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a, o nossa conhecida, mas,
n
mo tempo , sem analogias
a Inmeras instituies esco-
das eras antiga e medieval, e
ual as insti tuies escola res
s derivam em parte a sua
ncia sem tambm jamais se
undirem com ela.
escola nos parece ter sempre
ido na cultura ocidental. A
ra no desmente essa im-
o. Mas, recorrendo simulta-
ente aos aportes da histria
ducao e da histria da arte
uanto fontes de anlise da
la no passa r dos sculos, e em
respectivos contextos, escla-
que,
cada poca, cabem as
singularidades. As da escola da
a moderna foram duas: ter
ado o plurissecular protago-
o da faml ia na educao das
as e dos jovens, criando duas
s ins ti tuies escolares para
titu-Ia, o colgio secundrio -
eiramente literr io, e pos te-
ente tambm cient fico - e a
la elementar ; e ter def init iva-
te dado sua funo de trans-
o de saberes - conhecimen-
tcnicas e valores - uma forma
ocivel do domnio da leitura
escrita.
texto oferece, pois, um en-
mento do longo processo de
ao das criaes escolares
o
aparecimento da escola moderna
Uma histria ilustrada
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r-..latiaI .ciu Spedo IlilsdOlf
o aparecimento da escola moderna
Uma histria ilustrada
a,
utntica
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1':dlllll ~;ltI '1.trnica
W:tllklli.1 Alvarenga Santos Atade
1{l'\is~tI
I\Llria
de Lourdes Costa de Queiroz (Tucha)
2006
Todos os direitos rese rvados pela Autnti ca Edi tora .
Nenhuma par te des ta publi cao poder ser reproduzida ,
se ja por meios mecnicos , e le trnicos, s ej a via cpia
xerogrfica, sem a autorizao prvia da editora.
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BeloHorizonte
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Hi lsdor f, Ma ria Lc ia Spedo
H656a O aparecimento da escola moderna; uma hist-
ria ilustrada / Maria Lcia Spedo Hilsdorf . - Belo
Horizonte: Autntica, 2006.
234 p.
ISBN 85-7526-186-X
l.H is t ri a da Educao. 2 .Ens ino Elementa r. 3 .En -
s ino Secundrio I .Ttulo.
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. . .
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Apresentao
Ensinaram-me que este lugar dos protocolos de lei tura. Para esca-
par s injunes das laudas anal ticas de um prefcio elucidativo, mas que
ningum l, f iquei tentada a enunci-los mediante a formulao sintt ica
de uma epgrafe poderosa, todavia curta demais para satisfazer ao editor.
Acabei por optar pela forma do prembulo, que espero o leitor receba
como uma pequena explicao sobre as condies de produo deste li-
vro, escolha que me parece sensata, uma vez que as tentat ivas discursivas
e tipogrficas de controle de sua recepo e uso parecem caducar to logo
as obras saiam de nossas mos
O
a p ar ec im e nt o d a e sc o la m o de rn a : u m a h is t ri a il us tr ad a
, basicamente,
um livro didtico, redigido com base em anotaes de aulas das disciplinas
Histria da escolarizao e Histria da educao moderna e contempor-
nea, ministradas na FEUSp, e arranjadas para compor um curso de 12 se-
manas, correspondentes, pouco mais, pouco menos, aos nossos semestres
letivos. Cobre dos primrdios do cristianismo ao incio do sculo XIX, mas
d protagonismo s instituies escolares constitudas nos trs sculos (XVI-
XVIII) da modernidade pedaggica: o colgio (secundrio), primeiramen-
te l iterrio e posteriormente tambm cientf ico, e a escola elementar (pri-
mria). Detm-se, portanto, soleira do grande movimento de disseminao
delas pelos Estados, que marca o incio da contemporaneidade pedaggica.
A inventividade nesse percurso, percorrido j em tantos outros tex-
tos nacionais e estrangeiros, vem da metodologia com que ele foi cons-
trudo: recorrendo aos aportes da histria da educao e da histria da
7
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:11 ('() lqll;lllttl tO lll'~ d' ;lIl;1iS( dl ('~( tlLI lO p,l~ .u do'i ~(Tldo~, l' ('1111>ux
rcspc
.ti
vos COIll .xu.
Nuo .
11111
rabalho d .
t 'S ,
l l lo 's t: obrigado
a
concluses, mas, se h uma idia que emerge da explorao analtica assim
encetada, que essa escola moderna tem as suas singularidades, se con-
trastada escola dos tempos antigos e medievais e tambm dos atuais, e
que penso resultam de ter avanado sobre o plurissecular papel da fam-
l ia na transmisso de valores, conhecimentos e habilidades s crianas e
aos jovens e o confinado quelas novas formas escolares indissociveis do
domnio da lei tura e da escrita. Essa compreenso, espero que professo-
res e alunos a desenvolvam com a sua criatividade de leitores. Alis,
espero tambm que tenham tanto prazer em usar este texto quanto tive
em comp-lo.
Este para os meninos do xerox da Adriana (Marcos, Rafael e An-
derson) e para as funcionrias da secretaria do EDF (Maria Luza, Sandra
e Rita), os quais, pacientemente, reproduziram as centenas de imagens
escolhidas, at chegarmos forma final deste l ivro.
Maria Lcia Spedo Hilsdorf
So Paulo, maro de 2006
[O APARECIMENTO DA ESCOLA MODERNA - UMA HISTRIA ILUSTRADA]
c :
\111111,1) I
Dos primrdios do Cristianismo
aofinal da Idade Mdia
Sculos V-XI: a Alta Idade Mdia e as escolas monacais
Comeamos pela apresentao e anlise das inst ituies escolares
que surgiram durante o perodo medieval, para fazer emergir delas, por
contraste, a especificidade das inst ituies escolares dos tempos moder-
nos, que abordaremos nos demais captulos.
Na verdade, esse ponto de partida solicita do leitor um recuo tem-
poral ainda mais largo, pois pensamos que a fisionomia prpria da educa-
o escolar da Alta Idade Mdia (sculos V-VIII) comeou a delinear-se no
interior mesmo do mundo antigo, na sua derradeira fase, aquela que H.-
I. Marrou, em
Santo Agostinho e o agostinismo,
nomeou como os tempos
de catstrofe , quando o Imprio Romano se esboroa, mas a cultura cls-
sicacontinua viva e influente, permeando tanto a cultura germnica quanto
a crist. Seguramente at o final do sculo V,segundo P.Rich, as antigas
insti tuies do perodo romano que ministravam ensino de primeiras le-
tras (as escolas do ludus magister ou
luterator),
de gramtica (as escolas do
gmmmaticus) e superior (as escolas de retrica do retor e as de filosofia)
funcionavam plenamente, sustentadas quer pelos benfeitores particulares
(evergetes), quer pela legislao imperial, quer pelos dirigentes das cidades.
Alis, diz tambm Marrou em outro texto, Histria da Educao na Antigi-
dade,
que a poltica de romanizao do Imprio Romano passava pelo
projeto pedaggico de criao de escolas municipais pblicas em todas as
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provnc ias anexadas. Vrios autores concordam
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1\.,.,1111,s l'Il II~':lSt'llst: VOIItIlIII;II.11I1ll'qnl'IIt;llltlo a., L..V() ;I..pag;l.,
remanescentes, enquanto elas existiram. I':ss' e o
II/()n'
dnssirac, modo ou
costume clssico de educao que predominou no Ocidente cristo e se
contrapunha ao more sinagogae, que caracte rizou a educao in fluenciada
pelos padres judaicos, nos quais educao catequtica e educao clssi-
ca no se misturavam. Da podermos entender a mentalidade asctica
dos padres do Oriente, ao passo que, no Ocidente, as culturas clssica e
bblica eram ensinadas e praticadas nas igrejas e nos mosteiros. Consa-
grando esta prtica, o Conclio de Toledo (527) legislou para que os bis-
pos criassem nas cidades, junto s igrejas onde doutrinavam ex-cathedra,
escolas para formar novos pregadores a fim de evangelizar as populaes.
Nessas escolas catedrais ou episcopais, os candidatos aprendiam tanto o
instrumental clssico, propedutico cultura bblica, quanto a doutrina e
a liturgia eclesisticas. Na mesma linha, o Conclio de Vaison (529) deter-
minou o atendimento s populaes do campo, prescrevendo que os pa-
dres abrissem escolas para as crianas e os jovens das suas parquias rurais
e lhes ensinassem a ler os textos sagrados, a contar e a cantar os Salmos. A
despeito de seus vcios, lembra A. Clausse em A Idade Md ia, padres e
bispos dominavam a cultura clssica e atuaram como mestres eruditos,
muitos deles combinando os recursos da oratria com mensagens sim-
ples, como Cesrio de Arles (470-542), figura de destaque em Vaison,
cujos se rmes estavam impregnados de a legorias, com imagens populares
e exemplos tirados da vida rural.'
Alm das escolas paroquiais e catedrais, o sculo VI viu nascer tam-
bm as escolas monacais. Elas foram instaladas por iniciativa de fundado-
res de mosteiros como Bento de Nrsia (480-547), Columbano (540-615)
e Beda, o Venervel (673-735), que encontraram em Agostinho os funda-
mentos da ao educativa escolar sobre os seus jovens membros. Nem
todos os mosteiros, porm, aceitaram esse encargo, pois, como lembra
bem Peter Brown (Antigidade Tardia), originalmente o monge se definia
como o homem de corao puro que queria reviver, na solido do deser-
to, o Ado do Paraso, rejeitando tudo o que vinha da cidade imperial
romana, fonte de corrupo, inclusive a educao que ela oferecia: no
paradigma monstico a cidade perde sua preeminncia enquanto unidade
soc ial e cul tura l di st inta
( 0 0 ' )
[e seu papel de] socializao dos meninos
(p. 279-80). Assim, medida que a Alta Idade Mdia avanava para o per-
odo feudal, acompanhando o lento processo de perda de poder das cidades,
1
Cf. um desses sermes em ]. Lauand, Cul tura e educao na Idade Mdia.
12
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
1111111.1()111l.1lllll'llliv.1 l' pkll.1 de \ Idalli ...il ;In:llil ill'll()t;1 L'I;Iaqlll'1a que
1l'1I11111'1.1ltI 1IIIIIIllo, L' ( ) Sl'U r 'PI .scnumtc exemplar era o monge, como
di/ (;, I\l ilToli
(Os 1I/0/l.I ,/'s).
Lutando contra o mundo, representado pelo
...' o, a famlia e a procriao, abrigados no espao interno, fechado dos
mosteiros, gravitando ao redor do claustro, formando pequenos grupos,
microorganismos que eram santurios da vida privada - contra o modelo
de vida citadina e pblica do mundo antigo -, os monges viviam voltados
sobre si mesmos, em silncio e solido. A sua prpria roupa era um casu-
lo, invlucro que os isolava e protegia do mundo
[Fig. 3].
