2015 09-28 - gn mens honrosa - amor separado e recuperado - raquel neves seiça 19 - 8 a

139
Agrupamento de Escolas de Anadia Escola Básica nº 2 de Anadia Concurso “LER & APRENDER” 2015 Texto Narrativo / 3 º CEB Nome da Aluna: nº 19, Raquel Neves Seiça Processo nº 21189 Nº CC-149546653 ZZ6 Ano: Turma: A Amor separado e recuperado

Transcript of 2015 09-28 - gn mens honrosa - amor separado e recuperado - raquel neves seiça 19 - 8 a

Agrupamento de Escolas de Anadia

Escola Básica nº 2 de Anadia

Concurso “LER & APRENDER” 2015

Texto Narrativo / 3 º CEB

Nome da Aluna: nº 19, Raquel Neves Seiça

Processo nº 21189

Nº CC-149546653 ZZ6

Ano: 8º

Turma: A

Amor separado e recuperado

2

Índice:

- Capítulo 0: O começo

- Capítulo 1: Um reencontro gelado

- Capítulo 2: Sorrisos de Primavera

- Capítulo 3: Férias de amor

- Capítulo 4: A verdade

- Capítulo 5: Um novo começo

3

O amor é um sentimento que se sente por duas pessoas. Que se protegem a uma à outra, que se amam e que…

… ficam sempre juntas.

Esta história fala de uma rapariga chamada Joana Pereira, que ainda tem guardado no coração o seu primeiro amor e as

recordações que passou com ele por cinco anos!

Até que um dia esse amor desapareceu e Joana ficou sozinha e essas recordações ficaram bem lá no fundo do seu

coração. Ela tentando esquecê-las.

Será que a Joana conseguirá esquecer o seu primeiro amor e as recordações que passou com ele?

Ou será que esse amor voltará, fazendo-a lembrar-se dos bons momentos que passou com esse amor?

E porque é que será que esse amor desapareceu? O que terá acontecido?

Há boas recordações, mas poderá haver também más recordações.

4

Capítulo 0: O começo

Inverno, 5 de Janeiro de 2006

As árvores já estavam na sua altura. Todas nuas sem nenhuma folha e a neve em cima dos

seus ramos. A neve caia por toda a cidade e no parque crianças faziam bonecos de neve e lutas

de bolas de neve enquanto uma rapariga de cabelos castanhos curtos e olhos da mesma cor,

com um vestido cor-de-rosa clarinho e botas da mesma cor, juntamente com um cachecol de

cor-de-rosa choque e um gorro da mesma cor, estava a fazer um boneco de neve sozinha, mas

ela mantinha um sorriso na cara.

De repente, ela sentiu um empurrão e caiu em cima do boneco. Lágrimas começaram a

escorrer-lhe da cara por causa do frio. Ela virou-se para trás, vendo três rufias a rirem-se dela.

- Hahahahaha!!! Olha para ela! Que bebé! – gritou um.

- Vais chamar pela mamã, é? – disse um, continuando a rir.

- Olha para a cara dela! Está toda cheia de ranho! Hahaha! – riu-se o outro.

A rapariga não aguentou mais. Ela começou a chorar mais alto com as mãos na cara até que

ouviu passos a correr. Continuando a chorar, ela tirou as mãos da cara e viu um rapaz de

cabelos castanhos, usando uma camisa preta e umas calças cinzentas.

O rapaz olhou para os rapazes irem embora e depois para a rapariga que ainda estava a olhar

para ele. Ela nunca na vida tinha visto um rapaz tão bonito.

- Não tens de te preocupar mais. Eles já se foram. Eles não te magoaram, pois não? – perguntou

o rapaz aproximando-se da rapariga.

A rapariga só abanou com a cabeça que não, olhando para baixo.

- Ainda bem. – disse o rapaz, olhando para o lado.

Um silêncio caiu sobre eles. A única coisa que se ouvia eram os pequenos choros da rapariga.

- Bem… eu tenho de ir. – disse o rapaz virando-se, já preparado para ir embora, até que ele

sentiu alguém abraçá-lo por detrás.

O rapaz olhou pelo ombro e viu a rapariga com a cara escondida nas suas costas. A cara dele

começou a ficar muito vermelha. Nunca na sua vida, uma rapariga lhe tinha feito isso.

- Muito… obrigada. – murmurou ela.

Ela, ao dizer isso, separou-se do abraço e ele virou-se, olhando para ela.

- Muito obrigada… Nunca ninguém… me tinha protegido assim. – murmurou ela, olhando para

o chão.

5

Ela levantou a cabeça, os seus olhos brilhavam com as lágrimas como se fossem diamantes. O

rapaz quase ia desmaiar pela imagem fofa que estava em sua frente. Mas ele conseguiu conter

e só passou a mão por detrás da cabeça.

- Não foi nada. Eu só não gosto de rapazes que se metem com raparigas. E tu parecias estar

mesmo triste. E então só fiz o que um homem devia fazer. – respondeu ele – Eu sou o Gonçalo.

Tenho 6 anos e tu?

- Eu chamo-me Joana! E tenho 5 anos! – disse ela com um grande sorriso na cara.

Os dois ficaram sentados a rirem-se, ali no parque, encostados a um grande e velho tronco de

uma árvore, onde ainda havia algumas folhas, mas a neve quase cobria todas, como já se

conhecessem há muito tempo.

“Esse foi o melhor momento da minha vida, mas os bons momentos nunca duram para

sempre.”

6

Capítulo 1: Um reencontro gelado

Inverno, 5 de Janeiro de 2015

Triing! Triing! Tocava o despertador, indicando 8:00 AM. O despertador tocava num quarto que

quase não se via nada por causa das cortinas fechadas. Mas conseguia-se ver o monte de

peluches que havia na cama e a forma de uma pessoa a dormir lá. O despertador ainda tocava

até que um braço saiu debaixo dos cobertores e desligou-o.

- Hmm. – ouviu-se um som vindo debaixo dos cobertores até que... – Ahhh!!

Os cobertores voaram para cima e de lá levantou-se uma rapariga com cabelos curtos

castanhos e olhos da mesma cor. Ela abriu as cortinas deixando o sol entrar, fazendo o quarto

ficar mais iluminado.

As paredes eram cor-de-rosa e os cobertores que estavam caídos no chão também eram da

mesma cor. Havia uma mesa onde estavam muitos livros e cadernos. Ela pegou na sua roupa e

correu até à casa de banho para se vestir.

Depois de se vestir, ela preparou a sua mochila e foi lá para baixo.

- Mãe! Porque é que não me acordaste!? Agora vou chegar tarde ao primeiro dia de aulas! –

gritou ela correndo para a cozinha e vendo a sua mãe a tomar um café tranquila.

- Eu tentei, mas tu não querias acordar. – disse a mãe levantando-se e indo para o lava-loiças e

a rapariga sentou-se na mesa começando a comer – Tens em cima da mesa uma torrada e um

sumo de laranja. Eu já tenho de ir.

- Eh? E enchtão eu? Comcho vou para a eschola? – perguntou a rapariga com a boca cheia.

- Primeiro, não se fala com a boca cheia. Segundo, vais a pé. Já tens idade para ir sozinha. –

disse a mãe – Eu vou buscar-te à escola. Tem cuidado.

Ela deu-lhe beijinhos e saiu de casa deixando a rapariga sentada na cadeira da mesa de jantar,

fazendo beicinho.

Depois de ela comer tudo, ela saiu de casa e foi a caminho da escola.

- É melhor ir por um atalho. Talvez assim chegue a horas. – pensou a rapariga entrando no

parque que era o caminho mais perto para a escola.

No parque havia crianças a correrem por um lado e pelo outro, fazendo bonecos de neve e a

neve caía em cima dos ramos das árvores todas despidas. A rapariga estava sorrindo ao ver a

bela paisagem em sua frente até que ela parou em frente de uma árvore muito maior do que as

outras.

A rapariga olhava com uma tristeza perfurada nos seus olhos.

7

A árvore estava toda despida e com a neve por cima dela parecia que a árvore estava triste e

sozinha. A rapariga não parava de olhar para ela até que uma voz a chamou.

- Joana!! – gritou uma rapariga lá ao fundo. Tinha olhos castanhos e cabelo preto comprido.

- Ah! Mariana! – disse a Joana, espantada por ver a amiga ali.

- O que estás aqui a fazer parada? Chegarás tarde à escola. – disse a Mariana aproximando-se

dela.

- Eu pergunto-te o mesmo. O que estás aqui a fazer? Tu nunca te atrasas para a aula. – disse a

Joana.

- Esqueci de ligar o despertador. – disse a Mariana, cruzando os braços – E tu? Tu ainda não

respondeste à minha pergunta.

- Eu só vim porque aqui era o caminho mais rápido para a escola. – disse a Joana.

- A tua mãe não te deu boleia? – perguntou a Mariana, enquanto as duas caminhavam para a

escola.

- Não. Ela disse que eu já sou velha suficiente para ir sozinha. – disse a Joana, voltando a fazer

beicinho.

- Eu começo a gostar mais da tua mãe. – disse a Mariana, rindo-se.

- Ei! – disse a Joana. A Mariana só se riu ainda mais e começou a fugir da amiga. A Joana só

sorriu e foi atrás dela.

As duas amigas corriam até que pararam no portão da escola. A escola era um grande colégio

chamado “Wooden Berry”. Era um colégio para raparigas e rapazes. A escola era muito grande

e lá no topo tinha um grande sino. Havia também um jardim à volta do colégio e atrás havia um

campo de futebol e de ténis.

- Já sentia falta da escola. – disse a Mariana, olhando para o colégio.

- Pois, eu também. Mas eu aposto que ela não. – disse a Joana, vendo uma rapariga com duas

tranças de castanho claro e o casaco do colégio preso à cintura. A rapariga tinha uma cara de

aborrecida e os braços estavam cruzados.

- Rafaela! Aqui! – gritou a Mariana, acenando com a mão no ar.

A cara da rapariga mudou para uma espantada e olhou para o portão, vendo as suas duas

amigas. Ela sorriu e correu até elas.

- Ainda bem que chegaram. Já estava a ficar impaciente. – disse a Rafaela com as mãos nas

ancas.

- Desculpa. Atrasámo-nos um pouco. – disse a Mariana.

8

- Pois, já vi. Hoje, eu preferia ficar em casa na minha caminha. Está tanto frio! – comentou a

Rafaela abraçando-se.

- Concordo contigo, amiga. – disse a Mariana.

A Joana só estava ali com o cachecol que tinha trazido à volta do pescoço, tapando com ele a

boca para que os seus lábios não ficassem roxos. Enquanto ela ouvia as suas amigas a

conversarem, ela sentiu como se algo não estivesse bem. Os seus olhos castanhos olharem em

frente para a entrada do colégio, vendo cinco rapazes, quase vestidos de preto, muito

misteriosos.

Mas isso não foi o que apanhou a atenção da Joana. No meio, estava um rapaz de cabelos

castanhos que estava a conversar com os outros quatro rapazes. Ao ver a cara dele, a Joana não

podia acreditar. A Mariana e a Rafaela já tinham acabado a conversa e estavam a olhar para ela

perguntando o que se estava a passar, mas a Joana não as ouviu e os seus pés começaram a

mexer-se sozinhos e começaram a ir na direção do tal rapaz.

As amigas, sem perceberem o que se passava, foram atrás dela. A Joana ainda continuava a

olhar para o tal rapaz até que eles começaram a entrar dentro do colégio. Os passos da Joana

começaram a andar mais rápido. A Joana estava a correr até que, só para ter a certeza, ela

olhou mais uma vez para a cara do rapaz e gritou.

- Gonçalo!! – gritou ela.

O rapaz parou mesmo ao meio fazendo o amigo de cabelos pretos olhar para ele e depois para

a Joana. A Joana ficou ali à espera para que ele dissesse alguma coisa. Mas antes que ele

falasse, o amigo falou por ele.

- Pedro? Estás bem? – perguntou o amigo.

- Sim. Estou bem. Vamos andando. – disse o tal Pedro.

Depois disso, os dois entraram mas antes, o Pedro olhou pelo ombro para os olhos

surpreendidos da Joana até entrar.

- Joana! Estás bem? Quem era aquele rapaz? – perguntou a Mariana.

- Tu conhecê-lo, Joana? – perguntou a Rafaela.

Joana não respondeu a nenhuma dessas perguntas. Em vez disso, ela só olhou para baixo, os

seus cabelos tapando os olhos das amigas.

- Mas claro que não podia ser ele. Porque tinha pensado que seria ele? – pensou ela, lágrimas

já a escorrerem-lhe da cara.

Dentro do colégio, os dois rapazes estavam a andar pelos corredores até que o amigo parou e

começou a falar.

9

- Quem seria aquela rapariga? Ela parecia que te conhecia, Pedro. – disse ele – Conhece-la?

O Pedro ficou calado por um bocado, parando também, até que aquela palavra saiu da sua

boca.

- Não. – disse ele, continuando a andar.

Depois disso, a campainha de entrada tocou, indicando aos alunos que as aulas começaram.

Joana ainda não tinha dito uma única palavra desde que entrara na sala. A Mariana e a Rafaela

estavam a olhar para ela, preocupadas.

Joana estava a olhar para fora da janela, enquanto os outros conversavam até que o professor

chegou à sala.

- Bom dia, meninos. Espero que tenham tido umas boas férias e que tenham recebido muitos

presentes. – disse o professor com um sorriso – Para informar-vos, hoje teremos dois novos

alunos na nossa turma. Podem entrar.

A Joana não tirava o seu olhar da janela, sem ter ouvido o que o professor falou até que ouviu

gritos de entusiasmo das raparigas que a fez virar-se da janela para a frente. Os seus olhos

ficarem bem abertos. Ela não podia acreditar. Porquê? Porque é que ele tinha de estar na

mesma turma que ela!?

- Estes são o Tiago Almeida e o Pedro Montes. Eles serão os vossos novos colegas. – disse o

professor.

Tiago só acenava para todos com um sorriso na cara enquanto Pedro só olhava pela sala até

que os seus olhos pararam mesmo onde a Joana estava.

Joana notou nele, então desviou o olhar para a janela. A Mariana e a Rafaela notaram nos

olhares que o Pedro estava a dar à Joana e olharam uma para a outra.

- Muito bem. Tiago, tu sentas-te ao lado da Rafaela e tu, Pedro, podes sentar-te… - disse o

professor olhando por lugares vazios da sala - … ao lado da Joana.

Ao ouvir isto, a Joana ficou com os olhos bem abertos e olhou ligeiramente para o lado, vendo

o Pedro sentar-se, sem dizendo nenhuma palavra.

O professor começou a aula mas Joana não parecia que estava a prestar atenção. Ela estava

sempre a olhar pelo canto do olho para o Pedro, que só estava a dormir, ouvindo música até

que de repente ele abriu o olho esquerdo e olhou para a Joana, vendo que ela estava a olhar

para ele.

Ela reparou nisso e desviou o olhar outra vez para a janela.

- De certeza que ele é o Gonçalo? Impossível! O Gonçalo era… - pensou a Joana – E ele é… Eu

tenho de descobrir se ele é mesmo o Gonçalo.

10

Depois de a aula acabar, todos foram lanchar. Joana e as amigas foram para fora, sentando-se

num banco e comendo os seus lanches.

- Então, Joana. Não vais dizer-nos nada? – perguntou a Mariana, olhando para a amiga.

- Hm? Do quê? – perguntou a Joana, comendo o seu pão com queijo e fiambre.

- Não nos tentes esconder, Joana. Nós vimos como olhavas para aquele rapaz novo. Pedro, eu

acho. – respondeu a Rafaela, cruzando os braços.

Joana cuspiu o sumo que estava a beber.

- Ah! Afinal tínhamos razão. Tu conhece-lo, não é? – disse a Mariana apontando-lhe o dedo.

- Mas claro que não! Ele só parecia alguém que eu conhecia. – respondeu a Joana, olhando para

o chão, escondendo a tristeza dos seus olhos às amigas.

- De certeza? Então, ok. Mas ele até é giro, não achas Rafaela? – perguntou a Mariana,

olhando para a amiga.

- Não achei nem um pouco. – disse a amiga, cruzando os braços e encostando-se ao banco.

- Pois, mas claro que não. Porque afinal, tu estavas a babar-te toda naquele outro rapaz, o

Tiago. – disse a Mariana, mostrando à amiga um sorriso irritante.

- Eu não estava a babar-me para ele! – gritou a Rafaela quase apanhando a atenção dos outros

alunos, de lá de fora e também alguns que estavam lá dentro.

- Agora estão todos a olhar para nós por tua causa, Rafaela. – disse a Mariana.

- Foi por tua causa! – gritou a Rafaela.

As duas estavam a “lutar” enquanto a Joana olhava ainda para o chão, até que ouviu passos.

Ela olhou para a frente e viu os tais cinco rapazes e dois deles eram o Tiago e o Pedro.

Enquanto eles sentavam-se num banco, não muito longe delas, Joana não resistiu a pensar

como os outros três rapazes eram muito bonitos. Até mais bonitos que o Pedro.

Um tinha o cabelo loiro e os seus olhos eram azuis. Ele estava a usar o uniforme da escola, mas

com a gravata mal feita. Outro tinha cabelos castanhos e tinha um olhar de um delinquente. Ele

era um pouco parecido com o Pedro. E o outro tinha o cabelo todo pintado de vermelho e os

olhos verdes. O casaco dele estava preso à cintura e a camisa dele estava um bocado aberta.

Joana não parava de olhar até que sentiu uma mão no ombro, tirando-a do seu transe.

- Estás bem, Joana? Estavas aí calada a olhar para nada por um bom bocado. – disse a Mariana

e sem repararem o Pedro estava a olhar para elas.

- Não é nada. Estou bem, não se têm de preocupar. – disse a Joana sorrindo-lhes.

Enquanto elas conversavam, o Pedro continuava a olhar para elas.

11

- Olha, olha. Parece que o nosso Pedro tem um fraquinho. – disse o de cabelos vermelhos,

pondo o braço à volta do ombro dele.

- Oh! Está calado, Carlos. – disse o Pedro tirando o braço dele do seu ombro.

- Uh! Tem calma, meu. – disse o Carlos afastando-se – Estava só a brincar. Mas elas até são

bonitas.

- Nisso tens razão. – disse o rapaz de cabelo loiro.

O rapaz de cabelos castanhos olhou para o Pedro e depois para a direção onde ele estava a

olhar, vendo Joana a rir-se com as amigas.

- Isto vai ser interessante. – pensou ele.

Depois das aulas acabarem, todos os alunos estavam a despedir dos seus amigos e à frente do

portão, Joana estava a conversar com as suas amigas.

- Então vemo-nos amanhã. – despediu-se a Mariana.

- Eu tenho de ir se não a minha mãe ralha comigo se eu chegar atrasada. Adeus, Joana. – disse

a Rafaela, pondo depois a mochila ao ombro e indo para casa.

Joana estava a acenar um adeus até que ouviu vozes por detrás dela. Ela olhou pelo ombro e

viu de novo o Pedro e os seus quatro amigos.

- De certeza que não queres vir? – perguntou o Tiago.

- De certeza. – respondeu o Pedro, com os olhos fechados e abrindo-os depois – Vemo-nos

amanhã.

- Hum! – disse o Tiago indo-se embora com os outros na direção onde a Joana estava.

Quando eles passaram, a Joana saiu por detrás do portão, olhando para o lado e vendo os

quatro rapazes afastando-se. Ela depois olhou para o outro lado, vendo o Pedro indo-se

embora.

A Joana começou a ir atrás dele. Ela não sabia porque é que estava a segui-lo, mas as suas

pernas pareciam que se mexiam sozinhas.

- Para onde será que ele vai? – pensou Joana.

Joana continuava a persegui-lo até que o seu cérebro parou de funcionar e as suas pernas

ficaram congeladas. À frente dela, o Pedro estava a entrar no parque.

- Será… que ele…? – pensou a Joana, voltando a mexer as pernas, mas desta vez, calmamente.

Ela estava indo atrás dele, perdida na sua mente.

- Será que ele é mesmo…? – pensou ela – Se calhar é só uma coincidência… mas… e se ele

for...?

Ela estava pensando para si até que ela notou que o Pedro já não estava em lado nenhum.

12

- Eh? Onde é que ele foi? – perguntou ela.

Ela correu pelo parque todo e não o viu em lado nenhum até que ela se lembrou dum último

lugar, onde ela não tinha ainda procurado.

Ela corria como se dependesse da sua vida até que as suas pernas abrandaram e a única coisa

que se ouvia era a sua respiração e os risos das crianças que lá estavam.

À sua frente, estava a árvore grande, toda despida e sozinha, mas sem nenhum sinal do Pedro.

- Eu pensava que ele podia ter vindo para aqui… Mas parece que estava enganada. – pensou a

Joana, com um olhar triste – Eu sou mesmo burra ao pensar que ele tinha voltado.

Ao pensar isso, ela começou a caminhar para fora do parque sem notando na presença atrás de

uma árvore pequena comparada com a outra.

Essa presença pertencia ao Pedro. Ele saiu por detrás da árvore, olhando em direção onde a

Joana tinha ido e apenas com um pequeno sorriso na cara foi para casa.

E enquanto eles iam em direções opostas, a árvore estava no meio deles. Parecia que estava

ainda mais triste enquanto a neve caía ainda mais.

Inverno, 8 de Janeiro de 2015

Na casa da Joana, ela ainda estava deitada debaixo dos cobertores até que o despertador

tocou. Ela desligou-o e levantou-se. A sua cara parecia cansada e dorminhoca e o seu cabelo

estava todo despenteado.

Ela foi para casa de banho para se lavar e quando voltou para o seu quarto para se vestir,

olhou para o despertador para ver as horas.

A única coisa que se ouviu lá em baixo foi o grito da Joana enquanto ela corria para baixo e

pegou na torrada que estava em cima da mesa e bebeu o sumo de manga num só gole.

- Tem calma. Daqui a pouco, até te engasgas. – disse a mãe dela, sorrindo-lhe.

- Não posso! Estou atrasada para a escola! Adeus, mãe. – exclamou ela, dando um beijo na

bochecha da mãe e saindo pela porta.

A mãe dela só abanou a cabeça.

- Que cabeça tem a minha filha. – murmurou ela, bebendo mais do seu café.

Joana estava a correr com toda a sua velocidade até que parou em frente de uma loja de

doces. Ela olhou para a placa de cima. “Candy Shop”. Ela, ao olhar para aquela loja, sorriu um

pequeno sorriso. Pequenas memórias começaram a aparecer-lhe.

13

Duas crianças corriam da saída do parque para a loja. O rapaz de cabelos castanhos estava a

agarrar na mão de uma pequena rapariga de cabelos castanhos que estava com os olhos

fechados. Os dois estavam ambos a sorrir.

Os dois pararam em frente da loja até que o rapaz disse à rapariga que ela podia abrir os

olhos. Quando ela os abriu, ela ficou com uma grande expressão de alegria na cara. De repente,

ela abraçou o rapaz, quase caindo com ele no chão.

- Muito obrigada, Gonçalo! – exclamou a rapariga, mostrando como estava contente.

- Ainda bem que gostaste, Joana. Espera aqui um pouco. – disse ele, indo para dentro da loja.

Joana acenou que sim com a cabeça e viu-o a entrar na loja. Ela olhou pela janela da loja, vendo

o montão de doces que havia que ela ainda não tinha provado.

Ela estava a ver o Gonçalo a cumprimentar o dono da loja, como se já se conhecessem. O dono

parecia que estava a dizer alguma coisa enquanto olhava para ela e o Gonçalo também olhou,

reparando que para ela que ele estava a olhar até que se virou para o dono e abanou a cabeça

rapidamente.

O dono só sorriu e Joana só pôs a cabeça de lado, não percebendo nada do que eles estavam a

falar. Mas também Joana só tinha 5 anos. Crianças desta idade ainda são muito novas para

perceber.

A Joana sorriu ao ver estas memórias a passarem pela sua cabeça. Ah! Como ela queria voltar a

esses bons tempos.

Ela estava perdida nos seus próprios pensamentos que não reparou na pessoa que vinha atrás

e foi contra ela.

- Ah! Desculpa… - disse ela, reparando depois em quem tinha ido contra si. A sua cara ficou

congelada. Os seus olhos bem abertos e o seu queixo caído.

Essa pessoa era o Pedro. Ele estava a olhar para ela com um olhar frio, mas parecia-

-lhe que via um bocado de compaixão nos seus olhos.

- D…desculpa. Não te tinha visto. – disse a Joana, olhando para o lado com os olhos postos no

chão.

- Não faz mal. – disse ele, não olhando para ela.

Os dois ficaram calados, nenhum tinha dito uma palavra. Até que o Pedro começou a falar.

- O que estavas a fazer aqui parada? – perguntou ele, desta vez, olhando para ela.

- N…não era nada! Eu só estava a pensar. Sim, era isso. – murmurou a Joana, ainda mantendo

o seu olhar no chão.

- Hum! Só para que saibas, tu parecias uma idiota aí parada. – disse ele.

14

Ao ouvir aquelas palavras, por dentro, a Joana começou a sentir raiva.

- Ah! Eu não sou uma idiota. Idiota! – gritou ela, indo-se embora.

O Pedro só olhou para ela a ir-se e depois para a loja de doces.

Joana tinha chegado à escola e entrou na sala. Sentou-se no seu lugar, e olhou para a janela,

com o queixo nos braços, que estavam em cima da mesa. Pela sua cara, via-se que ela estava

chateada.

- O que se passa, Joana? – perguntou a Mariana, aproximando-se dela.

- Não é nada. – disse a Joana, continuando a olhar para a janela.

- Pois, e eu sou a filha da Rainha de Inglaterra. – disse a Mariana, cruzando os braços – Vá lá,

diz-me o que aconteceu.

- A sério, Mariana. Não foi nada. – disse a Joana, sorrindo para ela para lhe provar que não era

nada.

- Hum! Está bem. – disse a Mariana, sentando-se no seu lugar.

Joana não se sentiu bem ao mentir à amiga, mas ela não queria contar o que tinha

acontecido entre ela e o Pedro.

Ela continuou a olhar para a janela, vendo os flocos de neve a cair e um sorriso apareceu na

sua cara, até que ela levou um susto quando sentiu alguém ao seu lado.

Olhando para o lado, ela viu o Pedro com os olhos fechados encostado à cadeira, ouvindo

música no seu iPhone.

Ele abriu um olho e olhou para ela. Ela corou e virou-se para a janela.

- Porque é que não paro de olhar para ele? – pensou a Joana.

Enquanto isso passava, a Mariana estava a ver tudo, rindo-se e depois olhou para a Rafaela

que estava com a cabeça de baixo com o Tiago ao lado dela que estava a ouvir música, mas

com os olhos abertos.

O que foi estranho foi que o Tiago sentiu a Mariana a olhar e olhou para ela, sorrindo e

piscando-lhe o olho. A Mariana apenas ficou com a cara vermelha e desviou o olhar, tal igual à

Joana.

Ela estava a olhar para a mesa, mas conseguia ouvir o Tiago a rir-se que fê-la ficar mais

envergonhada.

Depois da aula acabar, a Joana, a Mariana e a Rafaela estavam a comer no mesmo lugar.

- Vocês já ouviram aquela música nova da Beyoncé? – perguntou a Rafaela, olhando para as

amigas, vendo que elas não estavam a prestar atenção nenhuma – Ei! Estão ouvir-me?

- Eh? Desculpa. – disseram as duas ao mesmo tempo.

15

- A sério? Mas o que se passa com vocês as duas? – perguntou a Rafaela levantando-se.

As duas ficaram caladas na mesma.

- Aishh!! – disse a Rafaela despenteando o cabelo de raiva.

- Olha, aquelas não são as raparigas da outra vez? – perguntou o Carlos.

- Pois são. Eu ouvi dizer que elas são da vossa turma. É verdade? – perguntou o de cabelos

loiros ao Tiago e ao Pedro.

- Sim. – respondeu o Tiago.

- Uh, e alguém em mente, é? – perguntou o Carlos.

- M…mas claro que não! – disse o Tiago, ficando vermelho.

Os quatro rapazes começaram-se a rir.

- Tem calma, Tiago. – riu-se o de cabelos castanhos – Mas não há mesmo ninguém em

especial?

- Não… - murmurou o Tiago, olhando pelo ombro para as três amigas a rirem-se.

A Rafaela reparou nele e desviou o olhar, escondendo o vermelho da cara.

Depois da hora do lanche, ainda havia algum tempo de recreio, então a Joana e as outras

decidiram ir comprar um chocolate no bar.

E, quando lá chegaram, um rapaz foi contra a Joana, fazendo-a cair.

- Oh! Estás bem? – perguntou o rapaz, oferecendo a mão para ajudá-la a levantar-se.

- Ah, sim! Muito obrigada e desculpa. Não estava a ver onde ia. – disse a Joana, aceitando a

ajuda dele e levantando-se.

Quando a Joana olhou para a cara do rapaz, a cara dela ficou congelada. Ele parecia mesmo

igual ao Gonça… Quero dizer, ao Pedro.

- Hm? Estás bem? Estás um pouco pálida. – disse o rapaz, com confusão escrita na cara.

- Ah! S-sim, estou bem. – gaguejou ela, virando o olhar para o chão.

- Ah, então tudo bem. Adeus! – disse ele acenando com um sorriso na cara.

- Ah! Espera! Como te chamas? – gritou a Joana, já que ele estava tão longe.

- Chamo-me João! – gritou ele, desaparecendo do campo de vista da Joana.

- João… - repetiu ela.

- Ele é muito parecido com… - pensou ela – Mas o Pe….

- Ei! Joana! – gritou a Rafaela, ao ouvido dela.

- Aii!! Para que foi isso!? Quase me furavas os ouvidos! – disse Joana, com a mão na orelha.

- Hum! Quem era aquele rapaz com quem estavas há pouco? – perguntou a Rafaela com um

grande sorriso.

16

- E…eu só fui contra ele e ele ajudou-me a levantar. – disse a Joana, olhando para os seus pés.

- Hum. E por acaso, ele disse-te o nome dele? – perguntou a Mariana, juntando-se também à

Rafaela.

- Ele disse que se chamava João. – murmurou ela, não mudando o campo de vista.

- Ahh! Mas, Joana, eu pensava que estavas interessada no Pedro. – disse a Mariana.

- O quê!? Mas claro que não! – exclamou a Joana – Vamos mas é andando. As aulas estão

quase a começar.

E, quando ela ia, as duas amigas olharam uma para a outra e só se riram, antes de irem ter

com ela.

Quando elas chegaram à sala, não estava lá nem o Pedro nem o Tiago.

- Eh? O Tiago não está aqui. – disse a Rafaela.

- Nem o Pedro. – murmurou a Joana.

- Parecem duas apaixonadas. – exclamou a Mariana, sentando-se no seu lugar e deixando as

suas duas amigas em pé, com caras de chocadas.

- Mas claro que não somos!! – gritaram elas as duas, levando estranhos olhares dos seus

colegas.

- É melhor sentarem-se, não acham, meninas? – perguntou a professora entrando e ficando

atrás da Joana e da Rafaela.

- D…desculpe professora! – disseram elas, ao mesmo tempo e correndo para os seus lugares.

Quando sentaram-se, a Joana viu um saco por cima da sua mesa. Ela pegou nele e abriu-o,

vendo montes de chocolates e bolachinhas em forma de flores.

- O… o que é isto? Donde é que isto veio? – murmurou ela.

- Joana, queres repetir o que acabei de dizer? – perguntou a professora.

- Desculpe, professora. Não estava a ouvir. – exclamou a Joana, olhando para a professora,

cheia de vergonha dentro dela.

- Espero que esta seja a última vez que estejas distraída na minha aula, ouviste? – disse a

professora.

- Sim, professora. – respondeu a Joana.

Durante a aula, a Joana, em vez de prestar atenção à aula, estava a olhar para o saco de

chocolates que estava nas suas mãos.

Quando a aula acabou, a Joana ainda estava sentada no lugar, sem largar o olhar do saco.

- Joana? Ei. Ei! – gritou a Rafaela, no ouvido dela.

- Eh? Ah! Desculpa. – disse a Joana, olhando para as amigas.

17

- Parecia que estavas na Lua. – disse a Mariana, sorrindo.

- Hum?! O que é isso? – perguntou a Rafaela, tirando o saco de chocolates das mãos da Joana

e pondo-o no ar – Chocolates? Eh, não me digas que é de um admirador secreto.

- C…claro que não é… - murmurou a Joana, conseguindo tirar o saco da Rafaela – Devem ter

posto aqui por engano.

- Eh, pois. Pensa o que quiseres. – disse a Rafaela.

- Meninas, nós temos que ir. – exclamou a Mariana, já saindo da sala.

Elas as três foram andando para a saída. Enquanto elas passavam pelos corredores, a Joana

olhou para as janelas e parou. Lá fora, viu o Pedro e os seus amigos na saída do portão. Eles

estavam a despedir-se e os amigos foram-se todos embora. O Pedro só ficou ali acenando e

depois foi-se embora pela outra direção.

- Será que foi ele que me deu isto…? – pensou a Joana, olhando para o saco de chocolates –

Estes chocolates… são os que comia quando era pequena. O único que sabia que eu gostava

deles era…

De repente, a Joana olhou para a frente com os olhos bem abertos.

- Será que ele… - pensou a Joana.

- Ei! Joana! – gritou a Rafaela já lá no fundo com a Mariana – Despacha-te, senão nós vamos

embora sem ti!

- E-esperem por mim! – disse ela, correndo até elas.

Quando saíram da escola, cada uma foi na sua direção, enquanto a Joana ficou à frente do

portão da escola.

- Será que devo? – pensou ela –Eu tenho de ter a certeza. Só vou lá ver mais uma vez.

Depois disso, ela correu até ao parque. Quando ela entrou, ela olhava em volta à procura até

que veio ter em frente com a árvore grande e sozinha.

Por detrás da árvore, estava o rio. A paisagem era muito bonita. A neve a cair fazia ainda ficar

mais bonita. A Joana só sorriu e aconchegou-se mais no seu cachecol até que…

- O que estás aqui a fazer? – perguntou uma voz, ao seu lado.

A Joana deu um pulo e olhou para o lado, vendo o Pedro com os braços por detrás da cabeça,

encostado à árvore. Ele bocejou e levantou-se, os seus olhos a olharem diretamente para os

dela.

- E-eu só… - gaguejou ela, não sabendo o que dizer.

- Tu andas a seguir-me, não andas? Ontem também me seguiste até aqui. – disse ele, olhando

para ela com os seus olhos vazios.

18

- Então ele veio mesmo aqui naquela vez!? – pensou a Joana, ignorando o olhar dele.

- Então és mesmo tu… Gonçalo? – perguntou ela.

- … - ele não disse nada. Só olhou para o chão e mordeu o lábio.

- Gonçalo…? – perguntou ela, tentando chegar-se a ele, com a sua mão tentando tocar-lhe

mas ele afastou a mão dela, fazendo-a ficar chocada.

- Não me chames por esse nome. – murmurou ele, mas a sua voz parecia conter raiva nela.

- M-mas Gonçalo… Eu… - disse a Joana, voltando a tentar a aproximar-se dele mas sendo

assustada pela resposta dele.

- Já te disse que não me chamasses por esse nome!! – gritou ele, olhando com ela. Desta vez

com os olhos cheios de raiva.

- … - a Joana não conseguia dizer mais nada. Ela estava muito assustada que as suas pernas

tremiam. Nunca na vida tinham-lhe gritado.

O Pedro ao reparar nisso acalmou-se e olhou para o lado.

- Desculpa. – murmurou ele – Não devia ter te gritado.

- N-não faz mal. – exclamou ela, com um sorriso pequeno – Afinal não é da minha conta.

- Desculpa. Só… - exclamou ele – Só não voltes a chamar-me por esse nome.

- M-mas porquê!? – disse a Joana, a sua voz aumentando – Porque não queres que te chame

pelo teu próprio nome!? Será que já não te lembras dos bons momentos que passámos? Será

que já não te lembras de mim?

- Desculpa… - sussurrou ele – Mas eu não me lembro de ti.

- Então, e estes chocolates…? – perguntou ela – Foste tu que me deste, não fostes? Tu eras o

único que sabia que eu gostava destes chocolates! Afinal, foste tu que me disseste para os

experimentar!

A Joana olhou para baixo, agarrando com força no saco de chocolates. Os seus olhos serem

tapados pelos seus cabelos.

- Sim, fui eu. – murmurou ele, fazendo a Joana olhar para ele com felicidade nos olhos – Mas

foi só porque te vi a olhar para eles esta manhã. E pensei que não tinhas dinheiro para os

comprar por isso comprei-os por ti. Foi só por isso. Não porque te conheço ou algo assim.

A Joana só continuou a olhar para ele. Lágrimas já a aparecerem nos seus olhos. Para escondê-

las dele, ela olhou para o chão. As lágrimas já a caírem-lhe.

- Eu vou andando. – disse ele, já virando-se para ir – E desculpa mais uma vez, mas eu…

Enquanto ele foi-se, a Joana caiu de joelhos na relva fria, não conseguindo mais conter as

lágrimas depois ao ouvir aquelas palavras.

19

- Mas eu não sou aquele que tu procuras.

Depois daquilo tudo, a Joana tinha voltado para casa e foi logo para o quarto. Nem ligou para o

que a mãe lhe tinha dito.

Ela fechou-se no quarto e só sentou-se em cima da sua cama e ficou ali a chorar até que as

suas lágrimas secassem, ao abraçando as suas pernas.

Enquanto com o Pedro, ele estava a andar pelas ruas com a cabeça de baixo até que viu outros

pés à sua frente, levantou a sua cabeça e só apenas sorriu.

- Vamos? – perguntou uma voz masculina, a sua cara sendo tapada pela escuridão da noite.

Mais três sombras atrás dele.

O Pedro só seguiu-os. As suas sombras a desaparecerem na escuridão.

Inverno,19 de Março de 2015

A Joana quase nunca vinha à escola. Nem nas férias de Carnaval, ela queria ir com as amigas

festejar. Mas quando vinha, ela não olhava nem uma vez para o Pedro. Nem falava com a

Mariana ou a Rafaela. Aquele dia, fê-la saber que devia desistir da pessoa que procurava e que

essa pessoa nunca ia voltar.

Agora, a Joana estava sentada no seu lugar, nem querer saber no que a professora estava a

dizer. Ela estava a olhar para a janela, como sempre, vendo os miúdos que estavam a faltar às

aulas a fazer bonecos de neve e lutas de bolas de neve com a neve que ainda restava.

O Inverno estava a acabar e vinha a próxima estação. A Primavera.

Mas nem mesmo assim a Joana sorria como nas outras vezes. Aquele dia mudou-a mesmo.

Até a Rafaela e a Mariana queriam ajudá-la, fazendo-a rir mas nunca conseguiram.

Enquanto ela olhava para a janela, o Pedro, que estava ao lado dela, olhou ligeiramente para

ela, ela não apercebendo dele.

Ele viu como ela estava triste e lá no fundo ele arrependia-se no que lhe tinha dito. Ele foi

mesmo frio com ela naquele dia. Mas ele não sabia o que fazer.

É que na verdade, sempre que a Joana sorria, ele estava lá sempre a vê-la, com um pequeno

sorriso na cara também. Ele admite que sempre gostava vê-la com um sorriso na cara.

Mas desta vez, a culpa por ela não estar a sorrir é dele e ele não sabe o que fazer.

Quando era a hora do lanche, a Joana disse às amigas que hoje apetecia estar sozinha e ela

saiu da sala.

- Ela está mesmo mal. – exclamou a Mariana.

- Algo deve ter acontecido. – disse a Rafaela – E eu já sei o quê.

20

A Mariana não entendia o que a Rafaela estava a dizer até que olhou para onde a amiga

estava a olhar para ver o Pedro a conversar com os amigos lá fora.

- Tu pensas que foi por causa dele? – perguntou a Mariana, agora olhando para a amiga.

- Sem dúvidas. – respondeu a Rafaela – E é por isso que vamos conversar com ele, para que

ele resolva tudo com a Joana.

- Achas mesmo que ele vai concordar? – perguntou a Mariana, saindo da sala com a Rafaela.

- Ele tem, senão… - disse a Rafaela - … tem de ser à força.

- Algumas vezes tenho medo de ti, Rafaela. – disse a Mariana.

- Ainda bem. – disse a Rafaela, saindo da escola e indo para o jardim.

