UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA
MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES
A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE
(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM
MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE
SOCIOLINGUÍSTICA
NATAL/ RN
2018
MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES
A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE
(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM
MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE
SOCIOLINGUÍSTICA
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
parte dos requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Linguística.
Orientadora: Professora Drª Shirley de Sousa Pereira
NATAL/RN
2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA
Alves, Maraisa Damiana Soares. A alternância entre o pretérito perfecto simple (PPS) e o pretérito perfecto compuesto (PPC) em Monterrey e
Ciudad de México: uma análise sociolinguística / Maraisa Damiana Soares Alves. - 2018.
110f.: il.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem. Natal, RN, 2018.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Shirley de Sousa Pereira.
1. Sociolinguística. 2. Pretérito Perfecto Simple. 3. Pretérito Perfecto Compuesto. 4. PRESEEA. 5.
Monterrey (Nuevo León). 6. Ciudad de México (México). I. Pereira, Shirley de Sousa. II. Título.
RN/UF/BS-CCHLA CDU 81'27
Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748
MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES
A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE
(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM
MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE
SOCIOLINGUÍSTICA
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
parte dos requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Linguística.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Profa. Dra. Shirley de Sousa Pereira
Orientadora – UFRN/UFPE
______________________________________________
Profa. Dra. Tatiana Maranhão de Castedo
Examinadora externa – IFPB
______________________________________________
Prof. Dr. Carlos Felipe da Conceição Pinto
Examinador externo - UFBA
NATAL/RN
2018
Dedico este trabalho a Maria da Luz Soares da Silva
(minha mãe) que sempre esteve a meu lado, a Pedro
Santino Alves (meu pai, in memoriam) que me
ensinou que a educação era o bem mais precioso de
um ser humano, ao meu marido Amaury Sérgio da
Silva pela incansável companhia e apoio e a meus
filhos Gabriel, Gabrielly e Grazielly que enchem
minha vida de cor.
AGRADECIMENTOS
Começar a escrever numa página em branco causa desespero e muitas vezes o
sentimento de fracasso...parece que não vamos conseguir expor tudo o que lemos e tantas
reflexões que desenvolvemos durante o tempo de estudo. Muitos devaneios passam por
nossa mente, mas manter-nos perseverante contribui para que esses medos sejam
vencidos e as ideias possam fluir e assim sair do nosso imaginário e se materializar em
letras que possam decodificar o que se passa em nossas mentes.
Uso essas palavras para tentar expressar o que foram esses 24 meses de dedicação
ao mestrado e, com isso, agradecer às pessoas que foram extremamente significativas
nesse processo. Primeiramente, agradeço a Deus pela vida, por ter sido minha fortaleza e
por ter me encorajado quando eu pensei que não seria mais capaz.
A minha mãe, que tanto batalhou para me educar e fazer com que eu me tornasse
uma pessoa íntegra, que quase todos os dias me ligava para saber como estava o trabalho.
Obrigada, mãe, por cada semente de amor que a senhora plantou na minha vida, sem a
senhora nada disso teria sido possível.
Aos meus irmãos Maisa e Pedro Paulo, pelo afago nos momentos precisos.
Ao meu amado marido Amaury Sérgio da Silva, que sempre apoiou minhas
decisões e esteve a meu lado quando eu parecia não conseguir. Você foi fundamental
nesse processo, pois estava sempre me dando a mão e me ajudando a levantar quando eu
não conseguia me sustentar diante das dificuldades.
Aos filhos que a vida me deu: Gabriel, Gabrielly e Grazielly. Vocês sempre
alegraram meus dias mais difíceis, quando eu estava angustiada, chegavam com um
abraço, um sorriso ou até mesmo um “mamãe”, que fazia tudo isso valer muito a pena.
Ao IFRN, pelo afastamento durante parte do mestrado, que possibilitou o avanço
da minha pesquisa.
A la Universidad de Nuevo León por disponibilizar los datos del corpora
PRESEEA- Monterrey. ¡Muchas gracias!
Al Proyecto PRESEEA por desarrollar una investigación tan grandiosa que
posibilita generar distintos estudios en el mundo a partir de los datos disponibilizados
en su sitio.
À minha orientadora, que me guiou nessa tarefa de forma tão iluminada e
tranquila, com sua doçura, tudo isso pareceu ser mais fácil do que na verdade foi. Existem
pessoas no mundo que entram na nossa vida para nos mostrar que, com dedicação, mas
mantendo a leveza e o bom humor, tudo é possível, e você, professora Dra. Shirley de
Sousa Pereira, foi uma dessas pessoas. Muito obrigada!
Ao professor Dr. Carlos Felipe Pinto, por ser tão generoso e sempre disponibilizar-
se a me ajudar, seja com o envio de textos, seja com as reflexões que impulsionaram ainda
mais a escrita deste texto. Muito obrigada!
À professora Dra. Tatiana Maranhão de Castedo, por na graduação despertar em
mim o desejo de estudar a diversidade da língua espanhola. Tenha certeza que uma
sementinha foi plantada naquela época e este trabalho certamente é fruto de sua motivação
em inquietar os seus alunos a buscar outros horizontes. Muito obrigada!
À professora Dra. Ilane Ferreira Cavalcante, minha mãe acadêmica, por sempre
me estender a mão e me ensinar os caminhos pelos quais devo trilhar. Desde que entrou
na minha vida, me mostrou, com seu exemplo de dedicação, seriedade e
comprometimento a verdadeira missão acadêmica: fazer a diferença! Ahh, mas sem
esquecer de dar a vida pitadas de bom humor que fazem os dias ganharem uma doçura
necessária para não enlouquecermos. Muito obrigada por tantos ensinamentos!
Ao professor, amigo e cunhado Allan Robert da Silva, por me ajudar na
quantificação dos dados e na elaboração das tabelas e gráficos. Muito obrigada pelo
tempo desprendido, sua contribuição foi de extrema importância neste texto.
A um anjo, o professor Felipe Morais de Melo, que eu conheci no meio desse
processo, mas que me ajudou tanto, sem nunca sequer ter me visto. Sua busca incansável
por textos do México colaborou demais com minha pesquisa. Muito obrigada!
Aos amigos resilientes, o que dizer deles, Juzelly e Júlio. Nossas terapias em grupo
sempre me deram muita motivação e entusiasmo para enfrentar o mundo inexplicável da
investigação. A força da nossa amizade contribuiu para que, a partir dos erros cometidos,
eu percebesse que não era preciso vê-los como momentos de fraqueza apenas, mas que
serviam de exemplo e combustível para motivar os meus próximos passos.
Aos filhos - amigos que a academia me presenteou: Patrícia Farias, Juliana
Fernandes e Carlos Rilke. Obrigada pela preocupação e por emanar tanta energia positiva
sempre na minha vida, vocês deram leveza a esse árduo processo.
Aos tantos amigos que sempre se preocuparam com o andamento do meu trabalho
e mandavam energias positivas, mensagens de motivação ou que ofereciam ajuda de
alguma forma. Não vou conseguir citar todos, mas agradeço o estímulo que me deram:
Carla Falcão, Monick Munay, Tacicleide, Lenina, Wigna, Bruno Rafael, Girlene,
Neylane, Verônica, Jussara, entre tantos outros que são exemplos para mim.
Aos amigos interestaduais Liliane, Susana, Rodrigo e Josinaldo. Vocês adoçam
minha vida nos momentos mais amargos e difíceis, o laço que nos une transpõe a barreira
geográfica.
À Alessandra Santa Rosa, obrigada pela revisão do texto, você entrou na minha
vida há tão pouco tempo e já se faz tão presente que nem tenho como explicar.
Às queridas Suyanne e Ana Mércia, companheiras de mestrado, entramos juntas
neste barco e graças a Deus vamos finalizar juntas. Foi muito bom compartilhar com
vocês as dificuldades e os medos que iam surgindo, assim nos fortalecemos a cada dia e
agora podemos dizer, enfim, CONSEGUIMOS.
A todos vocês, MUITO OBRIGADA!
