UNIVERSIDADE PAULISTA
ANA PAULA APOLONIO DA SILVA
ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE
HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
DO DEPENDENTE QUÍMICO
SÃO PAULO
2015
ANA PAULA APOLONIO DA SILVA
ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE
HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
DO DEPENDENTE QUÍMICO
Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo Comportamental para Múltiplas Necessidades Terapêuticas apresentado à Universidade Paulista - UNIP.
Orientadores:
Profa. Ana Carolina S. de Oliveira
Prof. Hewdy L. Ribeiro
SÃO PAULO
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
silva, Ana Paula Apolonio da Estudo sobre a aplicabilidade do treinamento de habilidades sociais na terapia cognitivo-comportamental do dependente químico /Ana Paula Apolonio da silva – São Paulo, 2015. 24 f.
Trabalho de conclusão de curso (especialização) – apresentado à pós-graduação lato sensu da Universidade Paulista, São Paulo, 2015.
Área de concentração: Terapia Cognitivo Comportamental.
“Orientador: Prof. Ana Carolina Schmidt de Oliveira”
“Coorientador: Prof Hewdy L. Ribeiro”
1. Treinamento de habilidades sociais. 2. Dependência química. 3. Terapia cognitvo-comportamental. Universidade Paulista - UNIP. II. Título. III. silva, Ana Paula Apolonio da.
ANA PAULA APOLONIO DA SILVA
ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE
HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
DO DEPENDENTE QUIMICO
Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo Comportamental para Múltiplas Necessidades Terapêuticas apresentado à Universidade Paulista - UNIP.
Orientadores:
Profa. Ana Carolina S. de Oliveira
Prof. Hewdy L. Ribeiro
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_______________________/__/___
Prof. Hewdy Lobo Ribeiro
Universidade Paulista – UNIP
_______________________/__/___
Profa. Ana Carolina S. Oliveira
Universidade Paulista – UNIP
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por me proporcionar mais esta conquista.
Agradeço meus pais, pelo apoio, colaboração e o amor incondicional de
sempre.Obrigada pela formação recebida, pelos valores e todos os
ensinamentos.
Meu filho Lucas, por ter me dado mais alegria e sentido na vida.
E aos professores Ana Carolina S. de Oliveira e Hewdy L. Ribeiro, pela
dedicação, respeito e todas as orientações que foram dadas no período desta
formação.
RESUMO
O treinamento de habilidades sociais, no modelo de tratamento da Terapia
Cognitivo-Comportamental, tem como objetivo fazer com que a pessoa lide, de
modo mais eficaz, com situações que geram grande desconforto e
estresse.Compreende-se que constantemente precisamos apreender e treinar
nossas habilidades, entretanto, pessoas que apresentam um baixo repertório
de habilidades sociais demonstram dificuldades de enfrentar situações e de
serem assertivas. Muitas vezes, essas pessoas buscam, no uso de substância
química, uma forma de se tornarem mais sociáveis e com um poder maior de
interação social. Assim, estes comportamentos, podem apresentar prejuízos
significativos na vida dessas pessoas. O presente estudo propõe uma revisão
bibliográfica sobrea aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na
Terapia Cognitivo-Comportamental na dependência química, a partir da
compreensão das dificuldades das interações social, o caminho do tratamento
e a apresentação de algumas das técnicas mais utilizadas no THS.
.
Palavras Chaves: Treinamento de Habilidades Sociais, dependência química,
Terapia Cognitvo-Comportamental.
ABSTRACT
The social skills training, on the model of treatment Cognitive Behavioral
Therapy, aims to make the person lide, more effectively, with situations that
generate great discomfort and stress. It is understood that constantly need
apprehend and train our abilities, however, people who have a low repertoire of
social skills demonstrate difficulties to face situations and to be assertive. Many
times, these people are looking for, the use of chemical substance, a way to
become more sociable and with a greater power of social interaction. Thus,
these behaviors, can present significant losses in the lives of these people. The
present study proposes a review of the literature on the applicability of the
social skills training in Therapy Cognitive Behavioral Therapy in chemical
dependence, from the understanding of the difficulties of social interactions, the
way of the treatment and the presentation of some of the techniques more used
in social skills training.