À sua frente estava o Pedro a conversar com os seus amigos. A Rafaela já ia à frente até que o

seu olhar foi para o Tiago. As suas pernas pararam e as suas mãos foram para o seu peito. O seu

coração começou a saltar sem nenhuma razão.

A Mariana estava a olhar para ela com uma cara de confusa até que abanou-a, tentando

acordá-la do transe.

- Rafaela! Ei! Acorda! – disse a Mariana, abanando-a pelos ombros até que viu que não

resultava e lhe deu uma chapada.

- Para que foi isso!? – gritou ela, apanhando a atenção dos rapazes.

- Olha, são aquelas raparigas do outro dia. – disse o Carlos – São vossas amigas? Pedro? Tiago?

- Não. – respondeu o Pedro.

- Nós nunca conversámos. – respondeu o Tiago.

- Shh! Elas vêm aí. – sussurrou o de cabelos loiros.

- Olá. Podemos falar? – perguntou a Mariana ao Pedro, com a Rafaela escondendo-se atrás

dela.

- Olá. – acenou o Tiago para ela.

O coração da Rafaela começou a bater cada vez mais e escondeu-se mais atrás da Mariana.

- O que se passa com ela? – perguntou o Tiago.

- Ela só não se sente bem. – respondeu a Mariana – Então? Podemos conversar? Eu prometo

que não demora nada.

- Vai lá, Pedro. Nós esperamos por ti. – disse o de cabelos castanhos.

- Está bem. – respondeu o Pedro, indo com elas para um sítio mais sossegado – O que queriam

falar?

- Nós sabemos porque é que a Joana anda triste, estes dias. – respondeu a Mariana – Tu e ela

estiveram a conversar, não?

21

- Não sei do que estás a falar. – respondeu ele, o seu olhar vazio nunca mudando.

- Não nos tentes enganar. Nós sabemos que é por tua causa que a Joana está assim. – interveio

a Rafaela.

- Eu não fiz nada. – respondeu ele, já partindo para ir-se embora até que a Rafaela pegou no

seu braço e pôs-lho atrás das suas costas, segurando-o firme.

- Não vais-te embora. – disse a Rafaela, apertando mais o braço.

- Ai! Ai! Ok! Mas, larga-me o braço! – gritou ele, fazendo a Rafaela sorrir e largar o braço dele.

- Muito bem, começa a explicar. Se não… - disse a Rafaela estalando os ossos dos dedos.

- Eu falei com ela e posso ter sido… - murmurou o Pedro - …. Bruto.

- Eh?? – gritou a Rafaela, pegando nele pela gola da camisola – Seu desgraçado…

- Tem calma, Rafaela. – disse a Mariana, pousando a sua mão no ombro dela – A nossa

preocupação é a Joana.

- Pois… - disse a Rafaela, largando-o.

- Desculpa se ela te magoou. Mas voltando ao assunto, podes ajudar-nos? – perguntou a

Mariana.

- E se eu não quiser? – perguntou o Pedro, até que a Rafaela ia a ele, só que a Mariana

conseguiu pará-la. – Pronto, está bem. Eu ajudo.

Enquanto eles planeavam o plano, os amigos do Pedro estavam no jardim, cansados de estar à

espera.

- A sério? Mas quanto tempo é que eles ainda vão demorar? – queixou-se o Carlos.

- Tem paciência. – disse o de cabelos loiros.

- Hm? – disse o Tiago, olhando em volta.

- Eh? O que foi Tiago? – perguntou o de cabelos loiros.

- O João desapareceu. – respondeu o Tiago.

- Eh?? – disseram os dois.

Entretanto, a Joana estava sentada num banco do jardim, a sua comida nem sido trincada uma

vez até que uma sombra tapou-a.

- Se são vocês meninas, eu já vos dis… - disse a Joana, olhando para cima mas se calando logo

quando viu que não era a Mariana e a Rafaela.

- Olá. Podemos conversar? – perguntou a pessoa.

Noutro lugar, a Mariana, a Rafaela e o Pedro já tinham planeado o plano.

- Então, está tudo planeado? – perguntou a Mariana.

- Hm. – respondeu a Rafaela e o Pedro, ao mesmo tempo.

22

- Muito bem. Não te esqueças do que tens de fazer, ouviste? – disse a Mariana, apontando o

seu dedo para o Pedro.

- Ai, sim. Mas lembrem-se que eu só estou a fazer isto só para não morrer hoje. – disse o

Pedro, sentindo o olhar da Rafaela nas suas costas.

A Mariana só suspirou.

- Porque é que tenho a impressão que isto não vai resultar nada bem? – pensou ela.

Depois de falarem, o Pedro voltou para o seu grupo que já estavam todos meio dormidos,

exceto o Carlos que já estava a dormir no chão.

- Ei!! – gritou ele.

- Hm? Ah, Pedro! Já voltaste. – disse o Tiago, que estava quase à beira do sono.

- O que se passou com ele? – perguntou o Pedro, apontando para o Carlos, ainda dormido no

chão. Baba já a correr da boca dele.

- Ele só adormeceu. – respondeu o Tiago, como se aquilo fosse normal.

- Então, já acabaram a conversa? – perguntou o de cabelos loiros.

- Sim. – respondeu o Pedro, simplesmente.

- E do que falaram? – perguntou o Tiago, com os olhos de uma criança a fazer beicinho.

- Nem penses que isso vai resultar em mim, Tiago. – exclamou o Pedro e o de cabelos loiros só

começou a rir-se.

- Não te rias de mim, Filipe! – choramingou o Tiago.

- Hm? Onde está o João? – perguntou o Pedro.

- Não sabemos. Ele desapareceu há pouco. – respondeu o Filipe impedindo o Tiago de o bater.

- Hm. Eu tenho de ir fazer uma coisa. Vemo-nos mais tarde. – exclamou o Pedro, despedindo-

se.

Enquanto ele ia, o Carlos acordou e olhou em volta.

- Hm? O que aconteceu? – perguntou ele.

Entretanto, o Pedro estava a andar pelos corredores, olhando para o lado e pelo outro como se

estivesse à procura de alguém.

- Ai, onde é que ela está? – murmurou ele, continuando em frente até que ouviu risinhos.

Ele ouviu passos vindo à sua frente, olhando bem para lá e vendo duas formas até que reparou

quem eram.

Joana e… o João?

A Joana e o João estavam a rir-se até que a Joana olhou para a frente e vendo o Pedro, o seu

corpo pareceu não se querer mover.

23

- Eh? Joana? Está tudo bem? – perguntou o João, não notando no Pedro até que olhou para

onde a Joana estava a olhar – Oh, olá Pedro.

O Pedro só olhou para ele, o que parecia raiva nos olhos.

- Desculpa se eu desapareci assim de repente. – disse o João.

- O que estás a fazer com ela? – perguntou o Pedro.

- Ah, a Joana? Eu só estava a fazer-lhe companhia, não era? – perguntou o João, sorrindo para

ela.

- A-ah, hm. – murmurou ela, olhando para o chão.

- Vocês os dois conhecem-se? – perguntou o Pedro.

- Claro. Eu fui contra ela quando tinha ido ao bar. – respondeu o João.

- E-eu tenho de ir. Tchau João… - murmurou ela, passando pelos dois rapazes sem olhar para o

Pedro.

- E-ei! Espera! – gritou o Pedro, indo atrás dela até que uma mão pegou no braço dele,

parando-o.

- É melhor que a deixes sozinha por um momento. – exclamou o João, ainda agarrando no

braço dele.

- Tu não mandas em mim! – exclamou o Pedro, afastando a mão dele com força – Mas ouve

bem! Espero bem que te afastes dela!

- E se eu não quiser? – perguntou o João, com um sorriso na cara.

- É melhor que te afastes dela! – gritou o Pedro – O que queres dela?

- Não quero nada. Eu sou a acho… - exclamou o João - … interessante.

- Não te atrevas em tocar-lhe, João! – disse o Pedro, pegando pela gola da camisola dele com

força.

- Hm. Mas claro que eu não vou fazer isso. – respondeu o João, soltando-se da mão do Pedro –

Só acho que ela é uma rapariga interessante e que quero saber mais sobre ela.

- Seu… - disse o Pedro, com um olhar de raiva e as suas mãos fechadas em punhos.

- Pedro! João! – gritou alguém detrás do João. Os dois rapazes olharam para trás, vendo os

seus três amigos.

- Aqui estão! Estávamos à vossa procura! – gritou o Tiago, com o Filipe e o Carlos atrás dele.

- Onde estavas, João? – perguntou o Filipe.

- Desculpem, eu só tinha ido à casa de banho e quando saí, encontrei-me com o Pedro, não foi

Pedro? – perguntou o João, olhando para ele.

- … Sim. – respondeu o Pedro, olhando para o lado.

24

- Bem, a hora do lanche acabou. As aulas vão começar. – exclamou o Filipe.

- Ai! A mim não me apetece ir para a aula, eu talvez vá faltar. Estás comigo, Pedro? -perguntou

o Carlos, pondo o braço à volta dos ombros dele.

- Hm. Como queiras. – disse o Pedro, indo-se embora.

- O que se passa com ele? – perguntou o Carlos pondo os braços atrás da cabeça.

- Deve estar mal-humorado. – disse o João a sorrir – Tiago, porque não vais ter com ele? Vocês

são bem chegados e eu preferia que ele não causasse algum estrondo.

- Sim! – disse o Tiago, como se estivesse num exército a receber ordens do seu general e

partiu atrás do Pedro.

- Não terás nada a ver com isto, João? – perguntou o Filipe com os braços cruzados.

- Ohh! Estás a insinuar que foi minha culpa? – perguntou ele com um sorriso na cara como

tinha sempre mas esse sorriso parecia falso para o Filipe, tal como todos os outros.

- Eu não disse nada disso. – disse o Filipe indo-se embora também.

- Hm. – riu-se baixinho o João, também indo na direção oposta, deixando um Carlos confuso.

- O que raios acabou de acontecer? – disse ele.

Entretanto na sala de aula da turma da Joana, a Mariana e a Rafaela estavam sentadas nos

seus lugares, ambas com uma cara de aborrecimento.

- Onde será que eles estão? – perguntou a Rafaela – Achas que eles já terão falado?

- Espero que sim. – murmurou a Mariana.

E depois nesse mesmo momento, a Joana tinha entrado na sala, sem cumprimentar as amigas.

As duas olharam uma para a outra até que a Mariana levantou-se e aproximou-se da Joana.

- Joana? Está tudo bem? – perguntou ela.

- Sim. – murmurou a Joana, não olhando para a amiga nem uma única vez.

- Ah, ainda bem. Olha, eu e a Rafaela estávamos a pensar se querias vir connosco depois das

aulas à nova livraria. Ouvi dizer que lá há muito bons livros. Então, queres vir?

- Mariana, desculpa mas hoje não me sinto bem. Eu vou ter de rejeitar. Desculpa. – murmurou

a Joana olhando para a mesa, a Mariana notando no olhar triste da amiga.

- Ah, não faz mal. Talvez para a próxima. – disse a Mariana rindo-se um pouco até que voltou

para o seu lugar.

- Então, como correu? – sussurrou a Rafaela no ouvido da amiga.

- Nada bem. – sussurrou de volta a Mariana.

- Aquele palhaço deve tê-la magoado de novo! – murmurou a Rafaela, apertando as suas

mãos.

25

- Tem calma, Rafaela. Falaremos com ele de novo depois da aula. – disse a Mariana, calando-

se depois ao ver o professor entrar e começar a dar a aula.

- Tch. – a Rafaela só continuou a aula inteira pensando numa forma de dar cabo do Pedro, a

Mariana estava a tentar estar atenta à aula, mas só conseguia pensar se a Joana estava bem e a

Joana só estava a olhar para a janela sem prestar nenhuma atenção à aula.

As três melhores amigas pareciam desconhecidas, como se não se conhecessem. Nenhuma

olhou para a outra. Talvez porque o professor podia vê-las a falar durante a aula ou porque era

porque algo estava errado entre elas. E que estava mesmo.

Quando a aula acabou, a Joana não almoçou na aula e saiu da sala sem despedir-se das

amigas. A Mariana e a Rafaela só viram-na a ir-se embora, nenhuma dizendo uma palavra até

que a Rafaela mordeu o lábio de baixo.

- A culpa deve ser dele. O culpado de a Joana estar a sofrer que nem fala connosco. –

murmurou ela.

- Vamos falar com ele. Talvez alguma coisa aconteceu quando eles falaram. – explicou a

Mariana saindo da sala com a Rafaela atrás.

Quando andavam pelos corredores, elas viram o Pedro a falar com o Tiago. A Rafaela

paralisou-se logo depois quando viu o Tiago. Os cabelos pretos dele e o seu grande sorriso eram

as únicas coisas que faziam o coração gelado da Rafaela começar a bater muito rápido.

A Mariana não notou na amiga e foi logo direta até ao Pedro, pegando-lhe pela mão e

levando-o pela direção que veio.

- Precisamos de falar. – exclamou ela.

- E-ei! – exclamou o Pedro enquanto era arrastado.

- Anda Rafaela! – gritou a Mariana, já ao fundo.

- A-ah, já vou! – disse a Rafaela, olhando uma última vez para o Tiago e indo ter com a

Mariana.

- Isso foi estranho. – disse o Tiago passando a mão por detrás da cabeça.

Enquanto com aqueles três, a Mariana levou o Pedro para o campo de futebol e quando lá

chegaram, a Mariana estava à frente dele com as mãos nas ancas com um olhar muito

assustador.

E a Rafaela estava ali, sem nenhuma expressão, de certeza ainda a pensar no Tiago até que a

Mariana lhe deu uma cotovelada no ombro que a fez sair dos seus pensamentos e voltar à

Terra.

26

- O que querem agora? – perguntou o Pedro, suspirando e pondo as mãos nos bolsos das

calças.

- Queremos saber o que aconteceu na conversa entre ti e a Joana. Ela está mais triste agora. O

que lhe fizeste agora? – perguntou a Mariana.

- Não fiz nada. – respondeu ele, olhando para o chão.

- Não é o que parece. Agora a Joana quase nem nos fala. Vou perguntar outra vez. O que é que

fizeste? O que é que aconteceu? – perguntou a Mariana aumentando um pouco a voz,

metendo medo a ele e à Rafaela.

- Quando ela está assim, ela mete muito medo. – pensou a Rafaela.

- Não aconteceu nada. Nós não falámos ainda. – disse o Pedro.

- A sério? – perguntou a Mariana.

- Hm. – disse ele, acenando com a cabeça que sim.

- Então, precisaremos de outro plano. E eu já sei qual. – exclamou a Mariana – Tu vais mandar-

lhe uma carta a dizer para se encontrarem num sítio e se ela for, esperemos que sim, espero

que lhe peças desculpa e que ela não esteja mais triste, se não… Rafaela.

A Rafaela só estalou os ossos dos dedos e do pescoço, com um olhar de uma pessoa com

quem ninguém se deve meter.

- Ok. Entendido. – exclamou o Pedro, afastando-se um pouco da Rafaela – Mas se ela não

aceitar, não é minha culpa.

- Hm, ok. – disse a Mariana, indo-se embora com a Rafaela.

Depois disso tudo, a Joana tinha entrado na sala, vendo depois uma carta em cima da sua

mesa. Ela olhou em volta da sala, vendo se alguém tinha a ver com aquela carta e até olhou

para as amigas mas elas estavam as duas a ler um livro ou ouvir música. Nenhuma delas

olhando para ela.

Ela sentou-se no lugar e olhou para a carta azul que estava entre as suas duas mãos até que

planeou em abri-la. Ela começou a lê-la até que os seus olhos ficaram bem chocados.

Ela apertou a carta bem no peito e olhou para os seus pés.

- O que devo fazer agora? – pensou ela.

Olá Joana,

Eu queria falar contigo mas na última vez que te vi parecias ocupada.

Bem, só quero que saibas que estarei no parque, ao lado da grande árvore, à tua espera.

Precisamos de falar.

Pedro

27

- Talvez deva ir. – pensou ela, não notando nos olhares das amigas.

Quando a aula acabou, todos os alunos estavam indo para casa enquanto a Joana estava

sentada num dos bancos do jardim da escola a pensar na carta que tinha recebido.

- Hm! Já decidi. – pensou ela.

Depois de algumas horas, o Pedro estava chegando ao parque e parou mesmo em frente da

grande árvore, que ficava mesmo no meio do parque mas que estava longe das outras árvores.

Ele estava a olhar para baixo até que olhou para a frente. Ele estava a olhar para a árvore

como se estivesse a analisá-la. Ele foi-se encostar ao tronco e olhou para cima, onde os ramos

da árvore pareciam quase cair por tanta neve que tinham.

Ele olhou para a frente depois, vendo as crianças correndo atrás de uma da outra atirando

bolas de neve. Isso trazia-lhe lembranças do passado.

- Vá, Gonçalo! Mais rápido! – gritou uma menina da cabelos curtos e castanhos, rindo-se do

rapaz caído na neve,

- Agora é que vais ver. – murmurou o rapaz, levantando-se e olhando para a rapariga até que

ele sorriu maleficamente e a rapariga só ficou com uma cara de assustada e começou a correr.

- Ahahaha! Não me apanhas! – cantarolou a rapariga.

- Ai não? – disse o Gonçalo, empurrando a rapariga, caindo juntamente com ela.

- Pronto, ganhaste! Agora sai de cima de mim! –exclamou a rapariga, tentando libertar-se mas

não conseguiu.

- Quais são as palavras mágicas? – perguntou o Gonçalo.

- Por favor. – disse a rapariga fazendo beicinho.

- Ai! Não consigo mesmo resistir a esse teu beicinho. – disse o Gonçalo, com um grande

sorriso, levantando-se depois até que uma bola de neve foi contra a sua cara.

- Ahahahaha! Apanhei-te! – gritou a rapariga, rindo-se que até lhe apareceram lágrimas aos

olhos.

- Agora é que vais ver. – murmurou ele, aproximando-se dela e fazendo-lhe cócegas.

- Aahahaha, não… por favor… não… ahahahahaha…Gonçalo ahahahaha… - riu-se a rapariga –

Gonçalo… Gonçalo…

- Gonçalo. – disse uma voz por detrás dele, fazendo as memórias dele desaparecerem e ele

olhar-se para trás vendo uma Joana, com as mãos nos lados, uma delas agarrando na sua

mochila e na outra estava a carta azul que ele lhe deu.

- Vieste. – exclamou o Pedro, com as mãos nos bolsos – E não te disse para não me chamares

por esse nome?

28

- D-desculpa. – gaguejou ela – D-do que querias falar c-comigo?

- Do que aconteceu naquele dia. O que eu disse… - respondeu ele.

- Não há nada para falar. – exclamou a Joana – Tu tinhas toda a razão. Eu é que estava

imaginar coisas. Por isso não te preocupes.

Depois ao dizer isso, a Joana virou-se, começando a ir-se embora até que uma mão pegou-lhe

no pulso virando-a. Ela estava com uma cara de chocada e viu a cara do Pedro, a sua cabeça a

olhar para baixo.

- N-não… - murmurou ele –A culpa foi minha. Eu não devia ter-te falado daquela maneira. Por

isso, eu queria pedir-te des… desc…des…

- Desculpa? – perguntou a Joana, um pequeno sorriso a aparecer-lhe na cara.

- S-sim. – gaguejou ele, desta vez.

- Então, está bem. Eu desculpo-te. – disse ela sorrindo – Vemo-nos amanhã.

- E-espera! – disse o Pedro, pegando-lhe na mão. Desta vez, a Joana não virou para trás porque

ela não queria que ele visse o vermelho da sua cara.

Mesmo assim, ele notou no vermelhinho na cara dela até que reparou que estava a segurar na

mão dela, por isso separou-se logo e meteu as mãos atrás da cabeça. Agora era ele com a cara

vermelha.

- Desculpa… - murmurou ele.

- N-não faz mal. De que mais queres falar? – perguntou a Joana, sorrindo um pouco.

- De nós. – respondeu ele, sem hesitar.

- Eh?? – disse a Joana, chocada.

- Cresceste imenso desde a última vez que nos vemos.– disse ele, olhando para ela, com um

sorriso pela primeira vez – Joana.

A Joana só ficou com o queixo caído. Quando ela ouviu essas palavras, ela apercebeu que

tinha razão este tempo todo. À sua frente estava o rapaz que era o seu amigo de infância que

tinha fingido de quem era realmente. Mas ao ver aquele sorriso, ela via a imagem de um rapaz

pequeno de cabelos castanhos com o mesmo sorriso no lugar do Pedro, ou devo dizer,

Gonçalo?

Os dois sentaram-se na relva molhada, encostados ao tronco da árvore. Nenhum deles dizendo

uma palavra.

- Porque não me disseste antes? – perguntou a Joana, interrompendo o silêncio.

- Eu não sabia como dizer-te. – exclamou ele, não olhando para ela.

29

- Isso não responde a nada! – exclamou ela, levantando-se – Tu não sabes o quanto eu sofri

quando soube que tu tinhas ido embora. Tu foste sem me dizer nada!

- Desculpa. – murmurou ele, mas a Joana conseguiu ouvir.

- Eu só quero saber porque te foste embora e porque é que tu mudaste o teu nome. – disse

ela – Naquele dia, eu estava mesmo aqui, nesta árvore à tua espera mas tu nunca apareceste.

Eu… eu…

De repente, braços circularam à volta dos ombros dela, fazendo-a abrir os seus olhos bem

abertos com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.

- Desculpa, eu prometo que não volto a deixar-te. Mas eu não posso dizer-te nada agora.

Espero que compreendes. – disse ele, olhando para ela nos olhos – A partir de agora, chama-

me Pedro.

- Ah… - disse ela, ainda chocada.

Ela estava a olhar para ele, não sabendo o que dizer. Mas ao ver aquele sorriso que tanto

sentia falta de ver, ela apenas sorriu e acenou que sim com a cabeça.

Os dois separaram-se até que uma pergunta apareceu na cabeça da Joana.

- Mas porque é que mudaste o teu nome para Pedro? O que aconteceu quando estavas fora?

– perguntou ela.

- Como te disse, não posso dizer-te agora. – disse ele, virando o olhar.

- M-mas Gonçalo… - disse a Joana, mas foi interrompida logo por ele.

- Não me chames por esse nome! – gritou ele, assustando-a.

Ele notou no que tinha feito, por isso acalmou-se com a cabeça de baixo.

- Desculpa. Eu só… não gosto que as pessoas me chamem por esse nome. – disse ele baixinho,

mas a Joana conseguiu ouvi-lo.

- Hm. Ok. Eu compreendo. – disse ela sorrindo – Estou feliz de voltar-te a ver, Gon… quero

dizer, Pedro.

Ele ao ouvir isso, só virou para o lado, escondendo o vermelho da cara até que sentiu uma

coisa a bater-lhe nas costas. Olhou para trás e viu neve na sua camisa. Ele viu a Joana com uma

bola de neve na mão direita, rindo-se tanto que até lhe doía a barriga.

- Ahahahaha. Devias ter visto a tua cara. Hahahahaha! – riu-se ela até que uma bola de neve

bateu-lhe na cara – Ei!

- Hm. Isto foi por me teres desafiado. – disse ele, com as mãos nos bolsos.

- Hm. Não me subestimes. – disse ela, fazendo uma bola de neve e preparando-a para tirar até

que o Pedro começou a fugir e ela atrás dele.

30

- Oi! Oi! Para com isso! – gritou ele, continuando a fugir dela e recebendo mais bolas de neve.

- Ahahahaha. – riu-se ela.

Pessoas que os vissem diziam que eram duas pequenas crianças a brincar na neve. Ao vê-los

correrem, duas crianças estavam nos lugares deles a rirem-se e a tirar bolas de neve um ao

outro mas logo que se piscassem os olhos, viam-se dois adolescentes a rirem-se e a brincar na

neve.

Tudo estava a correr bem. A grande árvore via os dois a brincarem e parecia que estava feliz,

porque nessa altura, as nuvens negras do céu estavam a afastar-se, deixando o sol brilhar e a

neve parando de cair. Num ramo da árvore, um rebento começou a abrir-se, mostrando uma

pequena mas forte flor, indicando que estava a chegar a próxima estação. A Primavera.

No Inverno, pode haver tristeza mas o amor resolve isso tudo. As recordações do Inverno já

foram lembradas, agora passaremos para a estação mais bonita. A Primavera. Que tipo de

recordações a Joana lembrar-se-á?

31

Capítulo 2: Sorrisos de Primavera

Primavera, 20 de Março de 2015

O dia estava lindo. As árvores estavam cheias de flores, mostrando a sua alegria para as

pessoas. As flores voavam pelo vento e iam na sua viagem ao destino. A Joana sentia isso

mesmo. Ela sentia alegria quando passava pelas ruas até à escola.

Quando ela chegou à escola, ela viu as árvores da escola cobertas de flores amarelas e cor-de-

rosa. O jardim todo da escola estava cheio de flores e havia borboletas a andarem por aí. Os

seus colegas estavam todos com um sorriso nas suas caras. A Primavera tinha chegado. Isso era

o que a Joana pensava.

Ao entrar na sala, à sua frente estava a Mariana e a Rafaela a olhar para ela como se estivessem

a tentar ver alguma coisa diferente.

- Ah, olá? – disse a Joana, não sabendo o que dizer mais.

- Hm. – murmuravam elas, olhando para ela e depois uma para a outra e depois para ela.

- Mas podem me dizer o que se passa com vocês? – perguntou a Joana, aumentando um

pouco a voz.

- Não é nada! – disseram elas ao mesmo tempo, com grandes sorrisos.

- A sério? Algumas vezes não vos compreendo. – suspirou a Joana, sentando-se no seu lugar.

- Mas não estás feliz hoje, Joana? – perguntou a Rafaela aproximando a sua cara da dela.

- Porque perguntas? – perguntou a Joana.

- Não sabes? Hoje é o último dia de aulas! – disse a Rafaela, cheia de emoção.

- Ah. – disse a Joana, ignorando a amiga e olhando para a janela.

- Ei! – choramingou a Rafaela.

- Vá lá, Rafaela. – disse a Mariana pousando a sua mão no ombro dela – Deixa a Joana em paz.

As duas amigas sentaram-se no seu lugar enquanto a Joana olhava para fora, vendo as árvores

cheias de flores até que uma flor voou em frente dela que a fez sorrir.

Foi quando ela ouviu a porta da sala a abrir-se e ela viu o Gon… quero dizer, o Pedro e o Tiago a

entrarem.

Quando eles entraram, o Pedro pareceu ter visto a Joana a olhar para ele porque ele olhou

logo para ela. Isso fez com que a Joana corasse e virasse o olhar para o lado.

Ela estava a olhar para a janela, pensando o que aconteceu no dia anterior até que sentiu o

som de uma cadeira a ser arrastada e olhou para o lado, vendo o Pedro sentar-se.

- B-bom dia! – disse a Joana.

32

- Bom dia. – murmurou ele.

Ao ouvir isso, a Joana sorriu só que eles não sabiam que os seus amigos estavam a olhar para

eles. O Tiago estava com o queixo caído com os olhos bem abertos não querendo acreditar no

que os seus ouvidos tinham ouvido e a Mariana e a Rafaela só olharam para uma para a outra,

sorrindo e mostrando uma para a outra o polegar para cima.

Depois da aula, era a hora do intervalo. As três amigas estavam a falar, a Mariana e a Rafaela

felizes pela amiga delas estar melhor até que o Tiago e o Pedro aproximaram-se delas.

- Olá! – disse o Tiago com um grande sorriso na cara, acenando e o Pedro só levantou a mão,

na forma de dizer olá também.

- Olá. – disseram a Mariana e a Joana. Só a Rafaela é que não disse nada. Por acaso, ela estava

a esconder-se atrás da Mariana, tentando não olhar para o Tiago.

- Hm? Olá, já nos conhecemos, não é? – disse o Tiago aproximando-se dela.

A Rafaela pareceu perder todas as suas forças porque quando ela notou que a cara dele estava

muito próxima da dela, as suas pernas pareceram que tinham-se tornado moles e caiu ao chão.

- Ah! Estás bem? – perguntou o Tiago, ajudando-a a levantar-se.

- S-sim. E-eu tenho de ir! Tchau! – despediu-se ela, correndo da sala.

- O que se passa com ela? – perguntou o Tiago.

- Não te preocupes. Ela fica bem. – respondeu a Joana.

- Então, o que querem? – perguntou a Mariana, com os braços cruzados.

- Queríamos saber se querem lanchar connosco e com os nossos amigos. – disse o Tiago,

sorrindo.

- A mim pode ser. – respondeu a Mariana.

- Eu também vou. – disse a Joana.

- Muito bem. Então, vemo-nos no jardim. Tchau. – despediu-se o Tiago, indo-se embora e o

Pedro indo atrás dele, calado todo o tempo e com o seu olhar frio.

A Joana estava a olhar para o Pedro, notando depois o sorriso da amiga.

- O que foi? – perguntou ela.

- Nada, nada. Temos de ir buscar a Rafaela primeiro se queremos lanchar com eles. –

exclamou a Mariana.

Enquanto com a Rafaela, ela estava a andar pelos corredores a tentar tirar o Tiago da cabeça

até que foi contra alguém.

- Ei! Vê lá se tens mais cuidado! – gritou uma voz que pertencia a um rapaz.

33

- Cuidado, eu!? Tu é que foste contra mim! – gritou a Rafaela, chateada e olhando para o

rapaz, notando que ele tinha o cabelo loiro.

- Agora se não te importas, tenho de ir. – disse a Rafaela, mal-educada para ele, indo de

ombro contra ele.

- Tch. Mas quem pensa que aquela rapariga é? – disse o rapaz, despenteando o cabelo com a

mão.

- Filipe! – gritou uma voz ao fundo. O rapaz, o Filipe, olhou para trás e viu o Tiago correndo

com o braço no ar, acenando e o Pedro, a andar calmamente atrás dele.

- O que se passa? – perguntou o Filipe.

- Eu e o Pedro convidámos umas colegas nossas para irem comer connosco. Queres vir? –

perguntou o Pedro.

- Hm. Se é para conhecer raparigas… está bem. – disse o Filipe.

- Ew. Já pareces o Carlos. – disse o Tiago, enojado.

- Hm. Eu não sou nada parecido com aquele pervertido. – disse o Filipe.

- Vamos andando, ok? – disse o Pedro, já partindo.

- Ele está com pressa. – disse o Tiago.

- Se calhar ele está entusiasmado para lanchar com as raparigas. – exclamou o Filipe.

- Achas? O Pedro? Ele nunca fala com nenhuma delas. Bem, por acaso há uma… - disse o

Tiago, segurando no queixo.

- O quê? Quem? – perguntou o Filipe, espantando por ouvir que o “rapaz frio” falou com uma

rapariga.

- Acho que se chamava Joana, não sei. – disse o Tiago, encolhendo os ombros.

- Hm. Vamos lá, senão o João ralhará connosco. – disse o Filipe, começando a caminhar.

- Pois, eu não quero que aconteça o que aconteceu na outra vez. – disse o Tiago, seguindo-o.

- Não me lembres disso. – murmurou o Filipe.

Entretanto, a Rafaela estava sentada num dos bancos do jardim da escola, vendo os outros

alunos a jogar futebol, com os cotovelos em cima das pernas e as mãos a segurar no queixo.

- Aqui estás! – disse uma voz, por detrás dela. Ela virou-se e viu a Mariana e a Joana

aproximarem-se dela.

- Estivemos à tua procura! Os rapazes já devem estar à nossa espera! – disse a Mariana,

pegando no braço dela e puxando-a.

Ao ouvir sobre os rapazes, a Rafaela ficou um pouco vermelha, lembrando-se da cara do Tiago.

- Mas espera! Estão à nossa espera porquê? – perguntou a Rafaela.

34

- Eles convidaram-nos para lancharmos juntos. Mas tu tinhas de fugir, não era? – respondeu a

Mariana

- Então do que estamos à espera? Vamos! – disse a Rafaela correndo em direção ao ponto de

encontro.

- Aquela idiota nem sabe onde é. Rafaela é do outro lado! – gritou a Mariana apontando na

direção contrária.

A Rafaela, ao ouvir isso, quase tropeçou e foi para o lado correcto.

- Algumas vezes, esta rapariga surpreende-me. – disse a Mariana, suspirando.

- Deixa lá. É o amor. – exclamou a Joana – É a primeira vez que a vemos assim por um rapaz.

- Pois. Vamos lá. – disse a Mariana – Ela de certeza que precisará da nossa ajuda se desmaiar ao

ver o Tiago.

Quando elas foram para o lugar combinado, elas viram o Tiago, o Filipe e o Carlos. Eles estavam

a conversar enquanto elas viram a Rafaela atrás de uma parede a vê-los, ou talvez a espiar.

- Podemos saber o que pensas que estás a fazer? – perguntou a Mariana.

A Rafaela quase que pareceu que deu um pulo e virou-se para as suas duas amigas e pôs um

dedo em frente da boca, dizendo para que elas ficassem caladas.

- Tu estás a espiá-los? – perguntou a Mariana – Estás maluca?

- Eu só queria saber do que eles estavam a falar. Mas não estou a perceber o que eles estão a

dizer. – respondeu a Rafaela, voltando para os rapazes.

- Sabes que é feio espiar, Rafaela. – disse a Joana.

- Pois, não vais ficar aqui para sempre, pois não? – perguntou a Mariana – Se quiseres ficas,

mas eu e a Joana vamos ter com eles.

Depois de dizer isso, a Mariana pegou na mão da Joana e levou-a com ela em direção dos

rapazes.

- Huh? – A Rafaela olhou para as suas amigas a irem-se e não sabia se devia ir com elas ou ficar

ali.

- Olha quem chegou. – disse o Carlos com um sorriso metediço.

- Desculpem se atrasámo-nos. – desculpou-se a Mariana – É que tivemos alguns obstáculos no

caminho.

Ao dizer isso, ela olhou para a Rafaela que ainda estava escondida por detrás da parede.

- O que foi? Alguém ali? – perguntou o Tiago, olhando por detrás da Mariana.

- É a nossa amiga. Ela é um pouco tímida. – disse a Mariana, fazendo um gesto para que ela

viesse.

35

A Rafaela só engoliu em seco e começou a caminhar devagar.

O Filipe estava de costas a dormir até que ouviu alguém a aproximar-se, então ele olhou para

trás e os seus olhos ficaram bem abertos.

- Tu!? – gritou o Filipe e a Rafaela quando olharam um para o outro, um apontando para o

outro.

- Conhecem-se? – perguntou a Mariana.

- Infelizmente sim. Ele foi contra mim e nem pediu desculpa. – disse a Rafaela, apontando o

dedo para ele como uma acusação.

- Eu? Tu é que vieste contra mim! – disse o Filipe.

- Não fui nada! – gritou a Rafaela.

- Foste sim senhor. – disse o Filipe. As caras deles estavam tão próximas e os olhares cheios de

raiva que até se podiam ver raios entre eles.

- Desculpem pelo atraso. – disse uma voz.

Todos se viraram exceto a Rafaela e o Filipe que ainda estavam no seu pequeno jogo. Era o

João e o Pedro.

A Joana reparou no Pedro e acenou-lhe. Ele notou nela e só acenou com a cabeça,

continuando com o seu olhar vazio.

- Já estava a ver que não vinham. – disse o Carlos.

- Pois, é que tivemos de tratar de uns assuntos. – respondeu o João.

Ao dizer isso, o Pedro virou o olhar para o lado, o Carlos e o Tiago olharam para o João com

olhares sérios e o Filipe retirou o seu olhar da Rafaela para o João, também, com um olhar

sério.

As raparigas não notaram nos olhares mas notaram no silêncio por isso a Mariana decidiu

intervir.

- E que tal irmos lanchar agora? Não foi por isso que viemos todos? – perguntou ela.

- P-pois. Vamos. Nós trocemos muita coisa. – disse o Tiago indo para a mesa.

Um a um, foi para a mesa exceto o Pedro e a Joana. O Pedro continuava a olhar para baixo e a

Joana, ao notando nisso, aproximou-se dele e viu que as suas mãos estavam fechadas.

- G-gon… quero dizer, Pedro. T-tu estás bem? – perguntou ela.

- Sim. Não é nada. – murmurou ele, passando por ela, sem nenhum trocar de olhares e foi para

junto dos outros.

A Joana olhou para ele com um olhar de preocupação até que a Mariana veio ter com ela e

levou-a para a mesa.

36

- Senta-te aqui Joana. – disse o João, sorrindo.

- É q-que.. e-eu… - gaguejou ela, olhando depois para o Pedro que nem parecia importado. A

Mariana, notando na preocupação da amiga, fê-la sentar-se ao lado do João.

A Joana olhou para ela com um olhar de que não acreditava que ela tinha acabado de fazer

aquilo e a Mariana só piscou-lhe o olho com um sorriso e foi sentar-se no único lugar que havia.

Ao lado do Tiago.

A Rafaela também estava sentada ao lado do Tiago, e estava muito envergonhada para falar

alguma coisa com ele. Ela olhou para ele, sem ele notar e viu o seu lindo sorriso que fê-la ficar

mais corada.

Entretanto a Joana ainda estava preocupada com o Pedro e olhava para ele o tempo todo e via

que ele estava ainda a olhar para nada, a mexer na sua comida. Ela queria falar-lhe mas de

repente, ela sentiu um braço à volta dos seus ombros.

Olhando para o lado, a cara sorridente do João apareceu. Ele aproximou-a mais a ele e parecia

que aquele sorriso não era para ela. A Joana só inclinou a cabeça como se não estivesse a

compreender e desta vez, ele voltou a sorrir mas agora era mesmo para ela.

A Joana só ficou vermelha e virou o seu olhar para o chão.

Todos estavam a divertir-se. O Carlos fazia piadas que fazia as raparigas rirem-se, a Mariana

falava tranquilamente com o Tiago, a Rafaela disputava contra o Filipe pela última fatia de pizza

e a Joana conversava com o João enquanto o Pedro olhava para eles com um olhar sério.

Depois do lanche, todos estavam para ir embora até que o Tiago teve uma ideia.

- Ei, malta! E que tal combinarmos alguma coisa para as férias da Páscoa? – perguntou ele.

- Nós? Nós todos? – perguntou a Mariana.

- Sim. Seria uma boa maneira de nos conhecermos melhor. – respondeu o Tiago, mostrando o

polegar para cima.

- Acho boa ideia! Não achas, Joana? – perguntou o João, ainda com o braço à volta dos

ombros dela.

- P-pode ser. – murmurou ela, virando o olhar para qualquer lado sem ser a cara do João.

- Eu acho que vai ser fixe. – disse o Carlos – Contam comigo!

- Eu também penso que é uma boa ideia. – exclamou a Mariana sorrindo para o Tiago e ele

sorrindo de volta para ela.

- Pedro? – perguntou o João, olhando por detrás do seu ombro para o Pedro – Concordas?

O Pedro só ficou com os braços cruzados, ainda com o seu olhar frio até que olhou para a Joana

que estava a olhar também para ele mas logo quando ela notou no seu olhar, ela virou-se.

37

- Hm. Ok. – murmurou o Pedro, com os olhos fechados.

- E então e tu, Rafaela? – perguntou a Mariana.

- Eu não vou se ele for. – exclamou ela, olhando para o Filipe.

- E eu também não vou se ela for. – disse o Filipe com os braços cruzados.

Os dois mandaram um olhar sério um para o outro e depois viraram as costas, os dois com os

braços cruzados e o queixo para cima.

- Vá lá Filipe. Não sejas um desmancha-prazeres. – disse o Carlos pondo um braço à volta dos

ombros dele.

- Pois, meu. Não sejas assim. – disse o Tiago.

- Sim, vá lá Rafaela! Por favor! – disse a Mariana e a Joana, cada uma ao lado da amiga fazendo

beicinho.

- Ok! Ok! Eu vou! – gritou a Rafaela, já farta dos pedidos das amigas.

- E tu, Filipe? – perguntou o João.

- Ok. Contam comigo. – respondeu ele.

- Boa! – exclamou a Mariana, a Joana, o Tiago, o Carlos e o João ao mesmo tempo.

O Pedro só ficou ali com o mesmo olhar, suspirando.

- E então o que faremos para as férias da Páscoa? – perguntou a Mariana.

- Eu estava a pensar em irmos à casa de férias dos meus tios que é como uma mansão e é nos

bosques. – respondeu o Tiago

- Oh! Eu concordo! Eu lembro quando fomos lá na última vez e só para que vos diga, os

biscoitos da tua tia dele são deliciosos! – exclamou o Carlos com baba já a escorrer-lhe da cara.

