Susanna Firth - Um amor na França (Prince of Darkness) (Julia 376) (PtBr)

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UM AMOR NA FRANÇASusanna Firth

Julia 376

Copyright: Susanna FirthTítulo original: Prince of DarknessPublicado originalmente em 1979 pelaMills & Boon Ltd., Londres, InglaterraTradução: William G. Clark

Copyright para a língua portuguesa: 1986Editora Nova Cultural Ltda. — São Paulo — Caixa Postal 2372Composta na Linoart Ltda. e impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril S.A,Foto da capa: Keystone

Depois daquela noite maravilhosa o destinolhes reservou uma surpresa

Carol despiu-se devagar, relutante em deixar que

ele a visse nua. Era bobagem sentir-seenvergonhada, mas não conseguia evitar.

Elliott sabia que a deixava perturbada e olhou-a comum ar divertido: “Ficou encabulada, Caroline?

Antes você não era assim?”

Num impulso, ela expôs o corpo perfeito, encarandoo ex-marido num desafio. O melhor era viver

apenas aquele instante de felicidade, esquecendo-se do passado…

PROJETO R EVISAR

Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos.Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente

proibida.Cultura: um bem universal.

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Digitalização: Palas AtenéiaRevisão: Nádia

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CAPÍTULO I

Carol suspirou, cansada, ao enxugar a testa. Começava a desconfiar quea excursão estava sendo mais um passeio do que outra coisa para o sr. e a

sra. Clarke, pois era a sétima casa que lhes mostrava nesse dia sem conseguirefetivar a venda ou encontrar uma que os agradasse por completo.O sr. Thompson a tinha prevenido quanto a pessoas que passam as

férias escolhendo propriedades que não têm nenhuma intenção de comprar.— Não, não serve. Ela é muito simples e pequena para o preço que

vocês estão pedindo, está em péssimo estado de conservação e temvazamento, uma infiltração de água na coluna do banheiro. Veja como aparede está úmida!

Parecia brincadeira: a exigente mulher tinha uma capacidade espantosapara encontrar um defeito onde não existia e assim desfazer o negócio. Nãoadiantava argumentar ou dar explicações. Foi com esforço que Carol conseguiuesboçar um sorriso profissional e sugerir a eles que fossem ver outraresidência.

— Não, definitivamente não! Vamos, Harry. Acho que já vimos obastante. — A velha afastou-se com o marido em direção ao carro enquantoCarol fechava a casa. — Foi falta de consideração eles mandarem uma meninapara nos acompanhar. Mulher e ainda por cima tão jovem. Não poderiaentender de nada mesmo.

Quando Carol os alcançou, fingiu não ter ouvido os comentários da sra.Clarks, que insitiu, olhando para sua mão esquerda, sem aliança:

— Se você tivesse um marido, queridinha, acho que teria uma noçãomelhor do tipo de casa de que um casal precisa.

— É possível — concordou Carol, contendo a raiva, e quase de imediatoteve uma idéia pra dar uma boa lição na abusada senhora. Ao sentar-se aovolante, arrancou violentamente, guiando a toda velocidade e mostrando suaperícia nas ultrapassagens perigosas.

Se tivesse um marido, pois sim. Se eles soubessem… Se lhes contasseque era casada há mais de cinco anos, será que teria a satisfação de ver a sra.Clark engolir suas próprias palavras? Duvidava um pouco. Tudo aquilo faziaparte da sua profissão. Eram os ossos do ofício.

Absorto por esses pensamentos, Carol guiava a mais de 80 por hora pelasinuosa estrada rural que ia do litoral para Arles; não escutava os apelos dovelho casal e de vez em quando dirigia-lhes um sorriso irônico. A estrada erade terra batida, e o carro ao passar àquela velocidade levantava uma nuvemde poeira vermelha. Não demorariam a chegar ao hotel que hospedava osClark. Até lá, ela queria deixá-los bem empoeirados.

Carol detestava o tipo de gente representado pela sra. Clarke, umamulher que não valorizava a independência das outras e que via no casamentoe na submissão ao marido uma solução de todos os seus problemasexistenciais. Eram pessoas fracas, que, para se afirmar, precisavam humilhar eespezinhar os outros, prevalecendo-se muitas vezes da sua condição social.

Ela lembrou-se de que já fora assim. Muito rica e casada. Recordou-sede Elliott, da primeira vez que o tinha visto numa recepção em Mayfair House,a luxuosa mansão de sir John Stephens, empresário, amigo de seu pai. Carol

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comparecera à recepção de má vontade, pois detestava as pessoas superficiaisque freqüentavam tais reuniões. Embora circulasse resignadamente entre osconvidados, não via a hora de poder se retirar.

Foi então que avistou a figura alta e forte de Elliott junto à porta, comsua pele bronzeada realçada pelo impecável traje de noite. Ele se mantinhaafastado dos demais convidados. Era óbvio que estava entediado e não faziamuito esforço para esconder isso. Seu ar taciturno refletia impaciência evontade de estar longe dali. Não parecia estar acostumado com frivolidades.

— Quem é ele? — Carol perguntou a uma amiga. Tânia às vezes era umacompanhia desagradável com seus comentários inoportunos a respeito de suasexperiências amorosas com pessoas famosas, mas agora até que seusmexericos poderiam ser úteis. Ela respondeu sonhadora:

— Ele é magnífico, não? É Elliott Grant, o financista de maior evidênciano momento em Londres. Iniciou sua vida como um brilhante protegido de sirJohn Stephens, motivo de sua presença aqui esta noite, mas agora caminhasozinho. Fez fortuna especulando na Bolsa de Valores.

— Sozinho, sozinho?— Está bem curiosa, hein, Carol? Não, ele ainda não se casou, se é issoque quer saber, embora uma infinidade de garotas o dispute. Acho-o muitodifícil de contentar, mas ele tem o direito, com toda essa presença einteligência. Está pensando em tentar a sorte?

— Quem sabe.— Então tome cuidado. Ele é uma parada difícil. Não costuma perder

tempo com quem não simpatiza.— Isso está me parecendo a voz da experiência!Tânia deu de ombros.

— Bem, se ele não quer saber de mim… tanto pior para ele.A moça afastou-se para se juntar a outras pessoas, deixando Carol livrepara aproximar-se de Elliott Grant.

— Olá. Eu sou Caroline Russell… Carol para os amigos. —Ela apresentou-se, meio sem-graça, incomodada por forçar a situação.

Ele a olhou com displicência. Pela primeira vez na vida Carol achou queia ser repelido, mas fez um esforço e continuou falando, sentindo-se atraídapor ele como nunca se sentira por nenhum homem antes.

Percebeu que ele a estudava e concluiu que o estava interessando. Carolsabia ser agradável. Era bastante atraente e possuía feições delicadas. Os

olhos, muito escuros, contrastavam com os cabelos loiros. E Elliott Grant nãoera um homem indiferente à beleza.Depois de uma discussão bastante interessante sobre a recente greve

dos mineiros, ele admitiu:— Você não é apenas um rostinho bonito, não é mesmo?— Você me acha bonita? Obrigada. Não sei de onde é que os homens

tiraram a idéia de que toda mulher bonita é burra.Ele tocou de leve em seus cabelos, provocando-lhe arrepios na espinha.— Não quis ofendê-la. Já estou cheio desta festa. Vamos sair daqui e

procurar um lugar mais tranqüilo?Sem esperar pela resposta ele foi buscar os casacos e então a levou a

um pequeno restaurante italiano. Depois do jantar, Eliott a levou para casa, ebeijou-a com tal perícia que a deixou fraca e entregue em seus braços.

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Naquele momento Carol compreendeu que ele era o homem de sua vida.Dois meses depois ele a pediu em casamento, e ela aceitou sem hesitar.

Mas os pais dela não ficaram entusiasmados com a idéia. Filha única, aos vinteanos, era nova demais para deixá-los, ainda mais para viver com um homemcomo Elliott.

A sra. Russell frisou cautelosamente:— Afinal, não se sabe nada sobre ele. E você é tão jovem, tão protegida,

Carol. Ele não serve para você, querida.O pai interferiu:— Acredite, Carol, eu conheço homens como ele. Você está querendo

mais do que pode controlar. Jamais vai conseguir Elliott. O que você podeoferecer a um homem experiente, sendo tão jovem e imatura? Ele vai secansar de você antes que se passe um ano.

— Acho que não, papai. Ele me adora e disse que nunca amou ninguémantes. Eu acredito em nosso amor. Vamos ser muito felizes.

Acostumada a fazer sempre o que queria, Carol acabou por conseguir oconsentimento, embora relutante, dos pais. Casada com Elliott, os problemascomeçaram. A princípio gostava de cuidar do pequeno apartamento quehaviam comprado num bairro elegante de Londres. Passava os dias arrumandoa casa e preparando novas receitas para oferecer a Elliott quando ele voltasse.À noite, quando as carícias apaixonadas dele a levavam à loucura, sentia-secompleta, feliz. Mas, quando a carreira em ascensão de Elliott começou aprendê-lo no escritório e em reuniões, Carol passou a achar a vida monótona eas brigas começaram. Acostumada com os pais, que lhe faziam todas asvontades, era uma nova experiência deparar com alguém que não secomportasse da mesma maneira. Elliott tentava explicar-lhe:

— Meu trabalho é importante para mim. Não posso largar tudo e vircorrendo para casa, só porque você está entediada e não consegue se distrairsozinha durante algumas horas. Arranje um emprego, se não sabe o que fazercom seu tempo. Sei que seus pais não gostariam de que você trabalhasse,mas seria bom para você sentir-se útil.

— Mas eu não sei fazer nada.— Pois saia e vá estudar… Já é hora de você ver um pouco da realidade

lá fora.— Eu não quero um emprego.— Então o que você quer, Carol?

— Elliott, você fala como se eu fosse uma garota mimada que não sabe oque quer! Não é nada disso.— Não é? Pois não é o que parece. Eu lhe avisei como seria. Você se

casou com os olhos bem abertos. Seus pais talvez tivessem razão tendodúvidas quanto a este casamento dar certo. Mas você se casou comigo assimmesmo. Seja madura e procure compreender.

— Eu casei com você porque o amo muito!— Eu a desejava. Ainda a adoro. Você me excita como nenhuma outra

mulher jamais conseguiu. Mas, se casou comigo pensando que podiatransformar minha vida, moldar-me a seu gosto, está muito enganada. Saibaque se casou com um homem de opinião própria, Caroline. Eu não estoudisposto a abandonar meus negócios só para levá-la para passear quandosente vontade. Se queria um filhinho de pais ricos que pudesse lhe fazer

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companhia a todas as horas do dia, deveria ter escolhido outra pessoa.— Você quer saber de uma coisa? Estou arrependida de não ter feito isso

mesmo! — gritou Carol.Não levou muito tempo para ela descobrir que Elliott era tão voluntarioso

quanto ela. Semanas foram passando, as diferenças entre eles cresciam eambos mostravam-se cada vez menos tolerantes um com o outro. Carolimaginava se Elliott não estava arrependido de ter se casado, se não desejavaser livre novamente. Achava que talvez estivesse sendo muito difícil para eleacostumar-se com apenas uma mulher.

Pelo menos por algum tempo, as coisas entraram novamente nos eixos.Carol passou a assistir aulas de estenografia e datilografia, e, quando concluiuo curso, começou a procurar emprego. Mas seu entusiasmo inicial ficouabalado quando confidenciou suas intenções à mãe, e a sra. Russell falou,divertida:

— Não acha que uma mulher recém-casada deve estar interessadademais no marido e na lua-de-mel para querer trabalhar fora quando não épreciso? Há algum problema entre vocês, querida?Carol apressou-se em negar:

— Oh, não… está tudo bem.Todavia, as discussões continuaram cada vez com mais freqüência e sem

nenhum motivo justo. No começo eles ainda conversavam sobre as diferençase se reconciliavam quando Elliott, cansado de discutir, a carregava para oquarto. Faziam amor até que a discussão ficasse esquecida no desejo quesentiam um pelo outro. Fisicamente, sempre fora capaz de satisfazê-lo,buscava o prazer na intensidade de cada toque e na esperança de que cadabeijo trouxesse a felicidade. Mas Carol aprendeu que um casamento é algo

muito mais sério e que não sobrevive apenas alimentado com sexo. Ela foipercebendo que, para ser feliz na cama, precisava antes ser feliz no dia-a-dia.A situação foi ficando insustentável, até que discutiram pela última vez.— Não cometa o erro de pensar que você é a única mulher que pode me

satisfazer na cama.Ela retrucou, entrando no quarto e começando a fazer as malas:— Nesse caso você não vai sentir minha falta depois que eu for embora,

vai? Eu já estou cheia, Elliott, ouviu bem? Vou deixá-lo e…— Vai para a casa da mamãe? É bem típico de você. No momento em

que não consegue ter aquilo que quer, abandona a luta e sai correndo para se

esconder atrás da barra da saia de sua mãe! Por que você não cresce?— Você nunca gostou de meus pais, não é mesmo? Acho que você seressente por eu ter sido criada numa família estável e segura, enquanto você…

— Vamos, continue. Diga o que está pensando. Eu estava esperando poreste momento. Não faça rodeios. Você é filha de pais ricos e tolos que sempresatisfizeram todos os seus caprichos, ao passo que eu vim de um orfanatoporque minha mãe não pôde me criar depois que meu pai a abandonou.

— Não precisa atirar isso em meu rosto como se fosse minha culpa. Vocêteve uma infância infeliz, e eu lamento por você.

— Não estou pedindo sua compaixão. Não conseguiria, mesmo que apedisse. Mas não se preocupe, pois sempre conheci o meu lugar. Sabia muitobem que não era digno de me casar com a grande Caroline Russell.

— Não é minha culpa se você possui complexo de inferioridade. Isso

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nunca fez a mínima diferença para mim.— Talvez não no começo. Mas eu estava curioso por saber quanto tempo

levaria para você ter suas dúvidas e a sra. Russell começar a encorajá-las.— O que quer dizer com isso?Ele deixou escapar uma risada amarga.— Sua mãe deixou bem claro, desde a primeira vez em que a vi, que não

me queria como seu marido. Infelizmente você me amava, e ela não estavaacostumada a lhe recusar nada, não é mesmo?

Carol sentiu-se enojada com o tom cruel da voz dele.— Eu não tenho que escutá-lo mais, Elliott. E nem pretendo escutar.

Nosso casamento foi um erro… e parece que nós dois concordamos pelo menosnisso. Não há mais nada a ser dito.

Ele encostou-se no batente da porta, procurando demonstrar indiferença,embora estivesse tão agitado quanto ela:

— Se me deixar agora, não pense que vou segui-la e suplicar para vocêvoltar. Arranjarei facilmente alguém para tomar o seu lugar.

Ela o olhou furiosa.— Pelo menos vamos variar um pouco. Geralmente sou eu quem temque fazer isso.

— O que você quer dizer com isso, exatamente?— Não acha óbvio? Você nunca estava por perto quando eu precisava de

você, estava? Estava sempre no escritório trabalhando até tarde em algumacoisa. Ou será que devo dizer “alguém”? Não fique admirado por eu terprocurado consolo nos braços de outro homem.

Se esperava deixá-lo com ciúmes, parece que ela fracassou. Impassível,Elliott definiu a conversa;

— Entendo. Então não há nada mais a ser dito, há? Pode continuar aarrumar suas coisas. — Virou-se rápido e deixou-a.Carol ouviu quando abriu o armário de bebidas e se serviu de um

drinque. Estava obviamente buscando se embriagar. Ela desejou fazer omesmo, mas se conteve.

Com sua mala feita e fechada, parou para pensar. Como pôde dizer umacoisa dessas? Havia mentido para feri-lo; quando perdia a paciência era capazde dizer coisas que não pretendia. Com a intenção de apaziguar as coisas,entrou hesitante, na sala de estar.

Elliott estava esparramado na poltrona, com um copo na mão e uma

garrafa de uísque na mesinha ao lado, Ele pousou o copo na mesa comimpacto.— Está pronta para sair? Quer que eu chame um táxi ou prefere

telefonar para a mamãe e lhe pedir que mande o chofer para buscá-la?Ele não tinha nenhuma intenção de recuar. Então por que ela devia

tomar a iniciativa? E, com um orgulho irredutível, que amaldiçoou durantemeses depois disso, apanhou a mala e despediu-se num tom frio e seco:

— Nenhum dos dois, Elliott. Prefiro andar. Preciso de um pouco de arpuro e limpo para compensar a atmosfera carregada daqui de dentro.

— Como queira. Adeus, Caroline.Dirigindo-se à porta e ignorando a mão estendida dele, ainda tentou:— Eu não consegui arrumar tudo. Estava com pressa de sair…— Pode vir buscar o que quiser mais tarde. Eu não quero nada.

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— Sim, farei isso. — Como era difícil a separação! O simples fato deolhar para Elliott deixava-a fraca. Ela o desejava com desespero, contudo omaldito orgulho falava mais alto.

— Se quiser ir embora, vá agora.Se quiser ir embora? Será que ele achava que ela estava brincando?

Será que se achava tão irresistível que ela engoliria seu amor-próprio e ficaria?Se pelo menos fizesse um único movimento, se dissesse apenas uma palavrareconciliadora… Mas ele não disse nada.

— Adeus, Elliott — despediu-se com a voz entrecortada. Então,entorpecida pela angústia, encontrou força suficiente para sair da vida delesem olhar para trás.

A mãe de Carol ficou maravilhada ao ver a filha de volta. Embora nãodissesse explicitamente “eu bem que avisei”, a sra. Russell não se mostroumuito surpresa e ficou feliz em recebê-la. Ofereceu à filha carinho e conforto,porém jamais sugeriu que uma reconciliação pudesse ocorrer. E mal conseguiudisfarçar sua satisfação ao dizer:

— Então você o deixou, Até que o casamento durou bastante. Seu pai eeu sabíamos que não daria certo, mas você insistiu em se casar com Elliott.— Eu o amava — protestou Carol.— Mas será que ele a amava, querida, ou foi só uma atração física? Oh,

sei que ele gostava de você a ponto de querer se casar, mas isso seria de seesperar tratando-se de uma moça de sua linhagem…

— Não está acabado. Não pode estar… Contudo, os dias foram passando,e Elliott não a procurava. Parecia que sua mãe tinha razão. Ele talvez não seimportasse mais. Talvez tivesse até encontrado outra pessoa, outra paixão. Foicom surpresa e muita dor que Carol admitiu o fato de que Elliott não ia dar o

primeiro passo. Se o queria de volta, cabia a ela tomar a iniciativa. Deveria irprocurá-lo, explicar que agira precipitadamente… sugerir que tentassem denovo.

Quando Carol disse à mãe que pretendia voltar ao apartamento, com adesculpa de ir apanhar o resto de suas coisas, a sra. Russell comentou:

— Acho que você está cometendo um grande erro, querida. Mas vá, sequiser.

Ela escolheu o começo da noite, hora em que tinha certeza de encontrarElliott em casa. Usando o vestido de que ele mais gostava, foi ao apartamento.Seu coração batia forte ao subir a escada até o segundo andar. Parou durante

alguns segundos diante da porta, respirou fundo e tocou a campainha. A portafoi aberta com impaciência, e ele a olhou abismado.— Caroline!— Sim. Eu…— Pensei que você não fosse mais voltar.— Eu vim vê-lo, Elliott. Será que não podemos tentar de novo? Estou

certa de que se nós dois tentássemos, se quiséssemos que desse certo, nósteríamos uma chance. Eu menti para você. Sempre fui sua. Não pertenci aninguém.

Carol ficou aguardando a reação. Até se iludiu pensando que havia emseus olhos um brilho que anunciava a reconciliação entre eles. Mas, ao seaproximar para beijá-lo, uma voz estranha soou dentro do apartamento.

— Elliott, querido, não consigo encontrar… — As palavras foram

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interrompidas quando uma ruiva bonita, usando um sumário roupão atoalhado,apareceu no hall e percebeu que Elliott estava com a porta da frente aberta. —Oh, desculpe! — Ela desapareceu na direção do quarto, fechando seu robe nafrente.

— Liz! — Elliott chamou. Então se virou de novo para Carol, sem saber oque fazer.

— Vejo que você não perdeu muito tempo procurando uma substitutapara mim.

— Escute, Caroline, não é o que você está pensando…— Ah, não? Não me venha com essa, Elliott. Eu não nasci ontem. Você

bem que me avisou que isso ia acontecer. Só estou surpresa por terencontrado alguém tão depressa. Fui mesmo uma tola, não? Tinha meesquecido de como sempre teve sucesso com as mulheres.

— Se você apenas pudesse entender…— Eu já entendi tudo.Amargurada com a cena que acabara de testemunhar, ela saiu correndo

para não ter que chorar ali mesmo. Pensou ter ouvido Elliott chamá-la mas nãoparou. Não estava disposta a ouvir nenhuma desculpa esfarrapada.Ao chegar à rua apanhou um táxi e voltou para a casa dos pais.Na solidão do quarto, que era seu desde criança, chorou inconformada

pela traição de Elliott. Foi lá que sua mãe a encontrou horas depois, e disse,enxugando-lhe o rosto:

— Ele não merece suas lágrimas, minha filha. No futuro, espero que vocêse oriente por mim e por seu pai. Acredite nós queremos o melhor para você.Há uma vida inteira pela frente e logo se esquecerá de Elliott Grant.

Durante algum tempo esperou que Elliott oferecesse alguma explicação

sobre seu comportamento, mas ele não veio pedir desculpas. Quando, um dia,o resto de seus pertences foi trazido, sem ao menos uma carta dele,compreendeu que era hora de procurar esquecê-lo.

Atendendo a um pedido da mãe, acompanhou-a numa prolongadaviagem pela Europa. Depois de seis meses de ausência, elas retornaram àInglaterra. Carol voltou mais conformada. Ela sabia que estava longe deesquecer Elliott, pois ainda a perturbava em seus sonhos, mas estava decididaa iniciar uma nova vida.

Sabia que teria que pedir o divórcio mais cedo ou mais tarde. Pensou empedi-lo com base no adultério de Elliott com uma mulher desconhecida, mas

desistiu da idéia ante a perspectiva de ter que se defrontar com ele notribunal. E, para que o divórcio, se não pretendia se casar tão cedo com outrohomem?

Então pensou em arranjar um emprego no exterior. Achava que umtrabalho num ambiente diferente talvez a ajudasse a esquecer seu casamentodesastroso e a recobrar-se do sofrimento. Carol preparou-se para discutirsobre isso com a mãe, mas, estranhamente, a sra. Russell não se opôs, e atéusou seus contatos para conseguir para a filha uma entrevista numacompanhia imobiliária de Londres, especializada em vender casas de veraneioem várias partes da Europa. Comentou com Carol:

— Bem, eles têm outros candidatos para esse cargo na França. MasSerena Davenport me garantiu que o emprego é seu, a menos que você semostre totalmente incompetente. Chegou a me prometer isso.

