7/24/2019 Artigo Computador e Vygotsky
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COMPUTADOR/INTERNETCOMOINSTRUMENTOSDE
APRENDIZAGEM:UMAREFLEXOAPARTIRDAABORDAGEM
PSICOLGICAHISTRICOCULTURAL
MariaTeresadeAssunoFreitas1
(PPGE/UFJF)
RESUMO
Discutocomoateoriahistricocultural,atravsdeseusconceitosbsicos,permitepensarocomputador /internet
como instrumentos de aprendizagem. Inicialmente situo a escola refletindo sobre suas dificuldades para a
incorporao do computador/internet pratica pedaggica. Apresento, em seguida, uma reflexo terica
compreendendo o papel mediador exercido por essa tecnologia que se constitui, ao mesmo tempo como
instrumentotecnolgicoesimblico.
PALAVRASCHAVE:escola;computador/internet;instrumentosdeaprendizagem
ABSTRACT
Ihavediscussedhowthehistoricalculturaltheory,throughitsbasicconcepts,allowstothinkthecomputer/internet
as learning tools. First, I place school reflecting about its difficulties from the computer/Internet incorporation
towardspedagogicalpractice.ThenIintroduceatheoreticalreflectioncomprehendingthemediatorroleperformed
bythistechnologythatconstitutesitself,atthesametime,astechnologicalandsymbolictool.
KEYWORDS:school;computer/internet;learningtools
1 AESCOLADIANTEDAINOVAODODIGITAL
Considero que o desenvolvimento do computador e a expanso da Internet tem e ter conseqncias muito
importantesparaaescola. Issosempensaressastecnologiascomopanaciadetodososproblemasescolares,mas
compreendendoascomoumanovaperspectivadeaprendizagem,umaoutravisodeacessos informaeses
formasdecomunicao. Aescola,segundoSalvat (2000),pelaprimeiravezemsuahistria,noest isolada,ela
1Coordenadora do Grupo de Pesquisa Linguagem, Interao e Conhecimento -LIC da FACED-UFJF Financiamento CNPq e FAPEMIG
mailto:[email protected]:[email protected]7/24/2019 Artigo Computador e Vygotsky
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podeestarconectadaaoutroscentros,aoutrasfontesde informaoqueestoalmdasparedesdasaladeaula,
dos livros, dos textos. E isto de fato conduz a uma alterao da vida escolar.No entanto, compreendo que as
inovaesnaescolasefazemdeumaformamuitolenta.Aculturaescolarpresaemseusritos,temdificuldadesdese
desinstalareacolheronovo.Eissoacontececommuitamaisforaemrelaoaocomputadoreinternet.Segundo
Lvyaescola
umainstituioquehcincomilanossebaseianofalar/ditardomestre,na
escritamanuscritadoalunoe,hquatrosculos,emumusomoderadoda
impresso(1999:p.89).
Assumir o computador/internet com o que eles disponibilizam e possibilitam uma tarefa difcil, pois supe o
abandonodeumhbitoantropolgicomaisquemilenar, oquenopodeserfeitoemalgunsanos.
O problema se acentua, uma vez que computadores e internet so introduzidos na escola como smbolo de
renovaoemodernidade,centrandoseainovaonatecnologiacomoelementoinovador.Issosuperficialemuito
pouco,pois,porsis,essatecnologianopoderealizaraesperadarevoluopedaggica. Sequiparasescolascom
laboratriosde informticaeacessointernetnogarantiadeumavanopedaggico.Tambmaintroduodo
usodocomputador/internet nopodesedarapenasporqueessaumademandadasociedadeatual.importante
compreenderqueestes instrumentos,consideradosporsimesmos,soapenasobjetos,coisas,mquinasequea
mediaohumana
em
seu
contexto
de
utilizao
que
os
transforma
como
meios
de
ensino
einstrumentos
de
aprendizagem.
Oscomputadoreschegamdevagarnaescolaeosprofessoresde incio,olhamparaelescomoestranhos,comum
certomedodaquiloquenoconhecembem,depoiscomcuriosidade,etimidamente,tentam incorporlosaoseu
fazer. Incorporaodifcil,quenodizerdeSalvat(2000),sedetmcampodovisvel.Paraessaautorassepodefalar
de integrao do computador e internet quando o seu uso se torna habitual nas aulas para as tarefas de
leitura/escrita,obtenode informaes, experimentaes, simulaes, comunicaes, etc.Umuso tonatural e
comumcomoodo livro,do lpis,doquadroedogizquejso invisveis.Portanto,a integraoacontecequando
essa
nova
tecnologia
deixa
de
ser
visvel
no
cotidiano
escolar
para
se
tornar
invisvel,
natural.
