A INFLUÊNCIA DAS RELAÇÕES AFETIVAS NO TRABALHOEM SALA DE AULA
Autora: Maria Marcia da SilvaOrientador: Prof. Ms. Flavio Rodrigo Furlanetto
Resumo
Este artigo apresenta como temática “Educando para a Humanização”. Enfoca sua análise nas relações afetivas que envolvem o espaço escolar. Para tanto, elenca como problema de pesquisa refletir sobre as variáveis afetivas que ocorrem no momento em que os professores desenvolvem sua atividade de ensino com os alunos. Apresenta como objetivo geral, investigar a teoria que fundamenta as variáveis afetivas, levando em conta que a influência das mesmas pode impedir que o ambiente escolar seja um ambiente transformador dos sujeitos que nele estão inseridos. Além disso, apresenta como objetivo específico, organizar uma proposta de intervenção em formação que possa melhorar o relacionamento afetivo no ambiente escolar. Opta por realizar um estudo qualitativo, discutindo com os autores os fundamentos que deram sustentação ao nosso objeto de intervenção. Conclui que no movimento de formação, é fundamental levar todos os sujeitos envolvidos a estarem em atividade no sentido de Leontiev (2004) para que atinjamos a melhoria das relações afetivas em nosso ambiente escolar. Conclui ainda, que só é possível colocar os sujeitos participantes em atividade a partir da organização de um experimento didático de intervenção que vise uma mediação de qualidade no processo de formação.
Palavras-chave: Teoria da atividade; Relações Afetivas; Ensino/aprendizagem.
ResumenEste artículo tiene como tema "Educar para la Humanización". Centra su análisis en las relaciones emocionales que implican la escuela. Para ello, el problema de la investigación, como las listas de reflexionar sobre las variables afectivas que se producen cuando los maestros a desarrollar su actividad docente con los estudiantes. Su objetivo es por lo general a investigar la teoría que subyace a las variables afectivas, teniendo en cuenta la influencia de estos puede evitar que el ambiente escolar es un transformador de medio ambiente de los temas que se incluyen en él. Por otra parte, se presenta como un objetivo específico para organizar una propuesta de intervención en el entrenamiento que puede mejorar la relación afectiva en el entorno escolar. Elige para llevar a cabo un estudio cualitativo, con los autores de discutir las bases que apoyaron el enfoque de nuestra intervención. Llega a la conclusión de que el movimiento de la formación, es esencial
para todos los involucrados a participar activamente en el fin de Leontiev (2004) para lograr la mejora de las relaciones emocionales de nuestro entorno escolar. Otra conclusión, que sólo es posible para poner a los sujetos que participan en la actividad de la organización de una intervención experimento de enseñanza dirigido a una formación de calidad del proceso de mediación.
Palabras clave: teoría de la actividad; las relaciones afectivas, enseñanza / aprendizaje.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como foco principal, a Educação para a
Humanização, que significa pensar e agir, fundamentando com criatividade em
princípios éticos e responsáveis, visando promover a afetividade nas relações
sociais.
Em nossa atualidade presenciamos e estamos inseridos em um
mundo em que se perdem ou deterioram os valores e princípios que formam o ser
humano, assim, este está deixando de ser sensível ao próximo, causando inúmeros
danos a si próprio e aos que o cercam, e, consequentemente à sociedade como um
todo.
A comunidade escolar está sendo alvo de realidades assombrosas,
neste contexto somos impelidos a buscar novos caminhos de modo a combater tais
situações que a cada dia tomam mais espaço na vida de nossos educandos e
educadores.
Neste sentido, a humanização da educação, da escola e da
sociedade deve ser ao mesmo tempo um processo ensino aprendizagem que prima
pelo resgate do respeito mútuo e a conquista de um projeto de mútua determinação
de educadores transformadores, promovendo assim um espaço de compreensão e
diálogo no ambiente escolar, tornando nossos discentes mais harmoniosos,
humanos e fraternos consigo mesmos e com o próximo.
1. Das razões que suscitam a temática afetividade.
A promoção do ensino e da aprendizagem caracteriza a atividade
docente no interior das instituições escolares, todavia, para que o ensino e a
aprendizagem ocorram com plenitude, acreditamos que as relações interpessoais
devem ser vistas e estudadas para que nossa intervenção como pedagoga possa
abranger a tríade; equipe pedagógica, professor e aluno.
