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Agradecimentos Acknowledgments Bordado de Guimarães passado recente com futuro auspicioso Guimarães Embroidery a recent past with an auspicious future Isabel Maria Fernandes Bordado de Guimarães – Da tradição à inovação Guimarães Embroidery – From tradition to innovation Maria José Queirós Meireles Catálogo The Catalogue Patrícia Moscoso Glossário Glossary Maria José Queirós Meireles; Patrícia Moscoso Mapa de pontos Table of Stitches Maria José Queirós Meireles; Patrícia Moscoso Desenhar para bordar Designing for embroidery Lista de termos e siglas List of Portuguese Terms and Acronyms 5 6 22 64 194 196 206 230 SumárioSummary

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Agradecimentos Acknowledgments

Bordado de Guimarães

passado recente com futuro auspicioso

Guimarães Embroidery

a recent past with an auspicious future

Isabel Maria Fernandes

Bordado de Guimarães – Da tradição à inovação

Guimarães Embroidery – From tradition to innovation

Maria José Queirós Meireles

Catálogo The Catalogue

Patrícia Moscoso

Glossário Glossary

Maria José Queirós Meireles; Patrícia Moscoso

Mapa de pontos Table of Stitches

Maria José Queirós Meireles; Patrícia Moscoso

Desenhar para bordar Designing for embroidery

Lista de termos e siglas

List of Portuguese Terms and Acronyms

5

6

22

64

194

196

206

230

SumárioSummary

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A realização deste trabalho deve muito à boa vontade de quem nos

emprestou as peças. No entanto, não podemos esquecer aqueles

que, apesar de não terem emprestado nenhuma peça, apoiaram,

colaboraram e contribuíram com mais-valias para o crescimento e

amadurecimento de um projecto que encontrou neste catálogo a

sua concretização.

It was through the good will of those who lent us textile samples that

it was possible to accomplish this work. However we cannot forget

those who, in spite of not having lent any pieces, supported,

collaborated with and contributed by other means to the project's

growth and development, resulting in the present catalogue.

Pessoas individuais (por ordem alfabética)Individuals (in alphabe-

tical order)

Abel Ribeiro de Sousa, Ana Castro Ferreira, Ana Pires, Ana Raquel

Macedo de Freitas, António Emílio de Abreu Ribeiro, Arlinda Pimenta,

Armando Malheiro, Armindo da Costa de Sá Cachada, Augusta Dias

de Castro, Augusto Dias de Castro, Clotilde de Jesus Marques da Silva,

Domingos de Freitas Fernandes, Eduardo Pires de Oliveira, Elisa

Emília Folhadela Marques, Graça Ramos, Helena Carneiro, Helena

Folhadela Miranda, Isabel Dias de Castro, Isabel Freitas, Isabel Maria

Fernandes, Jean-Yves Durand, Jerónimo Ferreira, José Cardoso de

Meneses Couceiro da Costa, José Ribeiro Pinto, Josefa Pinto, Luís

Miguel Nunes Ribeiro de Sousa, Manuela Cunha, Manuela de Alcântara

Santos, Maria Amélia Ferreira Miranda, Maria Augusta de Sequeira

Leal Sampaio de Nóvoa Faria Frasco, Maria Belém Tavares, Maria da

Conceição Miranda Ferreira, Maria da Conceição Pereira Ribeiro,

Maria de Fátima Barreira Ribeiro, Maria de Fátima Ribeiro Macedo,

Maria do Céu Freitas, Maria do Carmo Ferreira Ribeiro, Maria do Rosário

Ribeiro Pereira, Maria Edviges Ruão Dias de Castro, Maria Emília

Santoalha Motta Prego, Maria Emília Teixeira de Abreu Ribeiro, Maria

Goretti Ferraz de Moura, Maria Guilhermina Viamonte da Silveira,

Maria Helena Coutinho dos Santos Pinto, Maria Helena Dias de

Castro, Maria Isabel Ferreira Vales de Oliveira, Maria João Motta

Prego Cotter, Maria José Abreu Ribeiro Gomes Alves, Maria Madalena

Jacinto Nunes de Sá Martins, Maria Olívia Almeida Ribeiro, Maria Rita

de Moura Machado Maltieira, Maria Teresa Doutel, Maria Teresa Sáiz

Peña, Rosa Maria Castro Ferreira, Rosa Maria Saavedra, Túlia da

Conceição Fernandes Machado

EntidadesOrganisations

Artesanato, Bordados Regionais, Têxteis Lar; Biblioteca Pública de

Braga; Casa Belane; Casa de Artesanato Santiago; Casa Pastor;

Escola Secundária de Francisco de Holanda; Grupo Folclórico da

Corredoura; Grupo Folclórico de Silvares; Lar de Santa Estefânia;

Museu de Agricultura de Fermentões; Museu de Alberto Sampaio;

Pousada de Santa Marinha da Costa; Sociedade Martins Sarmento

AgradecimentosAcknowledgments

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Passado recente com futuro auspicioso

A recent past with an auspicious future

Bordado de Guimarães Guimarães Embroidery

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O bordado que hoje designamos como bordado de Gui-marães, nasceu do mesmo modo que muitos outros pro-dutos e designações de produtos – fruto da vontade doshomens e das condições do território que o viu nascer.Como sucede com outras obras colectivas, sejam elas ali-mentares ou artefactos utilitários, é difícil definir-lhe a horae o local exactos de nascimento e, ainda menos, conhecer--lhe a paternidade. Digamos que o bordado de Guimarães,tal como muitos outros produtos regionais portugueses –as colchas de Castelo Branco, a alheira de Mirandela, oqueijo da Serra, a posta mirandesa – é fruto de um conjuntovasto de factores, que se foram conjugando no tempo e noespaço e que contribuíram para que, hoje e aqui, ele mereçao nosso olhar atento e o nosso afecto.Guimarães foi terra propícia à fixação dos homens. O ter-ritório permitiu, para além do cultivo dos produtos neces-sários para a alimentação, o desenvolvimento de umasérie de indústrias também necessárias à vida das popu-lações. No burgo vimaranense e nos seus arredoreshabitavam variados mesteres – ferreiros, oleiros, ourives,sapateiros, cutileiros, curtidores, tecelãos, espingardeiros,pedreiros, escultores… – os quais, a par de uma nobreza eclero influentes, fizeram de Guimarães um entrepostocomercial de certa importância.Podemos afirmar que o bordado de Guimarães é antesde mais produto de um território fértil em águas e em terras

The type of embroidery, known today as Guimarãesembroidery, was born in the same way as many otherproducts – the result of human will and the prevailingconditions in the area where they were born. In common with other collective works, whether culinary orutilitarian in nature, it is difficult to define an exact time andplace of birth and, still less, to establish paternity. Let us saythat, just like many other Portuguese regional products –bedspreads from Castelo Branco, the garlic sausage ofMirandela, cheese from the Serra de Estrela or beef fromMiranda do Douro – Guimarães embroidery arises from avast group of factors, which, acting over the course of timewithin a given area, united to create something unique thatdeserves our attention and affection here and now. The Guimarães region favoured human settlement.Besides the cultivation of produce vital for sustenance,the territory permitted the development of a series ofindustries not less necessary to the well-being of thepopulations. A wide variety of master craftsmen – black-smiths, potters, goldsmiths, cobblers, cutlers, curriers,weavers, gunsmiths, stonemasons, sculptors – lived inthe town of Guimarães and in its environs. Along with thenobility and an influential clergy, they made Guimarães acommercial centre of some importance. Above all Guimarães embroidery is the product of a region,rich in water and fertile of soil, that lent itself to the cultivation

Isabel Maria Fernandes

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8 BORDADO DE GUIMARÃES

úberes para receberem o cultivo do linho. De facto, a riquezanatural do território vimaranense vai ser propícia à fixa-ção do homem e é esse homem que vai encontrar, noseu engenho e neste território, os meios necessários aocultivo do linho e à feitura do pano. Essas mesmas águasque alimentam um sem fim de rios e riachos tambémfacilitaram o estabelecimento de engenhos do linhoonde, desde tempos arcaicos, se produzia um bom panoque servia as terras vimaranenses e muitas outras poresse Norte fora.O linho, como sabemos, é o suporte vulgarmente usadopara conter o bordado de Guimarães. E, se ao linho emterras vimaranenses podemos apontar data longínqua(no foral dado por D. Henrique a Guimarães, em 1096, estejá aparece referido), o mesmo não podemos afirmar quantoao bordado. Encontramos referências documentais a te-cidos bordados existentes em solo vimaranense desde oséculo X1, mas temos que esperar pelo final do século XIXpara encontrarmos a primeira referência documental abordados feitos em solo vimaranense (RELATÓRIO, 1991:48-50; 102-109; 146-147; 231).Não se faria, antes dessa data, bordado em Guimarães?É provável que sim, mas os documentos pouco nos contam.E, se pouco sabemos sobre o bordado feminino realizadoem Guimarães antes do último quartel do século XIX,também pouco sabemos sobre o que se bordava, ondese bordava, quem bordava e como se bordava no restodo País. O que nos resta de séculos anteriores são geral-mente peças de traje civil, mas principalmente paramen-taria religiosa, de um modo geral ricamente bordadas efeitas por mestres tecelões nacionais e estrangeiros. Poucosvestígios chegaram até nós, quer do traje civil usado pelopovo e pela burguesia de menores posses, quer da roupadoméstica usada no lar de cada um. Estes têxteis, se aténós houveram chegado em maior quantidade, poderiamdar-nos a conhecer o que era o bordado feminino dessestempos, em que ocupavam as mãos as senhoras dasdiversas classes sociais de então.Os tecidos são bens facilmente perecíveis – eram usadoscontinuadamente, e, mesmo quando velhos, rotos e puídos,logo eram transformados noutros objectos, para outrosusos. É vulgar sabermos de cortinas que deram vestidos,de vestidos de adultos que deram trajes de crianças2, desaias velhas que terminam em panos para vários usos.Também era costume, e foi costume que perdurou nomeio rural minhoto até ao século passado, a roupa docasamento, que era vulgarmente a melhor roupa que ohomem e a mulher do campo possuía – servir para levarpara a tumba (SAMPAIO, 1986: 23-25). Deste modo, poucossão os têxteis do dia-a-dia que chegaram até nós: ou

of the flax plant. The natural wealth of the territory favour-ed settlement and the ingenuity of the people who settledhere enabled them to develop the means for cultivatingflax and producing cloth. The same waters that fed anendless number of rivers and streams also led to theestablishment of flax mills where fine cloth has been pro-duced since ancient times, supplying both the localityand the northern region. As we know, linen is the base fabric commonly used forGuimarães embroidery. And, if we can ascribe antiquityto linen in the Guimarães area (references already appearin the charter given by D. Henrique in 1096,) the samecannot be affirmed in relation to embroidery. There are docu-mentary references for embroidery existing on Guimarães

Naperão1989

Place mat1989

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BORDADO DE GUIMARÃES 9

porque foram reutilizados; ou porque acompanharam oseu dono até à tumba; ou simplesmente, porque develhos trapos se tratava, foram usados em tarefas menosnobres – a limpeza do chão, o remendar de algumamanta… – ou ofertados a quem lhes poderia continuara dar uso… – algum pobre de pedir que à porta passasse.Provavelmente foram motivos semelhantes aos atrásexpostos os que fizeram com que não tivéssemos en-contrado nenhuma peça bordada em Guimarães emperíodo anterior ao século XIX.Mas, se não existe nenhum exemplar bordado, há pelomenos alguma referência documental ao que hoje desig-namos como bordado de Guimarães? Não, não há. Atéporque, como constataremos de seguida, o «bordado deGuimarães» parece só começar a ganhar alma no final doséculo XIX, início do século XX. É só nessa altura queencontramos as suas raízes.Quer-nos parecer, e o tema é desenvolvido no texto quese segue, da autoria de Maria José Meireles, que o bor-dado de Guimarães entronca no que designamos por«bordado rico», ou seja, um bordado executado a linhabranca normalmente sobre pano de linho cru e fino, porvezes de origem estrangeira, e no qual são utilizadosdiversos pontos minuciosa e delicadamente bordadospor mãos femininas bem treinadas. O termo «bordadorico» é usado ainda hoje pelas bordadeiras vimaranen-ses, querendo com ele fazer a destrinça entre o bordadoatrás descrito – o «bordado rico», e o bordado popular,executado pelo povo e para o povo. Este «bordado rico»português, em que eram feitos os bragais das jovenscasadoiras da burguesia e da nobreza endinheirada oito-centista, fazia-se e usava-se em todo o País, talvez comsentidas influências dos bordados de outros países euro-peus. No entanto, até ao momento, está por fazer a his-tória geral deste bordado rico português, a branco3 – oslocais de produção, os modelos utilizados…O bordado rico, executado por senhoras vimaranenses edestinado a ornamentar principalmente roupa de cama eroupa interior, esteve presente na Exposição Industrial deGuimarães, que decorreu na cidade, em 1884, e que édocumentalmente referido em diversos textos (RELA-TÓRIO, 1991: 48-50; 102-109; 146-147; 231). Mas, naquelaexposição não foram expostas peças usadas pelo povo– a camisa do lavrador, a camisa e o colete de «rabichos»(também designados «rabos») da lavradeira. Na exposiçãoindustrial apareceu apenas o «bordado rico», e, é a estee aos seus pontos que julgamos ter o «bordado de Gui-marães» ido beber influências.Na sua origem documentada, que podemos situar nofinal do século XIX início do século XX, o bordado de

soil from the 10th century1, but we have to wait for the endof the 19th century until we find the first documentary refe-rence for embroidery made on Guimarães soil (RELATÓRIO,1991: 48-50; 102-109; 146-147; 231). Would embroidery not have been made in Guimarãesbefore that date? It is probable that it was, but the docu-ments tell us little. If little is known about the embroiderycarried out by women in Guimarães before the last quarterof the 19th century, it is also true that we know very littleabout who embroidered what, where and how in the restof the country. What has survived from previous centuriesare generally pieces of civilian clothing, mainly religiousvestments, usually richly embroidered and executed bynational or foreign master-weavers. Few vestiges havesurvived either of civilian clothing worn by the people andthe less well-off town dwellers, or of the domestic clothingworn by them at home. If these textiles had survived inlarger quantity, they could have given us a better idea ofwhat was the embroidery of those times that occupiedthe hands of women from various different social classes. Fabrics are highly perishable – continually being wornand even when old, ragged and threadbare transformedinto other objects for other uses. It is frequent to hear ofcurtains turned into dresses, of adults’ dresses made intochildren’s clothes2, of old skirts that end up as cloths forvarious purposes. It was also habitual, and a habit whichlasted until the last century among the rural inhabitants ofthe Minho, that the wedding clothes, which were com-monly the best clothes that the agricultural classes pos-sessed, served to take them to their grave (SAMPAIO,1986: 23-25). For this reason, few day-to-day textiles havesurvived to our times: either because they were reused;or because they accompanied their owner to the grave;or simply, because they were old rags, were used in lessnoble tasks – for cleaning the floor, repairing some blanket– or offered to someone who could continue to use them– some pauper begging at the door. It was probably forthese reasons that no piece of embroidery from Guimarãesdating prior to the 19th century has been found. If there isn’t any specimen of embroidery, is there at leastsome documentary reference to what today we call Gui-marães embroidery? No, there isn’t. As we will be estab-lished later, Guimarães embroidery seems to gain visibilityat the end of the 19th century and the beginning of the 20th.

We can only detect its origins at that time. It appears, and the theme is developed by Maria José Mei-reles in the text that follows, that the embroidery of Gui-marães stems from what is designated as «bordado rico»(rich embroidery), that is to say, an embroidery executedin white thread usually on either coarse or fine linen cloth,

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10 BORDADO DE GUIMARÃES

Guimarães, que nestes seus primórdios talvez fosse pre-ferível designar por «bordado popular de Guimarães» vaiser utilizado principalmente no traje do povo. Vai orna-mentar a camisa de linho do lavrador, numa zona muitoespecífica, o peitilho, bordado profusamente à cor branca,e complementado pela utilização da cor vermelha nonome bordado na ratoeira ou tabuleta (n.º cat. 13). Porvezes, o nome bordado na tabuleta era-o não em borda-do de Guimarães mas geralmente em ponto de cruz.(n.º cat. 11). O Bordado popular de Guimarães vai tam-bém ornamentar quer a camisa da mulher rural – usandomaioritariamente a cor branca, mas podendo tambémser bordado, no peitilho, a branco (a maior parte do bor-dado) e a vermelho (um ou outro motivo) – quer o seu cole-te de rabos, usando-se nele, isoladamente, as cores ver-melho, ou azul, ou preta.Neste bordado, que como vemos podia ser por vezesbordado a duas cores (no caso das camisas), eram usadasas cores branca, bege, vermelha, azul e preta4 (cor usadana colete de rabos caso a mulher fosse viúva), de beloefeito decorativo mas sem grande rigor de execução, uti-lizando pontos do dito «bordado rico» e preenchendo,por vezes, quase completamente o tecido.Haveria este bordado antes do final do século XIX, iníciodo século XX? Desconhecemos. Como já atrás referimoso bordado popular vimaranense anterior ao final do sécu-lo XIX não chegou até nós. Ao serviço de classes sociaisde menores recursos, o traje bordado, a existir, foi usadoenquanto foi possível e, em muitos casos, acompanhouo seu dono até à tumba.Por outro lado, quer-nos parecer que o bordado popularde Guimarães, no qual entronca directamente o «bordadode Guimarães», deve ter surgido com a vulgarização dalinha de algodão, o que sucede na 2.ª metade do século XIXe corresponde à implementação da indústria têxtil emGuimarães. O algodão substitui, provavelmente, o bordadoa lã5, e isto, por vários motivos – resiste muito melhor aouso e conserva-se durante mais tempo.Utilizar-se-ia este bordado apenas no traje popular vima-ranense ou seria ele também usado no traje rural dosconcelhos em redor de Guimarães? Também para estapergunta não temos resposta cabal, sendo certo que atéao momento não encontrámos referências documentaisa este tipo de bordado popular vimaranense a linha dealgodão nos concelhos mais próximos como Braga,Famalicão, Póvoa de Lanhoso ou Barcelos, apesar deconhecermos uma camisa de homem bordada com bor-dado de Guimarães numa colecção particular de Braga,mas sem que seja possível dizer qual a sua proveniênciade fabrico ou de uso6 (TRAJO, 2005: [21]). Talvez este

sometimes of foreign origin, and on which various close-ly-worked stitches were delicately embroidered by well-trained feminine hands. The term «bordado rico» is stillused today by Guimarães embroiderers wishing to makethe contradistinction between the embroidery describedas rich embroidery and popular embroidery executed bythe people and for the people. This Portuguese rich em-broidery from which the trousseaux of the young ladies ofmarriageable age among the 19th century wealthy bour-geoisie and the nobility were made, was produced andused throughout the kingdom, with noticeable influencesfrom the embroideries of other European countries. Howevera general history of this Portuguese whitework rich embroi-dery, the centres of production and the models used, hasyet to be undertaken3.Rich embroidery, executed by Guimarães ladies and mainlydestined to ornament bed linen and underwear, waspresent at the Industrial Exhibition, held in the city ofGuimarães in 1884, and documented in several texts(RELATÓRIO, 1991: 48-50; 102-109; 146-147; 231). How-ever, in that exhibition pieces worn by the people – thefarm worker’s shirt, or the peasant-woman’s blouse andtailed waistcoat were not exhibited. Only “rich” embroideryappeared in the industrial exhibition and we considerGuimarães’ embroidery to have been derived from this. Given that we can place its origin at the end of the 19th cen-tury and beginning of the 20th century, Guimarães’embroidery, perhaps better designated in its early stagesas “popular embroidery of Guimarães” would have beenapplied mainly to the clothes of the people. It ornament-ed the linen shirt of the farm worker but in a very specif-ic part. The shirt-front was profusely embroidered inwhite and complemented by the use of red in embroider-ing the name in the small panel reserved for the purposeknow as the “ratoeira” (mousetrap) (Cat. n.º 13). Thename in the reserve was not generally embroidered inthe range of Guimarães embroidery stitches but incross stitch. (Cat. n.º 11). Guimarães’ popular embroi-dery would also decorate the rural woman’s blouse.Although white was the principal colour, the shirt-frontcould also be embroidered mainly in white with red forone motif or another. The same applied to the tailedwaistcoat, on which red, blue, or black were used sepa-rately. Shirts were sometimes worked in two coloursusing white, beige, red, blue and black, the latter beingused on tailed waistcoats when the woman was awidow4. This embroidery, which at times almost com-pletely covered the fabric, created a beautiful ornamentaleffect using stitches from the repertoire of “rich” embroi-dery but without great rigor in its execution.