Key words: Social Skills training, chemical dependence, cognitive behavioral
therapy
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................10
2. OBJETIVO.....................................................................................................12
3. METODOLOGIA........................................................................................... 13
4.RESULTADOSE DISCUSSÃO.......................................................................14
4.1 Compreendendo o Treinamento de Habilidades Sociais na TCC
...........................................................................................................................14
4.2 Treinamentos de Habilidades Sociais na TCC x Dependência
Química..............................................................................................................15
4.3 Treinamentos de Habilidades Sociais e o tratamento dos familiares do
dependente químico..........................................................................................18
4.4 Algumas das técnicas utilizadas no Treinamento de Habilidades
Sociais...............................................................................................................19
5. CONCLUSÃO................................................................................................22
6. REFERÊNCIAS.............................................................................................23
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental
THS – Treinamento de Habilidades Sociais
10
1. INTRODUÇÃO
A terapia cognitiva, desenvolvida por Aaron T. Beck, teve como
premissa, realizar o tratamento de problemas atuais. Como uma psicoterapia
breve, estruturada e orientada ao presente, foi direcionada a modificar
pensamentos e comportamentos disfuncionais (BECK, 2007).
A Terapia Cognitivo-Comportamental, conhecida como TCC, é uma
abordagem padronizada, focada no aqui e agora. O tratamento é estruturado,
diretivo e com prazo definido.
O profissional da TCC tem como o principal objetivo ajudar o cliente a
modificar comportamentos inadequados e desenvolver estratégias para que se
tenha comportamentos sociais mais assertivos.
Dentro de um processo terapêutico, o treinamento de Habilidades
Sociais (THS), passa a ser uma ferramenta fundamental, com significativo
papel no tratamento.
O campo do Treinamento de Habilidades Sociais, originou-se na
Inglaterra, nos anos 60, tendo um grande aumento no número de publicações
nas décadas de 70 e 80, especialmente em países de língua inglesa como
Estudos Unidos e Canadá. Já no Brasil, o interesse de pesquisadores pela
área ocorreu a partir da década de 90 (DIAS, 2011).
O treino de habilidades consiste em compreender as dificuldades sociais
do indivíduo a fim de propor estratégias e intervenções do comportamento. É
uma ferramenta que o profissional da TCC utiliza para ajudar os clientes a
ampliar ou lapidar suas relações sociais.
Uma mudança de comportamento não ocorre de um momento para
outro, e o treino é de suma importância para o aprendizado.“A mudança
comportamental pode ser compreendida como um indicador de mudança
cognitiva” (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013, p. 99).
De acordo com Zanelatto e Laranjeira (2013), um processo interno e
oculto de cognição (nossos pensamentos), influencia nossas emoções e
comportamentos.
Estudos concluem que o THS apresenta resultados positivos no
processo de abstinências e é recomendado como importante componente do
tratamento de um dependente químico.
11
Beck (2007), abordou a terapia cognitiva no abuso de substância, como
um tratamento que enfatiza, identifica e testa, os pensamentos e as imagens
sobre a utilização das drogas, modifica as crenças que aumentam o uso
dessas substâncias, auxilia no enfretamento de abstinências e fornecem a
prevenção de recaídas.
Assim, o treinamento de Habilidades Sociais, tem como propósito ajudar
o paciente a desenvolver comportamentos mais assertivos e adaptativos, o
auxiliando a se sentir mais corajoso e a saber lidar com situações diversas,
como por exemplo, as crises de abstinência.
12
2. OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo analisar a aplicabilidade do
Treinamento de Habilidades Sociais, na Terapia Cognitivo-Comportamental do
dependente químico.
13
3. METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho foi uma ampla revisão bibliográfica, que
consistiu na análise de 8 artigos selecionados, através de meios eletrônicos,
como Scielo, Lilacs e Google Acadêmico com as palavras: “Habilidades
Sociais”, “Treinamento de Habilidades Sociais, Dependência Química” e
“Terapia Cognitivo-Comportamental”, além de 4 livros, 2 relacionados ao tema
e 2 livros auxiliares.
.
14
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Compreendendo o Treinamento de Habilidades Sociais na TCC
O modelo de aprendizagem social é desenvolvido por meio de
experiências vivenciadas pelo individuo.
“Essas experiências são mediadas por processos cognitivos, como
crenças, percepções e pensamentos, e o desenvolvimento dessas habilidades
são apreendidas de forma particular de cada individuo”(ZANELATTO;
LARANJEIRA, 2013, p.173).