Considerando que o principal objetivo do professor é ensinar
(MORETTI, 2007), os esforços de todos os que trabalham com a educação devem
estar voltados aos sujeitos que aprendem, ou seja, os alunos. Devemos ainda
considerar que os alunos encontrar-se-ão em atividade de ensino somente se
conseguirmos envolvê-los psicologicamente no movimento que a atividade
proporciona. (LEONTIEV, 2004).
Acreditamos ainda que a ocorrência deste envolvimento exija dos
profissionais da educação, além do “conhecimento pedagógico do conteúdo”
(SHULMAN, apud, GARCIA, 1995), a reflexão sobre as questões correlatas às rela-
ções interpessoais que se interpõem neste processo. Acreditamos ainda, que não
existem relações interpessoais harmônicas, caso não seja feita uma reflexão sobre
a afetividade e o espírito de coletividade que devem coexistir na relação professor
aluno. (VIGOTSKI, 2010).
O que temos observado nos noticiários midiáticos sobre as relações
interpessoais nas escolas, são realidades que nos assombram e nos impelem mais
e mais a buscar caminhos diante do que continuamente tem ocorrido: agressões a
professores, agressões entre os colegas de uma mesma turma, ocorrências
frequentes de Bullying na escola, agressões a funcionários. Tais fatos reforçam a
necessidade, de que nós, enquanto professora pedagoga da Rede Estadual do
Paraná, busquemos alternativas para que as relações escolares sejam mais
harmônicas.
Acreditamos que nosso trabalho pode contribuir com nossa
transformação enquanto professora do Ensino Básico, com os professores que
vivenciam realidades análogas, bem como, com todos aqueles que buscam
caminhos correlatos a temática por nós estudada. Por conseguinte, e diante das
razões pessoais, sociais e acadêmicas ora apresentadas, apresentaremos a
problematização deste artigo.
Na escola existem vários problemas vinculados aos aspectos
afetivos que interferem no processo de humanização dos sujeitos que dela
participam. Muitas vezes os problemas afetivos levam os alunos, dentre outras
coisas, há reprovar o ano letivo e a desistir do processo de ensino/aprendizagem.
Apesar de nós professores não sermos os únicos responsáveis
pelos impactos gerados pela falta de afetividade nos ambientes escolares, não
temos como nos esquivar de realizarmos uma reflexão sobre esta temática, pois
estamos inseridos neste universo de significação (LEONTIEV, 2004). Nesse sentido,
nós professores, dentre outros, exerceremos forte influência sobre nossa realidade,
pois como “mediadores” (VIGOTSKI, 2010) do processo de ensino, devemos
acreditar em nossa potencialidade transformadora de sentido pessoal do sujeito que
se encontra inserido no sistema escolar.
Deste modo, é necessário conhecer as variáveis afetivas que
ocorrem com maior frequência nos ambientes escolares. Para tanto, nosso problema
neste artigo é refletir teoricamente sobre as variáveis afetivas apontadas por
professores quando da necessidade de organizar a sua atividade de ensino. Esta
reflexão servirá de base à organização de um instrumento de intervenção correlato a
está temática no ambiente escolar.
Acreditamos que ao final do trabalho, o estudo das variáveis
afetivas nos proporcionará um maior conhecimento de nossos pares. Ou seja, após
análise das variáveis, pretendemos organizar um encaminhamento
didático/pedagógico que possa ser implementado a partir das necessidades que
foram percebidas ao investigar tais variáveis.
A implementação e intervenção proposta por este estudo ocorrerá
continuamente, mesmo após o termino deste programa de formação PDE, pois
parafraseando Leontiev (2004) somente estando em atividade, às intervenções
pedagógicas poderão proporcionar o envolvimento psicológico dos professores
participantes e provocar uma transformação pessoal e profissional destes sujeitos.
Diante de tais considerações elencamos como objetivo geral deste
artigo, investigar os fundamentos teóricos que possam fundamentar o estudo das
variáveis afetivas, levando em conta que as mesmas impedem que o ambiente
escolar seja um ambiente transformador dos sujeitos que nele estão inseridos.
