PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: REVISÃO

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49 Encontro Revista de Psicologia Vol. XI, Nº. 16, Ano 2007 Iraní Tomiatto de Oliveira Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected] PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: REVISÃO DA LITERATURA E DELINEAMENTO DE MODELOS DE INTERVENÇÃO BRIEF PSYCHOTHERAPY FOR CHILDREN: LECTURE REVIEW AND DELINEATION OF INTERVENTION MODELS RESUMO A psicoterapia breve infantil (PBI), aqui entendida como uma mo- dalidade de intervenção terapêutica com duração limitada e obje- tivos circunscritos, dirigida a crianças e pais, é um importante re- curso para que se possa oferecer assistência psicológica a uma par- cela mais ampla da população. Apesar disso, e de seu potencial preventivo, tem sido alvo de um número restrito de estudos. Este trabalho tem o objetivo de contribuir para seu desenvolvimento, oferecendo um panorama dos conhecimentos da área, através de um levantamento e uma análise crítica da evolução histórica desta modalidade de intervenção, desde 1942 até os dias de hoje. Propõe ainda o delineamento de modelos de trabalho em PBI, com o intui- to de organizar as contribuições de diferentes autores. Palavras-Chave: Psicoterapia breve infantil, psicoterapia da criança, psicoterapia breve, orientação de pais, modelos de psicoterapia breve. ABSTRACT Brief psychotherapy for children (BPC), here understood as a mo- dality of therapeutic intervention with limited duration and cir- cumscribed objectives, directed at children and parents, is an im- portant resource in the offering of psychological assistance to a greater part of the population. Despite this, and its preventive po- tential, it has been the object of a restricted number of studies. This work aims at contributing to its development, offering an over- view of the knowledge in the area through a survey and critical analysis of the historical evolution of this modality of intervention, from 1942 to the present day. It also proposes the delineation of models of BPC, with the intention of organizing the contributions of different authors. Keywords: Brief psychotherapy for children, child psychotherapy, brief psychotherapy, parents guidance, models of brief psychotherapy. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 12/03/2007 Avaliado em: 20/03/2007 Publicação: 27 de outubro de 2008

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Encontro Revista de Psicologia Vol. XI, Nº. 16, Ano 2007

Iraní Tomiatto de Oliveira

Universidade Presbiteriana Mackenzie

[email protected]

PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: REVISÃO DA LITERATURA E DELINEAMENTO DE MODELOS DE INTERVENÇÃO

BRIEF PSYCHOTHERAPY FOR CHILDREN:

LECTURE REVIEW AND DELINEATION OF

INTERVENTION MODELS

RESUMO

A psicoterapia breve infantil (PBI), aqui entendida como uma mo-dalidade de intervenção terapêutica com duração limitada e obje-tivos circunscritos, dirigida a crianças e pais, é um importante re-curso para que se possa oferecer assistência psicológica a uma par-cela mais ampla da população. Apesar disso, e de seu potencial preventivo, tem sido alvo de um número restrito de estudos. Este trabalho tem o objetivo de contribuir para seu desenvolvimento, oferecendo um panorama dos conhecimentos da área, através de um levantamento e uma análise crítica da evolução histórica desta modalidade de intervenção, desde 1942 até os dias de hoje. Propõe ainda o delineamento de modelos de trabalho em PBI, com o intui-to de organizar as contribuições de diferentes autores.

Palavras-Chave: Psicoterapia breve infantil, psicoterapia da criança, psicoterapia breve, orientação de pais, modelos de psicoterapia breve.

ABSTRACT

Brief psychotherapy for children (BPC), here understood as a mo-dality of therapeutic intervention with limited duration and cir-cumscribed objectives, directed at children and parents, is an im-portant resource in the offering of psychological assistance to a greater part of the population. Despite this, and its preventive po-tential, it has been the object of a restricted number of studies. This work aims at contributing to its development, offering an over-view of the knowledge in the area through a survey and critical analysis of the historical evolution of this modality of intervention, from 1942 to the present day. It also proposes the delineation of models of BPC, with the intention of organizing the contributions of different authors.

Keywords: Brief psychotherapy for children, child psychotherapy, brief psychotherapy, parents guidance, models of brief psychotherapy.

Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

Artigo Original Recebido em: 12/03/2007 Avaliado em: 20/03/2007

Publicação: 27 de outubro de 2008

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1. INTRODUÇÃO

A psicoterapia breve tem sido reconhecida como um importante instrumento de traba-

lho, do qual o profissional pode lançar mão sempre que necessitar realizar uma inter-

venção psicoterapêutica com objetivos circunscritos e duração limitada. Em vista disso,

tem despertado grande interesse e sido objeto de um expressivo número de pesquisas

e estudos em âmbito nacional e internacional, no que se refere à sua utilização com a

população adulta. O mesmo não ocorre com a população infantil. Apesar da relevância

do assunto, e da demanda por esse tipo de trabalho, a produção científica da área tem

se mostrado bastante restrita.

Este artigo visa contribuir para o desenvolvimento dos conhecimentos sobre a

psicoterapia breve infantil de abordagem psicodinâmica, inicialmente tecendo um pa-

norama das principais propostas desenvolvidas por autores norte-americanos, euro-

peus e sul-americanos, desde o marco inicial, em 1942, até os dias de hoje. O objetivo é

não só descrevê-las, mas realizar uma análise crítica sobre sua evolução histórica, iden-

tificar influências e contextualizar as diferentes propostas, para permitir uma melhor

avaliação de seu significado. A partir desse panorama vamos propor o delineamento

de modelos de trabalho em psicoterapia breve infantil, buscando uma melhor compre-

ensão e organização do conhecimento da área.

2. ORIGEM E EVOLUÇÃO

Não é tarefa fácil localizar a época do início da utilização de psicoterapias breves com

crianças, uma vez que vários autores consideram que elas são uma tradição na psiquia-

tria infantil, e mesmo no início da psicanálise de crianças.

No entanto, a primeira proposta referida na literatura que abordou especifi-

camente a psicoterapia breve infantil (PBI) foi a de Allen (1942), um discípulo de Rank,

este considerado um dos precursores mais importantes das psicoterapias breves de

adultos. Allen (1942) se concentrou no significado da produção da criança no aqui-

agora da relação terapêutica, com o objetivo de ajudá-la a suportar ligações patológicas

com os pais e aceitar seu papel como um indivíduo diferenciado.

Este trabalho pioneiro reflete uma forte influência de Rank (1929, apud MAR-

MOR, 1979), especialmente em relação à importância dada à questão da separação e da

perda. É relevante ainda observar que ele surgiu no mesmo período em que Alexander

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e French (1956) estavam buscando desenvolver um modelo mais breve de psicoterapia

para adultos. Estes estudos, levados a cabo no período de 1938 a 1945, são considera-

dos um marco na história das psicoterapias psicodinâmicas breves (YOSHIDA, 1990).

A proposta de Allen (1942) evidencia ainda que, já em seu nascedouro, a idéia de um

processo breve com crianças trouxe implícita uma preocupação com a relação entre es-

tas e os pais, e considerou decisivo o trabalho com eles. Veremos posteriormente como

essa idéia se desenvolveu de diferentes maneiras.

Em 1946, o próprio Rank (apud PROSKAUER, 1971) descreveu o caso de uma

criança tratada em vinte sessões, utilizando intervenções relacionadas a um foco, in-

centivando um relacionamento positivo com o terapeuta e encorajando-a para direções

mais saudáveis de desenvolvimento.

Dez anos depois do livro pioneiro de Allen (1942), surgiu o trabalho de Arthur

(1952), que descreveu um caso atendido por um período de seis meses. Percebe-se aqui

claramente a influência de Alexander e French (1956), principalmente quanto à impor-

tância atribuída a um papel mais ativo por parte do terapeuta, que, segundo Arthur

(1952), exige um alto grau de inventividade.

Após essa fase inicial, mais de quinze anos se passaram até que surgissem ou-

tros trabalhos expressivos sobre o assunto na América do Norte, mais especificamente

nos Estados Unidos e Canadá. O período mais profícuo no desenvolvimento de inter-

venções breves com crianças se localiza entre o final de década de 60 e o início da de

70, especialmente devido a Mackay (1967), Lester (1967, 1968) e Proskauer (1969, 1971).