La escala de proximidad o lejanía es mucho más
segura en nuestras representaciones del pasado que
en las del porvenir. Los recuerdos se suceden en
nuestra memoria con escalonamiento preciso, en
tanto que las acciones venideras son siempre más o
menos borrosas e inciertas (GILI GAYA, 1980)
RESUMO
As múltiplas formas de dizer a mesma coisa estão presentes nas diferentes línguas e é
uma atribuição da Sociolinguística conceber essa característica inerente ao sistema
linguístico. Tomando em consideração essa realidade, os estudos da Variação e da
Mudança Linguística refletem a heterogeneidade da língua que subjaz os fatores
condicionantes sociais percebidos nas diferentes variedades de uma língua
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). Neste estudo, interessa-nos investigar
essas diversas formas de falar que, a partir de suas delimitações próprias, moldam as
comunidades linguísticas estabelecendo suas normas. Com base nesses preceitos, esta
pesquisa, de natureza quantitativa e qualitativa, tem como objetivo geral descrever e
analisar a variável dependente forma pretérita perfeita do espanhol, através das variantes
pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de
identificar a alternância entre essas formas em dois dialetos do México, na cidade de
Monterrey e na Ciudad de México. Para tanto, foram selecionadas 36 entrevistas
sociolinguísticas, sendo 18 de cada cidade, a partir do corpus linguístico PRESEEA –
Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América. Para a
análise, partimos da conceptualização das formas pretéritas, assim como da possível
diferenciação tempo-aspectual que possa existir entre o PPC e PPS, conforme apontam
Cartagena (1999), Lope Blanch (1992), Moreno de Alba (2002). Em seguida, foram
considerados os fatores condicionantes tanto linguísticos quanto extralinguísticos. Como
fatores linguísticos, tivemos: a) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam
anterioridade ao ponto zero da enunciação; b) a presença e/ou ausência de advérbios que
indicam simultaneidade ao momento da enunciação. Os condicionantes extralinguísticos
constituem: c) idade; d) escolaridade; e) localidade e f) sexo. Os resultados obtidos na
análise das 3644 ocorrências das formas pretéritas (em que 3174 foram eventos marcados
com o PPS, enquanto 470 com o PPC) apontaram para uma predominância do PPS,
inclusive com a presença do ADVs que estabelece vínculo atual do falante ao momento
enunciativo, revelando uma variação da forma ADVs+ PPC substituída pela forma ADVs
+ PPS; assim, a temporalidade relacionada ao ponto zero da enunciação, que deveria
remeter à forma prototípica PPC, foi expressa pelo emprego do PPS, demonstrando como
a variação está em evidência nas entrevistas examinadas. Ademais, os dados apontaram
para a necessidade de um futuro estudo classificativo das formas sob a ótica léxico-
semântica, com o propósito de definir se a variação que ocorre no México é ocasionada
pela temporalidade estabelecida nos contextos enunciativos ou pela aspectualidade verbal
expressa pelos eventos.
Palavras- chave: Sociolinguística; pretérito perfecto simple; pretérito perfecto
compuesto; PRESEEA; Monterrey; Ciudad de México;
ABSTRACT
THE ALTERNATION BETWEEN THE SIMPLE PAST PERFECT (SPP) AND THE
COMPOUND PAST PERFECT (CPP) IN MONTERREY AND CIUDAD DE
MÉXICO: A SOCIOLINGUISTIC ANALYSIS.
The multiple ways of saying the same thing are present in the different languages and it
is an attribution of Sociolinguistics to conceive this inherent characteristic of the linguistic
system. Taking into account this reality, the studies of Variation and Linguistic Change
reflect the heterogeneity of the language that underlies the social conditioning factors
perceived in the different varieties of a language (WEINREICH; LABOV; HERZOG,
2006 [1968]). In this study, we are interested in investigating these diverse forms of
speech that, from their own delimitations, shape the linguistic communities establishing
their norms. Based on these precepts, this research, of quantitative and qualitative nature,
has as general objective to describe and analyze the dependent variable past perfect form
of the Spanish, through the compound past perfect variants (CPP) and the simple past
perfect (SPP) in order to identify the alternation between these forms in two dialects of
Mexico, in Monterrey City and in Ciudad de México. For this reason, 36 sociolinguistic
interviews were selected, 18 of each city being based on the linguistic corpus PRESEEA
– Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América. In order
to reach this goal, we started from the conceptualization of the past forms, as well as the
possible time-aspectual differentiation that may exist between the CPP and SPP, as
pointed out by Cartagena (1999), Lope Blanch (1992) and Moreno de Alba (2002). Then,
there were considered the linguistic and extralinguistic conditioning factors. As linguistic
factors, we had: a) the presence and/or absence of adverbs that indicate anteriority to the
zero point of the enunciation; b) the presence and/or absence of adverbs that indicate
simultaneity at the time of enunciation; the extralinguistic conditioners are: c) age; d)
schooling; e) locality and f) sex. The results obtained in the analysis of the 3644
occurrences of the past forms (in which 3174 were events marked with SPP, while 470
with CPP) pointed to a predominance of SPP, including the presence of ADVs that
establishes the speaker's current link to the enunciative moment, revealing a variation of
the form ADVs + CPP replaced by the form ADVs + SPP; thus, the temporality related
to the zero point of the enunciation, which should refer to the prototypical CPP form, was
expressed by the use of SPP, demonstrating how the variation is evident in the examined
interviews. In addition, data pointed to the need for a future classificatory study of forms
under the lexical-semantic perspective, with the purpose of defining whether the variation
occurs by the temporality established in the enunciative contexts or by the verbal
aspectuality expressed by the events.
Keywords: Sociolinguistics; simple past perfect; compound past perfect; PRESEEA;
Monterrey; Ciudad de México.
RESUMEN
LA ALTERNANCIA ENTRE EL PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE (PPS) Y EL
PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EN MONTERREY Y CIUDAD DE
MÉXICO: UN ANÁLISIS SOCIOLINGÜÍSTICO
Las múltiples formas de decir una cosa están presentes en las diferentes lenguas y es una
atribución de la Sociolingüística concebir esa característica inherente al sistema
lingüístico. Por considerar esa realidad, los estudios de la Variación y del cambio
lingüístico reflejan la heterogeneidad de la lengua que subyace los factores
condicionantes sociales percibidos en las distintas variedades de una lengua
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). En este estudio, nos interesa
investigar esas diversas formas de hablar que, por medio de sus propias delimitaciones,
delinean las comunidades lingüísticas estableciendo sus normas. Basado en estos
preceptos, esta investigación, de naturaleza cuantitativa y cualitativa, presenta como
objetivo general describir y analizar la variable dependiente forma pretérita perfecta del
español a través de las variantes pretérito perfecto compuesto (PPC) y el pretérito
perfecto simple (PPS) con el propósito de identificar la alternancia entre esas formas en
dos dialectos de México, en la ciudad de Monterrey y en la Ciudad de México. Para eso,
fueron elegidas 36 encuestas sociolingüísticas, con 18 de cada ciudad, a partir del corpus
lingüístico PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España
y de América. Para lograr esa finalidad, partimos de la conceptualización de las formas
pretéritas, así como de la posible diferenciación tiempo-aspectual que pueda existir entre
el PPC y el PPS, de acuerdo con los estudios de Cartagena (1999), Lope Blanch (1992),
Moreno de Alba (2002). Enseguida, fueron considerados los factores condicionantes tanto
lingüísticos como extralingüísticos. Como factores lingüísticos, tuvimos: a) la presencia
y/o ausencia de adverbios que indican anterioridad al punto cero de la enunciación
(ADVa); b) la presencia y/o ausencia de adverbios que señalan simultaneidad al momento
enunciativo (ADVs); los condicionantes extralingüísticos constituyen: c) edad; d) nivel
de escolaridad; e) localidad y f) sexo. Los resultados obtenidos en el análisis de los 3644
registros de las formas pretéritas (en que 3174 presentan eventos señalados con el PPS,
mientras 470 con el PPC) apuntaron para una predominancia del PPS, incluso con la
presencia del ADVs que establece vínculo hodiernal del hablante al momento
enunciativo, relevando una variación de la forma ADVS + PPC sustituída por la forma
ADVs + PPS; de ese modo, la temporalidad relacionada al punto cero de la enunciación,
que debería evocar la forma prototípica PPC, fue expresada por el empleo del PPS,
demostrando como la variación está en evidencia en las entrevistas analizadas. Además,
los datos señalaron la necesidad de un estudio posterior clasificativo de las formas bajo
la óptica léxico-semántica, con el fin de definir si la variación que ocurre en México es
originada por la temporalidad establecida en los contextos enunciativos o por la
aspectualidad verbal expresada por los eventos.