Averdadeira integraodocomputador/internetnarealidadedaescolasupeumanovaorganizaoescolarmais
descentrada,um currculomais flexvel,a instauraodenovos temposescolares,menos rgidos eprogramados,
mudanas no prprio espao da sala de aula. E isso no acontece de um dia para outro: requer tempo, ajudas
especficas,incentivos,todaumaestruturadeapoio.
Salvat (2000) diz que as inovaes tecnolgicas na escola obedecem a um certo ciclo: primeiro so criadas as
expectativas, em seguida surgem os textos, a produo da literatura especializada sobre o assunto, so depois
elaboradaspolticaseducativasparasuaintroduonasescolas eporfiminiciaseoseuusolimitado.
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Considero quenoBrasilj vencemos as trsprimeiras fases e estamos enfrentando aquarta.Temosumusodo
computadoredainternetaindabastantelimitadonaescola,masqueestseexpandindoindependentedela.Oque
temacontecidodefatoqueesteusoestsedesenvolvendomuitomaisforadosmurosescolarescomopesquisas
coordenadaspormimentre1999e2003,puderamevidenciar.2
Comoousodocomputador/internetpodepenetrarnaescolaeserapropriadopelosprofessores?
Nossaltimapesquisa(20032006)3compreendeuatravsdasprticasdiscursivasdosprofessoresparticipantesas
dificuldades para a insero na escola do computador/internet e sua conseqente apropriao por parte dos
docentes.Osatuaisprofessorespertencemaumageraode transionoquese refereaocomputador/internet.
Elespodemserconsideradosestrangeirosdigitaisdiantedeseusalunosnativosdigitais.Essadiferenadeculturas
precisaserenfrentadaparaqueodilogoentreelasacontea.Assim,osprofessoresdetodososnveiseducacionais
precisam seaproximardestanova culturaeaprender comosquedelaparticipam,conhecendoecompreendendo
maiso letramentodigitaldeseusalunoseconstruindocomelesnovas relaesdeaprendizagempermitidaspela
utilizaodocomputador/internet.
2 COMPUTADOR/INTERNET:INSTRUMENTOSCULTURAISDEAPRENDIZAGEM
Comocompreenderocomputadoreainternetcomoinstrumentosculturaisdeaprendizagem?
Procurando responder essa questo apresento uma reflexo a partir da perspectiva histricocultural
discutindoossentidosdos termos instrumento,cultura,eaprendizagemno interiordestateoriapsicolgica.
Apesardeseusautoresteremvividoemumtempoemque astecnologiasdocomputadoreda interneteram
ainda impensveis,asteoriasque construrampodemseconstituircomoumolhartericocriativosobreeste
novoobjeto.Aformahistrica,social,culturalcomopensaramohomem,permitehojeodilogo,apartirde
sua teoria,com estesnovosinstrumentosculturais.
Vygotskytem uma concepodoconhecimentoque avanaemrelaosteoriaspsicolgicassubjetivistase
objetivistas que apresentamse fragmentadas e ahistricas considerando o sujeito de forma abstrata e
descontextualizada. Dessa forma acentuam a natureza individual do homem em detrimento das circunstncias
sociaisqueoenvolvem. AinsatisfaocomosdoismodelospsicolgicosobjetivistasesubjetivistaslevouVygotsky
buscadeumasuperaonumaperspectivaque,baseandosenadialticamarxista,pudessecompreenderohomem
realeconcreto.Aoempreenderumacrticadapsicologiadeseu tempo,apresentounouma terceiraviaparase
2Pesquisa: A construo/produo da leitura/escrita na internet e na escola: Uma abordagem scio-cultural (CNPq/FAPEMIG). Ver
Freitas; Costa 2005.3
Pesquisa: Letramento digital e aprendizagem na era da internet: um desafio para a formao de professores (CNPq/FAPEMIG). VerFreitas, 2005a.
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compreenderaconstruodoconhecimento,masfoimaislonge,realizandodefatoumrompimentoaoarticularsua
propostapsicolgica inovadora.(Freitas:1994).Essaaperspectivahistricocultural,paraaqualoconhecimento
no adquiridomas construdonarelaocom ooutro.Umarelaodialticaentresujeitoeobjeto,isto,entre
osujeitoeomeiohistrico.uma questodebasesocial,deumarelaonoscomobjetos,masprincipalmente
umarelaoentrepessoas,entresujeitos.