Eles são os autores mais referidos por outros estudiosos do assunto, especialmente pe-

los norte-americanos, embora cada um deles tenha escrito apenas um ou dois artigos a

esse respeito, o que dá também uma clara idéia da escassez de trabalhos relacionados

ao tema.

Os anos seguintes se caracterizaram, especialmente nos Estados Unidos, pela

preocupação principal em demonstrar a eficácia das psicoterapias, ou comparar os re-

sultados de intervenções breves com os de psicoterapias de longa duração. É clara, a-

qui, a influência de motivos de natureza política e econômica, e das agências de segu-

ro-saúde, que exigiam comprovação da melhor relação custo-benefício dos tratamen-

tos. Estes trabalhos utilizaram-se predominantemente de metodologia quantitativa,

mas muitos deles apresentam problemas conceituais e metodológicos, com descrições

que não permitem uma compreensão clara sobre a forma como a psicoterapia foi de-

senvolvida.

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Por outro lado, várias outras pesquisas desenvolvidas nesse período se propu-

seram a trabalhar com amostras homogêneas e a utilizar modelos de intervenção deta-

lhados, que pudessem ser reproduzidos, o que, como apontam Dulcan e Piercy (1985),

criou situações artificiais e dificultou que os resultados pudessem ser efetivamente uti-

lizados nas situações reais da clínica.

Na década de 90, com as contribuições de Messer e Warren (MESSER &

WARREN, 1995; WARREN & MESSER, 1999), encontramos novas idéias na área, na

medida em que eles retomaram a discussão sobre a psicoterapia breve de crianças,

buscando uma integração entre as concepções psicodinâmicas e as teorias do desen-

volvimento infantil.

Na Europa, os trabalhos sobre psicoterapia breve infantil seguiram um cami-

nho um tanto diferente e, a nosso ver, pode-se falar verdadeiramente de uma escola,

surgida a partir do marcante trabalho publicado por Cramer em 1974, na Suíça. Este ar-

tigo apresenta uma proposta discutida de forma aprofundada, que inclui um referenci-

al teórico, a exposição detalhada da técnica e da teoria da técnica, e deu início a uma

série de outros, com a colaboração de uma equipe que se denomina Grupo de Genebra,

particularmente atuante durante a década de 80. Este grupo inclui autores como Pala-

cio-Espasa e Manzano (PALACIO-ESPASA, 1984; PALACIO-ESPASA, & MANZANO,

1982; PALACIO-ESPASA, & MANZANO, 1987), e influenciou fortemente outros auto-

res, como Macias (1987).

A característica principal do Grupo de Genebra é colocar no foco central da

compreensão do caso e da intervenção a relação pais-criança, considerando também a

transmissão transgeracional. Trabalharam especialmente com crianças em idade pré-

escolar, com ênfase na prevenção. Esta ênfase fez com que o grupo se dirigisse a popu-

lações cada vez mais novas, a ponto de, na década de 90, terem se voltado totalmente

para a psicoterapia mãe-bebê.

Uma revisão histórica permite observar o abismo que se instalou entre os au-

tores norte-americanos e os europeus, não havendo quase referências ou citações, nas

publicações de uns, das publicações dos outros. Contribui para modificar este panora-

ma o grupo de Muratori (MURATORI & MAESTRO, 1995; MURATORI, CASELLA,

TANCREDI, MILONE, & PATANELLO, 2002), que desenvolve seu trabalho na Uni-

versidade de Pisa, na Itália, não só sob a influência mas, especialmente no início, sob a

supervisão direta de Palacio-Espasa, um dos membros do Grupo de Genebra. A impor-

tância do grupo italiano está não só em ter finalmente iniciado uma integração dos co-

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nhecimentos dos dois continentes, mas em ter ampliado a aplicação da técnica desen-

volvida em Genebra para outras faixas etárias, incluindo crianças em idade escolar e

pré-adolescentes. A ampliação da faixa etária atendida tem grande relevância em nos-

so meio, no qual, como se sabe, a maior parte das crianças que procura ajuda psicológi-

ca está em idade escolar (OLIVEIRA, 1999a).

