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    Europa

    Liberdade Cristandade e Civilizao

    Liberdade Grcia Antiga sculo V A.C.Cristandade A partir do sculo. XVCivilizao Durante o perodo do Iluminismo sculo XVIII

    O nome Europa apenas ganha uma conotao especial em consequncia dos confrontosentre Gregos e Persas.

    A cidade-estado de Atenas tornou-se no smbolo da liberdade Grega, enquanto a Prsia eravista como um imenso imprio com domnio de um governante absoluto que no respeitava nemDeus nem a Lei. A oposio entre Gregos e Persas era vista como representando a oposio entrea Europa e a sia a Liberdade e o Despotismo.

    Hipcrates

    Porque que os asiticos tm um comportamento menos belicoso e mais submisso que oseuropeus?

    So invariavelmente as mudanas climticas que estimulam o esprito humano e o impedemde se tornar passivo.

    A maior parte da sia est sujeita a uma forma desptica de governo e, por isso, no livre.Quando os habitantes da sia lutam, fazem-no para glorificar o seu governante e no para seglorificarem a si mesmos

    Aristteles

    Segundo ele, os povos da Europa, em consequncia do clima frio, apesar de serem corajosos,no so particularmente inteligentes ou hbeis. por essa razo que so, normalmente,independentes, havendo pouca coeso entre eles e so incapazes de governar outros povos.

    Os habitantes da sia, por outro lado, so inteligentes e hbeis mas carecem de coragem efora de vontade sendo essa a razo que os leva a serem submissos e servis a outros povos.

    At aqui segue a linha de pensamento de Hipcrates mas com uma diferena importante;Os Gregos encontram-se numa posio geograficamente intermdia entre os Europeus e os

    Asiticos e por essa razo renem as caractersticas positivas dos povos dos dois continentes.Segundo ele, os Gregos so livres, possuem as melhores instituies polticas e so capazes degovernar outros povos.

    Por volta do sculo. III A.C., Alexandria era um importante centro de conhecimento ondeforam reunidas grandes quantidades de informaes geogrficas. (de salientar o contributo dePteas que ter sido o 1 navegador a navegar em torno das ilhas Britnicas e a descrever o povoe o climas das ilhas.)

    Estrabo

    Elogiou os romanos pela sua coragem militar e clarividncia poltica. Graas s suasconquistas muitas regies foram exploradas. Para Estrabo a Europa era o continente queapresentava o maior grau de variedade e o mais prodigamente beneficiado pela Natureza.

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    Apenas o norte inabitvel devido ao frio. Tem uma combinao ideal de pases frteis epacficos por um lado, e de regies inspitas habitadas por povos belicosos e corajosos poroutro. Mas o elemento pacfico prevalece. A Europa o continente mais independente, livre dodomnio estrangeiro.

    A Europa no contexto bblico

    A palavra Europa no se encontra na bblia e nem existe o conceito.Muito importante o trabalho de Flvio Josefo que descreve como a progenitura de No se

    separou para povoar a terra. Foi o primeiro a localizar no espao a forma como os filhos de Nose espalharam pela Terra.

    Segundo ele, a Europa foi povoada exclusivamente pelos descendentes de Jaf. A frica pelosdescendentes de Cam e a sia pelos descendentes de Sem. Narra a histria da maldio lanadasobre a progenitura de Cam, por este ter ridicularizado o pai, por este ter adormecido bbado enu. Limita-se a combinar a histria genealgica judaica com a geografia Grega.

    A Europa e os padres da igreja

    So Jernimo pega no texto de Josefo e tradu-lo literalmente para Latim e acrescenta que onome Jaf significa alargamento ou expanso. O texto contm a profecia que os Judeus, quedescendem de Sem, sero ultrapassados em erudio e conhecimentos da Bblia pelos Cristos,descendentes de Jaf.

    Santo Agostinho vai mais longe no desenvolvimento das implicaes profticas dos nomesdos filhos de No. Depois do saque de Roma pelos Godos em 410, uma onda de refugiadosculpava o Cristianismo pela ausncia de um esprito combativo, semelhante ao, em tempos,

    exibido pelo imprio Romano. Santo Agostinho envolve-se profundamente na interpretaoalegrica da Bblia. Os Cristos so identificados com a progenitura de Jaf. Faz uma referncialigeira diviso tripartida do mundo, afirmando que a sia ocupa metade da terra enquanto aEuropa e frica formam a outra metade.

    A Europa e a Idade Mdia

    Durante o sculo VII a unidade do Mediterrneo foi quebrada, devido enorme expansorabe que se iniciou nesse sculo e que culminou com a conquista da Palestina e da Prsia. AEuropa pouco mais do que uma palavra que se refere a um territrio, sem conotaes emotivase til nas ocasies cerimoniais.

    Expanso da Cristandade

    Mesmo depois da derrota dos magiares, os perigos que ameaavam a Cristandade latina no

    desapareceram. A maior parte do Mediterrneo ocidental estava ainda ocupada pelos Mouros. Oseu poder estendia-se tambm at ao sul de Frana.

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    No sculo X a expanso dos Turcos leva-os conquista de Jerusalm e da Sria. A situao deConstantinopla tornou-se desesperada, apenas as linhas costeiras estavam ainda na mo dosGregos, mas todas a sua frota naval tinha sido destruda.

    Em 1095 o Imperador de Bizncio envia um pedido de auxlio ao Papa. Pedido este que levoua um apelo de Urbano II para que se organizasse uma Cruzada para libertar o Santo Sepulcroem Jerusalm. A igreja desenvolve uma intensa campanha de propaganda e as operaesmilitares foram cuidadosamente preparadas. Repletos de ardor religioso e vidos de riquezasmateriais iniciam as reconquistas.

    Que aqueles que partem coloquem uma cruz nos seus trajes como marca exterior da finterior recebero a absolvio de todos os seus crimes.:

    Durante o sculo XII a ameaa Cristandade vinda do leste enfraqueceu.

    Foi apenas no decurso do sculo XV que a palavra Europa comea a ser utilizada comfrequncia por um grande nmero de autores. A partir de ento, a identificao de Europa comCristandade tornou-se tambm habitual, mas isto tudo foi precedido pela enorme depressoeconmica, instabilidade social e pelo elevado ndice de mortalidade e por crises polticas ereligiosas que a Europa suportou em meados do sculo XIV at final do sculo XV. Revoltascamponesas e citadinas, peste negra, Guerra dos Cem Anos entre a Frana e Inglaterra. Em 1378a eleio simultnea de dois papas, um em Roma e outro em Avinho esteve na base do GrandeCisma do Ocidente que s terminou 40 anos mais tarde, no Conclio de Constana (1414-1418).

    No s os Italianos como outros Cristos consideravam escandaloso que o papado se tivesseescolhido viver em Avinho, em vez de Roma cidade Eterna.

    Influncia do Humanismo

    Contribuiu sob vrias formas para o desenvolvimento de uma concepo de solidariedade naEuropa. Teve uma influncia profunda e duradoura na investigao e na educao, da maior

    importncia em todos os pases europeus. Crianas de diferentes pases leram os mesmosautores clssicos, a par do Cristianismo, o humanismo tornou-se num dos factores de unio dosdiferentes pases, a cultura clssica estava disponvel a todos os indivduos educados da Europa.

    Desenvolveu-se um sentimento de solidariedade devido ao facto dos estudiosos eintelectuais terem obtido os conhecimentos a partir da mesma fonte clssica. Desenvolve-se oconceito de Repblica Literria, paralelamente ideia de Republica Crist.

    Erasmo de Roterdo

    Para ele a palavra Europa no tem qualquer conotao especial. Considera o Humanismocomo um fenmeno Cristo e no Europeu, ao contrrio dos Italianos. Todos os conflitos so

    deplorveis porque envolvem cidados Cristos. Publica um manifesto pacifista e enfatizafortemente a necessidade de haver paz entre a Burgonha e Frana. Na sua opinio, em primeirolugar est a unidade da Cristandade e nunca se refere questo da unidade da Europa.

    dentro do contexto da ameaa Turca no Leste que a Europa se torna sinnimo do MundoCristo

    Juan Lus Vives

    Outro humanista importante. Segue as linhas orientadoras de Erasmo de Roterdo einterpreta a luta contra os Turcos no contexto da diviso clssica entre a Europa e a sia.

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    Reforma e Contra-Reforma

    Para a Cristandade Latina, to perturbada durante sculos por cismas e heresias, o sculoXVI marcou o momento em que desapareceu completamente a iluso da unidade.

    Consequncia no s da Reforma Protestante, como tambm da actuao de vrios gruposreligiosos minoritrios. As reformas Protestante e Catlica podem ser interpretadas comoprocessos que conduziram a uma intensificao efectiva da prtica da f. Criam-se oposiesreligiosas irreconciliveis. D-se a diviso entre catlicos e Protestantes, mas fundamentalmenteentre o movimento protestante devido secesso de um grande nmero de grupos religiosos.

    Governantes Europeus e o equilbrio de poder

    A ideia de que na Europa se aplica um regime poltico diferente do que se verifica na sia, talcomo formulado na antiguidade durante as guerras prsicas, de novo desenvolvida na teoriapoltica do Renascimento.

    Maquiavel

    O Estado um objectivo em si mesmo e o governante deve estar preparado para fazer uso demtodos repreensveis e condenveis para manter o poder. Os interesses do estado tmprecedncia sobre todas as outras consideraes. Para ele, os Reis no recebiam o seu poder daDivina Providncia como tinha defendido a concepo medieval crist do mundo. Agora os finspolticos justificam os meios.

    Segundo Maquiavel o governante pode governar impondo um poder absoluto, em que todosesto sujeitos sua autoridade ou pode rodear-se de senhores relativamente independentes cujopoder deriva no do prncipe mas das famlias em que eles nascem.

    A sua argumentao est dirigida situao na Europa e por essa razo foi considerado como

    o primeiro a apresentar uma descrio puramente poltica e no religiosa do que a Europa. Oimprio cristo universal no tem para ele qualquer relevncia.

    Maquiavel parte do pressuposto que existem vrios estados soberanos na Europa. Asrelaes entre os vrios estados chegam a ser comparadas a um sistema de balanas em que asituao ideal era aquela em que o poder estava equilibrado.

    A teoria do equilbrio de poder viria a desempenhar um papel extremamente importante nacriao do conceito poltico, no religioso, do que era a Europa.

    Equilbrio de poder no sculo XVI

    A invaso de Itlia teve efeitos desastrosos. O rei de Frana ocupa Milo e Npoles perde aindependncia para o rei de Espanha. o incio do domnio espano-habsburgo em Itlia. O Reide Frana derrotado pondo assim termo influncia de Frana em Itlia.

    A Casa de Habsburgo consegue alcanar em Itlia o controlo do trono de Espanha e doimprio Alemo.

    Como consequncia, outros pases da Europa esforam-se para criar alianas com o objectivode contrabalanar o poder dos Habsburgos.

    O conceito de equilbrio de poder, que durante o sculo XV, apenas tinha sido usado nocontexto Italiano (casos de Veneza, Milo, Npoles e Florena) passou a ser aplicado, nasegunda metade do sculo XVI, a toda a Europa.