No entanto, mesmo sendo o modo de vida monstico caracterizado
por essa cul tura de inte riorizao, as escolas monaca is ou c laustra is se tr ans-
formaram nas mais importantes instituies de ensino entre os sculos V
e XI, pois essas comunidades apresentavam outros traos comuns de esta-
bilidade, orao, trabalho manual, obedincia ao abade e cultura religio-
sa, que supunham formao e aprendizado formal. De um lado, ao aban-
donar as cidades para viver da terra e os seus ofcios, aprendiam atividades
produtivas pelo ver-fazer; de outro, para seus misteres espirituais, devi-
am conhecer a Bblia, as Regras da ordem, as obras dos padres da Igreja e
os 150 Salmos, que cantavam no coro ao longo dos dias e das noites da
semana, saberes dos quais se impregnavam pela oralidade, pelo ver-ouvir
e pelo colquio permanente, propiciados pela vida em comum dos mos-
teiros. Miccoli esclarece os procedimentos empregados nessa formao: a
meditatio e a ruminatio, i sto , a repet io constante, intensiva , cantarola-
da, dos textos bblicos aprendidos de cor. Aqueles que quisessem alcan-
ar a clarificao da f , como diz M. T. Brocchieri
(O
inte ectuaf), preci-
savam ter acesso, ainda, ao conjunto dos ensinamentos clssicos e das
dout rinas da Igreja, acumulados e registrados nos textos escri tos. Ficando
assim autorizada a atividade cultural dos monges em sua vida de trabalho,
orao e estudo - ora et labora, proclamava a exemplar regra beneditina -
em cada mosteiro logo passou a funcionar tambm uma escola, onde os
mais velhos instruam os novios
[Fig. 4]
na leitura e na escrita, na gra-
mtica, na retrica, na filosofia e na teologia. O domnio da leitura e da
escrita ensinadas pelos mestres-monges, permitindo o acesso aos textos,
marcava simultaneamente o mosteiro como um lugar de prtica da lectio
tacita, a le itura sil enc iosa, isolada, individual dos textos da tradio cu ltu -
ral do mundo antigo e cristo; da lectio divina, a contemplao e a leitura
espiritual; e da glosa, o comentrio escrito dos textos lidos. No silncio do
seu quarto, aquecido pelas cobertas, um jovem monge podia estudar os
seus textos e treinar a escrita na cera das tabuinhas, cumprindo suas obriga-
es de religioso e letrado [Fig. 5].
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AOF1NALDAIDADE MDIA]
3
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S lIdo. 110lIII.IIIIO. l' Igl'lll'I,1\ ollglll,d, t i \ id,l 1111111. 111',1I pru '/,;1l'
a ascese untes do que u cicn 'ia, pois crum 'Ius '111 1
'''U
:1111) cout .mplu-
o imediata de Deus, logo apareceu a oposio entre os moste iros tr adi -
cionalistas e os de tendncias culturalistas. Nestes, centros monstico
abertos cultura antiga, os monges dispunham de bibliotecas e de um
scriptorium com todo o instrumental necessrio para ler e recopiar os ma-
nuscritos antigos, fazer tradues, escrever notas aos textos, organizar s-
mulas e ilustrar as passagens transcritas: ao longo dos sculos, as ilustra-
es recriam essas atividades, documentando tambm os materiais de
lei tura e escri ta [Figs. 6a, 6b e c]. Os bibliotecrios trocavam entre si
ou vendiam para os leigos as obras produzidas, formando uma ampla rede
de difuso e circulao do escrito. Nos mosteiros da Irlanda, praticava-se
a leitura e a escrita do grego, no habitual no restante da Europa. Mas,
havia tambm, em toda parte, muitos livros traduzidos ou compostos em
lngua vulgar para aqueles que no sabiam latim ou grego.
Ao tempo do Imprio Carolngio (sculos VIII e IX), os culturalistas
levaram ao extremo as funes educativas e escolares dos mosteiros, ao
fazer de les verdadei ros ce le iros de re lig iosos que eram, simultaneamen-
te, funcionrios do reino: a educao no era mais assunto privado da
Igreja S ob a orientao do monge Alcuno (735-804), Carlos Magno - e
depois dele, com fora menor, seus sucessores, Lus, o Piedoso; Carlos, o
Calvo; Lus, o Germnico; e Lotrio -, empreendeu a reforma das escolas
monacais, o que atingiu tambm as escolas paroquiais e episcopais exis-
tentes, para que se tornassem centros de formao de notrios e escribas.
Os estudos dos jovens monges foram ampliados para abarcar, alm de ler
e escrever latim, a estenografia (tomar notas), cantar os Salmos, calcular,
e o conjunto do trivium e do quadrivium antigos, chamado de as 7 artes
liberais . Para a gramtica latina, a primeira arte do trivium e a mais im-
portante para o domnio da lngua, usavam-se os manuais de Donato (s-
culo IV), Marciano Capela (sculo V), Prisciano (sculo VI), Abbon de
Fleury (945-1004), e de Rathier de Verona (?-952), texto que pela sua
facilidade ficou conhecido entre os estudantes como spara dorsum, isto ,
o poupa-costas . A retrica era ensinada com base em obras de Ccero,
Virg lio, Horc io, Terncio , Ovdio e
juvenal,
e para a dia lt ica emprega-
vam as Categorias de Aristteles, as Tpicas de Ccero, os tratados de Bo-
cio, e o Isagoge de Porfrio. Depois, as disciplinas do quadriv ium - arit-
mtica, geometria, astronomia e msica - a partir de textos de Bocio,
Marciano Capela, do abade Abbon e de pensadores rabes. Para aqueles
que culminassem os estudos com a teologia, as obras dos padres da Igreja.
14
[O
APARECIMENTO DA ESCOLA MODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
(:1111111l \( Ih-S I IlI.II,';IOIk .IIIIOll'S. 11mOIl'1I1I11I0II10Ilas il':1('olllilllw
1I1I1l'\1\('IIIIiIS
f
011 'S do p '1ISal1l'lHO alltigo.
11111.1
/.
que os
saiptoria
deviam tambm produzir e reproduzir do-
111111(;1110:-.ega is, ditados aos monges escribas pelos reis lFigs. 7a e 7b], as
uuroridudcs
eclesisticas
[Fig. 7e]
e os nobres
[Fig. 7d],
praticavam-se
uunhm as formas retricas do dictamen prosaicum, que ensinavam a re-
d i gi r cartas, memoriais, leis e escritos de negcios. Para a notao deles
os copistas desenvolveram um novo tipo de letra minscula, mais leg-
vel que a uncial criada pelos romanos e a gtica dos germnicos, porm
mais trabalhada que a cursiva, a escrita rpida praticada entre os leigos
1 1
,H
11111( '110 ' d.1 1 ', lImpa, considerava que ()conhecimento de
I)
'l IS cru ut in
.11111ela
iluminuo
mstica e no pelo estudo, e apenas a
oruun
c a
IH
IIlll'lIvia crum os procedimentos vlidos para a vida monstica. Para
t
k, o dever do monge era orar, gemer e chorar os
pecados,'
opondo-se
11.11.11\1ntc a outros, como Berengrio (?-1088), mestre de teologia em
l hurs, que aceitava ensinar a dialtica como instrumento da razo para
desenvolver o conhecimento humano, e com tanto radicalismo que sua
posio acabou identificada quela dos herticos. A tendncia cultural isca
cedeu ento o protagonismo tradicionalista, do mosteiro como escola
110amor mst ico como queria Bernardo, configurando a grande crise das
.scolas monst icas do sculo XI .
A questo intelectual que estava no cerne dela se resolveu pela via
intermediria, representada por Lanfranco, abade de Bec e mestre de
Anselmo, ao dizer que a razo dialtica devia ser cultivada sim, mas para
servir f. Essa posio abriu caminho para a atividade escolstica dos
sculos XII e XIII, mas no garantiu a permanncia das escolas monacais:
o predomnio dos anticulturalistas acabou por levar ao fechamento ou
perda de importncia das escolas internas dos mosteiros, que passaram a
aceitar poucos estudantes da ordem, e decadncia do estudo das 7 artes
libera is e da teologia ne las rea li zado. Naque las escolas aber tas para alunos
externos que sobreviveram, uma cerca ou um muro separava essas de-
pendncias dos demais espaos do enclave, como mostra a planta do mos-
teiro de Saint-Gall
[Figs. l l.a
e
Uh).
SABERES ESCOLARES NA ALTA IDADE MDIA
Fon te s: R. Nunes,
Histria da Educao na Idade Mdia
e A. Clausse ,
A Idade Mdia
Escolas Paroquiais: Ler , calcular , doutr ina, cnti cos do coro; para a lguns, esc rever
Escolas Monacais e Episcopais:
7 ARTES LIBERAIS compreendendo
Trivium Gramtica
Donato (350) - Ars minor e AI:>maior
Prisciano (500) -lnstitu o
grammarlca
Pseudo-Caro - Disticha
5 Cf. o seu sermo sobre o conhecimento, em Lauand, Cultura e educaona /r/fll'li/Mio,
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FINAL DAIDADE MI::DIA]
17
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Ovdio - AIt'/rll//liljiJ.\I'S,
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m di os d o a m or
Vrglio, Horcio, Plauto, Juvenal
Cassiodoro
Retrica
Beda
Alcuno
Sermes de [acques Vitry - Thesauros
Composies Epi stolares - Dictamen
Ccero -
Tpicas
Marciano Capela - N p ci as d e F i lo lo gi a e
Mercrio
Lgica e Dialtica
Quadrivium
Isido ro de Sev ilha -
Etimologias
Porfrio -Isagoge
Mario Vitor ino -
Definies
Apule io - Per i H e rmen e ia s
Bocio - Lg ic a oe tu s (correspondendo ao
r
l ivro do Organon de Aristteles)
Cassiodoro
Bocioritmtica
Astronomia e Fsica
Geometria e Geografia
Euclides -
Elementos
Plnio, o Antigo
Solino
Marciano Capela
Boc io -
Geometria
Harmonia (Acstica e Msica) Bocio -
D e m u si ca
FILOSOFIA E TEOLOGIA Bblia
Padres da Pa tr st ica: Agost inho - Catechi-
zan di s rudibus
Gregrio I -Mora/ia
Sculos XII-XV: a Baixa Idade Mdia,
as escolas episcopais e as universidades
A decadn cia da vida cultural e esco lar nos m osteiros provocada pe-
1:ls d isp utas e ntre trad ic io na listas e c ultu ra listas re pe rc utia u ma c on di o
IH
1( )\I'I\IUIIM I.N'I'O11\S('OI.AO I)FI\NAUM AIIST RIALUSTRADA]
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11,1EIIIOJl;l (k idcnwl
explodiu
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Xl
I,
p ro vo ca do p ela
reorganiza-
,'.lO
du f u n o
com ercial das cidades, tan to nas rem anescen te s do m undo
IIIigo
( / 1 / 1 1 . 1 )
quan to n os bairros que tin ham cresc ido ao p das muralhas
,los c aste los ou e m to rn o dos p r prios m osteiro s
(burgos).
Acompanhando
,I t o nfigu ra o ge ral da soc ie dade am ea ada p elas in vases e a violn cia
do
mundo
fe udal, e stas n ovas aglom era e s fo ram se ndo e dificadas c om o
fo rtalezas, c om fu n e s de fe nsivas, atrain do p ara o abrigo dos se us m uro s
o s tra ba lh ado re s qu e fu gia m d os c am po s d ev asta do s. O p on to d e in fle x o
oc orreu , n o e ntan to, se gun do
J.
