

    cepo de aprender e ensinar, entre os dois provrbios?

    de pequenino que se torce o pepino.

    Esse provrbio parte de uma concepo de sujeito segundo a

    qual a aprendizagem constitutiva do sujeito. O aluno pode apren-

    der, desde que seja ensinado quando criana.

    .

    21.

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    Pau que nasce torto nunca se endireita.

    Aqui a concepo de sujeito outra: ele nasce de uma forma,

    e no aprende a ser diferente. E o foco est naquilo que no

    valorizado na sociedade, pois nascer torto produz o efeito de

    sentido de ser errado. Ser errado se ope a ser direito.

    Essas duas concepes to distintas de sujeito so fundamen-

    tais para ns, professores e educadores. Acreditarmos na possibi-

    lidade da educao o princpio bsico de nossa atividade comoprofessores, e, dessa maneira, partir do pressuposto de que um

    sujeito nasce de uma determinada forma, e no passvel de dei-

    xar de ser assim, elimina a nossa possibilidade de atuao social.

    Algumas consideraes

    Embora os dois provrbios em portugus faam referncia ao

    Brasil rural, e no educao formal tal qual praticada na escola,uma instituio da sociedade, eles tratam do assunto educao e

    formao de sujeitos de maneiras distintas, pois partem de pres-

    supostos diferentes sobre a possibilidade de atuao do educador.

    H ainda, entretanto, uma outra questo que merece ser obser-

    vada: caso no primeiro provrbio o pronome se seja interpretado

    como reflexivo, entra em cena a responsabilidade do sujeito pela

    sua formao.

    A ambigidade se torna, assim, um elemento importante noprovrbio, pois a responsabilidade pela educao, formao de um

    sujeito no reside apenas no ato de ensinar, mas tambm no ato

    de aprender.

    .

    22.

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    4 passo

    Procure, agora, provrbios equivalentes aos dois anteriores, e

    analise-os. Verifique qual histria eles contam e com qual concep-

    o de ensino/aprendizagem eles trabalham.

    Um dos elementos que merece muita aten-

    o o verbo existente no provrbio: ele trata de

    ensinar ou de aprender? Ele trata da responsa-

    bilidade de quem durante o processo?

    J conversamos indiretamente sobre concep-

    es de sujeito. Vamos discutir esse assunto

    agora mais diretamente?

    .

    23.

    A respeito da histria

    do ensino no Brasil

    h diversas obras. Algumas

    tratam desse assunto mais

    diretamente,outras indireta-mente. Vale a pena procu-

    rar, para verificar como

    contada essa parte da his-

    tria do Brasil.

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    Atividade 3

    SUJEITO E LINGUAGEM

    Da traduo para o sujeito

    Introduo

    Uma das questes mais importantes que se coloca quando se

    est trabalhando com a linguagem gira em torno da concepo de

    sujeito a ela ancorada. H, por exemplo, quadros tericos que no

    promovem uma relao constitutiva entre linguagem e seus falan-

    tes. Uma das conseqncias dessas teorias que a linguagem e

    suas diversas formas, entre elas a lngua, traduzem pensamentos,idias, valores que o falante j tem. Pressupor, por exemplo, que as

    pessoas nascem gostando ou no das coisas, achando alguns

    comportamentos certos e outros errados, estar comprometido

    com teorias deterministas. Elas vem a linguagem como um instru-

    mento de comunicao de algo existente fora dela, e independente

    dela. Algo que existe no indivduo, que lhe inerente.

    Mesmo reconhecendo a fora dessas teorias, pois elas esto

    colocadas em cena cada vez que falamos algo do tipo Fulano nas-ceu para..., ou, no caso do provrbio analisado anteriormente,

    Pau que nasce torto..., estamos trabalhando com outra concep-

    o de sujeito: com a concepo de que ele constitudo pela lin-

    guagem. Ou seja, tal qual trabalhado na atividade anterior, consi-

    deramos que no existe nada fora da linguagem. Nem o sujeito.

    .

    24.

