A arte no Século XX
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ARTES
Editora Exato 36
O SÉCULO XX E SEUS PRINCIPAIS MOVIMEN-
TOS ARTÍSTICOS 1. INTRODUÇÃO
Guernica, de Picasso. Dimensões: 349x777 cm. Museu do Prado, em Madri.
O século XX inicia-se ampliando as conquistas técnicas e o progresso industrial do século anterior. Na sociedade, acentuam-se as diferenças entre a alta burguesia e o proletariado. O capitalismo organizase e surgem os primeiros movimentos sindicais que pas-sam a interferir nas sociedades industrializadas.
Nas primeiras décadas do nosso século ocor-rem também profundas conturbações políticas: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa; o sur-gimento do fascismo na Itália e do nazismo na Ale-manha. Não demorou muito para que as situações políticas criadas pela Itália e Alemanha levassem os países europeus e americanos a envolverem-se em novo conflito mundial. Com essa última grande guer-ra, tiveram início também as pesquisas e o uso da e-nergia nuclear, que se configura hoje como uma ameaça à sobrevivência da humanidade.
Ocorreram ainda neste século a conquista do espaço, o uso crescente da computação e dos satéli-tes, que colocam em comunicação imediata as mais distantes partes do mundo.
Ao lado desses avanços acentuaram-se as dis-paridades sociais. Hoje, existem regiões com imensas riquezas e outras com grande pobreza, onde as pesso-as passam fome e ignoram os fatos e os benefícios do progresso material das regiões ricas.
É nesse contexto complexo, rico em contradi-ções e muitas vezes angustiante que se desenvolve a arte do nosso tempo. Assim, os movimentos e as ten-
dências artísticas, tais como o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo, o Futurismo, o Abstracionis-
mo, o Dadaísmo, o Surrealismo, a Pintura Metafísi-
ca, a Op-art e a Pop-art expressam, de um modo ou de outro, a perplexidade do homem contemporâneo.
2. EXPRESSIONISMO
É inegável que o Expressionismo foi uma rea-ção ao Impressionismo, já que esse movimento se preocupou apenas com as sensações de luz e cor, não se importando com os sentimentos humanos e com a problemática da sociedade moderna. Ao contrário, o Expressionismo procurou expressar as emoções hu-manas e interpretar as angústias que caracterizaram psicologicamente o homem do início do século XX.
Na verdade, essa tendência para traduzir em li-nhas e cores os sentimentos mais dramáticos do ho-mem já vinha sendo realizada por Van Gogh, que não se preocupava mais em fixar os efeitos efêmeros da luz solar sobre os seres. Esse artista procurava, atra-vés da cor e da deformação proposital da realidade, fazer com que os seres reais nos revelassem seu mundo interior.
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O Grito (1893), de Munch. Além de Van Gogh, o pintor norueguês Ed-
vard Munch (1863-1944-) também inspirou o movi-mento expressionista. Sua obra O Grito (fig. 1.2) é um exemplo dos temas que sensibilizaram os artistas ligados a essa tendência. Nela a figura humana não apresenta suas linhas reais mas contorce-se sob o e-feito de suas emoções. As linhas sinuosas do céu e da água, e a linha diagonal da ponte, conduzem o olhar do observador para a boca da figura que se abre num grito perturbador. Essas atitudes inéditas até aqui pa-ra as personagens da pintura e a ênfase para as linhas fortes evidenciam a emoção que o artista procura ex-pressar.
3. FAUVISMO
Em 1905, em Paris, durante a realização do Sa-lão de Outono, alguns jovens pintores foram chama-dos pelos críticos de fauves, que em português significa "feras", por causa da intensidade com que usavam as cores puras, sem misturá-las ou matizá-las.
Dois princípios regem esse movimento artísti-co: a simplificação das formas das figuras e o empre-go das cores puras. Por isso, as figuras fauvistas são apenas sugeridas e não representadas realisticamente pelo pintor. Da mesma forma, as cores não são as da realidade. Elas resultam de uma escolha arbitrária do artista e são usadas puras, tal como estão no tubo de tinta. O pintor não as torna mais suaves nem cria gra-dação de tons.
Natureza-morta com Peixes (1911), de Matisse, Museu de Arte Moderna York.
Dos pintores fauvistas, Matisse foi, sem dúvi-da, a maior expressão. Sua característica mais forte é a despreocupação com o realismo, tanto em relação às formas das figuras quanto em relação às cores, Em suas obras, as coisas representadas são menos impor-tantes do que a maneira de representá-las,
Assim, as figuras interessam enquanto formas que constituem uma composição, É indiferente ao ar-tista se elas são de pessoas ou de natureza morta, Por exemplo, em Natureza-morta com Peixes Vermelhos
(fig.1.3), quadro pintado em 1911, podemos observar que o importante para Matisse é que as figuras - tais como a mulher, o aquário, o vaso com flores e a pe-quena estante -, uma vez associadas, compõem um todo orgânico.
4. O CUBISMO
Historicamente o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois, para ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros,
Entretanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas as suas partes num mesmo plano. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha ne-nhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas. Significava, em suma, o abandono da busca da ilusão da perspectiva ou das três dimensões dos seres, tão perseguidos pelos pintores renascentis-tas,
Com o tempo, o Cubismo evoluiu em duas grandes tendências chamadas Cubismo analítico e Cubismo sintético, O Cubismo analítico foi desen-volvido por Picasso e Braque, aproximadamente en-
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tre 1908 e 1911. Esses artistas trabalharam com pou-cas cores - preto, cinza e alguns tons de marrom e o-cre -, já que o mais importante para eles era definir um tema e apresentá-lo de todos os lados simultane-
amente (fig, 1.4). Levada às últimas conseqüências, essa tendência chegou a uma fragmentação tão gran-de dos seres, que tornou impossível o reconhecimen-to de qualquer figura nas pinturas cubistas (fig, 1.5).
Violinoe Cântaro (1910), de Braque. O Poeta (1911), de Picasso.
Reagindo à excessiva fragmentação dos obje-tos e à destruição de sua estrutura, os cubistas passa-ram ao Cubismo sintético. Basicamente, essa tendência procurou tornar as figuras novamente reco-nhecíveis. Mas, apesar de ter havido uma certa recu-peração da imagem real dos objetos, isso não significou o retorno a um tratamento realista do tema. Foi mantido o modo característico de o Cubismo a-presentar simultaneamente as várias dimensões de um objeto, como podemos observar em Mulher com
Violão, de Braque (fig. 1.6).
Mulher com Violão (1908), de Braque. O Cubismo sintético foi chamado também de
Colagem porque introduziu letras, palavras, números, pedaços de madeira, vidro, metal e até objetos intei-ros nas pinturas. Essa inovação pode ser explicada pela intenção do artista de criar novos efeitos plásti-cos e de ultrapassar os limites das sensações visuais
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que a pintura sugere, despertando também no obser-vador as sensações táteis.
5. O ABSTRACIONISMO
A principal característica da pintura abstrata é a ausência de relação imediata entre suas formas e cores e as formas e cores de um ser. Por isso, uma te-la abstrata não representa nada da realidade que nos cerca, nem narra figurativamente alguma cena histó-rica, literária, religiosa ou mitológica.
Os estudiosos de arte comumente consideram o pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944) o ini-ciador da moderna pintura abstrata. O começo de seus trabalhos neste sentido é marcado pela tela Bata-
lha (fig. 1.7).
Batalha (1910), de Kandinsky.