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BORDADO DE GUIMARÃES 11

modo de bordar a camisa do homem, e a camisa7 e o cole-te de rabos da mulher fosse também utilizado, por exemplo,em Felgueiras, cujo território e cujas gentes estão desde hámuitos anos ligados à cidade vimaranense e que sabemosproduzirem, desde as primeiras décadas do século XX, obordado de Guimarães (GERALDES, 1913: 24).Quanto mais não seja, é difícil espartilhar um tipo de bor-dado dentro de fronteiras criadas de modo administrati-vo. O mais certo é que o bordado que hoje designamos

We do not know if this embroidery had existed before theend of the 19th or beginning of the 20th century. As hasbeen mentioned before, none of the popular Guimarãesembroidery prior to the end of the 19th century has sur-vived to our days. To whatever extent they had existed,the embroidered garments in the service of social classeswith fewer resources were worn as long as possible and,in many cases, accompanied their owner to the grave. It appears that popular Guimarães embroidery, fromwhich Guimarães embroidery directly stems, must haveappeared with the spread of cotton thread that occurredin the second half of the 19th century and coincides withthe establishment of the textile industry in Guimarães.Most probably cotton thread substituted wool5 in embroi-dery and being more resistant, lasted longer. Were these embroidered garments only worn in Guimarães orwould they also have been worn as part of the rural attire ofthe neighbouring boroughs? We don’t have an exact answerfor this question either, since up to the present we don’t haveany documentary references to this type of popular Gui-marães embroidery using cotton thread in the boroughs clos-est to Guimarães, such as Braga, Famalicão, Póvoa deLanhoso or Barcelos. Although we know of a man’s shirtembroidered with Guimarães embroidery in a private collec-tion from Braga, it is impossible to determine the provenanceof its manufacture or use6 (TRAJO, 2005: [21]). It is possiblethat the embroidered labourer’s shirt, and the woman’s blouseand tailed waistcoat were also worn in Felgueiras, for exam-ple, whose territory and people have for a long time beenrelated to the city of Guimarães and where we know Gui-marães’ embroidery was produced from the first decades ofthe 20th century (GERALDES, 1913: 24). In addition it is difficult to confine a type of embroiderywithin borders created for purely administrative purposes.What is certain, however, is that the embroidery, desig-nated nowadays as Guimarães embroidery, correspondedto the prevailing fashion in the dress of an area at a par-ticular time, and to the personal taste of those who woreit. Although it is safe to affirm that Guimarães embroiderywas produced in the borough of Guimarães, it is not safeto say that it was limited to these confines. The more aproduct is valued – because it is the fashion or because ofa favourable ratio of quality to price, or due to factor relat-ing to use/ergonomics – the greater its area of influence. Other questions should be asked, however. Was Guima-rães’ embroidery only applied to the man’s shirt, thewoman’s blouse and tailed waistcoat? Would it not alsobe used to embroider other pieces? Again the documentsand the trousseaux are silent, or almost. Manuel de MeloNunes Geraldes, in 1913, refers the production of Guimarães

Toalha de mesa, pormenorSéc. XX, 2º quartel

Table cloth, detail2nd quarter of 20th century

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BORDADO DE GUIMARÃES 13BORDADOS DE GUIMARÃES 13

por bordado de Guimarães correspondesse ao gosto deuma região, de uma época, à moda no trajar e ao gosto pes-soal de quem o usava. Por isso, se bem que seja seguroafirmar que o bordado de Guimarães se produzia no con-celho de Guimarães, não é seguro dizer que a ele se con-finava. Quanto mais valorizado é um produto – ou porqueé moda, ou porque é interessante a sua relação qualidadepreço, ou porque é interessante a relação uso/ergonomia–, maior é a sua área de influência.Mas outras perguntas deverão ser feitas. O bordado deGuimarães apenas se aplicaria na camisa do homem, e nacamisa e no colete de rabos da mulher? Não seria tam-bém utilizado para bordar outras peças? De novo osdocumentos e os bragais são mudos, ou quase mudos.Manuel de Melo Nunes Geraldes, em 1913, refere a pro-dução do «bordado de Guimarães», a recheio e a crivoem Vila Cova da Lixa, Vila Fria e «sobretudo em Figueiróda Lixa, concelho de Felgueiras, precisando que aí faziam«o serviço completo de quarto (um lençol, uma toalha derosto e quatro travesseiros), quer bordado em recheio,quer em crivo, trabalho que leva, termo médio, quinzedias a fazer» (GERALDES, 1913: 25).De facto, a primeira referência conhecida ao termo «bor-dado de Guimarães» surge em 1913, no livro do autoracima citado (GERALDES, 1913: 24). Mas, será que elechama bordado de Guimarães ao bordado que encontra-mos nas camisas de lavrador e nas camisas e nos coletesde rabichos da mulher?Alguns anos passaram, até que no livro «Guimarães: olabor da grei», publicação vinda a lume apenas em 1928,mas que se intitula «comemorativa da Exposição Indus-trial e Agrícola Concelhia realizada em Agosto de 1923»,se volta a referir, sem contudo os designar como bordadosde Guimarães, os «coletes de rabichos» das mulheres,em linho ou pano cru, bordados a linha «azul e vermelha»

satin-stitch and drawn thread embroidery in Vila Cova daLixa, Vila Fria and “above all in Figueiró da Lixa, in theborough of Felgueiras”, stating more exactly that theymade “the complete bedroom set (bed sheets, face toweland four pillows cases), embroidered both with satinstitch and drawn thread work, that takes, on average, fifteendays to complete” (GERALDES, 1913: 25). Indeed, the first well-known reference to the term “Gui-marães embroidery” appears in 1913, in the book by abovementioned author (GERALDES, 1913: 24). However, when heused the term Guimarães embroidery was he referring tothe embroidery that can be found on the countryman’s shirts7,woman’s blouses and tailed waistcoats? Some years later, the book entitled «Guimarães: O Laborda Grei» published in 1928, but commemorating theBorough Industrial and Agricultural Exhibition of August1923, referred once more to the women’s tailed waist-coats, in linen or tow, embroidered in blue and red andthe embroidered men’s linen shirts, “having a reserve onthe chest for embroidering the name in red thread” butwithout designating them as Guimarães embroideries.This publication has the advantage of showing us, the firstwell-known illustrations of a woman’s tailed waistcoat and ofa man shirt, drawn by Luís de Pina and dating from 1926(BRAGA, 1928: 132-135). It is in the 1940’s that Guimarães embroidery begins to attractthe attention of specialists like A. L. de Carvalho, who dedi-cates various pages to Guimarães embroidery, referring toboth satin stitch embroidery and drawn thread work, accom-panied by several drawings (CARVALHO, 1941: 126-134). Guimarães embroidery begins to gain fame and variousauthors start to refer to it: Alfredo Guimarães, in 1940, withouthowever designating it as such (GUIMARÃES, 1940: 5-15);Calvet de Magalhães, in 1956, who includes in Guimarãesembroidery: padded satin stitch, bullion knot and drawn

Camisa de homem, pormenorSéculo XX, 1º quartel

Man’s shirt, detail1st quarter of 20th century

Camisa de homem, pormenorSéculo XX, 1º quartel

Man’s shirt, detail1st quarter of 20th century

Camisa de homem, pormenorSéculo XX, 1º quartel

Man’s shirt, detail1st quarter of 20th century

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14 BORDADO DE GUIMARÃES

e as camisas dos homens, de linho, bordadas, «tendo aofundo do peito a tabuleta do nome, bordada a linha ver-melha». Esta publicação tem a vantagem de nos mostrar,as primeiras ilustrações conhecidas, datadas de 1926,de um colete de rabichos de mulher e de uma camisa dehomem, da autoria de Luís de Pina (BRAGA, 1928: 132-135).Mas, é na década de 40 do século XX que o «bordado deGuimarães» começa a merecer a atenção de estudiososcomo A. L. de Carvalho, o qual dedica aos «bordados deGuimarães» várias páginas, referindo quer os bordados«em cheio» quer «em crivo», e apresentando diversosdesenhos (CARVALHO, 1941: 126-134).O bordado de Guimarães começa a ganhar nome e a elese passam a referir vários autores: Alfredo Guimarães,em 1940, sem contudo o designar como tal (GUIMA-RÃES, 1940: 5-15); Calvet de Magalhães, em 1956, queinclui no «bordado de Guimarães»: o bordado de crivo, ode canutilho, e o cheio8 (MAGALHÃES, 1956: 110-117); eClementina Carneiro de Moura, em 1961 (MOURA, 1961:40-41). Esta autora informa que «os bordados apareceramno mercado não há muitos anos, mas a indústria localencontra-se em pleno desenvolvimento, o que é a provade bom acolhimento que o público lhes faz. Actualmenteestes bordados aparecem alguns só em branco; outros emcru e ainda outros em cinzento, todos eles de efeito dis-creto e agradável» (MOURA, 1961: 40-41). Esta é a primei-ra e única autora que conhecemos a referir a utilização docinzento no bordado de Guimarães.É de facto entre as décadas de 40 e 60 do século XX,depois de artigos como o de A. L. de Carvalho e de MariaClementina de Moura, e da aprendizagem teórico-práticafeita pelas alunas da Escola Industrial e Comercial deGuimarães no curso de Formação Feminina, no final dosanos 50, que se principia a teorização e a estabelecimen-to de normas para a execução do bordado de Guimarães.Começa nessa altura a buscar-se as características dobordado de Guimarães, a teorizar uma arte que era dopovo e ao povo servia. É então que se lhe pesquisamtanto os motivos e os pontos que o caracterizam comoaquilo que o torna diferente de outros bordados, porexemplo, do bordado de Viana. É, de facto, uma épocaem que, em Portugal, se procura sintetizar o que seentende ser a «arte popular» de cada localidade ou região– o galo de Barcelos, o bordado de Viana do Castelo, asrendas de Vila do Conde, o bordado de Guimarães.É também importante referir que, as senhoras das elitesvimaranenses começam a utilizar o bordado de Guimarãespara decorar as suas casas de campo. E é interessanteverificar como estas estabelecem uma divisão clara entreo que se usa na casa da cidade (o bordado rico) e o que

thread work8 (MAGALHÃES, 1956: 110-117); and Clemen-tina Carneiro de Moura, in 1961 (MOURA, 1961: 40-41).This author informs us that “the embroideries appeared onthe market not many years ago, but the local industry is infull development, which is the proof that it is well received bythe public. Currently these embroideries appear some onlyin white, some natural and others in grey, all them of dis-creet and of pleasant effect” (MOURA, 1961: 40-41). This isthe first and only author that we knew of who refers to theuse of grey in Guimarães embroidery. It is in fact between 1940 and 1960, after the articles byA. L. de Carvalho and Maria Clementina de Moura, as wellas the theoretical-practical course taken by the students ofthe Escola Industrial e Comercial de Guimarães in thecourse in Female Skills at the end of the fifties, that thetheoretical base was established for Guimarães embroi-dery, along with standards for its execution. The study of the characteristics of Guimarães embroiderybegan at this time, theorizing an art that arose from the peo-ple and served the people. It was then that both the motifsand the stitches that characterize it were examined, as wellas that which differentiates it from other embroideries, forexample that of Viana. It was indeed a time in Portugalwhen an attempt was made to synthesize what one under-stands as the “popular” art of each place or region – therooster of Barcelos, the embroidery of Viana do Castelo, thelace of Vila do Conde, Guimarães embroidery. It is also important to notice that the ladies of the Gui-marães elite began to use Guimarães embroidery to dec-orate their country houses. It is interesting to verify howthey established a clear division between what was usedin the city dwelling (rich embroidery) and what was usedin the country house (Guimarães embroidery). This dis-criminate use – rich embroidery in the city, and Guima-rães embroidery in the country – clearly shows howGuimarães embroidery had its origins in the popularGuimarães embroidery, and to verify that, when the em-broidery begins to be worked and used by the elites, itremains in the rural sphere – its is the preference for thecountry house. We say preferred because people likeMrs. Rita de Moura Machado used it as well to embroider“dress” shirts used on special occasions (Cat. n.º 28).There are some pieces described in the catalogue thatdocument well that use of Guimarães embroidery in thecountry houses by the elite of the city – a tablecloth(Cit.º 33) and two embroidered armchairs (Cat. n.os 36and 37) from an estate in the outskirts of Guimarães,second dwelling of a well-known family resident in thecity; as well as a man’s shirt, expressly made to be wornon feast days (Cat. n.º 23).

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BORDADO DE GUIMARÃES 15

se usa na casa de campo (o bordado de Guimarães). Esteuso descriminado – bordado rico na cidade, e bordadode Guimarães na casa de campo –, permite enxergar cla-ramente como o bordado de Guimarães tem de facto assuas origens no bordado popular vimaranense, e verificarque, mesmo quando o bordado começa a ser feito eusado pelas elites, se mantém ainda na esfera do rural –o seu uso é, preferencialmente, na casa de campo.Dizemos preferencialmente porque pessoas como aSr.ª Dona Rita de Moura Machado utilizam-no parabordar camisas de «toilette», usadas em ocasiões espe-ciais (n.º cat. 28).No catálogo descrevem-se algumas peças que docu-mentam bem esse uso do bordado de Guimarães nascasas de campo das elites da cidade – trata-se de umatoalha de mesa (n.º cat. 33) e dois sofás bordados (n.os

cat. 36 e 37) que se encontram numa quinta dos arredo-res de Guimarães, segunda habitação de uma conhecidafamília residente na cidade vimaranense; bem como umacamisa de homem feita propositadamente para usarnuma festa (n.º cat. 23).Este chamar de atenção para o bordado de Guimarães,que acontece, com atrás dissemos, entre os anos 40 e60 do século XX, é continuado, depois do 25 de Abril,com a criação dos primeiros cursos sobre bordado deGuimarães. O primeiro acontece em 1989/91 e as alunasque o frequentaram aprenderam vários tipos de bordado;o segundo, acontece em 1996/97, e as alunas aprenderamapenas a fazer o bordado de Guimarães. Ambos os cursosforam ministrados por antigas alunas do curso femininoda Escola Francisco de Holanda – as professoras DonasMaria Amélia Ferreira Miranda e Maria do Céu OliveiraFreitas. Destes cursos saíram algumas das bordadeirasque ainda hoje se dedicam a fazer e a vender bordado deGuimarães: as Sr.as Donas Maria do Rosário Ribeiro,Maria da Conceição Miranda Ferreira, Maria Isabel ValesOliveira e Adélia Maria Pinto.Foi nesta evolução decorrida ao longo de vários decéniosdo século XX – de bordado popular a bordado de Gui-marães, de bordado usado pelo povo a bordado usado pelaburguesia –, que o bordado de Guimarães chegou até nós.Hoje, o bordado de Guimarães que estamos a tratar decertificar, se bem que utilize o mesmo mapa de pontosque caracterizava o bordado de meados do século XX,que tenha na mesma como suporte um pano de linho eque utilize praticamente a mesma gama de cores do fio,apresenta, no entanto, diferenças que convém assinalar.O bordado de Guimarães tem hoje uma formosura euma harmonia que não tinha antigamente. Hoje, exige--se às bordadeiras uma perfeição nos pontos e no

As previously stated, Guimarães embroidery became afocus of attention between 1940 and 60, which continuedafter the 25th of April 1974 (democratic revolution) with thecreation of the first embroidery courses in Guimarães. Thefirst took place in 1989/91, and the students who took itlearned various types of embroidery. The second course, in1996/97, only taught the students how to do Guimarãesembroidery. Both courses were given by former students ofthe course in female arts at the Escola Industrial e Co-mercial de Guimarães – the teachers Maria Amélia FerreiraMiranda and Maria do Céu Oliveira Freitas. Some of the

embroiderers from these courses are still dedicated to pro-ducing and selling Guimarães embroidery: Maria do Ro-sário Ribeiro, Maria da Conceição Miranda Ferreira, MariaIsabel Vales Oliveira, and Adélia Maria Pinto. It is in this line of evolution that took place over manydecades of the 20th century – from popular embroidery toGuimarães embroidery, from embroidery used by the peopleto embroidery used by the bourgeoisie – that Guimarãesembroidery has been handed down to us. Although Guimarães embroidery, whose certification isbeing negotiated, still uses the same range of stitches

Camisa de homem, pormenorSéc. XX, 2º quartel

Man’s shirt, detail1st quarter of 20th century

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BORDADO DE GUIMARÃES 17

acabamento que os trabalhos populares mais arcaicosnão possuíam. Hoje, o bordado de Guimarães não enchepor completo o campo em que se insere, pois deixou deter como característica o «horror ao vazio» de que fala MariaJosé Meireles e que caracterizava o bordado popular deGuimarães. Hoje há uma perfeita simetria nos motivosbordados e privilegiam-se os motivos menos cheios, oque confere ao trabalho uma maior leveza.O actual bordado de Guimarães faz lembrar mais o bor-dado rico vimaranense da segunda metade do século XIX– na perfeição de execução, na minúcia e leveza dodesenho – do que o bordado popular onde entronca. Eisto deve-se, em nosso entender, ao facto de possuirhoje em dia uma finalidade e destinatários bem diferentes.De facto, actualmente, o bordado de Guimarães já nãoserve para bordar camisas de lavradores e coletes derabos, pois já não há mais quem os use9. Hoje, o bordadovimaranense serve para bordar: toalhas de mesa, camilhas,naperões, panos de tabuleiro, lenços de namorados (agoratão em voga) e muitas outras peças que aformoseiam olar de cada um, ou melhor dito, o lar de quem aprecia bor-dados de qualidade e tem poder económico para os pagar.Hoje, o bordado de Guimarães, ao contrário do bordadopopular em que entronca, também não é feito pelo povoe para o povo. De facto, passou a ser executado por bor-dadeiras, algumas das quais receberam formação profis-sional, às quais se exige rigor e perfeição nas técnicasusadas, o que leva a que o bordado demore mais tempoa executar, tornando-o necessariamente mais caro, elogo não acessível a todas as bolsas. É um «bordadorico», destinado a quem tem posses para o adquirir. Nãoé um bem necessário, é sim, um luxo a que alguns con-seguem ter acesso.Também sabemos que o «bordado de Guimarães» extra-vasa as fronteiras concelhias e é produzido, em quanti-dade não despicienda no concelho de Felgueiras10. Nadaque espante. Com outros produtos tem sucedido fenó-meno semelhante: o artefacto produzido numa regiãomais vasta, adquire o nome de um local mais conhecidopor todos e onde é mais comercializado (assim sucedecom o Vinho do Porto ou com a alheira de Mirandela).Guimarães é terra de pergaminhos, terra de indústria,terra de comércio, terra rica, por isso, não se pode estra-nhar que, quando por motivos da industrialização oito-centista, as mulheres do mundo rural vimaranense começama empregar-se nas fábricas, os comerciantes de Gui-marães se virem para terras mais distantes e mais rurais– várias freguesias do concelho de Felgueiras – paraencontrarem a mão-de-obra de que necessitavam paraproduzir o bordado de Guimarães, que possuía um

and colourways that characterized the embroidery of themid 20th century and continues to have linen cloth as thebase fabric, it presents differences that are worth noting. Today, Guimarães embroidery has a beauty and a har-mony that it didn’t formerly posses. Today, perfection inthe stitches and in the finish is expected of the embroi-derers, which the more archaic popular works didn’thave. Today, Guimarães embroidery doesn’t completelyfill the ground, unlike the “aversion to emptiness” whichcharacterized Guimarães popular embroidery, and ismentioned by Maria José Meireles. Today there is a per-fect symmetry in the motifs embroidered, with preferencegoing to the less heavily worked motifs, imparting agreater lightness. Currently Guimarães embroidery ismore reminiscent of the rich embroidery of the secondhalf of the 19th century – in the perfection of its execution,in the minutiae and lightness of the design – than thepopular embroidery from which it stems. And this is due,in our understanding, to the fact that nowadays it has avery different purpose and public. Indeed Guimarães embroidery no longer serves to em-broider the shirts and tailed waistcoats of the agriculturalclasses because they are no longer worn9. Today, Guima-rães embroidery serves to decorate tablecloths, valances,napkins, doilies, sweetheart’s handkerchiefs (now so muchin vogue) and many other pieces that embellish the home,or at least, the home of those who appreciate qualityembroideries and have the purchase power to buy them. Furthermore, Guimarães embroidery today, unlike the po-pular embroidery from which it stems, is not made by thepeople, for the people. In fact, it is executed by embroi-derers, some of whom have received professional train-ing, from whom technical rigor and perfection is ex-pected. This means that the embroidery takes more timeto execute, necessarily making it more expensive andless accessible to all purses. It is “rich embroidery” des-tined to those who have the means to acquire it. It is nota necessity, it is a luxury to which only some have access. We also know that Guimarães embroidery overflows theborough limits and is produced in not insignificant quan-tities in the Borough of Felgueiras10. It is hardly surprisingsince a similar phenomenon has happened with otherproducts. In a similar process as that which occurred withPort Wine or Mirandela sausage, the artefact produced ina wider area is generally known by the name of the principalmarket where it is sold. We should not find it strange, given that Guimarães is awealthy territory, abounding in industry and trade, thatduring the industrialization of the 19th century, the womenof rural Guimarães should begin to work in the factories.

Vestido de noiva, pormenor2001

Wedding dress, detail 2001

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mercado de venda consolidado – Porto, Lisboa e outrosmercados ricos do País.Já em 1913, Manuel de Melo Nunes Geraldes atentanessa produção executada no concelho de Felgueiras:«Muito naturalmente perguntamos a nós próprios, por-que se localizaria esta indústria nesta região tão pobree retirada, que é Figueiró da Lixa. Achamos a respostaprovável na vinda para aí de vimaranenses conhecedoresdesse género de trabalhos, e que, pelas menores exigên-cias do meio, começaram de produzir mais barato, ecomo consequência a deslocação da indústria deGuimarães para ali» (GERALDES, 1913: 26).Deixou, por isto que atrás se indica, de ser este bordado,«bordado de Guimarães»? Não, de maneira nenhuma! Comotudo na vida, o bordado de Guimarães foi-se adaptandoa novos usos e a nova clientela. Tudo na vida se transforma,já o dizia Luís de Camões: «Mudam-se os tempos, / mudam--se as vontades, / muda-se o ser, muda-se a confiança; /

As a consequence the Guimarães’ merchants, who sold theirgoods in Porto and Lisbon or other such prosperous marketsthroughout the country, turned to more remote rural areas –various parishes of the Borough of Felgueiras – where theyfound the labour needed to produce Guimarães embroidery.In 1913, Manuel de Melo Nunes Geraldes already referredto the production undertaken in the Borough of Felguei-ras: “Naturally we ask ourselves why this industry shouldbe located in such a poor and remote area, such asFigueiró da Lixa. We found the probable answer in thearrival of Guimarães experts in that style of work, who,due to the lower expectations of this milieu, could producemore cheaply. As a consequence the industry relocatedthere from Guimarães” (GERALDES, 1913: 26). Does the above cited reason imply that this embroideryceases to be Guimarães embroidery? No, not in the least!As everything in life, Guimarães’ embroidery adapted tonew uses and a new clientele. Everything in life changes,

Toalha de mesa, pormenorSéc. XX, década de 60

Table cloth, detail1960’s

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BORDADO DE GUIMARÃES 19

todo o mundo é composto de mudança, / tomando semprenovas qualidades» (CAMÕES, 1980, II: 257)O bordado que hoje se produz em Guimarães, mas tam-bém em Felgueiras, é a evolução do bordado popularusado nos trajes rurais vimaranenses, desde pelo menoso final do século XIX, início do século XX, e que por suavez foi influenciado pelo bordado rico oitocentista. Hoje,o bordado de Guimarães tem características bem definidas– nos materiais (linho e linha), nos motivos, na gama depontos utilizados, nas cores usadas isoladamente (branco,bege, azul, vermelho e cinzento), na perfeição do desenhoe da execução – e um mercado seguro que se pretendevenha a ser alargado.O bordado de Guimarães tem um passado recente e umfuturo que se prevê auspicioso. Ajudemos todos a pre-servá-lo e a divulgá-lo!

1 Ver as referências documentais encontradas em solo vimara-

nense e que referem tecidos bordados no texto de Maria José

Meireles incluído neste catálogo.2 Vale a pena passar os olhos sobre o Inventário da Infanta D. Bea-

triz, mãe de D. Manuel, datado de 1507. No seu testamento

percebe-se nitidamente a reutilização de certas peças (cortina

de ouvir missa, guarda-portas, frontal de oratório) para fazer

vestes ou outras peças. E, mesmo as peças que a Infanta trazia

a seu uso são dadas a outras mulheres que as vão continuar a

usar. Morre a dona, mas a peça de vestuário não morre,

passando sim para outras mãos (FREIRE, 1914).3 Conhece-se bem alguns dos bordados regionais portugue-

ses, como, por exemplo, o bordado da Madeira, o bordado de

Tibaldinho, mas a história geral do bordado português ainda

está por fazer.4 O preto parece ser a cor usada no colete de rabos caso a mulher

fosse viúva. Diga-se também que, apesar de Alfredo Guimarães

referir os coletes de rabo bordados a preto e a vermelho, quer-

-nos parecer que a cor usada era mais um castanho-escuro.

Assim se refere Alfredo Guimarães ao colete de rabos: «colete de

‘rabos’ do mesmo tecido, quase completamente bordado a preto

e vermelho, com silvas, rosas, aves, corações e o nome e

sobrenome da proprietária» (GUIMARÃES, 1940: 14). Também

havia coletes de rabo bordados a azul. A eles se refere Alberto

Vieira Braga: «coletes de rabichos, em linho ou pano cru, com

enconchados, a toda a volta, a fita de lã, de várias cores, e

bordados a ponto de marca, a linha azul ou vermelha, com

desenhos em forma de silva, e o nome à volta, ou também

bordados a sutache preto» (BRAGA, 1928: 133).5 Façamos um parêntesis para falar sobre a lã. No século XIX a lã

era bastante usada para tecer e bordar. De facto, antigamente

as Luís de Camões said: “all the world is composed of change,always adopting new qualities” (CAMÕES, 1980, II: 257). The embroidery produced in Guimarães today, and inFelgueiras as well, is the evolution of the popular embroi-dery used on rural attire from the Guimarães district at leastfrom the end of the 19th century and beginning of the 20th

century, which in turn had been influenced by 19th centuryrich embroidery. Today Guimarães embroidery, has very de-fined characteristics – in the materials used (linen andthread), in the motifs, in the range of stitches applied, in thecolours used separately (white, beige, blue, red and grey),in the perfection and execution of the design. It also has asecure market, although one that we hope to enlarge. While Guimarães embroidery has a recent past, we fore-see an auspicious future. Let us help to preserve it and todisseminate it!