Segundo Cunha et al. (2007), a construção de um repertório socialmente
habilidoso pode ocorrer, sem treinamento formal, nas relações entre pais e
filhos ou entre pares na escola, entretanto, nesse processo, podem ocorrer
falhas de aprendizagem, ocasionando déficits relevantes no desenvolvimento
de habilidades sociais.
Comumente falhas ocorrem neste processo de aprendizagem,
ocasionando déficits relevantes em habilidades sociais. Há evidencias
crescentes de que déficits nestas habilidades estão correlacionados
com fraco desempenho acadêmico, delinquência, abuso de drogas,
crises conjugais e desordensemocionais variadas, como transtornos
de ansiedade.(Del Prette& Del Prette, 2001a, 2002a, 2003b; Marlatt,
1993apud MURTA, 2005 p.283)
Para Del Prette e Del Prette (2001 apud FREITAS et al. 2011) dois
conceitos fundamentam o THS: os de habilidades sociais e competência social.
O primeiro, segundo os autores, tem um caráter mais descritivo. Este refere-se
às classes de comportamentos sociais presentes no repertório de vida do
indivíduo que, se emitidos, contribuem para um desempenho socialmente
competente. O segundo, a competência social, em seu caráter avaliativo,
consiste na capacidade do indivíduo articular sentimentos, pensamentos e
comportamentos, em função de objetivos pessoais e de demandas situacionais
e culturais, que podem trazer consequências favoráveis a ele próprio e para
sua relação com os outros.
Pinto e Barham (2014 p.528), explica e simplifica as habilidades:
Conceitualmente, as habilidades sociais são competências que
facilitam a iniciação e manutenção de relacionamentos sociais
positivos, contribuem para a aceitação pelos pares e resultam em
ajustamento social satisfatório no ambiente.
15
Estudos nos mostram que para se desenvolver relacionamentos bem
sucedidos, precisa-se saber como e quando usar as estratégias de um
repertório de habilidades sociais, não desconsiderando as particularidades de
cada indivíduo, como questões culturais, religiosas, regionais entre outras.
No que tange os aspectos culturais, os desempenhos socialmente
aprovados e valorizados podem variar bastante. Segundo Gaffney et al. (1998
apud CUNHA et al., 2007, p. 32), os comportamentos sociais estão situados
historicamente de acordo com as variações de cada cultura e suas subculturas.
Características sócio-demográficas específicas, como gênero e idade têm sido
consideradas, pois as diferenças de competência social de homens e mulheres
ocorrem desde a infância.
Zanelatto e Laranjeira (2013), reúnem três aspectos ao falar de
habilidades sociais: Comportamental (compreendida como característica do
comportamento, e não da pessoa), aspecto pessoal (relativa às variáveis
cognitivas) e o aspecto situacional ou ambiental (contexto cultural do indivíduo).
Assim, o THS, com o objetivo de ensinar novas habilidades intra e
interpessoais, reúne um conjunto de técnicas baseada na Teoria da
Aprendizagem Social (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013).
Pensando no tratamento do dependente químico, Silva e Serra (2004),
consideram que as principais dificuldades de habilidades identificadas são as
seguintes situações: 1)sentimentos negativos; 2) assertividade; 3) fazer
críticas; 4)receber críticas; 5) comunicação; 6) recusar droga; 7) dizer não; 8)
socialização; 9)frustrações; 10) adiar prazeres; 11) reconhecer eenfrentar
situações de risco; 12) fissura; 13) realizar um planejamento.
4.2 Treinamentos de Habilidades Sociais na TCC x Dependência Química
O presente trabalho analisou a literatura relacionada à importância e o
papel do THS no contexto do tratamento dos dependentes químicos.
Zanelatto e Laranjeira (2013, p.133), explica a dependência química, no
modelo cognitivo de Aron Beck:
“O problema central de um usuário de substâncias psicoativas é um
conjunto de crenças relacionadas ao uso, derivadas e diretamente
relacionadas com suas crenças centrais básicas a respeito de si
mesmo, do mundo e do outro. As crenças centrais, construídas por
16
meio da historia de vida precoce e experiências passadas, tais como
“Sou desamparado, “Sou infeliz”, “Não sou querido” ou „Sou
vulnerável”, podem ser ativadas diante da exposição a substâncias
psicoativas, desenvolvendo um segundo grupo de crenças
relacionadas ao uso – “Só consigo lidar com o desconforto psíquico
se usar”. “Usando drogas, consigo me incluir”, “Se usar, vou ser
querido pelo amigos. De acordo com o modelo de Beck, o uso de
substâncias é uma estratégia compensatório que procura anular as
crenças centrais disfuncionais e as emoções ruins que as
acompanham.”