Le Goff (O
apogeu da cidade medieva ) ,
quando seus moradores conquistaram os dire itos de liberdade pessoal e
de associao dian te do con trole econm ico e jurdico dos sen hores feu-
dais, ou dos bispos e abades dos mosteiros para quem trabalhavam .
H.
Montei ro
(O
feudalismo: economia e sociedade)
tran sc re ve doc um en ta o da
poc a, re gistrada pe los e sc ribas e n otrios, m ostran do c om o as cidade s de
Le Mans e Lan conseguiram o direito de form ar uma comuna, isto ,
um a c idade in dependen te , re spec tivam en te em
1070
e
1115,
a p r im e i ra
por m e io de uma revolta con tra o senhor feudal e a segunda, por compra:
Ento, [os habitantes de Le Mans] tendo feito uma associao a que
chamar am comuna, ligar am-se uns aos outr os por juramento s e obriga-
ram os outros grandes da.regio ajurar fidel idade
sua comuna. Tornan-
do-se audaciosos por esta conspirao, principiaram a cometer inumer-
veis crimes, condenando indiscriminadamente e sem causa muitas
pessoas, cegando algumas pelas menores razes, e, o que horrvel
dizer , enforcando out ras por fal ta s ins igni fi cantes. Que imaram mesmo
os castelos da rea durante a Quaresma, e, o que ainda pior, durante o
perodo da Paixo de Nosso Senho r. E fizeram tudo isto sem razo. [... ]
o
clero , c onside rando esta situa o com os arcebispos, e os prceres,
pretextando motivos para exigir dinheiro ao povo, deram-lhe [ao se-
nhorio de Lan], atravs de intermedirios, a oportunidade de ter li-
cena para fazer uma comuna, se pagas se uma soma compatve l. Comu-
na uma nova e pssima designao de um acordo pelo qual todos os
cabeas -de-casa l pagam aos senhores, apenas uma vez no ano, o t ributo
u sual de serv ido e, se cometem um delito in fringindo as le is , saldam-
no por um pagamento legal; tambm f icam in teir amen te liv res das de-
mais exaes do censo usualmen te impostas aos ser vos. O povo, agar -
r ando esta oportunidade para se liber tar, juntou grandes somas de
dinheiro a fim de saciar a sofreguido de tantos avarentos; e estes,
agr adados com a abundncia que lhes chovia em cima, p restaram jur a-
mentos, comprometendo-se no assunto. (p.61-2)
[Dos
PRlMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FINALDA IDADE MDIA]
9
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1':111()IHlapo~i(lao ,lI)~1~II..' II1i1' l' llIl.lI dm 'l' (lIlos I . I, IlIilll 'ildo por
prticas de
servido,
formas de posscssuo dcpcud 'IH'~ . rcuimc social
forte-
mente hierarquizado, enfim, caracterizado COITWsocialmente
csrtico,
nas
comunas havia uma intensa atividade de compra e venda de produtos e
servios - seus moradores se reuniam em corporaes de ofcios (universita-
tes) ,
sendo os mercadores de tecidos de l os primeiros a assumir essa forma
de produo - e sua organizao social era muito mais dinmica e fluida.
Reencontradas a autonomia e a mobilidade, a praa do mercado tornou-se o
centro da vida urbana.
por isso que os burgueses, cuja mentalidade a do
esprito livre e empreendedor, iro compor o tipo humano exemplar dos
prximos sculos. Na base dele estava a revolucionria prt ica comerc ia l da
separao entre a mercadoria e o mercador: graas ao desenvolvimento dos
servios bancrios, s viagens mais seguras com o declnio das invases e
liberdade de ir e vir sem ter que pagar taxas e impostos aos donos das
terras, dos caminhos e das pontes, o mercador no precisava mais acompa-
nhar a mercador ia, podendo agir apenas como organizador e administrador
do seu negcio. A atividade comercial se dinamizava medida que o
mercador se estabilizava.
Explica-se, ento, porque no perodo ps-feudal a centralidade da
formao cultural e escolar tenha se deslocado das escolas monsticas - j
reduzidas pelas quere las anticul tura li st as s suas funes prec ipuamente
religiosas - para as escolas que os bispos mantinham anexas s igrejas
catedrais. A catedral era a igreja da cidade, uma igreja urbana, aberta aos
seus moradores, e nessa ligao G. Duby (A Europa na Idade Mdia) en-
contra o fundamento da sua renovada funo educadora no Ocidente. De
um lado, o prprio edifcio da catedral enunciava pela sua arquitetura,
suas esttuas e pinturas, seus altos vitrais que deixavam passar a luz, a
aceitao dos novos traos mentais de abertura, confiana e otimismo que
os burgueses traziam: configurando uma pedagogia da imagem, a arte
gtica das catedrais francesas reafirmava que Deus (e sua representante
no mundo dos homens, a Igreja) era fonte de autoridade, luz e salvao.
De outro, ao manter uma escola anexa sua igreja como parte das suas
obrigaes pastorais, o bispo confirmava que a vida crist do povo burgus
nas novas comunidades dependia de padres pregadores, formados na pe-
dagogia da palavra falada e escrita. Da o verdadeiro surto das escolas
catedrais no sculo XII, to importante que esse autor diz que, alm do
mercado, o outro plo dinamizador das cidades nesse perodo a catedral
com sua escola: as cidades renascem pela presena do mercado, mas, alm
das suas bases sociais e econmicas, crescem em importncia tambm
pelas suas funes culturais, inclusive a educao escolar ministrada pela
esco la anexa igreja ca tedral .
2
[ APARE IMENTO DA ESCOLA MODERNA - UMA HISTRlA ILUSTRADA]
N ....Snlol. l.llld lI ..IIlIlpi\lOp.IIS, il 11Iillll'ados t:slllllos com inu
.1\,III 1'IiSIi.111/.II ;I l1ligil iduilc, mas 'Ias .rum escolas LIba n as, di n m icas
1111110m 1I1t: ll 'ados c as igrejas dos bi spos, c suas marcas carac te rsti cas
11111lgllravalll
lima
cultura escolar profundamente modificada em relao
.1 escolas dos mosteiros. Em primeiro lugar, porque a licentia docendi (li-
Il'II\'U docen te, dir eito de ensinar), apangio dos bi spos e clrigos, passou
.I se 1' tratada como um servio, sujeito s regras do mercado, e muitos
lunncns comuns dispuseram-se a compr-la, de modo que, alm dos reli-
j .',i osos, havia professores leigos, insc rito s na Igre ja , con trolados e legi ti -
mudos por ela, mas que no estavam mais presos aos votos eclesisticos
11 I)) circunscritos a atividades no interior dos mosteiros. Formou-se uma
cutcgoria nova de prof issiona is do ensino, os mestres-livres
(clerici vagan-
1 1 . 1 ) ,
que, seguindo a mesma prtica dos demais grupos de trabalhadores,
iam de cidade em cidade oferecendo seus servios intelectuais. Requi-
sitados pelos bispos, ou contratados temporariamente pelas prprias au-
toridades das comunas para ministrar as disciplinas das 7 artes liberais,
abriam escolas ou cursos de ler e escrever latim, e os saberes do trivium e
do quadrivium. Eram muito solicitados tambm para ensinar o direito
romano: como estavam formalizando suas cartas de privilgios para con-
testar e se defender das investidas dos senhores feudais, as cidades preci-
savam de conhecedores dos antigos cdigos do Imprio Romano, versan-
do sobre assuntos pblicos, e que tinham cado em desuso diante do
direito germnico ou brbaro que legislava do ponto de vista do privado,
isto , das famlias e dos cls. Correspondentemente a esses professores,
emergia a figura do novo aluno, homens - mas tambm mulheres - das
cidades que acorriam para ouvir e seguir os cursos [Figs. 12a e 12b].
Depois, porque os contatos com o Oriente, promovidos pelas Cru-
zadas (desde 1095) e pelo comrcio martimo, possibilitaram o reencon-
tro com uma antiga produo cultural pouco conhecida no Ocidente.
O
corpus integral dos textos aristotlicos foi todo recuperado - compare-se
com o que se conhecia at ento, de Aristteles: a traduo que 600 anos
antes Bocio fizera de parte da Lgica - , bem como as obras dos seus
comentadores rabes, traduzidas para o latim, e tambm a legislao jus-
tiniana e tratados de mdicos gregos e rabes. Consultando o mapa dos
centros de cultura do perodo
[Fig. 13],
v-se que as escolas monacais c
os scnptoria de produo de textos no desapareceram, mas o papel de
protagonistas da vida cultu ral cab ia s escolas ep iscopa is que, consti tuiu-
do o mundo urbano, podiam oferecer essas novas leituras. Os
monge-
haviam sacralizado o uso dos livros, pois, como nota Michel Rouchc em ,\
Alta Idade Mdia Ocidental, eram estimados e valorizado como 0111.1
raras e artsticas dignas de preservao, cuidados e
embelczumcuru,
IHII
[Dos P RI MR DI OS D O C RI ST IANI SM O AO F INAL D A I DA DE M ~1l1A [
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t
inluun
- fosse porque, tendo comprado sua
fio
li//({
t O(l'IIrI,
do~ hi~po~ c ubudcs,
vivessem dos pagamentos que recebiam dos estudantes, fosse porque
apresentassem alta mobilidade geogrfica, pa sando de uma cidade para
outra acompanhados dos alunos, indo lecionar onde tinham convite ou
um contrato sua espera, fosse porque ousadamente apresentassem no-
vas interpretaes baseadas nos autores recentemente recuperados, atra-
indo numerosos adeptos - foi testada tambm no enfrentamento com os
representantes dos poderes locais, do bispo, do abade, do senhor feudal e
at dos outros burgueses. As disputas que Abelardo travou ao mesmo
tempo com o bispo local e o monge Bernardo terminaram em condena-
o das suas propostas e seu banimento de Paris. Estar fora da cidade e
no poder ensinar a dialtica: Abelardo depositrio tambm da punio
exemplar de um professor e erudito do sculo XII.
No entanto, os mestres-livres se protegeram, organizando-se, no em
uma congregao ec lesisti ca , e sim, como faziam os demais t raba lhadores
da Baixa Idade Mdia, em uma corporao de ofcio (universitas), pois, como
disse Le Goff no seu Os intelectuais na Idade Mdia, eram profissionai s do
ofcio intelectual, artesos do esprito . A oficina deles era a escola, onde
ensinavam os quatro grandes ramos do saber: as 7 artes l ibe rai s, a medicina,
o direito e a teologia. Ganharam estabilidade medida que conquistaram -
em Oxford (1206), Valncia (1209), Paris (1212), Pdua (1228), Orlans
(1229), Angers (1229) e Montpellier (1230) - os mesmos direitos das outras
corporaes de ofc ios dessas c idades: liberdade de t rnsi to, div iso do t ra-
balho, dependncia mtua, horizontal, entre os membros (e no mais ver-
tical, como no mundo feudal) e personalidade jurdica perante os de fora,
isto , com privilgios de asilo, de no pagar taxas, de iseno do servio
militar, de conferir os seus graus e dar a prpria licena para ensinar. Por
volta de 1250, havia 101 corporaes de ofcios somente na cidade de Paris,
e 50 anos depois, cerca de 20 corporaes de ensino estavam reconhecidas
em toda a Europa ocidental.
por isso que Le Goff diz em sua obra que o
sculo XIII o sculo das universidades porque o das corporaes (p.