1 See the documentary references found in Guimarães referring

to embroidered textiles in the text included in this catalogue by

Maria José Meireles.2 It is worth looking at the Inventory of the Crown Princess D. Beatriz,

mother of D. Manuel, dating from 1507. In her will the reutiliza-

tion of certain pieces (curtain for hearing mass, door hangings,

altar frontal) to make clothes and other articles is clearly appar-

ent. Even the pieces that the Infanta wore personally were given

to other women who would continue to wear them. The owner

died but the article of clothing lived on. (FREIRE, 1914)3 Some regional Portuguese embroidery is well known, as for exam-

ple the embroidery of Madeira or of Tibaldinho, but in general terms

the history of Portuguese embroidery is still to be written. 4 Black seems to be the colour used on tailed waistcoats when

a woman was a widow. It should also be said that, despite

Alfredo Guimarães’s references to tailed waistcoats embroi-

dered in black and red, it appears to us that the colour used

was closer to a dark brown. Alfredo Guimarães refers to the

tailed waistcoat in these words: “tailed waistcoat of the same

fabric, almost completely embroidered in black and red, with

brambles, roses, birds, hearts and the surname of the owner”

(GUIMARÃES, 1940: 14). There were also tailed waistcoats

embroidered in blue. Of them Alberto Vieira Braga wrote:

“waistcoat with little tails, in linen or raw cloth, cockled all

around with woollen ribbon of various colours and embroidered

in blue or red thread, with designs in the form of brambles

around; the name also embroidered or worked in black braid”

(BRAGA, 1928: 133).5 Allow me to speak a moment about wool. In the 20th century

wool was extensively used to weave and embroider. In fact,

formerly flocks of sheep existed in larger quantities, mainly in

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20 BORDADO DE GUIMARÃES

os rebanhos existiam em maior quantidade, principalmente nas

regiões mais altas, e a lã era usada no traje do povo e no bragal

das casas. Lembremos o já citado Relatório da Exposição de

1884, onde se explica que a indústria da lã não foi «incluída no

catálogo, organizado oito dias antes da abertura da exposição,

porque se ignorava nesse tempo que no concelho se fabricasse

tal espécie de tecidos. Foi somente na véspera que se rece-

beram os espécimes que lá se encontraram; 2 aventais e 2 co-

bertas. A urdidura é feita a fio de linho tingido, sobre o qual se

levantam em alto-relevo vários ornatos a lã de cores. Estes

tecidos preparam-se em muito pequena escala na freguesia de

Santa Marinha de Arosa» tendo sido «urdidas com linho da

terra fiado em casa e tecidas com lã produzida naquela

freguesia, fiada lá, e tingida em Guimarães» (RELATÓRIO, 1991:

52). Também, na Póvoa de Lanhoso, em 1913, em Simães e em

Frades, se teciam no tear «cobertas de linho e lã, ou algodão e lã;

a urdidura é de linho ou algodão e a trama de lã» (GERALDES,

1913: 20-21). Sirva também como exemplo sobre o bordar a lã

os trajes e fotografias antigas apresentadas numa recente

exposição organizada no Mosteiro de S. Martinho de Tibães

(TRAJAR, 2005). Também em 1884, na Exposição Industrial:

aparecem «reposteiro bordado a fio de lã», «almofadas borda-

das a lã e a matiz», «um almofadão bordado a lã em alto relevo»

(RELATÓRIO, 1991: 103 e 104).6 Muito agradecemos ao Dr. José Ribeiro Pinto que nos permitiu

ter acesso à camisa de lavrador cujo peitilho é bordado com

bordado de Guimarães e da qual é proprietário. Os dados que

possui sobre a peça, indicam ter esta pertencido a uma família

de Braga. No entanto, esta família bracarense adquiriu-a, já

usada, a terceiros. Por isso, é impossível determinar a sua

origem de proveniência e de uso inicial.7 Note-se que é muito pouco referido o bordado usado na

camisa da mulher. No entanto, Alfredo Guimarães publica uma

dessas «camisa bordada, de camponesa», onde se pode ver

bordado de Guimarães no término da manga e no peitilho

(GUIMARÃES, 1928: 8, fig. 8). Veja-se também uma camisa de

mulher neste catálogo (n.º cat. 14). Chame-se ainda a atenção

para o facto de a camisa da mulher ser, por vezes, bordada

a duas cores: normalmente as mangas a branco e o peitilho

a vermelho.8 O bordado a canutilho não pode ser separado do que Calvet de

Magalhães chama «os bordados com ponto cheio» (MAGA-

LHÃES, 1956: 117). Ou seja, o bordado de Guimarães tem

canutilho e cheio.9 É certo que ainda hoje, os ranchos folclóricos vimaranenses

fazem uso das camisas de lavradores e dos coletes de rabos,

mas apenas como memória de tempos idos que não voltam mais.10 Também a este propósito se aconselha a leitura do texto de

Maria José Meireles inserido nesta publicação.

the highest areas, and the wool was used in the people’s

clothes and in household linen. Let us remember that the al-

ready quoted Report of the Exhibition of 1884, explained that

the woollen industry was not “included in the catalogue, organ-

ized eight days before the opening of the exhibition, because it

was not known at that time that such a species of fabric was

manufactured in the borough. It was only on the eve of the exhi-

bition that the specimens put on display were received; 2 aprons

and 2 blankets. The warp is made of dyed linen thread, on

which various patterns in coloured wool are raised in relief.

These fabrics are prepared on a very small scale in the parish

of Santa Marinha de Arosa “having been warped with home-

spun linen at home and woven with wool produced in that

parish, spun there, and dyed in Guimarães” (RELATÒRIO, 1991:

52). also, in Póvoa de Lanhoso, in 1913, in Simães and in

Frades, woollen blankets or blankets of wool and cotton were

woven on the loom “ the warp being of linen or cotton and the

weft of wool” (GERALDES, 1913: 20-21). Further examples of

embroidering in wool on garments and old photographs were pre-

sented in a recent exhibition organized in the Monastery of S. Mar-

tinho de Tibães (TRAJAR, 2005). In the Industrial Exhibition of

1884 there also appeared “a wall hanging embroidered in

woollen thread”, “embroidered cushions in wool and graded

colours” and “a cushion embroidered in wool in raised stitch”

(RELATÓRIO, 1991: 103 and 104).6 We wish to thank Dr. José Ribeiro Pinto who allowed us access

to the countryman’s shirt with embroidered breast panel in

Guimarães embroidery of which he is the owner. The informa-

tion he has regarding the piece indicate that it belonged to a

family of Braga, although this family acquired it second hand

from a third party. For this reason it is impossible to determine

its origin and initial use.7 The embroidery applied to woman’s blouse is very rarely men-

tioned. However, Alfredo Guimarães published one of these

“embroidered countrywoman’s blouse”, where Guimarães em-

broidery can be seen at the end of the sleeves and on the breast

panel (GUIMARÃES, 1928: 8, fig. 8). See also the woman’s

blouse in this catalogue (Cat. n.º 14). The fact that the woman’s

blouse is sometimes embroidered in two colours should also be

noted: normally the sleeves in white and the breast panel in red. 8 Bullion knot embroidery cannot be separated from what Calvet

de Magalhães calls “satin stitch embroidery” (MAGALHÃES,

1956: 117). That is to say that Guimarães embroidery has both

bullion knot and padded satin stitch.9 It is a fact that Guimarães folklore groups wear the country-

man’s shirt and tailed waistcoat, but only as a memorial to times

gone by, never to return. 10 On this matter it is advisable to read the text by Maria José

Meireles included in this publication.

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22 BORDADO DE GUIMARÃES22 BORDADOS DE GUIMARÃES

Da tradição à inovação From tradition to innovation

Bordado de Guimarães Guimarães Embroidery

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Apresentação

Falar em Guimarães e nas suas artes tradicionais, implicanecessariamente falar na história milenar da cidade, queao longo dos tempos foi modelando uma identidademuito própria. A origem da vila remonta ao pequeno burgo que se formou à volta do Convento em honra do Salvador doMundo, da Virgem Santa Maria e dos Santos Apóstolos,fundado no século X pela Condessa Mumadona, maistarde convertido em Colegiada de Nossa Senhora daOliveira. Aqui aconteceu «a primeira tarde portuguesa»(MATOSO, 1978) quando D. Afonso Henriques venceu ospartidários de sua mãe na batalha de S. Mamede, em1128 e iniciou deste modo a luta para tornar o condadoindependente. Guimarães sempre foi terra livre, e essatradição manteve-se quando, em 1096, o Conde D. Henriquelhe concedeu um foral, reformado, em 1517, por D. Manuel. A vila medieval era habitada por uma burguesia laboriosae de grande dinamismo, que se renovou no século XIIcom a chegada do conde D. Henrique e de alguns cavaleiros franceses que o acompanharam, e que aqui seradicaram. No século XIII, instalaram-se junto da Muralhaas duas ordens mendicantes, franciscana e dominicana,que influenciaram profundamente a vila ao longo dotempo. No século XV, o primeiro Duque de Bragança

Presentation

To speak of Guimarães and of its traditional crafts, nec-essarily implies speaking of the history of the centuries-old city whose particular identity was moulded over thecourse of time.The origins of Guimarães lie in the town that formedaround the Monastery founded in the 10th century byCountess Mumadona. Dedicated to the Saviour of theWorld, the Holy Virgin Mary and the Holy Apostles it waslater to be transformed into the Colegiada de NossaSenhora da Oliveira. It was in the vicinity of Guimarães, in1128, that D. Afonso Henriques defeated his mother atthe battle of S. Mamede, described by the historian JoséMatoso as “the first day of Portugal” (MATOSO, 1978),and which initiated the struggle for the nation’s independ-ence. Guimarães was always the land of freemen, andthat tradition was maintained when, in 1096, Conde D. Hen-rique granted it a charter, reformed by D. Manuel in 1517. The medieval town was inhabited by a hard-workingbourgeoisie. The arrival of count D. Henrique in the 12th cen-tury, accompanied by some French knights, rejuvenatedand consolidated the settlement. In the 13th century,monasteries of the mendicant orders of St. Francis andSt. Dominic were established close to the town walls thatwould deeply influence the town over the ages. In the

Maria José Queirós Meireles

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24 BORDADO DE GUIMARÃES

fixou a sua residência próximo do castelo, no palácio queconstruiu entre 1420 e 1433 (BARROCA, 2000: 92). Tudo istolevou a que se fosse criando uma identidade específica.A cidade nasceu para o comércio desde muito cedo.Como vila burguesa que era, aqui se situava um dosgrandes centros do comércio do interior Norte, o quelevou D. Afonso III a criar, por carta régia de 1258, umafeira franca. Ao longo do tempo foi mantendo um vigorcomercial que se espelhou na Exposição Industrial deGuimarães, realizada em 1884, na qual se pretendeumostrar o desenvolvimento atingido pela indústria vimaranense, e que reuniu não só um grande número deexpositores, mas também um conjunto de produtos degrande qualidade. Aí foram expostas diversas actividades de manufactura da região, entre as quais curtumes, cutelarias e tecidos de linho. Mas, uma dasactividades que cabe aqui destacar, e que é deveras interessante, é a «indústria doméstica de bordados»,tanto a branco como a matiz. De notar que o bordadofeminino sofreu uma grande divulgação no século XIX(TAXINHA; GUEDES, 1975: 7) e em Guimarães esta activi-dade atingiu uma expressão tão grande, que originou oque podemos designar como uma «indústria caseira»1.Bordar é um trabalho minucioso de ornamentação comfios têxteis, por meio de uma agulha, sobre um tecido ouum suporte de fundo penetrável e preexistente (MAGA-LHÃES, 1961: 7; 1995: 9), e é sempre indissociável dofim a que se destina, pois geralmente está adaptado àfunção em que vai ser usado: vestuário, paramentos ouenxovais. Por isso pode ser feito directamente sobre osuporte ou indirectamente através da sua aplicação, utilizando-se uma enorme diversidade de fios, contadosou livres, que podem ser brancos ou coloridos, metálicosou fibras, de acordo com a sensibilidade e gosto dequem o faz. O suporte (linho, tule, linhagem, juta, palhaou cabedal), o desenho (figurado, geométrico, fitomórfico),as cores utilizadas (branco, matiz ou fio metálico), os pontosescolhidos, que podem ser o mais variado possível, osmateriais empregues (lã, linho, algodão, fio metálico oumissangas e vidrilhos) e o relevo (liso ou de realce) fazemparte da arte da bordadeira (MAGALHÃES, 1961: 23; 1995:20). Estas características, em conjunto com a época e opaís permitem identificar e classificar o bordado. Percorrendo a documentação vimaranense, desde cedoencontramos referência a peças bordadas. No Testa-mento de Mumadona (século X), a Condessa refere que,entre as várias peças que legava ao templo do mosteiropara culto dos santos, deixava uma capa bordada a ouroe ornamentada de pedras (CARDOSO, 1975: 34). Tambéma Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira foi adquirindo

15th century, the first Duke of Bragança established hisresidence close of the castle, in the palace that heordered built between 1420 and 1433 (BAROCO, 2000: 92).All these events contributed towards the creation of thetown’s specific identity. From an early date the town developed an industriouscharacter, becoming one of the great centres of commercefor the northern interior. This lead D. Afonso III to create afree fair by royal charter in 1258. Over the centuries thetown maintained the commercial vigour that was to bereflected in the Guimarães Industrial Exhibition of 1884,the showcase for the development achieved by localindustries. It brought together not only a large number ofexhibitors, but also a group of products of great quality.Several manufacturing activities were exhibited from thearea, among them leather tanning, cutlery and woven linen.However, one of the activities appropriate to highlight hereis the “domestic industry of embroidery”, both whiteworkand shaded. It is notable how female embroidery becamewidespread in the 19th century (TAXINHA; GUEDES, 1975:7), and in Guimarães this activity attained such largedimension that it originated what can be designated as a“cottage industry”1.Embroidery is a meticulous work of ornamentation usingtextile threads drawn by a needle on fabric or other supportthrough which it can pass (MAGALHÃES, 1961: 7; 1995: 9).It is almost impossible to divorce embroidery from theend to which it serves; it is generally adapted to the functionto which it will be applied: clothes, liturgical vestments orhousehold linen. It can either be worked directly onto thebase fabric or indirectly through appliqué techniques. Anenormous diversity of stitches can be applied accordingto the sensibility and taste of whoever works the piece,whether it be counted thread or free embroidery, white orcoloured, metal or fibre. The base fabric (linen, tulle, jute,straw or leather), the design (figurative, geometric, phyto-morphic), the colours used (white, shaded or metal thread),the chosen stitches, that can be of the most varied imag-inable, the materials used (wool, linen, cotton, silk, metalthread or beads and sequins), and the relief (flat or raisedstitches) are part of the embroiderer’s art (MAGALHÃES, 1961:23; 1995: 20). These characteristics, together with the periodand the country allow us to identify and classify embroidery.Examining the documentation relative to Guimarães, wefound an early reference to embroidery in Countess Mu-madona’s Last Will and Testament (10th century). Amongthe various pieces bequeathed to the monastery churchfor the worship of the saints, she mentions a cloak em-broidered in gold and ornamented with stones (CAR-DOSO, 1975: 34). Over time the Colegiada de Nossa

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ao longo do tempo vários tecidos bordados a fio me-tálico dourado, como podemos ver pelos seus documen-tos: «um manto branco à roda broslado com estrelas deouro» de Nossa Senhora da Oliveira (INVENTÁRIO de1631: 51); um ornamento da China «todo broslado deouro, e várias cores» (INVENTÁRIO de 1631: 79); «um véubranco que mostra ser de holanda todo broslado de fiode ouro, e no meio um Rei, e Rainha jogando o xadrez»(INVENTÁRIO de 1631: 84); um vestido de Nossa Se-nhora em lhama azul «bordado de ouro com coroas epalmas e manto do mesmo» (INVENTÁRIO de 1665: 17 v);«outro vestido de tela guarnecido com ramos de ouro»(INVENTÁRIO de 1665: 17); uma bolsa de corporais car-mesim, «bordada com ramos de ouro» (INVENTÁRIO de1665: 16 v). Estes bordados a ouro devem ter vindo defora, talvez de Lisboa, onde já havia uma corporação debordadores, ou mesmo do estrangeiro.Na Idade Média bordar era um trabalho essencialmentemasculino, embora também existisse um reduzidíssimonúmero de bordadeiras, geralmente ligadas à família dobordador. Era uma actividade bastante exigente e muitorigorosa, com uma carreira profissional muito rígida, queia de aprendiz a mestre, culminado num exigente examede ofício. Os seus artífices trabalhavam com materiaispreciosos – ouro, prata e pedras preciosas –, para satis-fazerem encomendas de altos dignitários religiosos ounobres, que, através das suas luxuosas vestes, preten-diam ostentar todo o seu poderio. Foi essencialmenteuma expressão de luxo e de requinte, muito utilizada pelaIgreja, pela Realeza e pelo Clero. Estes encomendadoresde vestuário sumptuário eram muito exigentes e pos-suíam um gosto bastante apurado, o que provocou umforte surto de desenvolvimento do bordado, cuja épocade apogeu se situou nos séculos XVI e XVII. Esta ostentaçãoe excessivo gasto começou a ser combatido, em Por-tugal, pelos monarcas que criaram «pragmáticas», isto é,leis contra o exagero do luxo. Estas ajudaram a contribuirpara a decadência da arte, que se tornou cada vez menosexigente, tanto ao nível do desenho como da técnica. A mulher dedicou-se desde cedo ao bordado, tornando-ouma das suas principais actividades. O seu trabalho nãoera profissional, pois geralmente não era feito por en-comenda, e não utilizava metais preciosos nem tecidosluxuosos. Aplicou-se devotadamente a esta tarefa, queexecutava geralmente nas horas de lazer, no aconchegodo seu lar e da sua família. O bordado feminino foi essen-cialmente praticado nas classes mais abastadas, fazen-do parte das regras de educação das meninas, quasecomo uma vocação da condição feminina, até quase àsegunda metade do século XIX, altura em se começou a

Senhora da Oliveira also acquired various fabrics em-broidered with gilt metal thread, as we can see from itsdocuments: “an ample white mantle embroidered withgolden stars” of Our Lady of Oliveira (INVENTÁRIO 1631:51); an ornament from China “completely embroidered ingold, and various colours” (INVENTÁRIO 1631: 79); “a whiteveil, which appears to be from Holland, entirely embroid-ered in gold thread with a King and Queen playing chessat the centre” (INVENTÁRIO 1631: 84); a dress of Our Ladyin blue lamé “gold embroidery with crowns and palmsand mantle of the same” (INVENTÁRIO 1665: 17v); “anotherfabric garnished with gold branches” (INVENTÁRIO 1665:17); a crimson pouch “embroidered with gold branches”(INVENTÁRIO 1665: 16 v). These embroideries in goldmost probably came from outside, possibly from Lisbon,where there was already a corporation of embroiderers,or even from abroad.In the Middle Ages embroidery was essentially a masculinetask, although a small number of female embroiderers alsoexisted, generally related to the embroiderer’s family. Itwas a very demanding and rigorous activity, with a veryrigid professional career-structure, going from apprenticeto master, culminating in a challenging occupationalexam. Its authors worked with precious materials – gold,silver and gem stones – for they satisfied orders from pa-trons who were high-ranking prelates or nobility, who wishedto demonstrate their status through their luxurious styleof dress. It was essentially an expression of luxury andrefinement, much appreciated by the Church, the Royaltyand the Clergy. Those who commissioned these sumptu-ous garments were very exigent and had refined tastes,stimulating demand for, and the development of, embroid-ery whose golden age was in the 16th and 18th centuries.This ostentation and excessive expense began to becountered in Portugal by monarchs who created ordi-nances against exaggeration in luxury. These contributedto the decline of the art that became less and less exigentboth as far as design as well as technique was concerned.From an early stage women devoted themselves to em-broidery, turning it into one of their main activities. Thework was not professional, because it was not generallyundertaken by commission, nor did it use luxurious fab-rics or precious metals. Female embroidery was essen-tially practiced by the wealthiest classes, being done infree time, in the comfort of the home and family. Untilalmost the second half of the 19th century, when femalepublic education began to increase in Portugal, it waspart and parcel of a girl’s education, almost a vocation ofthe feminine condition, (PINTO, 2000: 33-40). The art ofembroidery was also transmitted to their maids who helped

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incrementar em Portugal o ensino feminino público (PINTO,2000: 33-40). Esta arte de bordar passou também às suascriadas, que as ajudavam nesses trabalhos de paciência,tolerância e sensibilidade: «fiar, tecer, costurar, bordar,ocupava as mãos, evitava o ócio e prevenia os devaneiosperigosos do espírito, era o esteio indispensável de umanorma educativa que impunha à mulher obediência, odecoro e a devoção» (ALARCÃO; SEIXAS, 1993: 17). No século XIX, encontrava-se em grande florescimento obordado a branco, difundindo-se amplamente, seja notraje ou no bragal de todas as casas [n.º cat. 1-7]. Eraexecutado por grande parte da população feminina ecom tal intensidade, que se tornou praticamente uma«indústria doméstica» (RELATÓRIO, 1884: 43). Este tipode bordado desenvolveu-se após o período da Revo-lução Francesa e da industrialização, e integrou-se per-feitamente no gosto e na sensibilidade dos novos estilosartísticos que se foram desenvolvendo a partir de finais

them in these works requiring patience, forbearance andsensibility: “spinning, weaving, sewing, embroidering, keptthe hands occupied, avoided idleness and preventeddangerous musings of the spirit; it was the indispensablebulwark of an educational model that imposed obed-ience, decency and dedication on women” (ALARCÃO;SEIXAS, 1993: 17). In the 19th century whitework embroidery flourished, sprea-ding to both garments and household linen in all houses[Cat. n.º 4]. It was carried out by a large part of the femalepopulation and with such intensity, that it practicallybecame a cottage industry (RELATÓRIO, 1884: 43). Thistype of embroidery developed after the period of theFrench and Industrial Revolutions and was perfectly integ-rated into the taste and sensibility of the new artisticstyles that developed from the end of the 18th centuryonwards – empire, neo-classical and later on the romanticmovement (TEIXEIRA, 1998: 7-13). It also figures as a

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do século XVIII – império, neoclássico e posteriormenteromântico (TEIXEIRA, 1998: 7-13) – e também na sensi-bilidade burguesa do final do século XIX, surgindo comoreflexo da sua afirmação socioeconómica (PINTO, 2000:23). Desenvolveu-se então a concepção da mulher como«esposa-doméstica» e «mãe-educadora», sempre omni-presente no ambiente acolhedor da sua casa, que sedevia dedicar ao bordado como «prenda» da sua femi-nilidade, enquanto que anteriormente seria mais comouma ocupação. Passa a estar em voga a roupa interiorou doméstica e o branco introduz-se como sua cor privi-legiada, sendo sinónimo de higiene e limpeza.De facto o branco suportava facilmente as grandes barrelas que se faziam periodicamente na zona Norte dopaís, ou o corar do tecido ao sol sem perda de cor.Entretanto começava a desenvolver-se o trabalho domi-ciliário feminino, impulsionado pela crescente indus-trialização. Os têxteis e os bordados tornaram-se um dossectores privilegiados pela mão-de-obra feminina, pois amulher poderia trabalhar como operária numa fábrica, nocaso de ser solteira, ou executar um trabalho domiciliá-rio no caso de casada, cumprindo simultaneamente astarefas femininas de cuidar da casa e das crianças e,paralelamente, trabalhar por conta própria ou para osnegociantes da cidade, à semelhança de outras in-dústrias locais, como as cutelarias e a tecelagem (COR-DEIRO, 1991:9).Ao longo do tempo foi-se formando, em Guimarães, umatendência, que resultou da miscigenação de vários géneros de bordados formando um novo gosto a que sechamou Bordado de Guimarães. Este bordado é hojeconsiderado regional, por ser característico deste concelho, e distingue-se por apresentar uma temática deinspiração fitomórfica ou geométrica, de grande volumetria, usando um conjunto de pontos específicos, esempre monocromáticos, sendo as cores usadas: vermelho, azul, bege, branco, cinza e preto. Este «bordado de Guimarães», que pretende agora ajustar-se aos novos tempos de rigor e certificação, temuma raiz histórica que interessa conhecer.Ao analisarmos o bordado de Guimarães decidimos considerar um conjunto de quatro fases: Antecedentes – bordado antigo ou «bordado rico»Desenvolveu-se durante o século XIX, prolongando-seaté ao século XX.Bordado popular de GuimarãesDesenvolveu-se durante finais do século XIX e primeirametade do século XX, período em que se começa adivulgar e estudar o bordado usado pelo povo na zonade Guimarães.

reflection of the socio-economic affirmation of the bourg-eois at the end of the 19th century, (PINTO, 2000: 23)when the concept of the woman as “house-wife” and“mother-tutor” developed, an ever-present figure in thewelcoming atmosphere of the home. While embroideryhad previously been more of an occupation, the womanwould now dedicate herself to it as a “gift” of her feminin-ity. Embroidered underwear and house coats came intofashion and white was the privileged colour, being syn-onymous with hygiene and cleanliness. Indeed white supported the lye-washing, periodicallydone in the Northern part of the country, or bleaching inthe sun without colour loss. Impelled by growing industr-ialization, female out-work in the home began to develop.Textiles and embroidery became one of the privilegedsectors for female employment. The single woman couldwork in the factory while the married woman could workat home, carrying out the female tasks of taking care ofthe house and children while simultaneously workingindependently or for traders from the city, in a similarfashion to other local industries such as cutlery andweaving (CORDEIRO, 1991:9).Over the years the various styles of embroidery in Guim-arães tended to become mixed, resulting in new stylethat was called Guimarães embroidery. Today thisembroidery is considered as being regional, because it ischaracteristic of this borough, distinguished by themesinspired in phytomorphic or geometric motifs of greatdensity, using a group of specific but always mono-chrome stitches in red, blue, beige, white, grey or black. This “Guimarães embroidery”, which is now subject to a newperiod of formalism and certification, has historical rootswhich we will now examine. In order to analyze Guimarães’embroidery we have divided its evolution into four phases: Antecedents: antique or “rich” embroideryevolved during the 19th century, extending into the 20th century; Popular embroidery of Guimarães evolved over the end of the 19th century and first halfof the 20th century, period in which the study and disclos-ure of the embroidery used by the people in Guimarãesarea begins; The dawn of Guimarães embroidery a phase centred on the 1940’s, period in which Guim-arães embroidery was born with its own characteristicsand identity, disseminated as a symbol of local and na-tional patriotism; Guimarães embroidery: renaissance and consolidationthe 1980’s, in which there was a renewal of Guimarãesembroidery with its certification and popularization.