E a partir das reflexões teóricas propostas pelo cumprimento do
objetivo geral, elencamos como objetivo específico deste momento de estudo,
organizar uma proposta de intervenção em formação que possa melhorar o
relacionamento afetivo no ambiente escolar.
2. Dialogando sobre as relações afetivas
Este artigo tem como foco a melhoria das relações afetivas no
ambiente escolar. E acreditamos que esta melhoria só é possível mediante a
reflexão que suscita a mudança dos sujeitos professores e alunos que participam do
sistema escolar.
Neste sentido, no transcorrer da elaboração desta proposta de
pesquisa, buscamos na literatura um tronco teórico que pudesse sustentar nosso
encaminhamento de estudo, haja vista a importância de um aparato teórico que
validasse nossas futuras ações de intervenção.
Como acreditamos que o processo de intervenção deveria ser prob-
lematizador e não estático optamos, por um aparato teórico, que viesse a contradi-
zer os padrões de formação instituídos pela racionalidade técnica (SHÖN, 1995), ou
seja, nos quais os professores seriam meros receptores de prescrições acerca das
atitudes que deveriam tomar frente aos confrontos afetivos que ocorrem em sala de
aula.
Pelo contrário, pretendemos utilizar a teoria não com o intuito de
exemplificá-la pelas práticas dos professores em sala de aula. Ao invés, acredita-
mos ser possível encontrar o equilíbrio, difícil, porém possível, entre o uso das infor-
mações teóricas e das que irão emergir dos questionários que utilizaremos na bus-
ca das variáveis afetivas. (EDWARDS, 1997). Por conseguinte, essa posição que
assumimos, nos permite a possibilidade de vir a entender e caracterizar os proble-
mas afetivos que o professor encontra em sua atividade de ensino com os alunos.
Todo conflito afetivo tem como base motivos que os geram, nesse
sentido, não há como investigar as causas afetivas que promovem a desarmonia e
interferem no ensino, sem antes conhecer os motivos que os desencadearam. Tais
motivos por sua vez é que nos conduzirão à necessidade de organizar uma
atividade de intervenção que promova o envolvimento psicológico dos sujeitos que
vivenciam a problemática que ora propomos estudar, ou seja, a afetividade.
Deste modo, por considerarmos que nosso estudo será um
experimento didático, o organizaremos, por opção, nos moldes da “Teoria da
Atividade” (LEONTIEV, 1983), pois acreditamos que esta teoria é a que melhor
sustenta nossa atividade de intervenção problematizadora.
Para Leontiev (2006) não há como separar o conteúdo de ensino, as
ações educativas e os sujeitos que vivenciam os impactos destas ações. Nesta
tríade, além de outros fatores, surgem as variáveis afetivas que interferem nos
processos de ensino.
Por conseguinte, acreditamos que o pedagogo, juntamente com os
professores deverá organizar o ensino articulando a teoria e a prática no cotidiano
escolar. Pois sabemos que a estes profissionais está incumbida a “responsabilidade
dos que fazem a escola o espaço de aprendizagem e a apropriação de cultura
humana elaborada, bem como promover os indivíduos para o desenvolvimento
pleno de suas potencialidades”. (MOURA, 2010).
Segundo Moura (2010) a escola pode ser considerada como um
lugar privilegiado para apropriação do conhecimento. Para o autor, é necessário
assumir uma postura pedagógica organizada e intencionada para se chegar à ação
desejada. Para que se concretize esta aprendizagem, é imprescindível a atuação do
professor como mediador, pois ao propor suas ações de ensino aos alunos deverá
utilizar instrumentos que os coloquem em atividade.
Para Vigotski (2010) “é na relação do sujeito com o meio físico e
social, motivada por instrumentos, que se processa o seu desenvolvimento
cognitivo, e ao transformar a natureza, o homem também se transforma”. (p. 115).
Neste artigo o que buscamos é refletir sobre o movimento de transformação do
sujeito diante de suas relações sociais e afetivas em seu campo de atuação
profissional.
Trabalhar a afetividade na escola hoje é importante e desafiador,
pois acreditamos a partir do que temos visto que vivemos em uma sociedade na
qual a falta de humanidade cresce a cada dia, principalmente no meio jovem. É
preciso entender as relações afetivas que ocorrem no coletivo escolar. Nossa
suposição é que a partir do momento em que todos os envolvidos passam a
respeitar o espaço do outro e a entender o papel de cada um naquele espaço, a
relação entre eles podem ser harmonizada.