Palabras clave: Sociolingüística; pretérito perfecto simple; pretérito perfecto compuesto;
PRESEEA; Monterrey; Ciudad de México
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Ocorrências de PP por cidade .....................................................................80
Tabela 02 - Ocorrências de PP associadas ou não a ADV..............................................82
Tabela 03 - Ocorrências de ADVa associadas aos PP.....................................................84
Tabela 04 - ADVs associado aos PP vs cidade...............................................................85
Tabela 05 - Nível de escolaridade: associação entre os PP e o ADVa............................89
Tabela 06 – Nível de escolaridade - PP associados aos ADVs.......................................90
Tabela 07 - Cruzamento entre idade e uso dos PP..........................................................95
Tabela 08 - Cruzamento entre faixa etária, uso dos PP e ADVa....................................97
Tabela 09 - Cruzamento entre ADVs e PP associados ao sexo.......................................98
Tabela 10 - Cruzamento entre ADVa e PP associados ao sexo.......................................99
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Ocorrências de ADVa x ADVs na totalidade de eventos..........................83
Gráfico 02 - Ocorrências de ADVa associadas ao PP e o nível de escolaridade............88
Gráfico 03 - nível de escolaridade vs PP por cidade.......................................................91
Gráfico 04- ADVs associado aos PP por idade...............................................................94
Gráfico 05 - Faixa etária: PP vs ADVs...........................................................................95
Gráfico 06 - cruzamento entre sexo, PP e cidade............................................................98
Gráfico 07 - cruzamento da variável sexo: PP e cidade..................................................99
Gráfico 08 - ocorrências de PP por cidade....................................................................101
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Dados gerais: Ciudad de México ..............................................................70
Quadro 02 - Dados gerais: Monterrey.............................................................................71
Quadro 03 - Quantitativo de ocorrências de PPS e PPC por cidade...............................72
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADV – Advérbio
ADVa – Advérbio temporal de anterioridade
ADVs – Advérbio temporal de simultaneidade
ALFAL – Associação de Linguística e Filologia da América Latina
PILEI – Proyecto Interamericano de Linguística y Enseñanza de Idiomas
pp – Particípio
PP – Pretéritos Perfectos
PPC - Pretérito Perfecto Compuesto
PPS – Pretérito Perfecto Simple
PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de
América
SADV – Sem advérbio
Sumário
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18
CAPÍTULO 1 - OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ............................... 23
1.1 A VARIABILIDADE DA LÍNGUA E SUA HETEROGENEIDADE ........... 26
1.2 OS PROBLEMAS DA VARIAÇÃO E MUDANÇA ..................................... 28
1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA
DIALETOLÓGICA .................................................................................................... 30
CAPÍTULO II - AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs. PPS ........... 36
2.1 ORIGEM E FORMAÇÃO DO PPC ..................................................................... 36
2.2 A RELAÇÃO ASPECTO- TEMPORAL NAS FORMAS PP DO ESPANHOL 41
2.2.3 A temporalidade verbal .................................................................................. 41
2.2.4 A aspectualidade dos verbos .......................................................................... 43
2.3 CARACTERÍSTICAS DO PPC vs PPS ............................................................... 48
2.3.1 O pretérito perfecto compuesto – PPC - segundo as gramáticas .................. 48
2.3.2 Pretérito perfeito simples (PPS) ..................................................................... 54
2.3.3 A presença dos marcadores temporais – ADVs vs. ADVa ............................ 56
CAPÍTULO III - UM PANORAMA DO ESPANHOL MEXICANO ......................... 59
3.1 A FORMA PRETÉRITA NO MÉXICO: UMA QUESTÃO ASPECTUAL? ..... 63
CAPÍTULO 4 - PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................ 69
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DADOS .................................................................. 71
4.2 A VARIÁVEL DEPENDENTE ........................................................................... 75
4.3 AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES ................................................................. 76
4.3.1 O traço – marcador temporal de anterioridade (ADVa) ................................. 77
4.3.2 O traço – marcador temporal de simultaneidade (ADVs) .............................. 77
4.3.3 O traço – nível de escolaridade ...................................................................... 78
4.3.4 – As variáveis sexo e idade ............................................................................ 79
4.3.5 A localidade: variação dialetal ...................................................................... 80
CAPÍTULO 5 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .......................................... 82
5.1 AS OCORRÊNCIAS DE PPS vs. PPC- O UNIVERSO DOS DADOS .............. 82
5.2 – O TRAÇO - ADVÉRBIO TEMPORAL ........................................................... 83
5.2.1 Advérbios de anterioridade associados aos pretéritos - ADVa vs. PP ........... 86
5.3 AS VARIÁVEIS EXTRALINGUÍSTICAS ......................................................... 90
5.3.1 O nível de escolaridade no uso dos PP ........................................................... 90
5.3.2 A variável faixa etária .................................................................................... 96
5.3.3 A variável sexo ............................................................................................... 99
5.3.4 Variedade dialetal ......................................................................................... 102
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 105
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 107
18
INTRODUÇÃO
A expressão da sociedade por meio da linguagem passou a ser o cerne de estudos
linguísticos a partir da década de 1960. Com a propulsão dos estudos labovianos (2008
[1972]) a língua passou a ser considerada como um sistema organizado e heterogêneo
conduzido pela perspectiva social, que influencia diretamente nos processos de variação.
Ao ponderarmos esse atributo da língua, deparamo-nos com as variedades que
constituem um idioma e portanto são envoltos pelas múltiplas formas de falar de cada
comunidade, possibilitando que os falantes possam expressar-se de diferentes maneiras
para expressar um mesmo sentido (LABOV, 2008 [1972]).
Cada comunidade linguística apresenta suas diferentes normas, que corroboram
com essa heterogeneidade, e é pensando nisso que temos, como ponto de partida, estudar
uma variedade da língua espanhola, a mexicana, com o propósito de analisar como duas
formas pretéritas, o pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple
(PPS), são usadas em um corpus de fala em duas cidades do México, Monterrey e Ciudad
de México.
Para compreender como esse fenômeno ocorre nessas cidades, buscamos um
corpus de fala representativo de cada cidade. Por isso, exploramos o corpus
sociolinguístico PRESEEA - Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de
España y de América -, que contempla diferentes variedades do espanhol americano e
peninsular. Este projeto envolve diversas universidades, as quais aderiram à pesquisa com
o propósito de construir um corpus que seja representativo das comunidades hispânicas.
Partimos dos pressupostos teórico-metodológicos dos estudos da Variação e da
Mudança Linguística que entendem a língua revestida de formas diferentes, que
coexistem e que são representativas de uma comunidade de fala (WLH, 2006[1968]).
Aliada a essa concepção, fundamentamo-nos também na dialetologia, que busca
classificar essa heterogeneidade com base nos dialetos de cada comunidade linguística do
ponto de vista geográfico; enquanto a Sociolinguística busca classificar a variação a partir
dos aspectos sociais que constituem cada comunidade.
Nesse sentido, a intenção desta pesquisa é verificar se ocorre diferença de
variação entre duas cidades / regiões de um mesmo país, uma vez que o nosso interesse
repousa em analisar a variação social e geográfica que está atrelada à variação linguística
dessas comunidades de fala. Por isso, optamos pelo corpus PRESEEA, que está
19
organizado em diferentes níveis de escolaridade, faixas etárias e sexo, fatores que, por
sua vez, estão agrupados por cidade.
O fenômeno ora investigado trata da variação entre as formas pretéritas perfeitas
do espanhol – pretérito perfecto compuesto e pretérito perfecto simple. Essas formas são
equivalentes, segundo Cartagena (1999), já que estabelecem uma relação de anterioridade
ao momento da enunciação e ambas são perfectivas, ou seja, expressam ações concluídas
antes do enunciado ser proferido.
A variação linguística, definida por Labov (2008[1972]) como a coexistência de
formas diferentes que expressem um mesmo significado, é o que fundamenta este trabalho
para a delimitação da variável escolhida, as formas pretéritas perfeitas do espanhol, PPS
e PPC. A seleção desse fenômeno, dessa variável dependente1, ocorre pelo alto índice de
ocorrências na conversação de maneira espontânea, fator fundamental para que possa ser
esquematizada a partir de contextos não– estruturados (LABOV, 2008 [1972]). Portanto,
a seleção da variável aqui investigada se explica pela ocorrência significativa do
fenômeno presente em entrevistas sociolinguísticas, pois, naturalmente, os informantes
costumam narrar eventos de diversos âmbitos da sua vida, o que possibilita verificar o
uso das formas pretéritas do indicativo, nas cidades de Monterrey e Ciudad de México.
Por entender que a língua é representativa de uma sociedade, este trabalho tem
como intuito descrever e analisar as variações entre as formas de uso do pretérito, PPC e
PPS, na língua falada destas duas cidades do México, Monterrey e Ciudad de México.
Acreditamos, portanto, que este estudo possibilitará reflexões sobre o uso dessas formas
e, nessa perspectiva, poderá colaborar para o desenvolvimento de outras pesquisas sobre
o tema.
Os estudos da variação e da mudança linguística situam a língua como o cerne da
sociedade, portanto indissociável de uma comunidade de fala. Essa relação intrínseca é
percebida pelos aspectos sociais refletivos através dos diferentes usos da língua. Por isso,
não há como pensar em estudar um fenômeno linguístico sem considerar os fatores
condicionantes que possibilitam a heterogeneidade presente na língua (LABOV, 2008
[1972]).
Por possibilitar essa representação da comunidade de fala, pretendemos buscar (a
partir do estudo do PPC x PPS nas duas cidades do México, anteriormente citadas) as
1 Conceito que iremos detalhar no capítulo teórico, mas, grosso modo, compreende-se como uma variação
que pode ser alterada de acordo com fatores externos, como a idade, sexo, escolaridade, nível social, ou
seja, é dependente de fatores sociais.
20
possíveis variações no uso dos pretéritos. Convém aclarar que a forma PPS expressa ações
pontuais, realizadas no passado e sem relação com o momento enunciativo; enquanto a
forma PPC expressa ações finalizadas que apresentam relevância na atualidade do falante
(cf. Cartagena, 1999).
Para o alcance desse fim, serão considerados fatores condicionantes tanto
linguísticos quanto extralinguísticos. Como fatores linguísticos temos: a) a presença e/ou
ausência de advérbios que indicam anterioridade ao ponto zero da enunciação (ADVa);
b) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam simultaneidade ao momento da
enunciação (ADVs); os condicionantes extralinguísticos constituem: c) idade; d)
escolaridade; e) sexo e f) localidade.
No entanto, essa pressuposição de que as formas PPS e PPC são variantes, não é
vista de forma igualitária por estudiosos da língua espanhola. Autores como Lope Blanch
(1992), Moreno de Alba (2002), Airoldi (2004) defendem que a aplicação entre as duas
formas ocorre de forma diferenciada no México, sendo definida por uma questão
aspectual, de completude da ação para o PPS e de ação durativa, inacabada para o PPC,
divergindo do que defende Cartagena (1999).
Com base nesses pressupostos, pretendemos descrever o espanhol mexicano
refletido em duas comunidades de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das
entrevistas sociolinguísticas, buscando perceber quais as semelhanças e as diferenças na
aplicação dos pretéritos PPC e PPS nesses dialetos.