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O bordado de Guimarães no seu alvorFase que se centrou nos anos 40, época em que nasceuo Bordado de Guimarães com uma identidade e ca-racterísticas próprias e se divulgou como símbolo debairrismo e nacionalismo.O bordado de Guimarães – renascimento e consolidaçãoAnos 80, em que há uma renovação do Bordado deGuimarães, com a sua certificação e divulgação.De notar que os períodos não possuem limites cronoló-gicos rigorosos. São tendências de um determinadogosto, característico de uma comunidade, cujas fasesgeralmente se sucedem no tempo, sem grande rigor,podendo mesmo coexistir. Vamos então reflectir sobre cada uma destas fases.

1. Antecedentes – bordado antigo ou «bordadorico» (século XIX-XX)

Do século XVII ao século XVIII bordou-se muito porque obordado era considerado, como já foi dito, uma das“prendas” de uma sólida educação feminina, sendo principalmente praticado em conventos de freiras. Sabe--se que o bordado a branco predominou no século XIX,pois as novas correntes artísticas do neoclássico e doromantismo, a mentalidade vitoriana e as novas ideias dehigiene vão levar a uma explosão deste tipo de bordado.Sabemos também que a produção do bordado a brancofoi uma importante receita para a economia doméstica,como veremos adiante. A informação mais importantesobre o bordado a branco é-nos dada pelo Relatório daExposição Industrial de Guimarães, realizada em 1884,onde foram expostos muitos dos bordados feitos pelasvimaranenses. Foi aí, durante o Verão de 1884, que seapresentou ao público, no Palácio de Vila Flor, o melhorque se fazia no concelho. Nesta época a indústria de fiação de linho, que tinha sidouma das principais indústrias vimaranenses, já expressano foral concedido pelo Conde D. Henrique em 1096,estava em decadência devido à divulgação do fio dealgodão, mais leve, fácil de trabalhar e mais económico(RELATÓRIO, 1884: 43). O bragal familiar do lavrador eraaté então executado em linho, conhecido então como«pano caseiro», «pano de lavrador» ou «estopa» (RE-LATÓRIO, 1884: 47), sendo por vezes também bordado,usando-se de início os fios de linho e de lã produzidos naregião, que começaram, em meados do século XIX, a serlentamente substituídos pelo fio de algodão. Nas casasburguesas e nobres o linho utilizado era de grande quali-dade, muito mais fino do que o produzido nas casasrurais, possuindo um acabamento final mais cuidado.

It should be noted that these periods do not possesshard and fast chronological limits. They are tendenciesfor a certain taste, characteristic of a community, whosephases broadly occurred in the period in question, withgreat deal of flexibility, even being able to coexist. Let us consider each of these phases separately.

1. Antecedents: antique or rich embroidery(19th – 20th century)

A great deal of embroidery was done during the 18th and19th century because, as has been said previously,embroidery was considered one of the “benefits” of asolid feminine education, practiced mainly in convents bynuns. It is known that whitework embroidery prevailed inthe 19th century because of the new artistic currents ofneo-classicism and romanticism, Victorian mentality andnew ideas of hygiene lead to an explosion of this type ofwork. We also know that the production of whiteworkembroidery was an important source of revenue for thedomestic economy, as we will see further on. The mostimportant information on whitework embroidery is givenby the Report from the Guimarães Industrial Exhibitionheld in 1884, where many embroideries worked inGuimarães were exhibited. It was here, in the Vila FlorPalace during the summer of 1884, that the best of whatwas made in the borough was presented to the public.The spinning of linen thread had always been one of themajor industries of Guimarães, even being mentioned inthe Charter granted by Count D. Henrique in 1096.However, by this time, it had entered into decline due tothe spread of cotton thread, which was lighter, easy towork and more economical (RELATÓRIO, 1884: 43). Untilthis time, the family linen chest of the agricultural classeshad been in linen, known as “homespun” cloth, “plough-man’s” cloth or “flax tow” (RELATÓRIO, 1884: 47). Some-times these pieces were embroidered, initially using locallinen or woollen thread, which, from the mid 19th century,were slowly substituted by cotton thread. The linen usedin the houses of the bourgeoisie and nobility was muchfiner than that produced in rural homes, being of higherquality and more carefully finished. Towards the end ofthe 19th century, however, embroidery was already beingfrequently worked on damasquilho or industrial damask-ed fabric. At this time the embroidery that included thegreatest diversity of needle stitches was considered therichest and most perfect. In the Guimarães Industrial Exhibition of 1884 a numberof exhibitors displayed to the public items of whiteweargarments, plain and embroidered; bedspreads and

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Mas, nos finais do século XIX, o bordado era já fre-quentemente executado sobre damasquilho ou tecidoadamascado industrial. Nesta época considerava-secomo mais rico e mais perfeito o bordado que incluíauma grande diversidade de pontos de agulha. Na Exposição Industrial de Guimarães, em 1884, apareceu um conjunto de expositoras, que apresentaramao público diversas peças de roupa branca, lisa e bor-dada; colchas e toalhas de crochet; bordados a cores, afio de prata e ouro. Refere o Relatório que «se exceptuarmos as costureiras,que se empregam em confecções, a população femininada cidade ocupa-se principalmente nestes misteres,segundo a idade e aptidão de cada pessoa»; e acrescenta ainda: «não são só as mulheres da classepobre que se ocupam nestes trabalhos: as filhas da classe média e remediada procuram neles também umaumento de receita para as suas despesas»(RELATÓRIO, 1884: 48-49). Usava-se «trabalhar parafora» ou «trabalhar para as lojas» a fim de se obter algumas rendas próprias (RELATÓRIO, 1884: 49). O trabalho executado podia ser comerciado por duasmaneiras: ou por encomenda directa feita à própria bordadeira, ou, tal como se usava noutras indústriasvimaranenses da época, por encomenda feita à bordadeirapelos negociantes vimaranenses, que forneciam as maté-rias-primas e pagavam a mão-de-obra, recebendo depoiso produto acabado e vendendo-o para o Sul do país epara o Brasil. Os trabalhos eram pagos de acordo com asensibilidade e habilidade da bordadeira, oscilando entreos 90 e 200 réis uma peça vulgar, que ocupasse um diade trabalho completo (RELATÓRIO, 1884: 49).O Relatório refere que, segundo os dados do censo de1878, metade da população feminina da cidade – isto é,quase 1500 pessoas – bordava, e cerca de 373 viviamexclusivamente deste trabalho, que orçava em cerca de45:000$000 (RELATÓRIO, 1884: 48-50). A variedade depeças em exposição era bastante grande: roupa branca,lisa e bordada; toalhas de rosto bordadas a crivo(MOURA [19—?]: 34), a cheio ou em relevo; toalhas bordadas em alto-relevo a ponto de veludo; toalhas debandeja também bordadas a crivo, a cheio ou em relevo;aparelhos de cama simples ou bordados em relevo e aponto de veludo; cobertas a ponto de fustão; colchas etoalhas de crochet; lenços, camisas, ceroulas, meias delinho ou algodão lisas e abertas; almofadas bordadas acores, fio de prata ou de ouro; quadros bordados a canutilho de prata, ouro e lãs, um reposteiro de linho bordado a fio de lã; um vestido de seda e um manto develudo bordado a fio de ouro; quadros bordados a lã em

crochet towels; embroidered in coloured threads as wellas silver and gold. The Report states that “excepting seamstresses who areoccupied in dressmaking, the female population of the cityis mainly taken up with these occupations, according tothe age and each person’s aptitude”; to which it adds: “itis not only the women of the poorer classes who are occu-pied in these works: the daughters of the middle classand well-off also seek to increase their income with thiswork, off-setting their expenses” (RELATÓRIO, 1884: 48-49). It was customary to work “outside” or “to work forthe stores” in order to obtain some income of their own(RELATÓRIO, 1884: 49). The finished work could be placed on the market in oneof two ways: either by means of a direct commission tothe embroiderer, or, as was common practice in other Gui-marães industries of the time, for the order to be made tothe embroiderer via the city merchants, who supplied theraw materials and paid the labour, subsequently receivingthe finished product to be sold in the south of the coun-try or in Brazil. The work was paid in accordance with theembroiderer’s skill and ability, varying between the 90 and200 réis for an ordinary piece, that took a whole workingday to complete (RELATÓRIO, 1884: 49). The Report states that, according to the data of the 1878census, half of the female population of the city – that isalmost 1500 people – embroidered, and about 373 livedexclusively from this work, worth approximately 45,000$000(RELATÓRIO, 1884: 48-50). The variety of pieces in exhib-ition was quite large: white, plain and embroideredclothes; face towels embroidered with drawn thread work(MOURA [19—?]: 34), satin stitch or raised work; towelsembroidered in raised work and in velvet stitch; tray clothsalso embroidered with drawn thread work, padded satinstitch or in raised work; bed linen either plain or embroid-ered in raised work and velvet stitch; bed covers in blanketstitch; bedspreads and crochet towels; handkerchiefs,shirts, drawers, linen and plain cotton stockings; cush-ions embroidered in coloured, silver or gold thread; pic-tures embroideries in bullion knot in silver, gold and woollenthreads; a linen wall hanging embroidered in woollenthread; a silk dress and a mantle of velvet embroideredwith gold thread; pictures embroidered with wool in highrelief, in velvet thread of blue and graded silk; knottedlace; a picture embroidered in gossamer thread; a largecushion embroidered in woollen raised work; embroid-ered shirts for girls and handkerchiefs embroideries inhigh relief (RELATÓRIO, 1884: 102-105). The most frequen-tly used stitches in these embroideries were: raised, velvet,hem stitch, buttonhole and drawn-thread.

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alto-relevo, a fio de veludo em seda azul, a matiz, rendalarga a ponto de nó; um quadro bordado a fio de escu-milha; um almofadão bordado a lã em alto-relevo; ca-misas bordadas para meninas e lenços bordados emalto-relevo (RELATÓRIO, 1884: 102-105). Os pontos maisutilizados nestes bordados eram: o ponto alto, o pontoveludo, o aberto, o recorte e o crivo.Nesta exposição foi apresentado ao público uma grandediversidade de bordados: roupa branca, lisa e bordada.Na classe 20ª, onde foram apresentados tecidos brancose de algodão, apareceu um conjunto de têxteis lar e vestuário, tecidos em fábricas, mas que eram tambémbordados manualmente: toalhas de mesa adamascadas,lisas e bordadas em alto-relevo, guardanapos; toalhas derosto; cobertas de cama; serviços de camas lisos e bordados a crivo e a alto-relevo; travesseiros e travessei-rinhas bordadas; coxins; saias e camisas bordadas desenhora; meias bordadas de senhora e criança. Esta exposição mostrou o que de melhor se fazia embordado, em Guimarães, e a Imprensa fez-se representare noticiou pormenorizadamente o evento. A opinião geralfoi favorável e elogiou-se a mostra e as peças apresen-tadas. No entanto, um dos colaboradores do jornal «Co-mércio do Porto», o ilustre historiador de arte Joaquim deVasconcelos, foi especialmente crítico em relação aosbordados. Embora referindo que os tecidos eram bemexecutados considera que «acrescem os bordados maissubtis e de uma execução prodigiosa, às vezes. O gosto,porém, só raras vezes dirige a agulha» (RELATÓRIO,1884: 146). E refere ainda o desenho: «os desenhos são,com variadíssimas excepções, monótonos, do mesmogosto, baroque e rococó, que ainda impera no nossomobiliário, nas nossas casas e até – na arquitectura dosnossos confeiteiros» (RELATÓRIO, 1884: 146). Lamenta afalta de variedade e criatividade do desenho, porque nãose conheciam os estilos artísticos e a sua gramáticadecorativa, e copiavam-se os elementos decorativos deoutros bordados. Referia ainda que na época se pensavaque o excesso decorativo da peça e a maior diversidadede técnicas de bordado é que lhe davam valor, mas istoresultava num mau gosto. Era necessário apurar critérios,simplificar a obra e apurar a técnica, segundo um critérioestabelecido, pois «há falta de variedade, porque não háinvenção; e não há faculdades inventivas porque não háo conhecimento elementar do alfabeto das formas e dacombinação dos elementos característicos de cada estilo. Copiam-se uns aos outros. Supõe-se, em geral,que a obra que ostenta mais lavor, maior número de pontos, é também a mais digna de ser admirada. Não seentende o que seja economia no movimento da agulha,

A wide variety of embroideries was presented to the publicin this exhibition: plain and embroidered whitewear.Under Category 20, where natural linen and cotton wovencloth were presented, there also appeared a group ofhousehold linens and garments woven in factories, butwhich were embroidered manually: damasked tablecloths,with flat and raised embroidery, napkins; face towels; bedcovers; plain bed-linen and embroidered in drawn threadwork and raised needlework; pillows and embroideredbolsters; cushions; skirts and lady’s embroidered shirts;women’s and children’s embroidered stockings.This exhibition showed the best of the embroidery workedin Guimarães, and the Press reported the event givingdetailed information on all aspects. The general opinionwas favourable and both the exhibition and the piecespresented were praised. However, one of the journalistsof the newspaper «O Comercio do Porto», the illustriousart historian Joaquim de Vasconcelos, was especiallycritical in relation to the embroideries. Although mention-ing that the fabrics were well executed, he consideredthat “on occasions they are embellished with most subtleembroideries of a prodigious execution. Good taste,however, rarely guides the needle” (RELATÓRIO, 1884:146). and in respect of the designs: “the designs are, withmany and various exceptions, monotonous, of the sametaste, baroque and rococo, that still reigns in our furniture,in our houses and even in the architecture of our confec-tioners” (RELATÓRIO, 1884: 146). He laments the lack ofvariety and creativity in the designs, the lack of know-ledge of artistic styles and their ornamental grammar, andfor copying ornamental devices from other embroideries.In addition he states that at that time ornamental excessand the widest diversity of embroidery techniques werefactors which were believed to impart value to the piece,but in fact only resulted in bad taste. It was necessary todefine criteria, to simplify the work and refine techniques,according to an established criteria, because “there is alack of variety, because there is no invention; and thereare no inventive abilities because the elementary knowl-edge of the alphabet of forms is lacking and how to com-bine the characteristic elements of each style. They copyfrom each other. It is supposed, in general, that the workthat demonstrates more toil, a larger number of stitches, isalso the most worthy of being admired. There is nounderstanding of economy of movement in the needle,the economy of effect. The simplest work in the world,done with good taste and selected techniques, is andalways will be preferable to the most complex needle-work; it will prevail wherever there are criteria of evalua-tion. We have, therefore, to declare that we do not agree,

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a economia do efeito. A obra mais simples deste mundo,feita com bom gosto e apurada técnica, é e será semprepreferível ao lavor mais complicado; vencerá em toda aparte onde houver critério. Temos, pois, a declarar quenão concordamos, em geral, com os bordados em branco da exposição (incluindo os de fio azul, cor perdida na primeira lavagem), muito embora sejam àsvezes perfeitíssimos na mão-de-obra; não concordamossob o ponto de vista do estilo e da economia do trabalho.Com os trabalhos de cor concordamos ainda menos. Háaqui aberrações como as que vimos na exposição distrital de Coimbra e na exposição de indústrias caseiras do Porto, havendo, porém, nesta última, emcompensação, trabalhos feitos com grande arte e apurado gosto» (RELATÓRIO, 1884: 146-147). E acrescentava que era necessário «reformar radicalmenteo ensino da sala de lavor; que se havia perdido algumas qualidades e conhecimentos que tinham nossas avós, nascasas, nos paços e nos conventos, a ciência da combinaçãodas cores a arte de graduar o relevo e, principalmente, a condução, a euritmia das linhas em qualquer forma de desenho» (RELATÓRIO, 1884: 147). O trabalho dos bordados a branco era sólido e firme,mas era necessário o ensino e a instrução para que sealcançasse a qualidade das bordadeiras estrangeiras,enquanto que os de cor deveriam ser completamentereformados. Lamenta ter que referir isto: «Sentimos terde fazer estas reservas, que não serão do agrado demuita gente, mas às gentis obreiras podemos assegurarque temos o maior respeito pela sua aplicação, pela solidez e firmeza do trabalho, e que as julgamos capazesde competir com os modelos estrangeiros mais perfeitos, no dia em que as classes dirigentes lhes dêemo ensino e a instrução abundante que têm as suas rivais.Isto refere-se à grande maioria dos bordados em branco,que são muito numerosos; nos bordados de cor, nesseshá a reformar completamente os processos. Há na salados tecidos uma vidraça com bordados a ouro sobreseda e veludo, de modesto efeito. É na sala anterior (4ª)que estão quase todos os bordados a que aludimos; nãocitaremos, depois do que fica dito, os nomes dos ex-positores (20 e tantos), na maior parte senhoras. Parece--nos que seria indiscrição» (RELATÓRIO, 1884: 147). E avisou que era necessário abandonar o ponto de ve-ludo, muito popular nesta época em Guimarães: «Aindaum pequeno aviso; é abandonar o chamado ponto develudo, que não vale mais do que as flores e frutos de lã,as aves e os mamíferos em alto-relevo, e o sempiterno ebárbaro ponto de escumilha, condenado por todos osfisiólogos» (RELATÓRIO, 1884: 147).

in general, with the whitework embroideries in the exhibi-tion (including those in blue, a colour lost in the firstwash). Many of them are sometimes perfect in theirneedlework; but we can not agree with them in relation tostyle and economy of work. With the coloured work weagree still less. Here we find aberrations similar to thoseseen in the Coimbra District exhibition and the exhibitionof cottage industries in Porto. The latter, in compen-sation, showed works done with great art and selecttaste” (RELATÓRIO, 1884: 146-147). He added that it was necessary “to radically reform theteaching of needlework that has lost some of the qualitiesand knowledge that our grandparents possessed, in theirhouses, palaces and convents; the science of combiningcolours, the art of graduating the relief and, mainly, inmanaging and creating harmony of line in any type ofdesign” (RELATÓRIO, 1884: 147). The whitework embroideries were solid and firm, but ins-truction was necessary for them to attain the quality offoreign embroidery, while coloured work should be refor-med completely. He lamented having to refer to this: “Wefeel we have to express these reservations, that may notplease a lot of people, however we can assure the gen-tle craftswomen that we have the greatest respect fortheir application, for the solidity and firmness of theirwork, and that we judge them capable of competing withthe most perfect foreign models, on the day that the rul-ing classes give them the teaching and the abundantinstruction that their rivals enjoy. This refers to the greatmajority of the whitework embroideries, which arenumerous; in the coloured-work embroideries, the wholeprocesses must be reformed completely. In the TextilesRoom there is a show case of embroideries in gold onsilk and velvet, to modest effect. Almost all the embroi-deries that we have mentioned are in the previous room(Room 4). After what has been said, we shall not mentionthe names of the (20 or so) exhibitors in most part ladies.It seems that it would be an indiscretion to do so”(RELATÓRIO, 1884: 147).He advised that it was necessary to abandon velvet stitch,very popular at this time in Guimarães: “Another smallcomment; abandon the so called velvet stitch, that is notworth more than woollen flowers and wool, the birds andthe mammals in raised work, and the sempiternal andbarbaric gossamer stitch, condemned by all physiolo-gists” (RELATÓRIO, 1884: 147). Joaquim de Vasconcelos specified that both white andcoloured work embroidery occupied 700 to 800 people,from 16 to 60 years and yielded a total of 45 «contos»(RELATÓRIO, 1884: 148). The expert is once again con-