- Então? Que acham? – perguntou o Tiago.

- Eu vou! – disse o Carlos levantando a mão.

- Eu também vou. – disse o João – E tu, Joana?

- Acho que sim. Acho que posso ir. – respondeu ela.

- Eu também vou. – disse a Mariana, olhando para a Rafaela e vendo a amiga de costas, então

pegou no braço dela e puxou-a para junto de si – E a Rafaela também.

- Filipe? – perguntou o Tiago.

- Ok, pode ser. – respondeu ele, suspirando – Desde que fique bem longe dela!

- Pela primeira vez, concordo contigo. – murmurou a Rafaela.

- E tu, Pedro? – perguntou o João, fazendo todos olharem para ele.

- Hm. – ele não disse nada e só acenou que sim com a cabeça.

38

- Boa! Então está decidido! – exclamou o Tiago contente – Amanhã, temos de estar aqui todos

no portão da escola que a minha tia vem buscar-nos.

Depois de decidirem o que iriam fazer nas férias, foram todos para as aulas. Excepto uma

pessoa.

- Posso saber o que estás a planear? – perguntou o Pedro.

À sua frente estava o João de costas para ele. Os dois estavam sozinhos no corredor, como os

outros alunos estavam todos nas aulas.

- Não sei do que falas. – exclamou o João.

- Tu sabes muito bem do que estou a falar. Tu estavas a atirar-te à Joana. Eu avisei-te para a

deixares em paz.

- Eu lembro muito bem o que disseste. – disse o João – Mas tu sabes que não podes mandar

em mim, não sabes?

Isso fez logo o Pedro calar-se e ficar com um olhar preocupado.

- Eu sei. Mas por favor não a magoes. – murmurou ele, olhando para o chão, o cabelo tapando

os seus olhos.

- Mas claro que não. Ela não é nada igual às outras raparigas. Eu só quero a conhecer melhor.

– disse o João – E saber o que te atraí tanto nela.

Ao ouvir isso, o Pedro olhou para cima, espantado, olhando para o João que só estava a sorrir.

- O que queres di… - disse o Pedro até que foi interrompido por algo, ou alguém.

- João! – gritou o Carlos no fundo do corredor correndo em direção dos dois rapazes – São

eles!

Logo pareceu que o Pedro esqueceu o que aconteceu porque ele e o João ficaram logo sérios.

- Já informaste o Tiago e o Filipe? – perguntou o João.

- Sim. Eles já estão no ponto de encontro. – respondeu o Carlos, firme como se estivesse a

falar com um capitão.

- Ok. É melhor irmos também. – exclamou o João – Pedro?

O Pedro olhou nos olhos do João, ainda pensando no que aconteceu agora mesmo, mas

mesmo assim só acenou que sim com a cabeça e os três rapazes correram para fora da escola.

Entretanto na sala de aula, a Joana estava a olhar para o lugar vazio ao seu lado, pensando

donde essa pessoa estaria.

- Mariana? – perguntou o professor.

- Presente. – respondeu a Mariana levantando o braço.

- Rafaela?

39

- Presente.

- Tiago?

- ….

- Tiago? Alguém viu o Tiago?

Os alunos olhavam uns para os outros sussurrando e a Mariana e a Rafaela olhavam para a

Joana que ainda estava a olhar para o lugar vazio.

- Parece que ele não está. Pedro?

- …

- Sinceramente. Joana?

- …

A Joana não estava a prestar atenção que nem ouviu o seu nome. A Mariana notou nisso e

como estava perto da amiga, deu uma cotovelada o braço da amiga chamando-lhe a atenção. A

Joana virou-se rapidamente e levantou-se do seu lugar.

- P-presente! – gritou ela.

A sala ficou num grande silêncio até que um começou a rir e todos depois seguiram-no. A

Joana ficou tão envergonhada que voltou a sentar-se no seu lugar encolhendo-se pensando em

enterrar-se num buraco e nunca mais sair de lá.

- Silêncio! - gritou o professor, fazendo todos calarem-se – Comecemos a aula.

Enquanto o professor dava a aula, a Joana olhava para as suas mãos debaixo da mesa e depois

para fora da janela, para o céu onde as nuvens dançavam ao doce do vento e o sol mostrando

as suas cores.

- Onde é que te meteste? – pensou ela.

Em outro lugar, cinco homens estavam sentados em cadeiras bem podres, alguns a fumar,

outros a treinar com a sua pistola e outros a dormir.

Estava tudo tranquilo até que houve um estrondo e a porta abriu-se com muita força,

fazendo-a ser destruída já que era bem velha.

Os cinco homens levantaram-se todos exceto aquela que estava a dormir porque quando

ouviu o estrondo, ele caiu logo da cadeira para trás.

- Oh, parece que já chegaram. – disse o que parecia ser o chefe do grupo.

- Desculpem pela intromissão. Mas acho que tem algo que é nosso. – disse um que parecia

novo com a sua voz, mas não se conseguia ver nada porque estava muito escuro.

- Hm. Foi o vosso erro por terem entrado aqui. Agora não poderemos deixar-vos sair daqui

vivos. – disse o chefe apontando a arma e os outros atrás dele, fazendo o mesmo.

40

O rapaz só riu-se e de repente sons de armas foram-se ouvindo nas ruas vazias.

Primavera, 21 de Março de 2015

Na casa da Joana, ela estava a ver-se ao espelho, experimentando montes de vestidos. Até que

ela encontrou um que chegava até debaixo dos joelhos e era cor-de-rosa bebé com um laço à

volta da cintura.

- Mãe, eu vou andando, ok? – gritou ela, já no ponto de sair de casa.

- Ok. Diverte-te! – gritou de volta a mãe dela, que estava lá em cima.

A Joana estava a correr para o ponto combinado em que se encontrariam todos até que

pareceu-lhe notar alguém encostado à tal grande árvore do parque.

A curiosidade conseguiu-lhe ganhar e ela foi em passos lentos para perto dessa pessoa.

Quando ela estava perto o suficiente, ela pode conseguir ver melhor a pessoa.

- Pedro? – exclamou ela, espantada por vê-lo ali.

O rapaz estava encostado à árvore com os olhos fechados a ouvir música até que pareceu tê-la

ouvido porque depois ele tirou os iPhones e olhou logo para ela.

- Oh, és tu. – disse ele.

- O que estás aqui a fazer? – perguntou a Joana – Esqueces-te que nós temos de ir para a

escola para encontrarmos com os outros?

- Eu lembro-me. Eu só queria relaxar um pouco – respondeu ele.

- Porque? Não dormiste bem esta noite? – perguntou ela.

Ele não disse nada. Só continuou a olhar para o chão, o seu cabelo tapando os seus olhos.

- O… que foi? Estás bem? – perguntou a Joana, ficando preocupada.

- Não é nada. Vamos. Os outros devem estar à nossa espera. – disse ele levantando-se e

pegando na mão dela e puxando-a com ele.

- E-ei!! Es-espera! – exclamou a Joana, tentando acompanhar os passos dele.

- Donde é que eles estarão? – perguntou a Mariana olhando pelos lados no portão da escola.

- Tem calma. De certeza que a Joana deve estar quase a chegar. Já sabes como ela é. Ela

atrasa-se sempre. – disse a Rafaela, encostada à parede da escola, com os braços cruzados. Ela

estava usando um top vermelho e uns calções castanhos até aos joelhos. O seu cabelo estava

preso por um rabo-de-cavalo ao lado.

- Pois. Mas ela nunca demorou assim tanto tempo. – explicou a Mariana. Ela estava usando

uma saia nem muito curta nem muito comprida com uma camisola da Hello Kitty e um casaco

41

de cabedal. O seu cabelo preto estava tão bem penteado que todas as raparigas desejariam ter

aquele cabelo.

- O Pedro também está atrasado. – exclamou o Tiago. A Rafaela olhou para ele e desviou logo

o olhar enquanto a sua cara ficava vermelha. O Tiago estava usando umas calças de ganga

pretas e uma camisola bem justa que até via-se um pouco dos seus músculos.

- Hm. Pareces um palhaço com toda a tua cara vermelha. – disse uma voz em frente da Rafaela.

A Rafaela estava a olhar para o chão para tentar esconder a sua cara corada até que levantou

a cabeça para identificar a pessoa que falou agora com ela. Os seus olhos ficaram bem abertos

enquanto olhava para os olhos azuis de um tal loiro.

Ele estava bem giro. Ele estava a usar uma camisa com alguns botões desapertados e estava a

segurar o casaco ao ombro e ele usava umas calças de ganga que pareciam estar rasgadas. A

Rafaela até achou por um segundo que ele estava mais giro que o Tiago mas depois abanou a

cabeça tirando o que disse.

- O que foi? O gato mordeu-te a língua? – disse o Filipe com um sorriso irritante – Ou será que

estás encantada pela minha beleza?

- A-ah. Tch. Pensas tu. Eu nunca olharia para um rapaz como tu nessa maneira. – disse a Rafaela

voltando ao seu olhar de bad girl, virando o olhar.

- O que disseste!? – gritou o Filipe e os dois começaram à bulha.

- Parem os dois. – disse o João, tornando-se sério.

- Ahm. Quanto tempo é que nós teremos ainda que esperar? Estou a ficar com sono. –

exclamou o Carlos bocejando.

- Até eles chegarem. – disse o João.

- Desculpa. Atrasámo-nos um pouco. – disse a Joana chegando a correr com o Pedro, os dois a

tentar respirar de novo.

Todos ficaram calados. A Joana não percebeu porque estavam todos calados até que viu a

Mariana apontando para algo. Foi aí que notou o porquê do silêncio. Ela e o Pedro ainda

estavam a segurar as mãos!

A Joana ficou toda vermelha enquanto o Pedro virava para o lado, escondendo a sua cara

vermelha de todos depois de ter largado a mão dela.

Todos ainda estavam calados pelo cenário à frente deles até que o Tiago fingiu uma tosse.

- Muito bem. Já estamos todos, não é? Mas só que parece que ainda temos de esperar um

pouco pela minha tia. – exclamou ele.

- E que tal nós fazermos um jogo enquanto esperamos? – perguntou a Mariana.

42

- Boa ideia. – disse o Tiago sorrindo para ela. A Mariana sorria de volta para ele.

A Rafaela notou na troca de sorrisos entre eles e começou a sentir alguma coisa estranha

dentro de si.

Durante uns minutos, eles tiveram a jogar até que eles ouviram uma buzina de um carro.

Todos viraram-se para trás e viram a tia do Tiago com um sorriso na cara, acenando.

- Já chegaste! – disse o Tiago feliz, aproximando-se da sua tia.

- Hm. Desculpem se eu me atrasei. Tive de tratar de uns papéis. – explicou a tia – E quem são

essas lindas meninas atrás de ti?

- Ah sim, claro. Tia, esta é a Joana, a Mariana e a Rafaela. – respondeu o Tiago apresentando

cada uma.

- Muito prazer. – disseram as três ao mesmo tempo.

- Que lindas que elas são! Por acaso, Tiago, nenhuma delas é a tua namorada? – perguntou a

tia.

As raparigas ouviram isso e ficaram todas chocadas como os rapazes.

- Tia! – gritou o Tiago, aproximando-se dela e murmurando – Nenhuma delas é a minha

namorada.

- Oh desculpa pelo mal entendido. – desculpou-se a tia – Ah, esqueci-me de apresentar. Sou a

tia do Tiago. Podem chamar-me por Ana. Entrem.

Depois de entrarem todos, a Ana começou a ligar o carro e todos acabaram de ir para o lugar

onde iam passas as férias da Páscoa.

Dentro do carro, o Tiago estava sentado ao lado da sua tia, atrás estava a Rafaela entre o Filipe

o e o Carlos e mais atrás estava a Mariana, ao lado o João e entre ele e o Pedro estava a Joana.

- Então, são todos da mesma turma? – perguntou a Ana.

- Sim, exceto o João, o Filipe e o Carlos. – respondeu o Tiago.

- Hm. Estão bem aí atrás? – perguntou a Ana para a Joana e os outros.

- Sim. Estamos bem. – responderam todos ao mesmo tempo.

A Joana estava a olhar para as suas mãos até que decidiu em dar uma olhadela ao Pedro,

lembrando-se naquela cena com as mãos dadas. Ele estava a ouvir música até que pareceu que

ele notou no olhar dela porque logo depois, ele virou-se e olhou-a nos olhos.

- Queres alguma coisa? – perguntou ele.

- N-não. N-não é nada. – gaguejou ela, virando o olhar.

O Pedro não disse mais nada e voltou para a janela. O que eles não sabiam é que a Ana estava a

ver tudo.

43

Depois de algumas horas, eles tinham chegado ao seu destino. Quando eles saíram do carro,

em frente deles situava uma mansão bem mais alta que as suas casas. À volta deles situava o

bosque. As raparigas, como nunca tinham ido lá, ficaram de queixo caído enquanto a Ana

olhava para elas e ria-se.

- Ainda bem que consegui espantar-vos. Mas não podemos ficar aqui muito tempo. Entrem,

por favor. – exclamou a Ana, dirigindo-as para a porta feita de ouro maciço.

Quando entraram, lá dentro ainda era mais espantoso que lá fora.

Em frente estava a sala de estar com dois sofás grandes e uma poltrona. Depois no lado direito

estava a cozinha. A cozinha estava tão limpa, que os objetos até brilhavam. Logo no lado

esquerdo estava a mesa de jantar. Estava tudo tão arrumado. Uma linda toalha branca estava

em cima da mesa com um lindo vaso com várias rosas dentro. E para ir para cima tinha-se de

subir umas escadas de caracol.

As raparigas estavam a dar voltas pela casa toda enquanto os rapazes e a Ana estavam a levar

as malas para dentro.

- Tem quadros tão lindos! – exclamou a Mariana, encantada ao ver o monte de quadros que

havia na sala.

- Aqui em cima tem montes de quartos e cada um tem um chocolate em cada almofada! –

exclamou a Rafaela, de lá de cima.

- Até tem uma biblioteca enorme! – disse a Joana saindo de uma porta bem grande.

- Hehehehe. Ainda bem que gostem porque é aqui que vão passar as férias. – disse a Ana,

sorrindo.

- É como se estivéssemos no céu! – disse a Rafaela com os braços no ar como se estivesse a

voar.

- Eu acho que estás a exagerar muito. – disse o Filipe passando por ela e sentando-se logo num

dos sofás.

- Desculpa se eu nunca estive numa mansão. – disse a Rafaela, irónica e cruzando os braços.

- Vá lá, não sejam assim. Venham. Eu vou levar-vos para os vossos quartos. – disse a Ana

subindo as escadas e os rapazes e as raparigas indo atrás dela.

- Cada quarto tem 3 camas por isso vocês, meninas, vão ficar juntas e vocês, meninos,

decidem com querem ficar. – disse a Ana, levando as meninas para o quarto delas.

- Oh, eu queria ficar com as raparigas. – choramingou o Carlos, recebendo olhares dos amigos

– O que foi?

44

Entretanto com as raparigas e a Ana, elas entraram num quarto que já estava preparado para

elas. As camas tinham cobertores bem fofos e as cortinas das janelas era bem bonitas e lá fora

havia uma varanda onde se podia ver o bosque melhor.

E havia também uma casa de banho com um cheiro a flores e havia vasos com vários tipos de

flores.

- Espero que gostem. – disse a Ana, sorrindo.

- Muito obrigada! – exclamaram elas, abraçando-a ao mesmo tempo.

A Ana ficou espantada primeiro mas depois começou a rir-se.

- Pronto, pronto. Tem aqui as vossas malas para poderem instalar-se. – disse a Ana pondo as

malas delas ao lado das camas – Eu estarei lá em baixo se precisarem de mim.

- Muito obrigada mais uma vez. –agradeceu a Mariana.

Enquanto a Mariana e a Rafaela iam arrumar as suas coisas, a Ana aproximou-se da Joana.

- Gostas dele? – sussurrou ela.

- Eh? Dele? – perguntou a Joana, não percebendo nada.

- Do Pedro, claro. – respondeu a Ana, dando uma cotovelada amigável no ombro dela.

- P-pedro? M-mas claro que n-não! E-eu e ele só s-somos amigos! – gaguejou ela, as suas

bochechas já ficando vermelhas.

- Ehehehe. Não te preocupes. Eu não conto a ninguém. – disse a Ana, piscando-lhe o olho e

saindo do quarto.

A Joana só ficou ali com a cara toda avermelhada até que a Rafaela atirou-lhe uma camisa

para acordá-la do seu transe e logo depois, a Joana foi desfazer a sua mala.

O tempo passou e já era de noite. As raparigas já estavam deitadas na cama. O quarto estava

silencioso até que se começou a ouvir o ressonar da Rafaela.

O ressonar tornava-se cada vez mais alto que a Mariana teve de usar almofada para tapar as

orelhas mas com o ressonar da Rafaela, era impossível adormecer.

De repente o ressonar parou e a Mariana suspirou de alívio por poder dormir e a Joana estava a

olhar para a luz da Lua que pairava no céu estrelado. Ela começou a lembrar-se do que

aconteceu entre ela e o Pedro e como ele parecia diferente essa manhã. Entretanto, no quarto

dos rapazes, o Pedro também estava a olhar para o luar da Lua e para o céu estrelado,

pensando como reagiu em frente da Joana.

Voltando ao quarto das raparigas, tudo estava calmo. Só se ouvia um silêncio imenso e o luar

da lua caí em cima das três raparigas. Estavam a dormir tranquilas até que o terrível voltou!

45

A Rafaela estava de barriga para cima, ressonando ainda mais alto até que uma almofada voou

contra a sua cara que fê-la cair da cama. Sendo a Rafaela, ela não acordou já que dormia como

uma pedra.

O ressonar parou e a noite silenciosa voltou.

Primavera, 27 de Março de 2015

Os dias foram passando. As raparigas e os rapazes iam dando passeios à tarde para ver as ruas

e à noite, tinha-se de suportar os ressonares da Rafaela, mas também aconteceu coisas, talvez

piores do que o ressonar dela.

A Joana esteve esses dias a tentar falar com o Pedro mas ele ignorava-a sempre e a Rafaela

tem notado como a Mariana e o Tiago andavam muito juntos.

A manhã tinha chegado e a luz do sol entrou pela janela, batendo na cara da Joana. Ela acordou

e espreguiçou, levantando os braços para cima e bocejando ao mesmo tempo. Ela olhou para a

Mariana e para a Rafaela e riu-se ao ver na forma como elas estavam. A Mariana estava com

todos os cobertores caídos no chão e estava ocupando a cama toda e a Rafaela estava caída no

chão, ainda a dormir. A Mariana deve tê-la mandado para o chão com a almofada. Como

sempre.

- Acordem meninas. Já é de manhã. – disse a Joana, levantando e fazendo a cama.

- Hm. Ainda é muito cedo. – murmurou a Rafaela, ainda no chão, agarrando-se aos cobertores.

- Acorda de uma vez, sua preguiçosa. Por tua causa, não consegui dormir direito. – exclamou a

Mariana, atirando-lhe uma almofada.

- Ei! Eu já disse que não tenho culpa! – gritou a Rafaela, olhando depois para onde estava

sentada – E porque raios estou novamente deitada no chão!?

- Ah… Isto vai ser um longo dia. – suspirou a Joana.

Umas horas depois, todos estavam sentados à mesa a tomar o pequeno-almoço. O silêncio era

muito perturbador. A Joana dava umas olhadas para o Pedro mas ele só comia os seus cereais e

a Rafaela parecia que estava a vigiar o Tiago e a Mariana.

A Ana deve ter notado no silêncio porque logo disse uma coisa que espantou todos.

- Vamos todos ao “World of Fun”!

Os rapazes estavam com uma cara de entusiasmo enquanto as raparigas tinham olhares de

não estarem a perceber.

- É um sítio onde vocês vão se divertir muito. – disse a Ana olhando para elas, sorrindo –

Vamos sair às 15:30.

46

Depois disso, ela saiu da mesa e subiu as escadas.

- Afinal, o que é isso do “World of Fun”? – perguntou a Rafaela, comendo o seu pão com

queijo e fiambre.

- É como um parque de diversões mas mais fixe! – respondeu o Tiago, muito excitado por ir lá.

- E o que há lá para fazer? – perguntou a Mariana.

- Há a montanha-russa, o carrossel, a casa assombrada, o túnel do amor… - respondeu o Tiago,

ficando vermelho logo que disse a última palavra.

- Uuhh, parece que o nosso querido Tiago está envergonhado. – exclamou o Carlos dando-lhe

uma cotovelada.

Isso fez com que o Tiago corasse ainda mais.

- Está calado! – gritou o Tiago.

- Vá, estejam os dois calados. – disse o João – Vamos mas é preparar-nos. Entendido?

Os dois rapazes olharam para o João com olhos assustados e suor que parecia que estava a

escorrer-lhe das caras enquanto o João olhava para eles com um sorriso assustador.

- S-sim, s-senhor! – gaguejaram eles, correndo para os seus quartos.

- É impressão minha ou eles estavam assustados? – perguntou a Rafaela.

- É por causa do João. Ele algumas vezes pode ser muito assustador. – sussurrou o Filipe até

que ele notou no João a olhar para ele com aquele sorriso novamente – É m-melhor eu ir t-

também p-preparar-me.

E depois disso ele correu para cima.

- Hahahaha! Medricas… - murmurou a Rafaela.

Logo depois de todos se prepararem, todos se encontraram no portão da mansão.

- Já cá estão todos? – perguntou a Ana.

- Sim. – responderam todos.

- Então vamos! – disse a Ana, sorrindo.

Todos entraram no carro. Quando a Joana entrou no carro, havia um lugar ao lado dela. O

Pedro era o próximo a entrar mas sentou-se à frente, ao lado do Carlos.

A Joana pareceu ficar triste mas depois sentiu alguém a sentar-se ao seu lado. Ela viu o João a

olhar para ela, sorrindo e mostrando-lhe um novo jogo que tinha instalado no telemóvel.

Durante a viagem, o Pedro estava a ver pelo retrovisor, vendo a Joana e o João rindo-se ao

jogar o jogo. A Ana que estava à frente dele notou nisso e só abanou a cabeça.

Depois de algum tempo, eles tinham chegado ao “World of Fun”. As raparigas estavam a olhar

com as suas caras nos vidros, espantadas pela grandiosidade daquele sítio.

47

- Hehehe. Venham meninas. A verdadeira diversão está a prestes a começar. – disse a Ana, já

fora do carro com os rapazes ao lado dela.

Entrando, as raparigas olharam em volta pasmadas. À sua volta, havia montes de diversões.

Montanhas-russas, a casa assombrada, o carrossel, algodão doce, maçã caramelizada,

vendedores de cachorros-quentes, carrinhos de choque e por último, o túnel do amor.

- Então, o que estão à espera? Divirtam-se! – disse a Ana, indo na direção de um café – Eu vou

ir para aquele café. Encontramo-nos lá.

Os rapazes e as raparigas começaram a caminhar pelo parque de diversões. As raparigas não

paravam de elogiar o lugar.

- Uau! Este lugar é espetacular! – exclamou a Rafaela.

- Pois é! Eu nunca estive num lugar como este! – disse a Joana.

- É a vossa primeira vez a vir a um parque de diversões? – perguntou o Tiago, rindo-se.

- Mas claro que não. Mas nenhum deles era como este! – respondeu a Rafaela, continuando a

olhar pelo lugar.

- Muito bem, o que preferem fazer primeiro? – perguntou o João.

- Que tal irmos primeiro à casa assombrada? – perguntou o Carlos.

- À c-casa as-assombrada? – gaguejou a Joana, baixinho mas todos tinham ouvido.

O Pedro olhou para ela, sabendo muito bem que ela tem muito medo de coisas assustadoras.

Ele ia ter com ela para a animar até que alguém chegou primeiro.

- Não te preocupes Joana. Eu estarei ao teu lado o tempo todo. – disse o João pegando-lhe na

mão que fez a Joana corar e virar o olhar.

O Pedro pareceu ter ficado chateado e só começou a andar.

- Vamos andando. – disse ele, com as mãos nos bolsos.

A Joana olhou para ele, vendo as suas costas a afastarem-se e ela começou a pensar que ele

estava a ignorá-la.

- Vamos, Joana? – perguntou o João.

- Ah? Ah! Sim. – respondeu a Joana, indo juntamente com os outros.

Logo eles chegaram à casa assombrada. Quando a Joana ouviu os gritos das pessoas que

estavam lá dentro, escondeu-se logo atrás do João.

O João ficou chocado quando sentiu um par de braços à abraçá-lo por detrás. Ele olhou pelo

seu ombro para ver a Joana com os olhos bem fechados e a tremer muito.

O Pedro notou logo naquilo e por um momento pensou que devia ser ele que devia ter sido

abraçado por ela. Logo tirou isso da cabeça, mas as suas mãos continuavam fechadas.

48

O João, ao notar no olhar do Pedro, teve a ideia em fazer algo para o chatear ainda mais.

- Não te preocupes, Joana. Eu estarei contigo. Por isso, não chores mais, ok? – disse ele

limpando as lágrimas dela com os seus dedos. A Joana corou mas logo a seguir, ela corou ainda

mais que até parecia um tomate.

O João estava abraçá-la.

A Mariana e a Rafaela só ficaram histéricas. O Carlos e o Tiago estavam com os queixos caídos

até ao chão. O Filipe só abanou a cabeça, sabendo muito bem porque é que o João fez aquilo,

olhando depois para o Pedro que estava com as suas mãos já em punhos e via-se como ele

estava tão irritado, ao ver as veias das mãos a aparecerem.

O João só estava a sorrir com aquele sorriso maléfico dele, olhando para o Pedro pelo ombro da

Joana. O Pedro só lhe deu um olhar até que ele sentiu uma mão no ombro dele e olhando pelo

ombro viu a cara do Filipe que estava a dizer-lhe para ele não fazer nada que possa arrepender-

se.

- Tch. – disse o Pedro, indo logo depois em direção à casa assombrada.

- O-obrigada João. – murmurou a Joana, largando-se do abraço – M-mas eu a-acho que c-

consigo f-fazer isto sozinha.

- Nunca se sabe. Mas como queiras. Se precisares de mim, só tens de dizer-me, ok? –

exclamou ele, piscando-lhe o olho.

- Muito bem, duas pessoas de cada vez, por favor. – disse o que parecia ser o trabalhador da

casa assombrada.

Já todos tinham entrado até que os únicos que ficaram foram o Pedro e a Joana. A Mariana

tinha ido com o Tiago, a Rafaela com o Filipe e o João foi obrigado ir com o Carlos porque ele

estava com medo.

- Podem entrar. – disse o homem.

Ao entrar, a porta fechou-se por detrás deles e a Joana deu um pulo. Ela começou a tremer.

- E-está muito escuro. – gaguejou ela.

O Pedro ia abrir a boca para dizer algo mas pensou em ficar calado e começou a caminhar para

a frente.

- Eh? E-espera! – disse a Joana, sentindo de repente uma presença por detrás dela. Ela virou-se

para trás e viu uma mulher de cabelos compridos pretos, tapando-lhe a cara e só vendo a sua

boca, sorrindo para ela com um sorriso, com sangue a sair da sua boca.

- AHHHHHH!!! – gritou a Joana, correndo e indo contra as costas do Pedro.

49

Enquanto o Pedro caminhava, a Joana estava agarrando na parte detrás da camisa dele para

ela poder ficar perto dele e não se perder.

A Joana assustava-se muitas vezes enquanto o Pedro não mudava de expressão. Ele esteve

calado o caminho todo e a Joana só tremia de medo pensando quando é que aquilo ia acabar.

De repente, uma mulher caiu no chão à frente deles, sangue a escorrer-lhe dos olhos.

- Ahhhh!! – gritou a Joana, correndo para trás outra vez.

- Joana! – gritou o Pedro, não vendo mais a Joana – Fogo! Onde é que ela terá ido?

O Pedro começou à procura da Joana, procurando por todo o lado mas aquele lugar era como

um labirinto. O Pedro já estava a pensar que ela pode ter saído da casa assombrada e foi até à

saída.

Quando saiu, viu todos os seus amigos mas nenhum sinal da Joana.

- Pedro? E a Joana? – perguntou a Mariana.

- Nós separámo-nos e eu pensei que ela podia ter saído. – respondeu o Pedro – Ela não está

aqui convosco?

- Não. Nós pensávamos que ela estava contigo. – disse o Tiago.

- Não me digas que ela ainda está lá dentro? – perguntou a Rafaela, parecendo preocupada –

Ela assusta-se muito facilmente, especialmente se estiver sozinha.

- Ahhhhh!!! – Ouviu-se um grito de lá de dentro. Parecia ser a Joana.

- Joana! – gritaram todos.

Antes de isso acontecer, logo quando a Joana afastou-se do Pedro, ela estava a correr até que

de repente, ela parou para conseguir apanhar o fôlego. Logo quando conseguiu respirar normal

de novo, ela olhou em volta vendo que já não estava no mesmo lugar e o Pedro não estava em

lado nenhum.

- P-pedro? Pedro estás aqui? – perguntou ela, caminhando lentamente para ter cuidado se

apanhar mais sustos.

- O-onde estão todos? E-eu não quero ficar s-sozinha. – gaguejou ela.

De repente, ouviu-se um som por detrás dela. O seu corpo paralisou e gotas de suor

começaram a escorrer-lhe pela cara até que ela tomou a iniciativa e virou lentamente a cara.

Ela engoliu a sua própria saliva. Os seus olhos ficaram bem abertos que parecia que iam sair

das pálpebras. As suas pernas começaram a tremer.

Uma rapariga tinha a sua cara muito próxima da dela. Era a mesma rapariga do princípio. O

seu cabelo preto tapava-lhe os olhos e só se via a sua boca. Ela começou a sorrir e sangue saia-

50

lhe da boca e depois ela levantou a cabeça, fazendo os seus cabelos pretos saírem-lhe da frente

dos olhos, mostrando uns olhos todos pretos e sangue a sair deles.

- Queres brincar, irmãzinha? – perguntou ela, com uma voz que fazia arrepios na espinha.

A Joana ficou ali a olhar para ela até que…

- Ahhhh!!! – gritou ela, fugindo.

Entretanto, o Pedro estava outra vez a procurar pela Joana até que ouviu choros vindos da sua

direita.

- Joana!? Joana! – gritou ele.

- Eh? Pedro? – A Joana estava sentada num canto até que ouviu a voz do Pedro - Pedro! Aqui!

- Joana! – gritou ele.

- Pedro! – gritou ela.

Os dois estavam a correr em direção de um do outro até que bateram-se quando

encontraram-se.

- Ai! Eh? Joana? – perguntou o Pedro, vendo a Joana abraçando-o com a cara dela no seu

peito.

Conseguia-se ouvir os choros da Joana até que o Pedro pegou no queixo dela e levantou a sua

cara, vendo lágrimas a escorrerem-lhe dos olhos.

Os dois olhavam um para o outro até que os outros chegaram.

- Estás bem, Joana? – perguntou a Mariana e os outros atrás dela.

- Sim. – respondeu ela.

De repente, a Joana começou a sentir uma pressão nos seus ombros até que viu as mãos do

Pedro em cima dos seus ombros.

- Pedro? – perguntou ela.

- Porquê? – disse ele – Porque é que fugiste assim!? Sabes como estávamos preocupados ao

procurar por ti!? Pensas que vais ter sempre alguém para te ajudar, é!?

Todos olharam para ele, estupefactos. Nunca o tinham visto a gritar assim. Especialmente a

Joana.

A Joana estava a olhar para ele com uns olhos tristes até que baixou a sua cabeça, os seus

cabelos tapando os seus olhos e um sorriso formou-se na sua boca.

- Desculpa então se fui uma chata para ti, todo este tempo. – murmurou ela, saindo a correr.

- Joana! – gritaram a Mariana e a Rafaela antes de ir logo atrás dela.

O Carlos só viu-as a ir-se embora e depois para o Pedro, com os braços cruzados e suspirou

depois. O Filipe só olhou para o Pedro e abanou a cabeça.

51

O Pedro estava a olhar para o chão, arrependido pelo que fez, até que de repente alguém

agarrou-lhe pela gola da camisa.

- Seu…! Tu sabes o que acabaste de fazer!? – gritou o João.

- João! Tem calma! – disse o Tiago.

- Hm. – exclamou o João, largando a gola do Pedro e indo atrás da Joana.

O Pedro baixou a cabeça até que sentiu uma mão no seu ombro. Ao olhar, viu o Tiago com um

pequeno sorriso para tentar acalmá-lo. O Pedro olhou para ele com olhos preocupados e

depois para o chão, as suas mãos fechadas em punhos.

- O que é que eu fiz!? – pensou ele.

Entretanto, a Joana ainda corria pelo parque até que a Mariana e a Rafaela gritaram o seu

nome. Depois disso, a Joana parou de costas para as amigas.

- Joana… - murmurou a Mariana – Ignora o que ele disse. Ele não tem o direito de gritar assim

contigo.

- Pois! A sério! Quem pensa que ele é? Eu juro, que se eu o vir outra vez, vou-lhe apertar o

pescoço assim… e assim… - disse a Rafaela, fazendo gestos de estrangulamento.

- Hehehehe. – riu-se a Joana, virando-se para elas com um sorriso mas com os olhos

vermelhos por ter chorado – Muito obrigada por tentarem me animar. Não têm de se

preocupar comigo. Eu estou bem.

As duas raparigas olharam para a Joana com olhares preocupados mas a Joana apenas passou

por elas sem dizer nada.

O resto do dia foi só silêncio. Nenhum falava com o outro. Até quando foram ter com a Ana,

ela reparou no silêncio mas decidiu em não perguntar nada.

A viagem foi igual. Ninguém falou uma única palavra e desta vez, a Joana estava sentada ao

lado da Mariana enquanto o Tiago estava sentado ao lado do Pedro.

Quando chegaram a casa, as raparigas e os rapazes foram para os seus quartos e o dia pareceu

ter escurecido depressa.

A Joana estava deitada na sua cama enquanto a Mariana e a Rafaela estavam sentadas nas suas

camas a olhar para amiga.

- Ela não está mesmo bem. – disse a Rafaela – Devíamos fazer alguma coisa.

- Hm. Eu concordo. – exclamou a Mariana – Mas não hoje, ela deve estar cansada. Vamos

dormir por enquanto. Amanhã, pensamos em alguma coisa.

- Ok. – concordou a Rafaela, indo para debaixo dos cobertores.

52

Quando foram dormir, desligaram as luzes deixando que a única luz que entrasse no quarto

fosse o da Lua. Mas o que elas não sabiam, era que a Joana estava acordada aquele tempo todo

e tinha ouvido tudo o que elas disseram. Ela só olhou para a Lua mais uma vez e adormeceu.

Entretanto, no quarto dos rapazes, o Pedro estava deitado na sua cama com os braços atrás

da cabeça a olhar para o teto enquanto o Tiago estava sentado na cama ao lado a olhar para

ele.

- Não fiques assim, Pedro. Vais ver que tudo vai se resolver. – disse o Tiago.

- Eu não acho. A forma como lhe falei e como a ignorei o dia todo… Ela deve odiar-me agora. –

murmurou o Pedro.

- Eu nunca te vi assim, Pedro. O que te fez ficar tão atraído por essa rapariga? – perguntou o

Tiago.

O Pedro não disse nada e apenas virou as costas para o amigo.

- Não é nada. Eu só acho que reagi mal, mais nada. Agora vamos dormir. Estou cansado do dia

hoje. – exclamou ele.

- Ok, mas lembra-te. Eu sou teu amigo. Estarei sempre ao teu lado se precisares de mim. –

disse o Tiago, indo dormir.

Fora do quarto, o João estava encostado à porta com as mãos nos bolsos e de repente ele

sorriu.

- Já sei o que devo fazer. – pensou ele, indo em direção do seu quarto.

Primavera, 28 de Março de 2015

Os raios solares entraram na janela e passando pelas cortinas bateram na cara adormecida da

Joana, fazendo-a abrir os olhos lentamente e levantar-se da cama.

Ela foi até à janela e abriu as cortinas e espreguiçou os braços. Logo, ela foi vestir-se e

enquanto ela se vestia, a Mariana já estava a acordar.

- Hm? Joana? Onde vais? – perguntou ela, bocejando.

- Eu vou só dar uma volta pelo jardim da mansão para acalmar as ideias. – disse a Joana

sorrindo.

- Queres que eu vá contigo? – perguntou a Mariana.

- Não te preocupes. Eu posso ir sozinha. Tu tenta mas é dormir mais um pouco. Eu venho

rápido. – disse a Joana calçando os seus sapatos cor de rosa com um lacinho de rosa choque em

cima.

- Ok. – disse ela bocejando outra vez e aconchegando-se na cama.

53

- Até logo. – despediu-se a Joana.

- Até logo. – murmurou a Mariana, até que só se ouviu os ressonares da Rafaela, quando a

Joana fechou a porta.

De repente, a Joana ouviu uma porta a fechar-se ao seu lado. Ela olhou e o seu corpo paralisou.

À frente dela estava o Pedro com a mesma expressão na cara como ela. Os dois estavam a olhar

um para o outro como se não se vissem há muito tempo.

- D-desculpa, mas tenho que ir. – murmurou ela, correndo para as escadas.

- Esp… - disse o Pedro mas a Joana já se tinha ido embora – Fogo!

A Joana correu para o jardim e quando chegou lá, parou espantada pela beleza dele. Havia

flores de muitas cores e até havia um banquinho com uma fonte ao lado.

Ela decidiu sentar-se e olhar para os pássaros que mergulhavam na fonte.

De repente, alguém tapou a sua visão.

- Adivinha quem é. – disse uma voz muito familiar que fez a Joana sorrir.

- Hm. Mariana? – disse a Joana, rindo-se depois.

- Errado. – disse a voz, tirando as suas mãos da visão da Joana e pondo a sua cara à frente da

Joana, fazendo beicinho. – Sou eu o João.

- Hehehe. Eu sabia que eras tu. Estava só a brincar contigo, tontinho. – disse a Joana, piscando-

lhe o olho.

- Não acredito que caí nessa. – disse o João, caindo dramaticamente no banco.

- Mas o que estás aqui a fazer a estas horas, João? Pensava que os rapazes eram os que

acordavam mais tarde. – disse a Joana.

- Eu não. Eu gosto de acordar cedo. E também tinha-te visto a vir para aqui por isso decidir ir

ver o que estavas a fazer. – respondeu o João, olhando o jardim – É bonito, não é?

- Pois é. Nunca tinha visto um jardim como este. – disse a Joana, observando o jardim.

O João desviou o olhar do jardim para a Joana. Ele conseguia ver melhor os olhos castanhos

dela que mostravam alegria e os seus cabelos curtos castanhos que voavam ao doce vento. Ele

viu que ela tinha um cabelo à frente da cara, por isso a sua mão pareceu mexer sozinha e pôs o

cabelo atrás da orelha dela que a fez espantar-se e virar para ele chocada.

Quando o João apercebeu o que fez, ele corou e virou a cara para o lado. A Joana ainda estava

a olhar para ele, espantada.

- Porque é que fiz aquilo? – pensou ele.

- B-bem eu acho que é melhor voltarmos. – disse ela, levantando-se.

- P-pois. – disse ele, andando ao lado dela para dentro da mansão.

54

O que eles não sabiam é que o Pedro tinha visto tudo. Depois de a Joana ter fugido dele, ele

foi atrás dela e quando chegou viu o João com ela. Eles pareciam felizes juntos. É a culpa dele

que a Joana não queria aproximar dele. Se ele não lhe tivesse gritado daquela maneira…

- Aquilo já aconteceu antes… - murmurou ele – Quando éramos pequenos…

- Gonçalo! Gonçalo! – gritou a pequena Joana, vagueando no parque à noite – Onde estás? Não

me digas… que estou sozinha….

De repente, ela ouviu um som por detrás dela. Ela virou-se e um fantasma apareceu à sua

frente, fazendo-a gritar e cair de rabo no chão.

- Hahahahaha!! Consegui assustar-te! Então, não foi divertido Joana? Hm? Joana? – perguntou

o Gonçalo, tirando o lençol branco que estava usando para disfarçar-se de fantasma.

A Joana não parou de chorar e só olhou para ele com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

- Oh! Desculpa Joana! Eu não sabia que te ia assustar assim tanto! Desculpa-me, por favor! Eu

peço imensas desculpas! – implorou o Gonçalo, mas a Joana não parava de chorar.