A América do Sul, com Aberastury, também ofereceu sua contribuição pionei-

ra na área. Em 195, Aberastury iniciou uma aproximação com a odontopediatria,

quando foi solicitada a escrever um artigo para a Revista da Associação Odontológica

Argentina (ABERASTURY de PICHON-RIVIÈRE, 1951). A partir daí, desenvolveu

uma técnica que denominou “psicoterapia analítica com fins e tempo determinado”,

utilizada pelo grupo de trabalho que se reunia em torno da autora, o que resultou no

livro El psicoanalisis de niños y sus aplicaciones, compilado por Aberastury, em 1972.

Sob sua influência, Knobel (1969; 1977) propôs sua “psicoterapia de tempo e

objetivos limitados”, para tratar, com o que considera uma melhor adequação à reali-

dade, “certo tipo de fenômenos, determinado tipo de processos, com a maior economia

de tempo possível” (1977, p. 232, grifos do autor).

No Brasil, a partir de 1989, um grupo de profissionais congregados no Núcleo

de Estudos e Pesquisas em Psicoterapia Breve, do qual a autora fez parte e que mante-

ve suas atividades até o ano 2000, dedicou-se ao estudo, à pesquisa, ao atendimento

clínico e à formação de profissionais na área da psicoterapia breve infantil de orienta-

ção psicodinâmica. Tomando como referência a escassa bibliografia disponível na épo-

ca sobre o assunto e a experiência clínica privada e institucional dos membros do gru-

po, foram elaboradas algumas propostas adaptadas à realidade brasileira, descritas em

artigos e capítulos de livros publicados (Mito, 1996, 2001; Mito; Yoshida, 2004; Oliveira,

2001, 2002a, 2002b; Oliveira; Mito, 1997).

3. PRINCIPAIS PROPOSTAS DE PSICOTERAPIA BREVE COM CRIANÇAS

Vamos a seguir apresentar os aspectos principais das propostas desenvolvidas por di-

ferentes autores, que consideramos estar entre as mais relevantes sobre o assunto, e

posteriormente estabelecer comparações entre elas. Serão considerados os trabalhos

surgidos a partir do final da década de 60, quando a produção se tornou mais significa-

tiva e contínua, realizados com crianças, e não com bebês (que não são aqui nosso alvo

de atenção), a partir de um referencial psicodinâmico, de forma individual.

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3.1. Os autores norte-americanos

Jacques Mackay

Este autor ressalta a importância da busca de uma melhor compreensão do processo

terapêutico e de como ele opera, e de se levar em conta, na avaliação de resultados, o

indivíduo como um todo, e não apenas a remissão de sintomas, que pode ocorrer às

custas do fortalecimento de defesas patológicas.

Baseia-se no conceito de “experiência emocional corretiva” de Alexander e

French (1956), o qual considera o fator terapêutico básico de qualquer forma de psico-

terapia, que permite modificar as características da relação de objeto.

Enfatiza as evidências teóricas e clínicas da maior plasticidade da criança para

responder positivamente à intervenção terapêutica, e de sua maior permeabilidade às

influências do meio, o que pode significar maior capacidade de internalizar bons obje-

tos, se estes estiverem disponíveis, e, portanto, maior impacto da atitude de aceitação

por parte do terapeuta. O fato de elas serem mais dependentes dos pais pode também

ser utilizado como um instrumento de trabalho, na medida em que mudanças nas ati-

tudes dos pais podem resultar em melhoras surpreendentes na criança. Por isso, atri-

bui especial importância à intervenção sobre as atitudes parentais patogênicas.

O atendimento se inicia com um psicodiagnóstico que visa uma formulação

dinâmica clara do problema básico do paciente, e com o estabelecimento de um foco

sobre o conflito específico mais provável de ser modificado no tratamento, ao lado de

um foco similar sobre as atitudes patogênicas dos pais e a avaliação de sua acessibili-

dade a mudanças. A duração do processo psicoterápico varia de uma a 30 sessões se-

manais, de acordo com o caso, com um número médio de 6 a 12 sessões. A forma do

atendimento também é decidida de acordo com o caso, sendo que os pais podem ser

atendidos pelo mesmo terapeuta, em conjunto com a criança ou separadamente, ou por

um social worker. Sua técnica sugere a interpretação precoce e sistemática, para a crian-

ça, do conflito emocional central, em suas manifestações mais acessíveis, inteligíveis e

toleráveis, visando fazer da parte sadia do ego do paciente um aliado dos esforços do

terapeuta.