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    Em 1571, na batalha naval de Lepanto, foi quebrado o domnio Turco no Mediterrneo. AFrana ficou enfraquecida pela guerra civil e Filipe tentou criar um imprio catlico universal.Neste contexto, foi enviada uma missiva ao Rei de Frana na qual se afirma que se h paz ouguerra no mundo cristo, esse facto depende das duas mais poderosas casas reinantes Espanhae Frana.

    Equilbrio de poder no sculo XVII

    A destruio da Invencvel Armada (Batalha de Lepanto) foi um srio contratempo para aCasa de Habsburgo, mas o seu poder era ainda considerado um srio e o maior obstculo pazna Europa.

    A Frana e a Espanha so os dois plos da poltica internacional e o equilbrio entre estespoderes deve servir como linha orientadora para as polticas dos outros estados.

    Na segunda metade do sculo XVII, a situao poltica internacional foi condicionada pelosobjectivos expansionistas de Lus XIV.

    O poder da Casa de Habsburgo enfraquece e, pouco a pouco, a Frana comea a ser vistacomo a ameaa mais significativa ao equilbrio de poder na Europa.

    Lisola

    A primeira pessoa a levantar o dedo e acusar directamente a Frana. Tinha como objectivoconvencer a Inglaterra a aliar-se ustria e precaverem-se contra os planos do rei Francs.Adopta na totalidade a teoria de equilbrio de poderes, mas vira-a contra a Frana.

    Lisola associa a ideia do equilbrio de poderes na Europa no apenas com a paz, mas tambmcom a liberdade religiosa e com o desenvolvimento do comrcio.

    Guilherme de Orange

    Autoproclamou-se como O defensor da liberdade na Europa. O governante da RepblicaHolandesa defendeu-se do ataque de Frana e tentou quebrar os laos que ligavam a Frana Inglaterra. Um pequeno, mas influente grupo de polticos Ingleses (Whigs) opositores situao vigente, apoiou-o nas suas pretenses

    Por volta de 1700, a Europa tinha-se transformado num espao modelo para o pensamentopoltico. A teoria do equilbrio de poderes tinha encontrado vasta aceitao e tinha-se ligadoprofundamente ao ideal de Liberdade.

    Equilbrio de poder no sculo XVIII

    A ideia conceptual entre Europa e equilbrio de poderes foi desenvolvida maisprofundamente. Tornou-se num conceito operativo tanto ao nvel do pensamento como daprtica politica. Universidades ensinavam o sistema do equilbrio de poderes aos alunos e forameditados textos sobre o assunto.

    Na Inglaterra, a frase liberdade, religio e comrcio estava associada a liberdade para umconjunto de estados, todos com direitos iguais, a prtica livre da religio protestante e oimparvel desenvolvimento do comrcio ingls, todos envolvidos na noo de equilbrio depodres.

    O governo, por cinco grandes poderes, formou-se na Europa. Os cinco principais poderes

    eram a Inglaterra, Frana, ustria, Rssia e Prssia. Pentarquia.

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    Rousseau

    Defende a necessidade de criar uma organizao das naes europeias que fosse baseada nosprincpios fundamentais do direito internacional.

    Grotius

    Desejava humanizar a guerra e torn-la conforme com alguns acordos de princpio. Baseia asua obra no conceito de direito natural e tambm um dos alicerces do direito internacional.

    Abade de Mably

    Elabora uma descrio da legislao pblica da Europa. Considerava que esta nova forma delegislao deveria ter como ponto de partida os tratados internacionais existentes, que eram oresultado do equilbrio de poderes.

    A palavra Europa passou a ser usada de forma generalizada nos crculos polticos.Funcionava no s como enquadramento natural para o pensamento poltico, bem como estavainevitavelmente ligada ideia de equilbrio de poder.

    Expanso da Europa

    A Europa deslocou a sua ateno do mediterrneo para o atlntico, pelo menos na medida emque o seu centro de gravidade econmico se transferiu para os portos atlnticos.

    Veneza e Gnova perdem a proeminncia e so superadas por Lisboa, Sevilha e Anturpia emais tarde por Amesterdo, Hamburgo e Londres.

    O comrcio com regies longnquas (Amricas, frica, sia) teve como consequncia umimpulso na economia e foi o elemento catalizador para um sistema monetrio global. Surgemgrandes concentraes de poder financeiro das quais os governantes se tornam em grandemedida dependentes e determinam o progresso da expanso europeia

    A civilizao da Europa

    O Cristianismo continuou a desempenhar um papel importante na imagem que os europeus

    faziam de si mesmos mas j no era a fora dominante que havia sido durante os sculosanteriores. Nos finais do sculo XVIII, Europa e Cristandade j no eram sinnimos.

    O sentimento de superioridade europeu baseava-se num aglomerado de ideias desenvolvidaspelo Iluminismo que, por seu turno, veio a ficar ligado noo de civilizao.

    Montesquieu

    Segue de perto a tradio daqueles que, como Maquiavel entre outros, entendem a Europacomo um conceito secular, desligado da noo de cristandade e que identificam a Europa com aideia de liberdade.

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    Montesquieu tenta explicar a natureza especfica da Europa, principalmente atravs dacomparao com a sia, ou seja, est a seguir o mesmo percurso de Hipcrates 2000 anosdepois.

    Quo profundamente diferem os povos uns dos outros devido ao clima que habitamDeduz que a submisso poltica resulta das condies climatricas. Enuncia tambm o

    princpio da separao de poderes como preconizao para a liberdade da poltica interna.Inegvel, que o trabalho de Montesquieu expressa a crena na disparidade de mentalidades

    atribuveis a asiticos e europeus.

    Voltaire

    Afirma claramente que a histria do Egipto e da China mais antiga e mais importante queas histrias apresentadas na Bblia.

    Os europeus partilham comunitariamente os mesmos costumes e hbitos, tal comoMontesquieu afirmara anteriormente.

    A Europa crist pode ser vista como sendo uma grande comunidade de diferentes estadosque esto todos interligados. Todos os estados assentam nos mesmos princpios religiosos talcomo direito civil e filosofia politica.

    As artes e as cincias apoiam-se mutuamente e reforam-se uma outra. As academias nosdiferentes estados formam uma repblica europeia de artistas e cientistas.

    Assiste-se ao nascimento de uma Repblica Literria.

    Voltaire considera que a Europa (continente do Iluminismo) do sculo XVIII era ocontinente mais civilizado. Parte do princpio que a natureza humana basicamente a mesmaem todo o mundo e que as diferenas entre povos resultam da forma diferente como a razo temsido cultivada.

    O conceito de Europa propagado por Voltaire um conceito anti-clerical. Para ele, a posio

    dominante alcanada pela Europa baseia-se no desenvolvimento das artes e cincias.As naes da Europa conseguiram reerguer-se das cinzas dos numerosos desastres e guerrascivis devido ao conhecimento que tinham das artes e das cincias.

    Adam Smith

    O conhecimento crescente da civilizao europeia baseava-se no aumento tangvel dariqueza das naes, que tinham meios para poderem suportar financeiramente onerososexrcitos e artilharia dispendiosa.

    Foi propagandista de uma nova ordem econmica Liberal, na qual o interesse materialindividual era fria e sobriamente transformado no princpio bsico da economia. Chega a

    considerar que as armas so vantajosas para a civilizao, uma vez que so dispendiosas e defabrico difcil, estimulando por isso a actividade econmica.D um grande passo ao considerar que a indstria de armamento um estmulo para a

    economia e por isso, para o desenvolvimento da civilizao.

    Montesquieu, pelo contrrio, salienta os efeitos econmicos desastrosos que resultavam damanuteno de grandes exrcitos e mercenrios.

    Cultura

    A educao dos jovens era frequentemente comparada ao desenvolvimento das plantaes. Apar desta expresso utilizada para o desenvolvimento intelectual do indivduo, utilizava-se

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    tambm a palavra delicadeza e nos estratos mais elevados da sociedade preferia-se a palavraurbanidade.

    Concluiu-se que o comportamento exterior tinha implcita uma dimenso social. De igualmodo tambm os usos e costumes que estavam associados s cidades e cortes, tinham umadimenso social.

    Cultura, no sentido metafrico de exerccio intelectual e de desenvolvimento da faculdadeda razo, tem como sinnimo no apenas a paideia grega, como tambm a expresso latinaerudito. Todas estas expresses, contudo, estiveram sempre relacionadas com o indivduo. sno final do sculo XVIII que a dimenso social definitivamente associada palavra Cultura por outras palavras, apenas nessa altura comea a ser utilizada para se referir a algo que temuma dimenso colectiva.

    O conceito de civilizao

    A dimenso social que o conceito Cultura ganhou durante o sculo XVIII resultado doIluminismo e foi a palavra Francesa Civilisation a escolhida para descrever essa dimenso

    social. A palavra tornou-se de uso corrente, no apenas em Francs mas tambm noutras lnguaseuropeias. Este fenmeno parece corresponder a uma forma secularizada do conceito deCristandade, mas inegvel que ela est tambm claramente associada com a f no progressoque se tornou popular durante o perodo do Iluminismo. Deste modo, a ideia que existem vriosnveis de civilizao ou fases civilizacionais, rapidamente se tornou familiar nos meiosintelectuais.

    Civilizao Europeia

    Tornou-se frequente a identificao da Europa com a civilizao.

    Abade de Baudeau recomenda no s a converso dos ndios Americanos ao Cristianismocomo tambm civilizao europeia. Torna-se claro que, para ele, a civilizao europeia eCristandade no so a mesma coisa.

    A Frana tinha uma vocao universal a cumprir, no apenas a Cristianizar como tambm acivilizar. Neste contexto, a expresso Civilizao Europeia pressupe uma confrontao comos povos no europeus aps um processo de conquista e colonizao. A civilizao torna-sesinnimo de Europa (e para os Franceses mesmo um sinnimo de Frana.)

    particularmente importante realar que o conceito de civilizao tinha uma conotaoclara e positiva, coincidindo com o sentimento crescente da superioridade da Europa. Contudo,esse sentimento no impediu que se verificasse um interesse cada vez maior por regies que se

    encontravam fora da Europa.Esta aparente contradio pode ser facilmente compreendida se se tomar em consideraoque o conceito de civilizao no deve ser entendido como algo de fixo mas antes como umprocesso que tem por objectivo a criao de um estado ideal. A Europa deveria ser consideradacomo tendo o mais alto grau de civilizao. A imagem da Europa ostentando uma coroareflecte esse ideal de civilizao.

    Durante o sculo XIX verificou-se uma enorme expanso na utilizao e no sentido dapalavra civilizao de facto nesse sculo que se verifica uma total identificao entre acivilizao e a Europa.

    Diferentes ideias de Europa

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    At revoluo, os camponeses, que constituam no sculo XIX a maior categoria social dapopulao Europeia continuavam a viver na sombra do Feudalismo. As sementes de revoluo jse encontravam presentes em muitos pases da Europa ocidental. Nas palavras de TocquevilleA Frana no foi o Deus que criou a semente, mas o raio de sol que a fez germinar.