    Ling_estrangeiras.qxd 13.02.08 11:14 Page 24

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    A concepo de sujeito da Anlise de Discurso, que o conside-

    ra como tendo sido constitudo pela linguagem, tem suas origens

    na psicanlise, afirma Orlandi (1999)5. Como se sabe, Freud pos-tulou a existncia do inconsciente. E Lacan, tendo estudado as

    contribuies de Freud, e as contribuies de lingistas como

    Jakobson e Saussure, postulou que o inconsciente constitudo

    como uma linguagem. Alm disso, ele props a supremacia do sig-

    nificante (smbolo) sobre o significado, ou seja, que o smbolo

    determina a maneira pela qual os significados so atribudos ao

    mundo.

    a partir desses postulados que possvel afirmar que o pen-samento, as idias, os valores de um sujeito apenas existem por-

    que ele est inserido no mundo linguageiro. Partimos, assim, do

    pressuposto de que gostar ou no de algo, considerar um compor-

    tamento certo e outro errado, so valores constitudos no sujeito

    pela linguagem. Conforme discutido na Atividade 1, estamos traba-

    lhando com um quadro terico que considera a linguagem hist-

    rica e ideolgica. Se concordarmos que o sujeito constitudo

    pela linguagem, estaremos trabalhando com uma concepo desujeito histrico e ideolgico tambm.

    As implicaes disso para o ensino de uma lngua estrangeira

    so imensas. Vimos, nas atividades anteriores, a exemplo dos pro-

    vrbios, que objetos simblicos diferentes contam histrias dife-

    rentes, e, portanto, colocam em cena ideologias diferentes.

    Pretendemos demonstrar, agora, que lnguas diferentes constitu-

    em sujeitos de forma diferente. Porque as histrias so diferentes,

    bem como as ideologias.

    .

    25.

    5 Orlandi, E.Anlise de Discurso. Princpios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.

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    Objetivo da atividade

    Discutir, a partir da traduo de uma palavra do ingls falado

    nos Estados Unidos para o portugus falado no Brasil, a maneira

    pela qual os sujeitos so constitudos de forma diferente pelos

    objetos simblicos de suas lnguas.

    Justificativa

    importante que reflexes a respeito de concepes de sujei-

    to sejam desenvolvidas sempre que trabalhamos com ensi-

    no/aprendizagem. Essa importncia deve-se ao fato de que teri-

    cos envolvidos em pesquisas que propem tcnicas a serem

    empregadas em sala de aula esto sempre pressupondo uma con-

    cepo de sujeito. Essa concepo nem sempre explicitada, ape-

    sar de ser determinante para todos aqueles que trabalham com

    processos de ensino/aprendizagem.

    A ttulo de ilustrao, pensemos em duas teorias que tiveramgrande influncia na sala de aula: o comportamentalismo e o

    determinismo. De acordo com o comportamentalismo, o indivduo6

    aprende mediante a repetio. Ao repetir comportamentos consi-

    derados desejveis, o indivduo recebe reforo positivo do grupo

    social, enquanto, se repetir comportamentos considerados indese-

    jveis, ou se cometer um erro, recebe reforo negativo. Portanto, o

    indivduo, tal qual concebido pelo comportamentalismo, vazio de

    conhecimentos. Eles so adquiridos por meio da repetio de com-portamentos aos quais o indivduo est exposto. Em sala de aula

    de lngua estrangeira, algumas tcnicas empregadas so: a repe-

    tio, o elogio e a correo do erro.

    .

    26.

    6 Esse o termo utilizado no comportamentalismo.

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    O determinismo, por sua vez, j parte de outra concepo de

    indivduo: assim como o prprio nome diz, h uma predisposio

    inata que possibilita a aquisio/aprendizagem. No campo da lin-guagem, considera-se que existe um Dispositivo de Aquisio da

    Linguagem, postulado por Chomsky, que basta ser ativado para

    que a aquisio/aprendizagem de uma lngua ocorra. Na sala de

    aula de lngua estrangeira, dentro dessa linha terica, algumas tc-

    nicas empregadas so: exposio do indivduo lngua-alvo, para

    acionar o Dispositivo de Aquisio da Linguagem; considerar o erro

    um indcio de que hipteses a respeito da estrutura da lngua-alvo

    esto sendo elaboradas.A nossa proposta, aqui, apresentar argumentos que contri-

    buam para defender outra perspectiva de sujeito: aquela compat-

    vel com a concepo de linguagem discutida acima. Procuramos

    demonstrar que todo objeto simblico histrico e ideolgico.

    Argumentaremos que todo sujeito constitudo pela linguagem e

    que, portanto, todo sujeito est ancorado a uma histria e a uma

    ideologia.