A importância das contribuições de Mackay, a nosso ver, se relaciona princi-

palmente com sua visão mais abrangente e aprofundada do processo, que leva em con-

ta a totalidade do indivíduo, e à importância que atribui à relação terapêutica. Além

disso, discute a relevância de se pensar a psicoterapia breve não como um método para

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resolver problemas imediatos, como a demanda elevada, mas de se avaliar seu efetivo

papel como um instrumento terapêutico, de aplicação flexível, como indicação princi-

pal ou paliativa, e também com contra-indicações específicas.

A técnica utilizada com a criança, muito semelhante à da psicanálise clássica,

privilegia as interpretações transferenciais e a análise de material inconsciente, o que é

também uma característica das propostas desenvolvidas com adultos nessa mesma é-

poca (YOSHIDA, 2004).

Eva P. Lester

Esta autora, que desenvolveu seu trabalho no Canadá, considera que a psicoterapia

breve é uma forma específica de intervenção, caracterizada principalmente por ter ob-

jetivos limitados e bem definidos (LESTER, 1967, 1968). Como na psicanálise, a inter-

pretação é o principal agente terapêutico, mas a atitude do terapeuta é mais ativa e ele

se utiliza também de outros tipos de intervenção.

A partir da concepção de que a maioria, senão todos os distúrbios infantis re-

presentam desvios do desenvolvimento normal causados por falta de suprimento ex-

terno vital, por interferência externa no impulso normal da criança para se adaptar e

dominar seu ambiente, por limitações internas da própria criança para o crescimento

normal ou por uma combinação desses fatores, ressalta que uma intervenção breve

mas apropriada, e realizada no momento adequado, pode reverter os desvios do curso

normal e abrir caminho para o progresso posterior.

Em termos técnicos, o trabalho é dividido em quatro estágios (a divisão, se-

gundo a autora, é artificial e tem finalidade didática): o primeiro contato, o diagnósti-

co, a fase terapêutica propriamente dita e o término. Deve haver uma preocupação,

desde o início, com o estabelecimento de uma aliança terapêutica, e também desde o

início deve ficar clara a natureza interpretativa do tratamento. A partir de uma formu-

lação diagnóstica, e feita a indicação para a psicoterapia breve, o mesmo terapeuta se

encarrega da criança e dos pais, em sessões conjuntas ou separadas. A intensidade do

envolvimento dos pais no processo depende da idade da criança e da natureza do pro-

blema, sendo mais alta em crianças pequenas e com sintomas reativos. Com eles, vale-

se principalmente de clarificação, explicação, direção e re-educação, e menos de inter-

pretação.

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Esta proposta é dirigida a crianças cujo estado global de desenvolvimento não

esteja seriamente prejudicado, com famílias suficientemente flexíveis para mudar e se

acomodar às mudanças da criança.

A não ser pelo estabelecimento de objetivos limitados e pela maior atividade

do terapeuta, esta proposta é muito próxima da psicanálise de crianças, inclusive com

a utilização de interpretações transferenciais. No caso dos pais, no entanto, embora

Lester indique a importância de relacionar suas dificuldades com os sintomas da crian-

ça, parece propor mais uma orientação e uma re-educação.

Stephen Proskauer

Este autor, influenciado por James Mann (1973), publicou dois importantes artigos so-

bre PBI entre o final da década de 60 e o início da de 70 (PROSKAUER, 1969, 1971). Sua

Psicoterapia Focal de Tempo Limitado com Crianças é realizada em um total de 6 a 20

horas, distribuídas num período de 2 a 6 meses, focalizado desde o início numa ques-

tão específica, com data de término estabelecida e explicitada também desde o início

para os pais e para a criança. Para o autor, isto é fundamental para colocar em foco o

problema crucial da separação e perda, da mesma forma que preconizava Mann (1973),

seguindo Rank (1929 apud MARMOR, 1979).