    As revoltas dos camponeses tornam-se numa situao quase endmica na velha Europa. Aestrutura feudal acaba definitivamente.

    A Declarao Francesa dos Direitos do Homem (1789) consagra vrias ideias e afirmaesque foram utilizadas pela primeira vez durante a Revoluo Americana, embora tendo umcampo de aplicao muito mais vasto, afirmando-se fundamentalmente como um conjunto deprincpios.

    Esta influncia foi to profunda porque a Frana era, sem dvida, o pas mais poderoso daEuropa. No era o Novo Mundo, mas antes uma monarquia antiga na qual a Igreja e aaristocracia tinham adquirido ao longo dos tempos privilgios e riquezas substanciais.

    A tentativa do Rei fugir do pas e a guerra com a ustria levam escalada da revoluo.

    Em 1792, um acontecimento importante marca a viragem da situao vivida em Frana, osPrussianos e os Aliados marcham sobre Paris e so derrotados. A repblica foi oficialmenteconfirmada e a monarquia abolida. O rei executado e a revoluo ganha uma nova dinmica.Degenera em terror com milhares de Franceses condenados guilhotina e a revoluo torna-senum monstro que devorava os prprios filhos. O princpio da igualdade de direitos foibaptizado com o sangue das vtimas, no sendo de forma alguma apenas sangue azul.

    Os ideais da revoluo Francesa tiveram impacto por toda a Europa. Liberdade, Igualdade eFraternidade eram palavras proclamadas aos 4 ventos. Toda a velha Europa era abalada, parahorror dos que detinham poderes estabelecidos.

    O que h a salientar o facto de o conceito de Europa e a percepo de que se pertence a

    uma comunidade europeia serem muito mais claros entre aqueles que tentavam resistir revoluo do que entre os seus apoiantes. quase como se, na mentalidade revolucionria, no houvesse qualquer espao para a

    Europa, entre a cidadania do mundo e a da prpria ptria.

    Contrastando com isto, temos escritores contra-revolucionrios como Edmund Burke queapresentam uma compreenso clara do que a Europa, muitas vezes misturada com o desejo derestaurao da velha ordem.

    Com base nesta semelhana de formas de relacionamento e nos hbitos de vida, nenhumcidado da Europa poderia ser considerado um exilado em qualquer nao europeia Ed.Burke.

    Napoleo e a Nova Europa

    A agitao revolucionria acalmou para ser seguida pela tempestade chamada Napoleo.A expanso da Frana liderada por este, significa que as ideias e instituies da revoluo se

    tinham espalhado pela Europa. Para alm disso, o domnio exercido pelas tiranias napolenica efrancesa tornou-se um terreno particularmente frtil para o desenvolvimento dos MovimentosNacionalistas. A expanso napolenica assenta no fervor nacionalista francs. No auge dopoder, Napoleo proclamou o Sistema Continental dirigido contra a Inglaterra que tinha dadoincio a um bloqueio naval.

    A Rssia associou-se ao sistema. O imperador Austraco concede a mo de sua filha aNapoleo (1810) unindo, desta forma, o Cl corso Bonaparte com a dinastia imperial dos

    Habsburgos.

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    Nunca antes, ao longo da histria, se havia verificado tal concentrao de poderes na Europa.Para alm do Grande Imprio havia uma srie de estados subservientes governados pela famliaBonaparte.

    A campanha da Rssia em 1812 marca o ponto de viragem que levaria ao colapso do grandeimprio, mas apenas em 1815, na batalha naval de Waterloo em que Napoleo definitivamente derrotado. A unidade sob o domnio francs que o prprio havia ambicionadoimpor na Europa foi substituda pela velha teoria do equilbrio de poderes.

    Fundamentos histricos da Europa

    A consequncia mais importante da turbulncia revolucionria no que diz respeito aoconceito de Europa, que este recebeu a certificao histrica de que antes carecia.

    Todas estas convulses foram os catalizadores da mudana ao nvel intelectual que tornarampossvel que um vasto conjunto de fenmenos fosse entendido como resultado da evoluohistrica.

    Esta nova forma de pensamento histrico enriqueceu e aprofundou o conceito de Europa.O conceito de cultura europeia tinha de facto nascido durante o sculo XVIII, mas a histria

    da cultura europeia, como ideia em si mesma, s teve origem no sculo XIX.Deste modo, o conceito de Europa no s foi historicizado como tambm politizado. Ou seja,

    este conceito era visto cada vez mais em termos histricos enquanto o pensamento polticoservia de quadro de referncia.

    A Europa segundo a sagrada aliana

    Em 1815, a Rssia, ustria e a Prssia celebram uma aliana que tinha por objectivopromover a unio entre os povos da Europa numa base crist. Era uma aliana de Catlicos,

    Ortodoxos e Protestantes que no tolerava qualquer interferncia provocada pelas alianas detrono ou casamento. de salientar que, dentro do conceito de Europa, dado Rssia um estatuto de igualdade

    A Rssia no colocada numa sala de espera onde, de acordo com os Iluministas do sculoXVIII, deveria primeiro receber os benefcios de uma evoluo civilizacional antes de seradmitida no mundo da cultura europeia e, pelo contrrio, vista como a salvadora da civilizaocrist europeia, civilizao essa que tinha entrado em decadncia no ocidente.

    As vises da religio e da poltica na Idade Mdia eram muito populares no perodo ps-revolucionrio. O desejo de paz e de recuperao da autoridade pela graa de Deus foiprojectado na Idade Mdia e depois usado como argumento histrico no debate polticocontemporneo.

    Foi apenas no sculo XV que se tornou frequente a identificao da Europa com acristandade. No incio do sculo XIX a ideia de Europa era projectada muito mais para trs nahistria.

    A Europa que na idade mdia quase no tinha existido de facto, resumindo-se a uma meraexpresso geogrfica tornou-se numa categoria histrica aceite como verdadeira.

    A Europa ideal que se pensava estar situada na Idade Mdia, tinha presentemente entradoem decadncia sobre a influncia do Atesmo e da Revoluo e precisava urgentemente de serrestaurada a sua antiga glria.

    Este gnero de ideia pode ser encontrada facilmente em Metternich chanceler da ustria

    que afirma a Europa uma ptria una

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    No pensamento deste, bem como de outros defensores da Realpolitik no perodo darestaurao, encontramos no um entusiasmo romntico-religioso mas antes um conceito deEuropa como uma comunidade de Estados, que devem zelar para que o equilbrio de poderesseja preservado, juntamente com as orientaes que existiram durante o sculo XIV e o XVIII.

    A Restaurao viu, deste modo, uma gigantesca aliana opor-se Revoluo. Os opositores Revoluo podiam ser motivados por interesses e consideraes distintas mas possveldescortinar duas vises da Europa totalmente divergentes:

    Entre os defensores da Sagrada Aliana e da unidade crist defendidas pelos romnticos e ado equilbrio de poderes defendida pelos realistas conservadores.

    A Europa segundo os Liberais

    Franois Guizot para ele a civilizao europeia comea com a queda do imprio romano eo desenvolvimento da Cristandade. O que torna a civilizao europeia superior a todas as outrascivilizaes a sua diversidade. Enquanto outras civilizaes foram sempre dominadas por umnico princpio e uma nica forma de governo, o que, inevitavelmente conduz tirania, acaracterstica mais importante na civilizao europeia reside no facto de diferentes princpios eformas no se poderem excluir umas s outras. A variedade dos elementos que compem acivilizao moderna (europeia) o fundamento bsico da liberdade que ela hoje usufrui.

    Ele v a reforma do sculo XVI como uma revolta do esprito humano contra a autoridadeabsoluta no campo espiritual. Para ele as ideias Iluministas do sculo XVIII so consideradascomo mais um progresso no degrau da libertao do esprito humano. Todos os podereshumanos, incluindo a democracia, devem ser mantidos dentro de certos limites. A liberdade queconstitui a essncia da civilizao europeia o resultado da sua diversidade, a qual dever sergarantida

    A revoluo de 1830, em Paris, colocou um ponto final no regime dos Bourbons e

    institucionalizou a monarquia constitucional de Orlees. Os acontecimentos pareciam justificara viso dos liberais sobre o desenvolvimento da Europa mas nos finais dos anos 40 do sculoXIX surgiram em muitos pases europeus poderosos movimentos democrticos.

    As crescentes exigncias de mais democracia e de reformas sociais que favorecessem asclasses mais baixas da populao foram ainda reforadas por novas reinterpretaes da histria.A par da viso liberal deu-se o aparecimento de uma viso democrtica. Em 1848, ano dasrevolues, os visionrios tornam-se activistas.

    A Europa segundo os Democratas

    Foi nos anos 40 do sculo XIX que a cultura popular foi reorganizada. At essa altura, as

    classes mais baixas eram consideradas como meros brbaros. Assumia-se que o conceito decivilizao devia ser identificado com a elite. Michelet no s identificava o povo como asvtimas e oprimidos, como o tornara na fora impulsionadora da histria e no 1 factor dedesenvolvimento civilizacional.

    O conceito de civilizao at ento apenas tinha sido considerado um sinnimo de Europacomo um todo estava agora relacionado com as fronteiras nacionais. A cultura europeia foisubdividida em vrias culturas nacionais.

    Muitos defensores da democracia defendiam que o povo fosse considerado escala nacional.O apelo cada vez mais insistente do direito de voto e para a realizao de reformas sociais tinhao enquadramento nacional como ponto de referncia.

    Durante a 1 metade do sculo XIX os movimentos nacionais tinham uma basepredominantemente romntica.

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    Romnticos reaccionrios glorificavam a Idade Mdia Crist e romnticos progressistasencontravam fonte de inspirao nos ideais da Revoluo Francesa.

    Giuseppe Mazzini funda uma internacional de nacionalistas progressistas na Sua. Estemovimento que recebe o nome de nova Europa, inclua grupos como a Nova Alemanha, NovaPolnia, Nova Itlia. Tal como os Jacobinos da Revoluo Francesa, eles acreditavam nauniversalidade dos direitos humanos e na igualdade e fraternidade entre os povos.

    A conscincia nacional e os ideais de cosmopolitismo da mentalidade revolucionria dosculo XVIII quase no deixam qualquer espao para a ideia de Europa.

    A libertao do cidado deve ter lugar dentro do quadro da nao e toda a populao deveparticipar na cultura nacional o pas deve ser capaz de reconciliar as classes sociais umas comas outras. Subsequentemente, estas naes renascidas devem fazer parte da irmandade dospovos europeus.

    Em suma, os Democratas vem a Europa no como um equilbrio de poderes mas como umafederao de naes no havendo lugar para o dio entre naes individuais, sendo o objectivosupremo a fraternidade.

    Sob a influncia dos ideais democrticos, deu-se uma importante transformao naperspectiva histrica do conceito de Europa. At ao sculo XIX a origem da Europa era vistacomo relacionada com a queda do Imprio Romano. O desenvolvimento do Cristianismo nofinal desse imprio era entendido como marcando o incio da civilizao europeia. Esta era aopinio no s dos conservadores catlicos mas tambm dos liberais como Guizot.