Quando a escola consegue boas relações afetivas o envolvimento
psicológico do aluno melhora em relação às atividades de ensino e essa condição o
coloca em melhores condições de aprendizagem (LEONTIEV, 2006). O aluno passa
a ter prazer no ambiente escolar e deixa de considerar a escola uma atividade
obrigatória, pois seus motivos passam a coincidir com os objetivos da escola.
Segundo Andrade (1999) os alunos podem evoluir de modo muito
mais feliz se receberem afetividade de seus pais e educadores, em qualidade e
quantidades suficientes. Crianças criadas em ambientes afetivos são mais
receptivas com os colegas, mais tolerantes e atenciosas.
Neste sentido, o pedagogo consciente de sua função e
comprometido com a educação, poderá desenvolver um trabalho de forma a elevar a
afetividade humana, a tornar o trabalho escolar mais harmonioso, prazeroso e
satisfatório para todos.
Leontiev (2004) acrescenta que deve existir uma interdependência
entre o conteúdo de ensino, as ações educativas e os sujeitos que fazem parte da
atividade educativa. Ou seja, é de responsabilidade dos que fazem a escola um
espaço de aprendizagem e de apropriação da cultura humana elaborada, promover
nos indivíduos o desenvolvimento de suas potencialidades.
A escola é considerada como um lugar privilegiado para
proporcionar a apropriação do conhecimento. Não há como defendermos tal
afirmação sem que assumamos uma ação pedagógica organizada e intencionada
para que alcancemos o nível de atividade desejado. Cabe a escola despertar no
aluno, aptidões e valores que contribua para uma vida harmoniosa, de bom
relacionamento, de vivência e boa convivência cidadã atuando na sociedade. Nestes
termos, algo relevante do ponto de vista de Weil (1992) está a linguagem como:
a arma mais poderosa e mais eficiente que o homem possui. É com a palavra que nos comunicamos com o próximo. Uma palavra pode agradar, ferir, convencer, estimular, entristecer, instruir, enganar, louvar, criticar ou aborrecer as pessoas a quem for dirigida. (p.57).
É neste sentido que uma palavra afetiva pode fazer a diferença na
vida daqueles que fazem parte do ambiente escolar. No cotidiano escolar é comum
ouvirmos palavras que machucam e humilham os alunos, o que os leva muitas
vezes a desistir da escolaridade.
Do mesmo modo, muitas vezes os alunos é que ferem o professor
com suas palavras. Deste modo, uma das causas da desarmonia no ambiente
escolar é a palavra pronunciada e não refletida. Neste contexto, e como professora
pedagoga, é que pretendemos atuar. Ou seja, devemos colocá-los em atividade,
envolvê-los psicologicamente, promover por meio de nossas ações, o desejo que
todos os envolvidos no processo de escolarização estejam motivados a voltar
diariamente e vivenciar o ambiente escolar. (AQUINO, 1996).
Oliveira acrescenta que a relação do homem com o mundo não é
uma relação direta.
São os instrumentos técnicos e os sistemas de signos, construídos historicamente, assim como todos os elementos presentes no ambiente humano impregnados de significado cultural que fazem a mediação dos seres humanos entre si e deles com o mundo. A linguagem é um signo mediador por excelência, pois ela carrega em si os conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana que permitem a comunicação entre os indivíduos, o estabelecimento de significado comum aos diferentes membros de um grupo social, a percepção e a interpretação dos objetos, eventos e situações do mundo circundante. (Oliveira, 1993, p.38).
Acredito como pedagoga que ninguém oferece o que não tem e
ninguém aplica na prática o que não sabe. Nesse sentido é que se explica que
nossos alunos não são afetuosos na sala de aula porque não aprenderam ou se
desumanizaram no interior de suas vivências.
Cabe ao educador, mediado por instrumentos pedagógicos, aplicar
na sala medidas educativas que venham a contribuir para uma mudança de atitudes
dos alunos, ensinarem atitudes que eles desconhecem e que são necessários e
importantes para uma vida em sociedade mais saudável, mais harmoniosa e afetiva.