59). Clausse lembra bem, no entanto, que as universidades medievais no
se parecem, e preciso apontar que muitas delas tiveram sua origem em
corporaes de estudantes que tomaram a iniciativa de contratar os seus
mestres, como aconteceu em Bolonha (1158).
O que era esse ensino universitrio medieval? Como deixam entre-
ver nossas ilustraes, que reproduzem imagens da poca, um trabalho
coletivo muito intenso de professores e alunos, desdobrando o modelo
do ensino das escolas episcopais de dialtica em duas etapas cotidianas.
24
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
I
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11111111.1. 11111111'11.11
trrr ,
1III.IIIdo o Plllk 111 ILI ' l'Oll1lIIt.I\:1 o,
Il'
111. I' O.,11111111'1101lIp;llIh:l\:11111:-':\plil'al;ol:s p 'Ias SlI:lSl'opias
munuxcri
I I . 111I11. llIdoIIOt: lS(c01110hoje, nem LOdos,a julgar pela deliciosa rcprc-
1IIt.II,:IOde 11111:1ulu 1 1 < j~.
16 J
em um manuscrito do sculo XIV ).
I lI lk . duvu-sc
f/
displI/fI/io, a discusso dialtica sobre temas e perguntas
Ijlll'Sl:11lados pelos alu nos, e a
determinatio,
a sntese final formulada
pl' l o professor. Esse o mtodo escolstico, o procedimento de traba-
lho cs .olar da universidade medieval, repetido nas aulas das 7 artes, de
du c iro, medicina
[Fig. 17a]
e teologia
[Fig. 17b].
Em todas elas, a
pesquisa dialtica era o centro das atividades - as ilustraes apresenta-
das confirmam que o estudo estava apoiado nos textos - e Aristteles, o
IIHor que a embasava.
preciso notar, porm, que esta posio de fonte autorizada somen-
ic
foi estabelecida ao final de um longo perodo de debates, de maneira
que podemos dizer que a histria do aparecimento das escolas episcopais
I: das universidades medievais tambm a histria da aceitao de Arist-
teles como o autor (autoritas) daqueles quatro ramos do saber, no lugar de
Agostinho e os demais autores da Patrstica, que ainda eram as refernci-
as dos estudos nas escolas dos mosteiros. As figuras exemplares do profes-
sor universitrio da Baixa Idade Mdia, Toms de Aquino (1225-1274) e
Sigrio de Brabante (1235-1281?), so paradigmticas desse processo. Seus
textos, que registram por escrito as lies, mostram que eles seguiam o
padro de dividir a questo em ari:igos ou itens, cada qual compreenden-
do uma parte expositiva das doutrinas existentes sobre o tema, na forma
de solues j dadas por um autor e dos contra-argumentos apresentados
por outro, e de uma parte crtica, em que aparecem as solues que eles
prprios encontravam e afirmavam. Para desenvolver essa perfeita prti-
ca dialtica, ambos faziam uso de Aristteles e seus comentadores orien-
tais, que sugeriam a possibilidade de pensar pelo prazer de conhecer,
sem remeter a concluses teolgicas, e foram condenados pela Igreja.
Toms de Aquino procurou um ajustamento de suas teses quelas dos
seus predecessores e terminou o sculo como o novo porta-voz do pensa-
mento teolgico oficial da Igreja, mas Sigrio resistiu no uso radical do
procedimento dialti co e no foi reabi li tado.
No sculo XIV, os papas e as altas autoridades civis passaro a apoiar
tanto essa nova atividade intelectual da dialtica quanto a instituio es-
colar onde ela acontecia, fundando eles prprios outras dessas escolas ci-
tadinas: as universidades sero alvos da presso normalizadora do gover-
no local, da Igreja e do imperador. Todos reconhecem o poder desses
intelectuais e professores universitrios treinados nos novos saberes e
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AOF1NALDAIDADE MDIA]
25
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rcrn
illlegl;1 10\ ;10 l'lI '>l'1\ i\'o, 1';11;1(1).'.;1111/,11,
uhuinivu.u
l'
vulul.u
;I
v i du
110Shuruox, nos sellS I'il los 01111;1I'lopli;l Igll'lI, l 'OlllO os l'arollllgios
j haviam feito com seus Iuncionrios-mong 's em relao s insrituics
do mundo feudal. A autonomia, que era a marca da atividade das primei-
ras universidades foi, desde ento, substituda pelas atitudes de seguran-
a, dependncia e estabilidade: o que tinha aparecido como movimento
da sociedade, diz]. Verger em As universidades medievais, passa a ser tra-
tado como questo de pol ti ca educacional .
SABERES ESCOLARES NAS UNIVERSIDADES MEDIEVAIS
Fonte: ]. Le Goff, Os intelec tuai s na Idade Mdia,
Em Paris
Em Bolonha
7 ARTES LIBERAIS
Lgica e Dialtica Todo o Aristteles
Excertos de Aristteles
Retrica Ccero - De inventione
Rhetorica ad herenium
Astronomia
Geometria
Ptolomeu
Euclides
TEOLOGIA
Bblia
Pedro Lombardo - O livro das sentenas
Pedro, o Comestor - Historia escoldstica
MEDICINA
Ars medicinae (Hipcrates e Galeno)
Avicena - Canon
Rhazes - Almansor
Averris - Colliget ou Correctorum
DIREITO
Graciano - Decretum
Graciano -
Decretum
Gregr io IX - Decretalis
Clementinas
Extravagantes
Digestum vetus Digestum vetus
Infortiatum Infortiatum
Digestum novum Digestum novum
Volumenparvum (J ustianiano) Volumenparuum
Lberfeudorum
(leis lombardas)
26
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
S\.'l'lIloN 1 V \.' . V :
o HCIIIISl'illlcnto C USdcmundus da Inwgucsia
(h \l'l',i10S XI-XIV
foram de contnuos renascimentos , diz Duby
1 / 1 1 / truri, p. 13), ao apresentar o i mportante estudo que organizou
11 tll' ;I
h i s t r i a
da vida privada na Europa, do feudalismo at a Renascen-
\,1. ( :ol\l'ordamos com ele: sua avaliao serve tambm histria da edu-
1,1\,ln, pois, se as universidades vo se tornando conservadoras - j que,
IlIlllpktado o processo de sua institucionalizao, so controladas pela
l'ja ou pelos nascentes estados nacionais -, podemos reencontrar a ino-
v . r u o , mais uma vez, ao final do perodo, em outro conjunto de iniciati-
'.lS vindas da burguesia das cidades,
Para dimensionar este movimento de mudana, vamos retom-lo a
p.ut ir da anlise que Ph. Wolff faz em Outono da Idade Mdia ouprimavera
t i o , \ Tempos
Modernosi ' ,
imaginando duas figuras em contraponto - o Joo
que chora e o Joo que ri - para apresentar a cultura medieval e a nova
cultura burguesa das cidades coexistindo na Europa dos sculos XIV e
Xy 1 l
O Joo que chora simboliza o homem francs que vivia a dissolu-
,'o do mundo feudal, convulsionando-se em crises econmicas e sociais,
Sua vida mental decorria nos marcos da teologia escolstica, da cavalaria,
do ascetismo, da cortesia, mas tambm da fome, da morte, da guerra e
das doenas, enfim, da melancolia profunda, emblematicamente repre-
sentada na estaturia funerria das figuras veladas que sustentam o
esquife de Phelipe Pot
[Fig. 18].
O Joo que ri o burgus italiano,
tambm afetado pelos sofrimentos do terrvel sculo XIV - a Peste Ne-
gra, que entre 1348 e 1350 atingiu toda a Europa, matou metade da
populao entre a Crimia e a Esccia -, mas com uma mentalidade
irreversivelmente nova, isto , moderna, por causa das profundas trans-
formaes provocadas pelo renascimento das atividades artesanal e mer-
canti l nas suas c idades
[Fig. 19],
Wolff mostra que, nas comunas do centro-norte da Itlia, os burgue-
ses mercadores eram a categoria social mais espetacular, embora no pas-
sassem de 10% da populao. J estavam subdivididos em trs estratos: a
pequena burguesia, correspondente ao grupo que comercializava e pro-
duzia para a sua sobrevivncia; a alta burguesia, que exibia lima mentali-
dade verdadeiramente empresarial, pois, preocupando-se com o aumen-
to do seu capital, reinvestia o lucro do comrcio, local e internacional, nos
6
Wolff polemiza com a tese do fim da Idade Mdia nos sculos XLV e XV, const ruda por
J.
Huizinga em O
declnio da Idade Mdia
a par ti r da p roduo a rt s ti ca fr ances a do per odo .
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FINALDA IDADE MDIA]
27
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pr()prio:-,Il\:go\'los; l ' .1IlInlia, iII aleglld.l 111011lltne .1I1Ie do pOllto de
vista da
h i s t r i a
da
c d u c u o ,
porque CLIela que di~pl'' ';1\
li
o lucro '0111
prando terras, f inanciando obras de arte, fazendo obras de bcn
.mcrncia
(para aplacar sua m conscincia, diz G. Duby), e investindo em forma-
o e instruo.
Precisavam de instruo tanto quanto aqueles que orbitavam na esfe-
ra das escolas catedrais e das universidades, embora por razes diferentes.
De um lado, porque a nova organizao do comrcio - na qual a mercadoria
se separa do mercador - dependia da correspondncia comercial , que pre-
cisava ser conhecida e praticada. De outro, porque esses burgueses tinham
conscincia de si , de que viviam segundo um novo estilo de vida e precisa-
vam registr-lo, prtica que ir constituir os sculos
XIV
e
XV
justamente
como a poca das biografias e autobiografias : logo estaro util izando a
escrita para o registro, em dirios e memrias, de sentimentos ntimos,
familiares e pessoais, atividade que possibilitaria, segundo as conhecidas
teses de R. Chartier (As prticas da escrita), a caracterstica esfera de priva-
cidade que constituiu a vida burguesa dos tempos modernos. luz da idia
de Duby de relacionar formaes culturais e sociais , vale a pena lembrar
que foi na casa toscana desses sculos que comeou a aparecer a diviso dos
espaos segundo as suas diferentes funes: havia uma sala comum para a
convivncia familiar, mas os quartos de dormir foram separados, assim como
os cmodos reservados para os negcios tsaiptorioi e para os estudos e as
brincadeiras das crianas (studio), recortando lugares de intimidade e isola-
mento para onde o burgus podia se retirar para organizar as contas ou
encontrar-se consigo mesmo e fazer o inventrio de si . notvel perce-
ber que tambm nos mosteiros surgiram nesse perodo os quartos indivi-
duais - as celas - em contraposio ao quarto coletivo do perodo medieval.