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Joaquim de Vasconcelos refere ainda que os pontos embranco e em cor ocupavam 700 a 800 pessoas, desde os16 até aos 60 anos e rendiam um total de 45 contos(RELATÓRIO, 1884: 148). E o estudioso preocupa-seuma vez mais com os milhares de pessoas do sexo feminino que trabalhavam na manufactura dos bordadose apenas possuíam o «ensino caseiro», isto é, o ensinotransmitido pela família ou o ministrado em casa de umamestra, tal como cem anos antes, dizia ele. E concluireferindo com veemência: «Há, pois, a reparar uma graveinjustiça, a pagar uma grande dívida ao sexo desprotegido; dar-lhe escolas, dar-lhe boas mestras,bons modelos e abrir-lhe um vasto mercado – todo opaís» (RELATÓRIO, 1884: 152). Outros jornais noticiaram a exposição, entre eles o «Co-mércio Português» (RELATÓRIO, 1884, 153-164), con-cordando com a opinião de que a indústria domésticafeminina se tinha de aperfeiçoar, apesar de apresentar«dois lenços primorosos que se poderiam ofertar a umarainha» (RELATÓRIO, 1884: 154). «O Primeiro de Janeiro»dizia (RELATÓRIO, 1884: 164-172) ser necessário um maiordomínio e aperfeiçoamento do desenho, porque ia «de-nunciando ao mesmo tempo uma certa vulgaridade deadornos, uma certa monotonia de formas» e ainda que oponto de veludo, muito representado nesta mostra, nãoera «do melhor gosto» (RELATÓRIO, 1884: 168-169). «A Ilus-tração Universal» (RELATÓRIO, 1884: 192-199) comen-tava que os bordados «são ricamente ornamentados combordaduras de rara perfeição, lamentando-se apenas quegrande número desses bordados pequem por falta degosto, o que sem dúvida é devido à falta sempre lamentáveldas noções de desenho ornamental». Refere ainda comode grande perfeição e beleza os bordados da famíliaGomes e da família Freitas Costa, cujos trabalhos são de«raríssima perfeição e de suma elegância», atingindo preços fabulosos (RELATÓRIO, 1884: 197).Como vimos havia nesta época uma grande diversidadede bordados, cujo suporte variava desde o tecido delinho mais grosseiro ao mais fino, e o ponto do bordadoentre o mais fino e elegante e o mais volumoso e rele-vado, muitas vezes com uma composição deselegante.Era frequente o bordado de monogramas, muitas vezesacompanhado por uma decoração floral e fitomórfica epor uma grande diversidade de pontos. O mesmo autor, Joaquim Vasconcelos, diz-nos ainda:«nestas indústrias figuram milhares de pessoas, prin-cipalmente do sexo feminino, o qual não tem ainda, entrenós, senão o ensino caseiro, que se transmite na família,ou se dá em casa de uma mestra, que repete hoje, semcritério, o que se fazia há cem anos. Há, pois, a reparar

cerned about the thousands of people of the female sexwho worked in the manufacture of embroideries who hadno more than “household” learning, that is to say instruc-tion transmitted by the family or ministry in the house ofmaster craftswoman, just as a hundred years before. Heconcludes referring with vehemence: “We must there-fore, repair a serious injustice, pay a great debt to theunprotected sex; give them schools, give them goodmasters, give them good models and open up to theirproducts a vast market – the whole country”(RELATÓRIO, 1884: 152). Other newspapers carried news of the exhibition,among them the «Comércio Português» (RELATÓRIO,1884, 153-164), which shared the opinion that thefemale domestic industry had to improve, despite pre-senting “two exquisite handkerchiefs worthy of beingoffered to a queen” (RELATÓRIO, 1884: 154), and «OPrimeiro de Janeiro» (RELATÓRIO, 1884: 164-172) con-sidered that a greater domination and perfection of thedesign was necessary, which “betrayed a certain vul-garity of decoration, while at the same time a certainmonotony of forms” and velvet stitch, very evident inthis exhibition, was not “in the best taste” (RELATÓRIO,1884: 168-169). «A Ilustração Universal» (RELATÓRIO,1884: 192-199) commented that the embroideries “arerichly ornamented with needlework of rare perfection,unfortunately a great number of those embroideriestransgress for lack of taste, which without a doubt isalways due to the lamentable absence of the notions ofornamental design”. The journal further refers to thegreat perfection and beauty the embroideries worked bythe Gomes and Freitas Costa families, whose works areof “rare perfection and of highest elegance”, reachingfabulous prices (RELATÓRIO, 1884: 197). As we have seen there was a great diversity of embroid-eries at this time, whose ground fabric varied fromcoarse to the finest linen, and the needlework from thefinest and most elegant to the most voluminous andraised, at times combined with a less than elegant com-position. Monograms were frequently embroidered, oftenaccompanied by a floral and phytomorphic decoration ina wide variety of stitches. The same author, Joaquim Vasconcelos, tells us: “theseindustries represent thousands of people, mainly of thefemale sex, who have no other instruction than thatgained at home, transmitted within the family, or thatobtained in the house of a master craftswoman, repeat-ing what was done a hundred years ago, without criteria.There is, therefore, a serious injustice to repair, a greatdebt to pay to the unprotected sex; to give them schools,

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uma grave injustiça, a pagar uma grande dívida ao sexodesprotegido; dar-lhe escolas, dar-lhe boas mestras,bons modelos e abrir-lhe um vasto mercado – todo opaís. Que fiquem lá fora com essa obra de refugo, comessas custosas bugigangas, perfeitamente inúteis esobre inúteis ridículas, apanhadas no boulevard, quandojá ninguém as quer lá. À força de modas novas, aca-bamos por tirar à mulher portuguesa o último bocado depão da boca. E é, geralmente, a senhora mais rica, maisremediada que faz isto à mais pobre, sem o saber, sem oquerer, de acordo, mas o facto subsiste. A estrangeiriceainda triunfa. Ao governo há a pedir um novo inquérito àspequenas indústrias que se podem ver mesmo sem óculos.E façam o favor de mandar alguém a Guimarães, ver, ouvire estudar» (RELATÓRIO, 1884: 152; VIEIRA, 1886: 653).Joaquim de Vasconcelos, a propósito do fio de linho, quefora outrora uma actividade florescente e que agora já seencontrava em extinção, referia: «o fio de linho, expostoem variadas graduações, é admirável; na vitrine da Sr.ª ViúvaNogueira há um grosso maço de 3$000 réis, que não pesarámais de 200 gramas; é fio de renda de bilro; pode ver-se, emcrú, enrolado numa singela maçaroca, que está na sala anterior à saída, lado direito. Essa maçaroca é um pequenoprodígio de uma arte admirável, que se vai perdendo. Jávimos um exemplar desses em outra ocasião, fiado por umasenhora da cidade, que tinha aprendido a arte de uma mãe portuguesa, à antiga. Fora do Minho, onde se encon-trará uma maçaroca dessas, em Portugal?» (RELATÓRIO,1884: 147).Face a este quadro e à lenta extinção dos trabalhos emlinho, que agora iam sendo gradualmente substituídospelos produtos de fiação mecânica geralmente impor-tados, a Sociedade Martins Sarmento nomeou, em De-zembro de 1884, uma comissão de senhoras lideradaspela esposa de Francisco Martins Sarmento, D. Maria daMadre de Deus, com o objectivo de desenvolver e proteger o que era considerado indústria feminina: fio delinha, renda de linha e linha encrespada. Esta comissãodecidiu abrir uma escola e por isso contactou uma moni-tora para ensinar estes trabalhos, enquanto que para leccionar a disciplina de desenho foi chamado oProfessor António Augusto da Silva Cardoso, da EscolaIndustrial de Guimarães. Mas tudo se gorou poucotempo depois (ACTAS, 1884), sem que se tivesse obtidoqualquer resultado. Em 1913 o Eng. Manuel de MeloGeraldes considera a indústria de fio de linha já extinta(GERALDES, 1913: 24).Entretanto, na segunda metade do século XIX (1884-85)incrementa-se o ensino industrial e é criada em Gui-marães a Escola Industrial de Francisco de Holanda,

to give them good masters, to give them good modelsand to open up a vast market to their products – thewhole country. May those expensive knick-knacks, per-fectly useless and worse than useless – ridiculous, arran-ged on the boulevard when they are no longer wanted, letthem be the pieces to be excluded. These new fashionsend up by taking the last mouthful of bread from the mouthof Portuguese women. And it is, generally, the wealthier,better-off who does this to the poorer classes, withouteven realising it, without wanting to. However the factremains, foreign products still triumph. We must ask thegovernment to conduct a new inquiry into the smallindustries that anyone can see even without a magnifyingglass. And please order somebody to visit Guimarães,to see, to hear and to study” (RELATÓRIO, 1884: 152;VIEIRA, 1886: 653). On the subject of spinning linen thread, which had for-merly been a flourishing activity but had already beeneclipsed, Joaquim de Vasconcelos mentions that: “thevarious grades of linen thread exhibited are admirable; inthe display by Viúva Nogueira there is a hank of 3$000réis, not weighing more than 200 grams; it is thread forbobbin-lace; it can be seen, undyed, wound in a simplespindle on the right side of the room prior to the exit. Thatspindle is a small prodigy of an admirable art that is beinglost. We have already seen a specimen of those onanother occasion, spun by a lady of the city, who hadlearned the ancient skills from her Portuguese mother.Where can a spindle like this be found in Portugal outsideof the Minho?” (RELATÓRIO, 1884: 147). In December of 1884, faced with this situation and theslow disappearance of works in linen generally, graduallybeing substituted by the imported machine-spun thread,the Sociedade Martins Sarmento, appointed a commiss-ion of ladies led by the wife of Francisco Martins Sar-mento, D. Maria da Madre de Deus, with the objective ofprotecting and developing what was considered femaleindustry: linen thread, linen lace and coiled linen. Thiscommission decided to open a school and contacted amonitor to teach these skills, while António Augusto daSilva Cardoso of the Guimarães Industrial School wassummoned to teach the subject of drawing. Unfort-unately the project failed a short time later (ACTAS, 1884),without having obtained any results. In 1913 Eng. Manuelde Melo Geraldes considered the industry of spinninglinen thread already extinct (GERALDES, 1913: 24). However, in the second half of the 19th century (1884-85)industrial training increased and the Escola Industrial deFrancisco de Holanda was created in Guimarães, withthe objective of answering the professional training

Toalha de Altar, pormenorSéculo XIX, 2ª metade

Altar cloth, detail2nd half of 19th century

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com o objectivo de responder às necessidades de formação profissional dos jovens, preparando-os profissionalmente para integrarem as indústrias locais,que se encontravam numa fase de grande desenvol-vimento. Logo no primeiro ano lectivo de funcionamentoda Escola, 1884-1885, inscreveram-se na classe dedesenho elementar 152 alunos, dos quais 42 eram rapa-rigas. De notar que apesar de serem apenas 22,5% dosalunos (LIVRO DE MATRÍCULAS, n.º 1), era a escola por-tuguesa que tinha maior número de raparigas como alunas(PINTO, 2000: 60). Nesta fase inicial, o ensino industrialera essencialmente vocacionado para o aperfeiçoamentodo desenho. Só mais tarde haveria uma perspectiva fe-minina de ensino, introduzindo-se o ensino do bordadona Escola Industrial de Guimarães. Segundo nos refere Teresa Pinto o sistema de ensinoindustrial português oitocentista encerrava uma grandecontradição, porque, embora fosse bastante impulsio-nado pelo Estado, não se flexibilizou em relação às ca-rências e necessidades das indústrias locais, o que emconjunto com as dificuldades financeiras levaram a umesvaziamento dos seus objectivos e fizeram com queeste tipo de ensino não se conseguisse implantar. Foiespecialmente prejudicada a classe feminina para a qualnão havia ainda sido elaborado um curriculum especial(PINTO, 2000: 157-165).Dos bordados do século XIX por nós recolhidos, veri-ficamos que são sobretudo executados por pessoas dacidade, existindo trabalhos executados com grande perfeição técnica, com um bom desenho e uma exce-lente composição, existindo, no entanto, bordados comum desenho bastante fraco e uma composição dese-legante, embora tecnicamente sejam de boa qualidade, eusem uma grande variedade de pontos [n.os cat. 1-7]

2. Bordado popular (finais do século XIX, 1.ª me-tade do XX)

Na primeira metade do século XX o estatuto da mulhermudou bastante, pois começou a trabalhar nas fábricas,principalmente têxteis, que entretanto se tinham disseminado. De notar que ela representava 70% dooperariado, podendo atingir os 80% contabilizando asmenores (GERALDES, 1913: 83). Por isso, o tempo queoutrora a mulher dedicava aos laboriosos bordadosdomésticos, começou a diminuir e este principiou lenta-mente a entrar em decadência e a ser cada vez maisescasso. O Eng. Manuel de Melo Geraldes atribuía estadecadência à concorrência do bordado estrangeiro defabrico mecânico, mais barato e moderno, que «substituiu

needs of young people, preparing them professionally toenter local industry, at that time in a phase of majordevelopment. In the first academic year in which theschool functioned, 1884-1885, 152 students registeredfor the class of elementary drawing, of which 42 weregirls. Although they were only 22.5% of inscriptions(LIVRO DE MATRÌCULAS, n.º1), it was the Portugueseschool that had the largest number of girls as students(PINTO, 2000: 60). In this initial phase industrial trainingwas essentially dedicated to the improvement of draw-ing. Only later would there be a female perspective toteaching, with an embroidery course being introducedinto the Escola Industrial de Guimarães. According to Teresa Pinto, the 19th century Portugueseindustrial education system contained a great contradic-tion. Although promoted by the State, it was not flexible

Toalha de Altar, pormenorSéculo XIX, 2ª metade

Altar cloth, detail2nd half of 19th century

Toalha de rosto, pormenorSéculo XIX, finais

Face towel, detailEnd of 19th century

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o bordado manual e característico do Minho (bordado deGuimarães como geralmente é conhecido)», dando aestes trabalhos uma grande amplitude regional e nãoapenas local. Dizia ele, em 1913, que a indústria de bordados se encontrava já «bastante decaída no distrito»,e comentava a lenta substituição do bordado de recheioe crivo pelos bordados à Richelieu e inglês. Evocavatambém a «calamidade do desenho» utilizado e referiaque a indústria do bordado antigo ou «bordado rico» setinha já transferido para fora do distrito de Braga, para oconcelho de Felgueiras, concentrando-se em Figueiró daLixa não só devido à pobreza e carências desse meiorural, mas também à sua distância em relação aos grandes centros e também à «vinda para ali de vimara-nenses conhecedores desse género de trabalhos»(GERALDES, 1913: 24-26), o que levou a que a produçãofosse mais económica (CARVALHO, 1941: 127). Por issoa sua mão-de-obra foi aproveitada pelos comerciantesvimaranenses para dinamizarem este produto e desen-volverem a sua oferta comercial, contribuindo com o fornecimento de panos de linho e de algodão.Na cidade continuou-se a fazer o bordado a branco e a cor,embora a produção fosse menor do que nos finais do sécu-lo XIX e o número de bordadeiras tivesse diminuído muito.Mas na zona rural de Guimarães e freguesias limítrofes, asmulheres do campo começaram também a decorar as suasroupas com bordados. Para isso foram-se apropriando dospontos mais vistosos e volumosos do bordado a branco –que provavelmente aprenderam enquanto serviam assenhoras da burguesia ou da nobreza – e foram-nos adaptando ao seu gosto e às suas necessidades. O canutilho, o lançado, o cheio, os nozinhos, o rolinho, o ilhó,o recorte, pena simples e a gradinha, vão ser os pontos maisutilizados sendo essencialmente aplicados ao traje, o qualera confeccionado em “linho da terra”. Tais bordados eramusados com fins decorativos, mas também como ostentação. Geralmente era a costureira rural que o faziadepois do trabalho estar pronto, ou então a própria lavradeira durante as longas noites de serão de Inverno,sendo, como já dissemos, um bordado opulento e colorido.Em relação ao traje masculino domingueiro, era costumebordá-lo a branco no peitilho, na gola, na carcela, nasombreiras. Apenas a «ratoeira» ou «tabuleta» – uma faixa detecido colocada na parte inferior do peitilho – apresentavauma decoração diferente: o nome do proprietário da peça,escrito a vermelho, na sua maior parte bordados a ponto decruz ou a cheio. As camisas são bordadas com um desenhofrequentemente de tipo geométrico, simétrico entre as duaspartes (lado direito e esquerdo), bordado a branco, talvezporque o traje masculino era mais discreto, mas também

enough to respond to the needs and short-comings oflocal industry, which, coupled with financial difficulties,invalidated its objectives and resulted in this type ofteaching not being implemented. It was especially prej-udicial to the female class for whom a special curriculumhad not yet been elaborated (PINTO, 2000: 157-165). The 19th century embroideries in our collections wereabove all worked by needlewomen from the city, executedwith great technical perfection, well draughted and of ex-cellent composition. However, there are also embroid-eries, although technically of good quality and using awide variety of stitches, have quite weak drawing and aninelegant composition, [Cat. n.º 1-7]

2. Popular embroidery (end of the 19th century,1st half of the 20th)

In the first half of the 20th century women’s status chang-ed considerably. They started working in the textile in-dustry that in the meantime had become widespread,representing 70% of the work-force, and reaching 80%counting the smaller factories (GERALDES, 1913: 83). Forthis reason the time that women had previously dedicat-ed to laborious domestic embroidery decreased andtherefore this work slowly entered into decline, becomingprogressively scarcer. Manuel de Melo Geraldes attrib-uted this decline to foreign competition from machine-made embroidery, which was cheaper and more modern.“It substituted the hand-made characteristic embroideryof the Minho (widely known as Guimarães embroidery)”.In 1913 he said that the embroidery industry was already“in full decline in the district”, and noted the slow substit-ution of satin stitch and drawn thread embroidery byRichelieu embroidery and broderie Anglaise. He alsomentioned the “calamity of the design” used and the factthat the traditional or rich embroidery industry hadalready been transferred outside the district of Braga, tothe borough of Felgueiras, concentrating on Figueiró daLixa. This was not only due to the poverty of the ruralmilieu, but also its proximity to the major centres and tothe “arrival there of Guimarães experts in that style ofwork” (GERALDES, 1913: 24-26), These factors enableda more economical production (CARVALHO, 1941: 127).Guimarães merchants took advantage of the labour mar-ket to develop the commercial dynamism of this product,contributing with the supply of linen and cotton cloths. In the city whitework and coloured embroidery continuedto be made, although the production was smaller than atthe end of the 20th century, and the number of needlewomen had decreased significantly. However in the bor-

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por motivos de higiene, uma vez que assim o vestuárioenfrentava melhor as fortes barrelas e as grandes coras. Adecoração era monocromática, embora frequentementefosse avivada com pequenos apontamentos de vermelho (a“tabuleta” na camisa branca do homem e o peito da camisada mulher), sempre executada em algodão de meia branco,o que lhe dava força e resistência, reforçando o tecido. Acamisa masculina mesmo depois de puída e esfarrapadapelo uso de duas ou três gerações, mantinha o peitilhoquase intacto e ainda sólido.Algumas das camisas do homem possuíam um bordadocom motivos diversificados, inspirados no dia-a-dia e

dering parishes and rural zone of Guimarães, the coun-trywomen also began to decorate their clothes with em-broideries. For this they appropriated the best lookingand voluminous stitches of whitework embroidery, whichthey had probably learned while serving in the house ofthe bourgeoisie or nobility, and adapted it to their tasteand needs. Bullion, straight, padded satin, french knot,trailing, eyelet, blanket, feather and overcast bar were thestitches used, applied essentially to clothes made in“homespun linen”. Such embroideries were used for orn-amental ends, as well as ostentation. It was generally therural seamstress who made them after work was finished

retirados da natureza, executados a cheio e com linha demeia branca numa profusão quase obsessiva de flores,corações, passarinhos, cruzes e cestos de flores [n.º cat. 11,des. n.º 1]. Outras possuíam desenho geométrico, quese repetia em listas verticais, predominando o ponto decanutilho e a gradinha, muitas vezes executados emlinha de meia ou na de carrinho – o que não é vulgar nobordado popular português, e que dá uma rara origi-nalidade ao bordado de Guimarães (MOURA, [19—?]: 29).Maria Clementina Moura refere mesmo que a geometriado desenho, é o «que constitui excepção nos bordadospopulares portugueses» (MOURA, 1968: 68) [n.º cat. 13,des. n.º 2]. Estes pontos eram ainda complementadospor outros mais vulgares como, por exemplo, o cadeia, olançado e o ilhós. Os peitilhos das camisas eram re-matados com ponto de recorte no ar ou aselhas re-cortadas e muitas vezes eram reaproveitados para outracamisa (MOURA, 1968: 68-69).Para si, a mulher fazia camisas mais simples com bor-dados muito singelos. Executadas em linho da terra, eramadornadas com uma gola e punhos de renda, geralmenteem crochet. No peito eram frequentemente decoradas

or the countrywomen themselves during the long winterevenings. As has already been stated, it was an opulentand colourful embroidery. With respect to the maleSunday-best shirt, it was embroidered in white on thebreast, collar, fly, and shoulder. Only the name panel or“ratoeira” – a fabric strip placed in the lower part of thechest panel – presented different decoration: the name ofits owner was embroidered in red, generally in cross orsatin stitch. The shirts are frequently embroidered witha geometric design, symmetrically arranged betweenthe right and left side. The embroidery was in white,perhaps because male clothes were more discreet, butalso for reasons of hygiene, since the clothes betterendured washing and bleaching. Although frequentlyvivified with small notes of red (on the name panel inthe man’s white shirt and the chest of the woman’s shirt),the monochrome decoration was always executed inwhite stocking cotton, which by reinforcing the fabricgave it extra strength and resistance. The male shirt evenwhen threadbare and ragged from two or three genera-tions of wear, maintained the breast panel almost intactand still solid.

Camisa de homem, pormenorSéculo XX, 1º quartel

Man’s shirt, detail1st quarter of 20th century

Camisa de homem, pormenorSéculo XX, 1º quartel

Man’s shirt, detail1st quarter of 20th century

Camisa de mulher, pormenorSéc. XX, 1º quartel

Woman’s blouse, detail1st quarter of 20th century

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com um ponto linear vermelho ou branco ou com umaaplicação de sutache, que parece realçar as costurasdo peito, as nervuras ou as preguinhas existentes, e quesão posteriormente encobertas pelo xaile traçado sobreo peito. O bordado a branco cheio, mais elaborado evistoso era deixado para uma barra de remate nas mangas, que ficava à mostra [n.º cat. 19]. Mas a orna-mentação mais rica era destinada ao colete feminino[n.º cat. 9], onde bordavam aparatosos motivos florais,geralmente em vermelho ou azul (BRAGA, 1928: 133) –embora por vezes apareça o negro tradicionalmenteusado pelas viúvas2 – enquanto que noutro tipo de peçasmais caseiras era por vezes utilizado o bege. Usava umainteressante diversidade de pontos: ponto pé-de-flor,cadeia, lançado, espinha, galo, caseado, nó, formiga,traço e o margarida. As costas eram profusamente bor-dadas, ficando «atochadas de motivos», como referiaClementina Moura ([19—?]: 29), e os rabos do colete

Some of the men’s shirts possessed an embroidery withdiverse motifs, inspired by the day-to-day and taken fromnature, executed in satin stitch and with white stockingthread in an almost obsessive profusion of flowers, hearts,little birds, crosses and baskets of flowers [Cat. n.º 11, draw-ing n.º 1]. Others have geometric designs, with repeated ver-tical bands in which bullion knot and overcast bar stitch pre-vail, often executed in stocking or reel thread – being mostunusual in Portuguese popular embroidery and which im-parts a rare originality to Guimarães’ embroidery (MOURA,[19—?]: 29). Maria Clementina Moura even states that thegeometry of the design “constitutes the exception in Portug-uese popular embroidery” (MOURA, 1968: 68) [Cat. n.º 13,drawing n.º 2]. These were further complemented by othermore common stitches as for example chain, straight andeyelet. The breast panels of the shirts were edged in de-tached buttonhole stitch or needle lace and were frequentlyrecycled from another shirt (MOURA, 1968: 68-69).