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Carol protestou:— Mas isso não é justo. E quanto aos outros candidatos?— Eles fariam exatamente à mesma coisa se estivessem era seu lugar,

E, francamente, querida, já que está mesmo resolvida a arranjar um emprego,é melhor aproveitar. Você não vai ter muitas oportunidades sem estarqualificada.

Carol pensou melhor e compreendeu que a mãe tinha razão. Apesar deter tido uma educação aprimorada com, inclusive, um curso decomplementação de dois anos na Suíça, ela não tinha prática em nenhum tipode trabalho, pois nunca precisara preocupar-se com essas coisas. Mais umavez sentiu saudades de Elliott e começou a entender por que ele lhe dizia queera mimada.

Foi à entrevista demonstrando uma confiança que estava longe depossuir e sentiu-se aliviada ao ser aprovada graças aos seus conhecimentosgerais e seu domínio perfeito da língua francesa. Após um breve período detreinamento nos escritórios de Londres, ela seria enviada a Provença, duranteos meses de verão, com possibilidade de permanecer lá se trabalhasse comafinco e demonstrasse aptidão para os negócios.

Tudo isso acontecera há mais de quatro anos, e agora estava efetivadana Provença, uma terra que passou a amar e admirar com o tempo. Era umlugar quente, de luz intensa, onde a beleza natural contrastava com a pobrezadas aldeias. A região, muito antiga, se estendia desde os pântanos planos daregião costeira, onde os famosos cavalos brancos da Camergue perambulavamlivremente, até as aldeias, espalhadas nas colinas despidas, onde oscamponeses trabalhavam a terra como seus ancestrais já faziam há séculos. AProvença era uma terra que os romanos haviam conquistado e dominado, e

que agora recebia milhares de turistas todos os anos.Carol apreciava seu trabalho, pois ele se constituía num desafio, e elageralmente se dava bem com os clientes que tinha que acompanhar. Uma ououtra vez deparava-se com uma sra. Clarke. Pensou consigo mesma que nemtudo era perfeito. Claro que os Clarke eram uma exceção. Mas até então umadas principais vantagens do emprego fora a grande quantidade de amizadesque fizera, muitas delas entre clientes da empresa para a qual trabalhava.Masaté o momento nenhum outro homem havia conseguido conquistar seucoração como Elliott. No entanto, ela não vivia mais reclusa como uma freira,como quando chegou à França.

Agora aceitava convites e havia construído uma vida socialrazoavelmente ativa. A garota insegura, que havia saído das ruínas de seucasamento determinada a se erguer sobre seus próprios pés, havia crescido eaprendido a enfrentar tudo aquilo que a vida lhe apresentasse.

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CAPÍTULO II

A vida, afinal, não podia reservar-lhe surpresa pior que os Clarke,pensou Carol com um sorriso, parando abruptamente o carro em frente ao

hotel cinco estrelas. Ajudou-os a sair e se despediu certa de que havia lhesdado uma lição para o resto de suas vidas. Os Clarke agradeceram de mávontade, batendo a poeira do corpo e ameaçando fazer outra visita aoescritório na manhã seguinte.

Carol, decepcionada com aquela insistência, lembrou que era sua vez depermanecer no escritório para cuidar da papelada e ficou aliviada.

— Sim, façam isso, Teremos muito prazer em ajudá-los. Meu colega,monsieur Pinot, ficará encantado em lhes mostrar outras casas.

— Bem, pelo menos será bom se um homem nos acompanhar paravariar. Tomara que ele dirija mais devagar — disse a sra. Clarke, satisfeitacom a idéia.

— Apesar de ser estrangeiro — acrescentou o marido, indeciso, semperceber o absurdo de sua afirmação. Afinal eles eram os estrangeiros.

Pobre jules, Carol pensou, ao sair com o carro. Ele ia ter problemas se osClarke resolvessem continuar procurando casa amanhã.

Ainda estava sorrindo quando estacionou o carro perto da praça onde aMcIlroy & Wentworth tinha seu escritório. Depois do sol ofuscante de fora, o arcondicionado do escritório foi um alívio. Sentou-se em sua cadeira e tirou ossapatos com um ar de abandono.

— Então você finalmente voltou.Jules, o corretor de imóveis mais antigo da firma, levantou-se de sua

mesa atulhada de papéis disposto a conversar.— Acha que eu me perdi de novo? Deixe disso, Jules, sou uma menina

crescida agora.Carol sorriu-lhe com afeto. Apenas dois anos mais velho que ela, Jules

Pinot era um bom colega de trabalho, embora fosse também brincalhão e umtanto malicioso. Possuía um senso de organização que Carol muitas vezesinvejava quando se atrapalhava com a papelada e era obrigada a pedir suaajuda. Ele, sempre solícito, a ajudava com prazer e não perdia a chance parainsinuar que o bom relacionamento entre eles poderia se estender até depoisdo horário de expediente. Carol se fazia de desentendida e nunca aceitava oconvite, relutante em misturar o trabalho com a vida social, e Jules recebia suadecisão sem rancor. Carol sabia que não lhe faltava companhia feminina; eletinha charme e agradava a maioria das mulheres.

— Você demorou para voltar — disse o rapaz, consultando o relógio deparede.

— Eu tive problemas com um casal de ingleses que levei para veralgumas casas. Eles vão voltar amanhã e não o invejo por ter que levá-los. —Ela contou os acontecimentos do dia, esperando que Jules achasse graça.Então, percebendo que ele não parecia muito interessado no que estavadizendo, parou de falar e perguntou: — Jules, houve alguma coisa?

Estudando-a por alguns momentos com seus olhos castanhos, elerespondeu:— Acho que sim. Será que você lhe causaria melhor impressão do que

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eu? Ele parece ser simpático para as mulheres.Carol olhou-o, perplexa, sem entender.— Quem? De quem está falando?— Do chefão da matriz, que chegou esta tarde. Acho que devíamos ter

desconfiado depois que a Prospect Properties assumiu o controle da firma.Você se lembra de toda movimentação que houve?

— Sim.Carol recordou do rebuliço e da agitação por que tinham passado. O sr.

Thompson, seu chefe, trabalhando há trinta anos no ramo imobiliário, haviaficado com medo de ser despedido e substituído por um homem mais jovem.Apesar de seu ar despreocupado e confiante, Jules também ficara preocupado.E a própria Carol, a que tinha menos a perder, também ficou inquieta, poisreceava voltar para a casa dos pais, abandonando a independênciaconquistada a duras penas.

— Tudo aconteceu de uma hora para outra. Enviaram uma circular atodas as filiais comunicando a compra da McIlroy & Wentworth, e nós nãoouvimos mais falar na fusão. Então, o que há de errado agora?— Quem sabe? Ele chegou de repente, entrou como se fosse dono dafirma e dirigiu-se a mim como se eu fosse um office-boy. Ficou bastanteaborrecido por não encontrar monsieur Thompson.

Carol fez um trejeito. Já estava bem acostumada com os hábitos do sr.Thompson e com seus longos intervalos no horário do almoço. Intervalos quese estendiam, ao estilo provençal, até quase o fim da tarde,

— E daí, o que aconteceu?— Oh, dei algumas desculpas, mas ele evidentemente não aceitou. Falei

que monsieur Thompson tinha saído com um cliente e que não ia demorar.

Então nos sentamos e ficamos olhando no relógio os minutos passarem.Quando monsieur chegou, às três e meia, recendendo a vinho, não deve tercausado uma boa impressão.

— Sem dúvida.— Eles estão fechados na outra sala, e desconfio que monsieur

Thompson está levando o mesmo sabão que eu levei por estar com os pés emcima da mesa quando o homem entrou. É bobagem esperar que trabalhemosno mesmo horário de Londres aqui no sul da França, mas ele parece nãoconcordar com nosso ponto de vista.

— Quer dizer que ele ainda está aqui?

— Psiu! Fale baixo.— Mas já passa das cinco. O que ele pode estar dizendo ao sr. Thompsonaté agora? — Claro! Olhou-o, apreensiva. — Ele pediu para me ver?

— Exigiu é uma palavra mais apropriada. Eu lhe disse onde você estava.Acho que vai chamá-la depois de terminar com nosso “caríssimo” chefe. A nãoser, é claro, que você queira entrar e anunciar sua chegada ao escritório.

— Não, muito obrigada. Pelo que acabei de ouvir posso adiar o prazer deconhecer esse bicho-papão da matriz. Mas como é ele? É velho ou jovem?

Seu colega olhou-a com ironia.— Está planejando sua estratégia de acordo?— Não há nada melhor que conhecer o inimigo antes de enfrentá-lo.

Então?— Ele não é nenhum velhinho rabugento com um coração de ouro, se é

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isso que está esperando. Eu diria que tem uns trinta e poucos anos, e agecomo se fosse o dono do mundo. Como deve ter concluído, eu não gosteimuito dele. Mas você… — Ele interrompeu o que estava dizendo para lhe lançarum olhar malicioso,

— Mas eu o quê?— Você talvez sinta outra coisa por ele.— Por quê?— Ora, acredito que não há num raio de cinqüenta quilômetros uma

mulher que seja imune a ele. Deve arrebatar os corações, pois possui aaparência de um dom-juan.

— Por que esse ar de inveja, Jules? Você também não é lá muitoimpopular no que diz respeito às mulheres.

— Com honrosas exceções…— Bobagem. Eu me recuso a levá-lo a sério, e você deve se alegrar por

isso. Agora, fale mais sobre ele.— Ele é do tipo por quem as mulheres se apaixonam. E talvez passe uma

boa parte do tempo explorando esse fato. Mas Elliott Grant não parece tolo oufútil apesar disso, Carol. Ele não é um boboca qualquer que se deixa ludibriarpor um rosto bonito.

Carol arrepiou-se e o sorriso desapareceu-lhe do rosto. Devia terentendido mal.

— Que nome você mencionou?— Elliott Grant.Não era possível! Por um instante pensou que fosse outro homem com o

mesmo nome, então descartou a idéia imediatamente. A descrição que Juleslhe forneceu se ajustava como uma luva a Elliott. Ele agia de fato como um

deus. Quase cinco anos de separação, durante os quais ela pensara que tinhaaprendido a enfrentar a tudo e a todos. No entanto a idéia de rever Elliottpunha-a temerosa. Sentiu o sangue sumir das faces, e lutoudesesperadamente para não desmaiar. Não queria encontrá-lo perturbada.Queria estar perfeitamente lúcida para a inevitável confrontação. Era agorauma mulher calma, dona de si, e não mais uma garota ingênua. Mas por quediabos não conseguia parar de tremer?

Foi desperta pela voz ansiosa de Jules, que se curvou sobre ela.— Carol, você está bem? O que houve? Está se sentindo mal? Quer que

eu vá buscar um pouco de café?— Oh, não, obrigada. Eu já vou melhorar, Jules. Acho que tomei muitosol. Hoje está quente demais, e os Clarke escolheram justamente o meio dodia para ver as casas.

Jules olhou-a, preocupado.— Quantas vezes já lhe disse para usar um chapéu, chérie? Com essa

pele clara, você só vai arranjar encrencas se andar com a cabeça descoberta.Mas você é sempre tão teimosa, tão inglesa… O que vou fazer com você, hein?— Ele sentou-se na mesa e segurou-lhe a mão, erguendo a outra para afastaras mechas de cabelo do rosto de Carol, — Quer que eu…

Carol ficou sem saber o que ele ia sugerir. Nenhum dos dois havianotado que a porta da sala ao lado estava aberta e que dois homensapareceram, até que o tom de voz chocado do sr. Thompson interrompeu-os.

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— Srta. Russell! Monsieur Pinot! Por acaso perderam o juízo? Carol, coma respiração suspensa, se afastou bruscamente de Jules, corando. Uma vozmasculina interrompeu o silêncio constrangedor.

— Então esta é a esquiva srta. Russell.Foi com esforço que ergueu a cabeça e olhou para ele. O sr. Thompson

fez as apresentações:— Srta. Russel, este é o sr. Grant, da matriz de Londres.O chefe, que normalmente tratava o pessoal de maneira informal, estava

tenso e reprovador. Carol calculava que ele havia passado por uns mausbocados com Elliott, e achou que aquela cena no escritório só iria piorar asituação.

Ao seu lado, Jules se recuperava, tentando explicar o acontecido.— Não é o que estão pensando. Nós estávamos apenas… Elliott,

enérgico, interpelou-o:— Eu tenho olhos, monsieur Pinot. Vi muito bem o que estavam fazendo.

Já lhe falei antes sobre perder tempo no escritório. Se não quiser começar aprocurar outro emprego, eu sugiro que pare de brincar e comece a trabalhar.Impetuosamente, Carol foi em defesa de Jules.

— Ele só estava procurando ser útil!O olhar frio de seu marido voltou-se para ela:

— No futuro é melhor que ele deixe seu cavalheirismo para depois doexpediente. A senhorita se aproveitará menos das gentilezas dele a partir deagora. Nesse meio tempo eu gostaria de conversar sobre seu trabalho… sepuder me dedicar um pouco de seu tempo.

Ela abriu a boca para dar uma resposta áspera, mas só conseguiu dizer:24

— Certamente. ,wieixo com que ti-Levantou-se depressa e tentou calçar os sapatos com pressa. Tentantomanter a aparência fria e profissional.Quando afinal entraram na sala, ela

per guntou, quebrando o silêncio:— O que está fazendo aqui?Ele preferiu mudar de assunto: _— Você não mudou, Caroline. Continua

atraente e gosta que os homens reconheçam isso. Você então tira vantagemdeles.

Ela deu uma risadinha curta.— Uma vez vista, jamais esquecida… e o que mesmo? Você se mostra

socialmente bastante ativa. Ou estarei enganado?— Quem é jules? _— Ele não é meu namorado.

_— Não? Então a ceninha terna que acabei de testemunhar nãosignificou nada para você?

— Em absoluto.— De onde eu estava diria que significou muito para ele. Será que o

pobre trouxa sabe que você não liga a mínima? Que ele só serve para diverti-lano escritório quando está entediada? Quantos outros a esperam em casa?

— Não fale asneiras! Tenho trabalhado muito desde que cheguei aqui.Pode ver que o sr. Thompson não tem nenhuma queixa a meu respeito.

— Muito pelo contrário, sempre elogiou muito o seu trabalho nosrelatórios que enviou à matriz. Mas resta descobrir o que há de verdade no

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que ele disse. Conhecendo-a como conheço, acho que os elogios dele nãovalem nem o papel onde foram escritos.

— Você não me conhece mais, Elliott. Cinco anos é muito tempo. Eu nãosou quem você pensa.

— Eu tenho as minhas dúvidas. Dá para notar que você quer o mundogirando a sua volta. Bem, talvez tenha fascinado Thompson a ponto deludibriá-lo, mas acho que vai descobrir que eu sou um osso duro de roer. Souimune às suas manhas. Você é minha esposa, lembra?

— Eu fui sua esposa, você quer dizer.— Não aos olhos da lei.— Nenhum de nós se casou de novo até agora. Porém, um divórcio com

base em nossa separação será apenas uma formalidade quando precisarmosser livres. Não se preocupe Elliott, nada nesta terra me induziria a voltar aviver com você.

— Eu não lembro de ter pedido isso. Depois do fracasso do nossocasamento, acho que teria sobrevivido muito bem sem vê-la pelo resto davida. — Se pensa desse modo, estou surpresa de que não tenha me evitado.

— Quando se tratam de negócios, os sentimentos pessoais passam paraum segundo plano — Elliott falou, lembrando o pai de Carol.

— Claro. Como pude me esquecer de sua devoção ao mundo dosnegócios? Mas me diga uma coisa, Elliott, você é feliz dedicando todo seutempo às finanças? Esse sucesso todo compensa sua vida vazia?

Carol estava brincando com fogo e sabia disso. Mas ele a surpreendeu.Aparentemente indiferente à sua provocação, apenas olhou-a com umaexpressão irônica.

— Por que pensa que vivo em solidão? Lamento destroçar suas ilusõesde adolescente, Caroline, mas não tenho nada do que me arrepender.Ela hesitou, percebendo que tinha sido ingênua. Sabia muito bem que

Elliott não era homem de se privar de companhias femininas. Lembrou-se dabonita ruiva que encontrara no apartamento dele.

— Você não me procurou para falar em divórcio, Elliott.— Não foi preciso. Querida Caroline, pensei que até você soubesse que

um homem não precisa pedir uma mulher em casamento para ir para a camacom ela.

— Não seja ridículo!

— Eu só quero esclarecer isso para sua mente ingênua, mas você não éignorante nesses assuntos, não é mesmo?— Não posso ser ignorante, vivendo num país onde todo homem que

encontro se mostra disposto a melhorar minha educação romântica.Ele riu e aproximou-se.— Pensei que o romance não entrasse muito nisso. Ou será que luzes

suaves e música doce são uma parte necessária no cenário da sedução? Talvezpara aliviar as dores de consciência por ter largado seu marido.

— É muito difícil. Depois de todo esse tempo de separação, seria quaseimpossível me lembrar de seu rosto.

— Ou então dos rostos dos incontáveis amantes…Num impulso, ela o esbofeteou.— Como se atreve?!

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— Como me atrevo? É muito fácil, Caroline, acredite. Você precisaaprender que quando provoca um homem, ele pode reagir à altura.

— Se me bater eu grito — ela avisou, recuando. Elliott segurou-a pelosombros e puxou-a para si.

— Eu nunca bati numa dama, embora não saiba ao certo se você seencaixa nessa categoria, mas é o que vai acontecer se tentar fazer isso denovo.

Ao ver o rosto dele se aproximar, ela redobrou seus esforços para sedesvencilhar. Em vão. Então os lábios dele aproximaram-se dos seus com umarapidez que não lhe permitiu se afastar. Foi um beijo duro, amargo, de umhomem ferido a quem ela nunca deveria ter provocado.

Ele a pressionou mais para perto de si. Carol agora também lutavacontra si mesma, determinada a não sucumbir à voz interior que insistia emque parasse de resistir, que se entregasse ao êxtase insano que os beijos delelhe provocavam.

Logo o beijo terminou. Ele a afastou como se sua imagem o enojasse.Respirava irregularmente, mas estava perfeitamente controlado. Quando Caroloscilou para trás, ele puxou uma cadeira e ordenou:

— Sente-se antes que caia.— Está tudo bem. Não vou desmaiar — Carol obedeceu.— Fico aliviado, em ouvir isso. Um único beijo normalmente causa esse

efeito em você?— Você não se lembra? Ou será que beijou tantas mulheres desde que

parti que não sabe distinguir entre elas e mim?— Tome cuidado! Eu já preveni, Caroline. A culpa vai ser só sua se me

provocar de novo.

Ela levou a mão aos lábios, que ainda doíam, e procurou se recompor.Levantou os olhos e baixou-os rapidamente ao ver que ele a observava.— Você não costumava achar meus beijos tão ofensivos.— Se bem me lembro, eu costumava ter escolha.— Procure se recompor e pare de agir como se eu tivesse tentado

violentá-la.— Eu não sabia que os direitos dos senhores feudais ainda prevaleciam e

que seria obrigada a me submeter aos abraços de meus chefes como parte deminhas obrigações. Perdoe-me por não me mostrar mais disposta. Suponhoque deva lhe agradecer pela honra que me concedeu.

— Isso não vai se repetir… se você se comportar. Nós já passamostempo suficiente trocando amabilidades. Acho bom começarmos a falar denegócios.

— Já podíamos ter feito isso se dependesse de mim.— Acha que seremos capazes de nos comportar como dois adultos

sensatos durante os próximos minutos? Tenho muito que fazer e já perdibastante tempo por hoje.

— Pode falar, prometo não interromper.— Caroline, quer você goste ou não, vou ficar aqui durante os próximos

meses para incrementar as vendas. Quando soube que estava trabalhandoaqui, percebi que seria embaraçoso para nós no começo, mas espero quetenha juízo suficiente para contornar as coisas, como pretendo fazer.

— O seu comportamento de agora há pouco foi uma prova disso, é?

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— Eu apenas lhe dei uma amostra do que esperar se preferir criarproblemas. Se aceitar a situação, eu a tratarei como uma pessoa crescida enão como uma pirralha mimada. O que você prefere?

— Eu não tenho muita escolha, não é mesmo? Está bem, estou dispostaa agir convenientemente. Aliás, eu me sentirei mais do que feliz em esquecerque houve alguma coisa entre nós. Voltei a usar meu nome de solteira quandocomecei a trabalhar para a McIlroy & Wentworth, de forma que não há perigode os outros saberem. No que me diz respeito, eu nunca o vi antes. Isto osatisfaz?

— Plenamente.— Muito bem! Não gostaria de que seus chefes na matriz o acusassem

de favorecer uma funcionária subalterna por estar casado com ela. Podeatrapalhar suas chances de promoção.

— Acho muito difícil.— Por acaso acredita que eles o têm em tão alta conta que não

deixariam de promovê-lo? _— As pessoas da matriz fazem o que eu mando. Suas idéias a meurespeito, favoráveis ou não, pouco me interessam.— Você sempre foi muito arrogante, Elliott. Precisa agir como se fosse

dono de todo o espetáculo?— Neste caso, sim, Carol.— Quer dizer que…?— Sim, eu sou a própria Prospect Properties — ele falou com certa

satisfação.— Meus parabéns. Você deve ter trabalhado muito.— Eu geralmente consigo o que quero.

— Sim… suponho que sim. Apenas uma coisa me intriga: agora, quevocê é o chefão, não sei por que se preocupar com este cantinho de seuimpério.

— Eu gosto de cuidar dos pequenos detalhes, como vai perceber quandoeu assumir todo o controle do escritório daqui. Vou examinar cada detalhe deseu funcionamento no dia-a-dia.

— Espero que ache um exercício proveitoso.Ele se levantou, e Carol fez o mesmo, instintivamente.— Eu também espero. Acho que é só isso por enquanto. Tem mais

alguma pergunta?

— No momento, não, obrigada — respondeu ela, estendendo a mão paraa maçaneta da porta.— Caroline…— Sim?— Não se prevaleça de nosso passado. Ele está morto e enterrado. Não

vou ajudá-la a sair de qualquer apuro em que se meter. Espero um trabalhoduro de meu pessoal e não faço concessões… a ninguém.

— Não se preocupe. Tirar vantagem de você é a última coisa que mepassaria pela cabeça. De você só quero uma coisa: distância. — Sem olharpara trás, ela foi para a outra sala, onde chorou copiosamente.

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CAPÍTULO III

Já passava muito do fim do expediente, e o sr. Thompson havia saído,ansioso para chegar em casa e recuperar-se das experiências desagradáveis

do dia, mas Tules esperava por Carol com ansiedade.— Chérie, tudo bem? Estava preocupado a imaginar o que ele pretendia,lá dentro, com você.

— Não precisava se incomodar, Tules, sedução é uma coisa que nuncapassaria pela cabeça dele. Na verdade, o sr. Grant pensou em me esganar pelomenos umas duas vezes.