    George Grote, membro de um pequeno mas influente grupo de radicais defende que j noera o desenvolvimento da Cristandade, mas a Democracia Ateniense que deveria ser consideradacomo bero da civilizao europeia. Defensor veemente da Democracia, foi o primeiro a salientaro importante significado politico de Atenas como bero da Democracia.

    verdade que a civilizao grega tinha sido aclamada durante muito tempo como me da

    filosofia, cincia, literatura e arte mas a sua herana politica tinha sido ignorada.Como resultado da opinio de Grote a histria da Grcia passou a ser estudada num mbitodiferente.

    Comeou a ser salientado que o feito mais importante dos Gregos tinha sido a instituio daliberdade politica num tipo de democracia que, durante sculos, foi insupervel.

    Completa-se o crculo. A Europa era inicialmente apenas um indicador geogrfico,inicialmente identificada com a liberdade no contexto das guerras Prsicas.

    Esta identificao desaparece para ser substituda pela identificao da Europa com aCristandade e, seguidamente, durante o sculo XVIII, com Civilizao.

    Durante a primeira metade do sculo XIX, foi dado ao conceito de Europa uma perspectivahistrica. Encontramos uma detalhada conscincia histrica emergindo com o Cristianismo e a

    Liberdade como ideias centrais e com a civilizao aparecendo como um conceito abrangente. medida que as exigncias de maior democracia politica cresceram e o conceito deliberdade foi radicalizado, tornou-se til levar at mais longe a investigao histrica dopassado para fazer da democracia ateniense e da liberdade grega o memorvel ponto de partidade Europa.

    A Europa nas garras do Nacionalismo

    A revoluo de 1848 provocou uma onda de choque que abalou toda a Europa. As questes,contudo, nem sempre eram as mesmas. Uns lutavam por causa de problemas sociais enquantooutros por uma constituio liberal ou mesmo a independncia nacional.

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    O Imprio dos Habsburgos abanado at aos alicerces. Os Austracos so expulsos de Miloenquanto Npoles, Florena, Roma e Turim adoptam constituies liberais. Na Prssia, Bavierae Pases Baixos as exigncias liberais tambm se fazem ouvir.

    A era do idealismo romntico tinha acabado. A segunda metade do sculo XIX foi dominadapelo realismo poltico. Os movimentos de libertao nacional deixaram de sonhar e tomaramuma atitude mais pragmtica.

    At unificao da Alemanha, a Frana era o estado mais poderoso do continente Europeu.Bismarck Chanceler de Ferro, desafia e derrota Napoleo III e marca o fim da supremacia

    Francesa que sofre uma derrota monumental.Paris cercada e, apesar da defesa nacional, capitula.

    Com mais fora que nunca, a Europa cai nas garras do nacionalismo. D-se a unificao daItlia e Alemanha.

    A populao que vivia quer nos campos quer nas cidades transformada em cidadosnacionais.

    Todo o sistema educativo foi estimulado e influenciado pela ideia de construo da nao. Aformao histrica desenvolve um importante papel nesse sentido.

    No incio do sculo XX, assiste-se emergncia de uma verdadeira corrida s armasalimentada por uma poltica externa agressiva por parte do imprio Alemo. O pensamentopoltico era dominado pelos interesses nacionais. Bismarck afirmava que, para ele, a Europa nopassava de um espao geogrfico. Tinha imposto a unificao alem e no estava preocupadocom a Europa.

    Durante o apogeu do nacionalismo no havia espao para o desenvolvimento de organizaessupranacionais.

    Foi apenas com a I Guerra Mundial que deixou de existir, como ideia dominante, a equao

    simples que Europa era igual a civilizao. A tomada de conscincia da crise dominou todos ospases, mesmo aqueles que no estavam directamente envolvidos no conflito. A Europa invadida por um desespero profundo e passa a estar associada s ideias de degenerao edeclnio. Tratava-se, contudo, de mais uma forma de autoconscincia europeia.

    O antes guerra

    Para muitos observadores as dcadas que antecederam o conflito mundial em 1914emanavam uma sensao de inocncia.

    Pelo virar do sculo parece ter prevalecido entre os europeus uma sensao de optimismo ede progresso; avanos impressionantes na cincia e tecnologia permitiram um enorme e

    generalizado aumento da riqueza, proporcionando classe mdia, cada vez mais numerosa, aoportunidade de gozar de verdadeiros luxos.A pobreza das massas proletrias continuava a ser imensa, mas alguns pases foram

    adoptando legislao social.

    Parecia possvel uma nova irmandade do homem, os meios de viajar eram cada vez maisrpidos e aproximavam as populaes. Via-se o mundo a encolher

    O processo de rpida industrializao que revolucionou todos os aspectos da vida no sculoXIX contribuiu mesmo para criar e destruir um sentimento de Europesmo.

    O que comeou em 1914 como uma guerra europeia tradicional, transformou-se num grau dedestruio e misria tais como at ento no se havia visto. Terminou em 1918 com

    levantamentos revolucionrios, revolues, caos o que tambm contribuiu para deixar emrunas a auto-conscincia europeia.

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    A guerra, no entanto, tornara-se mundial e no foi acaso que vieram de fora do centroeuropeu tradicional os dois planos de paz mais espectaculares;

    Lenine e dos bolcheviquesPresidente americano Woodrow Wilson

    A interveno dos E. Unidos ao lado dos aliados teve um impacto decisivo na guerra edemonstrou que a Velha Europa estava gradualmente a dar lugar a uma nova era Ocidental ouAtlntica.

    Wilson introduziu um novo elemento na poltica mundial: uma poltica que se baseava maisem princpios morais do que em poderes tradicionais.

    Para ele, o objectivo da guerra, mais do que derrotar a Alemanha, constitua em tornar omundo seguro para a democracia ou seja, criar uma ordem mundial nova e justa.

    Propunha: a maior autonomia possvel dos povos da Europa, o fim das colnias alems emfrica, o comrcio livre e o desarmamento, a criao da Sociedade das Naes que deveriaproteger a liberdade de todas as naes e a paz mundial.

    O pacto de criao da Sociedade das Naes j fazia parte do pacto de Versalhes.

    A Frana e Inglaterra insistiam em impor condies muito duras ao inimigo derrotado com oclaro propsito de o enfraquecer o mais possvel. A Alemanha teve de aceitar toda aresponsabilidade da guerra e, consequentemente, pagar todas as pesadas reparaes aos poderestriunfantes. Partes tradicionalmente pertencentes ao territrio alemo foram cedidas Polnia eimpuseram-se restries ao nmero de efectivos militares alemes.

    Das runas do imprio Czarista e do imprio dos Habsburgos, resultou a criao de inmerospequenos estados no tanto para satisfazer critrios tnicos, mas para enfraquecer os vencidos(Alemanha, Hungria, ustria).

    As consequncias imediatas da guerra e do tratado de paz resultaram no caos completo naAlemanha e na maioria dos estados recm-criados. Apesar das intransigncias dos vencedores,

    tornava-se claro que a Alemanha, vitimada por uma taxa de inflao galopante e instabilidadepoltica externa, no tinha hiptese de pagar as dvidas de guerra.

    Surge um novo factor que demonstra que no era possvel continuar a tratar a Alemanhacomo uma nao inimiga. Na Rssia os bolcheviques estavam a estabilizar e o novo regime queeles tinham imposto que propunham no uma guerra entre naes, mas sim uma guerra entreclasses a que no escaparia nenhuma nao.

    Assim, a simples existncia de um estado Sovitico tornou-se num desafio directo aosdemocratas e nacionalistas de todas as espcies.

    O Comunismo apresentava-se como um fenmeno moderno, uma ideologia que ofereciasoluo para o futuro, tal como o Fascismo e os mais radicais movimentos anti-bolcheviques.

    Ser justo dizer-se que o Comunismo e o Fascismo, mais do que uma negao da democracia,representavam a sua perverso.

    A crise mundial nos finais da dcada de 20 desestabilizou a maioria das economias europeiasconduzindo depresso e ao desemprego macio. Ainda antes que se pudesse sair da crise,muitos pases abandonaram a democracia, por exemplo a Alemanha, onde em 1933 ocorre otriunfo Nazi.

    Comunismo, Fascismo e Democracia Liberal disputavam a hegemonia na Europa.

    Em Setembro de 1939, rebenta uma nova guerra europeia quando a Alemanha de Hitlerinvade a Polnia. A iniciativa tinha sido precedida de uma espcie de reaproximao muito

    estranha entre a Alemanha e a Unio Sovitica.

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    Ribbentrop e Molotov assinam um pacto de no-agresso que, secretamente, dividia aPolnia e o resto da Europa em esferas de influncia, aplanando caminho para a guerra deHitler, apesar da resistncia britnica.

    Hitler invade a Unio Sovitica em 1941 e comeam os seus problemas. A aliana entre aInglaterra e a Unio Sovitica reforada pelos Estados Unidos aps ataque Japons a PearlHarbor, em Dezembro de 1941.

    Mais uma vez a Europa se viu dependente de foras exteriores para derrotar a AlemanhaNazi e o Fascismo.

    Efeitos da Grande Guerra

    A I Guerra Mundial mandou milhes de jovens para o matadouro. medida que a histeria blica apanhou os beligerantes, os valores do Liberalismo eram

    completamente postos de lado. Os nacionalistas viam na guerra uma hiptese de purificar anao e encontrar uma nova comunidade espiritual que ultrapassasse os mesquinhos conflitosdo dia-a-dia. Havia uma intensa campanha de propaganda entre e contra todos os pasesenvolvidos no conflito, especialmente entre Russos, Alemes e Ingleses. Fica profundamenteabalada a irmandade europeia de intelectuais, quando estes se metem em brios patriticos edesatam a tentar mostrar mais patriotismo do que os parceiros. Os apelos dos moderados e/oupacifistas que se mantinham fieis aos ideais europestas no encontravam seno suspeita eincompreenso.

    A ideia generalizada era que a lealdade de cada um, em ltima anlise, era para com arespectiva ptria.

    Mitteleuropa de Friedrich Naumann

    Naumann no foi o primeiro alemo a pensar em termos de Mitteleuropa mas acrescentou

    muito popularidade e potencialidade do conceito.Vamos deparar-nos mais com uma viso potica da Europa do que com um projecto polticocompletamente desenvolvido.

    Era membro do parlamento alemo e tornara-se conhecido por ser o porta-voz de causasliberais mas antes da guerra demonstrava pouco interesse pela Europa ou por modelos decooperao supra-nacional, na medida em que, at ento se manifestara a favor da expansocolonial da Alemanha.

    A Europa Mdia (Mitteleuropa) fruto da guerra. Tivemos de partilhar o banco da priso econmica quenos foi imposto por esta guerra, temos lutado juntos, estamos decididos a viver juntos.

    Uma Europa vazia de raas e povos

    extensa lista de meios utilizados no conflito, juntou-se assim a guerra econmica, a qualcontribuiu drasticamente para a fome e privaes de toda a espcie sofrida pela Alemanha eustria nos ltimos anos de guerra. O bloqueio ps um ponto final nas aspiraes coloniais daAlemanha e mostrou at que ponto a Alemanha e a ustria estavam dependentes dos seusrecursos domsticos.