Como hipótese geral do trabalho, defendemos que ocorre variação das formas
pretéritas no espanhol do México, porém não sabemos se a temporalidade ou a
aspectualidade influenciam na escolha por uma das formas: a) PPS com advérbios de
simultaneidade; b) PPC com aspecto imperfeito; c) PPC substituindo o PPS; d) PPC com
advérbios de anterioridade. Para tentar contestar essa suposição, topicalizamos as
seguintes questões:
1) As duas variantes PPS e PPC se fazem presentes nas entrevistas
sociolinguísticas do México – Ciudad de México e Monterrey?
2) A presença dos advérbios temporais influencia no uso de uma das variantes?
3) As variáveis independentes linguísticas e extralinguísticas são significativas no
uso de uma das formas?
4) Que diferenças são percebidas entre as ocorrências da Ciudad de México e de
Monterrey?
21
Com o intuito de responder a essas questões, temos como objetivo geral deste
trabalho descrever e analisar a variável dependente, a forma pretérita perfeita do espanhol,
através das variantes PPC e PPS, em entrevistas sociolinguísticas das cidades de
Monterrey e Ciudad de México.
Como objetivos específicos:
a) Identificar e descrever as formas pretéritas perfeitas presentes no corpus
PRESEEA – Ciudad de México e Monterrey;
b) Verificar a presença de advérbios temporais de simultaneidade (ADVs)2 e
anterioridade (ADVa) presentes no corpus e como eles contribuem para a variação;
c) Analisar de que modo as variáveis independentes (ou fatores condicionantes)
contribuem para que ocorra variação no uso das formas.
d) Examinar se ocorre diferença de uso entre as localidades estudadas.
Para responder a tais questionamentos, o nosso trabalho está organizado da
seguinte maneira:
No capítulo 01, trazemos uma apresentação teórico-metodológica sobre os
preceitos labovianos, especificando as questões referentes à variação e mudança, os
problemas percebidos no estudo da variação e como a dialetologia pode contribuir com o
nosso trabalho.
No capítulo 02, explicitamos o fenômeno linguístico sobre o qual nos debruçamos,
e para isso buscamos caracterizar/descrever a variável dependente elencada, formas
pretéritas perfeitas do espanhol, explicando cada uma das variantes que consideramos
(PPS e PPC), a partir de um panorama histórico e, em seguida, apresentamos as diferenças
tempo-aspectuais a que se dedicam os estudos para aproximar e diferenciar os usos de
cada uma das formas. Além disso, apresentamos uma classificação gramatical de cada
uma das formas.
No capítulo 03, apresentamos um panorama do espanhol mexicano, retratando as
separações dialetais realizadas no México e alguns estudos sobre as formas PPS e PPC
nesse país, que consideram essas formas com um teor aspectual diferente.
No capítulo 04, indicamos o percurso metodológico realizado para alcançar os
objetivos aqui propostos, apresentando a metodologia adotada, assim como a descrição
dos corpora das duas cidades e das variáveis independentes (ou fatores condicionantes)
escolhidas.
2 As nomenclaturas aqui utilizadas, ADVa e ADVs, foram baseadas no trabalho de Oliveira (2007).
22
No capítulo 05, traçamos uma análise dos dados com base nas variáveis
independentes, verificando sua possível interferência na variável dependente – formas
pretéritas perfeitas.
Por último, arrolamos nossas conclusões.
23
CAPÍTULO 1 - OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
A Sociolinguística é uma teoria incorporada à Linguística que tem como cerne
analisar a língua em uso nas diferentes comunidades de fala, relacionando aspectos
linguísticos e sociais. A língua, a partir do seu aspecto concreto, é o que motiva as
pesquisas sociolinguísticas, considerando o seu teor heterogêneo, que antes era
desconsiderado nos outros campos da Linguística.
Os estudos sociolinguísticos ganharam amplitude a partir da década de 1960, com
as pesquisas de Labov (2008 [1972]), quando investigou a fala dos habitantes da ilha de
Martha’s Vineyard, Massachussetts. O autor passou a fundamentar a variabilidade da
língua como fonte de estudo em suas pesquisas, considerando o caráter heterogêneo e, ao
mesmo tempo, sistemático da língua. Além de atrelar as mudanças linguísticas aos
fenômenos sociais, denominados fatores condicionantes extralinguísticos, tais como
idade e escolaridade, que corroboram na tendência de uso de certas formas em oposição
a outras.
Esses fundamentos da teoria sociolinguística variacionista ou sociolinguística
laboviana, que relacionam a variabilidade da língua atrelada aos aspectos sociais, foram
difundidos por Weirinch, Labov e Herzog (2006 [1968], doravante WLH), reafirmando a
interdependência entre língua e sociedade, isto é, apontando que, com o movimento de
transformação que ocorre em uma comunidade de fala, consequentemente a língua varia.
A partir desse pensamento de integração entre língua e caráter social, os estudos da
sociolinguística variacionista ou sociolinguística laboviana ganharam força no século
XX, quando os autores passaram a defender que um indivíduo pode produzir um mesmo
enunciado com determinada intenção comunicativa de múltiplas maneiras, e são essas
diferentes formas de dizer que configuram a variação linguística.
Nesse período, diferentes estudos realizados sob essa perspectiva foram essenciais
no estabelecimento de um modelo teórico-metodológico de “um sistema ordenadamente
heterogêneo em que a escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções sociais e
estilísticas, um sistema que muda acompanhando as mudanças na estrutura social” (WLH,
2006 [1968], p. 99). Essa proposta traz à luz a percepção do entrelaçamento entre
sociedade e língua, pois a evolução ou alterações sociais são diretamente refletidas nos
diferentes contextos comunicativos, sejam eles por variações estilísticas, sociais ou
diatópicas.
24
Esses diferentes tipos de variações podem ser compreendidos da seguinte forma:
as variações estilísticas contemplam os diferentes estilos em que um mesmo falante
emprega a língua, adequando ao contexto comunicativo. Conforme Macedo (2012, p. 59),
“os falantes possuem um repertório linguístico que pode variar dependendo de onde se
encontram e com quem falam”.
A variação social, também conhecida como diastrática, conforme dito
anteriormente, está relacionadas a questões como a idade, gênero, nível de escolaridade e
nível socioeconômico, verificando como esses fatores podem influenciar na seleção
linguística dos falantes.
A variação diatópica ou variação regional, ou ainda geográfica, é “a responsável
por podermos identificar, às vezes com bastante precisão, a origem de uma pessoa pelo
modo como ela fala. Através da língua, é possível saber que um falante é gaúcho, mineiro
ou baiano, por exemplo” (COELHO et al, 2015, p. 38). Os autores esclarecem de que
forma os estudos sociolinguísticos fortalecem essa identificação:
O aparato teórico-metodológico da Sociolinguística nos equipara para
que possamos sair de um nível impressionístico (e, às vezes, caricato)
da variação geográfica e descobrirmos quais são exatamente as marcas
linguísticas que caracterizam a fala de uma região em relação à de outra.
Em geral, itens lexicais particulares, certos padrões entoacionais e
certos traços fonológicos respondem pelo fato de que falantes de
localidades diferentes apresentem dialetos (ou seja, variedades)
diferentes de uma mesma língua (COELHO et al, 2015, p. 38).
Dito isso, convém refletir sobre as possibilidades que a Sociolinguística oferece
às relações entre língua e sociedade, avaliando, investigando, desde as diferentes
variedades regionais a questões de estilística que permeiam a linguagem nos seus
diferentes grupos, buscando uma sistematização do aparente caos linguístico a que se
referia Sausurre (1990) em seus pressupostos linguísticos.
Nesse sentido, a nova concepção de estudar o aparente “caos” da fala e analisar a
língua influenciada pela sociedade diversificou o âmbito de investigações da
Sociolinguística, que ampliou o escopo de estudos para questões relacionadas ao “contato
entre línguas, ao surgimento e extinção linguística, multilinguismo e variação e mudança”
(MOLLICA, 2012, p. 10).
Portanto, a Sociolinguística tem como principal finalidade estudar a “variação,
entendendo-a como um princípio geral e universal, passível de ser descrita e analisada
cientificamente. Ela parte do pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciadas
por fatores estruturais e sociais” (MOLLICA, 2012, p. 09-10).
25
Essas unidades estruturais e sociais são construídas dentro de cada comunidade
linguística em que se apresentam diferentes sistemas que coexistem e que são
determinados pelos diferentes grupos sociais: o sistema linguístico dos jovens, dos
médicos, das pessoas escolarizadas, do sexo feminino, por exemplo. De acordo com WLH
(2006), esses diferentes sistemas confluem para o estabelecimento de determinadas
propriedades, pois:
oferecem meios alternativos de dizer “a mesma coisa”: ou seja, para
cada enunciado em A existe um enunciado correspondente em B que
oferece a mesma informação referencial (é sinônimo) e não pode ser
diferenciado exceto em termos de significação global que marca o uso
de B em contraste com A (WLH, 1968 [2006], p. 97).
O sistema linguístico possibilita essa multiplicidade de formas que está
diretamente associada às significações atribuídas por seus falantes, aos diferentes
contextos comunicativos, e é essa diversidade de formas de dizer que propicia a mudança
linguística ao longo do tempo. No entanto, para que ocorra a mudança linguística é
preciso que antes haja variabilidade da língua, o que possibilita que formas concorrentes
busquem se estabelecer nas comunidades linguísticas.