— Pensei que estivesse interessada nele.— Enganou-se. Nunca antipatizei tanto com alguém. E vamos sair daqui

antes que ele apareça.— Eu a levarei até sua casa — ofereceu-se Jules.Pela primeira vez, Carol não o desencorajou. Depois do choque de rever

Elliott, precisava de companhia.Saíram do escritório e atravessaram juntos a praça, rumando para a

parte mais antiga da cidade. Jules a havia censurado quando ela rejeitou aoferta de ter seu próprio apartamento a pouca distância do escritório. Zombarade sua preferência pelos alojamentos da bondosa madame Martin, numa dasvelhas casas de tijolos vermelhos perto da catedral, dizendo que se tratava de

“'tolice sentimental”.Carol tinha achado graça e discutira com o amigo, embora não tivesse

nenhuma intenção de mudar de idéia. Estava cansada de permitir que outraspessoas se metessem em sua vida. Nada a impediria de pôr em prática suaspróprias idéias.

— É a atmosfera do lugar que me fascina. Já pensou nas pessoas queviveram aqui há mais de dois mil anos? Provavelmente gente comum que saíapara ganhar a vida, como você e eu.

— Estou surpreso de que ainda não tenha ido morar numa choupana debarro, como eles — disse o francês, brincando.

— Não seja bobo, Jules. Os romanos foram construtores de váriosedifícios maravilhosos daqui. Veja só o teatro que eles construíram quandocolonizaram Arles. Fizeram-no suficientemente grande para acomodar doze milpessoas e…

— Poupe-me os detalhes, por favor. Tudo que sei é que agora é apenasmais uma ruína velha sem utilidade para ninguém. Já é hora de pôr abaixo oque resta dele e construir alguma coisa moderna em seu lugar.

— Apartamentos de veraneio, suponho. Você aprovaria isso? Estáfalando a sério, Jules?

— Sim, aprovaria. Eles seriam muito mais úteis.— Seu mercenário insensível — ela desistiu de tentar convencê-lo do seu

ponto de vista.Era bobagem perder a paciência com Jules; ele fazia piada de tudo. Seu

modo jovial contribuía para o bom relacionamento deles no escritório, pois se

adaptava bem ao temperamento explosivo de Carol.Mas as coisas não seriam harmoniosas dali para frente. Elliott ficariameses na França, e Carol tinha um forte pressentimento de que esse período

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não seria nada calmo. O primeiro contato com ele tinha sido uma boa amostradisso.

— Então você também não agradou Elliott Grant, Carol?— Creio que não.— E eu que pensei que o deixaria enfeitiçado. O homem é cego ou não

gosta de mulheres bonitas?— Vai ver que ele não gosta da cor dos meus cabelos. Teremos que

tomar muito cuidado nestas próximas semanas.— Ele tem o temperamento do diabo, pelo que pude ver. Nunca vi tanto

mau humor…Antes de subir ao seu pequeno apartamento, Carol despediu-se de Jules.

Na sala de estar, as venezianas estavam fechadas e a atmosfera era fresca eagradável. Ela foi até a minúscula cozinha e se serviu de um copo de suco delaranja gelado. Voltou à sala e sentou-se na poltrona, tentando repensar asituação em que se encontrava.

Era quase impossível acreditar que o destino tivesse lhe reservado tantasurpresa e confusão! De manhã, saíra para o trabalho sem nenhumapreocupação, e agora estava como se o céu houvesse caído sobre sua cabeça.

Amaldiçoou Elliott por ter aparecido. Tentou imaginar quanto tempo elelevara para aceitar a separação. Ele estava seguro quanto ao que fazia, nãotinha hesitado em escolher o meio necessário para intimidar e assegurar suacooperação.

Se Elliott pensava que ainda podia pisar nela, estava muito enganado.Naquela tarde estava desprevenida e ele tirou vantagem da situação, mas dapróxima vez estaria bem preparada.

Durante dois dias Carol quase não o viu e se alegrou por isso, porém no

terceiro Elliott apareceu no escritório para dar algumas instruções a Jules, eela não pôde evitá-lo.Estava suficientemente próximo para ela sentir o perfume da loção de

barba, a mesma marca da que lhe dera no único natal que passaram juntos.Procurou concentrar-se nos papéis que estavam em cima de sua mesa e

tentou ignorar a presença de Elliott, mas ele foi em sua direção.— Está muito ocupada?— Sim, estou com bastante trabalho esta manhã.— Talvez lhe sobrasse mais tempo se não achasse necessário ler tudo

duas vezes. Você passou os últimos cinco minutos olhando esse folheto.

— Eu não sabia que era um cronometrista, sr. Grant. Parece que vou terque melhorar o meu tempo.— Vai, sim. A lentidão não impressiona ninguém, muito menos nossos

clientes. Eles desejam rapidez e eficiência.— O senhor já ouviu a história da tartaruga e a lebre? Elliott riu.— Histórias infantis são para crianças, srta. Russell. Você pode acreditar

nelas, mas eu não, mas vai ter uma chance de provar sua capacidade amanhã.Decidi acompanhá-la durante o dia para ver como lida com o lado prático dosnegócios.

Carol abriu a boca para protestar, mas achou melhor ficar calada. Eletinha todo direito de acompanhá-la.

— Não precisa se preocupar, sabe? Seu colega, monsieur Pinot,sobreviveu depois da experiência. Se você for talentosa em seu desempenho,

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Susanna Firth — Um amor na França

não haverá problemas.— E se o senhor achar que não mereço o salário que recebo aqui?— Então será necessário revermos a situação. Talvez tenhamos que

procurar outra posição para suas indubitáveis qualidades profissionais.— Eu não estou acostumada a ser posta à prova, sr. Grant. O senhor

provavelmente terá que fazer concessões.— Como já lhe disse, eu não faço concessões aos meus funcionários,

mas dizem que não resisto aos apelos de uma mulher bonita.— É mesmo?Ele a olhou de cima a baixo com indiferença, então respondeu com um

sorriso:— Bem, depende da mulher e do que ela tem para me oferecer.— Eu, nesse aspecto, vou desapontá-lo.— Nunca se sabe, srta. Russell. Nunca se sabe…— Dizendo isso, ele foi para sua sala, deixando Carol irritada. Jules, que

tinha estado ouvindo a conversa, perguntou:— Que história é essa?— Você ouviu.— Sim, ouvi, mas não entendi direito. Estou morto de curiosidade quanto

a tudo isso. Ele por acaso lhe passou uma cantada, chérie? — Claro que não! Não seja ridículo. O sr. Grant não esteve aqui nem dois

minutos.— Certas coisas não requerem muito tempo para serem postas em

prática.Ela deixou escapar uma risada sarcástica.— Então ele tem uma maneira muito estranha de demonstrar isso. Se

por acaso se encantou comigo, não é brincando de gato e rato e me deixandoansiosa quanto ao meu emprego que iria conquistar meus favores.— É uma estratégia. As mulheres sempre reagem a um homem que as

domina. Ele está demonstrando seu poder — jules afirmou num tomcomplacente.

— Pois ele escolheu a mulher errada. Se pensa que essas táticas meimpressionam… Em todo caso, de que lado você está?

— Não precisa nem perguntar. Claro que estou do seu lado, ma belle.Mas me avise quando vocês iniciarem a guerra e eu tomarei cuidado para ficarbem longe do fogo cruzado.

— Seu covarde! Pensei que pudesse contar com você para enfrentá-lo.— Claro que pode. Mas tem certeza de que precisa de ajuda? Vocêpareceu se sair muito bem sozinha, agora há pouco.

— Eu não vou permitir que pise em mim. Ele pode ser arrogante,dominador e egoísta, mas sei lidar com gente desse tipo, pode acreditar.

— É mesmo? — perguntou uma voz atrás dela. Assustada, elacompreendeu que Elliott havia entrado de novo na sala. Há quanto tempo eleestava ali?

— Eu… eu… — balbuciou. Jules veio em seu socorro.— Trata-se de um cliente. Um sujeito detestável que nos dá problemas

uma vez ou outra.Elliott olhou-o, sem acreditar. — É verdade? Bem, srta. Russell, o sr

Thompson e eu vamos rever os relatórios de vendas dos últimos seis meses.

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Susanna Firth — Um amor na França

Pode apanhar a pasta relativa às propriedades vendidas na região de Arles, porfavor?

Carol levantou-se silenciosamente e foi até o outro lado da sala.Encontrou a pasta que ele queria e lhe entregou. Elliott pegou-a com umapalavra de agradecimento e caminhou de volta à sala. Ao chegar à porta,virou-se e disse com fingida suavidade:

— Srta. Russell, eu ficaria grato se, no futuro, guardasse suas opiniõessobre nossos clientes ou qualquer outra pessoa para si mesma. Nem todos têmminha natureza indulgente, e a senhorita pode se dar mal.

— O senhor acha isso possível?— Se todas as suas opiniões são sempre tão francas assim, fico

admirado de que tenha sobrevivido tanto tempo. — Dito isso, entrou na sala efechou a porta.

Num acesso de raiva, ela apanhou um livro em cima da mesa e atirou-ofuriosamente contra a parede. Jules comentou, fazendo graça:

— Acho que ele venceu esta rodada, Carol. Não adianta ficar furiosa.Quer queira, quer não, ele é um homem que não perderá a compostura, pormais que o provoque.

-— Não?— Tome cuidado, ma petite, se não quiser se machucar. Ele pode jogar

sujo.— Não terá essa chance, Jules, não se preocupe. Amanhã serei delicada,

atenciosa, esforçada e subserviente.— Se você conseguir agir assim durante mais de cinco minutos …— Você vai ver. Eu sempre cumpro o que digo e ainda vou levar a

melhor.

No dia seguinte ela se sentiu bem menos segura de si ao dirigir o Citroenda firma com Elliott ao lado. A perna dele tocou de leve a sua quando seacomodou melhor no banco, e ela se encolheu nervosa com esse contato.

— Poderia dirigir o carro, por favor?— Não, você guia muito bem. Estou ótimo aqui.— Alegro-me em saber que sou capaz de fazer alguma coisa certa.Ignorando o comentário, Elliott continuou:— Além disso, vim como observador. Quero saber como você efetua uma

venda. Lembre-se de que é a responsável por cada detalhe.— Estou acostumada com o serviço, mas obrigada pelo aviso. Acho que

minha primeira prova vai ser a de mostrar que sou capaz de dirigir pelasestradas francesas, não?— Como queira. Ele não parecia muito comunicativo naquela manhã.

Carol olhou-o com o canto dos olhos, querendo saber que bicho o haviamordido.

— Preciso apanhar nosso cliente, o sr. Cox, no hotel. Acho que a esposadele vai acompanhá-lo. Eles estão procurando uma casa pequena paramorarem. Querem que seja no campo, mas não muito longe da cidade. O sr.Cox gosta da vida selvagem e quer estudar as criaturas dos pântanos. Aesposa dele, por outro lado, prefere a vida urbana e quer ver as lojas e asluzes brilhantes de vez em quando.

— E as vontades dela terão prioridade, naturalmente — Elliott comentoucom cinismo.

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— Desejo encontrar um lugar que convenha aos dois. Ele é um maridoatencioso e coloca a felicidade da esposa em primeiro lugar.

— O azar é dele. Pensei que o sr. Cox fosse mais inteligente.— Nem todos encaram a vida de casados como você.— Menos pessoas se divorciariam se norteassem por minha experiência.— É mesmo? Estou surpresa de que você se considere um perito no

assunto, uma vez que já tem um casamento fracassado em sua vida.— Esse casamento me ensinou a pensar mil vezes antes de aventurar-

me a outra experiência.— Então você devia me agradecer pelo menos por isso.— Oh, sim, srta. Russell, acredite.— Não precisa me chamar assim quando estivermos a sós.— Como gostaria que eu a chamasse? De sra. Grant? Ou, simplesmente

de “querida”? Perdão, não estou acostumado ao mundo hipócrita da suafamília, onde casais separados continuam grandes amigos. Como quer que aperdoe e aja como se nosso casamento tivesse sido apenas um namoro entreadolescentes?— Você é ótimo para falar em perdão!

— O que quer dizer com isso?— Se não sabe, eu não vou perder tempo lhe explicando. Você tem uma

memória bem curta, sabia?— E me culpa por isso? Quando a gente sofre um duro golpe, às vezes o

melhor remédio é procurar o esquecimento.— Muito conveniente. É bom não ter que pensar que foi o responsável

por tudo. Você é um fingido, Elliott! Gosta de passar por vítima, absolvendo-seda culpa de nossa separação.

Ele cerrou os punhos em cima do colo, e Carol percebeu que estavafazendo força para se controlar.— É bobagem tentar reavivar as cinzas. Nosso casamento está morto e

enterrado, e nós dois sabemos disso. Foi um erro infeliz de ambas as partes.Todos cometem enganos.

— Alegro-me em ouvir você admitindo isso. Estava começando a acharque se considerava infalível.

— Pode estar certa de uma coisa, Caroline eu aprendo através de meuserros e jamais os repito.

— Fico aliviada. Detestaria ter que mantê-lo afastado. Os maridos se

tornam possessivos quando vêem suas mulheres com outros homens.— No que me diz respeito, você pode se divertir bastante. Vou fazer omesmo enquanto estiver por aqui.

Uma dor súbita a atravessou ao imaginar Elliott ao lado de outra mulher.Mas sabia que era bobagem. Não podia esperar fidelidade, uma vez queestavam separados.

Elliott prosseguiu com a conversa, mudando de assunto:— Mas vamos falar de negócios. Por mais agradável que seja trocar

insultos com você, Caroline, temos que encontrar os clientes e o dia prometeser bem movimentado.

— Claro. E ficaria grata se, no futuro, restringíssemos nossas discussõesao trabalho. Não gosto de perder tempo com conversas inúteis.

— Concordo. É o melhor que podemos fazer. Pouparemos muitos

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aborrecimentos.Eles chegaram ao pequeno hotel no boulevard Georges Clémanceau,

onde os Cox esperavam. As apresentações foram feitas, e o casal de clientesse instalou no carro. A sra. Cox, uma mulher agradável, bem diferente da sra.Clarke, era um pouco mais nova que o marido; ela sentou-se na frente, aolado de Carol, enquanto o sr. Cox e Elliott ficaram no banco de trás.

Atravessaram o rio Ródano e rumaram para o sul em direção à costa.Passaram por estâncias turísticas e hospedarias que alugavam cavalos aosturistas. Carol apontou para uma delas e falou sobre os perigos de tentarexplorar as terras pantanosas sem a ajuda de um dos gardiens, os experientescavaleiros da região. Salientou que eles conheciam cada palmo de terra erespeitavam aqueles pântanos perigosos e traiçoeiros.

Dirigindo-se à senhora Cox, ela disse:— Penso em lhes mostrar três propriedades. São todas mais ou menos

do mesmo tamanho. Aquela para onde estamos indo agora foi sede de umapequena fazenda do tipo dessas que vimos pelo caminho. Seu proprietário aconverteu numa casa de férias, mas agora vai viajar e quer vendê-la.— E quanto às outras? — perguntou a sra. Cox.

— Elas ficam em Les Saintes-Maries-de-la-Mer, também conhecida comoLi Santo na linguagem provençal. Essa região foi uma pacata aldeia de pesca,mas agora que os turistas a descobriram tornou-se muito mais cheia de vida.Os senhores talvez se sintam menos isolados lá que nas profundezas da zonarural.

Carol parou o carro em frente à casa da fazenda e eles saíram, elogiandoa paisagem formada pela construção antiga. Embora fosse bem cedo, o solhavia nascido e a temperatura era agradável, porém logo o calor seria

insuportável.Seguindo na frente, Carol destrancou a porta da casa e falou com ocasal, ignorando a presença de Elliott.

— A casa está vazia. Querem que eu os acompanhe ou preferem vertudo sozinhos?

— Não se ofenda, minha cara. Mas às vezes a gente fica tão ocupadoprestando atenção no que está sendo dito, que não tem realmente aoportunidade de olhar tudo direito.

— Está tudo bem, eu entendo — Carol respondeu, lamentando ter queficar sozinha com Elliott.

— Então você acha que não se deve forçar uma venda?— Sim, acho. Não se deve forçar as pessoas. Quero que elas fiquem àvontade para a escolha. Não é correto que terminem comprando uma casa deque não gostem por causa de pressão.

— Entendo. Você vende muitas casas dessa maneira?— Eu vendo casas -a pessoas que continuam satisfeitas com elas muito

depois de terem assinado o contrato.— Muito louvável, mas você ainda não respondeu a minha pergunta.— Ainda não tive nenhuma queixa de minha técnica de vendas. Você

poderia se sair melhor?— Talvez não, talvez sim. Não possuo os seus dotes — ele respondeu,

olhando-a de cima a baixo.— Os clientes não compram casas por causa de um rosto atraente ou um

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corpo bonito. Se pensa assim, isso prova que entende bem pouco de vendas.— As pessoas em geral talvez não, mas os homens, sim. E estou certo

de que você faz tudo que pode para encorajá-los.— Com as esposas deles, olhando? Ora, deixe disso, Elliott. Teria que ser

muito mais sutil do que minha natureza permite para fazer uma coisa dessas.Pode não acreditar, mas o sr. Thompson me preveniu para não me envolvercom os clientes, e eu tenho seguido o conselho dele à risca.

— Imagino. Ele a quer para si mesmo. Gostaria de saber como ficouquando você o trocou por aquele office-boy.

— Ora, seu… seu…!— Vai tentar me esbofetear de novo? É espantoso como reage a algumas

verdades. Lembre-se do que aconteceu da última vez. Cuidado.— Você está sendo deliberadamente grosseiro e desagradável ou esse é

apenas mais um traço da personalidade torpe que ocultou enquanto estivemoscasados?

— O que acha?— Você é desprezível, Elliott Grant!— É bom saber que estou agradando.— Vou ver se os Cox precisam de ajuda — Carol correu para dentro da

casa.

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CAPÍTULO IV

Que Elliott pensasse o que quisesse sobre o seu comportamento! Ela nãose importava. Pelo menos não procurou segui-la, o que era bom, pois estava

sem forças para afastá-lo. Sentiu as lágrimas ardendo-lhe nas pálpebras e seesforçou para contê-las. Era uma tolice permitir que Elliott a deixasse naqueleestado.

Que diferença fazia se a desprezava? Já não eram mais marido e mulher;contudo ele tinha um incrível poder de magoá-la, e usava esse poder semmisericórdia. Parecia sentir prazer em torturá-la. Talvez criticasse sua moralpara esquecer a dele.

Uma coisa era certa: Carol estava disposta a ficar longe do caminho deElliott no futuro. Não a incomodava mais dar-lhe a vitória. O mais importanteseria conseguir de volta sua paz de espírito, não ficar insistindo nessasbatalhas infantis, estúpidas,

Ouviu o som de passos descendo a escada de madeira e tratou deafastar Elliott da lembrança, aproximando-se de seus clientes:

— Eu só vim me certificar de que viram tudo. Estas casas de fazendaforam construídas originalmente com um andar. Mas, como podem ver, oproprietário atual converteu o espaço do forro em mais um quarto ou sótão.Também colocou uma janela de onde se podem ver os pântanos e os leitos de

junco. Hoje a paisagem está muito bonita, não é?O sr. Cox concordou, acrescentando:— Eu nem vou precisar sair para ver a vida selvagem. Posso ver tudo lá

de cima.Concluindo que já haviam visto tudo, Carol conduziu-os para fora e

sentiu o coração bater descompassado ao ver Elliott perto do carro. Todos osvestígios de raiva haviam desaparecido do rosto dele. A expressão refletiaapenas uma discreta preocupação pelo bem-estar de seus clientes.

Entraram no carro e rumaram novamente para o mar. Os Cox ficaramentusiasmados ao avistarem cavalos brancos a pouca distância da estrada eum bando de garças voando mais além. Pinheiros e ciprestes margeavam aestrada e a paisagem, lindíssima, com suas plantas de brejo, tamargueiras etodos os tipos de juncos, gramíneas e flores.

— Ê um pouco selvagem — comentou a sra. Cox, embora seu maridonão concordasse com ela. Estava fascinado! Mas ela logo se animou ao avistara alegre aldeia de pescadores que seria a próxima parada.

Elliott acompanhou Carol enquanto ela escoltava o casal pela segundapropriedade, ouvindo com interesse os argumentos que usava para vender acasa. — É um pouco apertada — comentou a sra. Cox depois que saíram dopequeno chalé.

Carol concordou, como talvez não tivesse feito se a presença de Elliottnão a incomodasse. Diante dele sua habilidade para tratar com as pessoasparecia abandoná-la, embora os Cox fossem simpáticos. A desaprovação deElliott deixou-a ainda menos à vontade.

Ele não disse nada, mas o modo decisivo com que ele assumiu o controlequando se aproximaram da última casa serviu como uma crítica impiedosa.— Eu ficarei com as chaves, srta. Russell. Farei as honras desta vez.

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Carol entregou-lhe o pesado molho de chaves, odiando-o. Será queprecisava humilhá-la na frente dos clientes, deixando clara a sua totalincompetência? Só faltava se desculpar por ela!

Elliott conduziu os Cox para dentro do chalé com um sorriso amável. Maso olhar que dirigiu a Carol foi terrível.

— Você não precisa vir conosco — disse, fechando a porta na cara dela.Carol não teve outra alternativa senão ficar do lado de fora.Enquanto esperava, ela imaginou que Elliott estivesse empregando todas

as técnicas de vendas que porventura conhecesse para vender a propriedade.A casa era bonita, com suas paredes de pedras e telhados bem inclinado, masnão era muito tranqüila nos meses de verão, quando as ruas da aldeia ficavamrepletas de turistas barulhentos. Além disso, comparados aos da espaçosacasa da fazenda que tinham visitado, os cômodos daquele chalé pareciamestreitos e abafados.

Elliott teria dificuldade para convencer os Cox de que seriam felizes ali.Carol ficou curiosa em saber como ele, um financista mais familiarizado com ovocabulário do Mercado de Ações, se sairia como corretor de imóveis. Torceupara que se saísse mal. Seria bom para ele deixar de ser metido. Isso lheserviria de lição.

Mas, a julgar pelo sorriso dele ao saírem do chalé, parecia que asesperanças dela tinham sido frustradas. Tinha o ar do sucesso, e Carol o odiouainda mais por isso.

A sra. Cox não poderia estar mais encantada com o lugar:— É absolutamente perfeita. A casa em si e sua localização são ideais. É

exatamente o que eu procurava.Carol procurou disfarçar com entusiasmo, cientes de que Elliott a

observava satisfeito. Sem dúvida estava envaidecido por provar ser capaz deencontrar compradores até para as piores casas que tivessem que negociar.Ela dirigiu-se ao sr. Cox, que permanecia calado:— O senhor gostou do chalé, sr. Cox? Não se sinta como se nós o

estivéssemos obrigando a comprar alguma coisa sobre a qual o senhor nãotem certeza. Fique à vontade para pensar bem antes de se decidir.