    Tambm importante ressaltar que a traduo uma prticaque faz parte do cotidiano da sala de aula de lngua estrangeira.

    Alguns tericos, principalmente aqueles comprometidos com o ina-

    tismo chomskiano, postulam a possibilidade de se trabalhar na

    sala de aula de lngua estrangeira sem o apoio da lngua materna,

    considerando que a aquisio de uma lngua estrangeira pode ser

    semelhante aquisio da lngua materna. Consideramos esse

    pressuposto questionvel, principalmente devido ancoragem da

    Anlise de Discurso psicanlise: se o inconsciente constitudocomo uma linguagem, esse seria composto pelas formas existen-

    tes no primeiro ambiente linguageiro no qual o sujeito est inseri-

    do. E a lngua materna faz parte desse ambiente. Dessa forma, a

    lngua materna um dos elementos mais fortes na constituio do

    sujeito, de seus valores, de suas referncias.

    .

    27.

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    1 passo

    Qual a traduo da palavra soccerpara o portugus? Seriafutebol?

    Concordamos que soccer se traduz para o portugus como

    futebol.

    Observao: Com o intuito de preparar essa atividade, em uma

    aula de ingls como lngua estrangeira, o professor, questionado

    sobre o significado da palavrasoccer, fez mmica. Ao final da aula,

    foi feito um levantamento nos cadernos e livros dos alunos, e todosque haviam anotado alguma coisa escreveram a palavra futebol ao

    lado da palavra soccer. Isso indica que a traduo (da lngua

    estrangeira para a lngua materna do aluno) ocorre constantemente,

    mesmo que o professor se preocupe em apresentar o significado do

    smbolo questionado por meio de outras formas de linguagem.

    2 passo

    Para continuarmos refletindo sobre uma concepo de sujeito,

    seria interessante que voc fizesse um levantamento de tudo

    aquilo a que a palavra futebolremete. Para tanto, faa uma lista de

    palavras, frases, expresses associadas ao futebol.

    importante que esse levantamento seja feito, independente-

    mente de voc gostar ou no do esporte. O elemento a ser levado

    em considerao a relao da grande maioria dos brasileiros

    com o futebol.Vejamos se voc pensou em parfrases de:

    a) futebol o esporte mais praticado e assistido no Brasil;

    b) o Brasil foi diversas vezes vencedor de campeonatos internacio-

    nais de futebol;

    .

    28.

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    c)jogadores brasileiros ocupam posio de destaque se compara-

    dos com jogadores de outros pases;

    d) futebol um dos assuntos que mais mobilizam os brasileiros.

    A ttulo de curiosidade, e funcionando como argumento a favor

    dos itens levantados acima, pesquisas realizadas em jornais

    impressos e eletrnicos em lngua inglesa e em lngua alem indi-

    caram que os tpicos mais abordados quando o Brasil notcia

    so: futebol, carnaval e violncia. Isso um indicativo de que o

    futebol constitui a identidade dos brasileiros tanto internamente

    quanto no exterior.

    3 passo

    Voc considera que a palavra soccermobiliza os mesmos elemen-

    tos elencados anteriormente?

    Evidentemente, tendo sido constitudos pelo portugus falado

    no Brasil, temos muito poucos elementos para fazermos um levan-

    tamento dos enunciados e palavras que um estadunidense relaci-

    ona palavra soccer. Entretanto, tomando como base o que

    escrito na mdia impressa e eletrnica brasileira a respeito dos

    Estados Unidos, pode-se dizer quesoccerno um tpico freqen-

    temente relacionado ao pas.

    Vejamos se voc pensou em parfrases de:

    a) um esporte praticado por poucos;

    b) um esporte assistido por poucos;c) poucos jogadores desoccerso considerados bons;

    d) esse esporte nunca teve atuao de destaque em torneios

    internacionais.

    .

    29.

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    4 passo

    O que as diferenas entre os dois pases indicam, no que diz res-peito a soccere futebol?

    Sempre que um brasileiro estiver presente em uma conversa

    com pessoas de qualquer lugar do mundo, haver uma tendncia

    a coloc-lo na posio discursiva daquele que tem algum tipo de

    relao com futebol. Por sua vez, um estadunidense nunca ocupa-

    r essa posio. Haver surpresas se o brasileiro no gostar e/ou

    no jogar futebol, e haver surpresas se o estadunidense gostar

    e/ou jogar futebol.