A afetividade precisa ser colocada em prática nas salas de aula.
Pois mesmo que nossas crianças e adolescentes vivenciem práticas afetivas em
suas relações cotidianas, na maioria das vezes não demonstram estes valores no
contexto escolar. (REGO, 2008).
Rego por influência do pensamento Vygotskyano considera o
homem um ser pensante, sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza.
Neste movimento, o autor busca estabelecer uma relação entre o intelecto e o afeto.
Ou seja, estas duas dimensões se unem e caso essa união não seja harmônica,
haverá consequências nos resultados das ações de ensino e aprendizagem.
(REGO, 1994).
A prática pedagógica poderá influenciar nas dimensões, intelectual e
afetiva, através das ações do professor. Como o professor se relaciona com os
alunos diariamente, acreditamos que sua forma de trabalhar os conteúdos poderá
fazer a diferença ao associá-lo com a afetividade envolvida no processo de ensino e
aprendizagem.
3. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
É importante enfatizar que a reflexão teórica realizada neste artigo
serviu como subsídio à elaboração de nossa intervenção. Deste modo, na
continuidade de nosso trabalho, foram desenvolvidas as estratégias de ação
elencadas a seguir.
Nossa intervenção foi implementada no Colégio Estadual Papa
Paulo VI - Ensino Fundamental e Médio, no município de Nova América da Colina
Estado do Paraná, com a pretensão de envolver os alunos e professores.
O estudo foi realizado em uma quinta série do período matutino.
Dentre as quintas séries da escola, foi escolhida aquela que observamos apresentar
maiores problemas de relacionamento na relação professor aluno.
O desenvolvimento do estudo contou previamente com a realização
de uma investigação sobre as variáveis afetivas que interferem na harmonia das
relações interpessoais em sala de aula. Para a realização desta investigação,
utilizamos um questionário com questões que nos remetem as principais variáveis
afetivas que estão dificultando as relações. O questionário foi aplicado com os
professores que ministravam aulas nesta turma, bem como, com alguns alunos (5).
Na análise do questionário, escolhemos cinco variáveis afetivas.
Como critério de escolha, selecionamos aquelas que apareceram com maior
frequência nas respostas dos alunos e professores.
A partir desta análise inicial, elencamos temáticas que discutiam o
que os professores haviam apontado como necessidade de estudo ao responderem
o questionário. Lembramos que ao elaborar o questionário e escolher as temáticas
de estudo, estivemos focados nas relações afetivas. Tais temáticas foram
desenvolvidas a partir de uma intervenção pedagógica organizada e relatada por
meio deste artigo acadêmico.
Neste artigo que finaliza nossa participação no PDE, tivemos a
intenção de demonstrar o modo como organizamos a “atividade orientadora de
ensino” (MOURA, 2001) de nossa intervenção, pois consideramos que só seria
possível uma educação humanizadora a partir de uma mudança de atitude por parte
daqueles que dela participam.
3.1 ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE ORIENTADORA DE ENSINO
A receptividade dos professores em relação a temática proposta pelo
nosso projeto de intervenção foi relevante. Mediante a própria justificativa dos
professores, isso se deve por conta da realidade que ora vivenciamos em nosso
contexto escolar. Para investigar as variáveis afetivas que interferem na harmonia
das relações interpessoais na sala de aula, foi aplicado um questionário aos
professores e cinco alunos de uma 5ª série. Por meio deste questionário é que
percebemos as variáveis afetivas que ocorrem com maior frequência e que
prejudicam as relações professor/aluno. Abaixo as questões que foram investigadas:
Questionamento aos Professores:
- Quais as dificuldades afetivas encontradas na sua relação com o aluno?
Questionamento aos alunos:
- O respeito, o sentimento e a harmonia faz parte da sua sala de aula? Explique.
A partir da análise das respostas apresentadas pelos participantes
ao responder o questionário, constatamos que dentre as cinco variáveis, a que mais
se destacou foi a questão da indisciplina. A partir desta análise, elencamos
temáticas para estudo com os professores, tendo como foco as relações afetivas.