Elliott interrompeu, disfarçando a irritação e lançando-lhe um olhar deadvertência:

— Eles sabem do que precisam srta. Russell.Carol o desafiou abertamente, sabendo que ali Elliott não tinha o poder

de detê-la. Explicou aos clientes da maneira mais inocente:— O sr. Grant é do escritório central. Ele geralmente não sai conoscopara ver casas e não compreende que…

O sr. Cox, que tanto falara de sua antipatia por vendedores que seutilizavam de pressão, veio em defesa de Elliott:

— É uma pena que vocês não possam incluí-lo em sua equipe de vendas.Seria um corretor de primeira linha. Não precisa se preocupar por não ter nosacompanhado, minha cara. O sr. Grant fez um trabalho maravilhosomostrando-nos a casa. Nós vimos realmente suas possibilidades como um larpara nós.

— Estou certa de que sim — Carol assentiu com certo mal-estar.O sr. Cox virou-se para Elliott com um sorriso e amainou a situação:— Deve ser uma mudança e tanto para o senhor, poder se afastar de

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reuniões de diretoria e tudo mais e ter a oportunidade de passear pelo campocom uma moça bonita, não?

— Sim, é de fato uma grande mudança. Bem, se já viram tudo quequeriam, acho que devemos voltar para a cidade. Creio que devem estar comfome.

— Não gostariam de almoçar conosco por aqui, como uma espécie decomemoração? — convidou a sra. Cox.

O marido a apoiou com entusiasmo:— Boa idéia. Não sabemos como lhes agradecer por encontrarem

exatamente a casa que queríamos, e ficaremos encantados se aceitarem. Seriauma pena voltarmos sem abrir uma garrafa ou duas para comemorar aocasião.

— É muita gentileza da parte dos dois, mas…Elliott estava a ponto de recusar, quando uma idéia perversa induziu

Carol a interrompê-lo e aceitar o convite em nome dele.— Ê uma ótima idéia! Nós adoraríamos almoçar com vocês, não é

mesmo, sr. Grant?Ela dirigiu-lhe seu sorriso mais radiante, desafiando-o a desmenti-la,sabendo que não poderia fazê-lo sem parecer grosseiro.

— Bem, deveríamos realmente voltar ao escritório, mas…— Mas o que pode fazer, quando uma moça bonita diz que quer ir? —

concluiu por ele o sr. Cox, com uma expressão marota, determinado a deixarCarol embaraçada, imaginando um relacionamento íntimo e extra profissionalentre ela e Elliott.

Carol ficaria constrangida se ele pretendesse manter essa atitudedurante toda a refeição, porém Elliott não parecia estar se incomodando e

sorriu, dizendo:— As mulheres não conseguem sempre o que querem? Mas desta vezme alegro imensamente em satisfazer a vontade delas. Vamos procurar umrestaurante antes que eles comecem a ficar cheios demais com o movimentodo meio-dia.

Ele fez um gesto para que o casal seguisse na frente e segurou comforça o cotovelo de Carol ao acompanharem o casal Cox.

— Elliott, me solte. Está me machucando.— Ótimo. Isto não é nada comparado ao que eu gostaria de fazer com

você neste momento. Merece uma boa sova e levaria uma agora mesmo se

estivéssemos sozinhos.— Você disse que só veio para observar. Não pode me culpar por tomara iniciativa.

— É assim que você chama: iniciativa?— Você não quer comemorar seu primeiro sucesso em sua nova carreira

de corretor? Ou será que isso seria indigno de você como dono da companhia?Os olhos dele se estreitaram de cólera, mas seu tom de voz permaneceu

normal ao adverti-la:— Tome cuidado, Caroline. Você vai se arrepender se me fizer perder a

paciência.— Ah, é? Eu não sabia que era capaz de levar você a fazer qualquer

coisa que não quisesse. Isso é novidade para mim.— Eu estou avisando…

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Susanna Firth — Um amor na França

Foram interrompidos porque os Cox encontraram um pequeno café commesas na calçada e acenaram para eles. Carol ficou aliviada com ainterrupção. Discutir com Elliott lhe provocava uma excitação inebriante, masdificilmente poderia levar a melhor.

Encontraram uma mesa protegida do sol e se sentaram. Por sugestão deCarol, encomendaram especialidades da culinária provençal, começando comlapenade, um hors d'oeuvre de azeitonas trituradas, peixe e alcaparras,servido com um crocante pão francês.

O sr. Cox elogiou-a pela escolha do cardápio e pelo francês fluente comque se dirigiu ao garçom quando os pratos foram retirados e substituídos peloprato principal, também escolhido por ela, filet de porc marinado em vinho,ervas aromáticas e alho, acompanhado de arroz.

— Você não deveria perder seu tempo mostrando casas para pessoasvelhas como nós. Devia estar casada, ter um lar e filhos. Não sei como osrapazes que conhece ainda não a convenceram disso.

— Brian Cox! Pare com isso! Você está embaraçando a pobre moça —intrometeu-se a sra. Cox.— Desculpe querida. O que eu quis dizer é que não é natural que umamoça bonita como a srta. Russell fique sozinha.

Elliott entrou na conversa:— Oh, é preciso mais do que um rosto bonito para fazer um homem feliz.

Mas acho que você está de acordo com isso, não é mesmo, Caroline?— É verdade. Vocês, homens, são difíceis de agradar, posso garantir. Por

mais que as mulheres se esforcem para satisfazê-los, vocês sempre encontramalguma razão para se queixar.

— Eu não creio que você tenha muita dificuldade em agradar qualquer

homem — insistiu o sr. Cox.— Parece que os admiradores dela fazem fila pelo simples prazer deserem jogados de lado — Elliott ponderou com um brilho malicioso no olhar.

— Tem razão. Sempre digo a mim mesma que não vou continuar jovempara sempre, por isso aproveito ao máximo. Por que não ter mais de umapossibilidade? Ou três, quatro e até mais?

Elliott juntou seu riso ao dos outros, mas Carol percebeu que ele riaporque as alfinetadas dele não a estavam atingindo. Será que estava comciúme de seus supostos admiradores? Com um meio sorriso, pensou em qualseria a reação dele se lhe contasse a verdade: que ainda o amava.

— E você ainda não encontrou um só homem bom para se casar entretodas essas dúzias? — a sra. Cox brincou com ela.— Sou muito difícil de contentar. Eu os convidarei para meu casamento,

se algum dia isso acontecer.Para o alívio de Carol, a conversa tomou outro rumo quando o garçom se

aproximou para recolher os pratos, recebendo elogios pela excelente refeição.Eles terminaram de tomar o vinho e depois beberam café e conhaque.

— No verão, esta vila fica cheia de turistas. E também em maio, quandoas pessoas vêm para ver a grande concentração dos ciganos. De acordo comuma antiga lenda, as santas que deram nome à aldeia aportaram aqui, vindasda Palestina, para pregar o evangelho cristão. A criada delas era uma egípciachamada Sara, e seus restos estão sepultados na igreja daqui. Ela se tornoupadroeira das tribos ciganas, e eles vêm de todos os cantos do mundo para

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Susanna Firth — Um amor na França

enquanto fica sentado contando os lucros no escritório. Ou será que de vez emquando você gosta de descer do Olímpio para verificar como os pobres mortaisse arranjam?

— Se todos os meus empregados procedessem como você, eu já estariafalido, dificilmente haveria lucros para eu contar.

— O que lhe dá tanta certeza de que os Cox não teriam comprado a casapor meu intermédio? Você realmente tem em alta conta os seus própriostalentos, não? A ponto de subestimar os méritos alheios. Eu não precisava deajuda.

— Não? Sabe muito bem que nunca teríamos feito a venda esta manhãse eu não tivesse intervindo, mas não tem coragem para admitir isso, não émesmo? E agora me acusa de todos os truques sujos, só porque não suporta ofato de ter demonstrado ser capaz de fazer o seu trabalho melhor que você.Está despeitada.

Um pássaro atravessou a estrada voando na frente do carro, e Elliottbrecou para não machucá-lo.

— Tome cuidado! Eu gostaria de chegar em casa inteira, se não seimporta.Elliott levou o carro para o acostamento e falou:— Nesse caso não vou tentar me concentrar em duas coisas ao mesmo

tempo. Não que assim eu esteja garantindo sua segurança, pelo contrário, sevocê continuar me provocando…

— O que está fazendo?Desligou o motor e virou-se calmamente para ela, apoiando um braço no

encosto do banco.— Você vem procurando briga desde que cheguei aqui, não é mesmo,

Caroline? Bem, agora vai ter sua chance. Não é provável que sejamosinterrompidos aqui, e temos pelo menos duas horas antes que o pessoal doescritório comece a se preocupar conosco. Pode falar. Vamos, desabafe.

— Pensei que tivesse um trabalho importante para fazer e não pudesseesperar. Pelo menos foi a impressão que você deu aos Cox.

— Eu nunca considero a avaliação dos meus funcionários uma perda detempo.

— Mas isso não se aplica a mim. Você me conhece. Sou sua esposa.— Você foi minha esposa, srta. Russell.Carol não respondeu. Virou a cabeça para o outro lado e ficou

observando a paisagem com aparente interesse.— Olhe para mim, Caroline. — Ela não atendeu, e Elliott puxou de leveseu queixo obrigando-a a encará-lo. — Eu sempre achei que você seria umamulher praticamente irresistível quando superasse essa imaturidade de teracessos de raiva e mau humor.

— E eu sempre quis que aprendesse que não é o senhor de toda acriação. Parece que nós estávamos destinados à decepção.

— Eu não diria isso.A mão dele tinha deslizado para seu pescoço, acariciando-o com o

polegar. Ela sentiu um leve palpitar com esse contato. Não conseguiria afastara mão dele, embora seus sentidos avisassem que era hora de recuar.

— Está mudando de idéia a respeito de minhas qualidades, Elliott?— Elas nunca foram postas em dúvida — puxando-a para si, beijou-a.

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Carol não pôde evitar. Tudo que importava era aquele beijo doceinvadindo-lhe a alma. Sentir seus braços envolventes, percebendo que eleainda a desejava.

O beijo foi demorado e ela o abraçou com força, correspondendo aoprazer que ele despertava quando os lábios deixaram os seus e traçaram umatrilha de fogo em seu pescoço, a fim de explorar a promessa de seus seios.

Vibrou com os dedos dele desabotoando sua blusa e não fez nenhumatentativa para detê-lo. Seu corpo se aquecia com aquelas carícias. Estava seafogando, perdida num mar de prazer febril, indiferente às conseqüências eapenas desejando que ele nunca parasse.

O buzinar contínuo de um carro interrompeu aquele momento mágico.Aturdida, Carol viu um Fiat vermelho passar com o motorista buzinando e seusquatro ocupantes, todos rapazes, saudá-los.

— Parece que demos um belo espetáculo. Será que aqueles gritos foramde inveja ou de solidariedade?

Carol sentiu-se como se ele a tivesse esbofeteado. Seu coração partiu-seem mil pedaços. Não contendo as lágrimas, tratou de abotoar a blusa. Elliottpercebeu sua dificuldade, mas não a ajudou.

— Eu não tenho nenhuma intenção de me desculpar por isso — disse ele,num tom inconfundível de desprezo.

— Não lhe pedi coisa alguma.— Estou certo de que você pediria assim que voltasse à realidade. Você

vinha querendo que eu a beijasse o dia todo. Não, não adianta negar. Vocêdesejava isso tanto quanto eu.

— Talvez quisesse apenas fazer comparações — Carol justificou,contendo os soluços. — Então você admite que ainda me quer?

— Espera que negue isso? Tivemos dificuldades por falta de diálogo emnossa vida de casados, mas nesta área, pelo menos, sempre fomos…compatíveis. Não houve tempo para cansarmos um do outro, não é mesmo?Você me deixou bem antes que isso pudesse acontecer.

— E está tentando recuperar o tempo perdido?— Creio que sim. Você é uma mulher muito bonita e sobe à cabeça de

um homem como vinho. Meu cérebro me diz para desprezá-la por tudo quefez, mas meus instintos falam o contrário.Eu ainda quero você. Seu corpo meexcita tanto quanto antes. Está satisfeita?

— Eu estava certa, Elliott. Você é como todos os outros… vulnerável a

qualquer mulher desejável que apareça em seu caminho. Eu cheguei a pensarque você fosse mais sério. Vejo que me enganei.— Nenhuma mulher jamais me obrigou a fazer alguma coisa que eu não

quisesse. Tenha isso em mente antes de confiar na minha vulnerabilidade.Você se deixou levar, não se lembra?

— Eu não admito a derrota — ela retrucou, orgulhosamente.— Talvez tenha que admitir no que me toca.— Veremos, Elliott…

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CAPÍTULO V

Eles fizeram o resto da viagem a Arles num silêncio mortal. Ao chegaremao escritório, Carol saltou do carro imediatamente, procurando fugir, pelo

menos por um instante, da presença odiosa de Elliott.— O que houve? — perguntou Jules, quando ela entrou correndo etrancou a porta.

— Tem que haver alguma coisa?— Não. Mas quando você volta, depois de ter passado o dia em

companhia do poderoso chefão, com essa cara de enterro, não pode me culparpor pensar que alguma coisa aconteceu entre vocês. Ou devo supor que o diafoi maravilhoso?

— Não, desculpe-me! Tudo saiu errado para mim e ele não gostou.— Paubre petite. Ele também me fez passar um mau bocado, se isso lhe

serve de consolo. Passei a maior parte da noite acordado, tentando imaginaruma morte lenta e horrível para o nosso “chefão”. Fervê-lo em óleo é bomdemais para ele. Carol riu, complacente, pois sabia que ele estava procurandoanimá-la.

— Seu bobo. É assim que você pretende me ajudar a resolver oproblema?

— Se ele for Elliott Grant, não há nada que possa fazer para solucioná-lo.Aqui eu admito derrota. Mas, se for apenas uma questão de armá-la para abatalha, posso sugerir várias soluções,

— Que tipo de soluções?— Jante comigo esta noite, eu levantarei seu moral. Não sou tão difícil

de agradar como certas pessoas.Carol pensou em recusar mas ouviu Elliott entrar no escritório. De

repente foi dominada por um impulso de lhe demonstrar que agora era donade seu nariz. Que era livre para escolher seus amigos, e que ele não tinhanada a ver com isso.

— Obrigada, Jules. Eu adoraria sair com você esta noite. Vai seragradável estar na companhia de uma pessoa civilizada. Já estou cheia dehomens grosseiros por hoje.

— Por mais interessantes que sejam suas opiniões, srta. Russell, gostariaque você as guardasse para si mesma. Creio que já lhe preveni sobre isso.

— Ora, sr. Grant. Não sabia que o senhor estava ouvindo.— Não pude evitar. Mas você sabia disso, não?—Eu…Elliott olhou para Jules, que ouvia com interesse.— Você não tem trabalho para fazer?— Tenho bastante.— Então sugiro que o faça — disse Elliott, atravessando a sala e

entrando no gabinete do sr. Thompson.Jules assobiou baixinho.— Que bicho o mordeu? Ou será que não preciso perguntar?

— Ele também teve um dia difícil — respondeu Carol.— Isso dá para notar, embora não consiga imaginar por que, Você nãoconseguiu seduzi-lo?

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Susanna Firth — Um amor na França

— Eu não tentei. Ele é imune.— Disso eu duvido. — Bem, nós não nos damos bem. Nós…— Se quiser saber, acho que o homem é louco. Mas não estou me

queixando… é um concorrente a menos para mim.— Quem disse que precisa se preocupar com a concorrência?— Eu mesmo. Você levou bastante tempo para concordar em sair

comigo. A maioria das garotas se agarraria a essa chance com unhas e dentes.— Gosto de sua modéstia. Em todo caso, eu não faço parte dessa

maioria e agradeceria se se lembrasse disso.— Não precisa ficar zangada. Eu a conheço há bastante tempo para

manter distância.Jules falou sério, e Carol sentiu pena. Será que era justo usar o colega

apenas para dar uma lição em Elliott? Ela sempre desprezara mulheres que jogavam um homem contra outro apenas para alcançar seus objetivos. E agoraestava fazendo exatamente H isso.

— É apenas um jantar, Jules. Não interprete isso como algo mais sério.— Claro que não. Mas, depois de uma noite comigo, eu não vou culpá-lase você se atirar aos meus pés e suplicar para fazer amor com você.— Humm, uma pessoa prevenida vale por duas. Mas não creio que haja

esse perigo. Somos ótimos amigos, Jules— ela disse, com um risinho.Ao chegar em casa, Carol esperou ansiosa pelo jantar que teria logo

mais, à noite. Ao menos não ficaria em casa, pensando em Elliott e em seuestranho comportamento.

Durante o resto da tarde ele entrou e saiu do escritório inúmeras vezes.Se não o conhecesse tão bem, diria que ele não queria deixá-la longe da vista.Mas esse não podia ser o caso. Elliott deixara evidente que não se importava

mais com a vida particular dela.Carol se despiu e foi tomar banho. Debaixo do jato refrescante dochuveiro, afirmou a si mesma que estava se preocupando àt oa. Quando os Coxvieram ao escritório para assinar a papelada, ela ficara ainda mais enciumadacom o respeito que eles pareciam ter por Elliott e por suas opiniões. Emborativesse negado categoricamente, ela sabia muito bem que Jules esperava queaquela noite abrisse caminho para um relacionamento mais íntimo entre eles.Isso poderia gerar complicações que ela queria evitar, mas sabia como lidarcom Jules. Ele não era como Elliott.

Não sabendo aonde Jules pretendia levá-la, acabou por escolher um

vestido de linho verde sem mangas, simples, porém suficientementeapropriado para os restaurantes mais elegantes. Podia ser que Jules tentasseimpressioná-la levando-a a um restaurante luxuoso.

Depois que terminou de se aprontar, pegou sua bolsa preta de noite eum xale; então desceu para esperar Jules. Ao chegar ao pé da escada, quaseesbarrou em madame Martin, que perguntou:

— Vai sair com seu namorado?— Vou sair com um rapaz, mas ele não é meu namorado. Sua senhoria

estudou-a com um ar de aprovação.— Pois ele não vai ter olhos para mais ninguém, do jeito que você está

linda esta noite. E já era hora de sair um pouco para se divertir. Você é jovemdemais para ficar em casa noite após noite. Isso não é muito comum.

— A senhora acharia melhor se eu fosse o tipo de moça que sai todas as

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Susanna Firth — Um amor na França

noites e só volta de madrugada?— Você não seria a primeira inquilina a fazer isso. E nem a última. Eu já

tive sua idade.— Lamento desapontá-la, madame. Mas eu gosto de ficar sozinha, sabe?

Adoro ler e ouvir meus discos.— Ler, bah! Você vai ter bastante tempo para fazer isso quando tiver a

minha idade e os homens não fizerem mais fila em frente à sua porta.A campainha tocou e, rindo, Carol foi abrir a porta.— Eu procurarei não desapontá-la, madame — disse, antes de

cumprimentar Jules, beijando-o no rosto.Ele perguntou, desconfiado, ao entrarem no pequeno conversível:— Que história foi aquela? Ela pediu para você ignorar minhas

investidas?— Pelo contrário. Ela mandou aproveitá-las ao máximo. Jules riu.— Ela me parece uma mulher sensata. Verei o que posso fazer.Eles não demoraram muito para chegar ao restaurante que Jules havia

escolhido. Como Carol suspeitou, era um lugar elegante e luxuoso, e atraíauma clientela de alto nível. O salão era arejado, espaçoso, e numa dasextremidades havia portas que davam para um jardim florido. As cortinas das

janelas balançavam suavemente com a brisa fresca da noite, e os talheres deprata cintilavam sobre as mesas cobertas com toalhas muito brancas.

— Um cenário perfeito para um par romântico. — Carol lamentou nãoestar na companhia de alguém que significasse mais para ela que Jules.Porém, logo afastou esse pensamento, sentindo-se culpada. Jules estavasendo atencioso trazendo-a a esse lugar lindo, e o mínimo que podia fazer eramostrar-se grata.

O garçom os conduziu a uma pequena mesa que ficava numaextremidade isolada e aconchegante do salão. Depois que se sentaram, ogarçom se afastou e voltou momentos depois com os cardápios.

— Gostou daqui? — perguntou Jules.— Sim. É lindo. Nunca estive aqui antes.— Ótimo. Eu não gostaria de desapontá-la, em nosso primeiro encontro.— Primeiro? Você parece estar confiante de que haverá outros.— Mas é claro. Como você pode achar que não? Eu nunca abandono uma

mulher bonita depois de apenas um encontro.— Mas talvez eu o abandone.

— Você não seria tão ruim.— Não?Ele pegou-lhe a mão.— Não. Você tem um coração mole, Carol, apesar de seu temperamento

explosivo.Ela retirou sua mão, delicadamente.— Você não está sendo um cavalheiro, falando assim de meu

temperamento. Já esteve aqui antes? O que você recomendaria?Eles conversaram sobre os diversos pratos do cardápio. Carol afinal

aceitou a sugestão dele e pediram uma entrada de vegetais frescos e crus,acompanhados por um molho de condimentos e alho, seguidos por um

loup demer, uma variedade de peixes locais, grelhados e temperados com cogumelos.Ela então ajeitou-se em sua cadeira e olhou em volta com interesse, enquanto

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Jules estudava a lista de vinhos.Seu olhar foi atraído por uma loira bonita que usava um vestido preto

ajustado às suas curvas. As alças da roupa apenas acentuavam a pele alva deseus ombros descobertos.

A mulher moveu-se para o lado, e Carol pôde ver seu acompanhante. Elaquase deixou escapar um grito de surpresa ao ver Elliott. A expressão dele erairônica, e ela concluiu que a tinha avistado primeiro. Ele então a cumprimentouacenando com a cabeça.

A loira notou esse gesto e se virou para olhá-la. Dirigiu-lhe um olhardesinteressado, voltando-se novamente para Elliott e murmurando-lhealgumas palavras.

Carol ouviu a risada dele e achou que o comentário se referia a ela. Amulher deixara claro que ela não representava uma ameaça no que diziarespeito a Elliott. Sentiu-se estranhamente rejeitada com a indiferença dele.

— Carol! Carol! Entrou em transe? — Jules tentava acordá-la.— Oh, desculpe. Eu estava distraída. É que eu vi Elliott Grant.— Elliott Grant? Onde?— AH — ela apontou para a mesa deles.— Bem, paciência. É chato, mas não podemos fazer nada. Este é um país

livre, e acho que ele tem direito de jantar onde bem entender. É pena quetenha escolhido este lugar. Todavia,acho que está entretido demais comaquela loira para prestar atenção em nós. — Ele olhou para a loira comadmiração.

— Quem é ela? Você a conhece?— Apenas de vista e reputação. Ela é Michèle Durand. O marido era

Charles Durand, um rico industrial que se aposentou e veio para cá há cinco

anos, depois de ficar milionário em Paris.— Você disse era?— Sim, morreu há uns dezoito meses. Dizem que madame Durand não é

contra a idéia de encontrar um sucessor para ele. E desta vez ela vai quereralguém jovem como ela. Dizem que Michèle achava o marido um tantocansativo. O que não é de se admirar, pois além de estar adoentado ele deviaser uns vinte anos mais velho. Temos que admirá-la por ter ficado com ele atéo fim.