Essas formas diferentes que mantém uma mesma significação em um determinado
contexto é o que possibilita a diversidade linguística, “meios alternativos de dizer a
“mesma coisa” (WLH, 2006, p. 97). No entanto, os fatores condicionantes
extralinguísticos, ou variáveis independentes sociais que delimitam os usos da língua
associados aos diferentes contextos (supostamente disponíveis a todos os falantes de um
idioma) não ocorre na prática. Quando pensamos nas diferentes classes sociais,
percebemos que pessoas com um nível de escolaridade mais baixo não têm acesso às
mesmas estruturas linguísticas e lexicais que uma pessoa que está em um nível de
escolaridade superior. Por essa razão, questões como conhecimento de mundo e
escolaridade influenciam diretamente no repertório linguístico do falante:
[...] alguns falantes podem ser incapazes de produzir enunciados em A
e B com igual competência por causa de algumas restrições em seu
conhecimento pessoal, práticas ou privilégios apropriados ao status
social, mas todos os falantes geralmente têm a capacidade de interpretar
enunciados em A e B e entender a significação da escolha de A ou B
por algum outro falante (WLH, 1968 [2006], p. 97).
A reflexão exposta por WLH nos faz perceber que, de acordo com o nível social,
pode haver limitações enunciativas pelos falantes, pois pessoas com diferentes níveis de
26
escolaridade e sem acesso a determinados contextos podem não ter domínio de alguns
usos vistos como “padrões”. Entretanto, isso não os impossibilita de compreender
determinados significantes adotados por outros falantes.
Para compreender melhor essas múltiplas formas da língua que estão vinculadas
às variáveis sociais, trataremos, na próxima seção, sobre o que dizem os estudos
sociolinguísticos acerca da heterogeneidade linguística.
1.1 A VARIABILIDADE DA LÍNGUA E SUA HETEROGENEIDADE
Conforme defendido pelos estudos sociovariacionistas, a organização da língua é
o que permite que suas regras sejam alteradas de forma gradativa, apesar do seu caráter
heterogêneo. As mudanças ocorrem o todo tempo, porém há várias etapas para que tais
mudanças se estabeleçam neste complexo sistema ordenado que é a língua.
De acordo com WLH (2006[1968], p. 104), “um código ou sistema é concebido
como um complexo de regras ou categorias inter-relacionadas que não podem ser
misturadas aleatoriamente com as regras ou categorias de outro código ou sistema”. Logo,
cada língua é estabelecida e delimitada por regras internas que não são as mesmas de
outra língua ou código.
Sendo assim, “o modelo de um sistema ordenadamente heterogêneo em que a
escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções sociais e estilísticas, um sistema
que muda acompanhando as mudanças na estrutura social” (WLH, 2006[1968], p. 99).
Por consequência, existe uma unidade linguística que é determinada culturalmente na
constituição das línguas e sua evolução, suas alterações refletem as mudanças nas
configurações sociais que ocorrem diacronicamente.
No entanto, mesmo sendo única em cada idioma, essa constituição não ocorre de
forma homogênea, mas sim envolta de heterogeneidade que deixa transparecer as
características de cada comunidade linguística. Podemos compreender, portanto, que a
composição da língua por subsistemas está intrinsecamente organizada por regras que
refletem os aspectos socio-culturais de uma comunidade de fala:
reconhecer a língua como uma realidade essencialmente social que,
correlacionada com a multifacetada experiência econômica, social e
cultural dos falantes, apresenta-se em qualquer situação, como uma
realidade heterogênea, como um conjunto de diferentes variedades
(FARACO, 2005, p. 67).
27
Essa realidade heterogênea, envolta por aspectos sociais contemplados na língua,
apresenta um conjunto de subsistemas que se alternam de acordo com um conjunto de
regras coocorrentes. No interior de cada um desses subsistemas, encontramos variáveis
dependentes que concorrem a uma mesma função, a um mesmo uso dentro da língua.
Assim, se pensarmos no pretérito perfecto simple na América vs. o pretérito perfecto
compuesto na Espanha, temos duas formas3 que são concorrentes em subsistemas
diferentes, mas que pertencem a uma mesma língua.
Coelho et al (2015) evidencia o cerne da Sociolinguística:
são as regras variáveis da língua, aquelas que permitem que, em certos
contextos linguísticos, sociais e estilísticos, falemos de uma forma, e,
em outros contextos, de outra forma – ou seja, que alternemos duas ou
mais variantes (formas que devem ter o mesmo significado
referencial/representacional e ser intercambiáveis no mesmo contexto)
(COELHO et al, 2015, p. 60, grifo do autor).
Portanto, em um sistema em variação, a variável dependente é constituída por
formas coexistentes que expressam o mesmo significado ou que expressam o mesmo
valor dentro de um mesmo contexto. Essas diferentes possibilidades de dizer a “mesma
coisa”, numa outra configuração, são chamadas de variantes. Assim, para que haja uma
variável é preciso que existam duas ou mais formas concorrentes. Acerca disso, Mollica
(2012) explicita que uma variável:
é concebida como dependente no sentido que o emprego das variantes
não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores (ou variáveis
independentes) de natureza social ou estrutural. Assim, as variáveis
independentes ou grupos de fatores podem ser de natureza interna ou
externa à língua e podem exercer pressão sobre os usos, aumentando ou
diminuindo sua frequência de ocorrência (MOLLICA, 2012, p. 11).
Portanto, uma variável dependente sempre será influenciada por diferentes grupos
de fatores que motivem a escolha por uma das formas coexistentes, que podem ser
ocasionadas por diversos fatores, desde fenômenos internos à língua até fenômenos
externos como o nível de escolaridade, por exemplo.
Apesar disso, Lavandera (1977 apud COELHO et al, 2015, p. 64) critica a
proposta laboviana de ampliar os estudos para outros níveis da linguagem, além do
fonológico, expressando que “cada forma tem um significado, o que bloquearia a
variação”. Com base nisso, Labov:
3 A concorrência das formas pretéritas será tratada no capítulo II.
28
relativiza a noção de “mesmo significado”, ao estabelecer que o
conceito de variável linguística deveria ser aplicado a “dois enunciados
que se referem ao mesmo estado de coisas e que têm o mesmo valor de
verdade” (entendendo “estado de coisas” como “significado
representacional” (COELHO et al, 2015, p. 64, grifos do autor).
Essa ampliação conceitual possibilitou um avanço e ampliação nos trabalhos
sociolinguísticos voltados para variação morfossintática e variação discursiva, as quais
antes estavam limitadas ao nível fonológico (COELHO, 2015).
Outro aspecto estudado pela sociolinguística variacionista, atrelada à variação, é
a mudança linguística: um processo percebido de “forma lenta e gradual”, nunca de
maneira abrupta, que tampouco se faz presente de forma “global e integral”, pois atinge
partes da língua e não o seu conjunto. Ao pensarmos na coexistência de duas variantes
concorrentes de uma variável, uma delas pode possibilitar que haja ou não uma mudança
na língua, porém vários fatores precisam ser analisados para verificar esse fenômeno
(FARACO, 2005).
Contudo, o ato da mudança não ocorre corriqueiramente. O processo, como dito,
é lento e, em determinados fenômenos, a ocorrência de variantes pode ser uma variação
estável ou, caso contrário, uma mudança em progresso (MOLLICA, 2012,). Por isso, é
indispensável que haja a análise detalhada de uma quantidade significativa de dados da
fala para que se possa alcançar uma representatividade da comunidade linguística
investigada.
Para compreender e tentar situar nosso objeto, trataremos, na próxima seção, os
problemas relacionados à variação e mudança da língua para posteriormente discutir
sobre a etapa em que nosso fenômeno em estudo se encontra.
1.2 OS PROBLEMAS DA VARIAÇÃO E MUDANÇA
Como mencionado no tópico anterior, para investigar o processo de mudança
linguística, ou até mesmo para que se possa verificar se está ocorrendo uma mudança ou
se trata-se de uma variação estável, é necessário considerar a observação de fatores
linguísticos, sociais e pragmáticos a fim de identificar o estágio em que se encontra o
fenômeno; se é uma variação estável ou se há uma mudança em curso.
29
No entanto, para analisar tal efeito sobre a língua, é preciso ainda considerar
alguns problemas que enviezam esse processo, são eles: os fatores condicionantes, a
transição, o encaixamento, a avaliação e a implementação, que serão explicados a seguir,
com base em WLH, 2006[1968]):
1) Os fatores condicionantes, a restrição – este problema busca compreender quais
os fatores que condicionam o processo de mudança. Busca-se identificar de que forma os
fatores linguísticos e sociais influenciam, limitando o processo de mudança.
2) A transição – o problema aqui apresentado trata do movimento de coocorrência
de formas, do momento em que a variável apresenta duas ou mais variantes que
competem na tentativa de uma se sobrepor à outra; porém, é importante salientar que elas
também podem coexistir na comunidade sem que haja prevalência, apenas estabelecendo
o teor de variação da língua. Além disso, ao avaliar em alguns subsistemas de uma língua,
o traço arcaico/ inovador4, pode-se perceber a mudança em curso, quando são encontrados
elementos linguísticos do passado perdidos na atualidade.