Face complementar da privacidade e da introspeco, a sociabilida-
de burguesa era praticada nos negcios, no comando, nas amizades e na
vida familiar. Tendo estabelecido uma base material de vida confortvel
,
assegurada pelo lucro do comrcio, eles se dedicavam tanto ao trabalho
quanto ao cio: o objetivo era obter riquezas e usufru-las ao longo de
uma existncia - terrena - inteiramente ordenada e harmoniosa. Os Mon-
tefel tro, de Urbino, representaram exemplarmente esse estilo de vida, a
ponto de a histria da arte ter criado o conceito carter Urbino para
explic-lo, part indo da sua expresso visual, a casa que levantaram nessa
cidade. o que faz R. M. Letts, em O
Renascimento.
Esta autora avalia
que o edifcio mostrava luminosa serenidade e equilbrio realista nas pro-
pores das salas que se interl igavam, permitindo que - diferentemente
dos espaos fechados dos castelos medievais - a luz circulasse por todas as
28
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
dl pelldllllia .11.111110111.,
I'IOpllll,.11I'1;1111II- I\l'ist;IIIIIIl:11IIOI- ctl;l OS
.Im ,e 11\plOpli(t.1Im, liIcdcrico
ti .
r\IOlll , r ,Itro c Batista Sforza, pintudos
pOI I 'l l' ro d '11a Iil'tlllcesca (c. 1472), no sentido de que as figuras foram
Il'IlI-scntudus com equilbrio, sem embelezamento, mas tambm sem de-
1IlIIIHI
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I lI ilhOl S d IIlIplt 'SSOS, sendo Ilt S qll;IIle ekll 11111111111,O I ,.,I;rlll
em l ngua vu lgar.
O mais famoso edi tor-l ivr eiro do perodo roi Aldo I\ I;IIl lIl 't 'i o (14S2
1515). Em sua tipografia de Rialto, bairro de Veneza, ele foi o rcspons.i
vel pela criao de duas das marcas culturais do perodo: o
encirid ion,
isto
, o livro porttil (1501), suporte material da escrita que possibilitou
ti
leitura privada
[Fig,
22a], em contraste com os livros manuscritos do
perodo medieva l, aque les grandes in-folia ilustrados, que exigiam estan-
tes e mesas para serem apoiados durante a leitura [Figs, 22b e 22c1; e a
letra de imprensa de formas limpas e arredondadas, ao mesmo tempo
muito legvel e elegante, conhecida como itlico . Na Alemanha, no
entanto, os textos continuaram sendo impressos em gtico, chamada de
letra negra , pois, muito juntas e trabalhadas, as letras formavam uma
mancha escura nas pginas.
Como foi possvel ler e compreender os autores antigos, consideran-
do que o latim e o grego falado, escrito e ensinado nas escolas religiosas
estavam bem modificados em relao queles dos tempos clssicos? Um
caminho foi aberto com a disseminao das novas gramticas do sculo
XII, que, concebidas com enfoque filosfico, operavam como um verda-
deiro manual de sintaxe da lngua latina: a de Alexandre de Villedieu de
1199, teve cerca de 300 edies entre 1450 e 1500. Outro, pelos profe~so-
res de lngua grega que, vindos do Oriente por volta da tomada de Con-
sta~tinopla pelos turcos, em 1453, refugiaram-se nas cidades italianas que
faziam o grande comrcio martimo e se dedicaram ao ensino, lendo,
traduzindo e comentando as obras dos poetas, prosadores, filsofos e
moralistas antigos. A relao dos nomes mais conhecidos abrange Manuel
Chrysolras (1350-1413), o primei ro a ser chamado por Colucc io Saluta ti ,
chanceler da comuna de Florena que queria aprender o grego, e que
esteve ensinando nessa cidade entre 1396-1400, quando tambm escre-
veu uma gramtica grega que foi muito utilizada; Joo de Ravena (1343-
1405), professor de grego em Ravena e Pdua; Gemistos Plethon (1356-
1450), professor de filosofia platnica em Florena; Gasparino Barzizza
(1370-1431), professor de retrica grega e latina em Brgamo, Ravena,
Veneza, Pdua e Milo; Jorge de Trebizonda (1395-1484), um aluno de
Barzizza que se tornou professor em Veneza e Mntua; Aurispa, que trou-
xe muitos cdices do Oriente, professor de grego em Bolonha em 1424;
Theodorus Gaza (1400-1475), que ensinou em Ferrara e editou outra fa-
mosa gramtica da lngua grega ; Joo Argiropolos (1416-1486), professor
em Pdua, Roma e Florena, onde ensinou grego e traduziu Aristteles
para Lorenzo de Mdici; e Demtrio Chalcondyles (1424-1511), tradutor
3
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
I PU
111 1'101, .,SIII '1111'l lIlgi .l , 1 '; lelI I. I, I{Oll I , I \l iLlo e
111111111 11111,11' '' (,01:1ut rc 1471 L' 14
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)1,
1111
ql
I til 11111I1Cl\dos pclus necessidades
prugmticus
da vida
III ri, '1 I te, 1'111
In
dos p ,lo desejo de registrar os sentimentos
111 11', Cfll I 111 111IOllrOlIlWdos pelo olhar matematizado , ou ainda
11111, 1111111111IH1 .1 I' ig -nciu de re fle tir sobre o viver em comunas, os
11111111
I 11
t ll lll Ill Plodl l/, iram um conjunto de modelos e insti tuies
1
I
e llH1 \,10 1'11110que, pelas suas marcas caracterst icas, deram in cio
11111111.110t.1I mudcrnu no inter ior mesmo da cultura escolar medieval.
1'1Ie1111mdlll'l Cfll' tambm para a histria da educao dos sculos XIV
\ \.Ih- .1 luu-rprctao de Wolff: o perodo do outono da Idade
M-
tll,1I ' 11.11 1I1I \L'ra dos Tempos Modernos.
11111,1;l' 1
.ndncias
educativas configuradas nesses dois sculos
.1'1 1'1.1qlll' 1\1. A.
M
anacorda, em
H is t ria d a E du ca o: d a A n ti g id ad e a os
/111\111.\
ditll, chama de Minerva mais crassa , por lhe parecer diretamente
11 .liada
:1
cultura do lucro. Podemos reconhecer o saber produtivo do
1111'10anto na origem das esco las e lementa res de ler, esc rever o vernculo
I' contar, 011 de contabilidade e escrita comerciais - que na Itlia eram
rnnhccidus como escolas do baco -, e tratavam das necessidades dos
homens comuns de negcios no seu dia-a-dia; quanto na base das desco-
hortas tericas, cient fi cas e tcn icas a lcanadas por homens excepciona is
corno L.B. Alberti (1404-1476) e Leonardo da Vinci (1452-1519), na me-
dida em que estes produziram teorizaes que visavam resolver os pro-
blemas materiais que impediam o lucro.
A outra tendncia formativa ligada aos burgueses italianos veio das
elaboraes daque les inte lec tua is - fi lsofos, re ligiosos, li tera tos, morali s-
tas, professo res, sec ret rios papa is, funcionrios das
comune ,
editores, tra-
dutores ou simples leitores -, que reconheceram nos textos antigos no
apenas a via para a cultura crist, enquanto propeduticos da teologia e
da filosofia dialtica escolsticas, ou uma base para o xito mercantil,
como tambm o testemunho e a fonte de saberes humanos, que interes-
sassem a todos os aspectos da vida humana. Como sintetizou muito bem
Clausse, no seu texto j citado, a escolstica havia tido a ambio de fixar
o campo cultural de uma sociedade cuja economia rural, no entanto, j
apresentava largas brechas. Ela no funcionava mais como uma ideologia
para burgueses livres, que h muito tinham evoludo da organizao cor-
porativa de produo para o comrcio internacional e governavam de modo
oligrquico as cidades independentes. Da o desejo instituinte desse gru-
po de um outro quadro cultural, que, sem ser leigo, pusesse em relevo
todas as condies de sua ex istncia humana: sociai s, econmicas, pol ti cas,
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FINAL DAIDADE MDIA]
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'spirilll~li~, l lltil':I~, 1l:li/ ,ios:ls, l'oqHllai' l' 1I1011Ii~,; . (,allI, 110~l tl da s
si 'o I, 'lI//1r/lII'si//l() illtliflll(), sintct izu 1IltlilO
h
'111 'SS:I 11IL'III:didadl: humu-
nista, ao dizer que os textos antigos eram um paradigma para eles,
lima
vez que permitiam o contacto com homens que tinham vivido uma vida
completa no passado, mas tambm uma forma de educao, pois ensina-
vam a viver de modo completo na presente sociedade dos homens.
Na base desse movimento estava, de um lado, o descolamento, dessas
figuras, do intelectual dos sculos XII e XIII - aquele aventureiro do
esprito , como diz Duby -, sempre em movimento entre as escolas cate-
drais e as universidades. Pelo contrrio: pelos seus traos mentais de priva-
cidade e i solamento, esses humanistas vo se aprox imar dos pensadores dos
sculos VIII-XI, aceitando serem figurados como o novo monge, como ve-
mos nas pinturas de Antone llo da Messina (1430?-1479) e Sandro Bott icel li
(1444-1510), que representam autores da Patrstica (So Jernimo, Santo
Agostinho) como erud itos (humanistas) recolhidos (monges) em seus quar-
tos de trabalho (studio burgus) [Figs, 23a e 23b]. Evidentemente, essas
imagens no descreviam uma realidade, Eram composies que constru-
am para os seus coetneos o diferencial dos humanistas em relao aos dia-
lticos e escolsticos, pois o humanismo teve como seu lugar de produo
um espao muito ativo e coletivo de estudo e convivncia, inspirado no
modelo pla tn ico da escola acadmica. Academia Pla tnica era justamente
como os humanis tas de Florena, l iderados por Mars lio Ficino (1433-1499) ,
se autodesignavam, referindo-se s atividades que realizavam numa pro-
priedade dos Mdici na vizinha Careggi, onde se reuniam para ler e discu-
tir os textos antigos, principalmente o corpus pla tnico, do qual publica-
ram, em 1491, a traduo integral para o latim.
De outro, a crtica - nem sempre a negao - da produo escolstica
e dial ti ca . Ela comeou na li ter atu ra com Pet rarca (1304-1374) e Bocacc io
(1313-1375),7 que confrontaram a cultura medieval como confusa e into-
lerante, aps terem localizado e estudado textos de Ccero, Tcito, Ov-
dio e Ausnio, entre outros autores antigos. Depois, com aquele Coluccio
Saluttati (1330-1406), que trouxe os primeiros professores de grego para
Florena, e, inspirado na sentena de Cato v ir bonus e t dicend i peritu s
definiu o programa dos humanistas: serem homens bons e destros nas
palavras, aptos para o governo das suas cidades e dos seus negcios. Pier
Paolo Vergerio (1349-1420) foi o primeiro a delimitar-lhes os estudos no
7
No o caso de Dante (1265-1321), porque, embora recorresse aos topoi antigos na
literatura, seus temas e referncias eram medievais, e seu texto de poltica, Da monarchia,
foi construdo com raciocnios silogstico-escolsticos.