— E ela herdou sua fortuna?— Oh, não. Foi tudo muito triste, Apesar de todos os seus cuidados e

devoção a ele, o velho Charles não ficou agradecido. Ele lhe deixou a casaonde moravam perto de Aix-en-Provence, e uma anuidade que a permite viverrelativamente bem. Porém, a parte maior da fortuna foi destinada aos filhos deseu primeiro casamento. Parece que ela não gostou muito quando otestamento foi lido.

— Então ela está à procura de um marido rico?— Creio que sim. É uma mulher prática, tu compreends, e essa seria

uma solução prática.— Ela poderia manter o mesmo padrão de vida. As pessoas ainda fazem

esse tipo de coisa?— Claro. Será que o nosso

monsieur Grant a está interessando?

— Oh, claro que não!— Por que não? Ele é rico. É atraente. O que mais uma mulher poderia

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querer?— A maioria das mulheres gostaria de um pouco de amor em seu

relacionamento.— Chérie, você é romântica, e eu a aplaudo do fundo do coração. Mas

Michèle Durand não pensa assim. Ela é realista. Sabe muito bem que o amornão paga o aluguel. E nosso monsieur Grant parece ser um ótimo partidocomparado a alguns homens que ela foi forçada a considerar.

— Onde será que ela o conheceu?— Está pensando em vender sua casa. É grande demais para uma só

pessoa, e ela não tem como pagar todos os empregados necessários paraconservá-la no momento. Nós fomos até lá para inspecioná-la outro dia,quando Elliott Grant saiu comigo. Ela pareceu estar atraída por ele.

— E ele, gostou dela?— Bem, digamos que ele apreciou aquilo que ela tinha para oferecer.— E agora estão jantando juntos.— E nós também, caso tenha esquecido. Já falamos demais de Elliott

Grant. Pensei que estivesse ansiosa por ficar longe dele depois do que mecontou sobre o dia que passaram juntos.— É verdade. Mas ele é um tanto difícil de ignorar quando está bem à

nossa frente.— Esqueça-o. Ele não é importante. Fora do escritório nós estamos em

igualdade de condições, e ele já não é o chefão. Bieti, então vamos ignorá-lo.Ela riu da expressão decidida de Jules.— É mais fácil falar do que fazer! Mas vou tentar.Carol teve sucesso até certo ponto, procurando se concentrar na

conversa fácil de seu acompanhante, que abrangia vários assuntos. Em outra

circunstância, longe da presença de Elliott, talvez se divertisse mais. Contudo,foi com esforço que se manteve despreocupada com os olhares que Elliott lhesdirigia, Jules perguntou, quando ela deixou de comer grande parte do pratoprincipal:

— O que foi, chérie Não gostou?— Oh, sim. Estava delicioso. Mas não estava com fome e as porções

eram imensas.Carol procurou conversar e rir durante o café. Parecia estar se saindo

bem, pois Jules respondia alegremente e não parecia notar seu estado detensão. Agora não ia demorar para eles deixarem o restaurante. Jules só tinha

que pagar a conta e então podiam ir embora. Era um tanto cedo, pouco maisde dez horas, mas Carol podia dizer que estava cansada e lhe pedir para levá-la para casa.

Jules, ao contrário, parecia achar que a noite estava apenas começando.Quando Carol terminou de tomar o café e o olhou, esperançosa, ele lhe sorriucom um ar de quem preparava uma surpresa. Ele apontou para o outro cantodo salão, e Carol sentiu o coração apertado ao ver que um grupo de músicoshavia aparecido e se preparava para tocar.

— Você quer dançar?Sabendo que a recusa o ofenderia, ela consentiu. Longe da vista de

Elliott talvez pudesse se concentrar na música e se divertir. Então acompanhouJules até a pista de dança. Felizmente não tiveram que passar perto da mesade Elliott, mas Carol sentiu que ele a olhava. Parecia determinado a estragar

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sua noite.Não se espantou quando, duas danças depois, Elliott e Michèle Durand

também foram dançar. Eles formavam um casal espetacular. Carol não foi aúnica a virar a cabeça para olhá-los. Michèle, uma figura sinuosa que dançavahabilmente, respondia à música com naturalidade e graça. E Elliott, em seuelegante traje de noite, era o homem mais charmoso do salão.

Por cima do ombro de Jules, os olhos de Carol os seguiram até perdê-losde vista na extremidade oposta da pista de dança. Pôde então voltar a atençãoa seu par que, felizmente, não havia notado sua distração.

— Está se divertindo? — Jules perguntou, puxando-a mais para perto ebeijando-a de leve na face.

— Claro. Foi uma noite maravilhosa.Novamente, pôde ver Michèle e Elliott dançando. Dessa vez com os

rostos colados. Desviou os olhos e pressionou a face contra o ombro de Jules,fingindo-se alheia a tudo o mais. Queria mostrar a Elliott que estava poucoligando para ele e para sua nova companhia. Se, é claro, ele fosse capaz dedesviar os olhos de Michèle para reparar no que ela estava fazendo.Assustou-se quando a voz dele interrompeu seus pensamentos.

— Boa noite, Pinot. Estão se divertindo? Importa-se se eu dançar estamúsica com sua dama?

Sem esperar pela resposta de Jules, Elliott tomou-a nos braços e saiudançando com ela. Carol ficou completamente desarmada durante algunssegundos, depois fez menção de se afastar,

Ele falou junto ao seu ouvido:— Não seja tola, Caroline. Você não pode brigar comigo diante de toda

essa gente.

Carol olhou ansiosa para trás à procura de Jules, e Elliott leu seuspensamentos com facilidade:— Oh, não se preocupe com monsieur Pinot. Você lhe será devolvida

mais cedo ou mais tarde. E este mais cedo ou mais tarde depende de você.— Está bem. Vou dançar com você. Mas não sei por que quer dançar

comigo quando já está em ótima companhia.— Gosto de variar.— E o que sua deslumbrante parceira acha disso?— Michèle? Oh, então você reparou nela?— Ninguém poderia deixar de percebê-la com aquele vestido. Todos os

homens no salão a olham embevecidos.— Cuidado! Suas garras estão aparecendo. Está com ciúme,Caroline?— Céus, não! Pode usar seus encantos e artimanhas com quem quiser.

Isso não é mais de minha conta.— Foi por isso que você esteve nos olhando atentamente a noite toda?Carol ignorou a pergunta e comentou:— Eu não sabia que você gostava de mulheres vulgares. Os braços dele

se fecharam em sua volta enquanto dançavam na pista cheia de gente. Eleentão respondeu:

— Minhas preferências mudaram desde que me viu pela última vez. Mastambém pensei que Jules Pinot não seria seu tipo e agora vejo que estavaenganado.

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Ela pensou em negar, porém seu orgulho a impediu.— Sim, ele é um homem diferente de você. Seria difícil eu cometer o

mesmo erro duas vezes, não acha?Os lábios dele se comprimiram e ele a olhou com raiva.— Pois ele não teve sucesso em lhe ensinar boas maneiras. Ele a puxou

bruscamente para si, apesar dos esforços dela para resistir, e moveu-sedeliberadamente com ela em direção às portas grandes que davam para o

jardim.Saíram para o ar fresco da noite, mas Carol não se sentia em condições

de apreciar o encanto sereno do lugar. Elliott ainda segurava seu braço comforça, e ela estava concentrada pensando numa maneira de se soltar.

Como último recurso, aplicou um pontapé na canela dele e teve asatisfação de ouvi-lo praguejar.

— Maldita seja, sua megera! Você nunca aceita uma derrota?— É preciso mais que força bruta para me fazer calar!— É mesmo? Então vou ter que experimentar outros métodos de

persuasão, não é mesmo?Elliott baixou a cabeça e ela soube logo o que pretendia fazer.— Largue-me, Elliott, senão eu grito!— Pode gritar à vontade — ele disse, com indiferença, beijando-a nos

lábios.Seu cérebro dizia que era inútil resistir. Era mais agradável ceder e

deixar que ele levasse a melhor. O beijo de Elliott era uma intromissão emseus sentimentos, reavivava a chama que nunca se extinguira dentro deladepois de tantos anos de separação.

Carol acabou esquecendo de tudo que detestava nele e retribuiu o beijo.

Ao sentir que ela parava de se debater, Elliott afrouxou o braço epermitiu que ela lhe enlaçasse o pescoço. Seus movimentos agora eram maissuaves ao acariciar seu corpo, excitando-a ainda mais. Os lábios dele entãodeixaram os seus para morder delicadamente a orelha, e ela o apertou com osúbito prazer que sentiu.

— Caroline, sua feiticeira — Elliott murmurou, puxando-a para um dosbancos de pedra do jardim.

As mãos dele agora estavam em seus cabelos, tirando os grampos queos prendiam com uma impetuosidade que a fez se encolher de dor e murmurarum leve protesto. Com os últimos grampos espalhados no chão, ele começou a

afagá-la enquanto voltava a beijá-la.Por um segundo, ela recobrou a consciência. Não devia permitir que afizesse perder a cabeça daquele jeito. O que estava acontecendo com ela? Nãopodia ter perdido sua vontade própria. Por que não dizia que aquelas caríciasnão significavam mais nada para ela? Estaria mentindo? Sua menteentorpecida não encontrava respostas. Quando ele abriu o zíper de seu vestidoe começou a acariciar suas costas nuas, ela soube que não queria mais impedi-lo.

Gemeu de prazer quando ele afastou as alças do vestido de cima de seusombros, e não se importou com mais nada exceto com as mãos queacariciavam seus seios firmes levando-a ao clímax da excitação. Estavaconsciente do desejo de Elliott, embora ele se controlasse e contivesse seuardor enquanto a enchia de carinhos.

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Foi um choque quando se afastou de repente e disse com uma voz roucaque ela mal reconheceu:

— Seu namorado virá procurá-la se você não voltar logo para dentro.— Jules!Ela murmurou o nome do colega ao se dar conta do que estava fazendo.

Como pôde permitir que Elliott quase fizesse amor com ela no jardim, quandoJules estava dentro do salão, esperando impaciente pela sua volta?

Elliott havia recuperado sua compostura habitual e estava em pé, senhorda situação, olhando para seu rosto corado:

— A não ser, é claro, que queira que ele venha até aqui e a veja como amulher vulgar que é.

Depois esperou, impaciente enquanto ela procurava se recompor e darum jeito em sua aparência. Não havia nada que pu-

65desse fazer com seus cabelos sem o auxílio de um espelho. Além disso,

tinha perdido mais da metade de seus grampos. Contentou-se em passar umpente neles. Então voltou-se para o marido, dizendo:— Será melhor não voltarmos para dentro juntos.

— Como queira. Aproveite bem o resto da noite.Ele ousava dizer isso, como se nada importante tivesse acontecido. Ele

simplesmente resolvera lhe dar uma lição. Agora, que já a havia dado,ignoraria todas as conseqüências para ela. Como ele sabia ser cruel!

Virou-se para lhe dizer isso, mas viu que já havia se afastado e entradono salão. Michèle devia estar esperando por ele como um cachorrinho bemtreinado. Maldito, maldito, repetiu para si, com rancor, sem saber ao certo seestava furiosa pelo que ele havia feito ou porque ele a abandonara para ir ao

encontro da outra.Ouviu um ruído e sentiu medo. Será que Elliott voltava para humilhá-laainda mais? Relaxou os nervos quando distinguiu Jules na escuridão.

— Carol? Você está aí?— Sim. Aqui perto do muro.— Fiquei preocupado quando vi Elliott Grant com Michèle e não vi mais

você.— Estou com dor de cabeça. Achei que melhoraria um pouco se

respirasse ar fresco.Jules era atencioso, e ela se sentiu desprezível por ter mentido.

— Está melhor?— Sinto-me horrível. Você me perdoa se voltarmos para casa?

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CAPÍTULO VI

Felizmente Jules não fez mais perguntas. Se reparou no rosto pálido ecansado de Carol, em seu aspecto frágil, não disse nada. Compreensivo, pôs

um braço ao redor de seus ombros.— Lógico, vou levá-la para casa. Por que não disse antes que não estavabem?

Carol passou a mão pela testa, que, apesar do frescor da noite, estavaúmida de suor. Como havia permitido que Elliott a deixasse em tal estado? Eraapenas um homem, entre tantos, era igual a todos os que ela tinha conhecido.O que inflamava seu sangue e a fazia reagir desse jeito? Jules acusou-o de agircomo se fosse um senhor do mundo, mas esta noite Elliott passara dos limites,agira como o príncipe das trevas, um demônio enviado para atormentá-la. Ecom que facilidade estava sendo bem-sucedido em sua missão!

— Existe outra maneira de sairmos daqui sem passarmos pelo salão?Gostaria de evitar toda essa gente.

Elliott poderia ser inconveniente na presença de Jules, e, por via dasdúvidas, ela não queria dar o gostinho de vê-la abandonando o campo debatalha, concedendo-lhe a vitória. — Claro, chérie. Há uma porta lateral. Eu jápaguei a conta,de modo que podemos sair. Consegue andar ou quer que eu acarregue até o carro?

— É só uma dor de cabeça, Jules. Não vou desmaiar ou coisa parecida.Mesmo assim Carol ficou feliz em poder se apoiar nele até o carro. A

viagem de volta pareceu interminável, embora demorasse só uns dez minutos.Quando chegaram a sua casa, Jules a ajudou -a sair.

— Tem certeza de que ficará bem? Há alguma coisa que eu possa fazer?— Não, obrigada. Lamento ter estragado sua noite.— Nem pense nisso. Eu me diverti muito. É por você que lamento. Mas

haverá outras ocasiões, nest-ce pas? Carol sentiu-se ainda mais culpada.— Sim, claro. Ele se curvou e beijou-a levemente na face.— E agora você precisa ir descansar. A demain, ma arhie.— Até amanhã. Depois que ele se foi, Carol foi direto ao banheiro para

tomar um comprimido. A dor de cabeça inventada estava se tornandorealidade. Bem feito por contar mentiras! Ao tomar a aspirina com um copod'água, viu seu reflexo no espelho. Seus cabelos ainda estavam desarrumadosapesar do esforço que fizera para penteá-los. O rosto estava pálido e os lábios,agora sem batom, estavam assim mesmo muito vermelhos.

Logo adormeceu. Talvez tivesse sido melhor ter rolado a noite toda nacama com insônia, pois os sonhos que teve deixaram-na indisposta e esgotadaquando despertou pela manhã.

Sonhou que estava num enorme salão de baile que reluzia com a luz demilhões de velas projetada no teto por candelabros de cristal. Estava sozinhacom Jules, dançando ao som de uma valsa de Strauss tocada por umaorquestra invisível. Rodopiavam juntos em perfeita harmonia, com seus corpos

girando no compasso da música. Ela observava suas imagens refletidas nosespelhos das paredes enquanto dançavam. Para cada lado que olhasse via-sevalsando com seu par, despreocupada e feliz.

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Susanna Firth — Um amor na França

O quadro de repente mudou, e, quando olhou para o homem com quemdançava, viu que ele havia se transformado em Elliott. Um Elliott cujo rosto erauma máscara sombria de cólera e desprezo por ela. Pôde sentir os braços deleem sua volta, machucando-a, forçando-a a acompanhá-lo a valsarem. Ele lhedizia coisas horríveis; ela não conseguia responder ou negar tudo. Era como sede repente tivesse emudecido. Abria e fechava a boca, mas não conseguiaarticular nenhum som. Elliott parecia totalmente alheio à sua dificuldade, egritava como se esperasse que ela lhe respondesse. Ela balançava a cabeça eo olhava com uma expressão de súplica, mas ele parecia não ligar.

Carol despertou tremendo e ofegante. Sua cama estava molhada; acolcha estava no chão e o travesseiro em algum lugar debaixo das cobertas.Olhou ansiosa em volta do quarto, como se esperasse ver seu marido surgir derepente; então, procurou se controlar e levantou-se para preparar um poucode chá. Tomou um pouco do líquido quente e sentiu-se melhor.

Estranho como todos os problemas pareciam sempre mais sérios à noite,pensou. À luz do sol provençal as preocupações da noite passada diminuíramum pouco.Embora elas ainda lhe parecessem assustadoramente grandes Caroltinha esperanças de encontrar uma solução. Serviu-se de mais chá e, depoisde passar manteiga e geléia de pêssego num croissant, levou tudo à sala deestar tentando rever a situação.

O comportamento de Elliott tinha sido muito estranho. Porém Jules nãosabia de nada do que acontecera na noite passada, e ela não tinha nenhumaintenção de lhe contar. Só se Elliott abrisse a boca por pura crueldade. Carolsabia que ele não faria isso: uma pessoa na posição dele acharia indigno falarsobre seus assuntos pessoais com seus funcionários. No entanto, essa não era

uma situação normal. No seu modo de ver, o ex-marido só se preocupava coma empresa. Jules ficaria ressentido se Elliott interferisse em sua vida pessoal.Contudo, e se Elliott justificasse suas razões por fazê-lo? E se ele lheexplicasse que ela era sua esposa?

Não, Elliott não diria nada, suas dúvidas foram sumindo.Achou que ele não teria nada a ganhar provocando comentários no

escritório.Carol sentiu-se mais animada depois de tomar um banho e colocar seu

vestido de tecido leve e estampa delicada. Ele lhe emprestava um ar decolegial acanhada. Achou que Elliott o consideraria adequadamente simples

quando o visse. Mas nem pensou na reação de Jules.Então deixou de tentar adivinhar o motivo que levou Elliott às atitudesda noite anterior e decidiu que o que importava era enfrentá-lo, com calma edignidade. Pegou seu estojo de maquilagem e pintou-se, conseguindo disfarçaras olheiras e o cansaço.

Ao entrar no escritório, com a cabeça bem erguida, não viu Elliott e ficouquase desapontada. Jules levantou-se da cadeira e veio em sua direção.

— Está se sentindo melhor esta manhã?— Bem melhor. Eu não sei o que deu em mim ontem à noite.— Essas coisas acontecem. Nós não podemos controlá-las. Qualquer dia

destes vou sair com você de novo, e dessa vez vai se divertir.— Está bem.Os dois, Carol e Jules, souberam que Elliott não viria na parte da manhã.

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Susanna Firth — Um amor na França

O sr. Thompson explicou:— Parece que foi ver madame Durand para tratar de alguns detalhes

ligados à venda da propriedade.— Muito conveniente para ele. Será que foi até lá hoje cedo ou resolveu

levantar tarde e tomar o café da manhã, uma vez que já estava lá?O mesmo pensamento havia ocorrido a Carol. Não era possível que Elliott

tivesse passado a noite com a espetacular francesa. Ele não podia ser tão frioa ponto de ir para os braços de Michèle. Não depois do que havia acontecido. Adúvida a preocupava.

O sr. Thompson estava radiante essa manhã. Parecia um homem quehavia escapado da morte. Feliz de pensar que teria algumas horas sem apresença dominadora de Elliott, ele desapareceu dentro da sala depois deafirmar que não queria ser incomodado em qualquer hipótese.

— A não ser que seja o sr. Grant, é claro — apressou-se emacrescentar.Carol tranqüilizou-o:— Está bem. Não vou me esquecer.— Estamos seguros por enquanto. Livres do homem por algumas horas.

Como nos velhos tempos. É difícil acreditar que ele está aqui há poucos dias. Écomo se estivéssemos há uns vinte anos sob a tirania dele — Jules comentou,bocejando.

— O pobre sr. Thompson fica com a pior parte. Ele tem que suportá-lo odia todo, uma vez que trabalham na mesma sala. Penso que ele nuncatrabalhou tanto em sua vida. Vive o tempo todo pisando em ovos, pobrehomem.

— Os amigos dele do Soq d'Or devem estar intrigados, querendo saber o

que está acontecendo com ele. Não há mais pausas longas para o almoço,como nos bons tempos. Bem, nós nós sobreviveremos… eu espero.— Não tenha tanta certeza disso, Jules.— Talvez ele amoleça com o tempo. Carol balançou a cabeça, negando.— Você é mesmo otimista! Eu não contaria com isso. Depois do almoço,

Elliott apareceu no escritório. Carol tinha razão em não esperá-lo de bomhumor. Ao entrar, a porta se fechou com força e provocou uma corrente de arque espalhou papéis por todos os lados. Jules ia dizer alguma coisa, masdesistiu ao olhar para a cara do patrão e abaixou-se, resignado, para apanharos papéis. Elliott ignorou os dois e entrou em sua sala.

Jules lançou a Carol um olhar significativo, mas não emitiu uma palavra.Com Elliott obviamente de mau humor, talvez fosse melhor manterem acabeça baixa e esperar que a tempestade passasse. Enquanto datilografavauma lista de imóveis novos no mercado, Carol imaginou que Elliott nãoperderia a oportunidade de descontar sua raiva nela, Ficou curiosa para saberele estava aborrecido com o que acontecera na noite passada ou se poralguma outra coisa. Será que Michèle havia brigado por ele ter dançado comela?

Como se fosse um simples funcionário, e não o chefe do escritório dafirma de Arles, o sr. Thompson recebeu ordens para acompanhar um casalnuma visita a um novo prédio de apartamentos na costa. Ficou indignado comessa incumbência e estava protestando quando a porta da sala dele se abriu eElliott entrou no escritório.

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— Eu mando monsieur Pinot ou a srta. Russell para cuidar dessas coisas.Eu mesmo os treinei e sempre achei o trabalho deles excelente.

Elliott retrucou:— Não foi essa a impressão que tive ao acompanhar os dois. Já é hora

de você refrescar sua memória na parte de vendas, Thompson. Leve Pinot comvocê. É provável, com um pouco de sorte, que um de vocês dois consigavender alguma coisa.

— Sim, naturalmente.O homem teria concordado com qualquer coisa só para poder escapar da

língua ferina de Elliott, e Jules também parecia feliz em poder sair.Depois que partiram, Carol ficou sozinha no escritório com Elliott,

completamente à sua mercê. Sentiu um calafrio ao ouvir o Citroen da firma seafastando, como que a abandonando à sua própria sorte. Será que Elliott tinhafeito isso de propósito? Ela voltou a se concentrar na lista que estavadatilografando, esperando que ele voltasse à própria sala. Mas o arrepio nanuca lhe dizia que estava atrás dela. Incapaz de suportar por mais tempoaquele suspense, virou a cabeça e olhou-o.Elliott sorriu. Foi um sorriso sarcástico. Ela de repente teve medo. Eraseu marido, e há cinco anos pensava que o conhecesse bem. Concluiu agoraque nunca o conhecera de fato e se sentia na presença de um completoestranho.

— Lamento afastá-la de seu trabalho, mas cuidarei para que vocêretorne a ele o mais breve possível. Temos algumas coisas para conversar.

— Temos, é? Eu não sabia disso.— Pensou que aquilo que aconteceu ontem à noite estava terminado e

esquecido?

— Pois está terminado. Estou tentando esquecer pelo menos uma parteda noite de ontem.— Refere-se aos momentos que passou com Pinot ou aos que passou

comigo?— O que você acha?— Não notei você entusiasmada com Pinot da maneira que ficou comigo.