3) O encaixamento - para que seja considerado em processo de mudança, o
fenômeno precisa estar encaixado ao sistema linguístico em sua totalidade. Esse problema
está dividido em dois aspectos, o encaixamento na estrutura linguística e na estrutura
social. Quanto ao primeiro, necessita ultrapassar os limites de um idioleto5, e que sua co-
ocorrência esteja disponível à comunidade de fala com função bem definida para cada
variante; com a covariação de elementos linguísticos e extralinguísticos. As variantes
podem estar num continuum em que seus usos sejam determinados pelos contextos e que
oscilem de acordo com cada situação. Quanto ao segundo, precisa estar encaixado no
contexto mais amplo da comunidade, com diferentes elementos sociais e geográficos
compondo sua estrutura.
4) A avaliação – deve ocorrer a observação dos dados variáveis, de maneira
subjetiva, analisando os diferentes estratos sociais, no intuito de verificar se há a
ocorrência da mudança com a prevalência do fenômeno em alteração. E sua verificação
não deve ocorrer a partir da estruturalidade da língua, mas dos fatores extralinguísticos.
5) Implementação – esse problema, que define o último passo para a mudança ou
para a sua constatação, verifica desde aspectos da língua até questões sociais. Parte da
mudança no comportamento social de aceitação do fenômeno, ou de sua expansão pelos
4 No subitem explicitaremos a oposição arcaico vs inovador. 5 No subitem 1.3 explicitaremos o conceito de idioleto.
30
diferentes níveis e faixas etárias, assim como sua significação linguística em toda a
comunidade de fala.
Com base nos problemas apresentados, podemos perceber que o processo da
mudança passa por um trajeto longo e lento que se inicia com a difusão da variável por
um grupo de falantes, avançando por sua difusão a outros grupos, até ganhar uma
consciência social na comunidade e se estabelecer na língua, em detrimento da outra
forma concorrente.
Neste trabalho, pretendemos observar se é possível identificar em que
“problemas”/ processos podemos inserir o fenômeno das formas perfeitas que estamos
estudando, PPS e PPC. Para tanto, além dos grupos de fatores sociais, buscaremos refletir
como a variação dialetológica influencia nesse encadeamento. Por isso, no próximo
subitem, apresentaremos as variedades do espanhol, a partir desta perspectiva: a
dialetológica.
1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA DIALETOLÓGICA
As línguas são constituídas por subsistemas denominados de variedades
linguísticas, como afirmado anteriormente. E essas variedades podem ser divididas por
diferentes óticas: do ponto de vista social, quando consideramos as variedades diastráticas
(idade, sexo, escolaridade), do ponto de vista regional, as variedades diatópicas (países,
estados, cidades), e do ponto de vista dos contextos de enunciação, temos as variedades
estilísticas (apropriação da linguagem de acordo com as diferentes situações
comunicativas).
Ao nos voltarmos para a língua espanhola e toda a sua diversidade, diante de 21
países que a têm como língua oficial, não podemos desconsiderar as variedades
diatópicas. Essa multiplicidade de vozes que constitui a língua espanhola não pode ser
analisada apenas considerando os aspectos sociais, mas vislumbrando a geografia que
também determina as escolhas dos falantes e constitui a variedade diatópica ou regional.
Por esse motivo, recorremos à dialetologia que tanto desenvolve estudos regionais
e constroi atlas geográficos, buscando uma delimitação das fronteiras linguísticas entre
os diferentes dialetos. Zamora Munné e Guitart (1982) especificam o objeto de estudo da
dialetologia:
31
La dialectología es aquella parte de la lingüística que estudia la
heterogeneidad de las lenguas, es decir que observa y explica el hecho
de que las lenguas no sean homogéneas, sino que estén compuestas de
un mayor o menor número de dialectos, más o menos diferentes entre
sí (ZAMORA MUNNÉ; GUITART, 1982, p. 09).
O que se pode observar, com o exposto, é que a heterogeneidade a que se dedica
a Sociolinguística também está no bojo da dialetologia, buscando identificar quais
dialetos estão presentes numa língua e como suas fronteiras estão delimitadas
geograficamente a partir dos aspectos linguísticos.
Se as duas teorias consideram a heterogeneidade da língua, o que as difere? O que
seria um dialeto? A dialetologia se preocupa com os dialetos enquanto a Sociolinguística
estuda a língua? Há uma diferença entre língua e dialeto? Ao pensar numa comunidade
linguística como cada uma dessas abordagens pode corroborar nos estudos da diversidade
linguística?
Para tenta responder essas indagações, partiremos do conceito micro para
esclarecer de que forma essas duas teorias podem caminhar “de la mano”:
Se puede decir que cada individuo habla un idiolecto (el castellano o
español de don Luis, el de la abuela Consuelo, el del joven Alberto) y
ese conjunto de idiolectos, con poca variación entre sí, forman el
dialecto de una zona geográfica (el castellano o español de Andalucía,
Salamanca, Cuba, San Juan de Puerto Rico). El conjunto de dialectos
regionales forman lo que usualmente se denomina una lengua (inglés,
francés, catalán, gallego, español, alemán). Por lo tanto, siguiendo estas
definiciones todos hablamos un idiolecto, pertenecemos a un grupo
dialectal y el dialecto forma parte de una lengua histórica y común
(SILVA-CORVALÁN, 1989 apud RAMIREZ, 1996, p. 38).
As conceituações acima nos fazem refletir sobre a teia que constitui a
configuração da língua. A partir do pressuposto do idioleto, ou seja, cada indivíduo
apresenta uma forma própria de falar, com suas peculiaridades e de acordo com as
diferentes situações comunicativas e o conjunto de pessoas que têm um falar “próximo”
constitui um dialeto. Ao passo que a junção de todos os dialetos de uma comunidade
linguística concebe uma língua.
Conflui para essa ideia de dialeto a declaração de Zamora Munné e Guitart
(1982):
32
la forma historicamente determinada de la lengua de un grupo que
ocupa un espacio geográficamente definible. En este sentido no puede
establecerse una distinción entre hablantes de lengua frente a hablantes
de dialecto. Todo el mundo habla algún dialecto, y una lengua no es
más que la suma de sus dialectos (ZAMORA MUNNÉ; GUITART,
1982, p. 17).
Na dialetologia, o conceito de língua parte do individual para o coletivo.
Considera-se que os usos individuais unidos geram os dialetos e a congregação desses
dialetos constituem a língua, um processo considerado inverso ao pensamento
saussuriano, pois parte de uma unidade menor, o idioleto inerente a cada falante, que,
unido a um determinado grupo, produz um dialeto e os diferentes dialetos integram o que
chamamos de língua (MORENO FERNÁNDEZ, 2009).
Outra perspectiva sobre os conceitos de dialeto e língua é propagada por Alvar
(1996), a partir de um viés histórico, que posiciona uma diferenciação da seguinte
maneira:
La diferencia entre literaria y dialecto es, pues, un concepto histórico o,
por mejor decir, derivado de la historia. Por razones distintas (políticas,
sociales, geográficas, culturales), de varios dialectos surgidos al
fragmentarse una lengua hay uno que se impone y que acaba por agostar
el florecimiento de los otros. Mientras el primero se cultiva
literariamente y es vehículo de obras de alto valor estético, hay otros
que no llegan nunca a escribirse, y si lo son, quedan postergados en la
modestia de su localismo. Mientras el primero sufre el cuidado y la
vigilancia de una nación, los otros crecen agrestemente (ALVAR, 1996,
p. 07).
Segundo o autor, uma língua para tornar-se língua precisa de uma amplitude e
uma disseminação na comunidade de fala, ganhando força e propiciando uma produção
literária que seja representativa da comunidade. Nesse momento, ocorre a diferenciação
do dialeto para a chamada “língua nacional”, quando a comunidade se vê representada
nos diferentes meios de comunicação e difusão dos aspectos culturais que são gerados
pela própria comunidade. No tocante à delimitação dos conceitos que regem a
dialetologia, Moreno Fernández (2009) remete aos limites geográficos que definem os
dialetos, afirmando que não é tão simples quanto parece, pois há várias nuances que
dificultam sua precisão:
33
sus limites son imprecisos, cuando no confusos, o de que resulta
imposible la caracterización exclusiva de los ámbitos geolinguísticos
que configuran una lengua. En realidad, la geografía de la lengua
española muestra unos caracteres ideales para entender todos los
problemas teóricos que plantea el concepto de dialecto: dentro del
español existen variedades desarrolladas a partir del castellano antiguo;
algunas de estas variedades conviven con otras cuyos orígen se remonta
al latín; en otros casos la convivencia se produce con lenguas de la
misma familia o de familias diferentes; las fronteras dialectales son
borrosas; y muchos rasgos lingüísticos son compartidos de forma
desigual por hablas diferentes (MORENO FERNÁNDEZ, 2009, p. 57).
Como vimos, os dialetos não são formados apenas pelo molde de uma nação, mas
dentro de suas fronteiras. Vários aspectos corroboram com a construção de um dialeto,
assim, em um país, temos as diferenças que vão desde as regiões até as comunidades de
fala definidas por grupos de falantes específicos, como de zonas rurais e urbanas, por
exemplo.