O Gonçalo ficou desesperado e olhou em volta do parque escuro e não havia ninguém à volta.

De repente, os seus olhos caíram sobre uma rosa cor-de-rosa que parecia brilhar naquela noite

escura.

Ele pegou nela e pôs em frente da cara da Joana. A Joana abriu os olhos vendo a rosa em

frente da sua cara e um sorriso na cara do Gonçalo. Ele pegou nas mãos dela e pôs a rosa em

cima das mãos pequeninas dela, delicadamente para não a magoar por causa dos espinhos.

- Isto é um pedido de desculpas. Espero que possas perdoar-me. - exclamou ele, olhando para

a pequena rapariga que estava ainda a olhar para a rosa espantada pela beleza dela – Parece

que não serve. Eu compreendo se tu n…

Ele calou-se logo. Ele olhou para a rosa que estava na mão dela que agora estava entre a mão

dela e dele. Ele sentiu os lábios suaves a desaparecerem-lhe da sua bochecha e olhou, com a

cara vermelha, para a cara vermelha da Joana.

- Eu desculpo-te Gonçalo. – disse ela, sorrindo para ele.

Ele olhou para ela, ainda chocado mas depois sorriu para ela.

- Ainda bem. – disse ele, mostrando os seus dentes brancos – Agora, vamos. Eu levo-te a casa.

- Hm. – concordou ela, sorrindo.

E assim, os dois foram andando com as mãos entrelaçadas e na outra mão da Joana, ia a rosa

cor-de-rosa.

- A culpa foi outra vez minha… - murmurou ele, enquanto por detrás dele, estava a Ana a vê-lo

e ver o quanto triste ele estava.

55

- Mudaste muito… Gonçalo. – disse ela, indo-se embora.

Na hora do almoço, todos estavam sentados a comer. A Joana, por sua sorte, teve de sentar-

se ao lado do Pedro, que andava a brincar com a comida sem olhar para ela e nem dizer uma

única palavra. A Mariana e a Rafaela olharam para os dois com sérios olhares enquanto a Ana

só sorria.

- Já que estão aqui todos, eu queria-vos anunciar uma coisa. – disse a Ana, apanhando atenção

de todos – Vamos todos dar um passeio à floresta.

- O quê?? – disseram todos. Alguns felizes e outros aborrecidos.

- Parece que realizaram uma visita guiada para a floresta. Como vi que estavam todos

aborrecidos, pensei em levar-nos lá. – respondeu a Ana, com um sorriso.

- Temos mesmo que ir? – queixou-se o Carlos – Eu estou muito cansado.

- Tu não fizeste nada ainda. Como podes estar cansado? – exclamou o Tiago.

- Só estou, ok!? – queixou-se o Carlos.

- Pronto, pronto, acalmem-se. – disse a Ana – Vamos hoje à tarde, por isso preparem-se.

Logo depois de todos se prepararem, a Ana levou-os para a entrada da floresta.

- Já chegamos! – disse a Ana, saindo do carro.

Todos olhavam para a floresta com espanto. A floresta era muito grande. Via-se como esta

viagem ia ser emocionante.

- Muito bem. Divertem-se. – disse a Ana, despedindo-se.

- Eh?? A senhora Ana não vem connosco? – perguntou a Mariana.

- Mas claro que não. Já sou muito velha para coisas como essas. Eu vou só aquele café ali ao

lado. Divertem-se! – exclamou ela, entrando no carro e indo-se embora.

- Ela acabou de deixar-nos aqui… - disse a Rafaela chocada.

- Já que estamos aqui, mais vale irmos, não? – perguntou a Joana.

- Hm. Talvez seja divertido. – disse o Filipe.

Os oito entraram na floresta. A Joana tirava fotos de tudo, a Mariana e o Tiago conversavam

sem parar, o Pedro e o João só caminhavam sem dizer nada, o Carlos só ficava cansado de tanto

andar e também, as discussões da Rafaela e do Filipe.

- Tem mais cuidado! – gritou a Rafaela –Quase me fizeste cair, ao contrário da outra vez que

me fizeste cair e nem pediste desculpa!

- Tu é que devias olhar por onde andas. Eu estava a andar nas calmas e tu meteste de repente

na minha frente! – gritou o Filipe – Idiota!

- Quem estás a chamar idiota, Idiota!? – gritou a Rafaela.

56

Os outros olharam para eles como se aquilo fosse normal e que era.

- Eles nunca pararão de discutir, pois não? – disse o Carlos.

- Parece que não. – disse o Tiago, suspirando – Eh?

- Hm? O que foi Tiago? – perguntou o Carlos.

- Eu acho que ouvi alguma coisa. – respondeu o Tiago, tentando ouvir melhor – Parece que

vem daqueles arbustos.

- Nos arbustos? – perguntou o João e todos começaram a aproximar-se até que de repente,

nesses arbustos, saiu um urso enorme.

- U-um…. Um urso!! – gritaram todos e fugindo.

A Rafaela e o Filipe ouviram os gritos e viram os seus amigos a correrem na sua direção.

- Corram! – gritou o Tiago, pegando no braço do Filipe e a Mariana pegando no braço da

Rafaela e todos fugiram do urso que estava indo atrás deles.

- Oh não! – gritou o Carlos chegando a um penhasco. Por baixo, havia um rio.

- E agora? Estamos encurralados! – gritou a Mariana.

A Joana tremia de medo só que logo sentiu um braço à volta dos ombros. Ela olhou e viu o

João que estava a olhar para ela como se tudo se fosse resolver.

- Ele está a chegar! – disse o Tiago.

De repente, a Rafaela sentiu o chão a mexer-se por debaixo dos seus pés. Ela olhou para baixo

e viu o chão a partir-se.

Logo, o chão rachou-se e a Rafaela caiu. Tudo foi tão rápido. Enquanto caía, a Rafaela via o céu

por cima dela e apercebendo logo o que aconteceu, ela fechou os olhos para não ter que ver a

sua morte.

- Rafaela! – gritou uma voz.

Ela abriu os olhos e viu o Filipe a cair, tentando agarrar na mão dela.

- Filipe! – gritou ela tentando alcançá-lo.

Ao tentarem, conseguiram finalmente. O Filipe puxou-a para ele e abraçou-a para a salvar da

queda. Ele olhou para baixo, já vendo o rio a aproximar-se. Ele fechou os olhos e abraçou a

Rafaela com muita força, que devolveu o abraço. A única coisa que se ouviu, foi o som dos dois

a caírem ao rio.

- Rafaela!! – gritaram a Mariana e a Joana.

- Filipe!! – gritaram os rapazes.

O som do urso chegou ainda mais perto até que ele estava mesmo em frente deles. O urso

parecia que estava prestes a atacar.

57

Todos estavam a recuar até que a Joana, que era a que estava mais atrás, chegou ao fim do

penhasco. Recuando ainda mais, ela deu um passo a mais e ela escorregou.

O Pedro virou para trás com os olhos chocados. Ele estava a ver a Joana a cair para trás e correu

até ela com a mão esticada tentando agarrá-la a tempo e ao conseguir ele foi puxado

juntamente com ela.

- Ahhhh!!! – gritaram os dois.

- Rafaela! Pedro! – gritaram os outros.

A Joana estava com os olhos fechados por causa do medo mas depois sentiu alguém a apertá-

la. Ela abriu os olhos e encarou os olhos castanhos do Pedro.

- Agarra-te bem. – avisou ele.

A Joana acenou que sim com a cabeça e abraçou-o com força, fazendo com a cara dela

estivesse contra o peito dela, fazendo-a ouvir os bateres do coração dele.

Os dois caíram também ao rio.

- Oh não! E agora, o que fazemos? – perguntou o Tiago, afastando-se do urso que

aproximava-se cada vez mais.

- Só há uma única hipótese. – respondeu o João.

- E qual é? – perguntou o Carlos.

- Teremos de saltar. – disse o João, com um olhar sério.

- O quê? Estás doido?? Morreremos! – exclamou a Mariana, cheia de medo.

- Preferes ser morta pelo urso!? – gritou ele, espantando a Mariana – Muito bem, toda gente

concorda comigo?

O Carlos e o Tiago olharam um para o outro e concordaram. A Mariana ainda estava com

medo mas concordou na mesma.

O urso aproximava-se mais e quando levantou a sua pata e as suas garras brilharam à luz do

Sol, ele quase atacou a Mariana se eles não tivessem saltado logo a seguir.

O som dos pássaros soava no céu enquanto o sol brilhava até mais não. Os seus raios de sol

batiam nas árvores, na relva e no rio.

Dois corpos estavam deitados, abraçados um ao outro, na relva com o rio ao lado. Entretanto,

os raios do sol batiam na cara de um deles, fazendo-o abrir os seus olhos azuis. O seu cabelo

loiro brilhava à luz do sol.

Ele olhava em volta, não sabendo onde estava.

58

- O… que aconteceu…? Eu só me lembro de fugirmos de um urso e depois ficamos

encurralados num penhasco e depois… - disse o Filipe, lembrando-se de tudo – Rafaela!

Rafaela!?

De repente, ele sentiu um aperto na mão. Ele olhou para o lado e viu a Rafaela, dormindo com

a mão dela na dele.

Ele começou a ficar vermelho até que a Rafaela começou a mexer-se. Os seus olhos abriram-se

e olharam para o Filipe. Primeiro, não via muito bem quem era por causa do sol, mas quando a

sua visão ficou melhor é que ela pode ver a cara do Filipe fazendo-a corar e sentir alguma coisa

na sua mão. Ela olhou para baixo e viu a sua mão com a do Filipe que a fez corar ainda mais,

fazendo-a ficar como um tomate.

De repente, ela deu um murro mesmo em cheio na cara dele, fazendo-o cair para trás e largar

a mão dela.

- P-para é que foi isso!?!? – gritou ele, com a mão no nariz.

- Quem te disse que podias agarrar-me na mão!? – gritou a Rafaela, levantando-se – Eh? Onde

estamos?

- Não te lembras? – perguntou o Filipe, levantando-se com a mão ainda no nariz – Tu caíste do

penhasco e eu ajudei-te ao saltar do penhasco para tentar apanhar-te. Deve ser por isso que as

nossas mãos estavam agarradas. Eu nunca pensaria em agarrar na tua mão por nada deste

mundo. Sabe-se lá se essas mãos não têm micróbios.

- Seu…! – A Rafaela começou a enfurecer-se até que pensou que não era altura para isso –

Agora não temos tempo para discutirmos. Temos de pensar em como voltar para casa e

encontrar os outros.

- Tens razão. – disse o Filipe, cruzando os braços e começando a caminhar para dentro da

floresta.

- Ei! Onde pensas que vais!? – perguntou a Rafaela.

- O que é que tu achas? Vou ter com os nossos amigos. Eles não devem estar longe. –

respondeu ele, continuando a caminhar.

- Fogo. Porque tive que ficar com ele? – A Rafaela queixou-se mas seguiu-o na mesma.

Entretanto, em outro lugar, a Joana estava andar pela floresta com a sua roupa toda molhada

de cair ao rio.

- Acho que é por aqui! – exclamou ela, apontando para a frente.

Por detrás dela, estava o Pedro e o João.

- Isso foi o que disseste há 3 minutos atrás. – disse o Pedro.

59

- E-eh… b-bem… - gaguejou a Rafaela.

- Vá lá, Pedro. A Joana pelo menos está a tentar. Ao contrário de ti… - disse o João,

murmurando a última parte.

O Pedro ouviu o que ele murmurou e olhou para ele com olhos de raiva mas o João apenas

sorriu-lhe e foi ter com a Joana.

O Pedro viu como os dois conversavam e ele só olhava para eles com desprezo e andou atrás

deles com as mãos nos bolsos.

Em outra parte da floresta, o Tiago passava pelos arbustos afastando-os do caminho.

- Já chegámos? – disse o Carlos, bocejando.

- Eu já te disse que não! – disse o Tiago, já farto de ouvir a mesma coisa.

- Vá lá, não se zanguem. A nossa prioridade é encontrar um caminho para casa. – disse a

Mariana.

- Tens razão, Mariana. – disse o Tiago olhando para ela com um sorriso.

A Mariana só desviou o olhar para esconder a sua cara vermelha. O Carlos notou nisso e uma

ideia veio à cabeça.

- Acho que vou divertir-me um pouco. – pensou ele rindo-se dentro da cabeça.

Com a Rafaela e o Filipe, eles ainda caminhavam entre a floresta.

- Tens a certeza que é por aqui? – perguntou a Rafaela.

- Hm. O meu sentido de direção nunca engana. – disse o Filipe.

- Porque é que eu acho que estamos feitos? – murmurou a Rafaela.

A Rafaela continuava a andar, cansada dos pés até que foi contra as costas do Filipe.

- Fogo! Porque é que paraste? – perguntou a Rafaela, olhando para ele e depois em frente. Em

frente deles havia um riacho – Um riacho?

- Não há mais caminhos para passar para o outro lado. Teremos de passá-lo. – disse o Filipe.

- Como pensas fazer isso? – perguntou a Rafaela.

- Vamos por cima destas pedras. – respondeu o Filipe, saltando de pedra em pedra, num

caminho que era feito por pedras – Mas tem cuidado. Estas pedras estão escorregadias por

causa da água.

- Hm. Eu consigo cuidar de mim mesma. Obrigado. – disse a Rafaela, saltando para a primeira

pedra e depois para a próxima e continuamente até que na sexta pedra, ela escorregou e caiu

para trás.

A Rafaela estava à espera do grande impacto até que não sentiu nada. Ela abriu os olhos e

encarou uns olhos azuis. Foi aí que ela reparou. O Filipe salvou-a. Outra vez. Ele voltou para trás

60

e salvou-a a tempo pegando na cintura dela. Se ele não a tivesse salvado a tempo, ela estaria

por agora inconsciente.

- Eu disse para teres mais cuidado. – disse ele, ajudando-a a pôr-se de pé e largar a sua cintura.

- O-obrigada. – sussurrou a Rafaela. Vermelho em toda a sua cara.

- Continuemos. – disse ele, saltando para outra pedra e virando-se para a Rafaela, dando-lhe

uma mão.

- O que estás a fazer? – perguntou a Rafaela.

- Só estou a certificar-me que não cais outra vez. – disse ele, suspirando.

A Rafaela olhou para a mão dele e depois para ele e depois para a mão até que decidiu aceitar a

sua ajuda. Logo depois ao passarem o riacho, eles continuaram a sua caminhada até que de

repente a Rafaela tropeçou numa pedra, fazendo-a cair mas o Filipe conseguiu apanhá-la. Outra

vez.

- Vê se tens mais cuidado. – avisou o Filipe.

- Não preciso que me dizes o que tenho de fazer. – disse ela, pondo-se de pé e começando a

caminhar até que o seu tornozelo começou a doer.

- Estás bem? – disse ele, olhando para o tornozelo dela – Magoas-te no tornozelo? Deixa-me

ver.

- N-não é preciso… eu estou bem. – disse a Rafaela.

- Como se eu fosse mesmo acreditar nisso. – disse o Filipe, observando o tornozelo – Parece

partido.

- Eu já te disse que eu est… o que estás a fazer? – perguntou a Rafaela espantada, vendo o

Filipe com as costas viradas para ela, com os joelhos dobrados.

- O que é que achas? Vá, sobe para as minhas costas. – disse ele ficando um pouco vermelho.

- Eu já te disse que posso andar! – disse a Rafaela, dando um passo até que o seu tornozelo

começou a doer outra vez.

- Não sejas chata e sobe de uma vez. – disse ele nas calmas.

- Pronto mas não é porque tu disseste. – murmurou ela subindo para as costas dele.

Enquanto eles caminhavam, a Rafaela tinha a cara encostada nas costas do Filipe e a sua cara

estava vermelha.

- Porque é que de repente, estou a sentir-me quente? E porque é que o meu coração está a

bater tão fortemente? – pensou ela – Porque é que me sinto assim sempre que estou com ele?

Não, não pode ser. Devo só estar a pensar em coisas.

De repente, a Rafaela começou a adormecer.

61

Enquanto com a Joana, o Pedro e o João, a Joana não estava a sentir-se bem e estava a sentir-

se fria. O Pedro notou nisso mas não disse nada. Apenas tirou o seu casaco e pôs em cima dos

ombros dela. Isso fez com que ela olhasse para ele com um olhar de chocada mas ele apenas só

olhou para a frente e continuou andar deixando ela para trás.

Ela ficou ali parada a vê-lo ir e depois para o casaco nos seus ombros. Ela cobriu-se mais no

casaco e apenas sorriu, indo logo atrás deles.

No outro lado da floresta, a Mariana já estava a ficar cansada das pernas que quase caiu para

a frente até que alguém apanhou-a. Ela olhou para trás e os sues olhos olhavam para os olhos

verdes do Carlos.

- Pareces cansada. – disse ele sorrindo que era um pouco estranho já que ele era um

pervertido com as mulheres.

- S-sim, um pouco. – murmurou a Mariana, desviando o olhar.

- Se quiseres, eu posso te ajudar. – disse ele.

- O que queres di… Ah! – exclamou a Mariana, enquanto o Carlos pegava nela a estilo de

noiva, surpreendendo-a.

- Assim já não terás de andar mais. – disse ele, piscando-lhe o olho.

A Mariana não conseguia dizer nada. É como se ela tivesse perdido a voz. O Tiago estava a ver

tudo e ele sentiu uma dor no peito ao ver os dois juntinhos. Não sabendo porquê, ele

aproximou-se deles, fazendo-os olhar para ele e ele tirou a Mariana dos braços do Carlos e

pegou nela em estilo de noiva.

- T-tiago? – gaguejou ela.

- E-eu acho que d-devia ser eu em levar-te, j-já que o Carlos é um pervertido. E-eu não confio

nele ao teu lado. – disse ele, apercebendo-se no que fez e a sua cara ficou toda vermelha.

A Mariana notou no vermelho e apenas riu-se baixinho. O Carlos estava atrás deles sorrindo.

- Sucesso! – pensou ele.

Voltando para a Joana e os rapazes, a Joana não estava a sentir-se melhor. Na verdade, ela

começou a balançar de um lado para o outro e a sua visão começou a ficar toda desfocada.

De repente, ela caiu de joelhos e ao ouvir o barulho e o Pedro e o João viraram-se para trás e

correram até ela.

- Oi! Estás bem? – perguntou o Pedro.

- S-só estou um pouco cansada…só isso. – murmurou ela, com os seus olhos a fecharem.

O João pôs a mão na testa dela.

62

- Está quente. Deve estar com febre. – explicou o João – Temos de encontrar um lugar para ela

descansar.

- Ok. Eu levo-a. – disse o Pedro, pegando nela a estilo de noiva e continuando a caminhar.

O João apenas olhou para ele espantado mas depois um sorriso apareceu na sua cara.

Quando encontraram um lugar, o Pedro encostou a Joana a um tronco de uma árvore que era

maior do que todas as outras e o sol entrava fazendo com que a árvore e tudo que estivesse à

volta brilhasse.

- E agora o que fazemos? – perguntou o Pedro, não tirando os olhos da Joana – Não podemos

ficar aqui por muito tempo. Ela precisa de cuidados médicos.

- Hm. Já sei! Eu vou à procura dos outros enquanto tu tomas conta dela. – disse o João,

virando as costas para ele – Mas isso não quer dizer que eu vá desistir.

- Eh? – perguntou o Pedro, confuso mas o João já tinha ido – O que é que ele queria dizer com

aquilo?

Ele esqueceu isso e olhou para a Joana. Ela parecia tão serena e pura. O Pedro quase lhe deu

uma festa na cara mas depois lembrou-se que a podia acordar então por isso recuou.

Ele encostou-se à árvore e olhou para cima, vendo um casal de pássaros no ninho. Ele queria

desculpar-se à Joana e mesmo ela estar dormindo, ele decidiu dizer o que sentia por dentro.

- Eu sei que podes não estar a ouvir, mas este é o melhor tempo para te dizer que peço

desculpa! – disse ele, ficando vermelho de vergonha – Ainda me lembro daquele dia, quando

éramos pequenos, em que te assustei e tu desataste a chorar. A culpa voltou a ser minha. Eu

não devia ter gritado daquela maneira contigo. Eu sabia que tu eras muito assustadiça. Por isso,

peço desculpa pelo que te fiz.

O Pedro viu ao lado, uma rosa cor-de-rosa, igualzinha a que tinha dado à Joana há muito

tempo. Ele pôs a rosa atrás do ouvido dela, fazendo-a mexer-se que fez assustar o Pedro.

- Gosto tanto de ti, Pedro. – murmurou ela, com um sorriso na cara.

O Pedro ficou chocado e a sua cara ficou toda vermelha, até que ouviu a suave respiração da

Joana, indicando que ela estava a dormir.

- Fogo. Agora andas a dizer coisas por causa da febre. – disse o Pedro, encostando a cabeça

dela no ombro dele e pondo a cabeça dela em cima da dela – Mas não me importaria se isso

fosse verdade…

E depois disso, adormeceram os dois encostados à grande árvore que parecia estar feliz.

Enquanto isso acontecia, o Filipe já estava a ficar cansado e então decidiu em parar por um

bocado.

63

Ele pousou a Rafaela contra a árvore até que ele encarou a cara dela. Ela parecia mais

tranquila e serena quando dorme.

- Ao contrário, quando está acordada… - pensou o Filipe, pensando em todos os momentos

que ela tratou-o mal.

Ele sentou-se ao seu lado e de repente, ele sentiu um peso no ombro. Ele olhou para o lado e

viu a doce cara da Rafaela, deitada no seu ombro e mais perto da cara dele.

- Porque é que o meu coração está a bater tanto? – pensou o Filipe, aproximando a sua cara

da dela – Ela parece um anjo dormindo assim…

Os lábios dele quase tocaram nos dela até que ela murmurou alguma coisa, fazendo-o recuar.

- O que se passa comigo? Será que eu possa estar… - pensou ele, olhando para a cara calma da

Rafaela – Devo só estar cansado. É melhor eu relaxar um pouco também.

E depois disso, ele adormeceu, encostado à cabeça dela.

E assim, o par ficou dormindo encostado à “tal” árvore grande, não sabendo que havia outro

par dormindo da mesma forma, no outro lado da árvore.

Um raio de sol caiu na cara do Filipe, fazendo-o abrir os olhos azuis. Ele esfregou os olhos,

levantando-se ao mesmo tempo e olhando em redor. Ele já não estava na floresta. Agora

estava numa casa feita de madeira.

- Já acordaste, rapaz? – perguntou uma voz idosa.

O Filipe olhou para o lado e viu um idoso com umas longas barbas brancas, entrando por uma

porta feita de madeira.

- O-onde estou? – perguntou ele.

- Está na minha casa. Ainda bem que os teus amigos conseguiram encontrar a ti e à tua amiga.

– respondeu o velho.

- Amiga? – murmurou o Filipe, olhando para trás do idoso, vendo a Rafaela a dormir numa

cama – Desculpa por perguntar, mas quem é você?

- Eu chamo-me Rui Rocha. Mas podes apenas chamar-me Rui. A Ana é minha amiga.

- A senhora Ana? – disse o Filipe, sem perceber nada.

- Ela já foi minha aluna há muito tempo. Eu era professor de história. Mas reformei-me 10

anos depois. Eu não sabia que a Ana vivia por estes lados mas depois encontrei-a naquele café.

Ela falou-me de todos vocês. Especialmente de vocês, rapazes e do vosso passado.

O Filipe paralisou.

- Mas não te preocupes. Eu não vou contar a ninguém. Eu também faria o mesmo se isso

acontecesse comigo. – disse o Rui–Bemeu vou deixar-te descansar.

64

- Espera! Como nos encontrou? – perguntou o Filipe.

- Acho que devia ser os teus amigos a contar-te isso. – disse o Rui, abrindo a porta e

mostrando o Carlos, o Tiago e o João.

- Malta! – disse o Filipe, cheio de alegria por eles estarem bem.

- Ainda bem que estás bem, Filipe. – disse o João.

- Bem, vou deixar-vos a conversar. – disse o Rui, saindo do quarto.

- Como é nos encontraram? – perguntou o Filipe.

- Bem… - disse o Tiago, coçando a cabeça.

- Ei! Estás ouvir isto? – perguntou o Carlos, ouvindo um som de arbustos a mexerem-se.

- Parece que vem aí alguma coisa. – disse o Tiago, pousando a Mariana no chão – Fica aqui,

ok?

- Hm. – disse a Mariana, um pouco assustada.

- Aos três, atacamos. – disse o Tiago - Um…dois…

O som estava a aproximar-se.

- Três!

Os dois saltaram para os arbustos, parecendo ter caído nalguma coisa.

- Apanhámo-lo! – disse o Carlos.

- Hnghh. Que dor! – Ouviu-se por debaixo deles.

- Os ursos não falam, pois não? – perguntou o Carlos.

Os dois rapazes olharam para o tal urso e deram de caras com o João.

- João! - gritaram os dois, ajudando-o a levantar-se.

- Obrigada… Mas vocês estão malucos!? – gritou o João, fazendo os dois recuarem de medo –

Eh? O que foi?

Os dois apontaram para trás, tremendo de medo. O João olhou para trás e o urso do penhasco

estava atrás dele. O urso olhou para ele até que bramiu que fez arrepios na espinha do João e

fazendo-o recuar.

- O q-que f-fazemos, João? – gaguejou o Carlos.

- U-uma p-palavra… Corram!!! – gritou o João, correndo juntamente com o Carlos e o Tiago,

que pegou na mão da Mariana e puxou-a com ele.

Os quatro correram do urso até que o João não via por onde ia e foi contra alguma coisa. Ele

olhou para cima e encarou a cara de um velho com grandes barbas brancas.

- Oh tem cuidado jovem. – disse o velho – São estes os tais rapazes, Ana?

65

- Oh, sim. São eles e este aqui é o meu sobrinho. – disse a Ana, sorrindo com o braço à volta

dos ombros do Tiago -. E parece que ele tem uma namorada que não me contou.

O Tiago não percebeu o que ela estava a dizer até que ela apontou para o lado e ele viu que

ainda estava a segurar na mão da Mariana. Os dois coraram-se e largaram as mãos.

- Hehehehe. Mas onde estão os outros? – perguntou a Ana, olhando para o lado e do outro e

não vendo nem a Joana nem os outros.

- Ah, pois! Ana, tu tens de nos ajudar! – disse o João – Nós caímos de um penhasco quando

fomos perseguidos por um urso e depois separámo-nos. Eu estava com o Pedro e a Joana, mas

a Joana começou a ter febre e quando fui à procura dos outros, o Pedro ficou a tomar conta

deles!

- Oh não! Rui, tu sabes muito bem esta floresta. Podes ajudar-me a encontrar as crianças? –

perguntou a Ana.

- Mas claro. – disse o Rui – Mostra-me o caminho onde estão os teus amigos.

- E depois disso encontramos o Pedro e a Joana e por acaso, vocês também estavam lá. –

explicou o Tiago.

- Pois, e muito juntinhos! – disse o Carlos, fazendo sons de beijos.

- M-mas o que estás a d-dizer!? – disse o Filipe – N-não aconteceu nada!

De repente, a Rafaela começou a acordar. Os rapazes viram-na a acordar.

- Bem, parece que temos de ir. Bye Bye! – disse o Carlos e os outros saindo do quarto.

- Seus… e depois chamam-se amigos de confiança. – disse o Filipe.

- Ah… o-onde estou…? – perguntou a Rafaela, levantando-se e vendo o Filipe no outro lado do

quarto em cima da cama.

- O-oh olá. Parece que tenho muito para te explicar. – disse o Filipe, coçando a cabeça e

cruzando as pernas.

Entretanto no quarto ao lado, estava o Pedro deitado na cama até que ele despertou. Ele olhou

para o lado, não lembrando como foi ali parar. Só se lembra que ele estava com a Joana e

depois ele adormeceu.

De repente, o senhor Rui abriu a porta, espantando o Pedro.

- Ah, ainda bem que já acordaste jovem. Estão todos à tua espera. – disse o senhor Rui.

- Q-quem é… - O Pedro ia perguntar até que foi interrompido pelo Rui.

- É melhor serem os teus amigos a explicarem-te tudo. Estão todos lá em baixo. – disse o Rui,

saindo do quarto.

- O que afinal aconteceu? – pensou ele – Joana!

66

Ele saltou da cama e correu até à porta que de repente abriu-se sozinha. Em frente dele, estava

a Ana com um tabuleiro com comida nas mãos.

- Pedro! Já acordaste. Ainda bem. – disse a Ana, sorrindo – Ela está na porta ao lado.

- C-como sabias? – perguntou o Pedro, espantado.

- A tua cara diz tudo. – respondeu ela, dando-lhe o tabuleiro - Leva isto para ela. Boa sorte.

Depois de dizer isso, a Ana desceu as escadas deixando o Pedro para trás com o tabuleiro com

comida nas mãos.

- Na porta ao lado, eh? – disse o Pedro, olhando para uma porta que estava ao lado da sua.

Ele aproximou-se dela e antes suspirou fundo até bater à porta.

- Pode entrar. – ouviu-se uma voz suave.

Ele abriu a porta e viu a Joana deitada numa cama.

- Oh, Pedro. – disse ela. O Pedro aproximou-se dela e pousou o tabuleiro em cima da cama.

- Já estás melhor? – perguntou o Pedro, pondo a sua mão na testa dela.

- C-claro que sim. – respondeu ela, ficando mais vermelha pela cara dele estar tão próxima da

dela.

- De certeza? É que estás toda vermelha. – disse o Pedro, retirando a mão.

- C-claro que estou. – disse a Joana.

Os dois ficaram num silêncio até que a porta abriu-se e a Joana foi atacada por um abraço

enorme.

- Ainda bem que já estás melhor! – choraram a Mariana e a Rafaela dando um belo abraço à

Joana que quase a fez não conseguir respirar.

- M-meninas… a-ar… - disse a Joana, quase perdendo os sentidos.

- Oh desculpa. – desculparam-se elas, largando-a.

O Pedro viu que aquilo era tempo de amigas, por isso saiu do quarto.

A Joana estava a rir-se das amigas enquanto ouviu um som de uma porta a fechar-se. Ela não

viu nenhum sinal do Pedro e apenas sorriu.

A noite apareceu e todos estavam cansados de tudo o que aconteceu. Cada um estava nos seus

respetivos quartos.

- De certeza que já estás melhor Joana? – perguntou a Rafaela, saltando na sua cama.

- Sim. Não têm de se preocupar. – respondeu a Joana sorrindo para as amigas.

- Estas férias estão a correr mal. – disse a Rafaela deitando-se com os braços atrás da cabeça.

- Mas até foi divertido. – disse a Mariana – Não foi… Rafaela?

67

- O que queres dizer com isso? – perguntou a Rafaela, olhando para amiga com um olhar

desconfiado.

- Bem, tu passaste muito tempo com o Filipe e ele até te salvou e tudo. – disse a Mariana.

- M- mas o que estás a d-dizer!? – gritou a Rafaela, saltando da cama – N-não aconteceu nada

e-entre mim e o Filipe!

- Ai é? Então, como explicas esse vermelho na tua cara? – disse a Mariana.

- E-eh!?!? – disse a Rafaela, pondo as mãos na cara e sentindo a sua cara quente – N-não é

nada!!

E depois disso, ela meteu-se debaixo dos lençóis e foi dormir.

- Hahahaha. – riram-se a Mariana e a Joana.

- Bem, acho que também vou dormir. E tu, Joana? – perguntou a Mariana, já metendo-se

debaixo dos lençóis.

- Ainda não. Ainda não tenho sono. – respondeu a Joana – Mas tu não tens ficar à espera de

mim. Podes ir dormir.

- Hm. Ok. Boa noite. – disse a Mariana, fechando os olhos e aconchegando-se na sua cama.

A Joana olhou para ela e depois foi para a varanda. Ela olhou para cima, para o céu estrelado e

viu a lua cheia, toda bonita e cintilante. Apenas olhando para ela, pode trazer um sorriso na

cara da Joana.

- Tive um pressentimento que estivesses acordada. – disse uma voz.

Ela olhou para o lado e viu o Pedro encostado ao parapeito da varanda do seu quarto.

- Não conseguia dormir. – respondeu ela – E tu?

- Igual. Aconteceram tantas coisas hoje que nem consigo dormir. – disse o Pedro.

Os dois ficaram em silêncio tal como na cena do quarto enquanto a Joana lembrou-se de

alguma coisa e entrou no quarto. O Pedro viu isso e não percebeu o que aconteceu. As nuvens

começaram a tapar a lua.

A cara da Joana apareceu com um sorriso na cara e de repente, apareceu uma rosa cor-de-

rosa na sua mão. Ao ver isto, o Pedro ficou todo corado.

- Eu ouvi tudo o que tu disseste, lá na floresta. – disse a Joana, sorrindo.

- E-eh…b-bem… e-eu… - O Pedro não conseguia pensar em nada para dizer.

- Não tens de explicar nada. Graças a ti, lembrei-me naquele momento quando éramos

pequenos. Tu deste-me uma rosa igualzinha a esta. – explicou a Joana – Obrigada.

- E-eh, então i-isso significa… que me perdoas? – perguntou o Pedro.

68

- Claro! Nunca conseguiria ficar zangada com o meu amigo de infância. – disse ela, sorrindo e

foi nessa altura que as nuvens saíram da frente da lua, deixando-a transmitir a sua luz contra a

Joana que fez com que o sorriso dela parecesse ainda mais com um de um anjo.

O Pedro apenas paralisou e quase desmaiou se não tivesse virado o olhar daquele maravilhoso

sorriso só que de repente, ele escorregou e caiu de rabo.

A Joana não percebeu o que aconteceu mas apenas riu-se e o Pedro olhou para ela e riu logo a

seguir.

Os dois continuaram a rir-se à luz do luar.

Entretanto, em outro quarto, o Filipe estava deitado na sua cama com os braços cruzados atrás

da cabeça. O João estava a ler, sentado na sua cama e o Carlos tinha acabado de sair do banho

com uma toalha à volta da cintura e outra para sacudir o cabelo.

- O que se passa com ele? – perguntou o Carlos, referindo-se ao Filipe.

- Não sei. – respondeu o João, sem desviar os olhos do livro.

- Oi, meu! O que se passa contigo? – perguntou o Carlos, abanando o Filipe, fazendo sair do seu

transe.

- Hm? O que é? – perguntou o Filipe.

- O que se passa contigo? Estás muito estranho desde que voltámos. – explicou o Carlos.

- Não é nada. – disse o Filipe, afastando o Carlos e indo para a porta – Eu vou dar uma volta.

E depois disso, saiu do quarto.

- Ele está mesmo estranho. – exclamou o Carlos.

O Filipe ficou a andar pelo corredor da casa e logo parou para encostar numa parede.

- O que se passa comigo? Porque não sais da minha cabeça? – pensou o Filipe e de repente,

uma imagem da Rafaela apareceu na sua cabeça – Para! Sai da minha cabeça! Será que eu…

Será que eu gosto da Rafaela?

Primavera, 29 de Março de 2015

Raios de sol entraram pela janela batendo nos cabelos loiros do Filipe e fazendo-o acordar.

- Parece que já estou a ficar habituado ao sol bater-me na cara. – murmurou o Filipe,

levantando-se e bocejando ao mesmo tempo.

Ele vestiu uma camisa e umas calças, calçou os sapatos e saiu do quarto. Ao fechar a porta, ele

ouviu uma porta a fechar-se ao seu lado. Ele olhou para o lado e viu a Rafaela.

69

Os dois olharam um para o outro, olhando nos olhos até que as suas caras começaram a ficar

vermelhas, ao lembrar o que aconteceu no outro dia.

- O-olá. – gaguejou a Rafaela.

- O-olá. – disse o Filipe.

O silêncio pairou sobre eles até que a Rafaela quebrou-o.

- B-bem, v-vou andando. – disse a Rafaela, virando-lhe as costas e indo embora.

- Espera! – gritou o Filipe, fazendo a Rafaela olhar para ele confusa.

- O que é? É que eu tenho coisas para fazer. – disse a Rafaela.

- E-eu s-só… queria d-dizer-te que… - disse o Filipe.

Eu acho que te amo.

- N-não é nada. Esquece. – disse ele, rindo-se e coçando a cabeça.

A Rafaela olhou para ele confusa mas só encolheu os ombros e foi-se embora.

- Sou mesmo estúpido. Eu nunca lhe conseguiria dizer aquilo. – pensou o Filipe, indo na

direção oposta que a Rafaela foi.

Enquanto a Rafaela descia as escadas, ela ouviu risinhos. Ela deu uma olhada na sala de estar e

viu o Tiago e a Mariana a rirem-se. Isso fez com que o coração da Rafaela partisse.

Ela retirou os olhos daquela cena e escondeu-se atrás da parede.

- Tem calma, Rafaela. Eles podem só estar a conversar uma conversa amigável de amigos. –

pensou ela – A Mariana sabe que eu gosto do Tiago. Ela nunca faria uma coisa destas a mim. Eu

acho.

Ela ouviu os dois a levantarem-se do sofá, por isso correu dali de fora.

- Hm? Ouviste alguma coisa? – perguntou a Mariana, olhando para onde a Rafaela estava

antes.

- Não. Não ouvi nada. – respondeu o Tiago – Anda, que já é quase hora do almoço.

Quando eles iam-se embora, no fundo do corredor, a Rafaela estava escondida numa das

cortinas de uma janela.

- Foi por pouco. – murmurou a Rafaela, suspirando.

Na hora do almoço, todos estavam na mesa a comer até que a Ana reparou em alguma coisa.

- Onde está o Filipe? – perguntou ela.

- Ele está preso no quarto. Ele disse que não tinha fome. – respondeu o Carlos, com a boca

cheia.

70

- Eu vou lá falar com ele. – disse a Ana, saindo da mesa e subindo as escadas.

- Filipe posso entrar? – perguntou a Ana, batendo na porta do quarto.

- Entre. – murmurou uma voz dentro do quarto.

- Sinceramente, mas o que estás aqui a fazer? Porque não estás almoçar connosco? –

perguntou a Ana, sentando-se na ponta da cama, olhando para um Filipe deitado na cama com

a cara enterrada na almofada.

- Não tenho fome. – murmurou ele.

- E achas mesmo que vou acreditar nisso? Tu és o mais guloso do grupo. Logo depois do

Carlos, claro. – disse a Ana – É por causa daquela rapariga?

- Eh? – O Filipe levantou a cabeça e olhou com olhos chocados para a Ana – Como sabes?

- Eu conheço-te muito bem, Filipe. Sei quando estás triste, zangado ou até apaixonado. –

explicou a Ana, com um sorriso – Desde ontem, que eu reparei como olhas para a Rafaela. Ela é

uma jovem muito invulgar mas acho que tu e elas fazem um belo par.

- M-mas o que está a dizer!? – disse o Filipe, virando o olhar com a cara vermelha – E ela não é

boa para mim.

- É isso que o teu coração diz-te? – perguntou a Ana.

- Eh? – disse o Filipe, confuso e depois olhando para a sua mão no peito – E-eu… não sei.

- Filipe lembras-te da primeira vez que nos conhecemos? – disse a Ana, olhando para o teto –

Tu só tinhas 6 anos nessa altura. Eu pensava que tu eras só um rapazinho calado e sombrio

nessa altura. Mas depois quando soube do teu passado, percebi porque eras como eras. Eu

também seria assim se os meus pais me tratassem dessa maneira. Mas a questão é que, é a

primeira vez que te vi sentir amor por alguém. Por isso, não estragas isso. Quando souberes o

que mesmo sentes, vai em frente e confessa os teus sentimentos para ela. Porque se não, um

dia ela poderá sair da tua vida.

E depois disso, a Ana mostrou um doce sorriso para ele e deu-lhe um beijo na testa e abriu a

porta.

- Quando quiseres comer, o teu prato está lá em baixo. Só tens de aquecer. Bem, vou deixar-te

sozinho. – disse ela fechando a porta.

O Filipe não disse nada até que ouviu o som da porta a fechar-se.

- Mas eu não quero que ela entre na minha vida. – murmurou ele, abraçando as suas pernas

com mais força – Eu não quero que ela se magoe.

O dia foi passando até que o pôr-do-sol começou a aparecer. O Filipe olhou para a janela,

cansado de estar o dia todo trancado no quarto, por isso decidiu dar uma volta.