Foi distribuído aos professores os seguintes textos:
“A afetividade como dimensão básica no processo de alfabetização escolar”,
(o texto escolhido esclarece a importância do papel da afetividade no processo do
desenvolvimento humano, do ensino aprendizagem, bem como no processo
educacional como um todo)
“A motivação como prevenção da indisciplina”; (este texto demonstra que a
motivação voltada para a educação pode incluir conceitos de incentivos novos no
aprendizado, com atividades organizadas pelos professores,utilizando estratégias
eficientes, provoca efeitos na motivação dos alunos e incentiva -os a eliminar as
emoções negativas diante do estudo e de sua vida, a qual contribui e muito para o
sucesso da humanização).
Cada professor estudou em seu tempo disponível, leu, refletiu, fez um
questionamento e sintetizou as partes que mais lhes chamaram a atenção nos
textos acima citados.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO ESTUDO DOS PROFESSORES
Implementamos o experimento didático de intervenção com sete
participantes, no entanto, analisamos a produção de quatro professores, pois foram
aqueles que demonstraram maior envolvimento na atividade que realizamos.
Utilizaremos para nominá-los professor 1, 2, 3 e 4
PROFESSOR 1
Texto: A afetividade como dimensão básica no processo de alfabetização
escolar.
A existência de Diretrizes comuns é suficiente para o trabalho educacional?
Nas palavras do professor 1:
é preciso criar condições concretas na estrutura e funcionamento da instituição, para que os docentes possam exercer de maneira contínua e coletiva a reflexão sobre sua prática pedagógica. Uma prática concreta desenvolvida na sala de aula sempre fornece elementos para a reflexão e a significação-teórica, a qual sugere novas alternativas para uma nova prática, cria-se assim uma relação dinâmica entre teoria e prática que funciona
como força matriz de todo o processo, ou seja, a troca de experiência, encaminhamento de sugestões para os desafios encontrados.
Em nossa analise e em complemento a fala do professor 1, acredita-
mos que a ocorrência deste envolvimento exige dos profissionais da educação,
além dos “conhecimentos pedagógicos do conteúdo” (SHULMAN, apud, GARCIA,
1995), a reflexão sobre as questões correlatas às relações interpessoais que se in-
terpõem neste processo. Não existem relações interpessoais harmônicas, caso não
seja feita uma reflexão sobre a afetividade e o espírito de coletividade que devem
coexistir na relação professor aluno. (VIGOTSKI, 2010).
Texto: A motivação como prevenção da indisciplina
Motivação - Comente:
Professor 1:
Noto que a indisciplina é ocasionada pela falta de motivação, pois o fato de se verem obrigados a estarem em uma sala de aula sendo que a TV, o computador, lhes chama mais atenção e às vezes não sabem bem o porquê de estarem em sala e às vezes consideram os conteúdos inúteis, não compreendendo bem para que servem, assim há o desestímulo que não lhes deixa ir adiante. E é um desejo para nós professores que nem sempre temos como preparar algo novo para se apresentar, ao mesmo tempo penso, que o aluno que quer ter objetivos futuros e que já traz uma boa formação de casa, já saiba como vencer essas aulas, com o objetivo de aprender para posteridade.
E ele continua:
Em uma citação de Skinner correlata ao texto que estudamos, o autor coloca que se reforçar o comportamento estaremos condicionando nossos alunos a permanecer em sala, mas até que ponto realmente será introduzido o saber se o condicionamento não for bem trabalhado. Então o professor deve mostrar autoridade com influência de conteúdo e domínio de sala, mostrando assim seus lugares, para que os alunos possam saber suas posições e a dedicação do professor. Saber colocar o que se propõem o hábito de fazer.
PROFESSOR 2
Texto: afetividade como dimensão básica no processo de alfabetização escolar.
O professor 2 inicia sua fala questionando: “As Diretrizes pedagógi-
cas que deverão orientar o processo de alfabetização devem ser assumidas isolada-
mente pelos professores ou ser fruto de decisões comuns, discutidas e decididas
pelo coletivo dos docentes?”
Considerando a preocupação do professor e levando em conta que
seu principal objetivo é ensinar (MORETTI, 2007), percebemos pela fala do
professor que na sua opinião os esforços de todos os que trabalham com a
educação devem estar voltados aos sujeitos que aprendem, ou seja, os alunos. Há
ainda que se considere que os alunos encontrar-se-ão em atividade de ensino
somente se conseguirmos envolvê-los psicologicamente no movimento que a
atividade proporciona. (LEONTIEV, 2004).