Ocaminhodoobjetoatacrianaedestaatoobjetopassaatravsdeoutrapessoa.
Essa estruturahumana complexa oprodutodeumprocessodedesenvolvimento
profundamente enraizado nas ligaes entre histria individual e histria social
(Vygotsky,1991:p.33)
Paraoautora relaodo sujeito como conhecimentono ,portanto,uma relaodireta,masmediada. Essa
mediaoseprocessaviaumoutro,viainstrumentosesignos.
O conceito demediao central em sua teoria e paramelhor compreendelo preciso partir do que o autor
considera como instrumento.A noo de instrumento nopode ser consideradadesvinculadadaperspectiva do
desenvolvimentohumano visto comooentrelaamentodonatural,biolgico como cultural.Vygotsky (1995)ao
formularoprincpiogeraldesua teoriadizendoqueas funesmentaissuperioresespecificamentehumanastm
umaorigem
social
est
dizendo
que
na
histria
do
homem
h
um
duplo
nascimento:
obiolgico
eocultural.
A
inseronaculturapelainteraocomooutrovialinguagemquepossibilitaacrianasetornardeumsimplesser
biolgico em um ser cultural, humano.Nesse sentido, de acordo com Pino (2005), a humanizao do indivduo
confundesecomoprocessodeapropriaodessacultura.Apropriaoqueseprocessaporumexerccioativoda
criananarelaocomooutro.nessecontextotericoqueVygotsky incluianoode instrumentoconstrudaa
partirdaconcepode trabalhoemMarxeEngels.O trabalhoparaessesautoresaparececomoumprocessode
hominizao,poisatravsdeleohomemaodominaranaturezaassumeocontroledesuaevoluoquehistrica.
Notrabalhoohomemutilizainstrumentosparaefetuarmodificaesnoobjetoeaofazlomodificaseasimesmo.
Assimousodeinstrumentostambmumaformadehumanizao,pelaqualohomemtransformaocursodesua
existncia
de
natural
para
cultural.
Vygotskyconstriapartirdessaidiadeinstrumentomaterialumaanalogiaparachegaraoconceitodeinstrumento
psicolgicoousigno,procurandomostraremqueelessedistinguem.
Adiferenamaisessencialentresignoeinstrumento,eabasedadivergnciarealentreas
duas linhas, consiste nas diferentes maneiras com que eles orientam o comportamento
humano.Afunodoinstrumentoservircomoumcondutordainflunciahumanasobreo
objetodaatividade;eleorientadoexternamente;devenecessariamentelevaramudanas
nos objetos.Constitui ummeiopelo qual a atividade humana externa dirigidapara o
controleeodomniodanatureza.Osigno,poroutro lado,nomodificaemnadaoobjeto
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daoperaopsicolgica.Constituiummeiodaatividadeinternadirigidoparaocontroledo
prprio indivduo; o signo orientado internamente. Essas atividades so to diferentes
uma da outra, que a natureza dos meiospor elas utilizados nopode ser a mesma.(
Vygotsky,1991,p.62)
Estesconceitosdeinstrumentomaterialoutcnicoeinstrumentopsicolgicoousimblicopermitemcompreender
que amediao para Vygotsky (1991) pode ser exercida por ferramentas e signos.Daniels (2003), ao discutir a
questodosinstrumentosemVygotsky,citaumaargumentaodeKozulin,queencontraemVygotskytrsclasses
demediadores: ferramentasmateriais, ferramentas psicolgicas e outros seres humanos.Diante disso indago:
possvel afirmar que computador e internet so instrumentos culturais? Como essas mediaes acima referidas
podemocorrernousodocomputadoredaInternet?
Pensandoocomputadore internetcomoolhardaperspectivahistricoculturalprocuro inicialmentecompreender
comoapartirda idiadeculturaemVygotskypossochamlosdeculturais.Aquestodaculturaestpresenteno
tododaobradeVygotskymasnohumtextoespecficoaeladedicado.Nointeriordeseutrabalhosobreorigeme
natureza das funes mentais superiores h uma pequena referncia explicitando que: cultura o produto,ao
mesmo tempo,davidasocialedaatividade socialdohomem (1997:106).Partindodesseenunciado,Pino (2005)
realizaumainteressantediscussodizendoqueneleestpresenteaidiadequeaculturaumaproduohumanae
queessa
produo
tem
como
fontes
avida
social
eaatividade
social
do
homem.