71

Ele foi para a cozinha, já que a sua barriga estava dar horas. Ele viu o seu almoço dentro do

frigorífico e foi pô-lo dentro do micro-ondas. Quando acabou de aquecer, ele tirou-o do micro-

ondas e começou a comê-lo.

Entretanto, um som da porta a fechar-se ouviu-se por todo a casa, fazendo o Filipe parar de

comer e ouvir passos aproximar-se da entrada da cozinha.

- Hm? Filipe? – perguntou uma Rafaela dorminhoca, esfregando o olho direito de pijama – O

que estás aqui a fazer?

- Isso pergunto-te eu. O que estás a fazer de pijama a estas horas? – perguntou o Filipe,

voltando a comer o seu almoço.

- Estava com sono e pensei em tomar uma soneca. Onde estão todos? – perguntou a Rafaela

olhando em volta.

- O Tiago, o João e o Pedro foram com a Mariana, com a Joana e a Ana às compras. O Carlos

está a dormir no quarto. Já não suportava mais os ressonares dele. – respondeu o Filipe.

- Posso perguntar-te uma coisa? – perguntou a Rafaela, pegando num copo de água e

sentando-se ao lado dele.

- O quê? – perguntou o Filipe, baixando os talheres sobre o prato vazio.

- Porque não almoçaste connosco? – perguntou a Rafaela – Porque é que ficaste o dia todo no

quarto?

- Não me apetecia sair da cama. – respondeu o Filipe, sem tirar os olhos do prato.

- Isso não é uma razão para ficares o dia todo fechado no quarto. Vá lá, diz-me lá. – suplicou a

Rafaela.

- Queres mesmo saber!? – gritou o Filipe, batendo as mãos na mesa e levantando-se,

assustando a Rafaela.

Ele virou-se para ela, com os seus cabelos a taparem os seus olhos. Ele levantou a cabeça e

mostrou os seus olhos azuis agora escuros como o fundo do mar.

- É porque… - murmurou o Filipe.

Porque eu gosto de ti.

Isso era o que ele queria dizer mas as palavras pareciam ficar presas na garganta, fazendo-o

não conseguir deitá-las cá para fora.

Ele continuou a olhar para ela e sem notar, a cara dele começou aproximar-se da dela. A

Rafaela paralisou. Ela também não conseguia dizer nada e o seu corpo parecia não se querer

72

mexer. O Filipe olhou para os olhos dela e depois para os seus lábios. Ele aproximava-se cada

vez mais. Os lábios deles a um centímetro de distância. O Filipe não sabia o que estava a fazer

mas ele não conseguia parar.

- Voltámos! – gritou a Joana, com os outros atrás, abrindo a porta principal.

A Rafaela e o Filipe separaram-se que a Rafaela quase caiu da cadeira.

- B-bem vindos. – disse a Rafaela, indo ter com eles.

- Hm? Interrompemos alguma coisa? – perguntou a Joana, confusa.

- N-nada. Mesmo nada. – disse a Rafaela.

O Filipe só ficou ali calado a olhar para a Rafaela a rir-se e a conversar com o Tiago e os outros,

especialmente o Tiago. Ele via como ela não parava de olhar para o Tiago com aqueles olhos

cheio de alegria e sorria sempre para ele. Isso enfureceu o Filipe. Ele não conseguia acreditar

mas estava com ciúmes. As suas mãos fecharam-se em punhos. De repente, ele desatou a

correr para o quarto, espantando todos.

Todos olharam para a direção onde ele correu, confusos enquanto a Ana olhou com um olhar

preocupado e depois para a Rafaela que estava com a cabeça para baixo.

Era hora de dormir. Todos estavam deitados nas suas caminhas, cada um nos seus sonhos

exceto duas pessoas. O Filipe não conseguia dormir, por isso virava de um lado para o outro e

depois decidiu parar e olhou para o teto. Entretanto à Rafaela, acontecia o mesmo. Os dois

olhavam para o teto e pensavam na mesma coisa.

O que teria acontecido se não tivéssemos sido interrompidos?

Primavera, 5 de Abril de 2015

As férias começaram a passar rapidamente. Só mais dois dias de férias e todos tinham voltar

para as aulas. A Ana avisou todos que nesse dia ia haver um fogo-de-artifício para celebrar a

Páscoa.

A Rafaela gosta muito da Páscoa mas hoje, não lhe apetecia festejar a Páscoa este ano. A

Joana e a Mariana repararam nisso e tentaram falar com ela.

- O que foi, Rafaela? Tu gostas da Páscoa mais do que nós. Porque estás assim triste? –

perguntou a Mariana, falando com a Rafaela no quarto delas.

- Pois, passou-se alguma coisa? – perguntou a Joana, sentada ao lado da amiga.

- Não é nada. É só que não me apetece festejar a Páscoa. É só isso. – respondeu a Rafaela.

73

- Eu não acredito. Diz lá. O que se passa mesmo contigo? – perguntou a Mariana, de braços

cruzados.

- Já disse que é nada! Parem de chatear-me, ok? – gritou a Rafaela, saindo do quarto.

- Acho que não devíamos ter pressionando-a tanto. – disse a Joana.

- Tens razão. Mas ela é nossa amiga. E ela está esconder-nos algo. – disse a Mariana.

A Rafaela andava pelos corredores da casa, pensando o que aconteceu naquele dia. De

repente, ela foi contra alguém.

- Des… Filipe? – disse a Joana, olhando para o rapaz de cabelos loiros.

Eles, os dois, olhavam um para o outro até que uma voz ouviu-se por detrás deles.

- Olá Filipe! Oh, Rafaela. Olá. – disse o Tiago, acenando com um sorriso na cara.

A Rafaela olhou para trás do Filipe vendo o Tiago que a fez corar. O Filipe que ainda estava

olhar para ela, notou nisso e apenas rangeu os dentes e continuou a andar mais depressa.

A Rafaela viu-o a passar por ela. Ela olhou para as costas dele a desaparecerem. Desde aquele

dia que ele nunca mais falava para ela. Até quando a Rafaela zangava-se com ele, ele não lutava

de volta. Só ia-se embora sem dizer uma palavra.

- Ele está meio estranho, não achas? – A Rafaela espantou-se e olhou para o lado vendo o

Tiago a olhar na mesma direção que o Filipe foi.

- Hm. Acho que sim. – murmurou a Rafaela, voltando a olhar para a frente.

O dia passou rápido. O dia caiu e a noite chegou. A Ana disse que todos podiam conseguir ver

os fogos de artifício no jardim. Todos estavam lá fora, só à espera do momento. De repente,

uma luz cor-de-rosa apareceu no céu e logo a seguir verde, azul, amarelo e mais cores a fazer

várias imagens no céu. O céu azul passou a ser um céu colorido com todos aqueles fogos de

artifício.

- Onde está o Filipe? – perguntou o João ao Carlos que estava deitado na relva, com os braços

cruzados atrás da cabeça e com os olhos fechados.

A Rafaela não pode conter em ouvir a conversa.

- Ele disse que queria ficar no quarto. – respondeu o Carlos.

- A sério. Aquele rapaz anda mesmo estranho estes dias. – disse o João, respirando fundo

depois.

A Rafaela voltou a olhar para o céu mas agora com um olhar triste em vez de um olhar feliz. E

ela não sabia porquê.

- Ah pois, Rafaela. – disse a Joana, apanhando a atenção da rapariga de cabelos castanhos

claros.

74

- Hm? O que foi? – perguntou a Rafaela.

- Pensava que não querias festejar a Páscoa. Porque é que mudaste a ideia? – perguntou a

Joana.

- E-eh, b-bem… - murmurou a Rafaela.

- Eu consegui convencê-la a vir. – disse o Tiago, sorrindo – Eu ouvi-vos dizer que ela não queria

vir então tentei convencê-la e depois de algum tempo, ela aceitou. Não foi, Joana?

- S-sim. – disse a Rafaela, corando.

A Joana notou nisso e deu uma cotovelada no braço da Rafaela, fazendo-a olhar para ela.

- Então foi por isso. – disse ela, num tom de brincadeira.

- N-não foi só por causa disso! Eu também não tinha mais nada para fazer. – disse a Rafaela,

cruzando os braços e fazendo beicinho ao mesmo tempo.

A Joana não conteve e começou a rir-se.

- P-porque estás a rir-te? – disse a Rafaela, confusa.

- P-porque és tão fofa q-quando estás chateada! – disse a Joana, não conseguindo parar de rir.

- Já vais ver! – disse a Rafaela, indo atrás da Joana pelo jardim todo.

Todos começaram a rir-se ao ver as duas amigas atrás de uma da outra.

Entretanto, num quarto escuro, estava o Filipe deitado na cama. Ao ouvir os fogos-de-artifício,

ele saltou da cama e viu pelo vidro da janela milhares de cores que apareciam no céu. Ele ficou

calmo ao ver aquela imagem até ouvir risos lá de baixo. Ele abriu a janela e entrou na varanda.

Olhou para baixo e viu a Rafaela atrás da Joana, fazendo um sorriso aparecer na cara dele até

que esse sorriso desapareceu e os olhos ficaram com ódio. Enquanto a Joana fugia da Rafaela, a

Rafaela tropeçou numa pedra e caiu. Ela sentiu que onde tenha caído era fofo até que viu que

era o colo de alguém. Ela olhou para cima e viu a cara espantada do Tiago até que ele sorriu

para ela, fazendo corar e sair do colo dele, pedindo desculpa sem parar. O Tiago apenas riu-se e

deu festas na cabeça dela.

O Filipe não conseguia aguentar aquela imagem e por isso entrou no quarto novamente. A

Ana viu-o a entrar e só olhava com olhos preocupados e depois para a Rafaela e para o Tiago.

- Toma as decisões certas, Filipe. Se não será tarde demais. – pensou ela.

Os fogos de artifício acabaram e o céu estrelado voltou a estar à vista com a Lua cheia entre

elas fazendo tudo brilhar no meio da escuridão eterna.

Primavera, 6 de Abril de 2015

75

Hoje era o último dia de férias. Coisas más aconteceram mas também coisas boas. Hoje, todos

iam voltar para as suas casas. Cada um estava a fazer as suas malas nos seus quartos.

- Fogo! E eu queria que as férias da Páscoa durassem mais. – queixou-se a Joana, caindo na

sua cama.

- Não podemos fazer nada. A escola começa amanhã. – disse a Mariana, arrumando uma

camisola azul dentro da sua mala verde.

- Mas isso não é justo! – queixou-se a Joana, ainda mais.

De repente, alguém bateu à porta.

- Já vai. – disse a Rafaela, indo abrir a porta e dar de caras com a Ana – Senhora Ana.

- Vá, vá. Já disse que podem chamar-me de Ana. – disse a Ana entrando – Estão todas

prontas?

- Sim… mais ou menos. – disse a Mariana olhando para a Joana, que tinha adormecido na

cama – Não há remédio. Acorda Joana!

A Joana deu um pulo da cama e caiu ao chão.

- Para que foi isso!? – gritou a Joana.

- Pelo menos não dormes como uma rocha tal igual à Rafaela. – disse a Mariana, calmamente.

- O que é que disseste!? – gritou a Rafaela.

A Ana olhou para as raparigas espantadas e depois desatou a rir. As raparigas olharam para ela

confusas até que a Ana abanou a cabeça e limpou as lágrimas de tanto rir.

- Hehehe. Foi muito maravilhoso conhecer vocês todas. – disse a Ana, com um olhar calmo e

sereno.

- A nós também! – disseram as três ao mesmo tempo.

Estava na hora de ir. Os rapazes ainda estavam a preparar-se para irem.

- Ei, Filipe. Dás-me essa camisola preta aí ao teu lado? – perguntou o Tiago, apontando para a

tal camisola.

- Vai buscá-la tu mesmo. – disse o Filipe, pegando na sua mala e saindo do quarto.

- Mas o que se passa com ele? Está mais rabugento do que o habitual. – disse o Carlos.

- Ele só deve estar cansado. – disse o João.

O Tiago só sentiu uma mão em cima do seu ombro e viu o Pedro a olhar para ele com aqueles

olhos vazios mas que o Tiago percebia o que ele queria dizer.

- Pois. Não deve ser nada. – murmurou o Tiago.

A Ana já estava dentro do carro e todos saíram da casa arrumando as suas malas na bagagem.

76

- Esta mala é muito pesada. – pensou a Joana, tentando pôr a sua mala gigante dentro da

bagagem mas não estava a conseguir – Vá lá.

De repente, ela sentiu o peso da mala nas suas mãos a desaparecer e viu o Pedro a pôr a mala

dentro da bagagem. Ele olhou para ela.

- Pede ajuda quando estás com problemas. – disse ele entrando no carro.

A Joana ficou paralisada mas depois um sorriso pareceu na cara dela.

Os últimos a sair da casa foi a Rafaela e o Tiago. Eles vinham conversar alegremente até que o

Tiago disse que ia sentar ao lado da Mariana. A Rafaela sentiu um aperto no coração mas

decidiu ignorá-lo. O único lugar que havia era ao lado do Filipe que estava a olhar para fora da

janela com o queixo na mão.

A Rafaela sentiu-se pequena ao sentar ao lado dele. Ela nunca teve medo de nada mas

naquela situação pareceu passar de uma rapariga forte para uma rapariga tímida.

Ela olhou pelo canto do olho vendo o Filipe a olhar para a janela. Logo, ela retirou o olhar e

olhou para as suas mãos que apertavam a sua camisa.

- Estão cá todos? – disse a Ana, pelo volante.

- Sim! – disseram todos, excepto a Rafaela e o Filipe.

- Muito bem, então vamos. – disse a Ana começando a conduzir o carro.

- Olha, é o senhor Rui! – disse a Mariana pela janela.

- Adeus senhor Rui! – gritaram todos pelas janelas do carro.

- Adeus! Vemo-nos em breve! – disse ele, acenando.

A viagem foi ótima. Cada um conversava com o colega do lado exceto a Rafaela e o Filipe que

não tinham falado uma única palavra a viagem toda.

Logo depois de algumas horas, eles chegaram ao seu destino.

- Chegámos. – disse a Ana.

- Muito obrigada. – disse a Joana.

- De nada. Quando quiserem, podem visitar-me. – disse a Ana, sorrindo – Porta-te bem Tiago.

- Hm. Adeus tia. – despediu-se ele.

- Ah e espero que não se tenham esquecido dos deveres de férias! – disse a Ana – Adeus!

- Adeus! – despediu-se a Mariana - Eh? Pessoal?

Todos estavam paralisados até a Rafaela e o Filipe. Parece que os deveres de férias chegaram-

lhes aos ouvidos. Eles se tinham esquecido de fazer os trabalhos de casa.

- Estamos tramados! – gritou o Carlos, caindo de joelhos.

- Malta? – perguntou a Mariana.

77

De repente, todos começaram a correr em direção das suas casas deixando uma Mariana

confusa.

- Eh? Malta! Será que eles se esqueceram que não temos trabalhos de férias? – disse a

Mariana.

Entretanto, a Ana viu eles correrem enquanto ela ria-se. Ela riu-se e depois deitou a língua

para fora.

- Já que não consegui fazer umas mentirinhas no dia 1 de Abril, não faz mal fazer uma agora. –

disse ela.

Primavera, 14 de Maio de 2015

A Mariana corria pelos corredores da escola, entrando de rompante na sala de aula,

espantando todos que estavam lá.

- Malta! – gritou a Mariana, aproximando-se da Rafaela e do Tiago.

- O que se passa, Mariana? – perguntou o Tiago, confuso.

- Não sabem que dia é hoje? – disse a Mariana, com os braços no ar.

- N-não… - disseram os dois.

A Mariana suspirou e indicou-os para eles aproximarem-se mais.

- Hoje, a Joana faz anos. – sussurrou ela.

- O quê!?!? – gritaram os dois, espantando os colegas.

- Shh. – calou-os a Mariana – Ninguém pode saber.

- Porquê? – perguntou o Tiago.

- Porque eu acho que ela não sabe que hoje faz anos. – respondeu a Mariana.

- Como assim não sabe? – perguntou a Rafaela.

- Eu estava a vir de casa e encontrei-a no caminho. Eu sabia que ela fazia anos hoje, então

perguntei-lhe se ela tinha algo para me contar mas ela reagiu como se não tivesse nada para

contar. – respondeu a Mariana, sentando-se no seu lugar.

- E onde é que ela está agora? – perguntou o Tiago.

- Ela disse que tinha de ir à casa de banho. – disse a Mariana - Mas nós temos de fazer-lhe uma

festa.

- Aonde? – perguntou a Rafaela.

- Na casa dela. Vamos todos para lá e preparamos tudo. A Joana tem de ir às suas aulas de

violino. – disse a Mariana – É assim, eu trato dos preparativos. Tu, Rafaela, tratas de buscar o

bolo e Tiago, tu tratas de convidar os outros. Ok?

78

- Ok. – disseram os dois.

- Olá pessoal. – disse a Joana, mesmo ao lado deles.

- O-olá, J-joana. – disseram eles, agindo estranhamente.

- Está tudo bem? Parecem… estranhos. – disse a Joana, confusa.

- S-sim, está tudo bem. Olha, a aula vai começar. – disse a Mariana, rindo-se.

- Ok… - disse a Joana, sentando no seu lugar – Alguém viu o Pedro?

Entretanto, com o Pedro ele estava encostado a uma parede de um corredor. Ainda bem que

as aulas já tinham começado, assim o corredor estava vazio.

- Aqui estás. – disse o João aproximando-se dele.

- O que queres desta vez? – perguntou o Pedro, chutando o chão – Tenho de ir para as aulas.

- Tu sabes o que é que eu quero que faças. – disse o João, entregando um envelope ao Pedro.

O Pedro abriu o envelope e viu uma fotografia.

- É ele o alvo? – perguntou ele.

- Sim. Sabes o que tens de fazer, não sabes? – perguntou o João, cruzando os braços.

O Pedro baixou o braço, apertando a fotografia e o envelope.

- Não te preocupes. Eu não vou falhar. – disse o Pedro – Já posso ir?

- Sim. – disse o João.

O Pedro desencostou-se da parede e foi embora pondo a fotografia e o envelope nos bolsos

das calças.

- Vou ensinar-vos hoje… - disse a professora, antes de ser interrompida pela porta abrir-se.

- Desculpe o atraso, professora. – disse o Pedro.

- Ah. Não faz mal. Só espero que não aconteça novamente. Podes sentar-te. – disse a

professora – Como estava a dizer…

O Pedro passou pela Joana que lhe enviou um sorriso e ele só lhe devolveu um pequeno

sorriso.

Quando sentou-se, ele não prestou nenhuma atenção à aula, apenas tirou do bolso uma

caixinha pequenina toda embrulhada. Ele olhou para o lado para ver a Joana a tirar

apontamentos da aula. Ele olhou para a caixinha e depois para ela e depois para a caixinha.

- Ei, Pedro. – sussurrou o Tiago – Já sabes das notícias? A Joana faz hoje anos.

Dentro do Pedro, ele estava a sorrir já que passou com ela por tantos anos. Mas apenas

mentiu em dizer que não sabia de nada.

- A Mariana e nós decidimos fazer uma festa surpresa na casa da Joana. E a Mariana disse para

eu convidar a ti e aos outros rapazes. Então, vais?

79

O Pedro ia responder que sim até que se lembrou na fotografia que o João lhe deu.

- Não posso. – respondeu o Pedro, triste mas conseguiu esconder isso.

- Porquê? – perguntou o Tiago, confuso.

- O João deu-me uma missão. – disse o Pedro, passando-lhe o envelope.

O Tiago viu a fotografia e a sua cara ficou séria.

- Ok. Eu invento alguma coisa para dizer à Mariana que não podes vir. Boa sorte, meu. – disse

o Tiago.

- Do que estão a falar? – perguntou a Joana, sorrindo.

- D-de nada. – disse o Tiago, abanando as mãos e o Pedro apenas olhou para a frente.

- Ok… - disse a Joana, voltando a prestar atenção na aula.

O dia passou rápido. A Joana reparou que os seus amigos estavam a reagir numa forma

estranha. Até quando ela foi ter com o Filipe e o João para perguntar-lhes o que se passava com

os outros, eles apenas sorriram e disseram que tinham de ir fazer alguma coisa.

A escola tinha acabado e a Joana viu que a Mariana nem a Rafaela estavam à espera dela.

- Só porque tive uma aula de violino, não quer dizer que não podiam esperar por mim. –

queixou-se a Joana, fazendo beicinho.

Ela saiu da escola e foi em direção da sua casa.

- Andam todos estranhos ultimamente. Agora que me lembro, quando acordei, a minha mãe

fez-me o meu pequeno-almoço favorito. Ela nunca me fez o meu pequeno-almoço favorito. Só

em situações especiais. E quando cheguei à escola, a Mariana perguntou-me se eu lhe tinha

algo para dizer. – murmurou ela – Será que hoje é um dia especial? Mas qual?

Ao chegar a casa, ela abriu a porta com as chaves de casa e lá dentro estava tudo escuro.

- M-mãe? – disse a Joana, ficando com um bocado de medo – Mãe? E-estás aqui?

Quando ela foi para a sala de estar, ela ligou as luzes e quase deu um pulo.

- Surpresa!! – gritaram todos.

A Joana olhou com olhos espantados para todos os seus amigos. A sala estava toda decorada

com fitas e balões. O bolo estava em cima da mesa, fazendo a Joana babar-se ao ver aquela

maravilha. O bolo era de chocolate branco com gomas por cima, cobertura de chantilly à volta e

duas velas, indicando os anos da aniversariante.

- Ah, a minha filha está a crescer. – disse a mãe dela, começando a chorar e sendo abraçada

pelo marido.

- M-mas… o que é isto tudo? – perguntou a Joana, ainda confusa.

- Não me digas que te esqueceste do teu próprio aniversário. – disse a Mariana, sarcástica.

80

De repente, deu luz na cabeça da Joana.

- Hoje são os meus anos!? – disse a Joana, compreendendo finalmente o porquê dos sues

amigos estarem reagindo estranho nesse dia – Então era por isso que vocês agiam estranho

hoje.

- Desculpa. É que nós queríamos te preparar uma festa surpresa. – disse a Mariana – Estás

zangada?

A Joana olhou para eles e de repente começou a chorar.

- Joana!? – disseram a Mariana e a Rafaela, preocupadas por terem chateado a amiga –

Desculpa-nos. Nós devíamos ter-te perguntado primeiro.

- Eu não estou chorar lágrimas de tristeza. Isto são… - disse a Joana, limpando as lágrimas –

São lágrimas de alegria. Muito obrigada!

A Mariana e a Rafaela sorriram e correram até ela, prendendo-a num grande abraço.

Os rapazes e os pais riam-se enquanto viam as três amigas a abraçarem-se.

- Só para que saibas, a Rafaela tinha esquecido dos teus anos. – disse a Mariana.

- Mariana! – gritou a Rafaela, indo atrás dela.

A Joana olhou estupefacta para as amigas a correrem de um lado para o outro na sua casa e

começou a rir-se com os outros.

Só que depois, a Joana parou de rir notando que faltava alguém naquele grupo cheio de risos.

- Onde está o Pedro? – perguntou ela.

A Mariana e a Rafaela pararam de correr.

- Ele disse que estava a sentir-se mal, por isso não pode vir. – respondeu o Tiago.

- Oh. – disse a Joana com a cabeça baixa.

A Mariana notando na tristeza, decidiu ligar o rádio e pegou no braço da Joana.

- Vamos dançar, Joana! – disse ela dançando.

A Joana, notando a razão pela ação da amiga, apenas sorriu e começou a dançar juntamente.

E depois os outros juntaram-se também.

A festa durou uma eternidade até que era hora de irem todos para casa. Quando a Joana

despediu-se da Mariana, que foi a última a ir embora, ela fechou a porta e aquele sorriso que

tinha na cara desapareceu.

- Estás bem, querida? – perguntou a sua mãe.

- Sim. Não se preocupem. Eu estou no meu quarto se precisarem de mim. – disse ela, correndo

para o seu quarto.

- O que ela tem? – perguntou o pai.

81

- É o amor. – disse a mãe, sorrindo e voltando para a cozinha.

- Ah, o amor, ok. – disse o pai, bebendo o café e a ler o seu jornal, até que ele cuspiu o seu

café, sujando o jornal todo – Amor!?

Entretanto no quarto dela, ela estava deitada na sua cama, virada para a sua janela, vendo a

lua.

- Eu queria que tu tivesses vindo. – murmurou ela entrando no mundo dos sonhos.

Logo lá fora, numa rua escura, onde a luz da lua não conseguia alcançar, a forma de uma

pessoa estava a caminhar lentamente, agarrando-se pela parede e uma mão na barriga.

De repente, um telemóvel tocou.

- Sim. – disse a pessoa.

- Conseguiste? – perguntou a pessoa do outro lado.

- Sim. Missão concluída. – disse a pessoa, desligando na cara da outra pessoa e olhando para a

lua, escondida pelas árvores, começando a aparecer e deixar a sua luz brilhar nele.

As suas roupas estavam cheias de sangue e na mão dele, estava uma arma.

Primavera, 15 de Maio de 2015

No dia seguinte, a Joana estava na sala de aula a olhar para janela.

O Pedro não veio às aulas. Ela já tentou perguntar ao Tiago e aos outros mas todos fizeram o

mesmo. As suas caras ficaram sérias mas a resposta foi a mesma.

- Ele ainda não estava a sentir-se bem, mas ele amanhã já deve estar melhor.

Quando a escola acabou, a Joana despediu-se das amigas e foi para casa. Enquanto ia, o seu

telemóvel vibrou. Ela tinha recebido uma mensagem.

“- Vem ter comigo à grande árvore. Preciso de falar contigo.

- Pedro”

Os olhos da Joana ficaram bem abertos e as suas pernas começaram a correr para o parque.

Quando chegou à grande árvore, ela deu de caras com as costas de alguém.

- Pe… Pedro? – perguntou ela.

- Ainda bem que chegaste, Joana. – disse ele virando-se e sorrindo para ela.

- Pensei que estavas… - disse ela.

- Doente. Eu sei. E ainda estou. Só queria dar-te uma coisa já que não pude ir aos teus anos

ontem. – disse ele mostrando-lhe uma toalha de piquenique com sandes, fruta, sumo, bolachas

e chocolates.

- O que é isto tudo, Pedro? – disse a Joana, encantada.

82

- Eu queria recompensar-te. Sinto muito que não pude ir à tua festa, por isso decidi fazer um

piquenique juntos. – disse ele, sentando-se – Agora fecha os olhos.

- Porquê? – perguntou ela.

- Só fecha. – disse ele, rolando os olhos.

A Joana decidiu fechar os olhos até que sentiu alguma coisa em cima da sua cabeça.

- Muito bem, podes abrir. – disse ele.

Ela abriu os olhos e viu o Pedro à sua frente com um espelho, mostrando-lhe o seu reflexo

com uma coroa feita de flores em cima da sua cabeça.

- Tu já fizeste isto uma vez… - murmurou ela.

- Ah sim? – perguntou o Pedro, confuso.

- Hm. Eu lembro como se fosse ontem. – disse ela, olhando para o seu reflexo.

Uma pequena Joana estava a chorar no seu quarto até que ouviu alguém a bater na sua janela.

Ela abriu a janela e olhou para baixo, vendo o Pedro a acenar-lhe.

- Porque é que não vieste ter comigo ao parque? – perguntou ele.

- Eu estava triste, desculpa. – disse ela, limpando as lágrimas.

- Porquê? Aconteceu alguma coisa? – perguntou ele.

- Os meus pais esqueceram-se do meu aniversário. – disse ela, chorando.

O Pedro viu que tinha de fazer alguma coisa até que uma ideia entrou-lhe na cabeça.

- Já sei! – disse ele.

- Eh? – disse a Joana, olhando para ele.

- Só vem ter comigo ao parque às 17:00. Vais ver que vais gostar. – disse ele, indo-se embora –

Não te esqueças! Parque, às 17:00!

A Joana só ficou ali confusa com a cabeça de lado.

Quando já eram 17:00, a Joana pôs o seu casaco e foi para o parque. Quando chegou á grande

árvore, ela viu uma toalha de piquenique com montes de comida em cima.

De repente, ela sentiu alguma coisa na cabeça. Ela tirou e viu que era uma coroa feita de

flores. Olhou para trás e viu a cara sorridente do Pedro.

- Parabéns! – disse ele.

Lágrimas começaram a aparecer no rosto da Joana até que ela abraçou-o de repente. O Pedro

estava espantando, mas depois sorriu e abraçou-a de volta.

- Muito obrigada. – murmurou ela, com lágrimas mas desta vez eram lágrimas de alegria.

- Ah, pois. – disse ele, coçando a cabeça – Tinha 8 anos nessa altura. Como já tens o outro, acho

que já não precisas desse.

83

- Não! Eu não importo que tenha dois. Se foram feitos por alguém especial, eu até poderia

ficar com milhares deles. – disse a Joana sorrindo.

- Ah… - disse o Pedro, virando o olhar, corado.

Os dois estiveram rindo e divertindo-se naquele dia. Os dois juntos naquele parque com a

grande árvore a fazer-lhes companhia, com as suas flores a voarem no vento.

Na Primavera, o amor cresce mais. As recordações foram lembradas. Agora iremos para um

estação cheia de sol e diversão. Quem está preparado para umas férias longas? Porque o Verão

está quase a chegar!

84

Capítulo 3: Férias de amor

Verão, 15 de Junho de 2015

O dia estava muito quente. As pessoas agora levavam guarda-sóis e óculos de sol e andavam

com calções e saias. Isso indicava que era Verão. E o que mais significa isso? É que não havia

aulas. E havia alguém que estava feliz por isso.

- Ah! Que bom! – exclamou a Rafaela espreguiçando dentro, no que parecia ser, um comboio.

- Faz pouco barulho, Rafaela. As pessoas estão a olhar. – sussurrou a Mariana, acenando para

as pessoas.

- Como posso fazer pouco barulho, quando as aulas acabaram! – gritou a Rafaela, assustando as

pessoas.

- Obrigada, mais uma vez, por nos convidares a passar as férias de verão na casa dos teus avós,

Mariana. – agradeceu o João.

- Não foi nada. Assim será melhor com mais gente. – disse a Mariana, sorrindo.

- E onde vivem os teus avós? – perguntou o Carlos.

- Eles têm uma casa de praia. Cabemos lá todos. – disse a Mariana enquanto o comboio parava

na próxima paragem.

Logo ao saírem do comboio, a Mariana mostrou-lhes alguns sítios pelo caminho. Quando

chegaram ao seu destino, todos ficaram com os queixos caídos, excepto as raparigas porque a

Rafaela e a Joana já tinham visitado aquele lugar. À frente deles, podia-se ver a praia toda. E era

magnífico.

- Venham, é por aqui. – disse a Mariana, indo para uma grande casa, talvez maior do que a

casa da tia do Tiago.

- Ohhh! – disseram os rapazes, olhando a casa de cima para baixo.

- Como é que os teus avós tiveram dinheiro para pagar uma coisa destas? – perguntou o Tiago.

- Pois, esquecemo-nos de vos dizer. – disse a Joana.

- É que a família da Mariana é rica. – disse a Rafaela, como se fosse uma coisa normal.

- Ah… - disseram todos – O quê!?!?

- Hehehehe. Vá, venham. – disse a Mariana, abrindo a porta – Já cheguei! Avô! Avó!

- Bem-vinda, querida. – disse a avó, abraçando-a e vendo os outros atrás da neta – Ah, estes

devem ser os teus amigos. Mas eu conheço estas duas caras bonitas.

- Bom dia, senhora Isabel. – disseram as duas, com sorrisos.

85

- Vá, vá. Já disse que podiam chamar-me de avó. – disse a Isabel, sorrindo - E quem são estes

jovens rapazes?

- Bom dia. Eu sou o João. – apresentou-se ele.

- Eu sou o Tiago. Prazer em conhecê-la.

- Eu chamo-me Filipe.

- Eu sou o Carlos! – disse ele, cheio de entusiasmo.

- Pedro. – disse ele, não encarando-a nos olhos.

- Ah, que belos rapazes. Por acaso, Mariana, algum deles é o teu namorado? – perguntou a

Isabel.

- Avó! – disse a Mariana, toda vermelha.

- Ahahaha. Estava só a brincar. – disse a Isabel, fazendo uma festa na cabeça dela.

- Querida, quem é? – perguntou um senhor, descendo as escadas. Ele tinha o cabelo branco e

tinha uma bengala. Ele quase escorregava, se a Mariana não o tivesse salvado a tempo.

- Oh obrigada Mariana. – disse o idoso.

- Tem cuidado, avô. Podias ter-te magoado. Devias estar a descansar na cama. – disse a

Mariana, ajudando-o a descer as escadas.

- São estes os teus amigos que tu falaste? – perguntou o avô.

- Hm. Tu já conheces a Joana e a Rafaela e estes são o João, o Tiago, o Filipe, o Carlos e o

Pedro. – disse a Mariana, apresentando-os.

- Muito prazer. – disse o avô – Chamo-me Ricardo.

- Muito bem, e que tal pormos a conversa em dia quando comem uns biscoitos e um sumo de

laranja para acompanhar? – disse a avó, saindo da cozinha com um tabuleiro com os biscoitos e

8 copos de sumo.

Logo depois de conversarem, foram para os seus respectivos quartos. As raparigas ficaram

num só quarto e os rapazes noutro. Os rapazes tinham beliches e as raparigas tinham uma

cama para cada uma.

- Ah, que bom. Férias de Verão. – disse a Rafaela, caindo na sua cama - Já estava a ficar

entusiasmada por esta chegada. Nada de escola por três meses.

- Poise temos uma praia mesmo aqui ao perto. – disse a Joana sentando-se na sua cama.

- Nós faremos estas férias inesquecíveis! – disse a Mariana com o punho no ar.

- Sim! – imitaram as outras.

Entretanto com os rapazes, eles estavam a discutir com quem ficava com a cama de cima.

- Devia ser eu porque sou o mais velho! – disse o João.

86

- E porque não pode ser eu? Eu sou o mais bonito! – disse o Carlos.

- Não, devia ser eu! Porque sou o mais inteligente! – disse o Tiago.

- Enquanto vocês discutam, porque não baixem o volume? Há aqui alguém que está a tentar

dormir. – disse o Filipe, dormindo na cama de cima.

- Como foste para aí? - perguntou o Carlos.

- Enquanto vocês discutiam como crianças de cinco anos, eu e o Pedro decidimos ficar com

elas. – disse o Filipe, olhando para o Pedro que estava na beliche que só tinha duas camas

enquanto na dele, havia três camas.

- Parece que nós perdemos. – disse o Tiago.

- A sério. – disse o Carlos, deitando na cama de baixo da beliche com três camas.

- Acho que as raparigas também devem estar a fazer o mesmo que nós. – disse o João.

Com as raparigas…

- Eu gosto tanto desta música! – disse a Mariana, dançando em cima da cama e as outras a

fazerem o mesmo, ouvindo Beyoncé “Pretty Hurts”.

- Olhem e que tal irmos á praia? – perguntou a Rafaela – Está um dia tão lindo lá fora e está

tanto calor.

- Acho boa ideia. – disse a Joana.

- Então, o que estamos à espera? Vamos! – disse a Mariana.

E com os rapazes…

- Que calor! – queixou-se o Carlos, derretendo como fosse um gelado.

- Pois, está imenso calor. – disse o Tiago, abanando a mão para o refrescar – E que tal irmos à

praia?

- Pois, talvez isso nos refresque. – disse o João.

- E podemos ver miúdas! – disse o Carlos, já entusiasmado, correndo para a casa de banho e

aparecendo já de calções de banho – Vamos!

- Hehehe. – riu-se o Tiago.

- Este é o nosso Carlos. – disse o Filipe.

- Queres vir, Pedro? – perguntou o João.

O Pedro, ainda deitado na cama, olhou para ele e depois desviou o olhar para a parede.

- Eu pergunto se a Joana também virá. – disse o João com o dedo no queixo.

Isso deve ter feito qualquer coisa porque o Pedro saiu da cama e foi para a casa de banho

arranjar-se.

Os outros olharam para ele estupefactos e depois para o João.

87

- O que é que fizeste? – perguntou o Carlos.

- Só sei os pontos fracos dele, só isso. – respondeu o João.

- Estão preparadas? – perguntou a Mariana.

- Sim! – responderam as outras.

- Estão preparados? – perguntou o Tiago.

- Sim! – disseram os outros.

- Então, vamos! – disse a Mariana e o Tiago, saindo dos seus quartos.

O silêncio apareceu sobre ambos. O Tiago olhava para a Mariana e a Mariana olhava para o

Tiago.

- Onde é que vocês vão? – perguntou o Tiago.

- Isso perguntamos nós. – disse a Rafaela – Não me digam que também vão à praia.

- Como sabem? – perguntou o Carlos.

- Vê-se pelos vossos óculos de sol e guarda-sol. – disse a Rafaela, apontando para as coisas nas

mãos deles.

- Parece que tivemos a mesma ideia. – disse o Tiago.

- Pois. – disse a Mariana – E que tal irmos todos juntos?

- Acho boa ideia. – disse o Tiago, sorrindo para ela.

- Estão todos de acordo? – perguntou a Mariana.

- Acho que pode ser. – disse a Rafaela, cruzando os braços, não notando no olhar do Filipe.

- Então, o que estamos à espera? Praia, aqui vou eu! – disse o Carlos, correndo para fora da

casa.

- Hahahahaha. – riram-se todos e saíram também.

Quando chegaram à praia, havia imensas pessoas ali. Crianças a brincar no mar, crianças a fazer

castelos de areia e as famílias a comer gelados. Todos estavam a divertir-se.

- Quem quer vir ao mar? – perguntou o Tiago, tirando a camisola e fazendo a Mariana e a

Rafaela ficarem coradas.

- Eu talvez vá, mas está-se tão bem aqui. – disse a Rafaela deitando na sua tolha de barriga

para baixo para tapar a sua cara vermelha.

- Eu vou. – disse a Joana tirando a camisola e as calças e mostrando o seu fato de banho cor de

rosa. O Pedro estava a olhar para ela até que recebeu uma cotovelada do Filipe.

- Para de babar-te. Ela pode notar nisso. – disse o Filipe – E também, acho que não estás com

sorte.

- Porque dizes isso? – perguntou o Pedro.

88

- Olha. – disse o Filipe olhando para a frente.

O Pedro olhou para a frente e viu o João pegando na Joana, por detrás da cintura. Os dois

estavam a rir-se.

As mãos do Pedro fecharam-se em punhos.

O dia todo, o Pedro teve de aguentar com os risinhos que a Joana e o João faziam. Ele não sabia

o que era mas sempre que via aqueles dois juntos, ele sentia uma dor no peito.

Enquanto já era de noite, a Joana tentava falar com o Pedro mas ele ignorava-a.

- Porque é que ele está a ignorar-me outra vez? – pensou ela.

Quando todos iam dormir, o Filipe saiu da casa de banho e foi para o seu quarto até que foi

contra alguém. Ele viu que era a Rafaela.

- Desculpa. – murmurou ele, indo-se embora.

- Espera. – disse ela – Porque estás assim comigo?

- Eu não sei do que falas. – disse ele de costas para ela.

- Tu sabes muito bem do que estou a falar! Desde as férias da Páscoa, que tu não falas comigo.

O que é que eu te fiz? – perguntou a Rafaela.

- Nada. Não fizeste nada. Eu só… - disse o Filipe, pondo a mão na testa – Esquece. É melhor tu

não saberes.

- Mas, por favor, eu não gosto quando tu não falas comigo. Podemos…. – disse a Rafaela, não

sabendo donde vieram aquelas palavras – Podemos voltar a ser amigos?

- Idiota. Nós nunca parámos de ser amigos. – disse ele, sorrindo para ela e indo para o quarto.

Um sorriso apareceu na cara dela até que ela percebeu no que ele disse.

- Eu não sou uma idiota! – gritou ela batendo o pé no chão.

Ao entrar no quarto, ele riu-se e foi dormir.

Verão, 16 de Junho de 2015

A Mariana acordou mais cedo e saiu da cama. Ela vestiu o seu fato de treino e saiu da casa,

correndo ao ouvir música ao mesmo tempo.

Depois de algumas horas, ela viu um vendedor de gelados e com aquele calor todo, um gelado

era necessário naquela altura.

Ela pediu um gelado de menta com pepitas de chocolate ao vendedor e quando o vendedor

preparava o gelado, uma voz chamou-a pelo lado. Ela virou-se e viu o Tiago a correr até ela,

acenando-lhe.