Texto: A motivação como prevenção da indisciplina
Qual a importância da “motivação” no processo ensino aprendizagem?
Utilizando a interpretação das palavras do professor para expressar
seu entendimento, concluímos que todos nós somos movidos por diversos
sentimentos e motivação. O professor complementa “que as palavras positivas é
que nos movem, e com nossos alunos não é diferente, um aluno que se sente
motivado na sala de aula com certeza terá seu rendimento escolar satisfatório”. O
professor 2 entende que se conseguirmos fazer com que o aluno sinta que pertence
a uma comunidade escolar acolhedora aumentará o seu sucesso em relação a
aprendizagem.
Tradicionalmente a sala de aula é identificada com o ritmo repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece inerte, olhando o quadro, ouvindo, copiando e prestando contas. Contemporaneamente, sabemos que esse não é mais o nosso papel, para aprender e adquirir novos conhecimentos com autonomia, os alunos precisam conviver com situação e com condições para enfrentar problemas e questões diversas, é preciso fazer uso de diferentes suportes e linguagens (textos, som, vídeos, computador, internet) para que esse aluno se sinta inserido no processo ensino aprendizagem.
As palavras do professor 2 coadunam com as colocações de
Valadares de que “A interação entre indivíduos e o intercâmbio de ideias promove o
desenvolvimento cognitivo do sujeito, pois os conhecimentos são socialmente
definidos e o sujeito depende da interação social para construção e validação dos
conceitos”. (VALADARES, apud VALASKI, 2003, p.23).
Ou seja, cabe à escola despertar no aluno, aptidões e valores que contribua
para uma vida harmoniosa, de bom relacionamento, de vivência e boa convivência
cidadã atuando na sociedade. Do ponto de vista de Weil, 1992:
a linguagem é a arma mais poderosa e mais eficiente que o homem possui. É com a palavra que nos comunicamos com o próximo. Uma palavra pode agradar, ferir, convencer, estimular, entristecer, instruir, enganar, louvar, criticar ou aborrecer as pessoas a quem for dirigida. (p.57)
PROFESSOR 3
Texto: afetividade como dimensão básica no processo de alfabetização esco-lar.
Como se constituem as relações afetivas entre sujeito e objetos?
Nas palavras do professor 3:
Em se tratando da relação professor/aluno essa relação afetiva se dá de maneira natural, pois é sabido que os fenômenos afetivos, revelam como cada acontecimento da nossa vida repercute no íntimo de cada sujeito. Mesmo sabendo que os fenômenos afetivos sejam de natureza subjetiva, não tem como tornar independentes da ação do meio sociocultural, de certa forma o “aprender” de nossos alunos está relacionado com a qualidade das interações que temos com os mesmos. Eu enquanto educadora levo em consideração essa afetividade com meus alunos, penso que é dever de todos nós educadores avaliar o contexto social e familiar do aluno e com isso trabalhar suas especificidades. Para concluir. Segundo WALLON (1968,1971,1978), a emoção é o primeiro e mais forte vinculo entre os indivíduos. É fundamental observar o gesto, a mímica, o olhar, a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional.
Por este motivo é que nós enquanto pesquisadores, percebemos
que os professores exercem forte influência sobre a realidade dos alunos, pois
como “mediadores” (VIGOTSKI, 2010) do processo de ensino, devem acreditar em
sua potencialidade transformadora de sentido pessoal dos sujeitos que se
encontram inseridos no sistema escolar.
Texto: A motivação como prevenção da indisciplina
Diante do texto o professor 3 apresenta a resposta abaixo:
O trabalho coletivo tem sido muito discutido nas últimas décadas. É um dos maiores desafios que se colocam hoje para a escola continua sendo a construção de formas de funcionamento participativo por parte dos educadores envolvidos de maneira afetiva com o trabalho educacional na instituição. Porque ainda hoje, não se consegue esta afetividade por parte dos educadores nas instituições? Acredito que muitos educadores não participam desta coletividade por tratar a educação como “bico”, migração de escola por escola, não tendo tempo para planejar seu trabalho e assim trabalhar isoladamente e sem comprometimento com a educação.