Continua
sua
argumentao
dizendoqueesteconceitodeculturaenglobaumamultiplicidadedecoisasdiferentesquetmemcomumofatode
seremconstitudasdosdoiscomponentesquecaracterizamasprodueshumanas:amaterialidadeeasignificao.
Issopermiteentenderaexistnciadedoissubconjuntosdeprodueshumanasouobjetosculturais.Oprimeiro
resultadodaaofsicadohomemsobreanaturezaconferindolheumaformamaterialqueveiculaumasignificao.
Osegundo formadopelasproduesresultantesdaatividadementaldohomemsobreobjetossimblicos,como
usodemeiossimblicos(diferentestiposdelinguagem)cujaexteriorizao(comunicaocomosoutros)sefazpor
formasmateriaisdeexpresso.
Continuando
suas
reflexes
Pino
(2005)
afirma
Instrumentosesmbolosconstituemosdoismeiosdeproduodacultura. [...]Essesdois
meiosdenaturezatodiferentetmemcomumofato,japontadoporVygotsky,deserem
mediadores da ao humana sobre a natureza, no caso do instrumento, e sobre as
pessoas,nocasodosmbolo.[...]...ambos sojprodutodessamesmaaohumana.Ora,
oquedefineoprodutodaaohumanaqueelaaconcretizaoda idiaquedirigea
ao.[...]Todasasprodueshumanas,ouseja,aquelasquerenemascaractersticasque
lhe conferemo sentidodohumano, soprodues culturaise se caracterizampor serem
constitudaspordoiscomponentes:ummaterialeoutrosimblico,umdadopelanaturezae
outroagregadopelohomem.(p:9091)
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Assim,vejoqueacriaodocomputadoreapartirdeleda internetsooresultadodeumesforodohomemque
interferindona realidadeemquevive constriestesobjetos culturaisda contemporaneidade,que soaomesmo
tempouminstrumentomaterialeuminstrumentosimblico.
Partindo da idia de instrumento tcnico e simblico emVygotsky vejo que alm de um instrumento tcnico o
computadorpodetambmserconsideradouminstrumentosimblico.ParaDuran(2008)ocomputadorumobjeto
fsico,ohardware,maseletemtambmumadimensosimblica,poisseufuncionamentodependedosoftware,a
parte lgica que coordena suas operaes. Em textos anteriores (Freitas, 2005 e 2007/2008) comento que
compreendoocomputadorea internetcomo instrumentosde linguagem,de leituraeescrita.Como instrumento
informticoo computadorumoperador simblico,pois seuprprio funcionamentodependede smbolos.Seus
programassoconstrudosapartirdeumalinguagembinria.Paraacionlotemosqueseguirinstruesescritasna
tela, movimentando o mouse entre diferentescones ou usando o teclado (com letras e nmeros) para redigir
instruesecolocloemao.AnavegaopelaInternettodafeitaapartirdaleitura/escrita.lendo/escrevendo
queinteragimoscompessoasadistnciaatravsdeemail,oudebatepaposemcanaisdechatsouparticipamosde
comunidadescomonosOrkuts. lendo/escrevendoquenavegamosporsitesda Internetnumtrajetohipertextual
embuscadeinformaesouentretenimento.
Nessesentidopossvelcompreenderopapelmediadorexercidoporestesinstrumentosquesoaomesmotempo
tecnolgicosesimblicos.
3 AMEDIAOHUMANANOUSODOCOMPUTADOR/INTERNET
Astrsordensdemediaesocorremnousodocomputadoredainternet.amediaodaferramentamaterial:o
computadorenquantomquina;amediaosemiticaatravsdalinguagemeamediaocomosoutrosenquanto
interlocutores.Computador/internetintroduzemumaformadeinteraocomasinformaes,comoconhecimento
ecomasoutraspessoas,totalmentenova,diferentedaqueaconteceemoutrosmeioscomoamquinadeescrever,
o
retroprojetor.