O processo terapêutico pode ser dividido em três fases. A primeira fase obje-

tiva a formação de uma aliança terapêutica através da busca de uma forma de comuni-

cação aceitável para a criança e da definição mútua de um foco, que inclui aspectos

centrais que demandam atenção e podem ser trabalhados, pelo menos parcialmente,

no tempo disponível. Na segunda fase, de intervenção terapêutica propriamente dita, o

objetivo é facilitar mudanças numa área limitada de funcionamento. O terapeuta deve

guiar-se pelo foco escolhido e, a partir de uma compreensão de tantos significados ine-

rentes ao material simbólico quanto for possível, selecionar a que dar ênfase, e dirigir

suas intervenções para objetivos realistas. A compreensão dinâmica é utilizada para

auxiliá-lo a estruturar uma relação de ajuda com a criança. A terceira fase é a de térmi-

no, e visa a estabilização dos ganhos conquistados. Quanto maior a dificuldade do pa-

ciente com a constância de objeto, mais tempo e esforço precisa ser despendido com

esse trabalho.

O follow-up é considerado como um segundo estágio essencial do processo.

Entrevistas feitas em intervalos de 3 a 6 meses permitem acompanhar a evolução, rea-

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lizar novas intervenções, se necessário, e re-assegurar a criança do interesse do tera-

peuta.

Proskauer não se detém na análise da participação dos pais, embora afirme

que eles têm influência importante nos resultados da maioria das psicoterapias infan-

tis.

A nosso ver, as contribuições deste autor ao tema são extremamente relevan-

tes porque ele discute com profundidade vários aspectos da técnica, com uma preocu-

pação especialmente centrada na relação que se estabelece com a criança, respeitando

suas possibilidades de comunicação e enfatizando os aspectos positivos de seu funcio-

namento psíquico e de seu comportamento. Não faz apenas uma transposição das téc-

nicas breves utilizadas com adultos, nem da psicanálise infantil. Modifica a forma das

intervenções, tirando do lugar central as interpretações, especialmente as transferenci-

ais, e levando em conta a importância da comunicação simbólica com a criança, dando

mais importância ao que é vivido na relação do que ao que é verbalizado. Além disso,

fornece relevantes orientações para o trabalho com pacientes institucionalizados, o que

é extremamente raro entre os autores da área.

Stanley B. Messer e C. Seth Warren

Estes autores chamam a atenção para a fragilidade da ligação histórica entre psicotera-

pia e teorias do desenvolvimento na prática da psicoterapia psicodinâmica breve, e pa-

ra a ausência de pesquisa e teoria clínica sobre a PBI.

Os conhecimentos sobre o desenvolvimento acrescentam contribuições impor-

tantes ao campo das psicoterapias breves, uma vez que podem sugerir focos terapêuti-

cos localizados em momentos específicos, e os problemas podem ser identificados não

somente em termos de estruturas da personalidade e de sintomas, mas também em

termos de falhas para enfrentar os desafios determinados pelo curso do desenvolvi-

mento. Isto adiciona outra dimensão à teoria psicodinâmica e enriquece a abordagem

terapêutica.

Partindo deste ponto de vista, sugerem que a formulação de um foco terapêu-

tico se apóie sobre o desafio desenvolvimental esperado, que é então compreendido no

contexto particular de cada paciente. O problema é definido em termos de uma falha

adaptativa, usualmente em face de novas demandas que surgem a partir da situação

de vida do paciente, acidentais ou resultantes do próprio processo de desenvolvimen-

to. A intervenção visa reduzir ou eliminar a distância entre os recursos adaptativos e as

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demandas situacionais, o que pode requerer ou não mudanças psicodinâmicas especí-

ficas.

Partem da teoria da separação-individuação, e consideram que esse processo é

subjacente a todo conflito na infância, uma vez que é a força em direção à individuação

que move o desenvolvimento, que ocorre num contexto relacional. Portanto, o foco te-

rapêutico parte necessariamente de uma compreensão dos problemas da criança no

seu ambiente relacional imediato. O foco incorpora aspectos do desenvolvimento, psi-

codinâmicos, ambientais e referentes à crise imediata.

Em relação à técnica, os autores chamam a atenção para a necessidade de se

levar em conta características específicas da criança, como por exemplo uma noção de

tempo nem sempre suficientemente bem desenvolvida, limitações na possibilidade de

comunicação verbal e na compreensão de intervenções complexas e intelectualizadas

(WARREN; MESSER, 1999). Tal como Winnicott (1975) destacam a importância da ati-

vidade psíquica criativa e da brincadeira expressiva como veículos de desenvolvimen-

to, e da continência do terapeuta para que a criança possa expressar seus afetos e emo-

ções, muito mais do que compreendê-los verbalmente ou torná-los conscientes.