PROFESSOR 4 Texto: afetividade como dimensão básica no processo de alfabetização escolar.
Com base no texto: A afetividade como dimensão básica no proces-
so de alfabetização escolar: Explique de que forma a afetividade estabelece influên-
cia na aprendizagem significativa de nossos alunos.
Resposta do professor 4:
Na medida em que o professor exerce uma ação pedagógica mediada por dimensões cognitivas e afetivas, a produção do conhecimento passa a fazer parte desse processo, sendo que a falta desse vínculo afetivo acarreta histórias de fracasso e de baixa estima dos alunos. Desta forma o tipo de conteúdo curricular só ganha significado se extrapolar os limites da sala de aula e se a afetividade estiver presente na relação professor/aluno/conhecimento.
Texto: A motivação como prevenção da indisciplina
O aluno passivo e silencioso o tempo todo é garantia de aprendizagem?
Palavras do professor 4:
Ao estudar Neri, (1992), percebo nem sempre o aluno silencioso é sinônimo de aprendizagem, pois o aluno aprende quando participa ativamente de uma atividade, executando alguma tarefa, ouvindo as diferentes formas de percepção dos demais frente a um assunto, e tendo a oportunidade de argumentar suas ideias através de grupos de discussão ou debates. Essa participação ativa do aluno nas atividades escolares é expressão de energia e entusiasmo, fruto de uma aprendizagem significativa.
Após os estudos que realizamos em nossa intervenção com os
professores, nos reunimos para juntos analisar, discutir, refletir sobre a atividade de
intervenção que realizamos e seus impactos, sobre a importância da afetividade na
vida de todos, bem como a motivação como prevenção da indisciplina.
Os professores chegaram a seguinte conclusão:
O Afeto é indispensável para que professores e alunos consigam
realizar seus objetivos de ensinar e aprender com alegria e prazer.
Vamos iniciar um trabalho novo de afetividade em sala de aula a
partir de agora de forma diferente, visando uma melhora significativa no futuro de
nossas ações docentes.
Todos nós somos movidos por diversos sentimentos, e a motivação,
com palavras e ações positivas é que nos move, e com nossos alunos não é
diferente, o aluno que se sente motivado na sala de aula, com certeza terá seu
rendimento escolar satisfatório.
Para completar: A motivação é essencial para combater a
indisciplina na sala de aula.
É assim que vamos trabalhar de agora em diante.
Com as contribuições vindas dos colegas docentes no estudo,
debate e reflexão dos textos, houve um grande enriquecimento para conclusão do
artigo final.
Conclusão
Ao elaborar este artigo, enfocamos realizar uma reflexão sobre os
fundamentos teóricos que poderiam nos dar suporte à intervenção de um trabalho
prático na escola sobre a afetividade. Ou seja, um estudo, que fosse capaz de
conduzir a organização de uma atividade de formação que melhore as relações
afetivas no ambiente escolar.
Uma de nossas conclusões foi a de que só será possível melhorar
o convívio afetivo no ambiente escolar mediante uma reflexão e um estudo capaz de
suscitar uma mudança dos sujeitos participantes do movimento de intervenção, ou
seja, professores e alunos.
Além disso, constatamos que a prática pedagógica poderá
influenciar nas dimensões, intelectual e afetiva, através das ações que o professor
realiza. Como o professor se relaciona com os alunos, acreditamos que sua forma
de trabalhar os conteúdos poderá fazer a diferença ao associá-lo com a afetividade
envolvida no processo de ensino e aprendizagem.
Acreditamos que este estudo irá contribuir com a formação da
pesquisadora, como o ambiente contextual no qual está sendo realizado, bem como,
contribuirá com realidades análogas da Rede Estadual do Paraná, pois a
organização de um modelo de formação que enfoque a temática afetividade poderá
ser utilizado por todos que deste estudo quiserem se apropriar.
Concluímos que num movimento coletivo de discussão com os
participantes no momento em que realizarmos nosso projeto de intervenção,
alcançaremos a resposta a questão de investigação que ora propomos, qual seja,
estudar as relações afetivas, tendo em vista a melhoria das relações subjetivas no
ambiente escolar.
REFERÊNCIAS
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