- Olá, Tiago. Também vieste correr? – perguntou a Mariana.

89

- Hm. Faço todas as manhãs. – disse o Tiago limpando o suor.

- Eu também. Relaxa-me. – disse a Mariana recebendo o seu gelado.

- Que gelado quer meu jovem? – perguntou o vendedor.

- O mesmo que ela, por favor. – disse o Tiago.

Quando o Tiago recebeu o seu gelado, os dois foram sentar-se num banco em que a vista era a

praia.

- Este gelado é o meu favorito. – disse a Mariana.

- O meu também. – disse o Tiago.

Os dois ficaram a comer os seus gelados e a olhar para a paisagem da praia, só que a Mariana

não sabia que o Tiago estava sempre a olhar para ela. Logo, um bocado de gelado ficou na

bochecha dela.

- Olha, tens gelado na cara. – avisou o Tiago.

- A sério? Aonde? – perguntou ela.

- Eu tiro por ti. – disse ele, aproximando a sua cara da dela e tirando o bocado de gelado com o

dedo – Já está.

A Mariana ficou toda corada que baixou a cabeça para que os seus cabelos pretos tapassem a

sua cara.

- Hahahahah. Ficas muito bonita quando estás envergonhada. – disse ele fazendo pior.

Depois de acabarem o gelado, voltaram para casa. A Mariana não disse uma palavra porque

continuava envergonhada e não queria olhar nos olhos do Tiago.

Quando chegaram a casa, a Mariana e o Tiago despediram-se e voltaram para o seu quarto

mas o que eles não sabiam é que a Rafaela tinha os visto.

- Onde é que será que eles foram? – pensou ela indo para a casa de banho.

Na hora do almoço, a Isabel decidiu fazer carne assada com batatas cozidas e como

sobremesa, mousse de chocolate. Todos comiam com sorrisos na cara. A Joana conversava com

o João e o Pedro olhava para eles com ódio. Mas ele não era o único. A Rafaela também olhava

assim para a Mariana e para o Tiago, que estavam a conversar juntos, talvez sobre esta manhã.

O Filipe, que estava ao lado da Rafaela, notou nisso e ele só suspirou e continuou a comer.

Quando o almoço acabou, a Rafaela foi falar com a Mariana.

- Mariana, posso perguntar-te uma coisa? – perguntou ela.

- O que foi? – perguntou a Mariana.

- Tu, por acaso…. Gostas do Tiago? – perguntou a Rafaela com um olhar sério enquanto por

dentro esperava que ela dissesse não.

90

- D-do Tiago? M-mas claro que não. Eu sei o quanto gostas dele. Eu nunca poderia apunhalar-

te assim nas costas. P-porque perguntas? – respondeu a Mariana.

- É que eu vi tu e ele a chegarem hoje de manhã a conversarem. Eu pensava… - disse a Rafaela,

sendo depois interrompida pela Mariana.

- Não te preocupes. Eu não gosto dele. Ele é todo teu. – disse a Mariana, sorrindo.

- A sério? Obrigada! – disse a Rafaela, abraçando-a - Então, quer dizer que eu ainda tenho

uma hipótese. Obrigada por dizeres-me a verdade, Mariana.

- De nada. – disse a Mariana, vendo-a a ir-se embora feliz.

- Não acredito que tu acabaste de fazer isso. – disse uma voz por detrás dela.

- Eu não podia dizer-lhe a verdade. – disse a Mariana, olhando para a Joana – Tu viste como ela

ficou feliz quando disse aquilo. Eu não podia dizer-lhe que eu gostava dele. Ia partir-lhe o

coração e ela nunca mais falaria comigo.

- Ela ficará mais triste quando souber que tu lhe mentiste. – disse a Joana.

- E eu vou dizer-lhe que foi para o seu bem. E talvez – disse a Mariana – Ele possa gostar dela

de volta.

- E depois quem sofre és tu. – disse a Joana, com um olhar triste – Por isso, peço-te que faças a

decisão certa.

E depois disso ela foi-se embora deixando a Mariana ali parada.

Verão, 21 de Julho de 2015

A Rafaela tentou sempre ganhar a atenção do Tiago mas ele ia sempre ter com a Mariana. Ela

lembrava-se sempre das palavras da Mariana, dizendo-lhe que ela não gostava do Tiago. Mas

eles andavam sempre juntos e conversavam juntos e isso fez a esperança da Rafaela

desmoronar-se cada vez mais.

Entretanto com a Joana, ela passou quase as férias com o João. Ele sempre conversava com

ela sobre coisas interessantes e ele sempre a fazia rir. Mas ela achou estranho como o Pedro

estava a reagir em frente dela. Ele não falava com ela e a sua cara mantinha com uma cara de

ódio. Terá ela feito algo de errado?

As férias não estavam a correr nada bem para elas as duas. Especialmente para a Rafaela.

Mesmo que ela estivesse quase a perder a esperança, ela ainda continuou mesmo sendo inútil.

Aquele dia provou como a tentativa da Rafaela em fazer o Tiago apaixonar-se por ela, era inútil.

Verão, 28 de Agosto de 2015

91

As férias estavam a chegar ao fim. Por isso, todos decidiram em fazer estes últimos dias

inesquecíveis até voltarem para as aulas.

- Fogo! As férias estão quase acabar e as aulas estão a aproximar-se. – disse o Carlos deitado

na cama.

- Pois, os dias parecem passar rápido. – disse o Tiago no seu ipad.

- O que querem fazer hoje? – perguntou o Carlos atirando uma moeda ao ar, vezes sem conta.

- Não temos nada para fazer. – disse o João – E já estou farto de ir à praia.

- Então, o que vamos fazer? Morrer aqui de seca? – exclamou o Carlos.

De repente, eles ouviram alguém a bater na porta. O senhor Ricardo entrou e sorriu para

todos eles.

- Como estão? – perguntou ele.

- Estamos a morrer de seca. – disse o Carlos.

- Hehehehe. Eu sei do que vocês precisam. – disse o Ricardo tirando 5 bilhetes do bolso.

- O que é isso? – perguntou o Tiago.

- São bilhetes para um parque de diversões. É muito popular neste lugar. Espero que os

desfrutem o quando podem. – disse o Ricardo dando um bilhete a cada um e saindo do quarto.

- E o que acham, malta? – perguntou o Filipe.

- Eu acho que podíamos ir. – disse o Tiago – Talvez seja divertido.

- Eu também quero ir. – disse o Carlos – Talvez conheça algumas raparigas.

- Sempre o mesmo pervertido. – disse o Filipe – Hm? E tu, Pedro? O que achas?

O Pedro olhou do bilhete para os amigos e depois para o bilhete.

- Façam o que quiserem. – disse ele.

- Sempre o mesmo homem frio. – disse o João sorrindo – Então, está decidido. Vamos todos.

- E então as raparigas? – perguntou o Tiago.

- Elas também podem vir. – disse o João.

- Eu posso ir lá avisá-las. – disse o Carlos, saltando da cama e indo para a porta até que alguém

lhe pegou na gola por detrás – Ei! O que pensas que estás a fazer, Filipe?

- Achas mesmo que íamos deixar-te ir para o quarto das raparigas? Só se fôssemos burros. Vai

o Tiago. – disse o Filipe.

- Eh? Porque eu? – perguntou o Tiago apontando para si mesmo – Porque é que não vai o

Pedro?

- Porque eu estou a dormir. – murmurou o Pedro.

- Tu acabaste de falar! – disse o Tiago.

92

- Vá, Tiago. – disse o João empurrando o Tiago para fora do quarto – Mas cuidado. Nunca se

sabe o que pode haver num quarto de uma rapariga. Boa sorte.

- Fogo! Porque é que ele tem de ir!? – O Tiago ouviu o Carlos a gritar e depois olhou para a

porta do lado onde ele sentia um cheiro de perfume feminizado. Ele engoliu em seco e

começou a andar até chegar em frente da porta. Ele bateu lentamente na porta à espera que

alguém falasse.

- Quem é? – perguntou uma voz que pertencia pertencer à Mariana.

- É o T-tiago. – gaguejou ele.

- Tem calma, Tiago. Tu conhece-las. Elas são as tuas amigas. Por isso não há motivo nenhum

para ficar tenso. – pensou ele.

A porta abriu-se fazendo o Tiago dar um pulo de susto. Ele ouvia música e o cheiro a perfume

ficava mais forte. Ele ficou quieto, medo de entrar naquele sítio e sair como um homem

mudado. Ou como uma mulher.

- Podes entrar. – disse a Mariana.

O Tiago engoliu a sua própria saliva e entrou, passo a passo. Ele olhou em volta e viu o quarto

todo azul com três camas. A música era mais alta do que quando estava lá fora. Ele conhecia

aquela canção. James Arthur “Impossible”.

- O que queres, Tiago? – perguntou a Mariana, desviando-o da canção.

O Tiago não pode falar. A sua cara parecia um tomate agora. A Mariana estava ainda de

pijama, de calções, em que se podia ver as suas pernas e um top, que mostrava um pouco do

umbigo.

- E..eu..eu… - gaguejou o Tiago, tremendo.

- Está bem, Tiago? – disse a Mariana, aproximando-se dele.

O Tiago tremeu ainda mais e deu os bilhetes à Mariana.

- O teu avô deu-nos estes bilhetes para irmos a um parque de diversão! E nós pensámos em

convidar-vos! – disse o Tiago, olhando para o lado.

- Oh, ok. Obrigada. – disse ela, sorrindo para ele.

- D-de n-nada. – disse ele, saindo logo do quarto.

- Q-quem era? – perguntou a Rafaela, levantando-se da cama.

- Era o Tiago. – respondeu a Mariana, olhando para os bilhetes.

- O Tiago!? – gritou a Rafaela, indo para debaixo dos cobertores.

- E o que é que ele queria? – perguntou a Joana saindo da casa de banho que tinham no

quarto.

93

- O meu avô deu bilhetes para os rapazes e eles decidiram convidar-nos também. O que

acham? – perguntou a Mariana dando um bilhete a cada uma delas.

- Até pode ser divertido. Conta comigo. – disse a Joana – Vou só arranjar-me.

- Eu também quero ir! – disse a Rafaela correndo para a casa de banho mas a Joana chegou

primeiro e fechou-lhe a porta na cara.

- Vá lá, Joana! Deixa-me entrar! Eu também quero preparar-me! – suplicou a Rafaela fazendo

um choro falso, já de joelhos no chão e a bater repetidamente na porta.

- Já sabes. Quem chegar primeiro, fica com o lugar. – disse a Joana.

- Joana! – choramingou a Rafaela.

Entretanto a Mariana ignorava as amigas e olhava para o seu bilhete, lembrando da timidez do

Tiago quando o deu.

- Ele é tão fofo. – pensou a Mariana, rindo-se.

- Ei, Tiago! E como correu? – perguntou o João ao vendo o Tiago a entrar no quarto.

O Tiago não respondeu e apenas desmaiou.

- Acho que ele está morto. – disse o Filipe picando-o com um pau que encontrou na praia.

- Eu disse que devia ter sido eu a ir lá. – queixou-se o Carlos.

Logo depois de algum tempo, todos já estavam preparados. Todos encontraram na porta

principal. O Tiago olhou para a Mariana e logo corou, ao lembrar-se no que aconteceu há

pouco.

Eles saíram da casa e quando chegaram ao seu destino, eles viram muitas pessoas no parque

de diversões.

- Uau! – disse o Carlos e a Rafaela.

- Isto vai ser divertido. – disse a Mariana.

- O que estamos à espera? Vamos! – disse o João entrando com os outros atrás.

- Eu só espero que não aconteça como aconteceu no outro. – pensou a Joana ficando para

trás.

De repente, ela sentiu algo quente na sua mão. Ela viu que era outra mão e que pertencia ao

Pedro. Ele olhou para ela e com apenas um pequeno sorriso fez a Joana acalmar-se um pouco.

Quando entraram, crianças corriam atrás de uma da outra, rindo e divertindo-se.

- Ah! Olha tanta coisa que há aqui! – disse a Rafaela.

- Muito bem. O que querem fazer primeiro? – perguntou o João.

- Montanha-russa! – disse o Carlos e a Rafaela.

- Carrossel! – disse a Mariana e a Joana.

94

- Carrinhos de choque. – disse o Filipe e o Pedro.

- E que tal comermos primeiro? – perguntou o Tiago.

- Eu acho que concordo contigo, Tiago. – disse o João – Estou com alguma fome.

- Então vamos comer! – disse o Carlos correndo para um vendedor de cachorros-quentes que

havia por ali perto.

- Ele acabou de dizer que queria ir para a montanha-russa. – murmurou o Filipe.

- Nada consegue vencer o Carlos e a sua fome. – disse o João.

- É melhor irmos ter com ele. Quem sabe? Ele talvez vá comer os nossos cachorros-quentes. –

disse o Filipe indo ter com o Carlos.

E todos seguiram-no.

Logo depois de comer, eles votaram para o que deviam fazer primeiro. Primeiro foram para a

montanha-russa, já que o Carlos insistiu tanto. Mas algo acontece quando comes 8 cachorros-

quentes. O Carlos não aguentou e vomitou quase em cima do João. Logo depois de ele se

limpar, todos foram para os carrinhos de choque. E como inesperado, o Carlos decidiu bater no

carro do Filipe, que o fez ir bater no dele só que o Carlos esquivou-se e o Filipe de sem crer

bateu no carro do Pedro, que olhou para ele com os olhos a indicar vingança. Aquilo tudo

tornou-se numa batalha e as raparigas ficaram ali a ver, rindo nervosamente. A batalha

continuava se o guarda não tivesse intervindo e expulsando-os dos carrinhos de choque.

- A sério! Vocês fizeram-nos passar por uma vergonha. – disse a Rafaela.

- Culpa a ele. – disse o Filipe apontando para o Carlos que já tinha levado umas cacetadas do

João.

- Eu já pedi desculpa! O que querem que eu faça mais!? – choramingou ele.

- Olhem! Ali á frente. – disse a Mariana apontando para a frente.

Em frente deles, havia um tipo de diversão com vários tipos de animais à roda.

- É o carrossel! – disse a Joana cheia de alegria – Podemos ir? Por favor! Por favor! Por favor!

O Pedro não conseguiu conter em sorrir ao ver a felicidade colada na cara dela.

- Carrossel? Isso é para crianças. – disse o Carlos com os braços atrás da cabeça.

- Então, o que és tu? – perguntou o Filipe.

- Eu sou um homem. – disse ele com confiança.

Todos olharam para ele e começaram logo a rir-se fazendo o Carlos corar-se de vergonha.

- Eu não acho nada de mal em irmos andar um bocadinho no carrossel. – disse o João

limpando as lágrimas de tanto rir.

- Boa! – gritou a Joana cheia de alegria correndo para o carrossel.

95

O senhor disse que podiam ir duas pessoas em cada animal. A Joana subiu um cavalo branco

com uma cela cor-de-rosa. O Pedro decidiu que era a sua hipótese em conseguir passar tempo

com ela até que o João conseguiu vencer-lhe.

A Mariana também decidiu ir e o Tiago disse que ia com ela. A Rafaela viu os dois juntinhos em

cima de num pássaro castanho.

- Não podes precipitar-te, Rafaela. A Mariana disse que não queria nada com ele. Tens que

acreditar nela. – pensou ela.

O Filipe notou nos olhos tristes dela e olhou logo para o chão, lembrando-se no que o Tiago

lhe tinha dito antes de eles terem ido para o parque.

- O quê1? Tu queres fazer o quê!? – gritou o Filipe.

- Já te disse, Hoje, eu vou confessar os meus sentimentos à Mariana. –disse o Tiago.

- Mas tu não sabes o que vais fazer!? Vais destruir o coração dela! – gritou o Filipe, referindo-

se à Rafaela.

- Como confessar-lhe, vai destruir o coração dela? – perguntou o Tiago, confuso.

- Esquece. Só pensa melhor no assunto. – disse o Filipe, sabendo que não podia dizer que a

Rafaela gostava dele. Ele tinha que descobrir por conta própria.

- Eu só espero que ele não magoe a Rafaela. Se não, ele terá de se haver comigo. – pensou o

Filipe fechando a mão com força.

Entretanto o Pedro olhava para a Joana a rir-se e com os braços à volta da cintura do João.

- Ela parece mais feliz com o João. Tudo o que eu fiz foi fazê-la sofrer. Se calhar era melhor

deixá-la estar com o João. – pensou ele.

Quando a diversão acabou era hora de voltar para casa. A Joana viu que o Pedro estava

silencioso a caminhada toda. Ela tentou falar com ele mas ele ignorava-a. Ela já estava a ficar

farta desse ciclo. Ficar amigos, depois não querer falar com ela, voltar a ser amigos... Ela ia falar

com ele. E era hoje.

Quando chegaram a casa, eles foram bem-vindos com um belo jantar. Tudo estava delicioso.

Logo depois do jantar, o Filipe notou no Tiago a levar a Mariana para o jardim da casa.

- Não me digas… - pensou ele indo atrás deles.

Entretanto, a Joana procurou o Pedro por todo o lado até que o Carlos lhe disse que ele estava

no seu quarto. Ela foi lá para cima e bateu à porta.

- Pedro? Posso falar contigo? – perguntou ela.

- O que queres? – perguntou ele.

96

- Eu só queria conversar contigo sobre uma coisa. Podias abrir-me a porta? – perguntou a

Joana.

Houve um silêncio até que ela ouviu um som de uma porta a abrir-se.

- Ok. Estou a ouvir. – disse ele olhando para ela.

- Aqui não. Podíamos ir dar uma volta? – perguntou a Joana.

Ele só suspirou mas na mesma foi com ela.

O João viu os dois saírem de casa e apenas sorriu e encostou-se ao sofá.

- Porque estás tão sorridente? É esquisito. – disse o Carlos.

- Não é nada. – respondeu ele.

- Estranho. Eh? Onde está o Filipe? – perguntou o Carlos.

- Eu vou à procura dele. – disse a Rafaela.

Entretanto com o Tiago e a Mariana…

- Então do que querias falar? – perguntou a Mariana sentada na relva a olhar para as estrelas

com o Tiago ao seu lado.

- B-bem… eu não sei como dizer-te isto… - murmurou ele.

- Só diz o que o coração está a dizer-te. – disse a Mariana sorrindo para ele.

- O que o meu coração está a dizer… - murmurou ele – Ok! M-mariana!

- Hm? O que foi? – perguntou ela.

- E-eu… Eu gosto muito de ti, sabias? – disse ele corando-se.

- Oh! Eu também gosto de ti, Tiago. – disse ela.

- N-não. E-eu queria dizer como… gosto, gosto … - disse o Tiago.

- Eh? – disse a Mariana percebendo agora do que ele estava a tentar dizer, corando mais do

que ele.

- Eu gosto muito de ti. – disse ele já mais sério – Não. Eu amo-te, Mariana.

A Mariana ficou chocada e o Filipe, que estava ouvir tudo, também ficou.

- Afinal, ele conseguiu mesmo confessar-se. – pensou ele.

- Eu gostei sempre de ti desde que te vi pela primeira vez. Eu amo-te, Mariana. Por favor, diz-

me que sentes o mesmo por mim. – disse o Tiago.

- T-tiago… eu… - disse a Mariana, vendo a imagem da Rafaela na cabeça – N-não… eu não

posso…

- Por favor, Mariana! Dá-me uma oportunidade! Por favor! – suplicou ele.

- Eu não consigo conter-me mais… - pensou ela – Eu tenho de dizer-lhe o que mesmo sinto…

Desculpa Rafaela.

97

- E-eu… eu também gosto muito de ti, Tiago. – disse ela sorrindo um pequeno sorriso.

- A sério!? Obrigada! – disse ele abraçando-a – Então, não te importas que eu faça uma coisa?

- O quê? – perguntou ela confusa.

- Isto. – disse ele aproximando a sua cara da dela.

- Ah! Aqui estás, Filipe. – disse a Rafaela assustando-o – Hm? O que foi? O que se passa aí?

Quando a Rafaela ia ver o que estava atrás dele, o Filipe pôs à sua frente.

- N-não é nada. O que querias? – perguntou ele sorrindo.

- O Carlos está à tua procura. – disse ela.

- Ah, ok. Então vamos. – disse ele empurrando-a levemente para a frente.

A Rafaela olhou para trás por um bocado, só conseguindo ver a Mariana.

- O que será que ela está ali a fazer? – pensou ela.

Enquanto isso acontecia, com a Joana e o Pedro…

- Então do que querias falar? – perguntou o Pedro andando descalço na areia.

- Porque é que andas sempre calado comigo? E por favor não digas que não é nada. Porque eu

já não caio nessa. Só por favor, diz-me a verdade. – disse ela olhando nos olhos dele.

- Queres mesmo saber? – perguntou ele.

- Sim. – disse ela muito séria.

- Eu sempre te vejo feliz com o João. E eu não pude parar em ficar chateado sempre que te via

com ele. – contou ele.

- Não me digas que tens ciúmes. – disse ela na brincadeira.

- E se tiver? – disse ele.

Isso fez a Joana ficar a olhar para ele com os olhos bem abertos.

- O… o que é que disseste? – disse ela.

- E se eu tiver ciúmes? – repetiu ele – Joana, desde que nos conhecemos, eu sempre tinha uma

sensação no meu coração quando te via. E fui aí que soube que era amor. Eu ia confessar-te

naquele dia mas eu…

Ele calou-se logo. O mar batia nos dois pares de pés. Um deles estava de biquinhos de pés.

O Pedro estava espantado mas depois fechou os olhos e beijou-a de volta. A Lua pairava sobre

eles. Eles afastaram-se e ambos estavam corados.

- Não precisas de dizer mais nada. – sussurrou ela – Eu também gostei sempre de ti, Pedro.

Desde que éramos pequenos. Eu ia confessar-te mas nesse dia tu tinhas desaparecido sem

dizer-me um único adeus. Eu…

Lágrimas estavam aparecer-lhe na cara até que o Pedro abraçou-a e deu-lhe festas nas costas.

98

- Não chores mais. Desta vez não haverá nada nem ninguém que nos vai separar. – sussurrou

ele ao ouvido dela – E que tal um sorriso?

Ela limpou as lágrimas e deu-lhe um grande sorriso e os dois foram para casa de mãos dadas.

Quando chegaram, cada um foi para o seu quarto.

- Boa noite. – disse ele dando um beijo na bochecha dela, fazendo-a corar.

- B-boa noite. – gaguejou ela entrando no seu quarto.

- Oh. Estás toda vermelha, Joana. – disse a Mariana, que estava deitada na sua cama a ler um

livro.

- N-não é nada. Só estou com febre. – disse ela rindo nervosamente.

- Em pleno Verão? – disse a Rafaela – Achas mesmo que vamos acreditar nisso? Vá lá, diz-nos

o que aconteceu. Eu vi-te sair da casa com o Pedro. Aconteceu alguma coisa entre vocês os

dois?

- B-bem prometem que não contam nada a ninguém? – perguntou ela.

- Claro! - disseram as duas – Conta-nos mas é!

- Bem, foi assim… - contou a Joana.

E toda a noite, ela contou tudo sobre a conversa que ela teve com o Pedro e do beijo que eles

tiveram.

Verão, 1 de Setembro de 2015

Um próximo ano escolar aproximava-se. Os rapazes e as raparigas tinham voltado para casa e

a Joana decidiu em dar um passeio para desfrutar o que restava ainda do Verão.

Ela decidiu ir para o parque e ir para o seu sítio especial. Ela sorriu ao ver a grande árvore,

agora cheia de frutos. Ela espreguiçou os braços com os raios solares a baterem-lhe.

- Que solzinho tão bom. – disse ela.

De repente, uns braços circularam-se na sua cintura, assustando-a.

- Assustei-te? – sussurrou uma voz masculina no seu ouvido.

- P-pedro! – disse a Joana ficando toda vermelha – O q-que estás aqui a fazer?

- O mesmo que tu. – disse ele abraçando-a com mais força.

- A-as pessoas estão a olhar. – murmurou ela baixando a cabeça de vergonha.

- Deixa-as olhar. – sussurrou ele.

- Se me largares, eu dou-te um beijo. – disse ela.

- De certeza? - perguntou ele.

- Sim. – disse ela.

99

- Ok. – disse ele largando-a – E onde está o meu beijo?

- Mentira! – disse ela fugindo dele.

- Ah, sua… Quando eu te apanhar, já vais ver. – disse ele indo atrás dela com um grande

sorriso na cara.

Os dois corriam pelo parque com sorrisos nas caras e a árvore ficava a olhar para eles, o vento

a soprar as suas folhas que começavam a mudar de cor indicando o Outono.

Agora, eles irão para um novo ano escolar. E o amor deles cresce mais e mais. Mas eles terão

de enfrentar novos problemas.

100

Capítulo 4: A verdade

Outono, 5 de Outubro 2015

As árvores agora estavam coloridas com as suas folhas castanhas, amarelas, vermelhas e

laranjas. As folhas que caiam voavam ao vento. A Joana acordou cedo, que é fora do normal e

abriu a janela, observando as folhas a voarem. Algumas estavam caídas na janela, fazendo a

Joana pegando numa delas e observando como a cor é tão diferente quando é Primavera.

Logo, a mãe dela chamou-a a dizer que era hora de ir para a escola. Ela saltou da cama e foi

vestir o uniforme do colégio. Depois de comer o pequeno-almoço, ela despediu-se dos pais e

foi para o colégio.

Ela saltitava pela rua, com um grande sorriso na cara. Via-se que o Outono era a estação

favorita dela. Ela viu as folhas a taparem a estrada, fazendo um caminho de folhas de Outono.

Ela via as crianças a saltitar em cima das folhas e tirá-las ao ar, dançando por debaixo delas. A

Joana não pode conter mais. É como se a criança dentro de si tivesse a querer sair. Ela começou

a imitar as crianças e saltou em cima das folhas e atirou-as ao ar. Elas e as crianças começaram

a brincar juntas até que a Joana ouviu um flash.

Ela virou-se para trás e viu o Pedro com o seu telefone na mão.

- Vou pôr isto como plano de fundo do meu telemóvel. – disse ele sorrindo para ela.

- Fogo! Para de envergonhar-me! – disse a Joana fazendo beicinho.

- Hahahaha. Ficas muito fofa quando ficas envergonhada, sabias? – disse ele fazendo festas no

cabelo dela.

Isso fez com que a Joana corasse. Ela ficou quieta a olhar para os olhos dele até que ela sentiu

sendo arrastada. Ela viu a sua mão a ser pegada na mão dele e ele estava a caminhar com ela.

- As suas mãos são tão quentes. – pensou ela olhando para as costas dele e sorrindo ao

agarrar de volta a mão dele.

Quando eles chegaram à escola, a Joana notou nos olhares que todos estavam a dar-lhes. Ela

reparou que a mão dela e do Pedro ainda estavam agarradas, então ela tirou logo a sua mão

para o seu peito, com a cabeça baixa, escondendo a sua cara vermelha.

- Olha os pombinhos. – disse uma voz por detrás deles.

A Joana e o Pedro olharam para trás e deram de caras com a Mariana e a Rafaela, as duas com

sorrisos nas caras.

- Bem, eu tenho de ir ter com os rapazes. – disse o Pedro, dando um beijo no bochecha da

Joana, espantando-a e fazendo as duas amigas gritarem como fãs loucas – Vemo-nos mais logo.

101

A Joana ficou ali acenando-lhe quando ele se ia afastando e indo ter com os seus amigos que o

saudaram com perguntas sobre ela.

- Tu e o Pedro estão muito juntinhos. – disse a Rafaela ao seu lado.

- Vocês ficam muito fofos juntos. – disse a Mariana sorrindo.

- Parem com isso! Estão a envergonhar-me! – disse a Joana, ficando mais vermelha mas um

sorriso estava na sua cara.

As aulas tinham começado. A Joana sabia que tinha de esforçar-se mais este ano já que ela

conseguiu passar para o 9ºano. Por isso ela esteve tentar prestar atenção à aula, se o Pedro não

lhe estivesse a sussurrar coisas bonitas no ouvido dela, sempre que tinha a oportunidade.

E algumas vezes, ele soprava no ouvido dela fazendo-a gritar e levar um sermão da professora.

- Fogo, porque é que me fizeste aquilo? A professora não parou de ralhar comigo. – disse a

Joana, fazendo beicinho.

- Desculpa, mas é engraçado chatear-te. – disse o Pedro, acariciando a cara dela.

- Por favor, à nossa frente não. – queixou-se a Rafaela, tentando comer as suas sandes.

- Pois. Já estou a ficar enojado com todos esses beijinhos e abraços. – queixou-se também o

Carlos, pondo a língua de fora.

- Só dizes isso porque tu não tens namorada. – exclamou o Pedro.

- Porque é que preciso de uma namorada se tenho todas as raparigas que eu quiser? – disse o

Carlos – Todas as raparigas gostam de mim.

- É, pois. – disse o Filipe, sarcástico.

- Já vais ver. – disse o Carlos, começando a lutar com o Filipe e o Filipe estava a ganhar.

Todos começaram a rir até que o Tiago parou de rir e olhou para a Mariana, que estava a olhar

para ele, os dois com o mesmo sorriso.

Depois da hora do lanche, era hora da aula de História. A Joana e a Rafaela iam entrando na

sala quando a Mariana disse que tinha de ir à casa de banho.

Ela foi na direção da casa de banho mas depois quando viu que as amigas já tinham entrado

na sala, ela passou pela sala e foi para uma sala vazia, onde estava o Tiago.

- Já pensava que não vinhas. – disse ele, levantando-se da mesa.

- Tiago, nós não podemos continuar com isto. – disse a Mariana – E se a Rafaela descobrir?

- Eu sei. Se calhar, devíamos-lhe contar. – disse o Tiago – Mas eu não consigo parar de pensar

me ti. Eu gosto muito de ti, Mariana.

102

- Eu também, Tiago. – disse a Mariana, abraçando-o até que eles ouviram um som de um saco

a cair. Eles viraram-se para trás e viram uma Rafaela chocada, com lágrimas aparecerem-lhe

nos olhos e a mochila no chão.

- R-rafaela, eu poss… - começou a Mariana mas a Rafaela já tinha ido embora a correr.

A Rafaela corria, com as lágrimas a escorrerem-lhe cada vez mais.

- Mentirosos. – pensou ela.

- Hm? Olá, já nos conhecemos, não é? – disse o Tiago aproximando-se dela.

A Rafaela pareceu perder todas as suas forças porque quando ela notou que a cara dele estava

muito próxima da dela, as suas pernas pareceram que tinham-se tornado moles e caiu ao chão.

- Ah! Estás bem? – perguntou o Tiago, ajudando-a a levantar-se.

- Mentirosos. – pensou ela outra vez, passando por outros colegas que olhavam para ela

espantados.

Enquanto a Joana fugia da Rafaela, a Rafaela tropeçou numa pedra e caiu. Ela sentiu que onde

tenha caído era fofo até que viu que era o colo de alguém. Ela olhou para cima e viu a cara

espantada do Tiago até que ele sorriu para ela, fazendo corar e sair do colo dele, pedindo

desculpa sem parar. O Tiago apenas riu-se e deu festas na cabeça dela.

- Mentirosa! – pensou ela, rangendo os dentes e os seus punhos começavam a aparecer.

- Mariana, posso perguntar-te uma coisa? – perguntou ela.

- O que foi? – perguntou a Mariana.

- Tu, por acaso…. Gostas do Tiago? – perguntou a Rafaela, com olhar sério enquanto por

dentro, espera que ela dissesse não.

- D-do Tiago? M-mas claro que não. Eu sei o quanto gostas dele. Eu nunca poderia apunhalar-

te assim nas costas. P-porque perguntas? – respondeu a Mariana.

- É que eu vi tu e ele a chegarem hoje de manhã, a conversarem. Eu pensava… - disse a

Rafaela, sendo depois interrompida pela Mariana.

- Não te preocupes. Eu não gosto dele. Ele é todo teu. – disse a Mariana, sorrindo.

- A sério? Obrigada! – disse a Rafaela, abraçando-a - Então, quer dizer que eu ainda tenho

uma hipótese. Obrigada por dizeres-me a verdade, Mariana.

- De nada. – disse a Mariana, vendo-a a ir-se embora feliz.

- Mentirosos! – pensou ela, que as suas lágrimas ficavam cada vez maiores.

Ela foi contra o Filipe mas nem teve tenção de pedir desculpas, apenas continuou a correr para

a frente. O Filipe olhou para as costas dela, lembrando-se no que tinha visto de errado nela.

- Ela estava a chorar? – pensou ele.

103

- Filipe! – gritou a voz do Tiago – Por acaso viste a Rafaela!?

- A Rafaela? – disse o Filipe, lembrando-se das lágrimas e pegando logo na gola do amigo – O

que é que tu fizeste!?

- E-eu não fiz nada. Ela viu-nos… a mim e à Mariana… juntos. – explicou o Tiago de cabeça

baixa.

- Tch. – disse ele largando-o, fazendo o Tiago cair no chão e correu na direção onde ela foi.

Enquanto ele ia, ele passou pela Joana e o Pedro.

- Onde é que ele vai? Ele parece que está com pressa. – disse a Joana – Achas que aconteceu

algo?

O Pedro não respondeu apenas viu o Tiago no chão e foi ter com ele.

- Tiago, o que aconteceu? O que se passa com o Filipe? – perguntou ele.

O Tiago apenas explicou-lhe tudo com arrependimento.

Entretanto, com o Filipe, ele estava à procura pela Rafaela. Perguntou a todos que encontrava

se a tinham visto mas todos disseram que não. Ele decidiu ir procurar no jardim da escola só

que também não a encontrou. Ele pensou em procurar outra vez dentro do colégio mas de

repente ouviu choros a vir do pavilhão.

Ele abriu a porta para o pavilhão e viu o campo de basquetebol. Os choros ouviam-se

melhores.

- Rafaela? – perguntou o Filipe.

- V-vai-te embora! Eu não quero ver ninguém agora! – gritou ela, chorando cada vez mais alto.

- Vá lá, só quero conversar contigo. – disse ele, ao entrar na arrecadação dos matérias e

notando num pé – O Tiago contou-me o que aconteceu.

- Boa! De certeza que vieste para fazer troça de mim. – disse a Rafaela abraçando as pernas.

- Hm? Achas que sou assim tão mau para vir fazer troça de ti? – disse o Filipe, agachando-se à

frente dela.

- Eu só quero ficar sozinha. – disse ela, escondendo as lágrimas.

- Olha, eu sabia que o Tiago gostava da Mariana. – confessou o Filipe.

- O quê!? – gritou ela, encarando-o – Tu sabias? E não me disseste nada? Porque é que não

disseste antes!? Tu és igual a eles!

- Eu só sabia que ele ia confessar-se a ela! Eu não queria magoar-te ao dizer a verdade. – disse

ele, olhando nos olhos dela com paixão.

104

- Mas tu sabias na mesma! Devias ter-me dito! Devias ter-me dito! – gritou a Rafaela até que o

Filipe deu um murro mesmo ao lado da cara dela, batendo na parede em que ela estava

encostada.

- Sabes porque é que não te contei? – murmurou ele, olhando nos olhos dela, agora mais frios

– É porque eu não suportava na forma como tu olhavas para ele, como rias com ele, como só

pensavas nele. Eu não queria que ele ficasse contigo.

- O… o q-que estás… - murmurou a Rafaela, chocada pelo que saiu da boca dele.

- Eu tentei sempre dizer-te isto mas as palavras pareciam que não querer sair da minha boca. –

disse ele, aproximando-se mais dela – Desde aquele acidente no penhasco, o meu coração

pareceu agir estranhamente enquanto estava contigo. Foi aí que percebi.

- O q-que é que p-percebeste? – gaguejou ela, tentando afastar-se dele mas ela estava

encurralada entre a parede e ele.

- Hm. Talvez isto responde á tua pergunta. – disse ele.

- O… - disse ela até que os seus olhos ficaram iguais aos de uma coruja. Os lábios dele estavam

encostados nos dela. Ela não beijou de volta até que ele pôs mais pressão, fazendo-a fechar os

olhos e tentando empurrá-lo pelos ombros só que ele pegou nas mãos dela e agarrou-as nas

dele. Logo ele abriu os olhos notando nos olhos fechados dela e notou no que estava a fazer e

afastou-se.

- D-desculpa, eu precipitei-me. – disse ele, olhando para o lado.

Ela estava com as mãos nos seus lábios, ainda chocada pelo que aconteceu até que falou.

- P-porque é que fizeste i-isso?

- Não é óbvio? Eu gosto de ti, Rafaela. Muito. – respondeu ele – Desde que te conheci pela

primeira vez, eu achei que tu eras só uma chata e uma idiota, mas comecei a ver que tu eras

muito melhor do que isso. És engraçada, simpática e vê-se que preocupas pelas tuas amigas.

Naquele acidente, eu pude ver o quanto eu gostava de ti.

- P-porque é que n-não me disseste há m-mais tempo? – perguntou ela.

- Como é que eu podia confessar à rapariga que eu amo quando ela está apaixonada por dos

meus melhores amigos? – disse o Filipe.

- E-eu… eu não sei o que dizer… - disse ela.

- Por favor, Rafaela. Dá-me uma oportunidade. Eu juro que posso fazer-te a rapariga mais feliz

do mundo. – disse o Filipe – Porque estás-te a rir?

- I-isso é um bocado fatela. – disse a Rafaela, rindo-se – Não sabia que podias ser tão

romântico.

105

- Ehehe. – riu-se ele – Então, isso quer dizer que me vais dar uma oportunidade?

Ela olhou para ele, lembrando dos momentos que passou com ele.

- Talvez não seja assim tão mau dar-lhe uma oportunidade. – pensou ela.

- Ok. Só uma oportunidade! E nada de encontros românticos. – avisou ela.

- Não te preocupes. Romântico não é comigo. – disse ele, sorrindo.

- Não foi o que eu vi à pouco. – disse ela, sendo brincalhona – Talvez até conte aos outros.

- Ah, tu nem penses. – disse ele, fazendo cócegas a ela.

Ele continuava e ela ria-se que quase fazia chichi até que alguém tossiu.

Os dois pararam e viram a Joana e o Pedro ao lado, os dois com um sorriso.

- Parece que já estás melhor, Rafaela. – disse a Joana.

- A-ah, sim. O Filipe, aqui, ajudou-me. – disse ela, sorrindo para ele.

- Hm. Andem. A Mariana quer falar contigo. – disse a Joana.

- Mas eu não quero falar com ela. – disse a Rafaela, cruzando os braços – Ela na mesma

mentiu-me. Os dois esconderam isso nas minhas costas.

- Ela só fez isso para não te magoar. – disse a Joana.

- Mas… - disse a Rafaela mas ela sentiu uma pressão no ombro. Ela virou-se e viu o Filipe com

olhar sério.

- Tu tens de deixá-la falar contigo. – disse ele.

Ela viu que a Joana e o Pedro também concordavam com isso. Vendo que não havia outra

opção, ela concordou também.

A Mariana estava na sala de aula, preocupada até que ela viu a Rafaela a entrar com os outros.

- Rafaela! – disse ela, indo abraçá-la – Desculpa! Desculpa mesmo! Eu só não queria magoar-

te!

- Eu sei. Eu sei. – disse a Rafaela, abraçando-a de volta – Eu encontrei o meu verdadeiro amor.

- Desculpa Rafaela. – disse o Tiago, aproximando-se dela.

- Não te tens de preocupar. Eu sei que vocês não me disseram para não me magoarem. Eu

entendo. Também eu agora encontrei alguém que gosta mesmo de mim. – disse ela, olhando

para o Filipe que também olhava para ela.

A Mariana e o Tiago olharam para eles espantados.

- N-não me digam que vocês… - disse a Mariana, apontando para eles.

- Sim, nós andamos agora. – disse a Rafaela sorrindo.

- M-mas como? – disse o Tiago.

106

- Eu confessei-lhe. Pedi-lhe uma oportunidade e ela deu-ma. – disse o Filipe, abraçando a

Rafaela por detrás com o queixo no ombro dela.

- Ai, que fofo! – disse a Mariana, com estrelas nos olhos.

- Eu sabia que havia de algo estranho entre ti e ela. – disse o Tiago – Finalmente, ganhaste

coragem em confessar.

- Pois, e não me arrependo nada. – disse o Filipe, dando um beijo na bochecha dela e fazendo-

a corar.

- E-ei! – gritou a Rafaela, virando-se para ele, toda vermelha.