32
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
II lo l .'I110l 1I111'1 10 0 1 ,1 0 2. l s r III,L ,('I/III,Il I/ l1lm.\' , I lil,,'m/ilJ/l,\ ,/t lIk\(/ /lIIII/
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da
jllvt'lllllrlel, d izcndo q
II~ a
nlt ll, u,ao t inia s 'r aSSI IIl(Oda
famliu
c do Estado, nunca das escolas rcligi-
IS, LOue o conjunto das 7 artes liberais medievais, tradicionalmente en-
xmndo nas faculdades de artes das universidades, devia ser revisto em dois
SI'IIIidos: pondo nfase, dentre os saberes do trivium, na retrica, e no
III: ti s na gramt ica ou na d ialt ica , como era feito respect ivamen te nas esco-
I.I~monacais e episcopais, e sendo ampliado para incorporar a literatura, a
histria, a moral e toda a filosofia. Leonardo Bruni (1369-1449) traduziu
I
-xto
de Plato, Aristteles, Xenofonte, Demstenes e Plutarco, o que
lhe permitiu denunciar o uso ambguo que a escolstica fazia dos autores
antigos no seu De studiis et litteris liber [Os estudos liberais].8 Poggio Braccio-
lini (1380-1459) descobriu em 1415 o texto completo de Quintiliano sobre
:I formao do orador (lnstitutio oratoria) no mosteiro de Saint-GalI, e mais
outros de Ccero, Ausnio e Lucrcio, e adotou a filosofia epicurista. Lo-
rcnzo ValIa (1407-1457) recuperou o latim clssico em Elegantiae linguae
latinae, de 1444, e tambm estudou os epicuristas, concluindo pela impos-
sibi lidade de amalgamar Cri st ianismo e Ant ig idade - po is, quem quisesse
seguir os antigos com seu sensualismo teria de abandonar as doutrinas do
cristianismo - posio que lhe valeu ser expulso da sua ctedra de retrica
em Pavia, ainda que considerasse esse ltimo como a escolha para uma vida
superio r. Maffeo Vgio (1406-1458) defendeu a posio tradic iona l, procu-
rando reunir humanismo e cristianismo ao dizer em De educatione liberorum
e r c lans
moribus que as le tras humanas avivavam a caridade, a comunicao
e outros vnculos humanos. E Pico delIa Mirandola (1463-1494) enfeixou
todos esses discursos no seu De dignitatis uominis [Da dignidade humana],
proclamando o homem como copula mundi, posto por Deus no centro da
criao para da mais facilmente observar tudo o que est no mundo ,
pois era dotado de todos os grmens (sementes) que cada um cultivaria,
podendo ser (e ter) o que quisesse.
Em Educazione umanistica in Italia, outro de seus importantes textos
sobre o humanismo, Garin apresenta uma anlise bem detalhada das marcas
dessa produo cultural? ao dizer que os humanistas italianos dos scu-
los XIV e XV faziam o estudo dos autores antigos luz do princpio da
R Abbagnano e Visalberghi (Hist6ria da Pedagogia) informam que as obras de Vergerio e
Bruni foram escritas como propostas de planos de estudo, respectivamente, para Uberti-
no, filho de Francesco da Carrara, senhor de Pdua, e Isabella Malatesra, filha de Frede-
rico de Montefeltro, de Urbino. (11, p. 274, 272)
9 Essa obra traz textos de Salutati, Bruni, Maffeo Vegio, Vergrio e outros humanistas.
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PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FINALDA IDADE MDIA]
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vcr dndc ('OIl\ (11 '1111;1o t c n ipu , 1111~l i.I, jllOlIlI.llldo ICII.tll/.1 111,II.I~' .'
d if er en te s r ea li da de s h is t ri ca s.
I
) j
que
quixcsscru
Il ('IIPl'I,1I.Iqlllk Il'llIllIl
passado quc estava na origem
da prod u o
dos textos d.l~'l lm, IIl l'd i :l111'
estudos gramat ica is, filolgicos, hi stricos, geogr ficos c Filosficos, c, si
multaneamente, rejeitassem as concepes que no se baseavam neste
p rocedimento filolgico-h istrico, como era o caso das e laboraes
t col-
gicas construdas pela dialtica escolstica. Esse ponto ajuda ainda a
entender porque os humanistas refizeram o gnero biogrfico, dando des-
taque nas suas produes s qualidades humanas
(virtit)
das figu ras bio-
gra fadas, mostrando que as condies sociai s e econmicas eram dete rmi -
nantes nos eventos das suas vidas, tanto quanto as religiosas. Como uma
das expresses mais radicais dessa tendncia, Maquiavel (1469-1527) di-
zia que, nos acontecimentos histricos, metade era obra do acaso (Fortu-
na) e metade obra do querer humano, do trabalho do homem, deixando
de fora a ao divina (Graa) enfatizada nos textos medievais.
Alm das referncias literrias, tambm as pinturas da poca fixa-
ram esses traos mentais: veja-se a serena e confiante expresso do jovem
(diz-se que um auto-retrato) pintado por Antonello da Messina (c. 1475),
que ecoa o homem-centro do mundo dos humanistas [Fig. 24]. J o
emblemtico retrato de Frederico de Montefeltro e seu filho, realizado
por [uste de Gand em 1477 [Fig. 25], introduz a criana nesse mesmo
quadro sociocultural de privacidade, intimidade, vida familiar, estudo
isolado, leitura individual, e venerao do texto antigo. Os historiadores
da arte generalizam para o sculo XV o aparecimento dos retratos de
crianas ricas em cenas familiares, bem diferentes da criana sem origi-
nalidade , prpria das representaes pictricas do sculo XIII, mas ao
colocar assim lado a lado, na cena, pai e filho, o artista parece querer
aludir especialmente a um dos temas caros aos intelectuais humanistas -
a infncia como uma das idades do homem - e pode ser trazido tambm
para a histria da educao do perodo.
No entanto, para essa camada burguesa, no se trata ainda de educa-
o em instituies escolares. No seu
De/la vita civil e,
de 1435, no qual fez
uma ampla reflexo sobre o significado do viver burgus numa cidade li-
vre, Matteo Pa lmier i (1406-1475) dizia'? que os homens eram por natureza
aptos a aprender, requerendo apenas cuidados e ateno da famlia e de
mestres preceptores. A formao do homem livre, tal como ele a enten-
dia, no viria de nenhuma das escolas existentes: era assunto da famlia e
de mestres privados, como registrou o pintor D. Ghirlandaio [Fig. 26a].
10 Cf,
o texto em Garin,
Educazione umanistica in Iialia.
34
[O APARECIMENTO DAESCOLAMODERNA - UMA HISTRlAILUSTRADA]
1
11111
11I Id Idl', '1 .llIdll .IS1'11.111\ .pllTI\:1\ :1111Il- .rjud.t 11;11.1ol>IL
O
\
I I1 I CIIh' it .l Il ll
o
ll10, 11I.lIl
o
11l0011de uma uma
h em e sc olh id a.
l
Jc
lcll I flllIlO\. ~l 11I:I
a n e l a r
c a falar, seriam dadas algumas infor-
c 111.1
i
pois pc las pcq ucnas coisas aprenderiam as maiores,
11111 I IC'I Ili' plol:ls formas das frutas e outros alimentos oO mais im-
111111 1 lllolIl, era o
exemplo
da famlia, de quem os pequenos devi-
11111111111111\1e ver coi sas boas e honestas: Gh irlanda io tambm soube
I1I ,I Il'l'olllcntlaes em outra obra (c. 1490), o comovente retrato
111111\11IOIll seu neto [Fig,
26b],
onde registrou um momento de
11 ,I 111 i, idade e confiana nas funes educativas da famlia burgue-
1tl lll l,l lIi sw Quando est ivessem na idade razove l para isso, que po-
I11 \ 111.11m cada criana, uma formao ampla, com exerccios corpo-
I 1I111,il':t, geometria, gramtica, filosofia da natureza e tica, seria
1111111I,ld;1por mestres vi rtuosos, nem muito severos nem muito rgidos,
I
pllClessem lhe fornecer preceitos de bons costumes: o professor ,
1
u I I I .. () pai do nimo e dos costumes o E o procedimento? Seria o de
111.11muitas coisas ao mesmo tempo, para evitar o tdio das crianas
(;II:lrino de Verona e Vittorino de Feltre foram exemplos desses
111 IIl'S humanistas contratados para ensinar os estudos humansticos s
11111,S
da
burguesia italiana segundo os programas de Palmieri e Verge-
li fl \1 Il1)()s r eal izaram ao longo de suas vidas a tra je tria de mest res-livres
'1111 'L' estabilizaram, sendo contratados pelos governos municipais ou
I'
111'famlias burguesas. Nesse sentido, foram figuras exemplares - mas
Ir.uncnte no de exceo - do processo em curso de constituio de
11111.1
ducao
escolar de orientao humanista que, no entanto, eles
IIlc l inst itucional iza ram, pre ferindo a forma dos pensiona tos domsticos
((IIII/III/('l7tia)
que viram funcionando em Pdua, quando Gasparino Barzi-
/,1
.ihriu
em sua casa uma aula para instruir nobres venezianos, entre
IloH e 1421, depois removida para Milo, segundo conta Garin em
I
,.t lImzione in Europa,
1400/16000
Guarino (1370-1460) esteve no Oriente para aprender o grego, de
111111'voltou em 1408 com mais de 50 cdices antigos na bagagem: reu-
IIll1do manuscritos e estudando grego com Chrysolras e Joo de Ravena,
1'1111 traduzir e divulgar textos antigos, entre eles
Iscrares
e o
Sobre a
llIm(/70, de Plutarco. Deu aulas de retrica em vrias cidades, principal-
uuntc no norte da Itlia: Florena (1412), Veneza (1415), Verona (1422)
c I,' . rrara (1429-1436), para onde foi chamado pela famlia Este, e depois,
c
untratado
pela prpria comuna para ensinar em uma aula pblica aberta
,I .ilunos
de outras cidades. Reproduz indo o ensino domstico de Barz izza ,
1111ual o alojamento, a alimentao e o estudo eram feitos em comum, dos
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cursos
ti'
(,,,ulil1o pUltitipl '1111 :1lillllrliil
l
( 111m l'ol. lhol .ldoln, 11 tos
deles seus antigos alunos . Seu filho Ballisla (,uuril1o ujudou o :I rcdigir
manuais didticos de lnguas que foram adotados em vr ias cidades, pos-
sibil it ando preparar outros mest res humanistas.
Vit torino (1378-1446), nasc ido em Felt re, local idade perto de Veneza ,
foi aluno de Vergerio, Barzizza , Joo de Ravena e do prpr io Guarino , acom-
panhando a perambulao desses professores por diferentes cidades. Deu
aulas em Pdua e Veneza (1414-1418), sempre na forma de uma escola-
pensionato, e foi contratado para trabalhar em Mntua, onde entre 1422 e
1446 manteve uma escola em uma das propriedades dos Gonzaga: deu-lhe
o nome de Casa Giocosa (Casa Alegre ) pela pedagogia se rena e afetuosa que
nela praticava, como diz Manacorda. Dentre os alunos estavam Ludovico,
Carlo, Gianlucido, Margherita, Cecl ia e Alessandro, f ilhos de Gianfrances-
co Gonzaga e Paola Malatesta; Ludovico foi mais tarde retratado por Man-
tegna, com a mulher, Barbara de Brandeburgo, e outros familiares, nos
afrescos do Quarto dos Esposos do palcio, pintados entre 1465 e 1474
[Figs, 27].