Coletes de «rabos» de mulherSéculo XX, 1º quartel

Woman’s tailed waistcoat1st quarter of 20th century

Coletes de «rabos» de mulherSéculo XX, 1º quartel

Woman’s tailed waistcoat1st quarter of 20th century

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também, caindo soltos, bordados sem grande preocu-pação de perfeição, com uma aparente simetria, queexprimia quase um horror ao vazio3, e geralmente comadaptação do bordado à lei do quadro4 [n.os cat. 8, 9 e 10].Esporadicamente também apareciam no bragal lençóis e fronhas bordadas [n.os cat. 15 e 16 ]. Muitas vezes oponto era copiado a partir de «marcadores» ou de outrosexemplares bordados, sendo o motivo repetido e adaptadovezes sem conta, de tal modo que algumas bordadeirasjá o faziam de memória, o que facilitava a sua execuçãotornando-a maquinal e aproveitando, por isso, melhor opouco tempo disponível, para além dos trabalhos agrí-colas e domésticos.Em finais do século, a 20 de Março de 1892, nasceu emGuimarães Alberto Vieira Braga, que se destacou pelosseus estudos de etnografia vimaranense. Foi ele que pelaprimeira vez chamou a atenção para o bordado caracte-rístico do traje de lavrador dos arredores de Guimarães,

For themselves, the women made simpler shirts withvery plain embroidery. Executed in homespun linen, theywere adorned with lace at the collar and cuffs, generallyin crochet. The chest was frequently decorated with ared or white linear stitch, or with a appliquéd braid, thatsets off the seams of the bodice, ribbing or pleats, thatwere later hidden by a shawl crossed over the chest. Theelaborate and good-looking satin stitch whiteworkembroidery was left for a band finishing off the sleevesthat were left showing [Cat. n.º 19]. However, the richestornamentation was destined for the female waistcoat[Cat. n.º 9], embroidered with spectacular floral motifs,generally in red or blue (BRAGA, 1928: 133) – althoughblack traditionally used by the widows sometimesoccurs2. Beige was sometimes used in another type ofmore homely piece. An interesting diversity of stitches isapplied: stem, chain, straight, fishbone, fern, buttonhole,French knot, sham hem, and lazy daisy stitch. The backs

Colete de «rabos» de mulher,pormenor Século XX, 1º quartel

Woman’s tailed waistcoat, detail1st quarter of 20th century

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num estudo que foi publicado no «Catálogo da Expo-sição Agrícola Concelhia», realizada em Agosto de 1923e que saiu a lume apenas em 1928. Esta publicação inti-tulava-se «Guimarães, o labor da grei», e nela cola-boraram vários estudiosos vimaranenses, entre eles esteetnólogo e estudioso local, que elaborou um texto sobreos aspectos populares de Guimarães intitulado as«indústrias caseiras». Neste artigo descrevia o traje efalava muito sumariamente do bordado aí aplicado, nãoo designando ainda como bordado de Guimarães(LABOR, 1928: 130-140). Para além disto, ilustrou o seutrabalho com desenhos das peças que considerava maisvistosas e bonitas: um colete de rabos (LABOR, 1928: 132)

e uma camisa de homem (LABOR, 1926: 134). São desenhos a negro e vermelho, da autoria de Luís de Pina,executados em 1926. De notar que nesta exposição houvetambém uma secção de lavores femininos em que apareceram como expositores o Colégio de Nossa Senhorada Conceição, a Escola Feminina da Venerável OrdemTerceira de S. Francisco e o Asilo de Santa Estefânia, tendocada uma destas instituições ganho um prémio, uma vezque as suas educandas produziam bordados de grandequalidade. Estiveram ainda representadas as senhoras deGuimarães, tendo colaborado trinta e duas expositoras comcolchas, almofadas, rendas de crivo, à inglesa e crochet;bordados a matiz e alto-relevo; rendas de bilros, bordadosà Richelieu, em relevo, branco e cores (LABOR, 1926: 204).O termo «Bordados de Guimarães» reapareceu poste-riormente, como designação do local de execução e de

were profusely embroidered, being “packed with motifs”,as Clementina Moura observed ([19—?]: 29), and thetails of the waistcoat, falling loose, embroidered withoutgreat concern for perfection and an apparent symmetrythat expressed an “aversion to emptiness”3, generallyadapting the embroidery to the available space [Cat. n.os 8,9 and 10]. Sheets and embroidered pillow cases alsoappeared sporadically in the trousseau [Cat. n.os 15 and16]. Frequently the stitch was derived from samplers orother embroidered specimens, the motif being countlesslyrepeated and adapted in such a way that some embroid-erers were able to work from memory, facilitating thework by making it more mechanical and taking betteradvantage of the little time available after agricultural anddomestic tasks.On the 20th of March, 1892, Alberto Vieira Braga, whowas to become an outstanding figure for his studies oflocal ethnography, was born in Guimarães. He drewattention to the characteristic embroidery of the coun-try people in the surroundings of Guimarães for the firsttime in a study that was published in 1928 in the cata-logue of the Borough Agricultural Exhibition, which hadbeen held in August 1923, This publication was entitled«Guimarães, O Labor da Grei» and various Guimarãesscholars collaborated on it, including this ethnographerand expert on local studies. He wrote an article onaspects of popular life in Guimarães, entitled “House-hold Industries” in which he described the apparel andspoke briefly of the embroidery applied to it, but with-out designating it as Guimarães embroidery (LABOR,1928: 130-140). The text was illustrated with drawingsof those pieces considered to be the most impressiveand beautiful: a tailed waistcoat (LABOR, 1928: 132)and a man’s shirt (LABOR, 1926: 134). These drawingsin black and red, dating from 1926 are signed by Luísde Pina. In the 1923 exhibition there had also been asection of female needlework in which the Colégio deNossa Senhora da Conceição, the Escola Feminina daVenerável Ordem Terceira de S. Francisco and the Asilode Santa Estefânia appeared as exhibitors. Each ofthese institutions won an award, given that its pupilsproduced embroideries of great quality. The ladies ofGuimarães were also represented, thirty two of themcollaborated displaying bedcovers, cushions, drawnthread lace, broderie Anglaise and crochet, shadow andrelief embroideries; bobbin lace, in raised, whitework andcoloured Richelieu embroideries (LABOR, 1926: 204).Later, in 1929, the term “Guimarães Embroidery” as adesignation for the place of execution and use, appear-ed in an article by Maria Júlia Antunes (ANTUNES, 1931:

Lençol, pormenorSéculo XX, 1º quartel

Bed sheet, detail1st quarter of 20th century

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uso, em 1929, num artigo de Maria Júlia Antunes (ANTUNES,1931: 219-235) apresentado ao IV Congresso Beirão, realizado em Castelo Branco, em que numa descriçãodos bordados de S. Vicente de Alcafache, chamou aatenção para as suas afinidades com os bordados deGuimarães (ANTUNES, 1931: 224). Neste trabalho a autorareferia a necessidade das bordadeiras terem conheci-mentos de desenho, principalmente do desenho deco-rativo aplicado aos trabalhos femininos, pois «sem oconhecimento do desenho, nenhuma arte que deledependa poderá atingir as formas ideais do belo» (ANTUNES, 1931: 234). Terminava com um apelo à reor-ganização das indústrias caseiras portuguesas, revita-lizando com critério artístico e prático não só o bordado,mas também outras indústrias tradicionais como arenda, o crochet e a tecelagem (ANTUNES, 1931: 235).Nas conclusões referia vários pontos a melhorar, e diziaque o Estado devia auxiliar e proteger as indústriaspopulares, terminando com um apelo: «que nos esta-belecimentos de ensino os professores introduzam noespírito dos seus alunos o culto das nossas tradições». Entretanto, em Guimarães, as casas comerciais concen-tram em si a venda e distribuição deste bordado vistoso, deaspecto volumoso, feito pelas lavradeiras sobre pano de«linho da terra», geralmente bastante grosseiro e bordadocom fio de algodão sem brilho, executado com um desenho geométrico ingénuo e repetitivo, sem grande rigor.Os bordados deste período que nos chegaram às mãos,tanto são bordados a branco, que continuaram a ser executados por senhoras da cidade, como são trabalhosde costureiras-bordadeiras rurais, que dão aos seus bordados – geralmente inspirados na vida quotidiana –uma alacridade e uma simetria aparente, muitas vezesfugindo ao rigor milimétrico, mas aproveitando o espaçodisponível, o que lhe dá um certo ar naïf [n.os cat. 8-16].

3. O bordado de Guimarães – no seu alvor (anos40-60, século XX)

Como já vimos, as bordadeiras rurais bordavam exuberantesbordados que geralmente aplicavam nas camisas e coletesdo traje rural, e que revelavam uma ingenuidade muito própria, de sabor popular. Os comerciantes da cidade incrementaram o negócio de bordados e aproveitaram-nospara criar uma nova vertente comercial – que teve um grandesucesso –, aplicando esse bordado em toalhas, guarda-napos e naperões ou paninhos de uso caseiro (CARVALHO,1941: 126). Geralmente eram executados em linho indus-trial, mais económico, mais fino e mais fácil de trabalhar,comprado pelas casas comerciais às grandes empresas

219-235) presented at the IV Beirão Congress, held inCastelo Branco. In a description of the embroideries of S.Vicente de Alcafache, she drew attention to the similar-ities with Guimarães embroideries (ANTUNES, 1931: 224).In this work the author referred to the embroiderers’ needto have knowledge of drawing, mainly of the ornamentaldrawing applied to the female arts, because “withoutknowledge of drawing, no art that depends on it canreach the ideal forms of beauty” (ANTUNES, 1931: 234).It finished with an appeal for the reorganization of Por-tuguese domestic industries, revitalizing with artistic andpractical criteria not only embroidery, but also other trad-itional industries such as lace, crochet and weaving(ANTUNES, 1931: 235). In the conclusion she referred tothe various stitches in need of improvement, and affirmedthat the State owed help and protection to the popularindustries, ments teachers induce respect for our tradit-ions in their students”. In Guimarães the sale and distribution of this ostent-atious embroidery worked by countrywomen on home-spun cloth was concentrated in the hands of a fewstores. Of voluminous aspect, it was generally embroid-ered with matte cotton thread, rude in design andworked without great rigor in ingenuous repetitive geo-metric patterns. Judging by the embroideries of this period that havecome down to us, white work continued to be executedas much by ladies of the city as rural dressmaker-embroid-erers who imparted to their embroideries – generallyinspired by daily life – a liveliness and an apparent sym-metry, frequently departing from meticulous rigor buttaking full advantage of available space, giving it a certainnaïf air [Cat. n.os 8-16].

3. The Dawn of Guimarães’ embroidery: (1940-60)As we have already seen, the rural embroiderers embroi-

dered exuberant embroideries that were generallyapplied to the shirts and waistcoats of rural attire andwhich revealed a certain ingenuousness of popular flavour.The merchants of the city expanded the embroiderybusiness and took advantage to create a new and verysuccessful line, applying the embroidery to tablecloths,napkins and place mats or other household goods (CAR-VALHO, 1941: 126). They were generally executed inmachine made linen, more economical, finer and easierto work, bought by the trading houses from the majortextile companies, as for example linen n.º 16 or 16 l,manufactured in the «Empresa Industrial Sampedro», ofLordelo, Guimarães, whose product was chosen for

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têxteis, como por exemplo o linho n.º 16 ou 16 l, fabricadona Empresa Industrial Sampedro, de Lordelo, Guimarães,cujo produto era escolhido por ser semelhante ao linhocaseiro, e que mais tarde foi substituído pelo n.º 20. Preferia-se o bordado geométrico, executado a cheio eponto de canutilho, de linha monocromática, sendo ascores mais frequentes nesta época o branco (cor de fácillavagem e que não desbotava com as lavagens e o sol),o vermelho (cor alegre, muito apreciada no Minho), obege ou crú (cor discreta, talvez por ser semelhante à cordo fio de linho por branquear) e raramente o preto ou onegro, que geralmente era usado em sinal de luto. O azulaparece-nos frequentemente a partir desta época, sendoem casos muito particulares, aplicado em conjunto coma cor vermelha [n.os cat. 34 e 38], e mais tarde o cinza quepor vezes substitui o branco [n.os cat. 63].O fabrico de linho caseiro foi diminuindo com o tempo, nãosó devido a ser um trabalho moroso e pesado, mas também devido à sua rápida substituição pelo algodão.Tentou-se rentabilizar este processo, introduzindo o fabrico industrial do linho, mas ainda não era suficientepara o consumo interno e tornou-se, por isso, necessárioimportar linho estrangeiro. Nas primeiras décadas do século XX, surgiram em Guimarães novas casas que apenas negociavam em tecidos de linho e algodão. Parece ter sido a Casa João Gualdino Pereira, de JoãoGualdino Pereira – um estabelecimento vimaranense, localizado no Largo Prior do Crato (actual Alameda S. Dâ-maso), e fundada nas primeiras décadas do século XX,com o objectivo de comerciar tecidos de linho e algodão – a primeira a fazer encomendas a bordadeiras deGuimarães, cedendo-lhes o linho que comprava à vara(antiga medida de comprimento equivalente ao actual 1,10 m) nas grandes empresas têxteis, como por exemploà Empresa Sampedro, fundada cerca de 1920, com o

being most similar to homemade linen. It was later sub-stituted by n.º 20. Geometric embroidery was preferred, worked in satinstitch and bullion knot, with monochrome thread, themost frequent colourways of this time being white (theeasiest colour for washing that neither faded withwashing or bleaching by the sun), red (a cheerfulcolour, much appreciated in the Minho), beige or natur-al (a discreet colour, similar to the colour of naturallinen thread prior to bleaching) and more rarely black,that was generally used as a sign of mourning. Fromthis time blue starts to appear with frequency, being invery specific cases applied together with red [Cat. n.º 34and 38], and later with grey that occasionaly substi-tutes white [Cat. n.º 63]. The manufacture of homemade linen continued todecrease with time due to two factors. Firstly its produc-tion was slow and arduous work and secondly because itwas rapidly being substituted by cotton. An attempt wasmade to make the process more profitable by introducingthe industrial manufacture of linen, but even so it was notsufficient for internal consumption and therefore it was still necessary to import foreign linen. In the first decadesof the 20th century new stores appeared in Guimarães that only traded in woven linen and cotton textiles. One of the first to commission Guimarães’ embroidery seemsto have been «Casa João Gualdino Pereira» an establish-ment owned by João Gualdino Pereira, located in theLargo Prior do Crato (now Alameda S. Dâmaso) andfounded in the first decades of the 20th century with theobjective of trading linen and cotton textiles. It suppliedthe embroid-erers with linen bought by the rod (old mea-sure of length equivalent to 1,10 m) from the great textilecompanies, as for example the «Empresa Sampedro»,founded about 1920, with the objective of manufacturing

Toalha de mesa, pormenorSéculo XX, 3º quartel

Table cloth, detail3rd quarter of 20th century

Abajur de candeeiro, pormenorSéc. XX, 3º quartel

Lamp shade, detail3rd quarter of 20th century

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objectivo de fabricar tecidos de linho. Antes, em inícios do século, as únicas fábricas que teciam mecanica-mente linho, eram a Companhia de Fiação e Tecidos deGuimarães, a Fábrica de Tecidos de Linho e Algodão, doCastanheiro e a Fábrica de Manuel Bernardo Alves(GERALDES, 1913:39). Quase simultaneamente as outras casas comerciais delinhos de Guimarães – Casa Teixeira de Abreu, C.ª Lda,tradicionalmente chamada Casa dos Linhos, e a CasaAbreu Lopes, C.ª Lda, ou Casa dos Enxovais, criada pordois empregados da Casa Teixeira de Abreu – come-çaram também a encomendar toalhas às bordadeirasrurais. Estas casas iam depois recolher o trabalho executado para o comerciar. De notar que as três empresas comerciais faziam encomendas às mesmas bordadeiras, que trabalhavam para eles à peça.

woven linen. At the beginning of the century, the only factories that wove linen mechanically, were the «Com-panhia de Fiação e Tecidos de Guimarães», «Fábrica deTecidos de Linho e Algodão», of Castanheiro and «Fábrica de Manuel Bernardo Alves» (GERALDES,1913:39). Almost simultaneously the other linen trading housesof Guimarães – Casa Teixeira de Abreu, Cª Lda, tradition-ally called «Casa dos Linhos» and the «Casa AbreuLopes, Cª Lda» or the «Casa dos Enxovais», created bytwo ex-employees of Casa de Abreu Teixeira – also beganto order tablecloths from the rural embroiderers. Thesehouses would collect the finished work for subsequenttrade. It should be noted that the all three commercialcompanies placed orders with the same embroiderers,who worked on piece-rate for them.

Vestido de comunhão, pormenor2003

Communion dress, detail2003

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Havia ainda as costureiras-bordadeiras dos arredoresque continuavam a trabalhar em sua casa ou a des-locarem-se, uma ou duas vezes por semana, à casa docliente para fazer pequenos trabalhos de costura, con-feccionar peças de vestuário novas ou executar en-xovais, e que faziam o acabamento da peça bordando-a.Todos os pequenos fragmentos que sobravam do tecidoeram aproveitados, e alguns eram usados para bordar efazer paninhos para tabuleiro, para decorar a habitação,adaptando o desenho usado à forma do tecido existente,de modo a aproveitá-lo [n.º cat. 44]. Nesta época havia ainda outras bordadeiras bastanteconhecidas: uma era a Lúcia da Silva, aluna do Asilo deSanta Estefânia, que ia trabalhar a casa dos clientes[n.º cat. 42]; mas, a mais conhecida desta época, era a“bordadeira de Covas”, que residia junto do lugar do Cas-tanheiro e produzia bastante para as casas comerciais dacidade [n.º cat. 29]. Nesta zona havia ainda outra bor-dadeira, cujo nome não conseguimos identificar. Como as bordadeiras de Guimarães já não davam satisfação à procura, os comerciantes continuaram ademandar à Lixa (Felgueiras), um ponto de grande ma-nufactura de bordados para enxovais. E, tal como erahabitual nas casas comerciais de Guimarães, as borda-deiras recebiam o linho entregue pelo encomendador,que depois ia recolher os trabalhos bordados. O desenhotambém era dado por quem encomendava, geralmenteuma casa comercial de Guimarães, ou era feito e aper-feiçoado pelo encarregado do centro produtor segundoas instruções recebidas, o mais parecido possível com obordado das camisas dos lavradores de Guimarães, queo entregava posteriormente às suas bordadeiras.Algumas das bordadeiras e casas de bordados da Lixa,que trabalharam para as casas comerciais de Guimarães,eram: Emília Neves de Sousa, de Airães; Glória PintoLopes, de Figueiró, Amarante; Arminda Magalhães daCunha, do Outeirinho, Lixa; Casa Armando Ribeiro, doAlto da Lixa5. Neste período era frequente usar-se no bordado uma barra com flores estilizadas, tendo-se retomado o ponto de veludo tão vulgar em finais doséculo XIX. Este bordado executado na zona da Lixa, erageralmente menos relevado e mais miúdo do que o daslavradeiras-bordadeiras de Guimarães, mas tambémfeito sem grande preocupação a nível de acabamentos epormenores [n.º cat. 30]. O bordado de Guimarães, principalmente o desenhogeometrizado, tornou-se então moda e as senhoras daburguesia começaram a utilizá-lo para decorar o seu ves-tuário de Verão (CARVALHO, 1941: 126), tal como o dassuas crianças e o do seu marido [n.º cat. 45]. Começou

There were other dressmaker-embroiderers from the out-skirts who continued to work at home or who travelled,once or twice a week, to a customer’s house to do a littlesewing, to make new clothes, or to embroider trousseauxand finish pieces by embroidering them. Advantage wastaken of all the small fragments of left over fabric; somewere embroidered to make tray cloths, others to decoratethe home, adapting the design to the form of the existingfabric in the best way to make optimum use of it [Cat. n.º 44]. At this time there were other well-known embroiderers:one of the was Lúcia da Silva, student of Asilo de SantaEstefânia, who would work in the customers’ house [Cat.n.º 42]; but, the best known of this time, was the “embroid-erer of Covas”, who lived near Castanheiro and whoproduced a lot of work for the town shops [Cat. n.º 29]. Ithas not been possible to identify another embroidererwho lived in the area. As Guimarães embroiderers could not satisfy all thedemand, the merchants continued to order from Lixa(Felgueiras), an important centre for embroideringtrousseaux. As was customary for Guimarães’ shops, theembroiderers received the linen from the trader who com-missioned it and who would later collect the workedembroideries. The design was also supplied by whoeverordered the piece, generally a Guimarães store. Other-wise it was draughted according to instructions received,as similar as possible to the embroidery of the Guimarãescountrymen’s shirts, and perfected by the overseer of theproduction centre who later passed it on to their embroid-erers. Some of the embroiderers and embroidery houses ofLixa that worked for Guimarães stores were: EmíliaNeves de Sousa, of Airães; Glória Pinto Lopes, of Figuei-ró, Amarante; Arminda Magalhães da Cunha, of Outei-rinho, Lixa; Casa Armando Ribeiro, of Alto da Lixa4. In thisperiod it was frequent to use an embroidered band withstylized flowers, having readopted velvet stitch so com-mon at the end of the 19th century. This embroideryworked in the Lixa area was generally less raised andsmaller than that done by Guimarães countrywomen-embroiderers, although it was also done without greatattention to detail or quality of finish [Cat. n.º 30]. Guimarães embroidery, mainly the geometrical patterns,became fashionable and bourgeois ladies began to use itto decorate their summer clothes (CARVALHO, 1941: 126),along with those of their children and husbands [Cat.n.º 45]. It also entered into use for creating a new style ofceremonial dresses, like the christening [Cat. n.º 20] andevening gown [Cat. n.º 28]. As the latest vogue the ladiesof the Guimarães bourgeoisie would embroider it whenthey met to socialize and have tea during their idle after-

Toalha de mesa, pormenorSéc. XX, 3º quartel

Table cloth, detail3rd quarter of 20th century

Toalha de mesa, pormenorSéc. XX, 3º quartel

Table cloth, detail3rd quarter of 20th century

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BORDADO DE GUIMARÃES 47

também a ser usado para confeccionar vestidos de cerimónia com um novo design, tal como vestidos debaptizado [n.º cat. 20] e de soirée [n.º cat. 28]. Passou aser moda, e, as próprias senhoras da burguesia deGuimarães executavam-no nas tardes de lazer, em quese reuniam para conviver e tomar chá, utilizando-o paradar um ar regional às festas que organizavam nas suasquintas e casas de campo dos arredores da cidade, emque as toalhas, o mobiliário, as camisas e aventais doscriados eram decorados com este bordado, que co-meçava então a ter um desenho mais harmonioso e umatécnica cada vez mais cuidada e perfeita [n.os cat. 35 e 38]. Tudo isto se incrementou e se divulgou com extraor-dinária rapidez, quando em 1941, o vimaranense A. L. deCarvalho, no livro «Mesteres de Guimarães» (CARVA-LHO, 1941: 2, 127-132), escreveu um capítulo designado«Bordados de Guimarães», ilustrado com alguns dos riscos usados. O autor referia a beleza das camisas deGuimarães, falando do ponto de canutilho, popularmentedesignado por «mercões», e dos favos, chamando aatenção para a Casa dos Linhos, que tinha trazido estetipo de bordado para as toalhas e guardanapos, lembrandoainda que as senhoras de bom gosto «alindam com elesos seus vestidos de Verão» (CARVALHO, 1941: 2, 126).Foi A. L. de Carvalho quem divulgou definitivamente obordado de Guimarães. De notar que neste período haviaum exacerbado nacionalismo, que culminou com as FestasCentenárias, que tiveram em Guimarães o seu início, como hastear da bandeira da Fundação pelo Presidente daRepública, Marechal Óscar Fragoso Carmona, o quedesencadeou o subir das bandeiras em todos os castelosportugueses. Defendia-se que Guimarães era o «Berçoda Nacionalidade», pois foi aqui que nasceu Portugal.Este estado de espírito levou a que se adquirissem astoalhas de Bordado de Guimarães para oferecer a entidadesoficiais ou para ostentar em festas particulares de

noons. It served to give a regional air to the gatheringsthey organized at their estates and country houses in thesurroundings of the city. Tablecloths, furniture, shirts andservants aprons were decorated with this embroidery,which began to assume more harmonious design andprogressively more careful and perfected techniques[Cat. n.os 35 and 38]. This process increased in pace and publicity when in1941 the Guimarães historian, A. L. de Carvalho, in hisseries “Mesteres de Guimarães” (CARVALHO, 1941: 2,127-132), wrote a chapter entitled “Embroideries ofGuimarães”, illustrated with some of the patterns used.The author referred to the beauty of Guimarães’ shirts,speaking about the bullion knot, popularly designatedas “mercões”, and of the honeycomb stitch, drawingattention to the fact that the Linen House had appliedthis type of embroidery to tablecloths and napkins, alsoinforming the reader that ladies of good taste usedthem “to beautify their summer dresses” (CARVALHO,1941: 2, 126). It was A. L. de Carvalho who definitively disseminatedGuimarães embroidery. It is note worthy that in this per-iod there was an intense nationalism, culminating in theCentennial Celebrations that began in Guimarães withthe hoisting the flag of the Founding Fathers by thePresident of the Republic, Marshal Óscar FragosoCarmona, an act which initiated the raising of flags incastles all across Portugal. The idea that Guimarães wasthe “Cradle of Nationality” gained protagonists since itwas here that Portugal was born. This state of mind leadGuimarães embroidery tablecloths being offered to off-icial entities, or to show at private events of regional orfolkloric character in estates in the environs of the city.Guimarães embroidery became fashionable and it waspublicised. It now began to be worked by professionalembroiderers with more selective techniques who made