As crenças centrais se iniciam na infância, desde os primeiros estágios
de desenvolvimento do indivíduo, Beck (2007), explica que podemos ter
crenças centrais positivas e negativas e o terapeuta cognitivo, atua nas crenças
disfuncionais. Assim, identificada à crença central negativa, o terapeuta projeta
uma nova crença mais funcional.
As crenças disfuncionais e os pensamentos automáticos, podem
desencadear o craving, (também conhecido como “fissuras”), tendo como
consequência, comportamentos de busca e uso de substância. O craving é
entendido, pelo modelo cognitivo, como a consequência de crenças
antecipatórias relacionadas ao uso da substancia (ZANELATTO; LARANJEIRA,
2013).
De acordo Araújo et al. (2008), o modelo comportamental foi à primeira
fundamentação que explica o uso de drogas como decorrência da expectativa
do efeito de prazer, apreendido através de experiências anteriores, sendo que
o craving, pode ser entendido como respostas condicionadas pela
aprendizagem associado entre determinado estímulo e o prazer que
acompanha a resposta de se usar droga.
Algumas contribuições nessa área dos transtornos associados ao uso de
substâncias estão sendo desenvolvidas e pesquisas tem apresentado a relação
entre a dependência de substâncias psicoativas e a existência de déficits nas
habilidades sociais dos indivíduos usuários ou abusadores de drogas. Também
mostram que fatores sociais, associados ao uso de substâncias psicoativas
(como por exemplo, o álcool e a maconha), estão estreitamente relacionados
no caso de adolescentes que apresentam habilidades interpessoais
empobrecidas (WAGNER; OLIVEIRA, 2007).
17
Assim, Botvin, Malgady, Griffin, Scheier & Epstein (1998 apud
WAGNER; OLIVEIRA, 2007) conclui que “muitos indivíduos acabam buscando
no uso de drogas a forma de se tornarem mais sociáveis e com melhor
capacidade de interação com seus pares”. Cada vez mais se identifica
profissionais que apresentam interesse por estratégias de tratamento ao uso de
substâncias químicas, sendo que, pesquisas apontam que um dos recursos
mais atualizados aborda o desenvolvimento de habilidades sociais. Diversos
artigos encontrados mostram a influência positiva do desenvolvimento das
habilidades sociais como fator preventivo ao uso de substâncias.
Aumenta o número de estudos no Brasil e em outros países sobre as
intervenções baseadas no treino de habilidades, evidenciado que
esse modelo apresenta desfeches positivos para a manutenção da
abstinência e em indivíduos dependentes de álcool e outras
substâncias, servindo, ainda, como ferramenta para a prevenção do
uso de substâncias entre jovens. (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013,
p. 176)
Dentre alguns estudos encontrados, como por exemplo, os dos
dependentes de álcool, mostraram que esses consumidores tendem a
apresentar déficits nas habilidades sociais.
Cunha et al. (2007) apresentou os déficits em habilidades sociais em
uma amostra de dependentes de álcool, mostrando, com maior evidência,
déficits nos fatores de auto-afirmação, comunicação e de desenvoltura social,
sugerindo assim que o álcool atuaria como uma estratégia de enfrentamento
em situações ansiogênicas, visto que os participantes desse estudo
concordavam que o álcool facilitava suas interações sociais, deixava-os mais
confiantes, desinibidos e favoreciam suas relações interpessoais.
4.3 Treinamentos de Habilidades Sociais e o tratamento dos
familiares do dependente químico
Quando pensamos no tratamento de um dependente químico, na
Terapia Cognitivo-Comportamental, entende-se ser de extrema importância
atuar junto aos familiares, ou seja, que a família seja tratada paralelamente.