E todos riram-se.

Quando a escola acabou, todos se foram para casa e quando a Joana ia passar os portões da

escola, ela ouviu uma voz a chamá-la.

- Espera, Rafaela! Eu quero perguntar-te uma coisa. – disse o Pedro, pegando nas mãos dela –

Por acaso, tens algo para fazer no sábado?

- Espera. – disse a Joana – Estás a convidar-me para um encontro?

- É assim tão óbvio? – disse ele, coçando a cabeça.

- Hehehe, sim. – disse ela, sorrindo – Mas eu aceito.

- A sério? Fixe. – disse o Pedro – Vem encontrar-me na grande árvore, no sábado às 15:00. Eu

vou lá buscar-te.

- Ok. Tchau. – despediu-se ela.

- Só mais uma coisa. – disse ele.

- O quê? – perguntou ela, virando-se e de repente ela viu a cara dele muito próxima da dela –

O que… o que e-estás a f-fazer?

- O quê? Não posso beijar a minha própria namorada? – perguntou ele, com um sorriso.

- B-bem… - disse ela, virando a cara – S-só um, ok?

- Hm. – disse ele, aproximando mais dela e os seus lábios encontrarem-se com os dela.

O que eles não sabiam é que havia duas curiosas que estavam atrás da parede dos portões a

ver tudo.

- Então, vemo-nos amanhã. – despediu-se ele e foi-se embora.

- Tchau. – despediu-se ela, acenando e com uma expressão como se estivesse nas nuvens.

Quando ele desapareceu de vista, as duas curiosas decidiram aparecer.

- Oh, Pedro. Só um beijo. – imitou a Mariana.

As duas começaram a fazer sons de beijos.

- Vocês as duas podem parar de fazer isso? – disse a Joana, ficando envergonhada.

107

- Vá lá Joana. Tu e ele fazem o par perfeito. – disse a Rafaela, pondo o braço à volta dos

ombros dela – E parece que vocês os dois vão a um encontro.

- Não te preocupes, Joana. Eu e a Rafaela vamos ajudar-te a preparar para o teu encontro. –

comentou a Mariana.

- Não é preciso ajudarem-me. Obrigada. – disse a Joana.

- Nem penses. É o teu primeiro encontro e nós como tuas amigas, vamos ajudar-te. Estaremos

na tua casa, no sábado às 13:30.

- Sempre que a Mariana põe uma coisa na cabeça, ninguém consegue pará-la. – pensou a

Joana.

- Ok. Vocês podem vir. – concordou ela.

- Ei! E que tal uma corridinha? Ouvi dizer que há uma loja de doces aqui perto. – disse a

Rafaela.

- Ótimo! Vens, Joana? – perguntou a Mariana.

- Sim. – disse ela sorrindo e correndo com as amigas à tal loja de doces.

Outono, 10 de Outubro 2015

O dia do encontro tinha chegado. A Joana ainda estava a dormir até que alguém a abanou,

fazendo-a acordar. Ela esfregou os olhos e virou-se vendo a Rafaela e a Mariana com grandes

sorrisos nas caras.

- O que estão aqui a fazer? – perguntou a Joana, olhando para o despertador – Ainda são só

10:00

- Pois, nós decidimos vir mais cedo. A tua mãe deixou-nos entrar. – respondeu a Mariana –

Agora levanta-te. Vamos preparar-te.

- Mas ainda é muito cedo. – murmurou a Joana, voltando a aconchegar-se nos cobertores.

A Mariana olhou para a Rafaela e acenou com a cabeça. De repente, água gelada caiu na

Joana.

- Fogo! Para que foi isso!? – disse a Joana, levantando-se toda encharcada e a cama também.

- Nós já sabíamos que ias voltar a adormecer por isso tínhamos um plano B. – respondeu a

Mariana, pegando no braço da Joana e puxando-a para dentro da casa de banho – Agora, vais

lavar-te. Eu até consigo ver as tuas olheiras.

Depois de ela lavar os dentes, lavar a cara, lavar as mãos, pentear-se, ela saiu da casa de

banho e foi para o seu quarto e viu um montão de roupas em cima da sua cama.

- O que é isto tudo? – perguntou ela.

- Nós vamos ver que roupa é a ideal para o teu encontro. – respondeu a Mariana.

108

- Primeiro, experimenta estas calças com esta camisa. – disse a Rafaela, dando-lhe umas calças

azuis e uma camisa verde clarinho.

Depois de vestir tantas peças de roupa, finalmente conseguiram escolher umas calças de cor-

de-rosa e uma camisola de malha com a Hello Kitty. E para combinar, uns sapatinhos da mesma

cor com um laço.

- Finalmente! – disse a Rafaela desmaiando em cima da cama.

- Que horas são? – perguntou a Joana.

A Mariana olhou para o seu relógio e viu que era já 12:30.

- Não acredito que ficámos 2 horas e meia à experimentar roupas. – disse a Mariana.

- Meninas venham comer! – gritou a mãe de lá de baixo.

- De certeza que a comida vai recuperar-me as forças. – disse a Rafaela correndo para as

escadas juntamente com a Joana e a Mariana.

- Que linda estás, filha! – exclamou a mãe, olhando com alegria nos olhos – Querida, a nossa

filha não está fantástica?

- Sim. Mas porque estás assim vestida? – perguntou o pai.

- Bem… - disse a Joana.

- Ela vai a um encontro! – exclamaram as outras duas.

- Um encontro!? – disse a mãe cheia de alegria.

- Um encontro!? – gritou o pai, chocado – Com quem?! É com um rapaz!?

- Vá, querido, deixa-a em paz. Venham comer, queridas. – disse a mãe.

Todos sentaram à mesa e cheiraram logo ao arroz de pato. A especialidade da mãe da Joana.

- Há muito tempo que não comia o seu arroz de pato, Senhora Pereira. – disse a Mariana.

- Ah. Não é preciso chamarem-me de Senhora. Podem chamar-me de Anastácia. – disse ela,

sorrindo.

- Está muito bom! – disse a Rafaela, comendo tudo numa só garfada – Ah! estou tão cheia!

- Isso é por tu comeres muito depressa. – exclamou a Mariana.

- Hahaha. Não faz mal. Continuas a mesma, Rafaela. – disse a Anastácia.

- Ehehehe. – riu-se a Rafaela, coçando a cabeça.

Depois de todos comerem, a Mariana e a Rafaela tiveram de ir para casa. Por isso,

despediram-se da Joana e dos seus pais e foram-se.

- Muito bem, minha jovem. O que é isso de tal encontro? – perguntou o pai.

- Bem… - começou a Joana – Eu tenho um namorado.

109

- Um namorado!? - gritou o pau de choque – Quem é? Quem é esse rapaz que eu vou falar

com ele?

- Não lhe faças nada, pai. Ele é um bom rapaz. – disse a Joana – E ele convidou-me para um

encontro hoje.

- Oh! – disse a Anastácia encantada – Vá lá querido, deixa-a ir. Ela está a crescer. Ela agora é

uma mulher. Devemos deixá-la crescer.

- Ok. – disse o pai, suspirando – Mas que ele venha trazer-te pela hora do jantar.

- Muito obrigada! – gritou ela, abraçando os dois – Vocês são os melhores pais do mundo!

E depois disso deu um beijo na bochecha de cada um e foi lá para cima.

- A nossa filha está a tornar-se numa mulher. – disse a Anastácia, sorrindo.

Entretanto, na casa do Pedro…

- Está quase na hora. – disse ele, olhando para o relógio – Mais duas horas.

De repente, alguém entrou de rompante no quarto dele. Era o Carlos.

- P-pedro. –disse ele a suar – Eles apanharam o Tiago.

- O quê? – gritou o Pedro, levantando-se – Onde estão os outros?

- Eles estão lá fora, à espera. Temos que ir salvá-lo, meu. – disse o Carlos.

O Pedro olhou para o telemóvel que estava em cima da cabeceira, para a imagem da Joana a

brincar com as folhas no seu plano de fundo.

Ele rangeu os dentes e cerrou os punhos. Ele foi lá para fora com o Carlos atrás.

- Pedro! – disse o Filipe.

- Vamos. – disse ele, muito seriamente.

- Desculpa Joana. – pensou ele.

A Joana estava a entrar no parque e ir na direção da grande árvore. Quando ela chegou, ela

olhou para a grande árvore e sorriu. Sentou-se na relva e encostou-se ao tronco da árvore.

Horas passaram e ele ainda não tinha parecido. Ela olhava em volta e ficou horas à espera

dele. Até que já eram 18:00. Ela soube que ele já não vinha mais. Talvez ele só se tinha

esquecido. Ela levantou-se da relva e foi caminho a casa.

Enquanto passava, pareceu-lhe ouvir gritos e tiros. Ela parou mesmo a uma fábrica

abandonada. Pareceu que ela ouviu uma voz conhecida. Sendo curiosa, ela abriu a porta um

bocado devagar e o seu sangue pareceu ficar frio.

Á sua frente, estava o Pedro com uma pistola… as suas roupas cheias de sangue… e um homem

morto à sua frente. O Tiago e os outros também estavam lá. Via-se que o Tiago estava com

alguns arranhões e outros homens estavam mortos no chão.

110

O Pedro estava a respirar profundamente até que ele ouviu algo que o espantou.

- J-joana… - murmurou o João.

O Pedro virou rapidamente a cabeça encarando as lágrimas nos olhos da Joana. Ela viu tudo.

Ela viu-o a matar outro homem. Aquelas lágrimas são por causa dele.

- J-joa… - disse ele dando um passo em frente mas ela desatou a correr – Joana!

Mas uma mão agarrou-lhe no ombro. Ele virou-se e viu o Filipe, parando-o.

- Deixa-me ir Filipe! Eu tenho de ir te com ela! – gritou ele.

- E dizer-lhe o quê? Que todo este tempo mentiste-lhe? Que fazes parte de um gang que mata

outros gangs? Achas mesmo que ela vai perdoar-te ao saber a verdade? – disse o Filipe – Ela

afastar-se-á mais de ti. Dá-lhe um tempo. Deixa-a acalmar-se até ao momento certo.

O Pedro olhou para o chão e fechou os punhos.

- Fogo! Porque é que isto teve de acontecer!? – pensou ele, com lágrimas a saírem-lhe pelo

olho.

A Joana correu com lágrimas a escorrem-lhe da cara e entrou de rompante em casa, indo para

cima.

- Joana, és tu? Como correu o encontro? – perguntou a mãe.

Ela não respondeu de volta e só se ouviu um som de uma porta a fechar-se com força.

- O que terá acontecido? – perguntou a mãe.

- Não sei, mas espero que esse tal rapaz não a tenha magoado. – disse o pai.

Dentro do quarto dela, a Joana estava sentada na cama, encostada à parede, abraçando as suas

pernas, não conseguindo parar de chorar.

- Ele acabou de matar aquele homem. – pensou ela – O meu namorado acabou de matar

alguém. Porque é que ele nunca me contou?

- Porque é que ele mentiu-me? – pensou ela, continuando a chorar.

E tudo o que se ouvia no quarto escuro, eram os seus choros.

Outono, 19 de Outubro 2015

Uma semana passou. A Mariana e a Rafaela tinham-lhe perguntado como tinha corrido o

encontro mas ela não queria falar nisso. As duas amigas acharam estranho mas decidiram não

forçar mais a amiga. Ela não queria contar às amigas o que tinha visto naquele dia. Elas podiam

chamar a polícia e a Joana não queria que o Pedro fosse preso mesmo que ele tenha matado

alguém. Ela só queria saber o que o fez fazer aquilo e porque é que ele não lhe contou.

111

Nessa semana, a Joana nunca mais falou ou olhou para o Pedro. Ele tentava sempre falar com

ela mas ela corria sempre. Ela até mudou de lugar com outra colega só para não estar ao lado

dele.

Mesmo que o amasse, ela ficou com medo dele depois do que viu. Ela sabia que estava a

magoá-lo, sempre que via cara triste dele quando ela fugia dele, e ela também estava magoada

por estar a fazer isto a ele mas o seu medo era mais forte.

Depois da aula, a Joana estava a arrumar as suas coisas quando sentiu uma presença ao seu

lado.

- Joana, podemos conversar? – perguntou o Pedro, com um olhar triste.

- D-desculpa, e-eu tenho que ir! – disse ela correndo para fora da sala, espantando todos, até

as amigas.

- O que ela tem? – perguntou a Rafaela.

- Passou-se alguma coisa? – perguntou a Mariana.

Nenhum dos rapazes respondeu a nenhuma daquelas perguntas.

As duas raparigas olharam para eles confusas e depois uma para a outra.

- Pedro. Tiago. – disse o João na porta – Preciso falar convosco.

Os dois rapazes olharam um para o outro, despediram-se das raparigas e foram com o João.

Eles foram para o pavilhão e viram lá o Carlos e o Filipe.

- Já que estamos cá todos, vamos começar. – disse o João – Acho que todos sabem porque

estão aqui.

- É para falarmos da Joana, não é? – perguntou o Tiago, olhando de lado para o Pedro.

- Sim. – disse o João, suspirando –E eu acho que ela deve saber a verdade.

- O quê!? – gritaram todos, exceto o Pedro que estava agora a olhar para o João, chocado.

- Pedro. – disse o João, aproximando-se dele – Eu sei que te estás a sentir mal por não teres

podido contar nada a ela e pela imagem que ela viu de ti ontem, por isso, vou deixar-te contar-

lhe toda a verdade. Não fiques aqui especado! Vai lá ter com o teu amor!

- Mas eu pensava… - murmurou o Pedro.

- Pensavas que eu ia roubar ela de ti, não era? Isso foi só para tu ganhares coragem em

confessar-lhe. – disse o João – Nunca roubaria o amor do meu meio-irmão, pois não? Agora vai

antes que eu mude de ideias.

O Pedro olhou para ele e depois para os outros e foi para fora do pavilhão.

- João, isso é boa ideia? – perguntou o Filipe.

112

- Se quiserem, também podem contar às vossas namoradas. O Pedro não tem de ser o único a

tirar o peso de cima. Mas não vos posso certificar que elas irão ou não afastar-se de vocês. Eu

só acho que podemos confiar nelas. – explicou o João – Já não teremos de esconder isto delas

já que elas são as pessoas que vocês gostam mais no mundo. Por isso, vão lá. Eu não vos vou

impedir. A decisão é vossa.

Ao ouvir aquelas palavras, o Tiago e o Filipe ficaram espantados pelo João saber dizer palavras

tão sérias. Os corpos deles ficaram paralisados. Será que eles deviam contar a verdade para

elas? Eles não queriam metê-las nos problemas deles. Mas elas poderão ficar zangadas se

souberem que eles estiveram a mentir-lhes este tempo todo. Eles tinham de dizer-lhes a

verdade. Era hora de dizer a verdade. Mesmo que elas os odeiem, eles tinham que tirar aquele

peso de cima dos ombros.

Eles olharam um para o outro, sabendo que estavam a pensar no mesmo. Eles olharam para o

João e ele só sorriu-lhes com um pequeno sorriso.

- Vão. – murmurou ele.

Os dois correram atrás dos seus amores.

- Achas isto boa ideia? – perguntou o Carlos, encostado à parede.

- A decisão foi deles. – respondeu o João – Agora está nas mãos deles.

- Tu amoleceste, João. – disse o Carlos.

- Sim. Acho que sim. – disse ele.

Entretanto com o Pedro, ele estava a correr, indo contra os seus colegas mas ele não parou

para pedir desculpas. Ele continuou até fora, vendo a Joana saindo da escola.

- Joana! – gritou ele.

Ao ouvir a voz dele, ela desatou a correr, indo contra algumas colegas mas ele conseguiu pará-

la, ao agarrar na mão dela.

- Larga-me Pedro. – murmurou ela.

- Por favor Joana. – disse ele – Eu só quero conversar.

- Mas eu não. Agora larga-me ou eu grito. Ou vais matar-me? – disse a Joana, olhando com ele

com os seus olhos sérios.

- Por favor. Eu só quero explicar tudo. Eu prometo que depois de contar tudo, eu deixo-te em

paz. – suplicou ele.

Ela viu nos olhos dele que ele estava a falar a verdade. Por isso, ela decidiu dar-lhe uma

oportunidade.

113

- Está bem. – disse ela, fazendo-o largar a mão dela de alivio – Mas aqui não. Vamos para um

sítio mais sossegado.

Os dois foram para o parque e sentaram-se nos baloiços a ver o pôr-do-sol e as crianças a

saltarem nos montes de folhas de Outono.

- Bem, podes começar a explicar. – disse a Joana.

- Eu não sei como começar. – murmurou o Pedro.

- Só começa pelo inicio. Quando tu começaste a fazer… a fazer aquilo. – disse ela – Eu só quero

saber porquê, Pedro. Eu só quero saber o que aconteceu ao meu amigo de infância.

- Tudo começou antes de eu te conhecer. Quando eu tinha 3 anos, eu comecei a notar nas

feridas que a minha mãe começava a ter. – começou ele – Eu ainda era uma criança para

perceber o que se passava. Até que fiz 5 anos. Uma noite, eu ouvi uns sons de coisas a partir. Eu

levantei-me e fui lá para baixo. E fui aí que vi o meu pai, bêbado, a bater na minha mãe. Um

sentimento nasceu em mim nessa noite. Raiva.

Entretanto em outro lugar, o Filipe disse à Rafaela que queria conversar com ela. Os dois

pararam num café e sentaram-se numa mesa.

- Então do que querias falar? – perguntou ela, bebendo o seu sumo.

- Que queria falar-te sobre… - começou ele - … sobre a verdade.

- A verdade? – perguntou a Rafaela, confusa.

Em outro lugar, o Tiago estava com a Mariana a dar um passeio na rua enquanto pararam e

sentaram-se num banco.

- Do que querias falar? – perguntou ela.

- Uma coisa que podes não acreditar. Mas eu preciso mesmo de contar-te. – respondeu ele,

olhando para o chão.

- É algo de mau? – perguntou ela, preocupada.

- Alguma coisa assim. Que quero falar-te da minha verdadeira vida, Mariana. – disse ele,

olhando nos olhos dela.

Com a Joana e o Pedro…

- Eu comecei a sentir raiva e ódio pelo meu pai nesse dia. Eu sempre o via sair com outras

mulheres e a minha mãe estava sempre a dar o seu melhor. – disse ele – Até que um dia, a

minha mãe morreu… nas mãos daquele maldito que eu chamava pai.

A Joana ficou a ouvir a história dele, assustada e preocupada. Ela nunca pensou que a vida do

Pedro poderia ter sido tão… perturbadora.

- O que aconteceu afinal entre o teu pai e a tua mãe? – perguntou ela.

114

- Eu estava em casa a ver televisão até que ouvi a campainha a tocar. A minha mãe foi atendê-

la e eu fui lá ver. Quatro homens de negro estavam parados na porta com uns olhares

assustadores. A minha mãe tentou dizer para eles se irem embora mas eles não se mexiam. Ela

ia fechar-lhes a porta na cara mas de repente, um deles tirou uma pistola e apontou-a para a

minha mãe. Eu comecei a ficar preocupado. Eu ia ajudar a minha mãe mas ela disse-me para eu

afastar-me e ir para o meu quarto. Eu não mexi-me. Os homens perguntaram-lhe pelo nome e

quando ela respondeu, um deles ligou a alguém e quando desligou ele acenou para os outros

homens. Foi muito rápido. Eu ainda não consigo tirar aquela imagem da minha cabeça.

O Pedro começou a chorar por isso a Joana saiu do baloiço e agachou-se em frente dele e

pegou nas suas mãos. Ela sabia que devia estar assustada dele mas ela nunca o tinha visto

naquela maneira. Só lhe apeteceu abraçá-lo e dizer-lhe que ia estar tudo bem. Mas ela tinha de

ouvir o que aconteceu a seguir.

- Pedro… Pedro… olha para mim… o que aconteceu? – perguntou ela, lentamente.

- E-eu… eu não pude fazer nada… - chorou ele, deitando agora lágrimas e ranho – O homem

disparou contra a minha mãe e ela caiu simplesmente à minha frente, olhando para mim, em

vez com os seus olhos castanhos cheios de alegria, com uns olhos frios e distantes como se a

sua alma tivesse abandonado o seu corpo. Aproximei-me ao corpo dela, tentando acordá-la

mas ela não mexia-se. Ela já não olhava para mim com ternura. A sua pele começou a ficar fria

e onde ela levou com o tiro começou a deitar mais sangue. De repente, chegou uma pessoa. Era

o meu pai. Eu pensava que ele ia dar cabo daqueles tipos até à morte mas ele apenas olhou

para mim com um sorriso malicioso. Ele tinha dado algumas notas aos homens e eles depois

deram um montão de notas para ele. Os homens foram-se embora, deixando a mim e aquele

tipo que já não reconhecia mais como pai. Ele só olhou para mim com pena e depois foi lá para

cima e voltou com malas. Ele saiu simplesmente pela porta sem olhar para trás. Depois de

algumas horas, ali a chorar ao lado da minha mãe, eu decidi pegar fogo à casa. Eu vi como as

chamas dançavam à volta da casa. Eu lembrei-me das memórias que passei naquela casa com a

minha mãe. A comida acabada de fazer que ela fazia, os sorrisos que ela dava-me sempre e as

histórias que ela contava-me para adormecer. Todas essas memórias apagaram-se juntamente

com a casa.

Eu tornei-me num vagabundo. Não tinha nenhum lado para ir. Ninguém para ficar. Eu dormia

nos becos e roubava dinheiro às pessoas para conseguir comida. Eu sei que era errado. Eu

ainda me arrependo nisso. Até que um dia, fui salvo por uma pessoa especial.

- Alguém especial? – perguntou a Joana.

115

- Sim. – respondeu ele, sorrindo ao lembrar-se – Foi alguém que me fez fazer parte da sua

família.

Com a Rafaela e o Filipe…

- Eu sei que ficarás zangada comigo quando eu contar-te isto mas eu preciso mesmo de tirar

isto da minha cabeça. – disse o Filipe – Mesmo que isso faça me odiares.

- Filipe, estás assustar-me. – disse a Rafaela, agarrando-lhe na mão – Por favor, conta-me.

- Ok. Mas eu aviso-te. Não vai ser nada bom a história que eu estou prestes a contar-te. – disse

ele – Tudo começou, quando tinha 6 anos. A minha mãe tinha morrido ao dar-me luz, por isso

tive de passar a minha vida com o meu pai que só batia-me sempre que ele ficava furioso. Eu já

estava farto daquela vida, então decidi fugir de casa. Não tinha dinheiro nenhum, não tinhas

roupas limpas e cheirava mal que afugentava as pessoas. Estava fraco que desmaiei. No dia

seguinte, acordei numa cama confortável, mais confortável na que dormia na minha casa. Via-

se que naquele sítio, devia ser de alguém muito rico. Ouvi alguém a bater na porta e um miúdo

de cabelos pretos, quase da minha idade. Ele parecia ser um ano mais novo do que eu. Foi

nessa altura que eu conheci o Tiago. Ele e eu ficámos bons amigos e quando contei-lhe o que

me aconteceu, ele deixou-me viver com ele e a sua tia.

Entretanto com a Mariana e o Tiago…

- A minha família era muito rica. Tinha tudo o que eu quisesse. – disse o Tiago – Mas nada

pode substituir os teus próprios pais.

- Os teus pais? – disse a Mariana, confusa – Por acaso, tu nunca falaste sobre os teus pais. O

que lhes aconteceu?

- Eles morreram. – respondeu o Tiago – Num acidente de carro. Eu nunca soube até que ouvi

as minhas empregadas a falar nisso. Depois disso, eu nunca mais falei ou sorri para alguém. E

como nunca tive amigos, foi mais fácil para mim. Até que conheci o Filipe.

- O Filipe? – disse a Mariana.

- Sim. A minha tia encontrou-o desmaiado na nossa porta. Ela troce-o cá para dentro e tomou

conta dele. Quando falei com ele pela primeira vez, ficámos amigos. Ele até contou-me como

tinha sido difícil a sua vida. Como a mãe dele morreu quando ele nasceu, como o pai dele batia-

lhe e como fugiu de casa naquela noite. Ele também teve uma vida difícil tal como eu.

Enquanto eles falavam, o Pedro ainda contava a sua parte à Joana.

- Uma noite, eu estava a dormir num beco até que de repente ouvi vozes. Miúdos mais velhos

do que eu vieram na minha direção e começaram a bater-me. Eu não sabia lutar, por isso não

consegui fazer nada. Eu quase morri de falta de sangue até que os rufias foram-se embora e só

116

consegui ver uma forma desfocada antes de desmaiar. Logo que eu recuperei os meus sentidos,

acordei numa casa abandonada e fui aí que conheci o João.

- O João? – disse a Joana.

- Hm. Parecia que ele também tinha sofrido o mesmo que eu. Que o seu pai tratava mal a sua

mãe e que a mãe dele morreu nas mãos dos mesmos homens negros que mataram a minha.

Mas eu fiquei mais chocado no que soube a seguir.

- O quê? – perguntou ela – O que é que soubeste?

- O pai dele… - começou o Pedro.

… era também o meu pai.

- Ele enganava a mãe dele com a minha. Era por isso que ele saía todas as noites – disse o

Pedro rangendo os dentes e fechando os punhos – O João contou-me que ele engravidou a mãe

dele e nunca mais a veio ver depois disso. Só que um dia, ele apareceu de repente e aconteceu

tal como aconteceu a mim. Quando soube que ele era meu meio-irmão, ainda não conseguia

acreditar. A raiva dentro de mim cresceu cada vez mais. Só me apetecia vingar naquele maldito.

Passei a viver com o João e soube que ele era mais velho do que eu. As pessoas da rua

tratavam-no como família e quando me conheceram começaram a tratar-me como família

também.

Quando tinha 6 anos, fui dar uma volta pelo parque e foi aí que te conheci. Tu estavas tão

linda naquela roupa de inverno que tinhas. Eu gostava de ver-te a fazer bonecos de neve até

que vi três rufias a meter contigo. Eu salvei-te mas tu deves ainda te lembrar, não?

- Hm. Claro que me lembro. – disse ela, limpando as lágrimas – Mas porque é que tu foste

embora naquele dia?

- Sempre que te via no parque, eu comecei a gostar mais de ti. Tu fizeste-me sorrir depois de

tantos anos. Tu eras como a luz que estava a tirar-me da escuridão. Eu queria confessar-te

naquele dia só que houve um problema e eu e o João tivemos que fugir da cidade – respondeu

o Pedro

- Que problema? – perguntou a Joana.

- No dia 31 de Dezembro de 2010, no dia em que tu e eu combinámos em encontrar no

parque, eu tive um problema. O meu pai veio à casa do João, ameaçá-lo para ele dar o seu

dinheiro, já que o João trabalhava em muitos trabalhos para ganhar dinheiro. Ele ficou

espantado para ver-me ali mas depois ignorou-me e apontou uma pistola na cara do João. Ele ia

puxar o gatilho mas eu reagi mais depressa e consegui pegar-lhe na pistola e apontei-a para ele,

117

com ódio bem visível na minha cara. Eu não queria fazer aquilo mas eu tinha tanto ódio por

aquele homem. Eu não conseguia perdoá-lo depois de tudo que fez.

Eu disparei nele. Eu disparei no meu próprio pai. Eu tinha o seu sangue nas minhas mãos.

Quando vi o corpo dele cair no chão, eu reparei no que fiz e deixei cair a arma. O João ficou ao

meu lado espantando mas depois ouvimos a polícia a aproximar-se. O João pegou no meu

braço e nós os dois fugimos daquela cidade. Ele disse que tinha um amigo para onde íamos. E

esse tal amigo era o Carlos. E depois também conhecemos depois o Filipe e o Tiago. E estes

quatro anos, fomos cuidados pela tia do Tiago. Nós sabíamos como era viver uma vida difícil e

como não conseguimos apagar o passado, formamos um gang e matamos vários gangs que se

metiam connosco. E depois a tia do Tiago mudou para aqui e nós viemos juntamente com ela. E

tu já sabes o resto.

Eu sei que é difícil ouvir isto tudo. Eu só queria contar-te tudo e tirar este peso nos ombros. Eu

sei que vais começar a odia…

O Pedro não acabou de falar porque a Joana tinha-o abraçado. Ela espantou-o, chorando no

seu ombro.

- J-joana? – sussurrou o Pedro.

- Eu não acredito que tiveste que passar por isso tudo. – murmurou ela, ainda chorando – E eu

não pude fazer nada para te ajudar. Deves ter sofrido tanto.

- Joana, tu não me odeias? – perguntou o Pedro.

Ela separou-se do abraço e olhou-lhe nos olhos.

- Como podia ficar zangada contigo? Eu faria o mesmo se isso acontecesse comigo. – disse ela

com um pequeno sorriso – Mas só não compreendo uma coisa.

- O quê? – perguntou o Pedro.

- Porque é que mudaste o teu nome? – perguntou ela.

- O nome “Gonçalo” foi o nome que o meu pai me deu. Quando fugi com o João, mudei de

nome para não conseguirem-me encontrar e porque eu detestava esse nome. – respondeu o

Pedro.

- Por acaso, eu até gosto do nome Pedro. – disse a Joana, sorrindo.

Ele sorriu e pegou na cara dela com as suas mãos, puxou-a até ele e beijou-a com muita

paixão.

Enquanto isso acontecia, o Filipe e o Tiago contaram o resto das suas histórias, dizendo que

conheceram o Carlos e depois o João e o Pedro e como eles também tiveram vidas difíceis. E

também contaram como formaram um gang e os dois tiveram as mesmas reações. A Mariana e

118

a Rafaela estavam a chorar. Elas sabiam que eles não tinham culpa e elas não podiam ficar

zangadas com eles. Cada uma abraçou-os e disseram como estavam tão tristes por eles. Que

elas deviam ter estado lá para eles.

Tudo se resolveu. A verdade foi contada. Os rapazes já não se tinham preocupar mais. Elas já

sabiam a verdade e elas aceitaram-na. Tudo ia voltar ao normal.

Ou outro problema ia aparecer?

Enquanto a Joana e o Pedro beijavam-se, havia alguém escondido atrás de uma árvore. Um

telemóvel tocou e essa pessoa atendeu-o.

- Sim? Sim, encontrei-o. E ele está com alguém. – disse a pessoa – É uma rapariga. Sim. Acho

que podemos usá-la.

E depois disso, ele desligou e só sorriu maliciosamente e desapareceu.

A verdade foi dita. O passado dos rapazes foi revelado. Mas quem será aquele homem? Será

que a Joana está em perigo? Veremos o que acontecerá no próximo e último capítulo.

119

Capítulo 5: Um novo começo

Inverno, 25 de Dezembro de 2015

O Natal tinha chegado. As decorações de Natal estavam espalhadas por toda a cidade. A neve

tinha voltado e tudo estava coberto em neve. Crianças corriam de um lado para outro, atirando

bolas de neve e outras faziam bonecos de neve e anjinhos.

Na casa da Joana, ela estava a ajudar a sua mãe a fazer a árvore de Natal enquanto o pai

estava a ler um jornal com um café bem quente.

De repente, alguém tocou à campainha.

- Eu vou lá! – disse a Joana, abrindo a porta e sorrindo para as suas amigas – Já chegaram!

- Desculpa a demora. – disse a Mariana abraçando-a e a seguir a Rafaela.

- Trocemos muita comida. – disse o Carlos, mostrando um saco com um monte de comida.

- Devem estar com frio aí fora. Entrem! Entrem! – disse a mãe, sacudindo as mãos.

Depois de todos entrarem, a Joana ficou chocada em quem viu a seguir.

- Senhora Ana! – disse a Joana, abraçando a tia do Tiago.

- Há tanto tempo que não te via Joana! – disse ela abraçando-a de volta – O Pedro já me

contou tudo.

Isso fez a Joana corar-se.

- Eu disse-te que ele gostava de ti. – sussurrou a Ana no ouvido dela, entrando e

apresentando-se à Anastácia.

- Vamos então lá? – perguntou o Tiago com o braço à volta do ombro da Mariana.

- Sim, vamos já. Só vou avisar a minha mãe. – disse a Joana, entrando na sala de estar – Mãe,

eu e os meus amigos podemos ir ao cinema? Eu prometo que voltámos à hora do jantar.

- Claro que podem ir. Eu fico aqui a conversar com a Ana. – disse a Anastácia sorrindo para a

Ana.

- Obrigada. – disse a Joana, abraçando-a – Adeus!

- Eu não quero nada de beijos, ouviste!? – gritou o pai quando ela fechou logo a porta.

- Ai, o meu pai… - murmurou a Joana, cheia de vergonha até que sentiu um beijo na bochecha.

Ela olhou e viu o Pedro a afastar-se dela – Fogo! Porque é que me envergonhas sempre?

- Porque é divertido. – respondeu ele, olhando para ela e sorrindo que fez ela corar ainda mais

até que ouviu as suas amigas, uma em cada lado dela, a rir.

- A sério!? Vocês também!? – gritou a Joana.

- Vá, venham. O filme vai começar sem nós! – disse o João.

120

Logo eles chegaram ao cinema e viram o filme. Foram comer para um café e depois decidiram ir

brincar para o parque. Dividiram em equipas. Na primeira equipa estava a Rafaela, o Filipe, a

Mariana e o João e na segunda equipa era o Tiago, o Carlos, o Pedro e a Joana. Cada equipa

escondeu-se e começaram a tirar bolas de neve para a equipa adversária.

Depois de algumas horas de brincadeira, viram nos seus relógios que já eram 19:30 por isso

decidiram ir para a casa da Joana. Quando chegaram lá, um cheiro magnifico entrou-lhes no

nariz e eles correram logo para a mesa de jantar e viram imensas coisas deliciosas. Um peru

recheado, batatas fritas, tarte de noz, bolo de chocolate, amendoins, camarões, bolo de

bolacha, mousse de chocolate e baba de camelo. Tudo isso fez os jovens deitarem baba pela

boca até que a Anastácia saiu da cozinha e viu todos com os olhos na comida e simplesmente

se riu.

- O que estão à espera? Podem começar a comer. – disse a Anastácia, sorrindo.

- Mas e o pai e a senhora Ana? – perguntou a Joana.

- O teu pai foi buscar uma coisa e a senhora Ana só está a tratar do seu tal famoso molho para

o peru. – respondeu a Anastácia, sentando-se.

- O seu famoso molho!? – disse o Carlos com a cara cheia de alegria e indo a saltitar para a

cozinha, deixando todos espantados exceto os rapazes.

- O molho da minha tia é muito bom. – explicou o Tiago.

- Ahhh. – disseram todos, compreendendo agora.

- Já cheguei! – disse o pai da Joana, entrando e pondo bolinhos de natal em cima da mesa –

Consegui chegar a tempo à loja antes que acabassem.

- O molho está pronto! – disse a Ana, saindo da cozinha com uma tigela cheia de molho.

Logo todos começaram a comer, conversaram e riram. Não deixaram nada nos pratos. Tudo o

que restava era migalhas.

Todos foram para a sala de estar. A Mariana, o Tiago, o Carlos e a Rafaela estavam a ver

televisão enquanto o Filipe e o João estavam a jogar vídeos jogos.

A Joana estava a ver todos a divertir-se até que ela sentiu alguém a pegar-lhe na mão. Ela

virou-se e viu o Pedro a assinalar para ela fazer pouco barulho.

- Anda. – sussurrou ele.

- Para onde? – sussurrou ela de volta.

- Para o parque. Eu quero estar um tempo sozinho contigo. – disse ele, pegando com a mais

força na mão dela.

121

- Ok. Mas deixa-me só avisar a Mariana e a Rafaela. – disse a Joana indo ter com as amigas e

dizendo para elas para a encobrirem. Elas perguntaram porquê mas depois viram o Pedro atrás

dela, à espera na porta e depois é que compreenderam.

- Ok. Podes contar connosco. – disse a Mariana.

- Boa sorte. – disse a Rafaela.

A Joana agradeceu-as e foi ter com o Pedro que saíram da casa sem ninguém notar.

- Então, do que queres falar? – perguntou a Joana, chutando uma pedra enquanto caminhava.

- Eu só queria ficar um tempo a sós contigo. – respondeu o Pedro.

Os dois andaram e andaram até chegar ao parque e ir até à árvore grande.

- Eu estive a pensar. – disse a Joana.

- O quê? – perguntou o Pedro.

- Desde à dois meses que tu me contaste a tu história e que em Novembro eu te perguntei o

nome do teu gang. Sinceramente, “City Boys”? – disse a Joana, olhando com ele com uma

expressão divertida.

- O que foi? É um nome fixe. – disse o Pedro encostando-se à árvore.

- Pois. – disse a Joana, sarcástica e sentando-se ao lado dele – Eu ainda não acredito que todo

este tempo fazias parte de um gang.

- Porquê? – perguntou o Pedro – Não sou mau o suficiente para fazer parte de um gang?

- Quando éramos crianças, não. – respondeu ela – Eu só não quero que te magoes Pedro.

Promete-me que tu não te magoarás.

- Eu prometo, Joana. – disse ele abraçando-a.

Eles ficaram quietos por um bocado até que a Joana separou do abraço e começou a ver a neve

a cair.

- Sabes, naquele dia em que tu fugiste da cidade, eu queria confessar os meus sentimentos

por ti. – exclamou a Joana – Mas quando vi que tu nunca mais aparecias, eu comecei a pensar

que te tinhas ido embora e nem despediste de mim. O meu amor por ti começou a desvanecer

até que ficasse lá bem no fundo do meu coração até que te vi no inicio do 2º Período e é como

se esse amor tivesse sido libertado e o sentimento que sentia por ti tinha voltado. Tu não sabes

o quanto chorei todos aqueles anos, sempre à tua espera neste lugar e tu nunca vinhas. Eu só

não quero que nos separemos de novo. Por isso, promete-me que nunca voltas a deixar-me,

por favor.

- Eu prometo. – disse o Pedro, sorrindo.

122

- Não. Assim não. Tem de ser uma promessa de mindinho. – disse ela, mostrando o seu

mindinho.

- Uma promessa de mindinho? A sério? – disse ele, levantando uma sobrancelha.

- Sim! Por favor, por mim? – disse a Joana, fazendo cara de cordeirinho morto.

- Como posso dizer não a essa cara? – disse ele sorrindo e juntando o seu mindinho com o dela

– Prometo.

A cara da Joana ficou cheia de alegria e ela saltou em cima dele, fazendo-o cair no chão,

prendendo num grande abraço.

- Obrigada! Muito obrigada! – disse ela – Eu amo-te.

- Hm. Eu também te amo. – disse ele abraçando-a de volta.

Depois de passaram algum tempo juntos, eles voltaram para casa. A Joana ia entrar em casa até

que ela sentiu alguém a agarrar-lhe no pulso. Ela viu o Pedro a aponta para cima e ela viu um

azevinho. Ela corou mas isso não parou o Pedro de a beijar.

Eles ficaram ali a beijar com todo o seu amor até que a porta abriu-se e o pai da Joana

apareceu.

- Joana! O que estás a fazer com esse rapaz!? – gritou o pai mas a mãe apareceu e puxou-o

pela gola da camisa até à sala de estar.

- Deixa-os a sós, querido. Vem beber um café quentinho que eu te vou fazer agora. – disse ela.

- Ainda bem que a minha mãe chegou. – murmurou a Joana, suspirando – Onde estávamos?

O Pedro apenas sorriu e voltou a encostar os seus lábios nos dela. O que eles não sabiam é

que alguém estava a espiá-los.

- Chefe? Sim, eu estou a vê-los agora mesmo. O chefe estava certo. Ela tem um

relacionamento com o Pedro. Devo atacar agora? – perguntou uma pessoa das sombras,

falando ao telemóvel.

- Não. Ainda não. Só continua a observá-los. – disse uma voz grossa vinda do telefone.

- Com certeza, chefe. – disse a pessoa, desligando o telemóvel e desaparecendo das sombras.

- Oh pombinhos! – gritou o Carlos de lá dentro – Nós vamos abrir as prendas sem vocês!

- Esperem por nós! – gritou a Joana, entrando dentro de casa.

O Pedro ficou ali parado lá fora e olhou para trás, sentindo como se estivesse sendo observado

até que a Joana tirou-o do transe.

- Anda Pedro! – disse a Joana.

- Já vou. – disse ele entrando e fechando a porta atrás dele.