Ou será que deixou isso reservado para mais tarde, depois que ele a levoupara casa? Aliás, foram à casa dele ou à sua? Ou será que não seincomodaram muito com o local?

— Quando se está com a pessoa certa, o lugar não importa, não é

mesmo?— E acha que Jules Pinot é o homem certo para você? Não me faça rir!Ele não conseguiria lidar com você nem em mil anos.

— E você conseguiria, eu suponho? Como você se propõe a fazer isso,Elliott? Gosta de impor sua vontade a todos, não é mesmo? Casou-se comigopensando que eu fosse jovem e ingênua o bastante para me moldar à suavontade. Deve ter levado um grande choque, não? Bem, eu não sou mais fácilde lidar agora do que era então. Por que não admite isso?

Numa fração de segundo, ele cerrou os punhos nos lados do corpo.Olhou-a por um momento como se pretendesse agredi-la, mas então falousimplesmente:

— Ontem à noite pensei ter dado uma demonstração de minhacapacidade de lidar com você.

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— Você é um homem atraente… isso eu nunca neguei. Foi uma fraquezade momento.

— Entendo. E Jules a satisfaz?— Isso é da sua conta?— Sim, se eu quiser. Apesar de estar se sentindo tão livre e agindo como

se fosse solteira, lembre-se de que ainda está legalmente presa a mim,Caroline.

— Amarrada é o termo apropriado. Mas nosso compromisso decasamento não parece ter o mesmo valor para você. Haja visto seu jantarontem com Michèle. Nestes cinco anos que passaram, só agora me procurou…

— Antes tarde do que nunca.— Não seja cínico. Eu calculei que nunca mais o veria.— Fala do fundo do coração?Carol fez uma pausa antes de responder, consciente de que Elliott tinha

o poder de envolvê-la. Olhou para ele e sentiu que ainda possuía umasegurança cativante. Portanto, sabia que não devia confiar no próprioautocontrole quando estava perto dele. Falou, com tristeza:— Deve ter estado ocupado demais sendo um sucesso em Londres parapensar em mim. Acho que eu devia ter aprendido essa lição com minha mãe.Os negócios sempre têm prioridade, não é mesmo?

— Às vezes. Depende da concorrência que eles têm que enfrentar.— No meu caso, a concorrência não era bastante forte para apresentar

uma ameaça séria à sua concentração. Que boboca ingênua eu fui! Jamaispensei que outras talvez tivessem sucesso onde falhei.

— Você só tem a si mesma para culpar por isso.— Suas desculpas se esgotaram? — ela escarneceu.

— Caroline, você me acolheria bem se eu fizesse uma tentativa paraconsertar as coisas? — Elliott dirigiu-lhe um olhar direto e penetrante.Ficou espantada. Será que já tinha lhe ocorrido perdoá-lo? Achava que

não. Como seria se ele tivesse voltado naqueles primeiros meses angustiantes,depois que ela o deixara? Se Elliott a tivesse procurado, ela teria se atirado emseus braços? Será que o perdoaria por ter sido infiel? Carol não sabia. Agoraera tarde demais para pensar no que poderia ter acontecido. Sua atitude haviamudado, e ela se endurecera contra ele. Não precisava mais de Elliott. Eracapaz de se manter em pé com suas próprias pernas.

— Não — respondeu, olhando-o diretamente, esperando convencê-lo.

— Tem certeza, Caroline? Você não parece segura disso. Os olhos delepercorriam seu corpo bem torneado. Será que estava se lembrando do modocomo ela se inflamara ao seu contato, na noite anterior, no jardim dorestaurante?

— O que há com você, Elliott? Não consegue aceitar um “não” comoresposta?

— Desculpe. Pelo que me lembro”, você não disse “não” ontem à noite,disse?

— Seu comportamento de ontem à noite só me convenceu de comoestava certa em mantê-lo fora de minha vida. Lamento que seu orgulho nãopermita aceitar o fato. Mas vai ter que ir se acostumando a ouvir recusas.

O sorriso dele a fez estremecer um pouco, continha uma promessa,quase uma ameaça velada de uma futura retribuição ao sarcasmo de Carol.

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— O que a faz pensar que desisti de você?— Será que devo me sentir grata se você resolver se interessar por mim

de novo? Devo esquecer o passado, tornar-me mais uma vez uma esposaamorosa e dividir cama e mesa com você?

— Não preciso de uma esposa. Quero uma companheira. Uma amiga.Quanto ao seu outro oferecimento… talvez o aceite numa ocasião maisoportuna.

— É mesmo? Não está sugerindo que deva esperar na fila pela minhavez, está?

— Se quiser se expressar assim… Talvez descubra que isso exige maispaciência do que você é capaz.

— Ou então pode ser que resolva nem me dar a esse trabalho. Você nãoé o único homem do mundo, sabe?

— E você não é a única mulher, querida esposa. Não se esqueça disso,ouviu? — Dizendo isso, ele a deixou.

Nos dias seguintes Elliott foi visto por toda a cidade em companhia deMichèle Durand. Carol, sem se dar conta, quase esbarrou neles certa manhãde sábado, quando caminhava pela Rue de Ia Republique com uma pesadasacola de compras. Eles conversavam animadamente, no meio da calçadaestreita, e não saíram do caminho até ser tarde demais para evitá-los. Elliottentão passou um braço possessivo em volta da cintura de Michèle e a afastoudelicadamente do caminho de Carol.

Ao olhar para a elegância de Michèle, Carol ficou constrangida com suacalça de brim surrada e a camiseta comum. Estava sem nenhuma maquilagem,e seus cabelos estavam presos num coque frouxo no alto da cabeça. Percebeuque Elliott olhava para uma e para a outra, obviamente fazendo comparações.

Michèle parecia elegante o bastante para deixar qualquer homem orgulhosopor estar em sua companhia, ao passo que ela parecia uma mulher comum edesajeitada.

— Imbécile! Não consegue ver por onde anda? Você quase me derrubou!— Michèle reclamou de Carol.

— A srta. Russell não olha por onde anda. Ainda bem que ninguém semachucou. — Elliott interferiu a título de explicação.

— Srta. Russell? Você a conhece, Elliott? — o interesse de Michèle foidespertado.

— Sim, conheço-a. Vocês ainda não foram apresentadas? Michèle, esta é

Caroline Russell, que trabalha em minha firma. Esta é madame Durand,Caroline. Creio que você me viu em companhia dela no Belle Madeleine umanoite dessas.

Michèle olhou-a, espantada, como se não a reconhecesse em suasroupas do dia-a-dia.

— Então essa… essa é a moça que estava no restaurante na outra noite?Cest possible?

Elas apertaram-se as mãos com relutância. Só Elliott ousaria reunir asduas e esperar que fossem educadas uma com a outra em sua presença. MasMichèle não sabia do relacionamento de Carol com seu acompanhante e nãolhe foi tão difícil cumprimentá-la com aparente cortesia. Ela deu a Carol umsorriso frio e condescendente.

— Srta. Russell, estou encantada em conhecê-la. — Ela tinha uma voz

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grave e rouca, que os homens deviam achar extremamente sensual.Mentirosa, pensou Carol, com um sorriso tenso, e explicou

desnecessariamente:— Fui fazer compras. Estava voltando para casa.Michèle olhou-a com um ar entediado; tomou rapidamente o braço de

Elliott e se despediu:— Ah, sim. Então não devemos detê-la. Vamos agora, chéri? A mesa

está reservada para o almoço e já estamos atrasados.— Nós não estaríamos atrasados se você não tivesse levado tanto tempo

para se vestir. — Elliott comentou com tranqüilidade.O alvo de suas palavras sem sombra de dúvida era Carol, que se sentiu

magoada com a intimidade subentendida. Mais do que magoada, talvez elaestivesse sentindo ciúmes. Esperava ficar longe dele no futuro, para que nãopudesse fazê-la sentir-se tão mal exibindo-lhe suas mulheres.

Elliott sorria para Michèle, e Carol, ao observá-los, pensou em comopodia ser charmoso quando queria. Não que tivesse esbanjado muito charmecom ela recentemente. Mas sabia que agora era apenas a esposa de quem elese cansara.

— Mas claro Michèle. Vamos.Ele acenou com a cabeça para Carol e os dois se afastaram, perdendo-se

na multidão.Elliott afirmara que nenhuma mulher jamais conseguiria empurrá-lo de

um lado para outro, mas Michèle parecia estar se saindo muito bem.Se Elliott a quisesse, que fizesse bom proveito. Os dias em que Carol

podia senti-lo como seu, já havia acabado há muito tempo. Ficou curiosa parasaber se ele iria pedir Michèle em casamento. Será que lhe contou que já fora

casado antes? Talvez estivessem ocupados demais com outras coisas parapensarem nisso.Talvez Elliott a procurasse quando quisesse um divórcio, ou mandasse

seus advogados de Londres. Será que ela queria realmente o divórcio? Nãosabia por quê, mas se contentara em deixar que o tempo passasse. Não queriaprecipitar um encontro com o marido antes de se sentir capaz de enfrentá-lo.Mas, não adquiriu confiança necessária depois de todo esse tempo,pareciaimpossível que adquirisse agora. Estava bem consciente de sua fraqueza nesseponto.

De qualquer maneira, se pensasse melhor, acabaria agradecendo a

Michèle. Se a mulher conseguisse convencer Elliott a se casar, ela pelo menosteria sua liberdade. Mas era isso realmente o que queria? Então por que Elliottainda a atraía tanto? Por que passara noites acordada tentando encontrar umaresposta?

A verdade a atingiu em cheio. Em pé na cozinha, diante das coisas quehavia comprado, compreendeu que não queria se libertar de Elliott apesar deafirmar o contrário. Teve que admitir que ainda o amava. Não adiantava seiludir.

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CAPÍTULO VII

Na segunda-feira, ao entrar no escritório, Carol acreditou que seu amorpor Elliott a denunciasse, estando estampado em seu rosto, e sentiu medo de

enfrentar os colegas. Todavia Jules não notou nenhuma mudança drásticanela, uma vez que só perguntou se havia passado um bom fim de semana.— Sim, obrigada — ela respondeu automaticamente e foi sentar à sua

mesa.— Eu telefonei para sua casa no domingo pela manhã, para saber se

queria passear, mas sua senhoria disse que você não estava.— Eu sinto muito. É que estava um dia tão lindo que eu resolvi dar um

passeio.Ela buscara refúgio na tranqüilidade da Alyscamps, uma avenida

margeada de choupos onde existiam túmulos de pedra de tempos antigos. Eraum local muito procurado pelos turistas, que se espalhavam ao longo docaminho que conduzia às ruínas da pequena igreja de St. Honorat,fotografando avidamente a paisagem. Carol chegou lá bem cedo ecompartilhou a tranqüilidade de Alyscamps com um silencioso pintor,absorvido pela beleza do lugar que já tinha fascinado Van Gogh e Gauguin.

Carol caminhava lentamente, tentando ordenar seus pensamentos, masparecia impossível. Como aceitar que, depois de cinco anos de separação,ainda amasse Elliott daquele jeito? E, tendo finalmente admitido para simesma essa verdade, o que fazer a respeito? Sentou-se numa pedra e tentoudesesperadamente encontrar uma saída para a situação. Parecia um problemaretirado de um livro, e era horrível ter de equacioná-lo: Caroline ama Elliott.Contudo, Elliott está atraído por Michèle. Caroline e Michèle querem Elliott.Com qual das duas ele vai ficar e por quê?

Sorriu melancolicamente ao pensar nisso. Colocar-se ao lado de Michèlee pedir a Elliott para escolher uma delas era uma situação bastanteconstrangedora. Carol sabia que era uma mulher bonita, mas não havia comocompetir com a beleza e a sofisticação de Michèle Durand.

Carol era franca, direta, sempre dizia de forma clara o que pensava e eraextremamente impulsiva. Michèle, ao contrário, era do tipo que pensava duasvezes antes de falar, uma mulher calculista que nunca misturava suasemoções com seu senso de lógica. A única coisa que tinham em comum era ointeresse por Elliott, e até nisso eram muito diferentes. Carol queria o homemque amava, e Michèle, o homem que achava que seria o marido maisapropriado para ela. Carol sabia muito bem que a francesa nem se aproximariade Elliott se ele não fosse rico,

Claro que era uma idiotice ver a questão em termos de uma luta diretaentre ela e Michèle, que tinha todos os trunfos a seu favor. Isso seria ignoraras opiniões do próprio Elliott, considerá-lo um simples peão no jogo, o queestava longe de ser. Elliott talvez achasse que Michèle, tal como Carol, careciadas qualidades que ele exigia em sua mulher ideal.

Carol tinha certeza de que não ia ser fácil recuperar seu amor. Desde

que se reencontraram na França, ele tinha se mostrado frio e indiferente e nãolembrava em nada o amante apaixonado de anos atrás. Mesmo ao beijá-la, elese mostrara totalmente controlado. Provavelmente a considerava apenas uma

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mulher que tinha conseguido irritá-lo como nenhuma outra em sua vida.E parecia desprezá-la por isso. Quando Carol deu a entender que não

encontrara dificuldade em relacionar-se com outros homens, ele não semostrou nem um pouco surpreso. Era como se a considerasse uma mulhervulgar e sem pudor. Isso a magoou, vindo de um homem a quem elasurpreendera num ato de infidelidade. Será que Elliott era tão hipócrita eegoísta a ponto de achar que o comportamento de uma mulher, nesse caso,não podia ser semelhante ao de um homem?

Carol ficou sentada durante horas, até que o desconforto do bancoimprovisado a obrigou a se levantar e ela se viu, de repente, cercada deturistas. Sabendo que não teria mais sossego, resolveu voltar para casa, aindamenos certa do que deveria fazer.

— Carol! Estou perguntando pela terceira vez… — a voz de Julesinterrompeu suas reflexões.

— Desculpe. O que foi?— Eu é que pergunto. Você parecia estar no mundo da lua.— Estou com alguns problemas.— Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?— Oh, não, é apenas uma bobagem. É que estava pensando se devo ou

não comprar um vestido que vi no sábado. Só mesmo outra mulher poderiaajudar-me nessa decisão.

— Mas nós, franceses, somos muito habilidosos em tais questões. Nãosomos insensíveis como os ingleses, que consideram essas coisas afeminadas.Aliás, eu tenho uma solução perfeita para você. Compre o vestido e use-oquando sair comigo no próximo fim de semana.

— Vamos ver. Eu prometo pensar no assunto.

— Promessas, sempre promessas, Carol. Você nunca assume umcompromisso seriamente?— Nunca. Isso faz parte do meu charme. Ele fez uma cara tristonha.——Vaiment, Parece que dá certo em você. Mas quantos homens você

levou à loucura com esse suspense?— Um monte deles, eu imagino. Para algumas inglesas, brincar de

provocar seus namorados é um esporte tão popular quanto às touradas quevocês têm por aqui. A comparação é muito boa. Em ambos os casos, o objetivoé ver até que ponto se pode provocar a vítima sem se machucar. — A vozirônica de Elliott se fez presente na conversa.

— Mas nós não matamos o touro aqui na Provença. É só na Espanha queisso acontece — Jules argumentou, aborrecido com a intromissão.— E às vezes o touro leva a melhor sobre seu oponente. — Carol

interveio espirituosa.— Se ele for forte e rápido — Elliott rebateu.— Alguns touros são assim.— Alegro-me que reconheça esse fato, srta. Russell. Nunca se pode

julgar os animais ou as pessoas como se fossem todos iguais. Às vezes umdeles pode surpreendê-la com suas ações, se você não estiver esperando porelas.

— Esse é um erro que não costumo cometer.— Não?— Tenha plena segurança em minha aptidão de localizar a ovelha negra

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em cada rebanho.— E você também tem confiança em seu poder de lidar com elas depois

que as separou do resto?— Naturalmente.Jules quebrou a tensão, comentando com humor:— Que conversa é essa sobre animais? Sinto-me como se estivesse num

zoológico, não num escritório imobiliário. Isso é ridículo — acrescentou, dandode ombros.

— Parece que deixamos monsieur Pinot um pouco para trás. — Elliottdirigiu a Carol um olhar zombeteiro.

— Oh, ele me acompanha muito bem em outras coisas.— É mesmo?Sentindo que Elliott estava disposto a conversar essa manhã, Jules

resolveu entrar na conversa e brincou:— Há pouco estive tentando convencer Carol a sair comigo neste fim de

semana, para que eu possa lhe demonstrar como podemos nos dar bem.Elliott perdeu a graça, e Carol achou que ia repreender o rapaz. Masapenas perguntou:— E a srta. Russell está relutante em aceitar? O que será que está

pensando?— Nunca é bom aceitar um convite na primeira vez em que ele é feito.

Mas é claro que o senhor sabe disso, não é mesmo, sr. Grant? — Carolrespondeu.

— Então você irá?Ela lhe abriu um sorriso e, excluindo totalmente Elliott do assunto,

respondeu:

— Claro. Eu adoraria Jules.— Bem, já que isso está resolvido, talvez possamos voltar ao trabalho. —Assim falando, dirigiu-se a sua sala.

O tom de Elliott era um tanto áspero, mas Jules, menos observador,deixou de percebê-lo e recomeçou a trabalhar, satisfeito.

— Ele se mostrou humano pela primeira vez. O que será que aconteceucom ele, Carol?

— Sei lá.Graças ao seu desejo de provocá-lo, ela acabou aceitando um convite

que, de outra forma, teria recusado. E, ao fazê-lo, colocou-se ainda mais longe

de Elliott. Tentou pensar numa maneira de voltar atrás sem ofender Jules. Nãosentia nenhum prazer ao pensar na perspectiva de passar horas na companhiade um homem que não conseguia entusiasmá-la de forma nenhuma, por maisque tentasse.

Mas não conseguia encontrar uma desculpa para não ir ao passeio queJules havia marcado para o sábado seguinte. À medida que a semana passava,Carol compreendia que teria que se resignar e ir.

— Você gosta do mar, não, Carol? Vamos sair bem cedo para o litoral.Poderemos nadar e tomar banho de sol se o dia estiver bom.

— Sim, parece uma boa idéia, Jules.Achava que Jules dificilmente poderia tomar liberdades numa praia

pública cheia de gente. Então tentou não pensar mais no sábado e procuroudeixar as coisas acontecerem. Sua esperança de que talvez chovesse no dia se

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desfez, quando foi de camisola até a janela e viu que o tempo prometia sermuito bom.

“Maldito seja, Elliott Grant, por me enfiar nesta enrascada”, resmungoupara si mesma ao tomar banho, colocar o biquíni e pegar seu vestido novopara vestir por cima. Apanhou uma toalha, uma loção de bronzear e umchapéu de sol de aba larga. Então, depois de um rápido café da manhã, desceudepressa as escadas ao ouvir um carro buzinando em frente à casa. Julesinsistira em sair bem cedo para evitar os congestionamentos nas estradas.Eram pouco mais de oito e meia.

Carol fechou a porta da frente e olhou em volta à procura do pequenocarro esporte de Jules, franzindo a testa quando o localizou. Será que tinha seenganado?

— O carro está estacionado mais adiante, pois não havia espaço poraqui. — A voz de Elliott surpreendeu-a.

— Você! Onde está Jules?— Ele manda suas desculpas…— Grande coisa. Mas onde está ele?— Bem, a culpa não foi dele. Eu precisei que fosse para Marselha com

alguns clientes que chegaram inesperadamente. Vieram numa viagem denegócios, e hoje era o único dia de que dispunham para ver as propriedadesda região. Telefonaram-me hoje bem cedo.

— Por que você mesmo não os levou se são amigos seus? Já que nãotiveram nenhum escrúpulo em interromper seu sono, seria natural que vocêficasse ansioso por levá-los pessoalmente.

— Eu não estou familiarizado com as estradas daqui quanto Pinot. Alémdo mais, é só trabalhando que ele vai aprender.

— Mesmo em seus dias de folga?— Às vezes é necessário fazer sacrifícios para poder progredir.Carol ficou aliviada por não ter que sair com Tules e meio irritada com

Elliott por ter ousado interferir em seus planos.— Oh, é claro. Você deve saber bem disso, não é mesmo? Tudo bem.

Obrigada por ter vindo me avisar de que o passeio está cancelado.— Quem disse que está cancelado? Eu vim para me oferecer como

substituto de Pinot.Carol o olhou. Havia posto de lado o terno formal que usava no

escritório, e trajava calça de brim e camiseta. Estava muito atraente.

— Está um lindo dia. Lindo demais para você o desperdiçar em casa.Ainda podemos ir à praia, Caroline. Eu trouxe até um cesto de piquenique.— Como você encontrou tempo para preparar um cesto de piquenique?

Foi depois que seus clientes telefonaram e você combinou tudo com Tules?Não lhe telefonaram de madrugada?

— Telefonaram, sim. Aprontei tudo esta manhã. Sou bastante experientena cozinha.

Ela hesitou e se sentiu perdida. Elliott insistiu:— Vamos, Caroline. De que adianta sacrificar-se ficando em casa? Você

quer ir, não quer?Sim, queria ir, mas não pelo motivo que imaginava. Elliott achava que

Carol estava tentando superar o desagrado que lhe causava apenas para nãoperder o passeio esperado. O que não sabia era que a única coisa que a

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rosto? Carol achava que sim, mas se fez de desentendida.— Eu nunca estive num piquenique com Jules antes. Nós sempre

comemos em restaurantes.O que era verdade convenceu-se, procurando aliviar a consciência

culpada por levar Elliott a acreditar que ela e Jules eram amantes. A única vezque eles saíram juntos foi quando jantaram no Belle Madellene.

— Jules deve ter bastante dinheiro para gastar. Talvez estejamospagando-lhe um salário alto demais. Infelizmente não posso oferecer a vocênada mais exótico. Porém, você costumava gostar de piquenique, e supus queseus gostos não mudaram ao trazê-la para cá — concluiu, pegando umcomprido filão de pão francês, manteiga e patê da cesta.

— Não, não mudaram — respondeu ela, esticando uma toalha de xadrezvermelho e branco na areia.

— Fico aliviado ao ouvir isso. Parecem ter mudado muito em outrasáreas, e não para melhor.”

— Como assim?Elliott enfrentou seu olhar e se recusou a lhe dar essa satisfação, emborasoubesse o que ele estava pensando. Ele citou atítulo de exemplo:— Os seus cabelos. Você não costumava penteá-los dessa forma

horrível, como uma professora primária antiquada. É um crime puxá-los paratrás como se tivesse vergonha deles.

Carol, que havia prendido os cabelos num coque no topo da cabeça paranão despertar ainda mais o interesse de Jules, levou as mãos à cabeça e tirouos grampos que os prendiam soltando-os.

— Se fizesse isso antes, eu ficaria parecida com um cãozinho molhado.

Está melhor assim?— Muito melhor.O banho de mar havia lhes despertado o apetite, e eles comeram com

prazer. O patê foi seguido por coxas de frango assado, acompanhadas portalos de aipo, tomates e uma tigela de salada. Ele também trouxera frutas euns doces de massa com amêndoas.