18
Zanelatto e Laranjeira (2013 p. 555) abordam a importância da relação
parental na Terapia Cognitivo-Comportamental do depende químico, e explica:
Do ponto de vista cognitivo, a dependência de substâncias é
concebida como um comportamento apreendido passível possível de
modificação com a participação ativa do dependente e da família no
processo. A TCC visa o resgate de recursos pessoais para lidar com
o processo de mudança de padrões de comportamentos familiares
antigos, auxiliando a modificação de distorções cognitivas e crenças
disfuncionais e possibilitando lidar de maneira mais eficiente com o
dependente químico. A abordagem cognitiva não se fixa em questões
mais superficiais, mas tenta efetuar mudanças na família enfatizando
o momento presente e investigando o núcleo do problema.
Segundo Jungerman e Zanelatto (2007), vários trabalhos na literatura
abordam a dependência de drogas como um fenômeno que afeta não somente
o usuário, mas também seu sistema familiar, mostrando a importância do
estudo do funcionamento relacional dessas famílias.
Estudos apontam que muitos profissionais não acreditam na eficiência
do tratamento isoladamente. O principal objetivo do tratamento familiar na TCC
é explorar os comportamentos e crenças que estão afetando, direta ou
indiretamente o dependente químico.
De acordo com Jungerman e Zanelatto (2007, p. 253):
O que se observa é que, muitas vezes existe uma relação pouco
saudável entre o dependente que faz uso de determinada substância
– e por isto causa prejuízo a si e a outrem – e a família que, querendo
resgatá-lo, mantém e agrava o quadro em virtude da própria conduta.
É uma relação parasitária, em que um dos indivíduos se alimenta dos
esforços emocionais do outro. Muitas vezes, esta relação prolonga-se
por anos, a ponto de ser considerada normal por aqueles que dela
participam.
Pesquisas também mostram que os familiares dos dependentes
químicos apresentam poucas habilidades na interação com seus filhos,
principalmente no que diz respeito á comunicação. Existem muitas dificuldades
relacionadas à falta de assertividade e, portanto, é comum na família, não
saber o que eles pensam, quais seus desejos e sentimentos. Assim, esses
déficits nas habilidades de comunicação dos familiares podem inclusive criar
uma chance de aumento de consumo de drogas ou desencadear o uso.
(JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007).
19
No tratamento da TCC com o familiar do dependente, algumas práticas
são essenciais no Treinamento de Habilidades Sociais, como a comunicação:
fazer e receber elogios, críticas e falar sobre sentimentos.
É importante que tanto familiares quanto dependentes (modelando
seu comportamento naquele evidenciando pela família) falem sobre
seus sentimentos de forma positiva e assertiva. Muitas vezes os
sentimentos positivos não são externados e os sentimentos negativos
o são de forma exacerbada, prejudicando a relação e agravando o
quadro da dependência. É fundamental, portanto, manter um canal
aberto para a troca de sentimentos (JUNGERMAN; ZANELATTO,
2007, p. 329).
No que diz respeito ás críticas, o THS é extremamente funcional no
tratamento feito com os familiares. Sabe-se que comumente os familiares
fazerem críticas ao comportamento destrutivo dos filhos e não apresentam
habilidades ao se comunicarem com eles. Entretanto, acabam por contribuírem
negativamente, e não os auxiliam a promover mudanças positivas.
“Quando criticamos sem objetivo claro, rotulamos as pessoas e estes
rótulos negativos, uma vez incorporados, influenciam negativamente a
avaliação que a pessoa faz de si mesma, rebaixando sua auto-estima”
(JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007 p.334).
Assim, o objetivo principal do THS com a família do dependente químico
é, desenvolver habilidades mais construtivas, promovendo mais sensibilidade e
os auxiliando nas resoluções de problemas. Por fim, contribuir com uma
relação mais saudável no processo de tratamento do usuário.
4.4 Algumas das técnicas utilizadas no Treinamento de Habilidades Sociais
Murta (2005), refere em seu trabalho, as técnicas que segundo ela, são
mais comumente empregadas no THS, como o fornecimento de instruções,
ensaio comportamental, modelagem, feedback, tarefas de casa, reestruturação
cognitiva, solução de problemas e relaxamento.