[...] dialecto es toda manifestación real del sistema linguístico abstracto
que es la lengua, de manera que la lengua española está integrada por
una gran variedad de dialectos nacionales y de subdialectos regionales,
comacarles, locales y aun individuales – idiolectos -, cada uno de los
cuales, por su parte, estará integrado por dialectos socioculturales
diversos (LOPE BLANCH, 2002, p. 26)
Um dialeto tem como objetivo caracterizar uma localidade, mas necessitamos ter
em mente que não há uma unidade em sua totalidade. O que ocorre, na verdade, é a
predominância de características que definem determinado dialeto de uma cidade ou de
uma região, mas outros eventos linguísticos podem estar presentes numa língua que é tão
mutável e heterogênea.
Essa pluralidade da língua possibilita análises sob diferentes óticas. Olhando para
a perspectiva dialetológica, percebe-se que “estudia la diversidad geográfica de la lengua;
se fija en comunidades que se definen por el espacio que ocupan”; enquanto a
sociolinguística corresponde a “estudiar las variedades de lengua […] las variedades
socialmente determinadas, las normas que regulan el uso social de la lengua, las
consecuencias de poseer una u otra variedad […]” (ZAMORA MUNNÉ e GUITART,
1982, p. 24).
Como vimos, uma língua é constituída de vários dialetos e não podemos omitir
essa informação em nossos estudos. Portanto, para que possamos analisar como um
fenômeno linguístico se apresenta em uma língua, precisamos esclarecer que nosso
34
corpus é formado por dois dialetos diferentes, um da Ciudad de México e outro de
Monterrey, dialetos que fazem parte da variedade linguística do espanhol mexicano.
Sob essa ótica, não podemos tratar do espanhol mexicano como se todas as
subáreas apresentassem as mesmas características, já que estamos falando de
comunidades de fala que se diferem, seja por questões culturais, seja por questões
geográficas, já que a constituição de uma língua ocorre da união de vários eventos como
citado por Moreno Fernández (2009), sejam eles por contato entre outras línguas ou pelas
escolhas que a própria comunidade vai realizando diacronicamente.
Lope Blanch (1993) apresenta a importância de um estudo filológico baseado nos
preceitos sociolinguísticos:
El filólogo deberá tratar de determinar cuáles son las actitudes del
hablante que mayor repercusión tienen en la vida del idioma, que más
regularmente alteran o condicionan su estructura, para dedicar a ellas
su particular atención, como a factores verdaderamente relevantes
dentro de la organización y desarrollo de la lengua como sistema (LOPE
BLANCH, 1993, p. 24, grifos nossos).
Esse entrelaçamento entre as atitudes dos falantes e as alterações e/ou
condicionamento na língua é o que motiva nosso estudo, buscando perceber quais os
fatores que corroboram para as diferenças dialetais dentro da língua espanhola, no nosso
caso, na variedade do espanhol mexicano. Pois a Sociolinguística possibilita descobrir e
mostrar com suficiente detalhe os elementos de caráter social que influenciam nessas
possíveis alterações da língua (LOPE BLANCH, 1993).
Por entender que tanto a dialetologia quanto a sociolinguística são relevantes para
nossa pesquisa, pelo teor geográfico e social, consideraremos as palavras de Ramirez, as
quais nos embasam:
Cada disciplina amplia nuestros conocimientos sobre la variación
lingüística a través del tiempo, el espacio y las personas. La
dialectología, con sus estudios de las variaciones inter e intrarregionales
(geolinguística) y los nuevos enfoques relacionados con la variación
social (dialectología social y dialectología urbana), nos ofrecen valiosa
información de la lengua en la sociedad. La sociolinguística de la
sociedad (multilinguismo social, estudios del bilinguismo, lenguas en
contacto y en conflicto, actitudes linguísticas y comunidades de habla)
y la sociolinguística de la lengua (estudios cuantitativos de
variacionismo probabilístico, gramáticas en contacto, etnografía de la
comunicación y análisis del discurso) aportan otros importantes datos
acerca del comportamiento de la lengua y los hablantes (RAMIREZ,
1996, p. 48).
35
A união desses dois marcos teóricos só pode colaborar para o enriquecimento de
nossa pesquisa, pois vislumbraremos como o fenômeno ocorre intrarregionalmente e se
ocorre variação nos diferentes níveis sociais (idade, sexo e nível de escolaridade),
permitindo que façamos uma descrição contundente dos dados analisados.
Com base nesses pressupostos, pretendemos apresentar como ocorre a alternância
das formas pretéritas, PPC e PPS, no espanhol mexicano refletido em duas comunidades
de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das entrevistas sociolinguísticas. Para
tal fim, propomos uma comparação entre as duas cidades, buscando perceber quais as
semelhanças e as diferenças na aplicação desses pretéritos nos dialetos mencionados.
Contudo, para que possamos analisar os dados, no próximo capítulo tentaremos
caracterizar os aspectos que determinam cada um desses pretéritos.
36
CAPÍTULO II - AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs. PPS
Neste capítulo, pretendemos apresentar as diferenças e semelhanças entre as
formas pretéritas PPC e PPS. Para isso, partimos da conceituação histórica e do processo
de gramaticalização da perífrase haber + participio (pp) que originou a forma verbal PPC.
Ademais relatamos as diferentes atribuições dessa forma até chegar ao seu uso atual.
Em seguida, relatamos a questão tempo-aspectual que possibilita as relações de
proximidade e distanciamento das formas, além de apresentar como cada uma das formas
é vista sob a ótica gramatical e a influência dos marcadores temporais associados a cada
uma das formas pretéritas, PPS e PPC.
2.1 ORIGEM E FORMAÇÃO DO PPC
O sentido atribuído às palavras ganha nova significação com o passar do tempo,
influenciado socialmente e impulsionado pela necessidade comunicativa de cada época.
Assim ocorreu com a perífrase do espanhol haber + participio, que apresentava diferentes
finalidades no espanhol clássico, e evoluiu para a forma verbal haber conjugado +
participio (he cantado) devido à necessidade de novas funções comunicativas que lhe
foram atribuídas.
Conforme Rodriguez Molina (2004), a primeira estrutura citada está presente no
castelhano antigo, assim como no período medieval, marca das demais variedades de
romances, o que nos elucida sobre a importância do sentido estabelecido naquela época
pelo uso dessa perífrase. O autor explicita que outros usos eram atribuídos ao verbo haber:
para expressar posse em várias acepções; em construções resultativas transitivas ativas
e para usos impessoais.
É necessário ressaltar, porém, que o sentido unificado do verbo habere +
participio (construção latina) não era percebido inicialmente, ou seja, o verbo e o
partícipio tinham acepções isoladas. Somente ao longo do tempo, essa formação passou
a expressar um sentido único:
37
En latín, el verbo habere, unido a cierto tipo de participios, indicaba el
resultado de la acción significada por el verbo: habere y el participio
funcionaban como unidades léxicas independientes que conservaban
plenamente su significado referencial. Por el contrario, en español
actual el verbo haber se ha gramaticalizado como auxiliar temporal: la
construcción entera hace referencia a la anterioridad verbal, no denota
ya necesariamente un valor resultativo y ha rigidizado su estructura
sintáctica, de modo que haber y el participio no son ya unidades
independientes (RODRIGUEZ MOLINA, 2004, p. 170).
Em confluência com as afirmações de Rodriguez Molina (2006), Azofra Sierra
(2006) discorre que a natureza de possessão desta forma, PPC, vai se extinguindo até
tornar-se apenas uma forma auxiliar:
El perfecto compuesto del español tiene su origen en la construcción
latina de habeo + CD + participio de perfecto referido a ese objeto y
concordando con él, por ejemplo en epistolam scriptam habeo; en su
origen, el significado sería ‘tengo escrita una carta’, con valor
resultativo. En la evolución posterior, el participio tiende a agruparse
con haber, que a su vez va perdiendo progresivamente su valor de
posesión, se desemantiza y se gramaticaliza hasta convertirse en simple
auxiliar (AZOFRA SIERRA, 2006, p. 152-153, grifos nossos).
Assim, ocorreu de maneira pragmática uma alteração de sentido, pois, unidas, as
formas habere + particípio apresentavam teor resultativo de uma ação que estava
categorizada pelo verbo, mas quando isoladas mantinham integralmente o seu valor
referencial. No entanto, houve uma redução do significado do verbo habere à composição
de auxiliar das formas compostas, ou seja, acompanhava o particípio para sintetizar um
único sentido, perdendo o caráter de independência léxica do passado.
A forma haber, empregada na perífrase (haber + particípio), corroborou na
constituição dos diferentes tempos compostos da língua espanhola, atribuindo novos
sentidos, de forma gradual, e corroborou também para delinear as formas perfeitas do
espanhol, conforme afirmado na Nova Gramática da Real Academia Espanhola (RAE):
38
los tiempos compuestos tienen su origen en una perífrasis verbal
resultativa que pasó a denotar anterioridad con respecto al punto de
referencia correspondiente. Según este proceso, el valor que
corresponde a HE CANTADO es el de anterioridad a un punto de
referencia situado en el presente. Este valor entra en claro conflicto con
el correspondiente a CANTÉ, que es el de anterioridad al punto del
habla[…] Existe coincidencia casi general en que la forma HE
CANTADO expresa la persistencia actual de hechos pretéritos,
mientras que la forma CANTÉ denota hechos anteriores al momento
del habla, pero relacionados con él (RAE, 2009, p. 1721, grifos do
autor).