Depois Carol deitou-se, satisfeita, e balançou negativamente a cabeçaquando ele lhe ofereceu uma maçã.

— Não consigo comer mais nada, obrigada. Estava uma delícia.— Alegro-me que tenha gostado. Ficou observando enquanto Elliott se

punha mais confortável, e desviou logo os olhos quando percebeu seu olhar.Ela deixou escapar um suspiro. Para uma pessoa que passasse, formavam umcasal feliz, aproveitando-se do sol e da brisa do mar sem nenhumapreocupação neste mundo. Só eles podiam notar a atmosfera de tensãoexistente que criava uma barreira no relacionamento. Será que podiam fazeralguma coisa para derrubá-la? Será que valia a pena tentar?

— O que foi? — perguntou Elliott, alerta como sempre.— Nada.— Isso não é resposta.— Eu estava apenas pensando em nosso casamento.— Eu não sabia que ainda tínhamos um casamento. — O tom dele de

repente se tornou áspero.— Não, acho que não temos.

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Susanna Firth — Um amor na França

CAPÍTULO VIII

Carol virou-se para o outro lado, sem querer continuar com aqueladiscussão inútil. Os dois poderiam acabar dizendo coisas de que se

arrependeriam depois. Enquanto não conseguisse esquecer Elliott, o melhorera deixar as coisas correrem com naturalidade. Se esse era mais um dia aoseu lado, o primeiro sem muitas brigas, ou o último, não importava. Nãoqueria era estragá-lo com um monte de reclamações.

Elliott parecia pensar o mesmo, pois procurou mudar de assunto,percebendo o quanto a havia deixado transtornada: — Carol, não acha queestá muito calor para estar dentro desse robe? Por que não o tira?

— Vou tirá-lo daqui a pouco — disse, procurando os seus óculos de solna bolsa.

Esperou até que os olhos dele se fechassem antes de tirar o robe e deitarao lado dele. Elliott permaneceu calado, mas um leve sorriso se desenhou emseus lábios. Ela pôs os óculos e ficou olhando através das lentes espelhadas.

“Maldito Elliott! Por que enxergava mais do que qualquer outro homem?” Elase virou de bruços e enterrou o rosto nas mãos, tentando ignorá-lo.

Ficaram deitados em silêncio durante algum tempo, até que ela ouviu avoz dele novamente.

— Caroline?— Sim? — respondeu, sonolenta, para dar a impressão de que queria

dormir.— Você passou alguma loção de bronzear?— Não.— Então é melhor passar. Você vai se queimar se não o fizer.— Não precisa me tratar como se eu fosse uma criança, Elliott. Há muito

tempo você deixou de me proteger.Ele não disse nada, e Carol achou que ele havia se conformado. Mas

Elliott nunca desistia…— O que é que… — Tentou se levantar para ver o que ele estava

fazendo.— Uma mão firme a manteve colada à areia e a voz do marido

respondeu com calma:— Se você age como uma criança, não pode culpar as pessoas por a

tratarem como tal. Agora fique quieta e deixe-me passar loção em suas costasantes que você comece a ficar queimada.— Eu não vou ficar quieta! Quer fazer o favor de me soltar?— Numa só palavra, não. O que você vai fazer a este respeito?— Oh, está bem. Siga em frente se isso o faz feliz — disse, parando de

resistir e esperando que ele terminasse logo com aquilo. Como ele ousavademonstrar sua força daquele jeito?

Elliott, contudo, não parecia estar com pressa. Soltou o laço da parte decima do biquíni, deixando suas costas descobertas, e começou a passar a loçãoem seus ombros com movimentos lentos e rítmicos. Suas mãos pareciam

traçar uma trilha de fogo na pele nua. Tudo que ela pôde fazer foi ficar imóvele não responder ao convite daqueles dedos longos e firmes que lhe desciampelas costas, em direção à base da espinha. Ficou tensa e se mexeu um pouco.

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Sabia muito bem, e era esse o problema. Amava Elliott mais do quequando se casou com ele. Naquela época, ela lhe oferecera a afeição ingênuade quem conhecia pouco o mundo e as pessoas. A aparência de Elliott a haviaimpressionado. Agora o que sentia por ele era o amor de uma mulher madura,que reconhecia nele seu companheiro e que desejava juntar sua vida à delepara sempre.

E quanto a Elliott? Ainda era um mistério para Carol. Será que seucasamento teria sobrevivido se ela tivesse ignorado as falhas dele? Não sabia.Sua cabeça girava, cheia de perguntas sem respostas.

Percebeu que ainda estava segurando o frasco de loção, emecanicamente começou a passá-la sobre a pele, que ainda sentia o contatodas mãos dele. Nenhum outro homem seria capaz de despertar seus sentidoscomo Elliott, ela agora tinha certeza. Pensou nele com Michèle, beijando-a eacariciando-a, e sentiu ciúmes. Será que Michèle podia excitá-lo tanto quantoela? Não tinha meios de saber.

Carol ficou sentada onde estava forçando a vista para tentar localizá-lona vasta extensão de água azul. Afinal viu a cabeça escura despontando emdireção à praia, os braços fortes se movendo sem esforço na água. Ela se viroue deitou de bruços. Talvez fosse covardia, mas ela não queria ficar olhandoenquanto ele saía da água e se aproximava dela. Não tinha coragem deencará-lo para tentar ver o que estava sentindo. Elliott sem dúvida a fariasaber no devido tempo.

A sensação que sempre a fazia perceber a presença de Elliott avisou-a deque ele se aproximava, e depois de que estava se sentando ao seu lado.Ouviu-o suspirar com impaciência e em seguida o silêncio, só interrompidopelo som de sua respiração regular. Olhou furtivamente em sua direção, viu

que estava dormindo e acabou fazendo o mesmo.Ela só despertou com a brisa fresca da noite que se aproximava. A tardese despedia deles, belíssima.

Carol olhou para Elliott, com os olhos sonolentos, e perguntou:— Que horas são?— Já é hora de pegarmos à estrada. Você dormiu mais de duas horas.— Eu devia estar cansada.— Talvez. Já está pronta para ir?— Sim. Só preciso de um minuto para colocar o vestido.A viagem de volta à Arles foi muito rápida e feita num silêncio quase

total. À medida que se aproximavam da cidade, ela ficava repetindo para simesma que essa fora sua última chance de reconquistá-lo. O sol se punhadeixando o céu avermelhado. Carol olhou para o rosto impassível de Elliott earriscou um comentário:

— Como será que Jules se saiu com os clientes?— Acho que eles o mantiveram ocupado. Espero que não esteja

planejando um encontro com ele esta noite para trocarem impressões sobre odia. Duvido que ele volte antes da meia-noite.

— Você está bem seguro disso. Parece até que arranjou as coisas desse jeito.

—Talvez tenha feito isso mesmo.— Não diga! — Carol olhou-o, perplexa. — Você acha que eu seria

capaz?

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— Não, claro que não. Você jamais faria uma sujeira dessas.— Tudo é válido na guerra e no amor.— Sim, mas você não me ama, não é mesmo? Eliott fez uma pausa

antes de responder.— Não, Caroline, eu não amo você.Carol queria saber o que ele sentia por ela, não queria? Pois bem, agora

já sabia. E, de repente, parecia que nada no mundo valia a pena. Ela fez umgrande esforço para conter as lágrimas que embaçavam seus olhos.

Estando imersa em pensamentos, não reparou na rua que Eliott tomoudepois que atravessaram o Ródano pela ponte Tri-quetaille. Foi só quando eleparou o carro num bairro completamente estranho que ela percebeu que nãoestava em casa.

— Onde estamos?— Bem, eu estou substituindo Jules, não estou? Não creio que ele a

deixaria em casa tão cedo. Ele a levaria para jantar em grande estilo, tenhocerteza.

— Ele teria me consultado primeiro.— E você na certa não faria nenhuma objeção não é mesmo?— Talvez não.— Então não pode me culpar por lhe oferecer o mesmo serviço. Achei

que iria preferir um jantar íntimo, a dois, a um restaurante cheio de gente, porisso a trouxe ao meu apartamento. Acredito que Jules teria sugerido algumacoisa parecida.

Carol também tinha certeza. Mas sabia que podia escapar semproblemas das garras de Jules, e que não podia dizer o mesmo de Elliott. Elenunca aceitava um “não” quando queria alguma coisa. E, se ele a quisesse

como quis aquela tarde na praia, ela não teria nenhuma chance de recusar.Ela estava confusa, amedrontada, e tentava em vão pensar numadesculpa. Uma dor de cabeça súbita, talvez? Mas o íntimo lhe disse que elanunca aprenderia a lidar com Elliott se vivesse fugindo dele. Era hora de sercorajosa; aceitar o convite e lhe mostrar que era capaz de lidar com ele.

— Está bem. Podemos jantar juntos. Elliott abriu a porta para ela e aconduziu pelo interior do prédio de apartamentos. O dele ficava no segundoandar. Tinha uma sala grande e bem projetada, cozinha ampla e uma suíte.Era um apartamento de solteiro perfeitamente organizado, decorado com bomgosto e sobriedade.

— É muito bonito — comentou ela.— Alegro-me de que goste. Você deve lembrar que eu não gosto deninguém olhando quando estou cozinhando. Por que não toma um banho dechuveiro enquanto eu preparo tudo? A água está quente e há toalhas limpasno armário.

— Obrigada. Eu bem que gostaria de tomar um banho.Era uma pena que não tivesse nada para vestir depois, mas o vestido

verde ainda estava relativamente limpo.Enquanto ela seguia na direção indicada, Elliott disse:— Caroline… não há trinco na porta do banheiro, mas não se preocupe

que não vou incomodá-la. Acho que vou ficar ocupado demais cozinhando.Ela ouviu sua risada ao entrar no banheiro e bater a porta.As preocupações do dia pareceram se dissipar sob o jato morno e

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reivigorante da água, e ao se enxugar e se vestir de novo, sentiu-se prontapara tudo. Então foi à cozinha e perguntou:

— Posso ajudar em alguma coisa?Ele estava picando legumes para a salada e não levantou a cabeça.— Você pode preparar o molho da salada se quiser. Vai encontrar tudo

de que precisar nesse armário da esquerda. Também vou tomar um banho seficar de olho nas coisas.

— Está bem. Carol pôs-se a trabalhar. Era como nos velhos tempos emque Eiliott ficava encarregado da cozinha. Ele sempre gostou de cozinhar nosfins de semana. Quando o jantar ficou pronto, eles o levaram para a mesa e sesentaram para comer. Elliott abriu uma garrafa de vinho tinto, encheu seuscopos e propôs um brinde:

— Ao futuro, Caroline.— Ao futuro — repetiu ela, querendo saber como conseguia se sentir tão

animado.Mas Elliott parecia determinado a deixá-la à vontade e eles conversaram

animadamente até que tocaram no assunto de seu trabalho na França.— Você gosta daqui, não? — perguntou, curioso.— Sim. Eu tenho sido muito feliz aqui na Provença. A terra e as pessoas

me atraem muito. Foi um passo difícil de dar, mas me alegro por terconseguido.

— Como seus pais reagiram a isso?— Eles ficaram preocupados. Acho que os pais sempre se preocupam.

Mas, depois de quase cinco anos aqui, já provei que sou capaz de me sustentarsobre minhas próprias pernas.

Elliott lhe serviu mais vinho e ela tomou um gole com prazer. Até agora

eles evitaram os assuntos dolorosos sobre o passado. Mas por quanto tempoconseguiriam evitá-los?Ela perguntou, adiando o inevitável:— E quanto a você, Elliott? Agora é dono da Prospect Properties e

provavelmente de muitas outras empresas. Como foi que conseguiu isso tãodepressa?

— Com concentração aplicada e trabalho duro. Quando coloco minhamente em alguma coisa, me dedico de corpo e alma. Essa foi uma meta queestabeleci para mim mesmo.

— E, já que a alcançou, essa meta não parece mais tão importante, não

é mesmo?— Para mim, o desafio sempre consistiu em alcançar o sonho. O sonhoem si não me interessa muito. Eu compreendi… durante os últimos cincoanos… que existem outras coisas na vida além do sucesso nos negócios, equero aproveitá-las antes que seja tarde.

— Que tipo de coisas?— Amor, casamento e talvez crianças…— Para herdarem sua fortuna?— Sim, por que não? Carol parecia surpresa.— Você mudou Elliott. Quando o conheci, não admitiria que nada se

interpusesse em seu caminho para o topo.— É para mim os relacionamentos humanos eram apenas casualidades

naturais.

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— Você então vai começar tudo de novo? Uma nova vida?— Estou pensando nisso.Elliott levou os pratos até a cozinha e retornou com frutas frescas e

queijo. Carol perguntou, quando ele se sentou de novo, referindo-se a Michèle:— Você já discutiu isso com a mulher em questão?— Ainda não.— Você acha que… ela talvez não pense da mesma forma?— Talvez seja necessário um pouco de persuasão de minha parte, mas

tenho esperanças de obter sucesso.— Entendo.Carol não sabia mais o que dizer. Ele parecia excluí-la totalmente de sua

vida futura. Como se lesse seus pensamentos, Elliott perguntou de repente.— E quanto a você? Quais são seus planos?— Eu não tenho nenhum no momento.— Não? E quanto a Jules e os outros?— Acho que seria melhor se deixássemos Jules fora da conversa.— Como você quiser. Quer café?— Sim, obrigada. — Carol sentia a cabeça um pouco pesada por causa

do vinho.Elliott preparou o café enquanto ela limpava a mesa e levava o bule e as

xícaras para a mesinha perto do sofá. Hesitou quando Elliott se acomodou eindicou um lugar a seu lado. Mas por que estava se preocupando? Elliottdeixou bem claro que seus planos para o futuro não a incluíam. Caroldescontraiu-se e sentou, tomando a xícara que ele lhe ofereceu.

— Café com um pouco de creme e sem açúcar. Eu me lembreicorretamente?

— Sim. Está muito bom, e você se lembrou perfeitamente, Elliott.— Você está pensando em se casar com Jules?— Ele não me pediu — esquivou-se, engasgando com o café.— Ah! Como se isso tivesse importância! Carol olhou-o demoradamente,

então retrucou:— O que vai acontecer depois que nós nos divorciarmos não é da sua

conta. Preciso ir agora. Já passou da minha hora de dormir.— De fato. Você já devia estar na cama há muito tempo. — Elliott

puxou-a para perto de si e encostou os lábios em sua orelha.Ela ficou desarmada pelo comentário. Procurou se desvencilhar em vão.

— O que houve?— Você sabe muito bem. Você está me acariciando.— Não há nada de errado nisso. Somos casados, lembra? Ainda posso

reclamar meus direitos conjugais.— Então já é hora de nos divorciarmos!— Conversaremos sobre isso mais tarde. Neste instante minha vontade é

outra.Elliott beijou seus lábios, que se entreabriram correspondendo ao beijo.Carol sentiu as mãos dele nos botões de seu vestido e uma súbita

liberdade quando ele despiu seus ombros. Elliott então a deitou no sofá macioe se curvou sobre ela. Carol não conseguiu mais resistir. Desejava fazer amorcom ele agora tanto quanto o quisera na praia. Com um suspiro, ela seentregou a Elliott.

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CAPÍTULO IX

Os raios matinais de sol entraram pelas venezianas, iluminando o quarto,despertando Carol de um sonho feliz.

Sonolenta, aos poucos foi lembrando da noite anterior. Apalpou a cama àprocura do corpo de Elliott, mas não o encontrou e suspirou desapontada.Logo iria ao seu encontro. Agora só queria estar ali deitada, pensando

nos instantes de prazer e de felicidade que dividira com ele.Estranho que um dia confuso terminasse de maneira tão agradável.Percebeu um calor pelo corpo ao recordar das carícias de Elliott.

Espreguiçou-se longamente e deitou de costas, olhando para o teto com umaexpressão sonhadora. Tudo havia sido maravilhoso. Por que tinha permitidoque um orgulho tolo a afastasse de seu marido por tanto tempo? Por quedesperdiçaram tantos anos? Finalmente estavam reconciliados. Nada maisimportava.

Lembrou de quando estava em seus braços e ele a trouxe para o quarto,deitando-a na grande cama de casal. Foi despida com atormentadora lentidãoe provocada em todos os seus sentidos. Elliott despiu-se também e deitou-seao lado dela.

Os beijos e os carinhos dele a envolveram como se fossem ondas deprazer, a princípio calmas, e que cresciam a cada movimento de seus corpos.Ela retribuía as carícias, devolvendo o prazer que ele lhe dava.

Elliott odiava o ato final. Mesmo naquele instante ele comandava asituação à sua maneira. Forçava-a a emitir palavras que se negara a dizerdurante tanto tempo.

— Diga que me ama, Caroline.— Oh, sim, sim — murmurou, perdida num mundo de prazer e desejo.— Diga. Quero que diga que ama só a mim e a mais ninguém — ele

insistiu.— Eu o amo, Elliott. Só amo você e mais ninguém. Sempre o amei…Então o rosto dele ficou radiante, e, com um sorriso de satisfação, ele a

possuiu com ardor.Depois de satisfeita, Carol deitou em seus braços, com a cabeça

aninhada em seu ombro. Muito tempo depois de Elliott ter adormecido elacontinuava atenta ao som de sua respiração, curiosa para saber o que oimpelia a pisar em todos os que se colocavam no seu caminho.Seria tudo fingimento? Talvez, debaixo daquela máscara de dureza e defria objetividade se escondesse um homem vulnerável como outra pessoaqualquer. Mas ela sabia que Elliott só revelaria esse lado sensível a alguém queamasse muito ou se fosse extremamente pressionado. Carol imaginou em qualdas duas situações ela se enquadrava, e sentiu um peso apertar seu peito.

— Caroline.Carol aconchegou-se mais a ele, beijando suavemente seu ombro.— Sim,— Diga de novo. — Por quê?

— Eu quero ouvir você dizer.— Eu te amo, Elliott Grant. Está satisfeito?— Sou o homem mais feliz que há sobre a face da terra — respondeu,

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Susanna Firth — Um amor na França

beijando-a nos lábios.Com beijos ternos e suaves ele fez tudo para agradá-la. Carol esqueceu-

se de todos os problemas e mergulhou naquele prazer calmo, pleno deternura.

Depois dessa noite ele não seria mais capaz de dizer que preferia outramulher. Cada parte do corpo dele revelara o desejo que nutria por ela. Carolduvidava que Michèle ou outra qualquer pudesse satisfazê-lo daquela forma.Madame Durand ia ter uma surpresa desagradável. Quem diria que umainglesa teimosa pudesse ganhar a parada contra a beleza e sofisticação daviúva? Mas, afinal, Carol tinha alguns anos de vantagem a seu favor.

Desperta do sono, tentou imaginar o que poderia acontecer. Talveztivesse que desistir de seu emprego na McIlroy & Went-worth. Teria queretomar o lugar ao lado de Elliott, acompanhando-o de volta a Londres. Carolnão gostou dessa perspectiva. Com muito custo tinha conquistado sualiberdade e não suportaria tornar-se uma nulidade ao lado do esposo. Conheciamuitas mulheres de executivos e sabia que esse tipo de vida não serviria paraela. O que poderia ser pior para uma mulher independente do que não ter umtrabalho?

Claro, as pessoas com a mentalidade de sua mãe diriam que não hánada melhor na vida do que cuidar do marido e dos filhos. Eram boçais,medíocres, que passavam os anos sem viver e que não perdiam á chance devomitar “experiência”. Pessoas que concebiam como único futuro e razão deexistência para a mulher ser a rainha do lar, submissa ao rei-marido.

Elliott nunca pensou dessa forma, sempre insistira para que ela achasseuma razão, um sentido na vida. Fora o primeiro a sugerir que arrumasse umaocupação, um emprego.

Ela, ao contrário, só agora começava a pensar diferente da sua mãe. Nãoque não quisesse ter um lar ou filhos. Quem sabe dali a nove meses tivessemuma garotinha com os olhos pretos de Elliott? Ou então um menino. Sóesperava que a criança não tivesse o mesmo gênio dos pais!

Pensando em todas essas coisas, Carol não percebeu o tempo passar.Quando consultou o relógio da mesa de cabeceira, eram quase onze horas damanhã, e ela e Elliott ainda não tinham conversado. Mas onde estava Elliott? Oque ele estaria fazendo?

Ela se sentou na cama e procurou suas roupas, ainda deviam estar jogadas no chão da sala de estar. Olhou em volta procurando o robe de Elliott

para vestir, mas não o encontrou.— Elliott? Onde está você? — chamou, impaciente.Não houve resposta e ela não insistiu. Talvez tivesse ido comprar algo

para o café da manhã. Achou melhor se levantar para ajudar na cozinha. Tirouo lençol da cama e, enrolando-o em volta do corpo, foi até a porta do quarto ea abriu.

— Elliott?— Estou aqui — a voz dele respondeu da sala de estar. Carol correu,

ansiosa, em sua direção.— Que acha de tomarmos o café da manhã na cama? Você está

preparando alguma coisa? Se precisar de ajuda eu…Ela parou de repente ao ver que Elliott não estava sozinho, Jules estava

com ele e a olhou, estupefato.

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— Caroline! — exclamou, boquiaberto.Quando Carol finalmente conseguiu desviar os olhos arregalados de Jules

e olhou para o marido, percebeu regozijo e satisfação. Uma suspeita derepente assolou a sua mente. Será que Elliott tinha planejado tudo aquilo? Maso que teria a ganhar com toda essa trama?

Como sempre ele se mostrava calmo e controlado, acostumado amanipular as pessoas. Essa pequena cena não o abalaria de maneira alguma.

— Sente-se, Caroline — ordenou.Carol obedeceu e sentou numa das poltronas. Sentiu-se aliviada pois

achava que suas pernas não a teriam sustentado por mais tempo.Sem dar a menor importância à situação constrangedora, tanto para

Carol quanto para Jules, Elliott começou a falar de negócios, como seestivessem no escritório.

— Monsieur Pinot e eu estivemos discutindo sobre o sucesso dele comnossos clientes ontem. Parecia um negócio difícil, mas ele se saiu muito bem.Pinot estava um pouco preocupado por ter deixado você na mão, por causados clientes. Estive tentando tranqüilizá-lo. Talvez você consiga convencê-lomelhor do que eu. Você não se divertiu?

Elliott aproximou-se dela e pôs as mãos sobre seus ombros. Carol tentouse desvencilhar, mas ele a segurou com mais força e falou sem nenhumareserva.

— Caroline talvez esteja encabulada para dizer o quanto gostou depassar o dia comigo. Mas posso lhe garantir que ela estava muito bem ontem ànoite.

— Seu bastardo! — Carol exclamou, baixinho.Como se atrevia a envergonhá-la daquele jeito diante de Jules?

Se Elliott esperava que o francês tomasse uma atitude passional,enganou-se completamente. Jules havia pensado bem e resolvera ficar quieto.Talvez o bom senso lhe dissesse que ele jamais levaria a melhor numconfronto físico com Elliott. Era mais novo, mas Elliott estava em melhor formae era muito mais forte.