    Quais so as implicaes disso? Se pensarmos nas palavras

    futebol esoccer, poderemos considerar que cada uma delas est

    ancorada a discursos diferentes, que mobilizam o sujeito de

    maneiras diferentes. Todos os discursos aos quais a palavra fute-

    bol est ancorada so constitutivos dos sujeitos que falam o por-

    tugus do Brasil como lngua materna, e formam esse sujeito den-

    tro da histria e da ideologia presentes nesses discursos. Essa

    histria coloca o brasileiro entre os melhores do mundo. E isso

    importante para a constituio da identidade do sujeito. Essa posi-

    o de estar entre os melhores do mundo ocupada por estadu-

    nidenses em vrios outros lugares, como, por exemplo, esportes,

    economia, poderio militar, mas no emsoccer. Esse mais um ele-

    mento que coloca o brasileiro em uma posio especial. Ocupar

    posies especiais significa que, em algum lugar, ocupa-se uma

    posio de poder. E isso ideologia.

    Consideraes finais

    Esta atividade demonstrou que temos sujeitos inseridos, pelo

    discurso, em uma histria e ideologia que j existiam antes deles,

    .

    30.

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    e que so colocadas em movimento por eles toda vez que falam.

    Independentemente da lngua que falam. Estamos, assim, traba-

    lhando com a concepo de sujeito constitudo pelo discurso ecomprometido histrica e ideologicamente.

    Para a aula de lngua estrangeira, as implicaes disso so, no

    mnimo, duas.

    Em primeiro lugar, devemos sempre desconfiar das tradues

    fceis, porque a lngua no transparente. Ela no tem significa-

    dos deslocados e separados da histria e da ideologia. Cada pala-

    vra carrega consigo uma histria e uma ideologia.

    Em segundo lugar, as implicaes para nos-sos alunos so muito fortes. Ao falarem uma ln-

    gua estrangeira, eles esto entrando em outra

    histria e outra ideologia. Mas eles so constitu-

    dos pela sua Lngua Materna e significados

    por ela.

    Isso tem relao com a identidade do sujeito

    e tem implicaes para as relaes de contato

    que ele estabelece com falantes de outras ln-guas. A pergunta a ser colocada, aqui, : quan-

    do deixamos de falar a nossa lngua materna

    com palavras na lngua estrangeira? Quando

    entramos no discurso da lngua estrangeira?

    .

    31.

    Se voc gostou de

    discutir questes

    relativas identida-

    de do brasileiro, ou de dis-

    cusses relativas identi-

    dade e sua relao com a

    lngua estrangeira, e quer

    aprofundar seu conheci-

    mento desse assunto, pro-

    cure livros que relacionampsicanlise, discurso e

    ensino/aprendizagem de

    lngua materna e/ou de ln-

    gua estrangeira.

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    Atividade 4

    LNGUA MATERNA E LNGUA ESTRANGEIRA

    O churrasco ao meio-dia

    Introduo

    Conforme vimos nas atividades anteriores, trabalhar com lnguas

    estrangeiras significa colocar em contato diferentes histrias, dife-

    rentes ideologias. Tambm discutimos que, sendo constitudos pela

    linguagem, os sujeitos so constitudos pelas possibilidades exis-

    tentes na sua comunidade linguageira. Isso significa que os seusvalores, suas concepes de certo e errado so determinadas

    pelas normas e padres existentes em seu grupo social.

    A nossa sociedade se guia pelo relgio. As lnguas que conhece-

    mos tm presente, passado e futuro nas flexes verbais, alm de

    advrbios marcando o que vem antes e o que vem depois. As pre-

    posies de tempo tm grande papel na organizao dos compro-

    missos. So diversas as amarras da lngua para fazer com que o

    relgio funcione no nosso cotidiano.Mas, mesmo assim, mesmo pensando que o tempo algo

    exato, que meio-dia, por exemplo, 12 horas, 12 oclock, 12 Uhr,

    no que diz respeito administrao do tempo, estamos trabalhan-

    do com gestos de interpretao, que produzem efeitos de sentido

    diferentes, dependendo da lngua materna de cada comunidade.

    .

    32.

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    Objetivo da atividade

    Discutir a maneira pela qual concepes de tempo e a adminis-

    trao do tempo so constitutivas da identidade dos sujeitos falan-

    tes de uma lngua. Sendo constitutivos do sujeito, so determinan-

    tes da maneira como so estabelecidas suas relaes discursivas.