No
uso
do
computador
e
da
internet
a
ao
do
sujeito
se
faz
de
forma
interativa
e
enquanto
l/escreve, novos fatores intelectuais so acionados: a memria (na organizao de bases de dados,
hiperdocumentos,organizaodearquivos);a imaginao (pelassimulaes);apercepo (apartirdas realidades
virtuais, telepresena).Outros tiposdecomunicaoafetamosusuriospor vrioscanais sensoriais, combinando
texto, imagem,cor,som,movimento.Tratasedeumanovamodalidadecomunicacionalabsolutamentediferente
possibilitadapelodigital:a interatividade.Comunicarno simplesmente transmitir,masdisponibilizarmltiplas
disposiesintervenodointerlocutor.(Silva,2003).Essacomunicaointerativaapresentasecomoumdesafio
para a escola que est centrada no paradigma da transmisso. Instaurase, com essa nova modalidade
comunicacional,umanova relaoprofessoralunocentradanodilogo,naaocompartilhada,naaprendizagem
colaborativa na qual o professor um mediador. Computador e Internet se mostram como adequados a uma
conceposocialdeaprendizagem,queserealizanainterao. Osprofessoresteroqueenfrentarohipertextocom
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suano linearidade,sua rededeconexes,sua leituraqueseconverteemescritura.Onovo leitornoummero
receptor,masinterfere,manipula,modifica,reinventa.Assim,oprofessornopodeserapenasumtransmissor,mas
devesetornarumprovocadordeinterrogaes,umcoordenadordeequipesdetrabalho.
A internet permite escola o desenvolvimento de diferentes atividades: a) busca gil de informaes (pesquisa
escolar,visitasamuseuseoutroslugares,visitasasitesinterativos,artesplsticas,msica,literatura,cursosvirtuais);
b) interaes com pessoas (fruns e listas de discusso, comunidades virtuais, chats emails); c)entretenimento
(jogos,simulaes).Essasatividadesampliamoespaodaaulapresencialepermitemaosalunosummaioracessos
informaesquetrabalhadasemconjuntocomcolegaseprofessorespodemsetransformarememconhecimento.
interessanteobservarqueoscontatosentreosparticipantesemfrunsou listasdediscussoouematividadesem
ambientesvirtuaisdeaprendizagemcomoomoodlese realizamvia leituraeescrita.Nessasprticasdiscursivas
possveluma interaoverbalviva,significativaquedesenvolveaargumentaoe levaconseqentementeauma
maior apropriao dos temas em estudo. A se realiza de forma bem concreta a perspectiva da aprendizagem
colaborativapropostaporVygotsky.
Refletindo sobre o trabalho desenvolvido em pesquisas anteriores com alunos em formao inicial ou com
professoresemsuaformaocontinuada,perceboanecessidadedeseencontrarestratgiasparaodesenvolvimento
dessa aprendizagem de perspectiva social e colaborativa na escola. A marca de uma educao tradicional ou
tecnicistaainda
muito
forte
nos
meios
educacionais.
A
exposio
didtica,
apesar
de
seus
aspectos
negativos
e
criticveis, ainda hoje predominante em todos os nveis de ensino levando o aluno a se defrontar com um
conhecimentoneutro,jpronto,querecebepassivamente.Derrubamsesobreosalunosinformaes,referentesaos
contedosdasdiferentesdisciplinas,quedevemsermemorizadasedepois reproduzidas.Esteprocessomecnico
excluia reflexopessoal sobreomaterialdeestudo,aspossibilidadesdecriaoeapropriaopessoal (Freitase
Santos,2006).Oquesevapenasumaidentificaoenoumasignificaoemrelaoaoquelhesapresentado
peloprofessor.Oque acontece,portanto, uma compreensopassivaquede acordo comBakhtin (1988) exclui
qualquerrespostapessoal.Paraesteautor,acompreensodeveserativacontendoemsiogermedeumaresposta.
A
cada
palavra
da
enunciao
que
estamos
em
processo
de
compreender,
fazemoscorresponderumasriedepalavrasnossas,formandoumarplica.
Quanto mais numerosas e substanciaisforem, maisprofunda e real a
nossacompreenso(Bakhtin,1988:p.132).