    Neumann avanou com uma proposta no sentido de que a unio militar que se deu, mais oumenos por acidente, entre a Alemanha e a Austro-Hungria, se prestava a ser transformada edesenvolvida numa verdadeira associao de solidariedade nos mais diversos campos e aos maisdiversos nveis.

    A principal preocupao de Naumann era evitar uma terceira muralha entre a Alemanha e aAustro-Hungria que s serviria para enfraquecer ambas. Quanto s naes europeias de menor

    dimenso, Naumann contava que as necessidades de defesa e centralizao econmica lhes

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    impossibilitasse a sobrevivncia sem terem de se aliar com os grandes poderes, de modo a queabria as portas da Mitteleuropa aos estados Balcs e, numa fase posterior, Itlia.

    Mitteleuropa era em grande parte o meio para justificar os objectivos econmicos que serianecessrio atingir. Naumann no tinha dvidas que a eficincia, capacidade de organizao e atica laboral to caractersticas da Alemanha iriam constituir os padres a ser adoptados emtoda a regio e pregava a tolerncia em relao s pequenas naes.

    A Europa de Masaryk

    Mitteleuropa foi apresentada como um exemplo extremo do imperialismo pan-germnico euma autntica ameaa aos interesses nacionais dos aliados.

    Masaryk lutava por uma Checoslovquia independente e sem uma completa reorganizaoda Europa tal no era possvel. Masaryk descreve uma Europa que atravessava uma enormetransformao cultural e poltica. Nos novos regimes a liberdade expressava-se tanto a nvelindividual como colectivo e, neste caso, concretizava-se naturalmente o direito de cada povo autodeterminao.

    Interpretava a guerra como um culminar lgico de um conflito entre teocracia e democracia.Enquanto a Rssia vivesse num regime czarista a sua teoria estava a ser desmentida na prtica.

    A Revoluo Bolchevique, em Novembro de 1917, deu uma grande ajuda. Os bolcheviquesapoiaram inicialmente o princpio de autodeterminao nacional e o caos revolucionrio naRssia fez com que, para os aliados, fosse imperativo e de uma necessidade extrema teremamigos de confiana entre a Alemanha hostil e a Rssia vermelha.

    Deste modo, Masaryk sugeriu uma nova Europa que consistia numa zona esguia ealongada, composta de pequenos estados-nao apertados entre a Alemanha e a Rssia. Era essanova Europa a concretizao das aspiraes nacionais inerentes democracia moderna e, namesma penada, servia de zona de segurana/tampo contra os expansionismos Germnico eSovitico. Ainda assim, insistiu repetidas vezes que a nova ordem da Europa teria de serdemocrtica, nos termos em que WoodrowWilson definira para a cooperao, a diplomacia

    aberta e o desarmamento.Em primeiro lugar, Masarik queria a Checoslovquia independente, mas tambm encarava

    uma tendncia, no futuro, para uma cooperao entre partes da Europa e mais tarde entre toda aEuropa.

    Argumentava que s as naes livres e independentes podiam aderir a essas estruturassupra-nacionais como membros iguais e de pleno direito, insistindo que no poderia haverconflito entre a democracia colectiva (nacional) e a democracia individual.

    Como no era possvel criar naes/estados etnicamente puros, introduziu uma distinoentre naes e nacionalidades ou maiorias nacionais (grupos tnicos pequenos demais paraserem independentes que teriam de aceitar um estatuto de minoritrios sugerindo que, paraevitar conflitos, bastaria respeitar os direitos dessas minorias.

    Tanto nas propostas de Naumann como de Masaryk, saltam vista elementos deoportunismo ou de interesse estritamente nacional(ista) , mas tambm verdade que ambostentam resolver problemas fulcrais que se comeavam a por Europa. Para Naumann, amodernizao era o motor da histria e contava com a centralizao e a cooperao econmica emilitar em larga escala. O projecto de uma Mitteleuropa tentava criar polticas apropriadas aesse fim, estruturas essas que eram prioritariamente adequadas aos Alemes, mas no h dvidaque ele tinha subestimado a fora de um factor decisivo o Nacionalismo.

    Masaryk, tambm focou a modernizao mas recaindoprecisamente sobre factores omitidospor Naumann. A modernizao era essencialmente um processo moral e poltico com vista auma auto-realizao individual e nacional.

    Planos do ps guerra para a Unidade Europeia

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    Masaryk consegui a sua Nova Europa (ou parte dela) uma poro de naes foramcriadas no que parecia ser o culminar de um processo que, no ano revolucionrio de 1848, tinhasido baptizado como primavera das naes.

    Esperava-se que esta liberdade nacional levasse ao florescer completo de uma pluralidade deculturas. A realidade, porm, apresentou problemas de minorias, desconfianas mtuas e ocolapso econmico ps guerra. Pouco ou nada resultou dos planos de desarmamento ecooperao econmica na medida em que o que realmente aconteceu foi que logo se povoaramas fronteiras com exrcitos e barreiras alfandegrias. Mesmo assim, o princpio da democraciafoi reforado na Europa que saiu da Primeira Grande Guerra.

    Nos anos de recuperao europeia ps 1923, surgiram vrios programas para uma Europaunida sendo o mais influente dos quais apresentado pelo fundador da Unio Pan-Europeia oConde Coudenhove-Kalergi.

    A Pan-Europa Coudenhove-Kalergi

    Kalergi convenceu-se que para vencer os problemas, s mesmo uma Europa politicamenteunida. Activista convicto defende emPaneuropa, o influente livro que publicou em 1923, a criaode uma unio pan-europeia como grupo de presso internacional. Seu ponto de vista eraessencialmente poltico. Observou que j estava ultrapassada a poca histrica da supremaciada Europa no mundo e quebrada a era da supremacia da raa branca. Mas podia-se e devia-separar o declnio da Europa de modo a impedir que o continente passasse a ser um mero jogueteda poltica mundial.

    A causa do declnio da Europa poltica e no biolgica () no est a morrer de velhice, mas sim porque osseus habitantes se esto a matar e a destruir com os instrumentos da cincia moderna os povos no esto senis,mas o sistema poltico est

    As velhas potncias europeias tinham sido substitudas por potncias mundiais organizadasfederativamente como se podia ver na Amrica (tanto nos E. Unidos como na Unio Pan-Americana) na recm criada Unio Sovitica e no Imprio Britnico. S a Europa estava a ficarpara trs. Pan-Europa foi o nome que Kalergi escolheu para dar a esta Europa que aspirava auma identidade poltica.

    Infatigvel na sua aco por uma Europa unida, Kalergi era muito crtico em relao Rssiapois esta, ao escolher a via bolchevique, tinha voltado as costas aos princpios democrticos orapredominantes na Europa.

    Ele no tinha dvidas que a Rssia ia recuperar da devastadora guerra civil que a assolara eque iria, ento, prosseguir a sua poltica de expanso para o ocidente. A verdade que, vermelha

    ou branca, a Rssia iria procurar a hegemonia e s atravs da mtua entreajuda que ospequenos estados europeus recm-criados teriam hiptese de fazer frente presso.

    A Pan-Europa haveria de excluir tanto o imprio britnico como a Rssia. O Reino-Unidocresceu para fora da Europa e tinha-se tornado por direito prprio um continente poltico em simesmo, grande e demasiado poderoso para que pudesse ser includo na Pan-Europa. Mas asrelaes entre ambos haveriam de ter por base garantias de cooperao e respeito mtuos.Ambos deviam partilhar a tarefa cultural da Europa europeizar outras partes do mundo. OReino-Unido serviria tambm de mediador entre a Paneuropa e a Panamrica, visto que todaspartilhavam a mesma cultura e valores democrticos. Se o Reino-Unido, por alguma razo,viesse a perder o seu imprio, a respectiva entrada e incluso na Paneuropa no poderia deixarde ser um facto natural e bvio.

    Kalergi profetizou que haveria de sair do caos um Napoleo Russo e que este, se a Europa

    no estivesse unida, haveria de empurrar os limites da fronteira europeia at linha do Reno. O

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    resultado seria o mesmo se, uma Alemanha revanchista, se procurasse unir Rssia, em vez dese unir Frana e ao resto da Europa democrtica.

    A paz extrema, que seria conseguida atravs de uma aliana de defesa pan-europeia a qualprotegia as pequenas naes das ameaas do exterior e principalmente da Rssia. A correr bem,uma Europa unida, poderia permitir um desarmamento a larga escala.

    Um argumento fundamental era, logo a seguir segurana, o da economia europeia. Umadevastadora corrida ao armamento por parte dos numerosos pequenos estados arriscava amanter os europeus em permanente estado de crise. A Pan-Europa, por seu turno, poderiatornar obsoleta muita dessa despesa de defesa militar.

    Assim unida, a Pan-Europa deteria uma posio privilegiada na economia mundial.

    Ao tratar do problema decidiu seguir uma linha de argumentao histrica semelhante deMasaryk. As naes no eram desvalorizadas como se fossem irrelevantes para a identidadeeuropeia, pelo contrrio, toda a cultura moderna tinha a sua raiz na ideia de nao e o princpiode nacionalidade deveria ser reverentemente respeitado.

    Era ainda muito grande o potencial de conflito, especialmente na Europa de Leste com assuas inmeras minorias nacionais. Kalergi, sugeria que se respeitassem as fronteirascorrespondestes ao status quo do ps-guerra, mas que as minorias nacionais fossem protegidaspor uma Magna Carta da Tolerncia adoptada em comum pela Pan-Europa. Numa perspectivamais lata, os problemas de nacionalidade diminuiriam progressivamente atravs daintegrao poltica e econmica e pela prpria penetrao dos princpios democrticos;seriam cada vez mais frouxos os laos de cidadania e filiao nacional e tambm asfronteiras iriam igualmente perdendo a importncia.

    Rejeitava liminarmente todas as noes sobre as naes existentes poderem ser entidadesobjectivas ou naturais. Rejeitava como asneira as teorias da consanguinidade e fazia notar queraa pura era uma coisa que no existia na Europa.

    As naes poderiam existir e at florescer sem terem uma lngua comum, em suma, oconceito de nao era indeterminvel e no menos varivel.

    Kalergi esperava assim que Pan-Europa se tornasse o programa de todo o democrata e todo opatriota. Em troca de pequenas concesses de soberania, todos os pases prosperariameconomicamente e iriam obter uma paz duradoura.

    Em contraposio, os inimigos da Pan-Europa encontravam-se na extrema-esquerda (entreos comunistas) e direita (entre os militaristas e os nacional-chauvinistas) maspredominantemente entre aqueles que se achavam economicamente dependentes das tarifasalfandegrias e do proteccionismo econmico.

    Era necessria uma grande coligao de democratas, atravessando todas as fronteiras daEuropa, numa plantaforma comum de defesa contra extremismos destruidores.