No que tange o tratamento de dependente químico, Jungerman e
Zanelatto (2007), em sua obra voltada ao tratamento do usuário de maconha e
seus familiares, apontam as principais técnicas recomendas em seu manual
para terapeutas:
20
Dar feedback -O objetivo do profissional é, a priori, Instruí-los,
mostrar ao paciente o grau de discrepância entre o comportamento
executado e aquele pretendido, apresentando qual seria a resposta
apropriada em situações especificas. O feedback pode ser dado por
meio de material escrito, gravações, anotações e discussões durante
as sessões.
Reforçamento – Pensando na teoria comportamental, compreende-
se que é uma das técnicas mais empiricamente estudada. O
terapeuta pode realizar reforçamento verbalmente, como por
exemplo, efetuando um elogio por gestos, mexendo a cabeça,
expressões faciais de aprovação, e podem também capacitar o
paciente a se auto-reforçarem, de modo que quando o
comportamento esperado aparecer, digam que façam algo
prazeroso para si mesmo.
Tarefa de Casa – Visto como um aspecto essencial na terapia, tem
como o principal objetivo criar oportunidades para mudanças
cognitiva e comportamental das questões que são trabalhadas
durante as sessões, melhorando aquilo que foi apreendido. Estudos
mostram que pacientes que fazem “lição de casa” tendem a ter um
progresso melhor na terapia.
Ensaio Comportamental – Entendida como uma das principais
estratégias do THS, o profissional pede para o paciente que
represente cenas, com o objetivo de dar ao paciente simulação da
vida real.
Fazer e Receber Elogios – O profissional utiliza o recurso como um
elemento importante no agir assertivamente. Funcional para o
dependente químico, mas de extrema importância no trabalho feito
com a família, pois comumente é percebido que não existe qualquer
reforço positivo para um comportamento que o dependente
apresente, tendendo sempre a predominar a visão negativa.
Falar e ouvir Sentimentos – O profissional discute a importância de
falar e ouvir sentimentos, objetivando melhorar as relações
interpessoais. Este exercício apresenta resultado tanto em grupo
como individualmente, podendo ser treinado durante a sessão e na
“lição de casa”.
21
Modelagem do Comportamento – entende-se que a aprendizagem
de um novo comportamento também pode ser feita a partir da
exposição do paciente a um modelo, no qual pratique ou demonstre
a habilidade que esta sendo treinada. Estudos mostram que os
pacientes apresentam melhoras quando o modelo tem alguma
semelhança com eles, seja na idade ou no sexo, e o comportamento
observado é passível de ser repetido pelo observador. Assim, a
técnica da modelação pode ser usada no momento em que o
paciente não sabe começar, de modo que o caminho é apresentado,
podendo assim ser “aprendido” por ele.
22
5. CONCLUSÃO
O presente trabalho abordou a aplicabilidade do Treinamento de
Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental dos dependentes
químicos e sua eficácia. Estudos apresentaram fortes evidências de que
dependentes químicos podem apresentar déficits nas habilidades sociais.
Através das pesquisas, identificou-se que o THS busca identificar
situações reais e emocionais e, através de técnicas, explorar e ajudar cada
situação envolvida no comportamento do dependente.
Também se pode observar a importância da intervenção familiar do
dependente químico. Neste caso, a abordagem psicoeducacional tem como
objetivo ensinar a família lidar de forma mais efetiva ás dificuldades
relacionadas ao uso de substâncias psicoativas.
Obviamente que neste trabalho não foram esgotadas todas as técnicas
do THS que podem ser exploradas e exercitadas num tratamento da Terapia
Cognitivo-Comportamental, todavia, é importante ressaltar que cada indivíduo
possui suas particularidades e o trabalho não é uma regra para todos.
Entretanto, dentre as técnicas mais comumente utilizadas no THS, da
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental de um dependente químico, pode-se
concluir que o principal objetivo do tratamento é auxiliar o paciente a
desenvolver habilidades sociais mais assertivas, encontrando a melhor
estratégia para si. Desenvolver formas de enfrentamento de situações, o
auxiliando na prevenção de recaídas, craving, crises de abstinência e nas suas
relações parentais, e por fim, ajudar o paciente a aprimorar suas habilidades
relacionadas ao manejo de raiva, a dar e receber elogios e críticas, e a
resolução de problemas.
Foram encontrados poucos estudos referentes este tema. Entretanto,
sugere-se o avanço das pesquisas das técnicas do Treinamento de
Habilidades Sociais para atestar a eficácia do tratamento deste modelo
terapêutico.
23
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