Senosedervozaoaluno,seelenotivercondieseespaoparadizer,impedeseseuprocessodecompreenso
ativa.Alis,estasupe,deacordocomBakhtin(1988),umainterlocuo,umainteraoverbalnaqualhsempreum
falanteeumouvintequesealternamequeseengajamemumprocessodiscursivodialgico.Nesseprocesso,que
permitea contrapalavra,aargumentao,que se tornapossvelumaaprendizagemque seorganizaemnovas
formasdepensarapartirdosobjetosdeestudo.EssaidiadeBakhtin,deumasituaocompartilhadaquefavorece
a aprendizagem defendida tambm por Vygotsky (1991a), quando afirma que o processo de construo do
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conhecimentoaconteceprimeironoplanointerpessoalparadepoisacontecernoplano intrapessoal.Paraelesh
aprendizagemquandoapessoainternalizaoquejfoiexperienciadoexternamente,apropriase,isto,tornaprprio
oquefoiconstrudocomumoutro.Nesseprocesso,segundoBakhtin(2003),aspalavrasalheiastornamsepalavras
minhas,perdemasaspas.Leontiev(1975),aosereferiraesteprocessodeinternalizaodoconhecimento,dizquea
apropriao a reproduo pelo indivduo das capacidades humanas formadas historicamente, atravs de sua
prpria atividade.Pormeio do processo de interiorizao, a realizao da atividade, que era coletiva e externa,
converteseem individual,eosmeiosde suaorganizao,em internos.Dessa forma,aatividade sejaexternaou
interna,temumabasematerialeumaconstruoscioindividual(Sforni,2004).
FazendomenoaoprocessoeducativonoqualessaapropriaodeveacontecerLeontievdiz:
As aquisies do desenvolvimento histrico das aptides humanas no so
simplesmente dadas aos homens nosfenmenos objetivos da cultura material e
espiritual que os encarnam, mas so a apenaspostas. Para se apropriar destes
resultados,parafazerdelesassuasaptides,osrgosdasua individualidade,a
criana, o ser humano, deve entrar em relao com os fenmenos do mundo
circundante atravs de outros homens, isto , numprocesso de comunicao com
eles.Assim,acrianaaprendeaatividadeadequada.Pelasuafunoesteprocesso,
portanto,um
processo
de
educao
(1975:
p.290).
ParaVygotsky(1991,2001),caberia linguagem,porsuaspropriedadesformaisediscursivasessepapelmediador
quepeemrelaoohomemesuahistria,acognioeseuexteriordiscursivo.Amediaosemiticapropostapor
Vygotskymostraque
no h possibilidades integrais de pensamento ou de contedos cognitivos fora da
linguagem nem possibilidades integrais de linguagem fora de processos interativos
humanos,contingenciadosscioculturalmente(Morato,1997:p.39).
Essa
posio
de
Vygotsky
enfatiza,
portanto,
a
relao
do
sujeito
com
o
conhecimento
como
uma
interao
entre
sujeitosviabilizadapela linguagem.Dessa formaoconhecimentoseconstrinas relaes interpessoais.oqueo
autordefendeissoaodizer:
Umprocesso interpessoaltransformadonumprocesso intrapessoal.Todasasfunesno
desenvolvimentoda crianaaparecemduas vezes:primeiro,nonvel social, edepois,no
nvel individual;primeiro entrepessoas (interpsicolgica) e,depois,no interiorda criana
(intrapsicolgica)(Vygotsky,1991:p.64).
Portanto,osujeitodoconhecimentoparaVygotskynoapenasativomasinterativo.Aconstruoindividualo
resultadodasinteraesentreindivduosmediadospelacultura.
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Compreendemos, pois, que para Vygotsky as prticas culturais so constitutivas do psiquismo. O ensino
formal se constituicomouma prtica cultural,portanto tem umpapel formadorem relaoao sujeito.Da,
considerarmos,com Sforni (2004),que aescola,nas sociedadesescolarizadas,aopossibilitaraohomemsua
inseronacoletividadecomocidado,podeser consideradacomoresponsvelpelaconstruodebasespara
odesenvolvimentopsquico.Mas,segundoVygotsky(1991,2001),no qualquerensinoquepossibilitaesse
desenvolvimentopsquico.Ele acreditaque essedesenvolvimentopodeocorrerpor meiodaaprendizagemdos
prprios contedos escolares, mediante a aquisio dos conceitos cientficos. A teoria da atividade de
Leontiev(1992)ampliaessaidiadapromoododesenvolvimentohumanoapartirdoconceitocientfico,ao
compreenderque ohomemseapropriadoconhecimentocomoser ativo,considerandooconceitocientfico
como condiodeprodutoda atividadehumana.ParaDavdov (1988), a aprendizagem escolar vai alm da
aquisio de contedos ou habilidades especficas, consistindo de forma essencial numa possibilidade de
desenvolvimentopsquico.noprocessoescolarque oalunotomacontatodemaneirasistematizadacom as
formasdeconscinciasocialpresentesnoconhecimentocientfico,artsticoemoral.