Camisa de mulher1941

Woman’s blouse1941

Camisa de mulherSéc. XX, década de 50

Woman’s blouse1950’s

Vestido de baptizadoSéc. XX, 2º quartel

Christening gown2nd quarter of 20th century

Camisa de homem, pormenorSéc. XX, 2º quartel

Man’s shirt, detail2nd quarter of 20th century

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48 BORDADO DE GUIMARÃES

carácter regional ou folclórico, em quintas minhotas dosarredores da cidade. O bordado de Guimarães tornou-semoda e divulgou-se, começando a ser executado porbordadeiras profissionais, possuidoras de uma técnicaapurada, que faziam réplicas de camisas antigas, commaior perfeição e rigor. No entanto, neste período, face àgrande diversidade de fontes de inspiração, não haviaainda uma definição rigorosa das características doBordado de Guimarães [n.º cat. 24].Nesta época foi também muito importante o incrementodado ao bordado de Guimarães, pela Escola Industrial eComercial de Guimarães (hoje Escola Secundária deFrancisco de Holanda), onde existia então o Curso deFormação Feminina, que embora criado em 1948, só foitrazido e implementado em Guimarães pelo Dr. DanielNunes de Sá, um grande entusiasta da arte de bordar,durante o ano lectivo de 1958/59, tendo funcionado até aoano lectivo de 1976/77. O Dr. Daniel Nunes de Sá era entãodirector da referida escola, licenciado em CiênciasHistóricas e Geográficas e professor efectivo da EscolaIndustrial e Comercial de Guimarães. Este curso femininotinha como principais disciplinas desenho, bordados, cortee costura e ainda culinária. No primeiro ano contou apenascom quinze alunas, que desenhavam, cortavam a peça devestuário, cosiam e bordavam. O desenho era muitasvezes deixado à sua criatividade, sob supervisão atentados professores. Embora aprendessem a técnica do bordado de todo o país, lentamente foram começando afazer bordado de Guimarães. A pesquisa e estudo da identidade do bordado de Guimarães pela comunidadeescolar, nesta época em que ainda não tinha uma caracterização própria, que o individualizasse, não foi fácil,e isso levou a que os desenhos e técnica de trabalho destas alunas tivesse uma forte influência do bordado deViana, não só porque já era bastante conhecido e divulgado, mas também porque alguns professores eramnaturais daquele distrito. Além disso, há que contar com aprópria criatividade das alunas, que ao desenharem osmotivos eram indirectamente inspiradas pelos desenhos etécnicas já conhecidas, dando aos seus bordados características algo diferentes dos executados pelas bor-dadeiras-lavradeiras. Por isso, neste bordado aparecem--nos por vezes corações, com a extremidade ligeiramenteretorcida [n.º cat. 51], e muitas silvas quase sem relevo[n.º cat. 48]. Havia ainda alguma influência do desenhocomposto pelas casas de bordados da Lixa, aonde ascasas comerciais de Guimarães faziam as suas en-comendas. Os desenhos destes bordados executados naEscola Industrial e Comercial de Guimarães, são mais fitomórficos do que geometrizados. Podemos mesmo dizer

replicas of traditional shirts with great perfection andrigor. However, in this period the characteristics ofGuimarães embroidery had still not been rigorouslydefined, faced with the great diversity of inspirationalsources [Cat n.º 24]. At this time Guimarães embroidery received a very im-portant impetus from the Escola Industrial e Comercialde Guimarães (today Escola Secundária de Franciscode Holanda). Although created in 1948, the course infemale skills was only introduced and implemented inGuimarães by Dr. Daniel Nunes de Sá, during the acad-emic year of 1958/59 and continued until the academicyear of 1976/77. Dr. Daniel Nunes de Sá, a great enthus-iast of the art of embroidering, was then director of theEscola Industrial e Comercial de Guimarães, MSC inHistory and Geography and member of the school’steaching-staff. This course in female skills had drawing,embroidery, dressmaking and cookery as its mainsubjects. In the first year it only counted fifteen stud-ents, who designed, cut, sewed and embroidered agarment. The design was often left to the creativity ofthe students under the attentive supervision of theteachers. Although they learned embroidery techniquesfrom the whole of the country, they slowly began tofocus on Guimarães embroidery. The research andstudy by the school community of the characteristics ofGuimarães embroidery was not an easy task given thatat this time its identity was not yet strongly individual-ized. This lead to a strong influence in the design andtechnique of these students work from Viana embroid-ery, not only because it was already better-known andfully divulged, but also because some teachers hailedfrom that district. Apart from that, the motifs included inthe students’ creative designs were indirectly inspiredby known designs and techniques, giving their embroid-ery characteristics somewhat different from those exe-cuted by the countrywomen. Therefore in their workhearts with the point slightly twisted sometimes appear[Cat n.º 51], and many brambles almost without relief[Cat n.º 48]. There was still some influence of the designscomposed by the Lixa embroidery houses where Gui-marães stores placed their orders. The designs of theembroideries worked in the Escola Industrial eComercial de Guimarães are more phytomorphic thangeometric. We can even affirm that some of the currenttheories on Guimarães embroidery and its renaissancefirst evolved here, given that the Escola Industrial eComercial de Guimarães was the single institution mostresponsible for practising and publicising Guimarãesembroidery. Some of its students are today the great

Abajur de candeeiro, pormenorSéc. XX, 3º quartel

Lamp shade, detail3rd quarter of 20th century

Toalha de mesa, pormenorSéc. XX, década de 60

Table cloth, detail1960’s

Avental, pormenorSéc. XX, 3º quartel

Apron, detail3rd quarter of 20th century

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BORDADO DE GUIMARÃES 51

que algumas das teorias actuais sobre o «Bordado deGuimarães» e o seu renascimento, deram aqui os seus primeiros passos, tendo sido a Escola Industrial e Co-mercial de Guimarães a instituição que mais implementoue divulgou o bordado de Guimarães. Algumas das suasalunas são ainda hoje as grandes dinamizadoras destaarte, como por exemplo: as Sr.as D. Maria Amélia Miranda,D. Maria do Céu Freitas, D. Arlinda Pimenta, D. AidaFernandes, D. Fátima Freitas e outras que são respon-sáveis pela formação das novas gerações.O objectivo do curso de Formação Feminina era «dar àsalunas das Escolas Técnicas uma preparação que lhes permita ingressar nos Cursos de Especialização com anecessária bagagem; prepará-las para a admissão àEscola do Magistério Primário e Institutos Comerciais ou,para aquelas que não pretendam frequentar estes cursos,apetrechá-las devidamente para o desempenho das futuras funções de dona de casa e mães de família»(MOURA,1961: 7). Este curso era frequentado quer por alunas vimaranenses, quer por outras provenientes doNorte do país. Havia, por exemplo, como alunas, jovensnaturais da zona da Lixa, cujos familiares possuíam casasde bordados e com quem, mais tarde, estas foram trabalhar. Para além dos professores de bordados e decorte e costura – que também ensinavam os bordadostradicionais portugueses –, havia os professores formadosem desenho, geralmente arquitectos, que complemen-tavam a técnica de bordar com um bom desenho. O programa do Curso determinava que no 2.º ano a alunafizesse «esquemas de pontos de bordar e sua nomen-

protagonists of this art, as for example Mrs. MariaAmélia Miranda, Mrs. Maria de Céu Freitas, Mrs ArlindaPimenta, Mrs. Aida Fernandes, and Mrs. Fátima Freitaswho, along with others, trained more recent generationsof Guimarães embroiderers.The objective of the course of Female Skills was “to givestudents of the technical colleges the necessary preparationto allow them to enter specialist courses with the requiredcompetence; to prepare them for admission to primaryteaching colleges and commercial institutes; or, for thosewho do not intend to frequent these courses, properly equipthem for their future role as housewife and mother of a fam-ily” (MOURA, 1961: 7). This course was frequented both bystudents from Guimarães as well as those coming from thenorth of the country. There were, for example, students fromthe Lixa area, whose relatives owned embroidery houses andfor whom they would later work. Besides the embroidery anddressmaking teachers – who also taught traditional Por-tuguese embroideries – there were the teachers trained indrawing, generally architects, who complemented the tech-niques of embroidery with good drawing skills. The course program determined that in the 2nd year thestudent completed “outlines of embroidery stitches andtheir nomenclature. Compositions for pinafores andaprons”, and in addition “in the provincial schools, espec-ially study the embroideries typical of the area, inspiredabove by old documents”. It also “tried to cultivate localtraditions” (MOURA, 1961: 12), and in the program of theworkshops the students learnt how to execute a greatvariety of stitches, being permitted works of a purely

Toalha de mesaSéc. XX, década de 60

Table cloth1960’s

Toalha de mesaSéc. XX, 4º quartel

Table cloth4th quarter of 20th century

AventalSéc. XX, 3º quartel

Apron3rd quarter of 20th century

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52 BORDADO DE GUIMARÃES

clatura. Composições para bibes e aventais», e ainda «naescola da província, estudar especialmente os bordadostípicos da região, inspirados sobretudo em documentosantigos». Tentava-se também «cultivar as tradiçõeslocais» (MOURA, 1961: 12) e no programa de oficinas asalunas deviam saber executar uma grande variedade depontos, permitindo-se a execução de trabalhos de ca-rácter regional (MOURA, 1961: 23). No 3.º ano visava-seo «estudo de todos os bordados tradicionais portugue-ses». (MOURA, 1961: 9). Composição para os mesmos,a saber: Viana do Castelo, Guimarães, São Miguel, Tibal-dinho, Castelo Branco, e outros. Professores de oficinase professores de desenho colaboraram intensamente parao desenvolvimento do bordado de Guimarães. Fizeram--se aventais (peça obrigatória pelo programa) [n.º cat. 48],com bordado de Guimarães [n.º cat. 49], toalhas derosto, [n.º cat. 52], toalhas de mesa como trabalho degrupo [n.º cat. 50] e outras pequenas peças que não chegaram até nós. As alunas, depois de diplomadas,foram leccionar para outras escolas, divulgando as técnicas do bordado de Guimarães, principalmentecomo docentes do Liceu Martins Sarmento e da Escolado Magistério Primário de Guimarães. Através das peças a que tivemos acesso, sentimos quenos primeiros anos deste curso os professores e alunasandavam ainda a fazer estudos e pesquisas sobre o bordado de Guimarães. Como já vimos, neste períodonota-se nitidamente a influência do bordado de Viana etambém do bordado de Guimarães feito na zona da Lixa,nos desenhos, seja em motivos de grandes dimensõesou nos de pequenas dimensões, e também nas floresestilizadas, barras decorativas e corações [n.º cat. 50].Apesar, do incentivo dado pela Escola Industrial eComercial de Guimarães, a partir do final dos anos 60 obordado de Guimarães entra em crise, sendo cada vezmais diminuta a sua produção e a sua procura.Vemos que neste período, apesar de se continuar a fazero bordado a branco, as senhoras vimaranenses adoptamagora o bordado de Guimarães, aperfeiçoando-o edando-lhe rigor, embora a sua identidade ainda não esteja completamente definida. Este foi talvez um dosperíodos mais importantes do bordado de Guimarães,não só porque tem a sua maior divulgação, mas tambémporque há uma miscigenação de várias proveniências debordados: das costureiras lavradeiras, a forte influênciados bordados executados na zona da Lixa e a inter-venção, com tentativa de normalização, da EscolaFrancisco de Holanda [n.os cat. 17-52].

Dobra para lençol, pormenorSéculo XX, 2º quartel

Turn down for a bed sheet, detail2nd quarter of 20th century

Toalha de rosto, pormenorSéc. XX, década de 60

Face towel, detail1960’s

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BORDADO DE GUIMARÃES 53

4. O bordado de Guimarães – renascimento econsolidação (anos 80, século XX)

Nos anos 80, em Guimarães, renasceu de novo o interesse pelo Património. Foi fundada a Muralha:Associação de Guimarães para a Defesa do Património aqual, em colaboração com outras instituições locais,como a Câmara Municipal, a Sociedade Martins Sar-mento, o Museu de Alberto Sampaio e outros, foramdivulgando a necessidade de preservar o Património vi-maranense. Olhou-se não só para o Património Edi-ficado, mas também para o Património Móvel. Estas ins-tituições organizaram conferências, exposições e visitasguiadas. O Museu de Alberto Sampaio, entre outras iniciativas de dinamização cultural, abriu ao público, deDezembro de 1979 a Janeiro de 1980, uma exposiçãointitulada «Tecidos e bordados», em que expôs váriaspeças decoradas com bordado de Guimarães – antigasou executadas propositadamente para a ocasião – e disponibilizou ao público uma «maleta pedagógica deBordado de Guimarães» destinada a itinerar pelas es-colas. Esta continha uma relação dos pontos bordados,várias amostras explicativas da sua execução e duasfotografias de bordadeiras antigas.Perante toda esta actividade os vimaranenses come-çaram a sentir necessidade de preservar o legado dosseus antepassados, e todo aquele sentir conduziu, nosanos 90, à candidatura à UNESCO, de Guimarães comocidade Património Cultural da Humanidade, a qual se con-cretizou em 2001. Entretanto, a Câmara sentiu neces-sidade de restaurar e revitalizar a cidade e começaramgrandes obras de reordenamento do Centro Histórico,com o apoio de bons arquitectos, com vista à aprovaçãoda candidatura. A autarquia, em conjunto com o Institutodo Emprego e Formação Profissional, organizou várioscursos sobre preservação do património, entre os quaiso 1.º Curso de Formação Profissional de Bordados, quedecorreu em dois anos e meio (1989/91), e que numasegunda edição, passou apenas a designar-se comoCurso de Bordados de Guimarães (1996/97). As moni-toras foram as antigas alunas da Escola Industrial eComercial de Guimarães (Profª. D. Amélia Miranda eProf.ª D. Maria do Céu Freitas), que reviram as normas eestabeleceram então critérios bastante rígidos para aexecução do Bordado de Guimarães. A perfeição doponto – marcado por um grande interesse pelo canutilho,profusamente executado –, o desenho, a cor da linha e opróprio tecido vão caracterizar esta nova fase do bordado [n.º cat. 62]. Estabelece-se o linho 20 da DMCcomo suporte do bordado e é usado o fio de algodão“perlé”, marca DMC vermelha (n.º 321), azul (n.º 796),cinza (n.º 415), bege (n.º 644) e branca.

regional character (MOURA, 1961: 23). In the 3rd year the“study was pursued of all traditional Portuguese embroid-eries”. (MOURA, 1961: 9). For the composition of thesame it was necessary to be familiar with the styles ofViana do Castelo, Guimarães, São Miguel, Tibaldinho,Castelo Branco, and others. Teachers of both practiceand drawing collaborated intensely for the developmentof Guimarães’ embroidery. Aprons were made (obligatoryunder the program) [Cat n.º 48] with Guimarães embroid-ery [Cat n.º 49], face towels, [Cat n.º 52], tablecloths asgroup work [Cat n.º 50], and other small pieces that havenot survived to the present day. After graduating, the stud-ents went on to teach in other schools mainly in the LiceuMartins Sarmento and the Escola do Magistério Primáriode Guimarães, disclosing the techniques of Guimarãesembroidery. From the pieces to which we have had access, we are leftwith the impression that in the first years of this courseteachers and students alike sought to research and studyGuimarães’ embroidery. As we have already seen, in thisperiod the influence of Viana embroidery, as well asGuimarães embroidery worked in the Lixa area, is clearlynoticeable in the designs, not only in motifs of both largeor small dimensions, but also in stylized flowers, ornamen-tal bands and hearts [Cat n.º 50]. In spite of the incentive given by the Escola Industrial eComercial de Guimarães, Guimarães embroidery enteredin crisis from the end of the sixties. Both production anddemand were severely curtailed. In spite of continuing to do whitework embroidery,Guimarães ladies adopted Guimarães style embroideryat this time, improving on it and giving it greater rigor,although its identity had still not been completely defined.This was possibly one of the most important periods forGuimarães embroidery, not only because it was morewidespread than ever, but also because there was afusion of its various branches: from the embroideries ofthe countrywomen dressmakers to the intervention of theEscola Francisco de Holanda with its attempt at standard-ization, retaining a strong influence from the Lixa areaembroiderers [Cat n.º 17-52].

4. Guimarães embroidery – renaissance and con-solidation (1980’s)

In the 1980’s interest in the heritage of Guimarães wasrevitalised. «A Muralha Associação de Guimarães para aDefesa do Património» was founded which, in collaborationwith other local institutions such as the Câmara Muni-cipal de Guimarães, the Sociedade Martins Sarmento,the Museu de Alberto Sampaio amongst others, promoted

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Criou-se assim um conjunto de bordadeiras profissio-nais, especializadas no bordado de Guimarães, e que pas-saram a trabalhar exclusivamente neste tipo de bordado.Entretanto, renasce um grande interesse por estes trabalhos e no concelho começa a aparecer uma grandeoferta para formação nesta área. Na Escola Secundária de Francisco de Holanda (antigaEscola Industrial e Comercial de Guimarães), criou-se noano lectivo de 1992/93, um projecto para formação deum Clube de Têxteis, a fim de ocupar os tempos livres dacomunidade escolar, destinado a criar hábitos de trabalho manual e artesanal, sendo a actividade escolhidao Bordado de Guimarães.A UNAGUI – Universidade Autodidacta da Terceira Idadede Guimarães, fundada em 1994, passa também, poucodepois da sua criação, a incluir nos seus cursos a disciplina de Bordados de Guimarães.

the need to preserve Guimarães’s heritage. It was not only the built heritage that was contemplated, but also the intangible heritage. These institutions organized confe-rences, exhibitions and guided visits. Among other culturalinitiatives, the Museu de Alberto Sampaio presented a public exhibition from December 1979 to January 1980 en-titled “Woven and Embroidered Textiles”, which displayedvarious pieces decorated with Guimarães embroidery –either antique or purpose-made for the occasion. An“education pack on Guimarães Embroidery”, containing a dossier of embroidery stitches, various explanatory samples for working them, and two pictures of old embroi-derers, was also made available, designed to travel around schools. Given these considerations, the people of Guimarães beganto feel the need to preserve the legacy of their ancestors,which in the 1990’s lead to Guimarães’s candidacy to

Toalha de chá, pormenor2002

Tea towel, detail2002

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BORDADO DE GUIMARÃES 55

Também o Museu de Alberto Sampaio organiza perio-dicamente, desde o ano de 2001, aulas de bordados deGuimarães para crianças com mais de seis anos, ministradasdurante a época de férias, como ocupação dos tempos livres,e integradas na actividade «Cursinhos do Museu de AlbertoSampaio». Para adultos, desde 2002 que o Museu organizacom regularidade cursos em horário pós-laboral.Também a Associação para o Desenvolvimento das Co-munidades Locais de S. Torcato dinamizou cursos sobreesta temática, quer na própria freguesia, quer noutrasfreguesias do concelho. Há ainda outras instituições vimaranenses que realizamperiodicamente acções de formação para adultos nestaárea, como por exemplo o Clube de Bordados da Casado Povo de Fermentões. Refira-se ainda os clubes debordados realizados em escolas básicas ou noutras ins-tituições que organizam pontualmente esta actividade. Não esqueçamos que também em Fafe e em Riba d´Aveexistiram cursos de «Bordado de Guimarães» e que nazona da Lixa ainda se faz «Bordado de Guimarães», paracomercializar quer em Guimarães, quer nas casascomerciais daquela cidade. Paralelamente algumas das bordadeiras vimaranenses,que aprenderam a técnica nos anos 50, voltam a fazer –agora com maior entusiasmo – o bordado de Guimarães,seja como profissionais ou por gosto, para ocupação dassuas horas de lazer. Ao mesmo tempo vão sendo conhecidos bordados dasantigas bordadeiras do meio rural, algumas falecidasrecentemente, mas que trabalharam quase ininter-ruptamente desde os primeiros anos do século XX atéquase ao novo milénio. É o caso de:– A bordadeira de Covas, (n. ca. 1900 – f. ? );– Rosa de Freitas, de Azurém (n. ca. 1900 – f. ca. 198-?).

Bordadeira-costureira;– Josefa de Freitas, de Penselo (n. 1903 – f. 2003).