Teve ainda muitos alunos bolsist as e chamou out ros professores
de grego, msica, desenho e canto para colaborarem com ele: para os cursos
de grego vieram Jorge de Trebizonda e Theodorus Gaza.
Como era o magistrio de Guarino e Vittorino? Eles ensinavam os
novos contedos que a cultura humanstica, segundo a formulao de Ver-
gerio, preconizava para formar integralmente as crianas - os estudos libe-
rais humansticos (studia humanitatis), compreendendo: latim, clculo, o
trivium
e o
quadrivium
(g ramt ica , dia l tica, retrica, a ritmt ica, geome-
tria, harmonia e astronomia), desenho, msica, filosofia, tica, formao
religiosa, exerccios fsicos, e formas mundanas de comportamento - sem
atrel-los teologia. Tambm os procedimentos de ensino de Guarino e
Vittorino foram inovadores. Em comum com as escolas medievais mona-
cais que permaneciam ativas poca, ainda utilizavam o antigo mtodo
do dilogo catequtico em perguntas e respostas e a decorao de senten-
as rimadas para ensinar as regras gramaticais, mas nos seus contubernia, o
ensino do latim e do grego era feito, sobretudo, pela interpretao, tra-
duo oral, exerccios de composio escrita sobre temas, e a repetio
constante, diria e mensal dos contedos aprendidos, sempre a partir dos
textos dos autores antigos inseridos nas respectivas temporalidades: era a
perspectiva filolgica e histrica da sua produo que eles perseguiam, e
no o debate dialtico dos sculos XII e XIII. Ainda mais: introd uziram a
prtica dos cadernos como auxiliares de estudo. Numa carta que escreveu
para o aluno Leonello dEste, em 1434, Guarino recomendou como de
muita utilidade que, toda vez que se pusesse a ler, tivesse
mo um
36
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
1 1 1
11111,
fiei
dt']HI ltillio da iIlIOI;I~ IIt..
(IL- k-iuuu,
de IlIodo iI l 'I II II ]IOI
111111 IH' ll l' lk 1.I t: t ogo das ] las ' iag ' IIS .scolhidus nos textos.
1',1111111,
lcx
fi zc r um , sob a inspirao de Quintiliano, a
estruturao
ti
((lIltl'I'l(los, lia dupla acepo de ordenar as artes, que nas escolas
1111ll'l.lis podiam ser estudadas ao mesmo tempo, e dedicar a cada uma
ti
Ils 11111
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I '\I()S l>ilSI\'()~d;11()llIliI\':IO Ol.lllltl:t: Ill.t~, ~()IIIl'III I(), jll1.1 .1.1'IH illIl,ullll.l
r
.prcscniuuo d ' lima
ut
ividud ' d .
I 'illll,l sikll('IOS,1 l' pl i\
.ulu,
I ali/.nda
em lima atmosfera de intimidade, serenidade c Iamiliaridndc com o tcx-
to antigo, que a metodologia praticada nos pensionatos domstico' podia
propiciar. Nesse sentido, a viso de Foppa de uma educao pouco esco-
lar pde ser prolongada por Ghirlandaio, que pintou, uma gerao de-
pois, aquelas cenas de educao domstica que apresentamos acima. Pa-
rece, pois, que M. Oebesse tem razo quando diz, em
A R en a sc en a,
que
essa atividade fazia renascer uma forma de vida estudiosa, sria e digna, e
no uma educao escolar. Se lembrarmos que entre tantos dos discpulos
de Vittorino esteve Frederico de Montefeltro, podemos fechar o crculo,
retomando o seu outro nome: o carcter Urbino .
SABERES HUMANSTICOS EM GUARINO e VITTORINO
Fonte: M. Debesse,
A Renascena
Primeiros Estudos: ler, escrever, contar
Donato - A13'
minar
Prisciano
Gramtica Metdica e Histrica
Alexandre de Villadei - Dottrinale
Balbi-
Catholicoll
E. Chrysloras -
Erotemata
Guarino -
Regulae
Ccero,Virglio,Demstenes, Homero,
Sneca, [uvenal, Terncio, Plauto,
Ovdio
Retrica
R h et or ic a a d h er et li um
Quintiliano
Ccero
Aritmtica
Geometria
Harmonia e Msica
Astronomia
Filosofia moral
Plato
Aristteles
Desenho
Cultura Fsica
Dana
Armas
38
[OAPARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
[Fig. 1]O
re tor
Eumnius , da Glia.
Ele tem na mo direita uma frula,
insgnia de suas funes, e na
esquerda, uma ces ta de mas, presente
de seus alunos. (Desenho de uma
esttua antiga de Clves. )
[Fig. 2] Cena escolar em Roma: o mestre, sentado entre dois alunos,
ouve expl icaes de um terceiro, que chega a trasado.
(Baixo-relevo, c . 150 DC. Museu de Trves.)
[Fig. 3] Monge lendo: recolhimento e solido.
(Mrmore, sculo IX. Montpellier.)
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[Fig. 4] Abade recebendo um
jovem nov io. (So Ben to e So
Mauro. Legendas dos santos .
Manuscrito francs, sculo XIII. )
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a4 l0 t e r a fot t m db e '14 f1V
f t ll l ll l\ t ll 9 IO IIUa~MJ ba toOtJJDKf
[Fig. 5] Lendo e escrevendo no
recolhimento do quarto. (Manuscri to,
sculo XII.)
[Fig, 6a] O traba lho i solado do monge esc riba
(O evangelis ta Lucas.
Evangelhos. Manuscrito Le s Praux .
Normandia , s culo XI. )
4
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
[Fig. c] O trabalho co letivo no
scriptorium. (Escola de
Segvia , s culo XVI. Museu Lazaro
Galdiano. Madrid.)
[Fig, 6b] Monge e seu instrumental
de trabalho.
(O evangelis ta Lucas. Evangelhos.
Cons tant inopla , s culo XII .)
[Fig. 7a] Carlos Magno e seu filho Pep ino
ditam um texto legal para um escriba.
(Manuscri to, sculo IX.)
[Dos
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f
J
1
~
~:,
[Fig. 7c] o monge escriba
regist ra na tabuinha o dit ado
do papa Gregrio.
(Miniatura do mos te iro de
Reichenau, sculo IX. )
[Fig.
7b] Lus , o P iedoso,
dit a a lei para um escriba .
( C av a d e i T i rr e ni . Itlia.)
42
[Fig. 7d]
O monge,
esc revente dos
nobres. (Codex
Sophilogiu1n , entre
os sculos XIV e
Xv,
Arquivo da
Torre do Tombo.
Lisboa.)
[O
APARECIMENTO DAESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
cruce
:.unq\Um
noud us umitus
r t .
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UOlunt:m,P
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ctpto corpore de r u m u L o furgms -fln-
CI D f CanoS acrem-ommum tapfucw:a-
uu; [ cc .
f u p a -
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uu::qut
ambulat ,
f u pO penms uenro-
ru m
~ndtt. tn
C flu m .
emtil;
bonor-
ec gtoru.
mfa:u a
fecuorum -aro6N.
[Fig.
8a] A escri ta carol ngia: redonda , abert a e minscula ,
que deu o atual r omano. (Manuscrito , incio do sculo XlI.)
[Fig. 8b] A escri ta gtica:
estreita, com ngulos
fechados. (Bblia Gigante
de Mainz.)
[Fig, 9 ] Jovens monge s aprendendo a escrever . (Saltrio, scu lo XII .)
[Dos PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AOF1NALDAIDADE MDIA]
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[Fig. lOa] Na esco la do
mostei ro : mes tre, a lunos e
livros. (Bblia, sculo XII.)
[Fig. lOb]
Monge ensina seus
irmos de ordem e alunos de fora:
o mestre l e cor rige a escrita, com
a ajuda do clamo e do raspador
de pergaminho (S/ i. )
[Fig. lOc] Hugo , pr ofessor em So
Vitor : mest re exempla r das escolas
monacai s. (Da sua obra
D e a r ca M o r a/ i. Manuscrito, sc
XIII.
Biblioteca Bodleliana.)
44
[O APARECIMENTO DAESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
1 1 iJ . 1 1 1 1 1 ) IIHI, l'1I0 til-
Sail1
( ; : 1 1 1 , IHI
SIIII,a.
[Fig.
Llb]
Planta baixa do
mosteiro , indicando o prd io da
escola externa , separado por
muros. (Sculo IX. )
[Fig. 12a] Escola epi scopal : mes tre- livre a tuando em Par is .
(Pintura medieval.)
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO F1NALDAIDADE MDIA]
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[ Fi go 1 2b ]
Escola de direi to . O professor C ino de P is to ia (1270-1335) ,
mes tre- livre que lec ionou em diversas c idades i ta li anas .
(Relevo da sua tumba no Duomo de Pistoia.)
[ Fig o 1 3] Os principais centros medievais
de cultura.
[F ig o 1 4] A venda de textos em pergaminho par a estudantes,
na loja de Vil loba , em Bolonha . (Manuscri to , s culo XIV.)
[O APARECIMENTO DAESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
II ilto I. II ',III~Il , , 1 , 1
dil ll lok I
('111
cnm OIIgll'I de
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I: da Nit'l' (,'(///(fll', na
quul aparecem i\ direi ta , fora da
muralha de Felipe Augusto, a
abadia de Sainr-Germain -des-
Prs
(em primeiro plano) e a
abadia de S a in t V ic to r (em
ltimo p lano ). (Desenho e
litogravura de Benoist .)
[F ig o 1 7a] Ensino universitrio
de medicina. (Manuscrito,
sculo XIV-XV.)
[F ig o 1 6]
Estudantes de uma
universidade medieval durante
uma aula. (Manuscrito,
sculo XIY.)
[Dos
PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FINAL DAIDADE MDIA)
47
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[Fig. 18]
A m elancolia das
e st t ua s f un er r ia s f ra nc es as .
(E sq uife d e P helipe Pot,
s cu lo X lV .)
[Fig. 17b] E nsin o un ive rsitrio de
te olo gia (S an to A go stin ho e ns in a
em sua c tedra. E sco la dos
S an sere nin os, sc ulo X V.)
[Fig. 19] Na cidade italian a: nobre s e n egoc ian tes ocupam o
p rim eiro p lano ; ao fundo, os traba lhadore s do cam po .
( Os E fe itos do Bom e do M au Govern o sobre a c idade e o
cam po , de A . Loren ze tti, c . 1337-40. P alc io P b lico d e Sien a.)