importantepensarque paraVygotsky(1991,2001)osconceitoscientficossseformam,apartirdapalavra,
da linguagem,na interao com ooutro.Esteautor vaindaque huma relaodialticaentreosconceitos
espontneoseosconceitoscientficos.Umconceitocientficospossveldeserconstrudocom baseemum
conceito espontneo. Por sua vez o conceito espontneo se expande e se enriquece namedida em que
alimentadopelo
cientfico.
isso
que
Vygotsky
chama
de
movimento
ascendente
edescendente
dos
conceitos.Essemovimentodialticono aconteceindividualmenteeinternamenteapenas,mas antesdetudo
ummovimentodooutroparaoeu/doeuparaooutro.ParaVygotsky,portanto,haprendizagemquandose
internalizaoque foi vivenciadona relaocom ooutro.A internalizaoaconteceapartirdas significaes
construdasnoprocessointerativosquaisosujeitoconfereumsentidopessoal.
A partir das proposies de Leontiev (1992), de que o sujeito se apropria da cultura como um ser ativo,
podemos compreender que seu desenvolvimento cognitivo pode ser desencadeado ao participar de uma
atividadecoletivaque lhe traznovasnecessidadeseexignciasdenovosmodosdeao.Assim,oensinoea
aprendizagem
significativos
podem
se
tornar
possveis
quando
a
escola
favorece
a
insero
do
aluno
nesse
tipodeatividade.
Toda a pedagogia derivada da psicologia histricocultural, na qual se insere tambm a teoria da atividade, se
centralizapois,naatividadedosindivduoseminteraoeoconhecimentovistodeformacompartilhada.Alunose
professoresparticipam deuma construopartilhadado saber.Assim,o conhecimentono se restringe auma
construoindividualmas,serealizandonocoletivo,umaconstruosocial.Nasaladeaulanodevehaverlugar
paraoensinareoaprenderdeformaisolada.Todanfasedevesercolocadanoensinar/aprendercomoumprocesso
nicodoqualparticipamigualmenteprofessoresealunos(Freitas,1998).
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Nasaladeaulaoprofessoraqueleque,detendomaisexperincia,podefuncionarintervindoemediandoarelao
do aluno com o conhecimento. Assim, ele est, em seu esforo pedaggico, procurando criar Zonas de
DesenvolvimentoProximal1,isto,atuandocomoelementodeajuda,deinterveno,trabalhandojuntocomoaluno
numaconstruocompartilhadadoconhecimento.Dessamaneira,odesenvolvimentoolhadoprospectivamente:o
queimportasoosprocessosque,emboraaindanoestejamconsolidados,existemembrionariamentenoindivduo.
O desenvolvimento real o conhecimento que j est construdo no sujeito, o desenvolvimento j
consolidado.Oalunochegaaonovoconhecimentopela intervenodeumoutro (professorou colegamais
experiente),que age em seu campodepossibilidades, construindojuntocom eleparaque depoisele possa
construirsozinho. Assim,naZonadeDesenvolvimentoProximaloprofessoratuadeformaexplcitainterferindono
desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanos que no ocorreriam espontaneamente. Isso
aprendizagemcolaborativa,compartilhada.No possvel,dessa forma,pensarnaaprendizagemcomoalgo
sinternoque seexternalizamas numarededialgicaque partedoexterno,seinternalizaeseexpressacomo
idiasproduzidasnoconfrontocom outrasidiasepessoas.
Vygotskycomessaperspectivadeaprendizagempromotoradodesenvolvimentoresgataaimportnciadaescolae
dopapeldoprofessorcomoagente indispensveldoprocessodeensinoaprendizagem.Oqueocorrenaescola:a
intervenodoprofessor e suaajudaatravsdeexplicaes,demonstraes,exemplos,orientaes, instrues,
fornecimentodepistas,problematizaode situaes,provocaodeargumentaes ede reflexescrticas, so
ingredientesimportantes
do
processo
de
ensino
que
podem
levar
oaluno
ao
desenvolvimento.
assim que,Vygotsky ao considerar a aprendizagem como um processo essencialmente social que ocorre na
interao com adultos e companheiros mais experientes destaca que as funes psicolgicas humanas so
construdasnaapropriaodehabilidadeseconhecimentossocialmentedisponveis.