123

E todos passaram um Natal bem animado, comendo juntos, divertindo juntos e estando todos

juntos. Todos estavam a divertir a abrir as prendas enquanto a Joana estava na janela a olhar

para as estrelas brilhantes no céu escuro até que sentiu um braço à volta do seu ombro. Olhou

e viu o Pedro. Ele sorriu para ela e ela devolveu o sorriso e os dois estiveram a ver as estrelas

juntos naquela noite natalícia.

Inverno, 28 de Dezembro de 2015

Numa casa abandonada, onde as paredes estavam todas a cair em bocados e as janelas, todas

despedaçadas, estavam os rapazes que pareciam estar a conversar.

Num sofá velho, estava o Carlos deitado a ouvir música enquanto os outros estavam em pé a

ouvir o que o João tinha-lhes para dizer.

- Eles estão muito quietos. – disse o Filipe, encostado à parede.

- Sim, é muito estranho. Eles devem estar a tramar alguma. Temos de fazer alguma coisa,

João! – disse o Tiago.

- Tu sabes muito bem que não podemos fazer isso, Tiago! – gritou o João, com um olhar sério

– A polícia anda atrás de nós e tu sabes.

- Não temos culpa! Foram eles que começaram tudo! – gritou o Tiago – Se eles não tivessem

corrido como uns fracotes que eles são, a polícia não estaria à nossa procura.

- Agora não pudemos mudar nada. – disse o Carlos, levantando-se e espreguiçando-se –

Quando eles atacarem, nós atacámo-los ainda mais.

- O Carlos está certo. – disse o João, levantando-se – Esperemos por ele e depois atacamos. Tu

não és o único que quer a vingança Tiago.

E depois disso, o João saiu da sala. Logo, o Pedro foi atrás dele e o Tiago apenas bateu o pé no

chão e foi ter com eles.

O Carlos ia a seguir mas o Filipe parou-o.

- Carlos, tu nunca contaste o que te aconteceu antes de nos conhecermos? O que aconteceu?

– perguntou o Filipe.

- Só posso dizer que tenho um assunto a tratar com o chefe daquele gang. – disse o Carlos,

indo embora – Mas se quiseres mesmo saber, pergunta ao João. Ele sabe tudo sobre mim.

Depois dessa reunião, todos foram para a casa da tia Ana. O Filipe decidiu em falar com o João

por isso foi para o quarto dele.

- João, posso falar contigo? –perguntou o Filipe, abrindo a porta do quarto.

- O que queres, miúdo? – perguntou o João, sentado numa poltrona a ler um livro.

124

- É sobre o Carlos. – disse o Filipe – Qual é o seu passado?

- Ah, então queres saber sobre o passado do Carlos. Ele é igual a nós. – disse o João – Eu fui

amigo dele desde a infância, só que depois ele teve de mudar com os pais. Mas eu sabia o que

ele sofria. O pai dele morreu e a mãe casou-se com o tio. O tio dele, o Daniel, era um maldito e

traía nas costas da mãe do Carlos com outras mulheres. A mãe dele descobriu então deu o

divórcio e foi-se embora, deixando o Carlos com o tio. O Tio dele maltratava-o. Até que ele

soube que o seu tio fazia parte de um gang e que foi ele que matou o seu pai. Ele só queria

saber do dinheiro dos pais dele e por isso desapareceu, deixando o Carlos na rua e depois eu e

o Pedro encontrámo-lo e ele contou-me a história toda. E depois foi aí que a tia Ana encontrou-

nos e o resto já sabes. – explicou o João.

- Então o Carlos quer vingar-se do seu tio. – disse o Filipe.

- Sim e adivinha quem ele é. – disse o João.

- O chefe… - murmurou o Filipe.

- Sim. – concordou o João – Mas ele não é o único que quer vingar-se e tu sabes disso.

- Eu sei… - murmurou o Filipe.

Entretanto, as três amigas estavam a andar pelas ruas com bastantes sacos nas mãos.

- Então, Rafaela, ouvi dizer que tu foste a um encontro com o Filipe. – disse a Mariana,

fazendo a Joana olhar para ela espantada.

- A sério? E não me disseste nada. – disse a Joana, abraçando o braço da Rafaela – Como é que

correu? Diz-me! Diiiiiiiiz-me!!!

- Pois Rafaela, conta-nos. – disse a Mariana, pondo o braço à volta do ombro da amiga.

- Pronto, ok eu digo-vos. Mas vocês prometem que não contem a ninguém, está bem? – disse

a Rafaela.

- Sim, sim. Vá lá conta-nos. – disse a Mariana.

- Bem, primeiro ele levou-me a parque de skate já que lhe tinha dito que não sabia andar e

então, ele esteve a ensinar-me. – disse a Rafaela.

- Uhh, que romântico. – disse a Mariana, com sarcasmo na voz.

- E foi! – disse a Rafaela, cruzando os braços – Ele esteve a segurar-me na cintura enquanto

tentava equilibrar-me no skate. Ele foi muito querido E depois ele levou-me a um café e a

empregada estava sempre a dar olhinhos a ele e eu quase dava-lhe uma chapada se ele não

tivesse segurado na minha mãe e beijando a minha bochecha.

- O Filipe é um rapaz que podes confiar. – disse a Joana, sorrindo.

125

- Pois, e no final do dia ele levou-me a dar um passeio à luz do luar. Eu nunca pensei que ele

fosse um querido mas parece que estava enganada. – disse a Rafaela, sorrindo ao pensar no

seu encontro – Mas parece que não foi a única a ir. Eu vi-te Mariana.

- V-viste-me aonde? – perguntou a Mariana, rindo estranhamente.

- No sábado, enquanto eu estava no café com o Filipe. Eu vi-te sentada a falar com o Tiago.

Vocês também estavam num encontro, não estavam? – respondeu a Rafaela, com um sorriso

maléfico.

- A sério!? – disse a Joana, com corações nos olhos.

- E s-se tivesse? Afinal, eu e ele namoramos. – disse a Mariana, corada com os braços

cruzados.

- Parece que nós as três estamos mesmo apaixonadas. – disse a Joana.

- Pois, mas quem diria que os nosso namorados fariam parte de um gang. – disse a Rafaela

com os braços atrás da cabeça.

- Eles sofreram imenso no passado. – disse a Mariana, com a cabeça baixa.

- E que tal fazermos-lhes uma festa? – perguntou a Joana, acabando de ter uma ideia – Para

eles animarem-se um pouco?

- É uma boa ideia! – disse a Rafaela.

- Eles irão gostar disso! – disse a Mariana.

- Então, do que estamos à espera? Vamos a isto! – gritou a Joana.

- Sim! – gritaram as duas.

Depois de decidirem o sítio que seria na casa da tia Ana e comprarem a comida, as decorações

e as prendas, cada uma foi para a sua casa.

- Então, amanhã faremos a festa. – disse a Joana – Não se esqueçam. Eu guardo as prendas.

- Eu guardo a comida. – disse a Rafaela.

- E eu guardo as decorações e falo com a Tia Ana para lhe contar tudo e se podemos fazer a

festa na casa dela. – disse a Mariana.

- Muito bem. Até amanhã! – despediu-se a Joana.

- Até amanhã! – disseram elas, acenando.

Já eram dezanove da noite e já estava muito escuro. A Joana caminhava pelas ruas, um

bocado assustada já que estava sozinha no meio da escuridão. De repente começou a ouvir

passos atrás dela. Ela virou-se para trás mas não viu ninguém. Ela continuou até que os sons

dos passos voltaram. Ela começou a andar mais rápido e os passos também começaram a

126

acelerar. Ela começou a correr até que uma mão tapou-lhe a boca com um pano. Ela cheirou o

pano e desmaiou nos braços do raptor. As prendas caíram todas no chão, algumas partindo-se.

Uma carrinha branca chegou de repente e dois homens abriram a carrinha e o outro pôs a

Joana desmaiada lá dentro. Eles indicaram ao condutor para ir e a carrinha branca desapareceu

na escuridão.

Uma caixa estava caída no chão, aberta e lá dentro estava um colar de medalhão em forma de

coração com uma mensagem que dizia:

Para o melhor namorado do mundo, um medalhão para mostrar o quanto grande é o nosso

amor.

Beijinhos da tua adorada,

Joana

Inverno, 29 de Dezembro de 2015

O dia da festa tinha chegado e na casa da tia Ana, a Mariana e a Rafaela já tinham preparado

tudo e estavam à espera da Joana com as prendas.

- Onde é que ela está? Ela já devia estar aqui. – disse a Rafaela, sentada no sofá.

- Ela deve estar quase a chegar. Se calhar adormeceu como sempre. – disse a Mariana e vendo

depois a tia Ana saindo da cozinha e pousando em cima da mesa um tabuleiro com bolachinhas

de pepitas de chocolate e sumo de laranja – Muito obrigada por deixar-nos fazer aqui a festa,

senhora Ana.

- Não foi nada, querida. Eu fiquei muito contente ao saber que vocês queriam fazer uma festa

para os animar. Os rapazes passaram por muita coisa e eu sei que eles ainda estão a sofrer, por

isso uma festa é uma ótima ideia.

- E onde é que eles estão? – perguntou a Rafaela.

- Eles foram para o esconderijo deles para uma reunião deles. – disse a Ana, suspirando –

Algumas vezes, eu desejava que eles desistissem desse gang.

- Não se preocupe, senhora Ana. – disse a Mariana, pousando a mão no ombro dela – Nós

iremos ajudá-los.

- Vocês são raparigas muito boas. Onde está a Joana? – perguntou a Ana.

- Ela deve estar quase a chegar. – respondeu a Mariana.

127

Depois de algum tempo, os rapazes tinham chegado e ficaram espantados pelo que viram.

Balões estavam espalhados por todo o lado, incluindo fitas de várias cores. Várias sobremesas e

fritos estavam em cima da mesa e a Mariana, a Rafaela e a tia Ana ficaram ali juntas a sorrir

para eles.

- O que é isto? – perguntou o Tiago.

- É uma festa para vocês. – disse a Mariana, abraçando-o – Foi ideia da Joana. Ela queria

animar-vos. Não gostam?

- Claro que gostamos. – disse o Tiago, sorrindo e abraçando-a de volta – Obrigada.

- Presumo, que tu também ajudaste. – disse o Filipe, aproximando-se da Rafaela.

- E se ajudei? O que é que tu vais fazer? – perguntou ela, ficando chocada logo quando o Filipe

abraçou-a de repente.

- Foste muito querida. – sussurrou ele ao ouvido dela – Muito obrigada.

- Hm. Agora estás a ser lamechas. – disse a Rafaela, rolando os olhos.

- Vocês podem parar de namoriscar? Há aqui alguém que quer comer. – disse o Carlos,

começando a comer os fritos.

- Ei! Não comas a comida toda! – disse o Tiago, correndo até à mesa cheia de comida.

Todos foram comer até que o Pedro olhava em volta mas não via nenhum sinal da Joana.

- Mariana, sabes onde está a Joana? – perguntou ele.

- Ela ainda não chegou. Mas não te preocupes. Ela deve estar quase a chegar. – disse a

Mariana.

Mesmo assim, o Pedro não parou de se preocupar com a Joana. Ela nunca mais chegava e já

eram quase 15:00.

- A Joana devia ter chegado por agora. – disse a Rafaela.

- Eu já tentei telefonar para o telemóvel dela, mas parece que está desligado. – avisou a

Mariana.

De repente, um telemóvel tocou. Era do Pedro. Todos olharam para ele enquanto ele atendia o

telefonema.

- Está? – disse o Pedro.

- Nós temos a rapariga. – disse uma voz grossa.

- O quê!?!? – gritou o Pedro.

- Quem é, Pedro? – perguntou o João.

- Ela está aqui connosco. Vá, diz olá. – disse a voz grossa.

128

- Pedro! – disse a Joana, que parecia estar a chorar – Não venhas para cá! É uma armadilha!

Ah!

- Joana!? Joana! Seu maldito. Não lhe toques! – disse o Pedro, rangendo os dentes.

- Se queres salvar a tua querida namorada, então sabes onde nos encontrar. – disse a voz,

rindo-se e desligando o telemóvel.

- Fogo! – disse o Pedro, tirando o telemóvel para o chão.

- O que foi, Pedro? – perguntou o Tiago – O que aconteceu?

Ele olhou bem nos olhos do João.

- Eles atacaram. – disse ele.

- Como!? – gritou o Tiago, o Carlos e o Filipe levantando-se.

- Espera um segundo. Quem atacou? E onde está a Joana? – perguntou a Mariana, não

percebendo nada.

- A Joana… ela foi…. – disse o Pedro, fechando as mãos – Ela foi raptada.

- O quê!? Por quem!? – gritou a Rafaela e a Mariana.

- Um dos gangs adversários que nós nos metemos. – respondeu o Tiago – Eles disseram onde

estavam?

- Sim, naquele mesmo lugar. – disse o Pedro – Nós temos de ir salvá-la!

- Muito bem. Vamos lá. – disse o João.

- Nós também vamos. – disse a Rafaela.

- Não, é muito perigoso. – disse o Filipe agarrando pelos ombros – Vocês ficam aqui com a Tia

Ana. Nós tratamos disto.

- Mas… - disse a Rafaela mas ela foi interrompida por ele.

- Não. – disse o Filipe, seriamente – Por favor. Eu não quero que te magoes.

A Rafaela viu como os olhos dele estavam sérios, por isso ela desistiu de insistir mais.

- Ok. – disse a Rafaela, sorrindo para ele com um pequeno sorriso.

Eles abraçaram-se. Enquanto eles abraçavam-se, a Mariana aproximou-se do Tiago.

- Por favor, diz-me que vais ter cuidado. – disse a Mariana.

- Não te preocupes. Eu sou mais forte do que tu julgas. – disse o Tiago mostrando os seus

músculos, ou devo dizer, os seus braços em que só se via os seus ossos.

- Hehehehe. – riu-se a Mariana antes de abraçá-lo – Tem cuidado.

Logo, os rapazes correram para fora da casa e correram para o tal lugar combinado. De

repente, eles notaram numas caixas no chão, cada uma com um dos seus nomes.

- A Mariana disse que a Joana ia trazer as prendas. – murmurou o Tiago.

129

- Ela deve ter sido apanhada aqui mesmo. – disse o Filipe.

O Pedro viu uma prenda com o seu nome. Ele apanhou-a e viu um colar de medalha em forma

de coração e viu que também tinha uma mensagem. Ele leu-a e pegou na mensagem com mais

força.

- Pedro? – disse o Tiago.

- Temos de ser rápidos. – disse ele continuando.

Eles continuaram até chegaram ao lado combinado. O silêncio caiu sobre eles. Os sons dos

pássaros eram o único som que se conseguia ouvir. À frente deles, estava uma fábrica

abandonada. Cada um deles engoliu a sua própria saliva e olharam para quem ia abrir a porta.

O Pedro foi em direção da porta. Ele abriu-a e viu que estava tudo escuro.

Depois de todos entraram, a porta fechou-se atrás deles e a luz acendeu-se. Logo de eles

acostumarem-se à luz, em frente deles, estava um homem de preto com um chapéu da mesma

cor a tomar um cigarro.

- Afinal vieram. Deves mesmo preocupar-te com esta rapariga, Pedro. – disse o homem.

- Onde é que ela está!? – disse o Pedro – Diz-me já!

- Tem calma. Primeiro temos de recuperar o tempo perdido. – disse o homem – Ouvi dizer que

vocês mataram alguns dos meus homens. E sabem muito bem que eu odeio isso.

- Nós não queremos saber se você gosta ou não. – disse o Tiago, dando um passo em frente –

Diz-nos mas é onde está a Joana!

- Tch. Miúdos mal criados. – disse o homem – Isso também não me surpreende. O Carlos foi

sempre assim também, não é? Carlos?

O Carlos olhou com um olhar cheio de ódio para aquele homem.

- Tu mataste o meu pai. – disse ele enquanto rangia os dentes.

- Ele era fraco. – comentou o homem, sentando-se num sofá um pouco velho – Tal como a tua

mãe.

- O que queres dizer com isso? – perguntou o Carlos sentindo mais raiva.

- Logo depois de ela deixar a mim e a ti, eu voltei a encontrá-la. Ela veio pedir o “seu” dinheiro.

Ela era mesmo uma idiota. Apaixonar-se por um gangster. Ela devia saber que quando casasse

com o meu irmão estúpido, ela não poria sair da vida dos gangs. Continuando. Ela pediu-me o

dinheiro de novo mas eu não lhe devolvi. E ela de repente saca uma pistola e aponta-a para

mim. Ela ameaçou-me e pensava que ia sair ilesa? Era mesmo estúpida. Eu não pude fazer nada

do que mandar um dos meus homens matá-la. Eu estava simplesmente a defender-me. E

adivinha quais foram as últimas palavras dela.

130

- Eu adoro-te muito Carlos.

Os olhos do Carlos ficaram bem abertos. O seu corpo parecia ficar congelado e ele nem

conseguia falar. A sua raiva aumentou logo quando o seu tio começou a rir.

- Ela era mesmo fraca. – disse o tio dele, o Daniel a rir-se – Tal… como… o… teu… pai.

- Eu vou matar-te! – gritou o Carlos correndo até ele mas foi impedido pelo João – João?

- Tem calma, Carlos. Olha em tua volta. – disse no João.

À volta dos rapazes, havia pelo menos 10 homens, cada um com uma arma.

- Não podemos fazer nada contra eles. – disse o João.

- Ahahahaha! Sempre inteligente, João! É por isso que és o líder. – disse o Daniel. – Mas

mesmo assim, vocês morrerão aqui. Agora mesmo.

Os homens preparam as suas armas e apontaram-nas para os rapazes. Eles puseram-se em

círculo.

- Estão prontos? – murmurou o João.

- Vamos dar cabo deles. – disse o Carlos.

- Vamos a isso. – disse o Tiago.

- Estou preparado. – disse o Filipe.

- … - o Pedro não disse nada.

- Então vamos! – gritou o João dando um pontapé na arma de um deles, mandando-a ao ar e

dando outro pontapé na barriga do homem, mandando-o para o chão.

O Carlos ficou encurralado por três homens mas ele apenas esquivou-se deles e dando um

murro na cara de cada um deles.

O Filipe deu um pulo duplo para a frente, indo para trás dos dois homens e mandou-os ao

chão, ao dar um pontapé na cara deles.

O Tiago esquivava-se dos tiros enquanto dava rasteiras aos homens, fazendo-os cair no chão e

depois dar-lhes um murro, fazendo-os desmaiar.

E o Pedro lutava com o resto que restava dos homens e logo depois de acabar com todos eles,

ele pegou numa arma deles e apontou-a para o tio do Carlos.

- Eu não volto a repetir. Onde é que está a Joana? – perguntou ele.

- Hm. Ok. – disse o Daniel com as mãos no ar – Tragam a rapariga.

Dois homens muito altos e fortes, trouxeram uma rapariga cheia de arranhões e de nódoas

negras, com os seus cabelos a taparem a cara.

131

- Joana? – disse o Pedro, chocado.

- Mas que raios eles fizeram com ela!? – pensou ele.

- P-pedro? – disse ele, levantando lentamente a cara dela, deixando os cabelos saírem-lhe da

cara e mostrando o olho negro que pareceu que ela levou à pouco tempo e um corte no lábio.

- Seu monstro! O que é que tu lhe fizeste!? – gritou o Pedro.

- Ela esteve a dar-nos um grande trabalho mas depois ela ficou mais sossegada. – disse o

Daniel, a sorrir maleficamente.

- Eu vou matar-te. – disse o Pedro, apontando mais a arma.

- Ai isso é que não. – disse o Daniel abanando o dedo – Porque senão…

Um dos homens que estava a pegar num braço da Joana, tirou uma faca do bolso e pô-la perto

do pescoço da Joana. A Joana ficou cada vez mais assustada e lágrimas já estavam a começar a

aparecer-lhe.

- E agora, Pedro? – disse o Daniel.

O Pedro olhou para ele e depois para a Joana e depois para ele e decidiu baixar a arma.

- Hahahaha. És mesmo um fracote. O teu pai tinha razão. Mas ele também era. – disse o

Daniel – Ser morto por um rapaz de seis anos. Sinceramente…

- Não te preocupes. Eu vou levar-te para o sítio onde ele está agora. – disse o Pedro.

- Hahaha. Muito engraçado rapaz. – disse o Daniel, olhando para o homem que estava a

segurar na Joana e acenou.

O homem acenou de volta e pôs a faca cada vez mais perto do pescoço da Joana e fazendo-a

chorar mais.

- Pará! – gritou o Pedro.

- E que tal assim? Eu deixo-a ir se deixares os meus homens darem cabo de ti e dos teus

amiguinhos. – disse o Daniel – É isso ou nada.

O Pedro olhou para a Joana, que estava de cabeça baixa a deitar lágrimas e ranho e depois

para os seus amigos que olhavam para ele seriamente.

Ele suspirou antes de olhar para o Daniel.

- Ok. Nós rendemo-nos. Mas tens de deixá-la ir. – disse o Pedro.

- Não Pedro! – gritou a Joana, levantando a cabeça mas sendo parada por um dos homens que

fê-la calar-se ao dar-lhe uma chapada e fazendo-a cair no chão.

Ela olhou para o Pedro com os seus olhos vermelhos de tanto chorar e falou numa voz baixa.

- Não faças isso…

- Desculpa. – desculpou-se ele.

132

- Muito bem, chega de conversa. – disse o Daniel – Vamos lá a isto.

Os dois largaram a Joana e foram em direção do Pedro deitando-o para o chão de joelhos e

dando-lhe um murro na barriga até ele estar deitado no chão e darem-lhe logo pontapés.

- Parem! – gritaram os rapazes e a Joana.

- Não se preocupem. Vocês também vão ter um pouco dessa diversão. – disse o Daniel,

estalando os dedos e fazendo outros homens a aparecerem e irem em direção dos rapazes.

Os rapazes começaram a levar tareia. Nódoas negras e arranhões começaram a aparecer-lhes

por todo o corpo.

Logo depois de alguns minutos, o Daniel pareceu ficar farto porque mandou os homens

pararem. Ele pegou numa pistola de um dos seus homens e aproximou-se dos rapazes.

- Em quem devo começar? Pelo miúdo cobarde que fugiu de casa? – disse o Daniel passando

pelo Filipe – Ou pelo miúdo, em quem matei os pais?

O Tiago olhou para ele com os olhos a brilhar de ódio.

- Começarei no meu sobrinho? – disse o Daniel, passando pelo Carlos – Acho que vou deixar-te

por último. E aqui temos os dois meios-irmãos. Começarei por ti?

E apontou a arma para o João.

- Ou por ti? – disse ele apontando a arma para o Pedro e olhando depois para a Joana, que

estava ainda caída no chão – Será uma linda memória para a tua querida namorada.

Ele preparou a arma e apontou-a para o Pedro.

- Finalmente vou livrar-me de todos vocês. – disse o Daniel, puxando o gatilho.

- Não!!! – gritou a Joana.

O tiro ouviu-se por todo o lado, assustando os pássaros que estavam parados em cima dos

ramos das árvores que estavam ali por perto e fazendo-os voar para longe.

Os rapazes olharam para a cena, aterrorizados. Gotas de sangue caiam no chão. Os olhos do

Pedro estavam bem abertos, com lágrimas a escorrer-lhe da cara.

Ele estava bem. Ele poderia ter algumas manchas de sangue na sua camisola e na sua cara mas

o sangue não era dele. Em frente dele, estava a Joana parada de pé, com uma mancha de

sangue nas suas costas.

Ela caiu para trás, caindo nos braços do Pedro que olhava para ela ainda chocado.

O Daniel afastou-se, também chocado até que de repente, a polícia entrou de rompante na

fábrica. O Daniel e os seus homens foram presos deixando os rapazes lá dentro com a Joana

ferida.

- Porque é que fizeste isso? – perguntou o Pedro, chorando.

133

- Eu não suportaria ver-te morrer. Eu tinha que proteger-te. – sussurrou ela numa voz muito

fraca – Eu… eu não queria que nos separássemos de novo… Eu… eu amo-te Pedro…

- Não, por favor, não me faças isto. – disse o Pedro deitando lágrimas – Não morras. Eu amo-

te.

Os olhos da Joana começaram a fechar-se lentamente, a pele dela começou a ficar sem cor e

os seus lábios a ficar roxos.

O som da ambulância foi a única coisa que se ouviu até tudo ficar escuro.

Inverno, 31 de Dezembro de 2015

Sons de máquina podiam-se ouvir. Como se fosse o som de um coração a bater. Uns olhos

castanhos abriram-se. Eles só conseguiam ver branco até que se acostumaram à luz. Tudo em

volta era branco.

- On-onde estou? – disse o Pedro, levantando-se e vendo que estava numas roupas de hospital

– S-será que estou num Hospital?

- Só espero que ele acor… - disse a voz do Tiago, enquanto ele entrava no quarto e viu logo o

Pedro, sentado na cama, a olhar para ele com um olhar confuso – Pedro! Tu acordaste! Pessoal,

ele acordou!

De repente, o Filipe, o Carlos e o João entraram no quarto.

- Já estás melhor, Pedro? – perguntou o Filipe, que pela primeira vez, tinha um olhar

preocupado.

- S-sim. O q-que aconteceu? O que faço n-num hospital? – perguntou o Pedro, com a mão na

cabeça – E-eu não me lembro de nada.

- Não te lembras do que aconteceu? Nada? Não te lembras do rapto? – perguntou o Carlos.

- Que rapto? Ah!? – gritou o Pedro de dor com ambas as mãos na cabeça e caído de joelhos no

chão.

De repente, memórias do rapto voltaram-lhe a aparecer. A festa que as raparigas tinham

preparado para eles. A Joana a ser raptada. Ele e os rapazes a lutarem contra o Daniel e depois

a cara pálida da Joana com os olhos fechados e uma grande mancha de sangue na camisola.

- Espera!! Eu lembro-me! A festa… o rapto… o Daniel… a Joana! Onde está a Joana!? Ela está

bem!? –gritou o Pedro, agarrando nos ombros da primeira pessoa que estava à sua frente, que

era por acaso o Tiago.

Todos olharam para o lado, com uns olhares tristes. O Pedro ficou chocado e saiu a correr do

quarto. Os rapazes foram atrás dele.

134

Ele continuou a correr até que viu a Mariana e a Rafaela sentadas num banco, com lágrimas

nos olhos, a lado de uma porta.

- Onde está a Joana!? – perguntou ele, com um olhar preocupado.

As duas olharam para ele espantadas e chocadas, de um lado por ele estar acordado e de

outro lado, é que ele assustou-as. Elas olharam para a porta do lado que fez o Pedro saber logo

a resposta para a sua pergunta, por isso entrou no quarto de rompante.

O seu coração pareceu que tinha parado. O seu sangue parecia que tinha ficado congelado. Ele

não acreditava no que os seus olhos estavam a ver agora mesmo. À sua frente, estava a Joana

deitada numa cama de hospital com um fio ligado a ela a uma máquina. Ela tinha uma máscara

de gás e ela ainda respirava. Logo, ele ouviu pessoas a entrar no quarto e soube logo que eram

os seus amigos.

- O que é que ela tem!? – disse ele, virando-se para eles.

De repente, um doutor entrou.

- Lamento em dizer isto, mas a tua amiga está em coma. – disse ele, ajustando os óculos – A

bala acertou-lhe bem ao lado do coração mas nós conseguimos tirá-la. Ela ainda não acordou

desde a operação. Por isso, não sei quanto tempo ela pode ficar assim. Por agora, deverão ter

esperança. Vou deixar-vos a sós.

E depois disso o doutor saiu do quarto. O Pedro foi caminhando lentamente até ao lado da

cama da Joana e pegou-lhe na mão.

- O que afinal aconteceu? – perguntou ele, numa voz calma agora.

- Logo depois de o Daniel ser preso, a ambulância chegou e quando punham a Joana lá dentro,

tu desmaiaste. Estiveste desmaiado dois dias – respondeu o Tiago.

- Isto foi tudo culpa minha. – murmurou o Pedro, sentindo logo uma mão no ombro dele. Ele

virou-se e viu o João.

- Não te culpes por causa disso. Isto não é culpa de ninguém. A Joana não quereria que tu te

preocupasses com ela. Vais ver que ela vai acordar. Não te preocupes. – disse ele.

Isso talvez tenha trazido alguma esperança para o Pedro. A única coisa que ele queria é que a

Joana acordasse.

O dia passou depressa e o Pedro esteve sempre ao lado da cama da Joana à espera que ela

acordasse. O pôr-do-sol entrava pela janela e o Pedro acariciava a mão dela. Uma mão de

unhas pintadas pousou em cima do seu ombro fazendo-o virar-se e ver a tia Ana a olhar para

ele com um pequeno sorriso.

- Temos de ir Pedro. Amanhã voltaremos. Eu prometo. – disse ela.

135

- Ok. – murmurou o Pedro, olhando para a Joana e dando um beijo na testa da Joana - Dorme

bem, meu amor.

Depois de saírem do hospital, entraram no carro e foram. Ele olhou pela janela do carro para a

janela do quarto da Joana. Ele apenas tirou o medalhão que ela lhe iria dar para a festa e

apertou com força.

- Por favor, acorde depressa Joana. – pensou ele, encostando o medalhão ao peito.

A Ana olhava para ele com um olhar triste, sabendo muito bem a situação dele. Apenas olhou

para a frente e o carro foi desaparecendo na estrada com o pôr-do-sol à frente.

Inverno, 1 de Fevereiro de 2016

Um mês já tinha passado. A Joana ainda estava em coma. Todos da escola estão preocupados

com ela, especialmente as suas amigas. As duas olhavam sempre para o lugar vazio ao lado

delas e na hora do lanche, em vez de três, eram só duas sentadas num banco. Elas estão muito

preocupadas com a Joana e foi muito difícil para elas contarem tudo para os pais dela. Eles

ficarem mesmo tristes que até a mãe chorou e o pai tentou acalmá-la.

Elas repararam que o Pedro já não vinha a escola há um mês. Os rapazes disseram-lhes que

ele tem andado muito calado e que anda quase todo o dia trancado no quarto.

A Mariana e a Rafaela decidiram visitar a Joana depois da escola. Enquanto caminhavam em

direção do hospital, a neve ainda caía em cima delas. As árvores estavam todas enterradas por

neve. As pegadas delas ficavam aparecendo por trás na neve que havia na rua. Logo ao chegar

ao hospital, elas entraram no quarto da Joana, vendo-a ainda deitada na cama com os olhos

fechados. A Rafaela pôs dentro de um vaso umas rosas cor-de-rosa, já que eram as favoritas

dela.

Elas sentaram-se ao lado da cama e olharam para a Joana.

- Olá Joana. – disse a Rafaela.

- Como estás? – perguntou a Mariana, com lágrimas no canto do olho –Bem, nós estamos

bem. A escola já começou e… bem… todos sentem a tua falta.

- Os teus pais estão mesmo preocupados contigo, Joana. – disse a Rafaela, já não conseguindo

conter as lágrimas – Por favor, Joana… acorda. Nós precisamos de ti. Por favor…

- Sim, por favor Joana… - disse a Mariana, também a começar a chorar – Tu és a nossa melhor

amiga. Não nos podes deixar assim. Por favor, diz-nos qualquer coisa… abre os olhos, por favor!

Choros ouviram-se por todo o quarto enquanto a neve caía lá fora. Sons de água começaram-

se a ouvir.

136

Dentro de água, estava a Joana afundar na escuridão. De repente ouviu-se vozes.

- Hm? De quem são essas vozes? – pensou a Joana – São-me familiares…

- Por favor, acorda Joana! – gritou a Mariana.

- Nós sentimos a tua falta! – gritou a Rafaela.

- Quem é a Joana…? – disse ela, descendo mais para a escuridão das profundezas.

De repente, memórias começaram-lhe aparecer. A sua escola, os seus pais, a Mariana, a

Rafaela, o Tiago, o Carlos, o Filipe, o João mas havia uma pessoa que tinha a cara desfocada.

Não se conseguia ver quem era.

Ela abriu os olhos e uma luz apareceu do nada, aproximando-se dela. Ela levantou a mão,

tentando chegar à luz e de repente a luz engoliu-a. Ela abriu os olhos e viu que estava num tipo

de parque. Ela olhou para o lado e viu uma grande árvore. Ela conhecia aquela árvore. Ela

mexeu no tronco e sentiu alguma coisa. Ela viu o que era e apenas sorriu.

Logo ela virou-se e apenas sorriu. À frente dele estava a tal pessoa com a cara desfocada mas

a cara voltou ao normal, mostrando a identidade da pessoa.

- Pedro… - sussurrou ela, tentando chegar a ele mas a luz voltou e engoliu-a outra vez.

Ela agora ouvia choros. Ela abriu os olhos e só viu branco até que ela habituou-se à luz. Ela

olhava pelos lados até que viu a Rafaela e a Mariana a chorar ao seu lado.

- Mariana… Rafaela… - sussurrou ela, com uma voz fraca.

As duas levantaram as caras mostrando os seus olhos vermelhos de tanto chorar, o ranho a sair

pelos narizes e as caras molhadas das lágrimas.

- Joana!!! – gritaram elas, abraçando a amiga como se fosse um peluche.

- Te-tenham calma. Estão a sufocar-me. – disse a Joana, rindo e sorrindo.

- Nós estávamos muito preocupadas!! – disse a Rafaela, continuando a chorar mas agora com

um sorriso na cara.

- Desculpa… eu devo ter mesmo vos preocupado imenso. – disse ela sorrindo.

- Nunca mais voltes a fazer aquilo. – disse a Mariana, abraçando-a.

- Desculpa. Eu tive de o fazer. Não podia que o… - disse a Joana até que ela ficou paralisada – O

Pedro! Onde é que ele está?

As duas amigas olharam uma para outra e depois para a Joana.

- Ele não vem à escola desde que soube que tu estavas em coma e que nunca mais acordavas.

– respondeu a Rafaela – Os rapazes dizem que ele está sempre no seu quarto e nunca quer sair

de lá.

- Isto é tudo culpa minha. – disse a Joana – Eu tenho de ir ter com ele.

137

- Como? Ele não vai sair do quarto. – disse a Mariana.

- Eu acho que tenho uma ideia. – disse a Joana.

Entretanto, num quarto escuro com as janelas fechadas, o Pedro estava deitado a olhar para o

teto até que alguém bateu à porta.

- Pedro? Porque é que não sais e vens comer? – perguntou a tia Ana.

- Não me apetece. – respondeu ele.

- Pedro, tu não podes ficar assim para sempre. Vais ver que a Joana vai acordar. Só tens de ter

esperança. – disse a Ana.

Ela não recebeu nenhuma resposta.

- Se tiveres fome, tens o jantar no frigorífico. – disse a Ana indo em direção das escadas, não

antes de olhar para a porta do quarto dele mais uma vez.

- Desculpa tia Ana. – murmurou ele.

De repente, o telemóvel dele tocou. Ele ficou à espera que ele parasse de tocar mas vendo

como a pessoa era persistente, ele atendeu.

- Está? – disse ele.

O telemóvel apenas caiu e ouviu-se o som da porta a fechar-se com muita forma.

A neve caía na noite estrelada. Carros passavam pela estrada coberta de neve. Ouvia-se

passos. Passos a correr. Uma respiração rápida.

O Pedro corria na direção do parque e correu pelo caminho e parou ao lado da árvore grande

que agora estava nua e os seus ramos estavam cheios de neve.

Ele estava a respirar descontroladamente. À sua frente, estavam uma rapariga de cabelos

curtos que voavam no suava e frio vento que tinha aparecido de repente. É como só estivessem

lá os dois sozinhos, sem nada para os separar novamente.

Ela virou-se e apenas sorriu. Ele começou a pensar que era um sonho por isso beliscou-se mas

ele não acordou. Isto não era um sonho. Isto era real. A Joana á frente dele era mesmo ela.

- Olá Pedro. – disse ela.

O Pedro não disse nada, ele apenas correu até ela e abraçou-a como se ele a largasse ela

desapareceria da sua vida.

- Tu não sabes o quanto me preocupei. Eu sinto-me culpado. Eu não devia ter-te metido da

minha vida. – disse o Pedro, chorando no ombro dela – Eu pensava que tu nunca ias acordar.

- Não pense mais nisso. Eu estou aqui e é só isso que importa. – disse ela abraçando-o de volta

– Já nada nos vai separar.

138

Ela largou-se do abraço e pegou na mão dele levando-o para mais perto da árvore e

encostando a mão dele no tronco.

- O que é isto? – perguntou ele, sentindo algo de estranho naquele tronco. Ele afastou a neve

do tronco e viu algo que o espantou.

- Foste tu que fizeste isso quando éramos pequenos. Foi no dia antes de te ires ido embora da

cidade. – disse a Joana, mudando o tom de alegria da voz para um tom triste ao falar do dia em

que ele foi-se embora.

O Pedro lembrou-se.

- Desculpa pelo atraso. – disse um Gonçalo pequeno – Tive um problema em casa.

- Eu já estava a pensar que tinha acontecido algo contigo. – disse a Joana, com uma cara triste

– E assim estaria sozinha sem ti.

- Não te preocupes. Nada nos poderá separar. – disse o Gonçalo, acabando de ter uma ideia –

Espera aí!

Ele pegou numa pedra e começou a escrever algo com ela no tronco da árvore.

- Já está! – disse ele – Agora nunca nos separaremos!

A Joana viu um coração com as iniciais de Joana mais Gonçalo.

- É muito querido Gonçalo. – disse a Joana sorrindo para ele.

- Vá, eu levo-te para casa. – disse ele pegando na mão dele, caminhando para longe da árvore,

não sabendo do que iria acontecer no dia seguinte.

- Mas eu acho que está algo de errado com esse coração. – disse a Joana, aproximando-se do

coração.

- O quê? – perguntou ele.

Ela pegou numa pedra e começou a fazer alguma coisa. Ela tirou a pedra para o chão e deixou

o Pedro ver o coração com o J de Joana e agora o que deveria ser o G estava riscado e tinha um

P por cima.

- Eu pensei que tu não querias ser mais chamado de Gonçalo já que… tu sabes… por causa do

teu pai… por isso decidi pôr isto da melhor maneira. Gostas?

- Gosto? Adoro! – disse o Pedro, sorrindo um grande sorriso que até espantou a Joana.

Ele agarrou nas mãos dela.

- A começar agora, eu vou proteger-te. Não vou deixar que aquilo volte acontecer contigo. –

disse ele.

Eles ficaram ali a sorrir um para o outro até que sentiram uma bola de neve contra eles.

139

- Ei pombinhos! – gritou o Carlos, acenando com os rapazes e as raparigas atrás dele – Vão

continuar a namoriscar ou querem jogar connosco?

Os dois olharam um para o outro e cada um pegou numa bola de neve e correram até aos seus

amigos.

Tudo voltou como devia estar. Sorrisos, risadas, diversão, amigos para sempre. Eles

continuaram a brincar até que a Joana ficou em frente do Pedro com uma bola de neve e ele

também.

Os dois deixaram as bolas caírem no chão e aproximaram-se um do outro. O Pedro círculos as

suas mãos na cintura dela e a Joana pôs os seus braços à volta do pescoço dele. Eles finalmente

podiam estar juntos para sempre. Sem que ter de sair da cidade ou por causa de gangs

inimigos. Eles finalmente podiam recuperar o tempo perdido.

As suas caras aproximaram-se de uma da outra e os dois beijaram-se ao luar da lua. Os seus

amigos assobiaram e bateram palmas.

Os dois separam-se e olharam para o lado envergonhados. Mas as suas mãos ainda estavam

agarradas.

15 anos depois…

- Mãe! Pai! Despachem-se! – gritaram duas criancinhas, uma rapariga e um rapaz.

- Tenham cuidado queridos! – gritou uma voz feminina.

- Não te preocupes. – disse uma voz masculina.

- Mãe! Pai! Podem voltar a contar-nos a história de como vocês se conheceram? – perguntou

a filha.

- Outra vez? – perguntou a mãe, confusa.

- Sim! Por favor! Nós gostamos imenso dessa história! – disseram eles.

- Ok. – disse o pai – Tudo começou neste mesmo sítio…

O pai tocou no tronco da grande árvore, em cima do coração que está lá já há muito tempo

enquanto a mãe sentava-se na relva com os filhos ao colo sorrindo.

Vento apareceu de repente, fazendo as folhas voarem da árvore e voando até ao sol.

O amor é algo muito especial. Nada pode impedir do amor acontecer. Nem mesmo separar as

pessoas que se amam uma à outra mesmo que as suas vidas sejam difíceis.

Fim