    Em suma, a Pan-Europa de Kalergi, parecia ser a mistura espantosa de uma utopia em largaescala, uma anlise poltica potente e um pragmatismo de vista claras sugeria, por exemplo, o

    uso do Ingls como segunda lngua comum a toda a Europa, dado que seria impossvel resolveras rivalidades entre as lnguas europeias mais importantes.

    Talvez o mais caracterstico em toda a linha de raciocnio de Kalergi fosse o seu tremendovoluntarismo, ou seja, a sua firme crena de que se podia mudar o mundo atravs da agitao eaco polticas. A Unio Pan-Europeia, fundada em 1923, depressa abriria sucursais em todos ospases europeus e fizeram grandes esforos para persuadir polticos e outras personalidades cominfluncia na opinio pblica a apoiar o movimento.

    A estratgia de influenciar elites polticas e culturais deu seus frutos, em Frana, Kalergiconseguiu conquistar a simpatia de dois influentes polticos; douard Herriot e AristideBriand. Briand chegou a ser presidente honorrio da Unio Pan-Europeia e a partir de meados

    da dcada de 20, a Frana torna-se pioneira dos esforos polticos tendentes a estabelecer todauma rede de cooperao europeia, larga e institucionalizada. A Primeira Guerra Mundial teve

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    um impacto profundo nos conceitos que os franceses faziam da Europa, o territrio francstinha sido o principal campo de batalha e o pas tinha sofrido pesadas perdas.Consequentemente, o europesmo francs do ps-guerra orientava-se em primeiro lugar para asegurana. Inevitavelmente, os primeiros e imediatos anos dos ps guerra foram dominados porum nacionalismo anti-germnico. Os franceses viam, como nico caminho para uma Franasegura, a coexistncia simultnea da fraqueza alem com a fora francesa.

    O caos na Alemanha, mais do que reforar a posio econmica francesa, parecia estar amin-la.

    Em Janeiro de 1925, Herriot fez um discurso que formulava a noo de Estados Unidos daEuropa os quais seriam criados a partir da cooperao introduzida pela Sociedade das Naes.A poltica de reconciliao continuou e, o tratado de Locarno, preparou o caminho para a admissoda Alemanha na Sociedade das Naes. Claro que o rapprochement francs era impossvel semque, da parte alem, houvesse uma certa dose de benevolncia e de absteno ao revanchismo.

    Iniciativas srias Pan-Europeias tiveram de esperar at que Aristide Briand tomasse aliderana nesse campo. As suas propostas comeam a ser bem recebidas, embora sem

    compromisso. Teve, no entanto, autorizao para preparar um memorando oficial contendopropostas especficas que seriam consideradas pelos governos europeus.Briand menciona o perigo para a estabilidade a existncia de um grande nmero de

    pequenos estados em concorrncia. Factores como a proximidade ou contiguidade geogrficas,o fundo racial comum, a civilizao comum, devia fazer com que estes estados rumassem no competio, mas cooperao.

    Os governos europeus deviam preparar e ratificar um tratado que estabelecesse o princpiode uma unio moral europeia e confirmasse a solidariedade dos membros nela envolvidos. Otratado obrigaria tambm os governos europeus a realizar reunies regulares. O principal rgoseria o Congresso Europeu aberto a todos os participantes e um Comit Poltico que seencarregaria dos assuntos correntes. Briand listava tambm outros tpicos: medidasalfandegrias, medidas de higiene, programas de intercmbio poltico e acadmico. Dava, agora

    uma clara prioridade perspectiva dos tpicos polticos, muito particularmente a paz e asegurana defendendo a subordinao da economia poltica. Um rapprochement poltico eratido como um pr-requisito para a criao de um mercado comum europeu.

    Desde cedo, Briand frisou que no entraria em qualquer tipo de competio com a Sociedadedas Naes, muito pelo contrrio, defendia a subordinao Sociedade das Naes.Considerava, inclusivamente, que ser membro da Sociedade das Naes constitua um pr-requisito indispensvel para a participao de qualquer pas europeu na Unio que ele estava apropor.

    O propsito da cooperao era atingir-se o acordo, no a unidade. Admitia apenas mtodosde trabalho que no colocassem quaisquer restries soberania incondicional e

    independncia poltica completa dos estados europeus.Nos seus desgnios polticos, Briand colocava grande nfase no envolvimento britnico noprocesso de cooperao europeia. Sem sombra de dvida que enraizava os interesses desegurana dos franceses. O Reino-Unido, como signatrio do acordo de Locarno, tinhaassumido o compromisso de defender o status quo da Europa Ocidental o que tornava a Franamuito relutante em cortar os laos que a uniam ao Reino-Unido, em detrimento de uma vagaassociao continental que estava fortemente dependente de uma frgil aliana com aAlemanha. Por outro lado, Briand podia garantir Checoslovquia que esse rapprochementfranco-germnico no se faria custa deles.

    Briand recebeu a ajuda do seu colega douard Herriot que publicou um longo epormenorizado estudo em defesa das propostas de Briand (Europa 1930).

    No mnimo, os apoiantes da ideia da Unio Pan-Europeia tiveram xito em conseguir quetodos os governos europeus considerassem a questo com seriedade.

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    A recepo tinha sido polida mas no entusistica. Havia uma grande vontade de continuarcom as conversaes mas era bvio que os pases membros da Sociedade das Naes nosentiam necessidade de apoiar uma potncia rival. Do ponto de vista tcnico, a maioria dosgovernos criticou a subordinao da poltica economia. Uns defendiam uma prioridade clarapara os assuntos econmicos enquanto outros realavam a interdependncia existente entreeconomia e poltica.

    Os mais hesitantes eram o Reino-Unido e a Itlia. Um certo nmero de estados pedia aincluso da Turquia enquanto a Alemanha e a Itlia defendiam a incluso tambm da UnioSovitica.

    Seis principais razes porque no se obtiveram quaisquer resultados concretos destainiciativa:

    Os principais defensores da iniciativa cedo desapareceram de cena (Stressmanmorreu

    em 1929 e Briand foi-se apagando gradualmente da cena poltica)

    O projecto mostrou falta de coragem e realismo polticos ao avanar com umaproposta para a Unio da Europa ao mesmo tempo que prometia deixar intocada asoberania nacional de cada pas membro.

    Era especialmente difcil ultrapassar a resistncia Britnica e contra os desejosdestes, poucos tinham vontade de avanar decididamente com o projecto

    Tinha-se instalado uma crise econmica mundial que estava a criar desempregoe agitao de massas, forando os governos a tomar medidas proteccionistas.

    O Nacional-Socialismo comeou a ganhar terreno na Alemanha com o seunacionalismo e revanchismo virulentos. E logo que se deu a tomada de poder dos Nazis

    em 1933 deixou de haver lugar a ideias federalistas de um Briand ou de umCoudenhove-Kalergi.

    A resistncia da burocracia da Sociedade das Naes a uma potencial rival.

    Fascismo, Nazismo e Europa

    Pode parecer paradoxal falar de Europa ou at de Europesmo em conexo com fascismo e

    nazismo. Estes dois movimentos eram fortemente nacionalistas e fundamente enraizados emdesenvolvimentos histricos e especficos aos seus pases natais. Mas, por outro lado, ospartidos fascistas em breve surgiram no panorama poltico da maioria dos pases europeus e,embora heterogneo ou nebuloso, apresentava-se como uma ideologia universal capaz desubstituir a democracia liberal ou o comunismo.

    A tomada de poder por Hitler, cedo demonstrou como eram estreitos os limites de qualquereuropesmo fascista que tinha mostrado, em Itlia, uma sada para as misrias do Liberalismo,da democracia e do socialismo e que se tinha tornado assim na verdadeira vanguarda da Europa.Os interesses nacionais de Itlia e da Alemanha comearam a chocar com estrondo nosinteresses dos outros pases, especialmente a ustria. O Internacionalismo Fascista foiimpedido pela agresso e desconfiana mtuas e ficou por nascer uma Internacional Fascista.

    S a guerra e os triunfos alemes permitiram, nos primeiros tempos, que se pensasse de novo em

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    Eurofascismo ligado ao renascimento da Europa, mas o fascismo, em termos gerais, permaneceucego s suas potencialidades transnacionais.

    Sir Oswald Mosley havia mais tarde de lamentar:

    Confrontados entre uma escolha clara entre prosseguir ambies nacionais ou promover alguma forma deunio europeia atravs do universalismo fascista, os dirigentes nacional-socialistas e fascistas optaraminvariavelmente pelo primeiro curso de aco. Sempre que o Fascismo comeava realmente a ter xito, Europa

    fora, recebia um golpe profundo por parte dos seus dirigentes que eram poder neste ou naquele pas e queresolviam invadir ou anexar este ou aquele territrio europeu ao servio de interesses puramente nacionaisNunca me venham falar de uma Internacional Fascista, porque a existir uma tal organizao podia-se ter salvo a

    paz na Europa.

    A Neuropa Nazi

    O Nacional-Socialismo era, basicamente um programa para a Alemanha e no para a Europa.Hitler condenou a Pan-Europa e projectos semelhantes como sendo tentativas degeneradas dos

    judeus para subverter o povo alemo atravs da mistura racial.De incio e na sequncia da tomada de poder pelos Nazis em 1933, a Alemanha tentou

    apresentar-se a si mesma como o nico baluarte eficaz contra o comunismo.Uma Alemanha forte seria benfica Europa em geral e Hitler usou at a expresso que se

    haveria de tornar popular A Casa Europeia uma casa em que a Alemanha se encarregaria demanter a ordem.

    No Reino-Unido esta propaganda obtinha um certo sucesso. Eles tinham sido os maisrelutantes em endossar a partilha da Europa Central em pequenos estados e o seu grau decompreenso desta Nova Europa continuava relativamente baixo. Em 1938, as tentativas depersuadir a Alemanha a arcar com a sua quota-parte de responsabilidade na ordem europeia, oque veio a culminar com a crise de Munique em que a Alemanha, Itlia, Frana e Reino-Unido

    decidiram o destino da Checoslovquia sem que esta tivesse sequer a oportunidade depronunciar uma palavra sobre o assunto no que lhe dizia to directamente respeito.

    De modo a mobilizar toda a economia para o seu esforo de guerra, a Alemanha teve deapresentar aos pases por ela ocupados e controlados um programa que visaria a Nova ordempara a Europa

    Pouco tempo depois da tomada de poder por Hitler, o ramo alemo da Unio Pan-Europeiafoi dissolvido e a respectiva literatura foi ilegalizada.

    Nas palavras de Kalergi a revoluo anti-europeia tinha conquistado a Alemanha. Foi a partirda que se cortou e separou a si mesma cada vez mais decididamente do resto da Europa; nos assuntos externos f-lo atravs de uma poltica Pan-Germnica e nos assuntos internos atravs de uma poltica racista. Do ponto de

    vista moral, privou o povo de direitos humanos, do ponto de vista legal reescreveu as leis e do ponto de vistaeconmico reforou as noes de auto-suficincia alem.

    Kalergi e outros apoiantes de uma Europa federalista tiveram de encarar a realidade de que,enquanto tal regime estivesse no poder, era impossvel qualquer tipo de unio na Europa (a noser sob o domnio nazi). A Unio Pan-Europeia, com seu quartel-general em Viena, concentrou-se nos anos seguintes em preservar a independncia da ustria e em estabelecer cooperaoentre os pases do Danbio, apoiados pela Frana e Itlia.