Essas idias de Vygotsky so complementadas por Davdov (1988), que afirma que a tarefa da escola
contemporneano consisteemdar aos alunosumacmulodeinformaesmas emensinarlhesaorientarse
independentementena informaocientficaeemoutrostiposde informaes,construindoconhecimentos.
Para
o
autor
isso
significa
que
laescueladeveenseara los alumnosapensar,esdecir,desarrolaractivamenteen
ellos los fundamentos del pensamiento contemporneo, para lo cual es necesario
organizarumaenseanzaqueimpulseeldesarrollo(llammosiadesarrollante)(p.3)
ApoiadonopensamentodeDavdov,Libneo(2004)comenta,queascrianasejovensvoescolaparaaprender
culturaeinternalizarosmeioscognitivosdecompreenderomundoetransformlo.Paraisso,necessriopensar
estimularacapacidadederaciocnioejulgamento,melhoraracapacidadereflexiva.
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A leituradessesautoresmeprovocoualgumas indagaes.Comoaescolapodeajudarosalunosaseconstiturem
como sujeitos pensantes, capazes de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver problemas, para se
defrontaremcomdilemaseproblemasqueasociedadedainformaoecomunicaodehojelhescoloca?
Para adequarse s necessidades contemporneas que pedem novas formas de aprendizagem, especialmente
quelasrelacionadasaousodocomputador/internet,aformaoinicialecontinuadadeprofessoresprecisainstaurar
areflexosobreopapelmediadordoprofessornapreparaodosalunosparaopensar.
4 CONSIDERAESFINAIS
Estesconceitosdiscutidosat aqui,propostospelateoriahistricoculturaltem tudoaver com acompreenso
do computador/internet como instrumentos culturais de aprendizagem. Como j afirmamos neste texto
computador e internet so instrumentos tecnolgicos construdos pelo homem que no se constituem em
merasmquinas.No seequivalema recursoscomouma mquinadeescrever,um retroprojetorque podem
funcionarcomorecursosdidticosparaoprofessor.Elesvo muitoalmdisso.So defatomediadoresdeum
conhecimentoenquantoferramentamaterialmas,principalmentesomediadoresdoconhecimentoenquanto
um instrumento simblico, um instrumentode linguagemepermitemamediao com ooutro, com outras
pessoasde
forma
no
presencial.
Computador
einternet
abrem
novas
possibilidades
de
aprendizagem
por
permitirem o acesso a uma infinidade de informaes, pelas formas de pensamento que so por eles
potencializadas, pelas interaes possibilitadas e pela interatividade que proporcionam. Compreendo que
portanto,elespodempossibilitaraconstruocompartilhadadeconhecimento via interatividade,deque fala
ateoriahistricocultural;estimularnovasformasdepensamentonoenfrentamentocomahipertextualidade
neles presente pela interrelao de diversos gneros textuais expressados por diversas linguagens(sons,
imagensestticasedinmicas,textosemgeral);permitiraconstruodediversospercursosdeaprendizagem
atravsda atividade do sujeitoque interage com o outro e com o objeto do conhecimentomediadapela
plasticidadeinterativaprpriadas tecnologiasdigitaistrazidaspelocomputadoreinternet.
Seoque estmudandoa formacomoseaprende,osprofessoresprecisammudaraformadecomoseensina,
preocupandosecomaformaodesujeitospensantesecrticospara lidarpraticamentecomarealidade:resolver
problemas, enfrentar dilemas, tomar decises, formular estratgias de ao, transformar informaes em
conhecimentos.Oobjetivodoensinoensinaraosestudantesashabilidadesdeapreenderemporsimesmos,ou
seja,apensar.
Finalizando, retomo a idia de que computador/internet no so por si ss, garantias de uma inovao no
processo de aprendizagem escolar. Tudo depende da maneira como so usados, da mediao humana do
professor.estaque faz todaadiferenapor possibilitaraeficciadas duasoutrasmediaes:atcnicaea
simblica.Nesse sentido, importante considerar que o receio de que com a chegadado computador eda
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internetnaescolaoprofessor se tornadesnecessrio,no se sustenta.Ao contrrio,acentuase cada vezmaisa
importnciadesuapresena,desuamediaohumana.
Convido, pois, para que nos processos formativos de professores se instaure um espao de reflexo sobre essas
questes aqui discutidas que possa levar construo de uma posio responsvel e conseqente diante da
integraonaescoladessesinstrumentosculturaisdeaprendizagem.
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