Com a evolução da perífrase verbal, surge o valor de anterioridade, que passa a
fazer parte da composição temporal dos pretéritos, tanto do pretérito perfeito composto
quanto do simples. A oposição estabelecida entre esses tempos trata do momento da
enunciação, uma vez que estabelece um elo entre a forma he cantado com o presente,
apesar da ação ser perfectiva; enquanto a forma canté delimita ações que antecedem o
momento da enunciação, sem vincular sua ação ao tempo atual.
No período medieval, percebeu-se o traço aspectual de término do evento, de
completude da ação, o caráter perfectivo, indicando a finalização de uma ação. De igual
modo, a forma haber + particípio passou a estabelecer anterioridade em relação às ações
realizadas, ou seja, ao mesmo tempo que determina a completude dos eventos designa
anterioridade a um ponto do presente (cf. RAE, 2009).
As ideias expostas pela RAE confluem para a explicitação feita por Cartagena
(1999, p. 2944), sobre a mudança semântica ocorrida na época clássica quando a forma
haber + particípio “começa a expressar ação concluída imediatamente anterior ao
presente gramatical ou de maior distância temporal, mas cujo resultado guarda certa
importância para o sujeito até o momento da palavra”.
Todas essas significações contribuíram para os valores atuais do PPC. Rodriguez
Molina aponta 03 características inerentes ao PPC surgidas dessa evolução: o teor de
anterioridade, já que “todo tiempo compuesto expresa un evento previo al punto de
referencia temporal”; a marca de perfectividade, do ato de realização do evento, pois
“implica un límite temporal ya que indica um evento perfectivo delimitado, esto es,
acabado”; e a relevância presente, que ‘aproxima’ a ação de atualidade, pois “el evento
previo denotado por el tiempo compuesto es relevante para los participantes del discurso”
(RODRIGUEZ MOLINA 2004, p.173).
Esse limite temporal, remetido por Rodriguez Molina (2004, p. 173), está
relacionado a duas situações diferentes: quando “um evento télico alcança seu ponto final,
39
falamos de limite material”, ou seja, quando ocorre a culminação do evento, a concretude
da ação; ou quando tratamos de limite temporal, “quando um evento, não necessariamente
télico, se encontra delimitado temporalmente”, já que um evento não télico pode ser
definido como uma ação que ocorre de forma contínua, sem uma culminância, como por
exemplo, correr.
O desenvolvimento de sentido, e até mesmo de função, adquirido pela perífrase
que passa a ser uma construção verbal, é produzida pelo processo de gramaticalização, a
partir do mecanismo de reanálise6. Em que o processo de gramaticalização é “um
processo irreversível e gradual e em geral unidirecional, de enfraquecimento do
significado referencial das formas e aquisição de um significado gramatical mais
abstrato” (COMPANY COMPANY, 2010, p. 38).
Desse modo, para que ocorresse uma nova conceituação do termo aqui
investigado, houve uma mudança progressiva de um significado que inicialmente era de
teor resultativo, haber + pp, considerado uma perífrase, até atingir a forma verbal he
cantado, em que a união desses verbos gera um sentido único que estabelece
anterioridade; perfectividade do evento e relevância presente das ações representadas.
No entanto, para se alcançar esse estatus mais geral de gramaticalização, esse
processo se utilizou da reanálise, que, segundo Langacker (1977, 57-58 apud
COMPANY COMPANY, 2010, p. 37), significa:
el cambio en el estatus funcional de una forma o construcción sin que
necesariamente se produzca un cambio en la manifestación externa
formal, fónica, de la forma o construcción en cuestión. Un reanálisis es
una reinterpretación de las relaciones estructurales y semánticas que
una forma o construcción contrae con otras y supone un cambio en su
estatus categorial. Es una de las causas fundamentales, si no es que la
causa, de la creación de nuevas categorías en la gramática de una
lengua.
Portanto, o processo de reanálise retrata a mudança ocorrida com a construção
haber + pp, pois a forma dessa perífrase não sofreu alteração, mas sim uma modificação
para a categoria gramatical, sendo assimilados novos valores a sua configuração. Esse
processo de gramaticalização, de transformação de uma perífrase em uma categoria
gramatical, com novos valores, pode apresentar nuances diferentes quando voltamos à
história e verificamos diacronicamente os dados.
6 O termo adotado, reanálise, busca representar a forma que foi atribuída no espanhol, reanálisis, e que é
fundamentada segundo os preceitos expostos por Company Company (2010).
40
No período medieval, durante o processo de ressignificação desses valores, o PPC
apresentava dois valores no nível semântico-referencial: a) valor de pretérito abierto,
em que: “la acción verbal tiene inicio en el pasado pero continúa vigente en el presente;
b) valor de pretérito anterior al presente, cuando la acción verbal se inicia y se
concluye en un pasado próximo al momento del habla” (COMPANY COMPANY, 1983,
p. 240, grifos nossos).
A percepção desses valores da forma he cantado foram identificados por
Company Company em um estudo diacrônico do espanhol antigo (com textos dos séculos
XII ao XV)7. Com base nos dados investigados, ela define o 1) valor de pretérito abierto:
Conserva haber en este caso huellas de su significado originario de
presente. Cuando el pretérito perfecto compuesto tiene valor de
pretérito abierto, la acción verbal se inicia en el pasado pero continúa
abierta en el momento del habla y en algunos casos puede perdurar en
el futuro (COMPANY COMPANY, 1983, p. 254, grifos nossos).
Além desse valor, a autora assinalou que o PPC também foi percebido com o 2)
valor de pretérito anterior ao presente: “la acción verbal se inicia y se concluye en el
pasado, pero este pasado, que marca el límite de la acción, está próximo al momento del
habla (COMPANY COMPANY, 1983, grifos nossos).
A investigação de Company Company nos revela que o PPC já apresentava
matizes diferentes no espanhol antigo. Nos estudos de Company, a autora mostra
claramente o uso do PPC com duas funções diferentes no espanhol, entre os séculos XII
e XV, e provavelmente essas funções se expandiram pelos diferentes continentes, sendo
usados por diferentes critérios na Península e na América.
Esses dois valores apresentados por Company Company são percebidos em
diferentes variedades do espanhol. No México, conforme exposto por Lope Blanch
(1962), o caráter aspectual do PPC é “aberto”, enquanto na Espanha é utilizado com uma
forma polissêmica, sendo empregado tanto na forma de pretérito “anterior” quanto na
forma “aberta”.
Para o autor, quanto à diferenciação de uso entre o PPS e PPC entre a Península e
a América, “la oposición definitiva se basó, en América, en distinciones
fundamentalmente aspectuales (perfectiva la forma simple, imperfectiva la compuesta),
7 Os textos utilizados foram: Poema de mio Çid, Crónica general de Alfonso X, Libro de Apolonio; El
libro del cavallero Çifar; Libro de buen amor; Corbacho; La Celestina e diversos documentos notariais
(COMPANY COMPANY, 1983, p. 235).
41
mientras que, en España – en la norma castellana – se basó sobre todo en diferencias de
carácter temporal (remoto o próximo)” (LOPE BLANCH, 1962, p. 95).
A partir dos pontos elencados por Lope Blanch (1962) e Company Company
(1983), no próximo tópico, faremos uma descrição da caracterização aspecto-temporal,
para tentar situar os pretéritos PPC e PPS. Essa descrição objetiva nos levará à reflexão
sobre o aspecto das duas formas, PPC e PPS, no México, para verificar se elas mantém
esse aspecto temporal como diferenciador ou se há um mudança aspectual de sentido
entre os dois tempos.
2.2 A RELAÇÃO ASPECTO- TEMPORAL NAS FORMAS PP DO ESPANHOL
Nesta seção trataremos das relações aspecto-temporais que envolvem as formas
pretéritas do espanhol. Para tanto, realizamos uma divisão entre a conceituação de
temporalidade dos verbos, em seguida a conceituação de aspectualidade e como os
estudos envolvendo o conceito aspecto-lexical podem influenciar na compreensão dos
eventos, ou seja, na efetivação das ações.
2.2.3 A temporalidade verbal
Entender as relações de temporalidade contribui para que possamos nos situar no
momento em que ocorre uma determinada ação e consequentemente perceber o sentido
temporal estabelecido pelas formas verbais do espanhol, aqui investigadas.
A ideia de tempo linguístico, no espanhol, coincide com o tempo cronológico, ou
seja, o tempo das ações, dos acontecimentos e da sucessão de suas realizações. De acordo
com Benveniste (1965) apud Rojo e Veiga (1999), o momento da enunciação é chamado
de ponto zero, e é esse ponto ou esse momento que determina a simultaneidade das ações.
Além disso, tal autor considera que essa simultaneidade está num contínuo que apresenta
fatores anteriores e posteriores ao ponto zero da enunciação.
O
A S P8
8 Retirado de Rojo e Veiga (2009, p. 2874) gráfico 44.1. El tiempo verbal. Los tiempos verbales.
42
Conforme o gráfico apresentado, existe um ponto zero da enunciação que é
simultâneo às ações, e, ao mesmo tempo, nesse contínuo cronológico ocorrem momentos
de anterioridade ao ponto zero e de posterioridade que podem se distanciar ou se
aproximar do evento enunciado, apresentando que os eventos não acontecem de maneira
estática no tempo, mas que deslizam por esse contínuo.
No entanto, nem sempre é possível considerar o ponto de origem, o ato
enunciativo, como o
Top Related