Jules falou, nervoso:— Entendo. Caroline é livre. Ela pode fazer o que bem entender. —

Apesar das palavras conciliadoras, o tom da voz dele dava a entender que acensurava por seu comportamento.

Elliott perguntou, com certo desprezo:

— É só isso que tem a dizer?— O que há mais para dizer?Com uma súbita energia, Carol soltou-se de Elliott e se levantou,

exclamando:— Muita coisa! Eu não sou um objeto sem vontade própria para ficar

sendo avaliada e censurada por vocês dois, O fato, Jules, é que Elliott é meumarido.

— Como você é corajosa em lhe contar isso! Eu estava começando aduvidar que um dia o faria. — Elliott escarneceu atrás dela.

— Nós estávamos separados há vários anos, é claro, e eu vinha usando omeu nome de solteira no trabalho. Foi um pouco embaraçoso quando eleapareceu no escritório. Nós decidimos que seria menos desagradável paratodos se não mencionássemos que éramos casados.

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— Você há muito deixou de dar importância ao fato de ainda estarcasada — Elliott ironizou.

Carol continuou, ignorando-o:— E agora parece que o segredo foi descoberto.— Então vocês se reconciliaram? — perguntou Jules, agora mais

intrigado que perplexo.— Sim! — Elliott respondeu por ela. Lançando-lhe um olhar de desprezo,

ela o desmentiu:— Não! Nós ainda estamos legalmente unidos. Mas vamos nos divorciar

assim que for possível.— Não tenha tanta certeza disso.— Estou vendo que vocês dois ainda devem ter muita coisa para discutir.

Eu sem dúvida estou sobrando aqui. Vou deixá-los para que resolvam suaspróprias questões.

Elliott zombou, imitando-o:— Estou vendo que você tem tato, além de um forte instinto de auto

preservação. Talvez o tenha subestimado, Pinot. Com essas qualidades, vocêdeve ir longe.— Espero que sim — respondeu Jules, um tanto desconcertado com o

comentário. Ele se virou para Carol: — Você tem o número de meu telefone,ligue-me se quiser conversar.

—■ Obrigada.Acompanhando-o até a porta, Elliott disse com firmeza:— Caroline não vai precisar mais de seus conselhos, Pinot. Agora é com

seu marido que ela vai dividir seus problemas.Quando Elliott fechou a porta, Carol suspirou de alívio, apanhou seu

vestido atrás do sofá e foi para o quarto.Elliott a deteve e perguntou, furioso: — Aonde pensa que vai? Já é horade termos uma conversa séria, não acha?

— Vai ter que esperar até que eu tenha tomado banho e me vestido. Nãoposso ir para casa deste jeito.

— Você não vai para casa. E eu prefiro você assim como está.— Não duvido. Mas, como não tenho nenhuma intenção de consultar

suas preferências, tanto agora como no futuro, não me interessa o que pensa.Carol se soltou dele e entrou no quarto para apanhar o resto de suas

coisas. Elliott a seguiu e, quando ela se virou com as roupas e os sapatos nas

mãos, ele bloqueou-lhe a passagem. Carol olhou-o com desafio, e ele desistiu,afastando-se preguiçosamente.— Vá se vestir, se isso a faz mais feliz. Mas não pense que vou deixá-la

sair daqui sem arrancar de você a verdade sobre sua vida desde que nosafastamos.

— E o que você sabe sobre a verdade, Elliott Grant? Você sempre atorceu para satisfazer seus propósitos.

Sem esperar por uma resposta, ela entrou no banheiro e bateu a porta.Parou por um momento encostada na parede, sentindo-se fraça e com medode que ele a seguisse. Mas ouviu seus passos se afastando e suspirou maistranqüila. Então despiu o lençol, abriu a torneira do chuveiro e se enfiouembaixo da ducha quente.

Seria capaz de ficar ali para sempre, protegida do mundo exterior por

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aquela cortina de vapor, mas sabia muito bem que Elliott devia estarimpaciente e seria bem capaz de vir buscá-la se não se apressasse. Logo saiudo chuveiro.

Tinha sido ingênua e tola deixando-se levar por Elliott na noite passada!Com o espírito leve, induzido pelo vinho e por sua própria vontade de acreditarno homem que amava, ela acabara relaxando suas defesas. Ela se submeteraàs suas carícias sem nenhuma resistência.

A felicidade que sentia logo que acordou dissipou-se completamente,bem como as esperanças de uma nova vida em comum. Olhando-se noespelho viu que seu rosto cansado e suas olheiras davam-lhe o aspecto deuma velha. Se era isso que o amor fazia com as pessoas, não pretendia termais nenhum no futuro. Seus cabelos pareciam ter perdido a vitalidade naturalquando os penteou.

Sentou-se na borda da banheira, pensativa e desanimada. Elliott venceracada ponto do jogo. Será que havia algum sentido em lutar contra ele? Ela nãosabia como retornar ao trabalho enquanto estivesse na França. Como reunircoragem para encarar Jules? Ele a havia visto enrolada num lençol em plenasala de estar de Elliot Grant.

A voz de Elliott veio impaciente da sala:— Caroline! Se você não sair daí dentro de cinco minutos, vou buscá-la.

Ouviu bem?Carol não respondeu. Conhecia-o bem e sabia que cumpriria a ameaça.

Preparou-se para sair do banheiro, sem saber o que diria. Uma coisa era certa:amava aquele homem por mais que a machucasse.

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CAPÍTULO X

Quando Carol entrou na sala, Elliott estava esparramado no sofá, com aspernas estendidas diante de si e as mãos enfiadas nos bolsos da calça de brim.

— Diga Elliott. O que quer falar comigo?— Pensei que fosse óbvio.— Se estiver se referindo à pequena cena da qual fui vítima, eu gostaria

realmente de uma explicação.— O que você quer saber?— Bem, para começar, você poderia me dizer o que Jules veio fazer aqui

esta manhã.— Pensei que já tivesse dito. Veio relatar sua viagem de negócios a

Marselha.— O que você engendrou…— Sim, engendrei. Como já disse, a experiência seria boa para ele. Se

quiser progredir na profissão, ele vai ter que ampliar suas idéias.— E suponho que os clientes que acompanhou eram pessoas pagas por

você para lhe criarem todos os problemas possíveis, a fim de que não pudessevoltar. Você queria que o caminho, ficasse livre, não?

___Sim, Caroline querida. Você não me achava capaz disso, achava? Enão tive que pagar nada pelo que fizeram. Eles eram meus amigos.

— Devem ser grandes amigos, Elliott, dispostos a contar um monte dementiras e desistir de um dia livre só por sua causa. Você faria o mesmo poreles?

— Sim, se precisassem desse tipo de ajuda. Mas não precisam. Deviam-me um favor.

— Não precisa se desculpar por eles. Não se preocupe, pois eu nãoespero que seus amigos sejam santos. Você certamente não é!

— Os fins às vezes justificam os meios.— E justificaram neste caso?Os lábios dele tremeram levemente.— Acho que sim.— Fez tudo isso só para romper um relacionamento que supunha existir

entre mim e Jules?— Sim.— E valeu a pena? Não, não diga. Eu não espero que tenha remorsos ouque se sinta culpado pelo que fez. Sei que se considera infalível. Mas será que

toda essa maquinação valeu a pena?— Ontem à noite pensei que sim. Esta manhã tenho dúvidas. Não era a

resposta que Carol esperava, e por isso ficou sem saber o que dizer. Mas serecuperou logo:

— Alegro-me em saber que você gostou de passar a noite comigo. Ouserá que foi mais uma mentira para deixar o pobre Jules com ciúme?

— Não, você se mostrou competente como sempre nesse sentido. Vocêsabe me fazer feliz. Se precisar de uma carta de recomendação, pode me

procurar a qualquer hora.— Acho que não vou me dar a esse trabalho, obrigada.— Presumo que existem muitos outros que concordam com essa

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avaliação, não é? Seu marido não conta realmente nada. Aliás, eu nunca conteinada para você, não é mesmo, Caroline?

— Espera consideração, quando age maquiavelicamente, com truquessujos como esse? Por que fez isso? Será que uma noite comigo significa tanto,ou foi apenas uma compensação? Houve um momento de silêncio:

— Não quero que seja apenas por uma noite. Você me pertence, e não aPinot ou a qualquer outro homem. Estou pouco ligando para eles. Você éminha esposa.

— Eu não pertenço a ninguém, a homem algum. Já teve sua desforra,não teve? Descobriu que eu trabalhava para a companhia e imaginou umamaneira de se vingar por ter largado você. Acho que agora está em paz comseu orgulho. Satisfeito pela humilhação que me causou.

O rosto de Elliott estava contraído e pálido, como se estivesse tendodificuldades em reprimir alguma emoção.

— Quero você de volta, Caroline. Preciso de você.— Precisa de mim? Não me faça rir! Exatamente para quê precisa de

mim? Michèle abandonou-o?— Não preciso de Michèle. Depois de ontem, tomei uma decisão. Querouma companheira e uma família. E você é minha esposa.

— Então você falou a sério quando disse que queria ter filhos?— Será que é tão absurdo?— Você seria um pai razoável se esforçasse — Carol continuou,

agressiva. — Mas faz questão de manter essa sua atitude prepotente. Achaque conseguirá tudo o que quiser se esforçar bastante. Mas existem outraspessoas. Você resolveu levar uma vida familiar e quem sabe Michèle não gosteda idéia de ter filhos. Ou talvez ela não esteja disposta a esperar pelo seu

divórcio. Aí você resolveu substituí-la por mim. Então você elimina a oposição,consegue sua vingança e me aceita graciosamente de volta como sua esposa.— Talvez.— Pois não vai dar certo. Você destruiu minha amizade com Jules, pode

se orgulhar disso. Se me despedir da empresa, vou sentir muito porque gostode trabalhar lá, porém logo encontrarei outra coisa para fazer. Prefiro passarfome a voltar para você!

Elliott encolheu-se como se ela o tivesse esbofeteado.— Não pensa em nada para dizer em sua defesa, não é mesmo? — Carol

ironizou.

Ele a olhou com uma expressão cansada; então respondeu:— Nada a que você desse ouvidos. Não, não há mais nada a dizer.— Há mais uma coisa. Você se esqueceu do ingrediente essencial. Se for

se envolver com alguém no futuro, é melhor se lembrar de que esse alguémtambém existe.

— Do que você está falando?— De amor, Elliott. Você deve ter ficado muito feliz quando conseguiu

fazer com que eu dissesse que o amava ontem à noite. Deve ter feito muitobem ao seu ego.

— É verdade que ainda me ama, Carol?— Àquela altura eu teria dito qualquer coisa para ficar com você. As

mulheres sentem desejo tanto quanto os homens, sabe? Mas eu acredito queum casamento precisa de amor para mantê-lo vivo. Sem amor ele não pode

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sobreviver, não importa o que o casal tenha para oferecer em termos de sexoe coisas materiais. Infelizmente você não sabe o que é amor.

Elliott não a deteve quando ela caminhou para a porta e a abriu. Semolhar para trás, Carol foi embora. Desceu as escadas como se caminhasse numnevoeiro. Estava tão perturbada e infeliz que mal reparou no casal que seaproximava dela.

— Você é Caroline, não é? Caroline Grant?— Caroline Russell — Carol corrigiu automaticamente.Levantou os olhos e viu as feições da ruiva que não conseguia esquecer.

Era a mulher que ela vira no apartamento de Elliott há cinco anos.— Você é Liz… — disse, abobalhada.— Isso mesmo. E este é meu marido, Peter.Carol cumprimentou um homem alto, barbado e mais ou menos da

mesma idade de Elliott, que lhe sorria. A mulher disse a Carol:Nós íamos visitar Elliott. Eu não quero me meter, mas… isto é… vocês

conseguiram solucionar todos os seus problemas?— Sim, obrigada. Desculpe.Carol não conseguiu conter as lágrimas que lhe escorreram pelo rosto.Agradeceu quando o homem colocou um lenço em sua mão. E viu os dois

sussurrando. Por fim, Liz sugeriu:— Escute, você precisa se animar. Há um barzinho mais adiante. Nós a

levaremos até lá.Carol permitiu que eles a conduzissem ao café. Eles se sentaram

enquanto Peter desaparecia para encomendar as bebidas. Liz tentou confortá-la.

— Está se sentindo um pouco melhor agora?

— Sim, obrigada. Não sei o que deu em mim. Eu nunca choro diante depessoas estranhas!— Mas nós não somos tão estranhas assim, não é mesmo? Nós nos

encontramos naquele dia no apartamento, quando você voltou para ver Elliott.— Sim, ele a chamou de Liz. Me lembrei logo.— Tenho me sentido culpada desde aquele dia…Liz interrompeu o que estava dizendo quando Peter voltou com as

bebidas. Ele disse, sorrindo:— Eu não sabia se você preferia café ou alguma coisa mais forte. Então

trouxe café e conhaque.

Ele entregou um copo de conhaque a Carol e pediu que ela tomasse. Elabebeu e se sentiu um pouco melhor. Liz continuou a conversa:— Nós temos muita coisa para lhe contar.— Sobre você e Elliott?Carol olhou para Peter e viu que não parecia surpreso. Será que a moça

tinha lhe confessado tudo? Ou será que tudo acontecera antes que eles seconhecessem?

— Sim. Você se lembra do dia em que foi ao apartamento e mesurpreendeu saindo do quarto de Elliott?

— Sim.— Sei que a situação parecia comprometedora, mas, na verdade, tratou-

se de um grande equívoco. Peter estava comigo, porém você não o viu.— Comece pelo princípio, meu bem. Está deixando Carol confusa.

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A mulher concordou com ele e continuou:— Elliott deve ter lhe contado sobre sua infância no orfanato, não? Bem,

foi lá que o conheci. Eu tinha nove anos e era uma criança bem problemática.Tinha ido para um lar adotivo, mas a experiência não dera certo. Estavaficando velha demais para ser adotada. Elliott também não era escolhido.

— Sei disso. A mãe dele ainda estava viva e não queria vê-lo com outrafamília.

— Elliott era um pouco mais velho do que eu, mas tínhamos muita coisaem comum. Nós necessitávamos muito de amor e estabilidade. Sempre

juramos ser amigos e manter contato depois que deixássemos o orfanato, e defato nos encontramos ocasionalmente, Nunca fui de escrever, e ele viviasempre ocupado. Então recebi uma carta dele, contando que tinha encontradoa moça de seus sonhos e se casado com ela.

— Ele não a convidou para o casamento?— Não. Eu estava trabalhando como enfermeira na Guiné-Bissau e não

poderia vir. Elliott me pediu para procurá-lo da próxima vez que fosse aLondres, pois queria me apresentar a você.— Ele nunca me disse nada a seu respeito.

— A mente dele devia estar ocupada com seu casamento. Pelo que mecontou, estava apaixonado demais por você para pensar em qualquer outracoisa. Parecia estar vivendo nas nuvens. Nesse meio tempo eu também mecasei. Peter trabalhava como médico em Angola. Nos apaixonamos assim quenos conhecemos. Fomos para a Inglaterra, para passar nossa lua-de-mel,pensando que seria uma boa oportunidade para nós quatro nos encontrarmos.Resolvemos fazer-lhes uma surpresa. Eu havia falado muito sobre Elliott aPeter.

— É verdade — o marido de Liz confirmou.— Elliott ficou muito feliz em nos ver, mas notei que havia al guma coisaerrada. Finalmente arranquei dele a verdade. Soube da briga e de como odeixou. Ele ficou bastante abalado. Foi preciso muita conversa para reanimá-loe convencê-lo de que ainda havia uma chance se agisse com cuidado.

— Elliott? Elliott precisando ser reanimado? — Carol não acreditava noque estava ouvindo.

— Ele pode dar a impressão de que é invulnerável, e talvez o seja nosnegócios. Mas, quando se trata de emoções, principalmente as suas, ele tendea ver mágoas e rejeições onde elas não existem.

— Não é possível, ele não era retraído ou solitário quando o conheci,pelo contrário!— Oh, sim, houve muitas mulheres na vida dele. Mas não significavam

nada. Nunca se envolvia embora elas se apaixonassem por ele. Com você foidiferente.

—Entendo.— Quando o deixou pela primeira vez na vida ele ficou sem saber o que

fazer.— Ele insistiu para que ficássemos hospedados no apartamento e não

permitiu de forma alguma que fôssemos para um hotel. Cedeu-nos o seuquarto e ficou no de hóspedes, que só tinha a cama de solteiro — Peter disse,entrando na conversa.

— Então, quando vi Liz saindo do quarto…

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— Você, com razão, pensou o pior. Nós já estávamos nos preparandopara sair, para dizer a verdade.

— Mas tudo parecia tão incriminador… E Elliott também não explicounada.

— Você não deu chance, deu? As cartas dele eram devolvidas e ninguématendia a seus telefonemas. Todo homem tem seu orgulho, e Elliott é maissensível que a maioria.

Cartas? Telefonemas? Carol ficou intrigada.— Eu não sabia que ele tinha escrito ou telefonado.Sua mãe havia cuidado para que ela ignorasse completamente as

tentativas de reaproximação de Elliott. A antipatia que ele sentia pela sogra foiretribuída com juros pela sra. Russell. Ela não fazia nenhum segredo de suaalegria pelo término do casamento.

_— Vocês se desencontraram — disse Liz. — Mas Elliott tentou de tudo.Quando viu que não conseguia, acabou acreditando que você não queria maissaber dele e desistiu. Enterrou-se no trabalho, e nós ficamos preocupados.Tínhamos voltado para a Inglaterra na ocasião, e não morávamos afastados,de modo que pudemos ficar de olho nele.

— Deve ter tido muitas namoradas.— Nada sério. Tínhamos a impressão de que não havia conseguido

esquecê-la e… ficávamos dizendo que você não merecia tanto sofrimento.Quando soube que havia uma Caroline Russell numa das filiais da empresa quecomprou, não sossegou até comprovar se de fato era você. Então nos disseque viajaria para a França, e que, sobre o pretexto de estar indo a negócios,poderia rever você. Em todo caso, nós, que havíamos planejado passar asférias aqui, nos oferecemos para ajudá-lo no que pudéssemos.

— Então foram vocês quem acompanharam Jules a Marselha?Peter fez uma expressão marota.— Sim. E nós o mantivemos bastante ocupado. Elliott pediu-nos para

mantê-lo afastado a fim de ter uma oportunidade para conversar com você.— Elliott tinha algum plano para fazê-la voltar para ele. Não nos forneceu

nenhum detalhe mas… mas parece que o plano fracassou.— Nada deu certo. Se imaginasse que se importava tanto comigo … Ele

nunca me disse nada.Carol fez um resumo breve do que havia acontecido, e terminou dizendo:— Meu Deus, se soubesse não teria feito nada que o magoasse.

— E agora? O que você pretende fazer? — Liz perguntou,com brandura.— Acho que só posso voltar e tentar consertar a situação. Nós dissemos

coisas terríveis um ao outro. Espero que não seja tarde demais.— Nunca é tarde para o amor se vocês quiserem Colocar tudo nos eixos.

Vamos ficar aqui torcendo por vocês , não é, Peter?— Vamos brindar ao retorno de Elliott à vida de casado — ele disse,

otimista.Apesar de encorajada por eles, Carol estava apreensiva ao subir para o

apartamento de Elliott e tocar a campainha.Ela já havia representado aquela cena antes, e tinha sido terrível.Ele demorou para atender, e ela,ficou preocupada, achando que tivesse

saído. E se tivesse resolvido procurar consolo com Michèle? Peter e Liz não

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falaram sobre ela. A porta se abriu, e Elliott a olhou como se visse umfantasma.

— Eu posso entrar? — pediu.Por um segundo ele pareceu que ia negar. Sem falar nada, afastou-se

para dar passagem. Carol entrou e ficou parada no meio da sala, segurandocom força a bolsa e tentando pensar numa maneira de começar suasexplicações.

Elliott seguiu-a e encostou-se no batente da porta, estudando-a comcautela.

— Você esteve chorando — disse, afinai.— Sim.— Por causa de Jules? Significa tanto assim para você?— Não. Não significa nada para mim.— Entendo.— Eu encontrei seus amigos, Liz e Peter. Eles estão num bar nesta rua.

Me disseram…— O quê?— Eles me disseram que você me amava.— Sim, amava.— E agora?— Agora não. Eu já lhe disse isso.— Oh, entendo…Carol compreendeu que havia matado o que existia entre eles com sua

atitude tola. Elliott não se importava mais. Lágrimas escorreram-lhe pelasfaces, e ela as enxugou com as mãos.

Elliott de repente se aproximou e a abraçou como se nunca mais fosse

soltá-la.— Oh, pelo amor de Deus, Caroline! O que está tentando fazer comigo?— Oh, Elliott, eu te amo. Te amo tanto…— E pensa que não a amo, por acaso? Sou louco por você!— Mas você disse…— Estava apenas tentando salvar meu orgulho. Disse que não estava

mais apaixonado por você. Acho que é verdade. O que sentia por você antes,logo que nos casamos, era uma emoção meio cega. Eu havia encontradomuitas mulheres e me divertido com elas. Até me imaginei apaixonadoalgumas vezes. Quando conheci você, soube que elas não tinham significado

nada para mim. Você me enfeitiçou.Os lábios dela tremiam.— Você também provocou o mesmo em mim. Ainda provoca.— Apaixonei-me por você, é claro, mas não a amava o suficiente para

compreendê-la e fazê-la feliz. Não estava preparado para fazer concessões equeria tudo à minha maneira, não é? À minha maneira cabeçuda e egoísta.Supunha que cederia com prazer.

— Você deve ter levado um choque quando percebeu que não meconformaria.

— Sim. Calculava que tinha opiniões próprias, porém jamais pensei quepudesse me enfrentar do jeito que fez. Eu fiquei louco da vida.

Elliott carregou-a nos braços até o sofá.— Fomos muito tolos — admitiu, ao beijá-la. Depois sorriu e disse: —

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— Não vou mais dar chance nem de tentar.Carol se lembrou de algo que Liz tinha lhe contado, e virou-se, ansiosa,

para ele.— Elliott, eu não sabia que você tinha me escreto. Minha mãe…— Devia ter adivinhado que a megera tinha a ver com isso.— Mamãe nunca gostou de você.— Jamais se conformou por eu tê-la afastado dela, mas vai ter que se

acostumar com a idéia.Os lábios dele procuraram os de Carol, e essas foram as últimas palavras

que disseram por um bom tempo. Carol lembrou de Liz e Peter:— Devem estar esperando por nós, Elliott. Querendo saber o que houve

conosco.— Já devem ter adivinhado a esta altura, e, se não adivinharam, vão ter

que esperar mais um pouco para satisfazer a curiosidade. Temos muito tempoperdido a recuperar.

— Mas, Elliott… Ele beijou-a de novo.— Faz alguma objeção, srta. Russell?— Nunca mais me chame assim, Elliott, por favor! Levantando-a nos

braços, Elliott carregou Carol para o quarto ao lado.— Caroline! — ele exclamou com ternura. — Como é bom chamá-la

assim outra vez.