    A nova perspectiva sobre a unidade europeia, enftica e altamente idealista, era produto de

    duas experincias interrelacionadas; as atrocidades do regime nazi e o completo colapso de

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    quase todos os estados que tinham estado em guerra contra Hitler. O colapso de quase todos ospases demonstrava a inadequao e fraqueza do velho sistema de Versalhes.

    Quando se tornaram bvias as consequncias do domnio nazi, a experincia do colapso daantiga ordem levou inevitvel concluso de que o orgulho e vaidade nacional eram osverdadeiros culpados.

    Em Julho de 1944 publicado em Genebra O Manifesto da Resistncia Europeia, por membros de9 pases diferentes, apelava unio federalista das naes europeias e os principais argumentosque esta filosofia de resistncia que se manifestou em quase todos os pases sob ocupaoalem ou governo fascista, eram:

    A necessidade de ter os alemes a participar na vida europeia sem queameaassem os vizinhos

    A necessidade de proteger as minorias nacionais A exigncia de cooperao na reconstruo econmica do continente no ps-

    guerra, sem a qual se veria ameaada qualquer ordem poltica democrtica.

    Hitler s podia ser derrotado com a ajuda do estrangeiro e muito se fez para tentarconvencer os aliados das virtudes de uma Europa federalista.

    Em 1929, Estaline condenou veementemente o plano de Briand como sendo uma tentativareaccionria de intervir contra a Unio Sovitica e com base em argumentos do gnero, destruiutambm os planos regionais para a Europa Central e de Leste, uma vez que a criao de umcordo sanitrio entre a Alemanha e a Unio Sovitica fazia parte dos desejos de segurana daFrana e seus aliados. A atitude sovitica mantm-se inaltervel durante a guerra e Estaline, nointuito de dissuadir os aliados ocidentais, chega a fazer uma ameaa de uma paz separada com aAlemanha.

    A unio sovitica no s queria manter todos os territrios por si ocupados, como protestava

    contra as tentativas de estabelecer uma federao do Danbio ou qualquer estrutura semelhanteque envolvesse a Polnia ou seus vizinhos. Alm disso, sugeria um novo e radicaldesmembramento da Alemanha.

    Os aliados ocidentais, com os Estados Unidos da Amrica cabea, acabam por ceder sexigncias pela necessidade de manter a paz com os soviticos. Os Estados Unidos da Amricatinham pretenses de criar uma organizao de segurana global e, nesse sentido, uma Europaunida seria contraproducente.

    O resultado final foi a diviso do continente em esferas de influncia restauram-se osestados-nao na Europa, aps a Unio Sovitica ter apanhado o seu quinho territorial paraque fizera valer os seus direitos.

    Cultura versusCivilizao

    Tomaremos em considerao, em primeiro lugar, como a cultura e a civilizao doisconceitos tradicionalmente ligados ideia de Europa - ganharam novos significados durante aguerra.

    Nos finais do sculo XVIII, os conceitos de cultura e civilizao eram quase sinnimos. NaAlemanha, durante o sculo XIX, introduziu-se gradualmente um contraste entre Kultur e

    Zivilisation (Elias) que na I Guerra fora fortemente explorado para justificar e explicar as suasrazes. Encontramos a distino num livro de Edgar Morin (Penser LEurope) cultura querdizer alicerces culturais judaico-cristos-greco-latinos, ao passo que civilizao cobrehumanismo, racionalidade, cincia e liberdade. Nesse sentido, a civilizao vem depois dacultura.

    Mas Morin tambm aceita o uso alemo, que preserva a palavra Kulturpara o que peculiar ecaracterstico de uma comunidade especfica e Zivilization para o que transmissvel a outras

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    comunidades. Segundo Morin, a cultura desenvolve-se crescendo com fidelidade a partir dosseus princpios particulares, enquanto a civilizao se desenvolve juntando e comparando osresultados da cultura. Por conseguinte, a nossa actual civilizao global filha ao mesmo tempoda poderosa e mimada das culturas europeias.

    que a cultura europeia se tornou numa civilizao por se espalhar pelo mundo inteiro, as culturaseuropeias continuaram a ser culturas a partir de agora ameaadas pela civilizao que saiu da prpria Europa.

    Os aliados interpretaram a guerra como um conflito entre civilizao e barbarismo.Barbarismo ou no-cultura era o antnimo de civilizao.

    O filsofo francs Henri Bergson no via mais do que barbarismo no esforo de guerraalemo. O problema, segundo o mesmo, que as foras da civilizao tm duas faces, como

    Janus, so ao mesmo tempo libertadoras e destruidoras. Se estas foras estiverem nas mos deum regime de ideologia totalitria, podero levar a um barbarismo cientfico que seriaimpensvel.

    Durante a I Guerra Mundial fizeram-se frequentes esforos na Alemanha para explicar a

    guerra no como choque entre Civilizao e Barbarismo, mas entre Kultur, representada pelaAlemanha eZivilization, representada pelo Ocidente Liberal.O filsofo alemo, Max Scheler, apresentou uma verso sofisticada de uma linha de

    pensamento que foi frequentemente tratada com muito menos refinamento na propaganda deguerra mais comum. Para este, a guerra era um conflito entre a Rssia e a Europa, em que aAlemanha e a ustria se tinham tornado os principais defensores da herana europeia e rejeitavatodas as definies de Europa em termos de geografia ou raa. Achava absurdo que, porexemplo, o Japo se pudesse tornar europeu simplesmente por assimilar a tecnologia europeiae o mesmo se diria da europeizao da Rssia.

    Toda a Europa deveria ter cooperado em auto-proteco contra a nova onda deexpansionismo Russo militante, mas infelizmente a Europa estava enfraquecida, de dentro, por

    um grande vilo: o Reino Unido principal representante da civilizao capitalista. SegundoScheler, o esprito capitalista britnico apresenta-se marcado por um utilitarismo profundo quedegradava todos os valores mais altos e preferia o til ao nobre. Scheler achava um enganocompleto culpar a guerra em si mesma por esta misria. A falta de escrpulos da guerra no eraum produto de um militarismo, mas sim do utilitarismo expedito do tempo de paz que notinha deixado espao para o que nobre na humanidade.

    Scheler esperava que a guerra se tornasse uma chama purificadora. Os soldados alemes, queeram idealistas, depressa compreenderiam os valores porque arriscavam a vida e os jovensidealistas do outro lado das trincheiras reconhecessem o engano que os levara guerra eexigissem ento uma irmandade europeia que os abraasse a todos sem excepo. Para ele, aguerra conduziria ao renascimento ou queda da Europa, dependendo se fossem o espritoalemo ou o ingls a vencer.

    Em suma, Scheler v o alastramento da civilizao capitalista como uma doena trgica edestruidora para uma Europa que se funda na cultura. Quer que o catolicismo assegure arecuperao espiritual mas para a defesa da Europa, apela no Igreja e sim Alemanha. Como

    pode a Alemanha salvar-se do capitalismo e, simultaneamente, explorar as virtudes da tecnologia? Eleencontra a resposta no estado alemo.

    No estava sozinho na celebrao do estado alemo enquanto baluarte anti-civilizao.Thomas Mann lamentava o imperialismo da civilizao relativamente cultura alem eexpressava horror s de pensar que o esprito Prussiano pudesse ser derrotado pela filosofia domundo de negcios.

    Interpretao Comunista

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    Um dos filsofos comunistas mais importantes, o Hngaro Gyrgy Lukcs teve de enfrentarum dilema: ele, definitivamente recusava os imperadores da Alemanha e ustria, mas, caso elesperdessem a guerra, quem que poderia salvar o mundo de ser conquistado pela civilizaoocidental (capitalismo)? A Unio Sovitica.

    O Capitalismo era at agora o culminar da civilizao mas ao mesmo tempo tratava-se deuma fora que destrua toda a Cultura genuna. (Cultura no aqui usada no sentido alemo refere-se a tudo que esttica e eticamente valioso nos produtos e nas capacidades para alm darespectiva necessidade funcional).

    Havia razes para tal:

    Capitalismo permitia ao homem controlar a natureza mas, ao mesmo tempo,fazia com que o homem se tornasse subserviente dos meios que, em primeiro lugar,tinham tornado possvel essa emancipao.

    Como todos os produtos numa sociedade capitalista (mesmo os culturais) eramarrastados para a circulao econmica tornando-se, assim, bens de consumo, perdendoassim a autonomia cultural necessria para que pudessem preservar qualquer valorinterno e genuno.

    Em suma, para Lukcs, a civilizao capitalista emancipou inteiramente o homem da tiraniada natureza, mas ao mesmo tempo, submeteu-o ditadura de uma economia que arrasoucompletamente a beleza da cultura pr-capitalista. Ele esperava que a ditadura do proletariado(na realidade, a do partido) e a sociedade comunista emergente pusessem fim ao conflito entrecultura e civilizao.

    O Declnio do Ocidente

    A metfora da Europa como Velho Mundo ganhou novas conotaes. Os comentadores

    pareciam concordar em como a Europa tinha chegado ao seu estdio final. Os jovens intelectuaisestavam to convencidos do colapso eminente da civilizao europeia como os seus paisestavam certos do seu progresso contnuo.

    A obra de Oswald Spengler (O Declnio do Ocidente) era o smbolo imediato de todos estessentimentos e cujo ttulo, soberbamente fascinante, porque dava nome ao esprito de toda umagerao. A obra de Spengler era a tentativa altamente ambiciosa de formular uma filosofiaabrangente da histria. Ao comparar diferentes culturas mundiais, acreditava ter encontradouma morfologia da histria do mundo segundo a qual, as culturas tinham de passar por umcerto nmero de fases, comparveis s quatro estaes e outras vezes a um ciclo vital. A culturacomo uma primavera plena de seiva e juventude, o tempo de um poderoso florescer mtico-religioso que, no seu

    Znite, toma uma aparncia mais madura e mais serena. No Outono, a criatividade de qualquer cultura atinge o

    ponto mais sublime, cheia de uma doura que no deixa de estar tocada pela melancolia. Mas, no fim, o fogo daalma da cultura morre e ela transforma-se em civilizao.

    Na terminologia de Spengler, civilizao a inevitvel ltima fase de uma cultura, oculminar lgico e, logo a seguir a morte da dita civilizao. Ele via o conflito como um resultadoinevitvel das transformaes histricas da poca, um conflito em que o dinheiro (Reino-Unido) estava a lutar contra o sangue (Alemanha)

    Na histria, aquilo que, invariavelmente, acaba por ter significado a vida e s a vida, a qualidade da raa e otriunfo da fora de vontade e no as vitrias das verdades, das descobertas, e do dinheiro. Ao Chegar o Cesarismo(Imperialismo) quebra-se a ditadura do dinheiro e da sua arma poltica

    Eis a a essncia da recomendao que deixa gerao mais nova, no sentido de se deixarem

    se filosofias e culturas e, em vez disso, se dedicarem tecnologia, fora militar e poltica depoder.