8
[OAPARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
I I i , . 1 1 1 ( ) ( . 1 l ,1 t 1 111111110 ;
( I' lf Il Il O (' t ;1 I 1 I1 01 I11 I 10
1'I1t11( '10
do
P lI hl ri o I
Jucul
(1' .11111. .11.10principal e g a bi n et e
de uuhalho). Realism o e
pruporo n o re tra to dos
1 '1 1 11 '1C :t dl io s ( l 3a tt is ta S fo rz a e
I'rctlcrico de Montefeltro , de
PIC. :ro
dclla
F ran cesca, c .
1472.)
[Dos PRIMRDIOS DO CRISTIANISMO AO F1NALDAIDADE MDIA]
49
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[Fig. 21b] Perspec tiva e
sentimento humano. ( Cr isto
Morto , de Man tegna , c. 1480.)
[Fig. 21a]
O
olhar renascente na pintura.
( A Santssima Tr indade, a Virgem , So Joo e
os doadores , de Masacc io , 1428. )
50
[Fig. 22a]
O enchiridion
renascentista: livros portteis
ou de mo . ( Santo Antonio
lendo , de A. Dr er, 1519 .)
[O APARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIA ILUSTRADA]
[Fig. 22b]
O
in-folia
medieval. ( Auto-retrato ,
de L. Lotto, c. 1530.)
[Fig. 22c] Uma biblioteca
renascenti st a com os in-flio.
[Fig. 23a] No studio, o intelectual
renascent ist a. ( So Jernimo no
seu gabinete de trabalho ,
d e A. da Messina, 1460 .)
[Dos PRlMRDIOS DO CRISTIANISMO AO FlNAL DA IDADE MDIA]
5 1
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[Fig. 23b] Recolhido
como os monges. ( Santo
Agost inho em sua cela ,
de Botticelli, c.1495.)
[Fig. 24] O homem-centro do
mundo: equilbr io e
autoconfiana. C'Auro-retrato ,
de A. da Messina, c. 1475.)
[Fig.
25] Frederico de Montefeltro,
burgus e humanista, com seu filho .
( Frederico de Mon te feltro e seu
filho , de [uste de Gand, c. 1477.
Palcio Ducal de Urbino.)
52
[OAPARECIMENTO DA ESCOLAMODERNA - UMA HISTRIAILUSTRADA]
L Fig. 26a] O humanista ngelo Poliziano, p recep tor dos
filho s de Lor enzo dei Mdici. ( Cenas da Vida de So Francisco ,
c . 1483-86, de D. Ghi rl anda io . Igreja Santa Trinit em Florena.)
[Fig, 26b] Valores familiares na educao
humanis ta . ( F rancesco Sasset ti e seu
neto , d e D. Gh ir landaio, c. 1490 .)
[Fig. 27] Ludovico Gonzaga, aluno de Vitto rino, retratado com a esposa
e famili ares. (Afresco do Quar to dos esposos , de Mantegna,
c . 1471-74. Pa lcio dos Gonzaga , em Mantua. )
[Dos PRIMRDIOS DO CRlSTIANISMO AO F1NALDAIDADE MDIA]
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[Fig. 28] A
infncia humanista; educao domstica,
harmon ia e intimidade com os texto s antigos. ( O
Menino lendo Ccero , de V. Foppa, c. 1462-64.)
54
[O APARECIMENTO DA ESCOLA MODERNA - UMA HISTRIA ILUSTRADA]
1'1 11 I.
I)
I I
A e sc ola s ec un d ria e ru dita
Sculo XVI: a criao do colgiode humanidades
Como vimos no captulo anterior, a tendncia humanista dos s-
culos XIV e XV no alcanou de imediato as insti tuies escolares. Quase
11msculo separa os mestres humanistas italianos dos meados do Quattro-
rrnto
e a florao das instituies escolares que nos fins do Cinquecento
tomavam os studia humanitatis como a base da sua cultura: concordamos
com M. Debesse, quando diz, no seu texto A Renascena, que, embora
integrada na unidade do grande movimento do perodo, a Renascena
pedaggica pelas suas caractersticas prprias - riqueza das publicaes
sobre doutrinas e mtodos pedaggicos e abundncia dos estabelecimen-
os de ensino -, tem sua poca central no sculo XVI ascendente.
Pensamos que essa condio pode ser explicada, primeiramente, por-
que, nas instituies escolares da cultura medieval, fossem as universida-
des, fossem as escolas dos mestres-livres, fossem as antigas escolas eclesi-
sticas, todos os ramos de estudo permaneciam ainda no final do sculo
XV atrelados teologia e rejeitavam os programas de humanistas como
Vergerio, Palmieri, Guarino e Vittorino, radicalmente antimedievais, ainda
que atravessados pelas sobrevivncias crists. Havia ainda os cientistas,
crticos ao mesmo tempo dos saberes eclesisticos e dos estudos humans-
ticos, como Da Vinci, que gostava de se proclamar um homem sem le-
tras . oposio erudita e insti tucional somou-se a condenao de apelo
moralista e popular , expressada por figuras da igreja como o dominicano
55
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SlIvollal'ola c o cardeal I)Olllillil i, quv, illlllll' lIln 1'111I,IIII( 'II~,I, 11glillldl'
centro irradiador do movimento humuuistu 110 '>I ldo , ' \, cslu
avcjuvnm,
como diz M, A. Manacorda em
H is r ri d a
-'dl/t(/Cf/(): dfl l1I/~l ,li'id(/(k
no s
nos sos d i as,
cont ra as insd ias diablicas escondidas nos versos dos poetas
pagos , Cabe bem a citao que este autor traz de um excerto do prela-
do: Assim crescem as crianas modernas - ensinando-lhes todos aqueles
ignominiosos males, a que levam o estudo de Ovdio Maior, das epstolas,
da
d e a rt e a m an d i,
e todos esses esc ritos carnai s e mere trizes
(p.
178),1
Apontar essas dificuldades nos ajuda a entender as foras impediti-
vas que agiram sobre os humanistas, levando-os a uma demora na consti-
tuio de um lugar prprio de atuao no meio escolar; e pode tambm
nos colocar na pista das suas prticas educativas, pois as resistncias indi-
cam, pelo avesso, as inovaes de que eles eram portadores, as quais fo-
ram alvo de contestao, Contudo, esse caminho no explica por que o
humanismo, ao ser escolarizado nos meados do sculo XVI, assumiu a
forma de colgios de estudos humansticos, um modelo de escola que, ao
se interpor entre as escolas elementares e as universidades, vai constituir
o ensino secundrio moderno, Em outras palavras, considerando que os
educadores humanistas do incio do sculo XVI educavam preferencial-
mente no privado, por meio de mestres particulares convivendo com
seus alunos em pensionatos domsticos - to bem simbolizados pelos
contubernia
de Guarino de Verona e Vittorino de Feltre -, algo deve ter
acontecido no plano das prprias instituies escolares, O exame dessa
questo d, ento, a partida deste captulo,
Podemos comear lembrando que o processo de nobilizao das ci-
dades-estado italianas - as
comune ,
que se transformaram em
s ig n o ri e -
foi
constante desde o final do sculo XIII, mesmo quando guardavam a for-
ma republicana de governo, como lemos em O, Waley
( La s c iu da d es -
r epbli ca i tal ianas ) ,
Todas as grandes famlias burguesas do sculo XV,
como os Visconti e os Sforza, de Milo, os Gonzaga, de Mntua, os Este,
de Ferrara, os Mdici, de Florena, os Malatesta, de Rimini, os Carrara,
de Pdua, e os Montefeltro, de Urbino, j haviam conquistado ou com-
prado seus ttulos de nobreza e formado a sua corte com palaciano es-
plendor , como diz R. M, Letts, em O
Renascimento,
Para o historiador
Peter Burke
(O corteso) ,
a corte era o lugar onde estava o senhor, o sobe-
rano, mas designava tambm o conjunto das pessoas que o cercavam, Ela
deve ser compreendida, portanto, como uma verdadeira instituio social,
1
Cf, outras passagens em E, Garin, L 'educazione in Europa, 1400/1600, aut or que acentua
e ss a per spect iva de opos i o ent re cult ura pag e c ris tianismo ,
56
[OAPARECIMENTO DA ESCOLA MODERNA - UMA HISTRIA ILUSTRADA]
I
11111IIII~'O' h.ISI 11111'di, l' jlil';ld;l\: l'la :1 LlIlIdia do prmripe ':10
11 1 IlIlI 11'11111()) seu iusu umcutn de governo , pois os cortesos agiam
1',11,11111111'111,11prl:slgio pessoal do soberano, cumprindo as tarefas do
I
1\ I~() puhlico pelas quais ele era responsvel; era a representao do
1' 11 1 poltico e cultural que ele encarnava; e como dava o exemplo de
'ld,1 ;1 ser seguido, a corte era tambm uma instituio educativa,
( :01110 escolas de comportamento , as cortes disseminaram seu es-
Ido dl' vida med iante a representao cotidiana que davam de si na ar-
'1
11 crura
das casas, nas obras de arte que patrocinavam, no trato mtuo
1111\10
rrico
e refinado e na visada cheia de proporo e medida de seus
11I11'). ,r antcs,representao que j nomeamos no cap tulo ante rior como
ranictcr Urbino . Com a multiplicao dos impressos, a forma de vida
I
1111s foi veiculada tambm pelos textos, como o
D e e du c at io n e ( 1 50 5) ,
dI' Antonio de Ferraris (1444-1517), dedicado ao humanista Crisostomo
( : olonna, mestre de um prncipe espanhol, e o
L ib ro d ei c o rt eg ia n o ( 1 52 8) ,
puhlicado em Veneza por Baldassare Castiglione (1478-1529) para a edu-
( .H , :LO das cidades do norte da Itlia, e inspirado justamente nos Monte-
11-11o, em cuja corte ele viveu, As sucessivas edies desse texto no de-
I
nrrcr do perodo, antes de 1600 - 16 em italiano, 6 em francs e uma em
Illgls - atestam que ele respondia a uma ampla demanda por guias escri-
los e codificados de comportamento para essa nova forma sociocultural
dI' vida, Por sua vez, o
Galateo,
de monsenhor Giovanni della Casa
(?),
rnmposto na dcada de 1550, foi referido como o livro que educou os
prncipes e poliu os costumes dos membros das cortes europias do final
do sculo XVI, pela definio dos saberes que o corteso devia possuir
para servir bem ao seu prncipe: escrever e falar o latim e o italiano,
praticar a pintura, a msica, a dana e a caa, exercitar o corpo na natao,
.-quirao, corridas, saltos, lutas e jogos, ser destro na arte da conversao
para entreter o soberano, ter boas maneiras e higiene, ser destro nas artes
da guerra, amar a beleza, a mulher, e cultivar a vida conjugal e familiar.
\' 'mos que Oella Casa, ao fazer essa ampla catalogao, abandonava os
estudos l ibe rai s com nfase no domnio da l inguagem dos primei rssimos
humanistas e dava protagonismo - recolhendo inspirao nas prticas edu-
rutivas de Guarino e
V itto rin o -
s formas mundanas de conduta, assina-
lando o deslocamento do modelo humanstico para o modelo corteso,
1 \ lodelando as prt icas definido ras do perfei to corteso, os textos prescr iti -
vo
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