Bordadeira-costureira. Aprendeu a bordar com pes-soas antigas e trabalhava com a irmã Joana Ferreira,que também bordava. Comprava as linhas à caixa, noMartins Chapeleiro, ao lado da Torre da Alfândega, ebordava consoante o tecido de linho que tinha, emcasa dos clientes onde era costureira;

– Rosinha “Reinuca” ou Rosa de Sousa, de Fermentões(n. 1913-f. 1994). Bordadeira-costureira, que também execu-tou os coletes de rabos de vários ranchos folclóricos;

– Custódia Rodrigues, das Taipas (n. 1924). Bordadeira--costureira;

– Lúcia da Silva, de Guimarães (n. 1931). Bordadeira,antiga aluna do Lar de Santa Estefânia;

UNESCO for classification as World Cultural Heritage, grant-ed in 2001. In response to the need to recuperate and revit-alize the city, the local authority anticipated the approval of itscandidacy with a major programme of urban renewal in thehistorical centre, with the collaboration of renowned archi-tects. The autarchy, together with the Instituto do Emprego eFormação Profissional, organized various courses on her-itage conservation. Among these was the 1st Course ofProfessional Training in Embroidery, which continued overtwo and a half years (1989/91), and whose second edition,was simply designated the Guimarães Embroidery Course(1996/97). The monitors were the former students of theEscola Industrial e Comercial de Guimarães (the teachersAmélia Miranda and Maria de Céu Freitas) who establishedquite rigid criteria for working Guimarães’ Embroidery. Thisnew phase of the embroidery came to be characterized bythe perfection of the stitch – marked by a preponderance ofbullion knot – the design, the colour of the thread and theground fabric itself [Cat n.º 62]. They reviewed and estab-lished standards, using DMC 20 linen as the ground fabric forthe embroidery, and stipulated the pearled cotton thread tobe used: (DMC n.º 321) red, (n.º 796) blue, (n.º 415) grey,(n.º 644) beige and white. In this way a group of professional embroiderers, special-ized in Guimarães embroidery, was created who startedto work exclusively in this embroidery type. Meanwhileinterest for these works was revived and greater trainingprovision in this area began to appear in the borough. Inthe academic year of 1992/93 a project for the formationof a textile club was launched in the Escola Secundáriade Francisco de Holanda (former Escola Industrial eComercial de Guimarães). Its objective was to occupy thefree-time of the school community by creating habits ofhandcrafts, Guimarães embroidery being the chosenactivity. Shortly after its creation in 1994, UNAGUI alsobegan to include the subject of Guimarães embroidery inits courses. Integrated in the programme “Short coursesat the Alberto Sampaio Museum”, the museum has per-iodically organized classes of Guimarães embroidery forchildren over the age of six during the school holidays asa leisure time activity. Since 2002 the Museum has regul-arly organized adult courses after working-hours. TheAssociação de Comunidades Locais de S. Torcato hasalso run courses along these lines both in its own and inother parishes of the borough. Other Guimarães institut-ions periodically carry out training programmes foradults in this area, for example the Embroidery Club ofthe «Casa do Povo» in Fermentões. There are alsoembroidery clubs held in schools, or in other institutionsthat organize this activity from time to time. Let us not forget

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BORDADO DE GUIMARÃES 57

– Lurdes Azevedo, de Guimarães (n. 1940). Bordadeira,antiga aluna do Lar de Santa Estefânia;

– Josefa Pinto, que é conhecida na sua terra, Fermentões--Guimarães, por Josefa Bordadeira (n. 1941). Borda-deira-costureira.

Face a uma diversidade tão grande, a Câmara Municipalde Guimarães deliberou, na sua sessão de 9 de Novem-bro de 2000, formar uma Comissão dos Bordados deGuimarães, destinada a avaliar os trabalhos executados,com vista a tentar estabelecer critérios de uniformidadee perfeição, com vista à «garantia da autenticidade dosbordados regionais de Guimarães» (LIVRO DE ACTAS).Esta Comissão é dirigida pela Dr.ª Isabel Maria Fernandes,directora do Museu de Alberto Sampaio, e tem comomembros efectivos as Prof.as D. Maria Amélia FerreiraMiranda e D. Maria do Céu Oliveira Freitas e as borda-deiras D. Maria da Conceição Miranda Ferreira e D. IsabelVales Oliveira, sendo suplentes D. Maria do Rosário Ri-beiro Pereira e D. Adélia Maria Pinto.O Bordado de Guimarães é essencialmente um bordadorelevado, monocromático e de ostentação, que dá umaextraordinária sumptuosidade a uma peça têxtil. Por issofoi aproveitado pelos estilistas que lhe deram uma novaimagem e o adaptaram às suas criações: vestidos de noiva[n.º cat. 61]; camisas [n.º cat. 54]; vestidos da comunhão[n.º cat. 63]; prendinhas de casamento; bolsas; para além

that there are also courses of Guimarães embroidery inFafe and Riba d´Ave and that Guimarães embroidery isstill made in the Lixa area whether for sale in the shops ofthat town or for stores in Guimarães. Some of the Guimarães embroiderers who learned the tech-nique in the fifties have taken up Guimarães embroideryagain with greater enthusiasm – both as professionals and asa way of occupying leisure time. At the same time some ofthe old embroideries of the rural embroiderers are becomingbetter known. Some of these craftswomen have only diedrecently, after working uninterruptedly from the first years ofthe 20th century to almost the dawn of the new millennium. It is the case of: – The embroiderer of Covas, (b. 1900 c. – d.?); – Rosa de Freitas, of Azurém (b. 1900 c. – d. 198 – c.?).

Embroiderer-dressmaker; – Josefa de Freitas, of Penselo (b. 1903 – d. 2003). Embroid-

erer-dressmaker. She learned how to embroider with eld-erly people and worked with her sister Joana Ferreira,who also embroidered. She bought boxes of thread in«Martins Chapeleiro», next to the «Torre da Alfandêga»,and embroidered according to the linen cloth she had, inthe house of her clients where she was a dressmaker;

– Rosa “Reinuca” or Rosa de Sousa, of Fermentões (b. 1913 – d. 1994). embroiderer-dressmaker, who alsomade tailed waistcoats for various folkloric groups;

Camisa de mulherSéculo XX, 2º quartel

Lady’s blouse2nd quarter of 20th century

Vestido de comunhão2003

Communion dress2003

Vestido de noiva2000

Wedding dress2000

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58 BORDADO DE GUIMARÃES

das tradicionais toalhas de mesa [n.º cat. 62] e de rosto[n.º cat. 56]; paninhos de tabuleiro e naperões [n.º cat. 39].Por isso, e para se adaptar às novas necessidades, osuporte já não é apenas o tradicional pano de linho, maspode ser também seda, voile de lã ou até malha de algodão.As casas comerciais que hoje comercializam o bordadoem Guimarães são as seguintes, referindo-se por ordem,da mais antiga para a mais moderna6:«Casa Pastor», de António de Sousa Pastor. AlamedaS. Dâmaso. Abriu ao público por volta de 1965. Tem bordadeiras em vários concelhos à volta de Guimarães.Maria Lúcia Ferreira Neto ou «Casa Belane». AlamedaS. Dâmaso. Fundada há cerca de 18 anos. A maioria dosseus bordados são provenientes da zona da Lixa (Fel-gueiras e Amarante);«Oficina: Centro de Artes e Mesteres Tradicionais deGuimarães». Fundada em 1989, congrega algumas dasbordadeiras profissionais de Guimarães, formadas peloscursos do Instituto de Emprego e Formação Profissional:Maria do Rosário Ribeiro (1.º curso) e Maria daConceição Miranda Ferreira, Maria Isabel Vales Oliveira,Adélia Maria Pinto (2.º curso).«Artesanato Bordados Regionais», de Maria da Concei-ção Pereira Ribeiro. Rua da Rainha. Está aberta desde1994 como casa de bordados, embora já existisse comoloja comercial desde 1982. As suas bordadeiras são de Fel-gueiras e da Lixa, mas o bordado de Guimarães é feito pelaproprietária ou encomendado a bordadeiras particulares.«Caramba e olé». Abriu há cerca de oito anos, no Toural, masem Novembro passado passou para a Alameda S. Dâ-maso. Tem bordadeiras da zona da Lixa e de Guimarães. «Artesanato Santiago», de Ana da Costa Lopes Abreu.Fundada há cerca de 5 anos na Praça de Santiago. A pro-prietária é a própria bordadeira.Verificamos que o bordado de Guimarães ao longo dotempo se foi fazendo e refazendo, de acordo com gostose saberes, com uma diversidade de locais de execuçãoe diversas sensibilidades. Por isso pensamos que hoje a

– Custódia Rodrigues, of Taipas (b. 1924). Embroiderer-dressmaker;

– Lúcia da Silva, of Guimarães (b. 1931). Embroiderer, for-mer student of Asilo de Santa Estefânia;

– Lurdes Azevedo, of Guimarães (b. 1940). Embroiderer,former student of Asilo de Santa Estefânia;

– Josefa Pinto, who is known in her area of Fermentões-Guimarães, as Josefa the Embroiderer (b. 1941). Embroi-derer-dressmaker.

Faced with such diversity, Guimarães town council decid-ed, in its session of November 9th, 2000, to form a Com-mittee on Guimarães Embroidery with the purpose of eval-uating finished works in order to try and establish criteria foruniformity and perfection, with view to “guarantee theauthenticity of Guimarães regional embroidery” (LIVRO DEACTAS). This Commission is presided over by Dr.ª IsabelMaria Fernandes, director of the Museu de Alberto SampaioMuseum, and has as permanent members the teachersMaria Amélia Ferreira Miranda, Maria de Céu Oliveira Freitasand as embroiderers Conceição Miranda Ferreira, Maria ValesOliveira and Isabel Vales Oliveira with Maria de RosárioRibeiro Pereira and Adélia Maria Pinto as substitutes. Guimarães embroidery is essentially a raised embroidery,monochrome yet ostentatious, that gives an extraord-inary opulence to textile pieces. Stylists has taken advan-tage of its qualities and given it a new image, adapting itto their creations: wedding gowns [Cat. n.º 61]; shirts[Cat. n.º54]; communion dresses [Cat. n.º 63]; weddingpresents; bags; besides the traditional tablecloths [Cat.n.º 62 face towels [Cat. n.º 56]; tray cloths and placemats [Cat. n.º 39]. To adapt to new needs, the ground fabricis no longer just the traditional linen cloth but can also besilk, woollen voile or even cotton mesh.The following shops, in order of antiquity5, market Guim-arães embroidery: «Casa Pastor», of António de Sousa Pastor, Alameda deS. Dâmaso. It opened to the public in about 1965 and hasembroiderers in various boroughs around Guimarães.

Toalha de chá, pormenor2002

Tea towel, detail2002

Toalha de rosto, pormenorSéc. XX, 4º quartel

Face towel, detail4th quarter of 20th century

Naperão, pormenorSéc. XX, 3º quartel

Place mat, detail3rd quarter of 20th century

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BORDADO DE GUIMARÃES 59

designação Bordado de Guimarães se refere essencial-mente ao local de comércio, uma vez que em Guimarãesse encomenda o produto a diferentes bordadeiras dacidade ou de fora, e é principalmente nesta cidade quesão comercializados e divulgados. De facto, Guimarãesfunciona quase como um entreposto comercial tal comoo foi ao longo de séculos para outras artes. Os bordadossão executados não só em Guimarães, mas também nazona da Lixa (Felgueiras e Amarante). As bordadeiras são naturais do concelho, mas também têmoutras origens, sendo, por exemplo, antigas estudantes dosestabelecimentos de ensino vimaranenses, que regressaramàs terras de origem, ou vimaranenses que foram viver paraoutras terras e que continuam a executar o bordado deGuimarães por lazer ou por motivos profissionais, nos maisvariados locais: Lixa, Felgueiras, Amarante, Santo Tirso, RibaD´Ave, Fafe, Braga, Barcelos, Coimbra e ainda outros locaisafastados do concelho de Guimarães [n.º cat. 53-63]. Este bordado, devido ao grande número de pessoas queo sabem fazer, faz parte da identidade de Guimarães e jácomeça a ter nome no país. Com o objectivo de lhe assegurar a maior qualidade, a Câmara procura agoracertificá-lo e internacionalizá-lo dando-o a conhecer àEuropa como produto de excepção executado em Gui-marães, cidade património da Humanidade.

«Casa Belane» of Maria Lúcia Ferreira Neto. Alameda de S.Dâmaso. Founded about 18 years ago, most of its em-broideries come from the Lixa area (Felgueiras and Amarante); «Oficina: Centro de Artes e Mesteres Tradicionais deGuimarães». Founded in 1989, it brings together some ofGuimarães’s professional embroiderers, trained on theInstituto de Emprego e Formação Profissional courses:Maria de Rosário Ribeiro (1st course) and Maria da Con-ceição Miranda Ferreira, Maria Isabel Vales Oliveira,Adélia Maria Pinto (2nd course). «Artesanato Bordados Regionais», of Maria da Concei-ção Pereira Ribeiro, Rua da Rainha. It has been open asan embroidery house since 1994, although the shop hasexisted since 1982. Its embroiderers are from Felgueirasand Lixa, but Guimarães embroidery is made by the pro-prietor or commissioned from private embroiderers. «Caramba e Olé», opened about eight years ago, in TouralSquare, but last November moved to Alameda de S.Dâmaso. It has embroiderers in the Lixa area and Guimarães. «Artesanato Santiago», of Ana da Costa Lopes Abreu.Founded about 5 years ago in Santiago Square, theowner is the embroiderer.Over the years Guimarães embroidery has been fash-ioned and refashioned according to differing tastes, skillsand sensibilities in a variety of places. For this reason weconsider that today the designation Guimarães Embroid-ery refers essentially to the place where it is traded. It isin Guimarães that the orders are placed with the differentembroiderers from the city or beyond, and it is mainly inthis city that it is both sold and promoted. In fact,Guimarães functions as a trading post, just as it did overthe centuries for other crafts. The embroideries are executed not only in Guimarães,but also in the Lixa area (Felgueiras and Amarante).Most of the embroiderers are native to the borough, butsome have other origins, for example, former students ofGuimarães teaching establishments who returned to theirplaces of origin. Some natives of Guimarães have goneto live in other places, such as Lixa, Felgueiras,Amarante, Santo Tirso, Riba D´Ave, Fafe, Braga,Barcelos, Coimbra as well those even further afield whocontinue to work Guimarães embroidery for professionalreasons or as a leisure activity [Cat. n.os 53-63]. This embroidery is part of Guimarães’s identity. Due tothe large number of people producing it, it has alreadyestablished itself on a country-wide basis. The localauthority is now trying to gain certification with the objectiveof ensuring the highest quality for it and to take it beyondour borders making it known throughout Europe as anexceptional product from Guimarães, world heritage city.

Colete de “rabos”Séc. XX, 4º quartel

Woman’s tailed waistcoat4th quarter of 20th century

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60 BORDADO DE GUIMARÃES

1 Nesta época também se fazia localmente bordado a ouro, em-

bora fosse bastante modesto e não possuísse a qualidade do

bordado medieval. Uma das peças mais conhecidas, executada

com vários pontos em fio metálico dourado pelas senhoras vi-

maranenses (numa época em que o bordado já se tinha tor-

nado essencialmente feminino), foi a bandeira de seda verde,

com a inscrição «antes quebrar que torcer», feita aquando da

grande crise de 1885, entre Guimarães e Braga. Foi em 28 de

Novembro de 1885 que os procuradores de Guimarães à Junta

Geral do Distrito foram apedrejados e apupados na cidade de

Braga, devido a uma divergência de opinião sobre o liceu de

Braga, o que fez agudizar o antigo conflito entre Braga e Gui-

marães, cujas raízes remontam ao século XIII. Os vimaranenses

indignados reagiram e organizaram marchas de apoio aos seus

representantes e reuniões públicas de apoio e desagravo. A

Câmara também reuniu em sessão extraordinária para desa-

gravar a ofensa à cidade, e entre as várias decisões tomadas,

pretendia-se a «união ao Porto» e o corte de relações oficiais com

o Distrito de Braga. O então deputado João Franco veio pes-

soalmente à cidade de Guimarães, encarregado pelo governo

fontista de tratar desta questão. Houve sessões de apoio de

várias instituições da cidade, entre as quais a Sociedade Mar-

tins Sarmento e a Associação Comercial e Industrial, que tive-

ram grandes mostras de solidariedade por parte do público, e

começou a ser editado o jornal «28 de Novembro», para actua-

lizar todas as notícias sobre o caso. Foi enviada à rainha D. Maria II

uma representação pedindo a sua protecção para que fosse

feita justiça a Guimarães, e é neste contexto que as senhoras de

Guimarães resolvem bordar uma bandeira em lâmina metálica

dourada, com a legenda em grandes letras, que passou a ser o

lema de Guimarães: «Antes quebrar que torcer» (OLIVEIRA, 1885).2 Segundo o «Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea»,

da Academia das Ciências de Lisboa, negro significa que tem

«a cor mais escura de todas, que se opõe ao branco».

Embora se diga que as viúvas usavam colete preto, encontrá-

mos mais frequentemente coletes bordados com linha escura

em castanho matizado e em cinza escuro.3 “Horror ao vazio” – Termo usado em História de Arte, e que ex-

prime a necessidade de ocupar todo o fundo do desenho com uma

grande profusão de motivos, quase não deixando ver o fundo.4 “Adaptação ao quadro” – Termo usado na História de Arte para

referir alteração das proporções do motivo desenhado, tentan-

do que caiba num determinado contexto e resultando por isso

uma distorção. 5 Informação do Sr.º Abel Ribeiro de Sousa, antigo funcionário da

«Casa João Gualdino Pereira e Suc. Lda: Linhos e Atoalhados»,

onde trabalhou durante cerca de 45 anos.6 O bordado tem procurado inovar-se, por um lado mantendo a qua-

lidade, por outro apresentando novas aplicações com uma imagem

mais actual, mais económica e apelativa, de modo a atrair os turistas

1 In this period gold thread embroidery was also practiced locally,

although it was on a modest scale and did not demonstrate the

quality of medieval embroidery. One of the best known pieces,

executed in various stitches with gilt metal thread by the ladies

of Guimarães (at a time when embroidery had already became

a female preserve), was the standard of green silk, with the ins-

cription «antes quebrar que torcer» (break rather than bend),

made during the great crisis of 1885, between Guimarães and

Braga. On the 28th of November 1885 the Guimarães delegates

on the District Council (Junta Geral do Distrito) were verbally

and physically insulted in the city of Braga, due to a difference

of opinion in relation to the Braga High School. This served to

deepen the ancient rift between Braga and Guimarães, whose

roots go back to the 13th century. The indignant citizens of

Guimarães reacted by organizing marches and public meetings

in support of their representatives and to express their dissatis-

faction. The Town Council met in extraordinary session to

redress the wrong committed against the city and among the

various decisions made was the motion to cut official relations with

Braga and seek a union with the District of Porto. The member

of parliament for Guimarães, João Franco, personally came to

the city with the mission to deal with the issue on behalf of the

government lead by António Fontes Perreira de Mello. Various

city institutions such as the Sociedade Martins Sarmento and

the Associação Industrial e Comercial de Guimarães also held

meetings in which the general public demonstrated their sol-

idarity and unwavering support for the movement. A special

newspaper entitled the «28 de Novembro», began to be pub-

lished to keep the people abreast of the latest developments in

the case. Representation was made to the monarch asking for

royal protection so that justice could be done. It was in this con-

text that the ladies of Guimarães embroidered their banner in

gilt plate with the words in large letters, «Antes quebrar que

torcer» which became the battle-cry of the city (OLIVEIRA, 1985).2 According to the “Dicionário da Língua Portuguesa Con-

temporânea” da Academia das Ciências de Lisboa, black is the

darkest of all colours, the negation of white. Although it is said

that widows wore a waistcoat embroidered in black, it is more

common to find waistcoats embroidered with dark brown graded

thread or dark grey.3 “Aversion to emptiness” – is a term used in the History of Art

which expresses the need to occupy all of the ground with a

great profusion of motifs, hardly letting the base fabric be seen. 4 Information provided by Mr. Abel Ribeiro de Sousa, former

employee of «Casa João Gualdino Pereira e Suc. Lda: linhos e

atoalhados», where he worked for about forty five years.5 Efforts have been made to innovate, while maintaining the

quality of the embroidery. New applications have arisen with a

more modern image, more attractive and less expensive, to

attract tourists and young people. Therefore other pieces

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BORDADO DE GUIMARÃES 61

e os jovens. Por isso apareceram outras peças influenciadas por ele,

tal como belíssimas e económicas t-shirts, de malha de algodão,

bordadas à máquina ou naperões e têxtil lar estampados.

influenced by Guimarães embroidery have appeared, such as

economical cotton t-shirts with machine embroidery or printed

household linen.

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BORDADO DE GUIMARÃES 63

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Sociedade Martins Sarmento

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64 BORDADO DE GUIMARÃES

Catálogo The catalogue

Bordado de Guimarães Guimarães Embroidery

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Patrícia Moscoso

O bordado de Guimarães, como todos os produtos arte-sanais, brotou da vontade, da sensibilidade e da destrezahumana. Nas mãos da mulher o simples suporte em linhoganha forma e beleza, unicamente possíveis pela períciada mão na orientação da agulha. O bordado que encon-tramos no século XIX desvela tal perícia nos belos motivosflorais e monogramas bordados, característicos dos enxo-vais daquela época. Mas não fica por aqui! O bordado foievoluindo e adoptando as características das épocasque o viram desenvolver, chegando aos nossos dias.Um estudo sobre a origem e a evolução de um bordado,típico de um território, depende da vontade daqueles quequerem ou não abrir os seus baús e mostrar os seus bra-gais. Imperando a boa vontade, entramos em casa alheiae observamos, comparamos e recolhemos as peças maisinteressantes. Conseguimos reunir no Museu de AlbertoSampaio um total de duzentas e sessenta e seis peçasbordadas e, apesar de todas merecerem destaque, somenteconsideramos neste catálogo sessenta e três peças. Estaescolha assentou apenas numa necessidade de selec-cionar tão-só as peças que melhor explicam a evoluçãodo bordado de Guimarães e não no desprimor nem nafalta de qualidade das peças que não foram eleitas.À medida que os nossos olhos descobriam e as nossasmãos tocavam o bordado, fomo-nos apercebendo, quetal como a história de uma vida, também o bordado de

Guimarães’ embroidery, like all the handmade products,sprang from human will, sensibility and dexterity. In a wom-an’s hands the simple linen base fabric gains form andbeauty, only possible with skilled fingers guiding theneedle. The embroidery that we find in the 11th centurydemonstrated much skill in embroidering beautiful flor-al motifs and monograms, characteristic of the trous-seaux of that time. But the story does not stop there!Embroidery continued to develop and adapt to the char-acteristics of each period through which it passed untilit finally arrived to the present day.A study of the origins and evolution of a style of embroidery,typical of a region, also depends on the good-will of thosewho may or may not wish to open their linen chests to showus their contents. Good will prevailed and we entered intoother people’s homes and observed, compared and select-ed the most interesting pieces. We brought together a totalof two hundred and sixty six embroidered pieces in theMuseu de Alberto Sampaio and despite the fact that all ofthem deserve a place in the catalogue, we limited the entriesto sixty three pieces. This choice rested solely on the needto select the pieces that best explain the evolution ofGuimarães embroidery and not out of discourtesy nor forthe lack of quality in the pieces that were not chosen. As our eyes discovered and our hands touched theembroidery, we realised that, like any biography, Guimarães

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BORDADO DE GUIMARÃES 67

Guimarães vive o seu ciclo: teve antecedentes; nasceucom características muito próprias; viveu o seu alvor e deca-dência; renasceu e ganhou consolidação. Foi baseadoneste percurso que fundamentamos o nosso estudo, jádesenvolvido nos capítulos anteriores.Estas linhas pretendem apenas fazer o enquadramentoda entrada das peças no catálogo, respeitando o percursodo bordado que atrás deixamos delineado. As peças entramde acordo com a época que representam e respeitam aseguinte ordem cronológica: 1.ª Fase – Antecedentes: bordado antigo ou «bordado rico» 2.ª Fase – Bordado popular de Guimarães 3.ª Fase – O bordado de Guimarães no seu alvor4.ª Fase – O bordado de Guimarães: renascimento e consolidação

embroidery has also gone through its own life cycle: it hasantecedents; it was born with its very own characteris-tics; it has experienced its ups and downs; it has gonethrough its renaissance and consolidation. We based ourstudy along the lines set out in the previous chapters. This preamble only serves to provide the context in whichthe pieces were incorporated in this catalogue, respectingthe progress of the embroidery that has been delineatedabove. The sequence of the pieces corresponds to theirperiod and they respect the following chronological order: 1st phase – Antecedents: Antique or “Rich” Embroidery 2nd phase – Popular Embroidery of Guimarães 3rd phase – The Dawn of Guimarães Embroidery 4th phase – Guimarães Embroidery: Renaissance and Consolidation

Toalha de baptizado, pormenorSéc. XX, 2º quartel

Christening towel, detail2nd quarter of 20th century