    Justificativa

    Um dos imaginrios que orientam a nossa sociedade que,quando falamos de qualquer assunto e o relacionamos a nmeros,

    estamos falando de algo exato. como se os nmeros fossem

    impermeveis a gestos de interpretao. Como se sua presena

    garantisse a compreenso universal dos fenmenos a eles relacio-

    nados. Nesse grupo se encaixa o tempo. Um ano dura 365 dias,

    uma hora tem 60 minutos, uma partida de futebol dura 90 minutos.

    Entretanto, os nmeros e a administrao do tempo so resul-

    tados de gestos de interpretao. Os gestos de interpretao, queproduzem efeitos de sentido, esto relacionados a condies de

    produo. Dessa maneira, cabe perguntar: quando meio-dia 12

    horas, 12 oclock ou 12 Uhr? Ou seja, sob quais condies de pro-

    duo o horrio indicado pelo relgio produzir o meio-dia?

    Se voc for convidado para um churrasco, em um domingo, ao

    meio-dia, a que horas voc chega?

    E se voc for convidado para um almoo com o diretor da esco-

    la, em uma segunda-feira, ao meio-dia, a que horas voc chega?Qual a diferena?

    Imagine agora que voc est fazendo o churrasco, em um

    domingo, e convida um grupo de estrangeiros para o meio-dia, e

    voc s abre a porta uma vez, s 12 horas, para todos, que vie-

    ram em carros separados. O que isso significa?

    .

    33.

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    Para terminar

    Como essa administrao do tempo funciona entre os falantes

    da lngua estrangeira que voc ensina? Qual a relao disso com

    conceitos histricos, ideolgicos e relaes de poder? Pense

    sobre isso, considerando as concepes de linguagem e sujeito

    com as quais trabalhamos.

    .

    34.

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    anotaes

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    Ttulos da coleo Linguagem e Letramento em Foco

    A criana na linguagem: a fala, o desenho e a escrita - Zelma R. Bosco

    Meus alunos no gostam de ler... O que eu fao? - Marisa Lajolo

    Preciso ensinar o letramento? No basta ensinar a ler e a escrever? - Angela

    B. Kleiman

    Aprender a escrever (re)escrevendo - Srio Possenti

    Multilingismo: divises da lngua e ensino no Brasil - Eduardo Guimares

    O trabalho do crebro e da linguagem: a vida e a sala de aula - Maria Irma

    Hadler Coudry, Fernanda Maria Pereira Freire

    Lnguas indgenas precisam de escritores? Como form-los? - Wilmar da Rocha

    D'AngelisO ndio, a leitura e a escrita: o que est em jogo? - Marilda do Couto

    Cavalcanti, Terezinha de Jesus M. Maher

    Letramento e tecnologia - Denise B. Braga, Ivan L. M. Ricarte

    Manual bsico de letramento digital - Denise B. Braga, Ivan L. M. Ricarte,

    Carolina Bottosso de Moura, Luiz Henrique Magnani, Rodrigo Martins Sabi

    Lnguas estrangeiras no Brasil: histria e histrias - Carmen Zink Bolognini,

    nio de Oliveira, Simone Hashiguti

    Ttulos da srie Trocando em Midos a Teoria e a Prtica

    Narrar, desenhar, brincar... fazendo a diferena na Educao Infantil - Zelma

    R. Bosco; Silvana Perottino (colaboradora)

    Reescrita de textos - Sugestes de trabalho - Srio Possenti, Jauranice

    Rodrigues Cavalcanti, Fabiana Miqueletti, Gisele Maria Franchi (colaboradora)

    Os falantes e as lnguas - Multilingismo e ensino - Eduardo Guimares,

    Carolina de Paula Machado, Gabriele de Souza e Castro Schumm, Luciana

    Nogueira, Simone de Mello de Oliveira

    Crebro e linguagem em ao na sala de aula - Maria Irma Hadler Coudry,Fernanda Maria Pereira Freire

    Formando escritores indgenas - Wilmar da Rocha D'Angelis

    Nos bastidores de cursos de formao de professores indgenas - Marilda do

    Couto Cavalcanti, Terezinha de Jesus M. Maher

    Prticas na sala de aula de lnguas estrangeiras - Carmen Zink Bolognini

    Voc, eles, ns leitores na sala de aula - Mrcia Razzini (em preparao)

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