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    Muitos jovens intelectuais, que tinham testemunhado querem a absurda perda de vidas nastrincheiras, quer a fome, as privaes e a corrupo na retaguarda, sentiam que perdera toda acredibilidade o sistema liberal que conduzira quela guerra.

    Programas liberais de Europa unida tais como os de Coudenhove-Kalergi e de AristideBriand tinham dificuldade em atrair massas, mais facilmente puxadas por palavras de ordemnacionalistas que ecoavam em panfletos com ttulos como Chega de Europa. De uma formageral, durante esses anos era baixo o interesse do pblico numa dimenso europeia e o mesmo sepoderia dizer dos intelectuais.

    No espanta assim que Duroselle tenha chegado seguinte concluso sobre o estado deesprito dos intelectuais de mentalidade europeia: Pessimismo generalizado era a caractersticadominante do pensamento europeu entre as duas guerras

    O conforto da cultura europeia

    Depois de 1918, a crena de um liberal na Europa dificilmente podia continuar a ser f numprogresso sem limites. Era quase impossvel, de facto, no reparar como os Estados Unidos da

    Amrica, muito mais que a Velha Europa, se estava a tornar na vanguarda da inveno e damodernidade.Os europeus estavam habituados a uma tradio herica, tinham-se habituado a morrer pela

    f, amor, verdade e outras coisas irracionais desse gnero. Na sua loucura a Europa tinhaconseguido preocupar-se com milhares de outras coisas para alm do sucesso e enquanto essascoisas ficavam, a verdade que o diabo ia levando consigo o que quer que encontrasse desucesso na histria (Capek).

    O Criador da Europa f-la pequena, e depois dividiu-a em partes ainda mais pequenas, para que os nossoscoraes pudessem encontrar alegria no no tamanho, mas na pluralidade.

    Encarando os mesmo problemas e baseando, explicitamente, a sua anlise da dicotomia entrecultura e civilizao, o compatriota de Capek, escritor e crtico literrio F. V. Krejc, no seu

    livro A Identidade Checa e a Identidade Europeia, tentou chegar essncia da Europa.

    A civilizao era facilmente transfervel, como se podia ver pela maneira como a civilizaoeuropeia tinha conquistado outros continentes. A Cultura, por contraste, era concreta ehistrica, consistia numa estrutura de prticas e normas estticas, ticas e intelectuais, geradaao longo dos sculos.

    A diferena entre cultura e civilizao era muito visvel no caso da Unio Sovitica e dosEstados Unidos da Amrica. Ambos tinham adoptado, com ousadia, as ideias mais modernas dacivilizao europeia e at lhes tinham acrescentado novas dimenses, mas ainda assim e apesardesses esforos, no estava sequer prximos do nvel de cultura europeu. Prova disso, por umlado as prticas brbaras dos bolcheviques na Rssia e violncia, racismo e anti-socialismo feroz

    da sociedade americana.Para Krejc aUnio Sovitica e dos Estados Unidos da Amrica, apesar dos sistemas sociais

    opostos, eram impressionantemente parecidos. Ambos defendiam princpios de ummaterialismo vazio e de um utilitarismo primitivo, princpios perigosamente alheios aosgenunos valores europeus.

    Apresenta tambm uma Europa de zonas culturais distintas. No controverso assunto dasrelaes checo-alems, aceita a afinidade cultural muito prxima entre ambos. Nas suaspalavras, a Frana tinha-se tornado auto-suficiente e, desse modo, tinha-se esquecido daEuropa.

    Para Krejc, a verdadeira identidade europeia consistia em aceitar uma adeso dupla; aadeso nao prpria de cada um e, simultaneamente, a adeso cultura europeia partilhada

    por todos. No via nenhum conflito entre uma Europa culturalmente heterognea e a integraopoltica. Apoia os planos de Briand para uma confederao europeia.

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    Em suma, no foi apenas entre grandes naes ocidentais que o futuro, as caractersticasespecficas e o papel da Europa se tornaram objecto de preocupao e anlise.

    Georges Duhamel o autor faz um relatrio de viagem nos E.U. descrito em livro em termosevocativos de um gigantesco purgatrio. Todo o livro uma splica poderosa para que a Europaevite os perigos da americanizao

    Vemos, assim e em concluso, que mesmo os bons democratas e os bons liberais comearamno perodo entre as duas guerras, a procurar refgio e proteco na histria e na tradio comose precisassem encontrar refgio e proteco contra os estranhos frutos que tinham resultadoda explorao da prpria civilizao europeia. Ainda h apenas umas dcadas atrs, a Europaera a autoridade natural e indiscutvel para o mundo inteiro e agora encontrava algum confortoe aconchego no passado.

    A Europa e os mitos Nazis

    O idelogo nazi Alfred Rosemberg apresentou o nazismo no seu livro O Mito do Sculo XX.Evoca um poderoso mito de sangue, em que se expressa a alma de cada raa. Numa mistura demitos e lendas com pseudo-cincia, Rosemberg tenta demonstrar como a inaltervel alma raciale os valores que lhe so atribudos tm comandado a vida e a histria das raas. V trsprincpios numa luta decisiva de vida ou morte; a autntica Abendland nrdica que se funda naliberdade e na honra, luta, ao mesmo tempo, contra dois inimigos a igreja catlica e os judeusmais os seus comparsas com seu individualismo materialista, o seu marxismo e a sua farsademocrtica que, todos juntos, s escondem o poder e o governo do dinheiro dos judeus.

    Aos olhos de Rosemberg, estes poderes estavam apostados numa luta pela alma de cadaeuropeu e a guerra tinha mostrado que a coexistncia entre eles no era possvel.

    Rosemberg, no tolerava uma Unio Pan-Europeia que inclusse, por exemplo, Judeus nempodia aceitar uma Mitteleuropa vazia de raas e povos sugerida por Naumann. Ostminister

    durante a guerra, conduziu uma Ostpolitik marcada pelo terror e pelo genocdio desenfreados eacaba condenado morte no julgamento de Nuremberga.

    A Revolta das Massas

    O fascismo e o comunismo eram movimentos de massas, ou, pelo menos, tentaram muitointensamente explorar essas massas. Todo este fenmeno, to diferente do liberalismoindividual do sculo XIX muito ligado s classes dominantes provocou uma srie de estudospor parte de gente como Sigmund Freud, Elias Canetti, Hermann Broch entre outros.

    Um desses estudiosos foi Jos Ortega y Gasset que escreveu, em 1930, A Revolta das

    Massas. O diagnstico era claro: a Europa estava a experimentar uma crise severa porque asmassas tinham penetrado em todas as esferas da vida, inclusivamente as que, dantes, estavamreservadas a uma minoria privilegiada. A poltica deveria ser domnio de uma minoriaqualificada oferecendo uma seleco de programas s massas mas estava-se a assistir agora aogoverno directo das massas, embora estas, por natureza, sejam incapazes de governar. Oresultado foi uma decadncia ameaadora das normas.

    Contudo, houve igualmente aspectos positivos no processo que trouxera as massas suanova posio. Ortega y Gasset via com bons olhos os progressos tcnicos que permitiram amuita gente obter um padro de vida que, at ento, era privilgio das minorias ricas. Agoranada podia impedir uma vida de liberdade e luxo. No entanto, se as massas estavam em possedas tcnicas modernas, o facto que estavam ainda demasiado atrasadas na educao moral.

    S a combinao do liberalismo, do capitalismo e da cincia experimental tinham

    possibilitado este explosivo progresso social.

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    Mas, o povo-massa odiava a nobreza e a generosidade da democracia liberal, dado quesentia antipatia pelos valores que eram diferentes dos seus, antipatia em relao a tudo aquiloque no lhes era familiar. Recusavam-se a ouvir e a aprender e favoreciam a tirania e amediocridade, vazia de ideias e de valores. Politicamente s sabiam expressar-se pela acodirecta ou pela violncia, uma vez que qualquer dilogo implicaria algum tipo de regras de jogoa que no estavam habituados nem dispostos a habituar-se e que constitua um princpioinaceitvel para o povo-massa.

    No espanta que se sentissem atrados pelo Niilismo (doutrina que nega a possibilidade deverdade, no aceita nenhuma ordem moral) do fascismo ou do bolchevismo, dois princpios que,cinicamente, troam do princpio de liberdade que os tornou possveis. Bolchevismo e fascismoeram sintomas de decadncia, anacrnicos, nada ofereciam a no ser o regresso a um mundoarcaico e ultrapassado, j antes derrotado pelo liberalismo. Eram vazios mas perigosos, uma vezque as massas podiam agora usurpar o aparelho de estado e transform-lo num aparelhoperfeito para a violncia e explorao.

    O Liberalismo, era para Ortega y Gasset, a essncia da civilizao e a civilizao era anegao ao barbarismo. Todavia, o Liberalismo sofrera alguns vcios radicais pois dera origema personagens tais como o povo-massa que estava em revolta.

    Estava convencido que o declnio da Europa era essencialmente um mito perpetuado pelosprprios europeus e que s revelava a falta de um programa que os motivasse e em que elesacreditassem. E sem essa vontade de progredir, todos os valores e toda a criatividade da Europairiam desaparecer. Gasset sugeria um programa de reforma poltica em larga escala visando acriao de uns Estados Unidos da Europa Os desenvolvimentos tcnicos e o intercmbio deideias, em contnuo crescimento, tinham tornado obsoleto o estado-nao e, visto que umacomunidade nacional era basicamente um produto ideolgico orientado para o futuro, devia serpossvel fazer da Europa um conceito nacional. Seria esta a nica maneira de revitalizar aEuropa e apresentar uma alternativa genuna, moralmente superior ao comunismo sovitico.

    Num ensaio brilhante (Achtung Europa), Thomas Mann, desmascarou a brutalidade, amentira que o fascismo constitua. Aceitando o essencial da anlise de Ortega y Gasset revoltadas massas, atacava directamente a questo que o seu colega espanhol apenas aludira. Quandoas massas se aperceberam de que o esprito e a razo tinham sido destronados, nada as podiaimpedir de chafurdar no irracionalismo barato e na fraude intelectual. Para Mann, o culto doirracional dos anos 20 e 30 era completamente pattico. As massas de hoje em dia no tinhamoutra ambio, excepto a de escaparem ao eu, refugiando-se no xtase colectivo.

    As massas eram sentimentais e romnticas e compraziam-se num vocabulrio de sangue eterritrio. As tradicionais ideias europeias de liberdade, verdade e justia foram substitudas pormitos, ou seja, pela destruio da fronteira entre a verdade e a mentira. Nada havia de cristonesta revolta de pobres de esprito tudo o que pregavam era a destruio dos direitos

    humanos, nem havia em tudo aquilo qualquer tica herica o herosmo exigia valores moraismais altos do que assassnios e mentiras. Mann era um defensor ardente da cultura(autenticidade) na luta contra a civilizao (poltica de expedientes, sem espiritualidadeinterior).

    Temos de definir democracia como aquela forma de governo e de sociedade que, acima de todas as outras, seinspira no sentimento e na conscincia da dignidade do homem.

    Dilemas