Afirmam que é impossível conceber uma psicoterapia breve com criança que

não envolva diretamente os pais, que devem ser recrutados como aliados e participar

do processo, em sessões conjuntas ou separadas, dependendo das características do ca-

so. Ressaltam, ainda, que uma terapia breve com crianças é ainda uma terapia com cri-

anças, e não se pode esquecer os princípios básicos da técnica lúdica, o respeito ao rit-

mo e às possibilidades do paciente. O limite de tempo deve ser usado mais no sentido

de adequar as possibilidades terapêuticas às condições reais do que para impor mu-

danças técnicas.

3.2. Os grupos europeus

O grupo de Genebra: Bertrand Cramer; Francisco Palácio-Espasa e Juan Manzano

Em seu longo artigo de 1974, ponto de partida do trabalho deste grupo de autores,

Cramer expõe sua proposta, surgida a partir de seu trabalho como pediatra e psicana-

lista, realizado tanto em contexto institucional quanto na clínica privada, e influencia-

do pelas idéias de Winnicott sobre consultas terapêuticas e pela abordagem familiar.

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Leva em conta o conceito de crise e a pré-transferência positiva que ela tende

a potencializar, favorecendo que intervenções breves, nessas situações, sejam não só

bem toleradas, mas tenham seus efeitos amplificados. Assim, propõe que a intervenção

seja o mais precoce possível, a partir de uma identificação do nódulo do conflito ou da

angústia central, que deve ocorrer, de preferência, desde a primeira sessão.

Sua técnica aplica-se, sobretudo, a casos de perturbações no desenvolvimento,

que estão no limite entre as perturbações reativas e as neuroses; pode ser utilizada com

casos mais graves e crônicos, mas apenas com objetivos circunscritos, ligados a agra-

vamentos súbitos ou à aparição de novos sintomas.

O autor desenvolve um referencial teórico alicerçado especialmente nas con-

cepções de Mahler (1982) sobre a simbiose primária e o processo de separação-

individuação, e nas de Winnicott (1978) sobre o caminho da dependência absoluta à

independência relativa. Estuda as características específicas da relação pais-criança (e,

em especial, da relação mãe-criança), dentro da qual se constitui o indivíduo, num pro-

cesso que leva da fusão primária a uma diferenciação progressiva. Quando, durante o

processo de desenvolvimento da criança, seus conflitos em determinada fase são parti-

cularmente ansiógenos para os pais, ocorre nestes uma regressão, com des-

diferenciação parcial do self, que favorece as projeções e identificações maciças. O obje-

to da intervenção terapêutica é, então, o que denomina “área de mutualidade psíqui-

ca”, uma área comum e indiferenciada entre os pais e a criança, fruto das projeções e

identificações recíprocas, e busca-se a origem genética do conflito, que está na relação

dos pais com seus próprios pais. A terapia visa restabelecer os limites entre o self da

criança e o do genitor, permitindo a retomada do processo de individuação.

Em relação à técnica, assume desde o início uma postura terapêutica e inter-

pretativa, para testar a capacidade de mudança dos pais, e decide a indicação terapêu-

tica já durante a primeira entrevista, que é realizada em conjunto com os pais e a crian-

ça. A partir daí, e de acordo com as características do caso, vai estabelecendo quem de-

ve ser atendido em cada sessão: a criança e os pais, um dos pais, o casal ou a criança

sozinha. De qualquer forma, as intervenções serão sempre dirigidas à interação psíqui-

ca pais-criança, e não aos fenômenos intrapsíquicos. O número de sessões é estabeleci-

do a partir do desenvolvimento do processo (em média, de 3 a 10). O autor não parece

dar atenção especial à fase de término, embora ressalte que é preciso estar consciente

de seus efeitos.

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Psicoterapia breve infantil: Revisão da literatura e delineamento de modelos de intervenção

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Na década de 80, Cramer e os outros membros do Grupo de Genebra, especi-

almente Palácio-Espasa e Manzano, publicaram diversos outros trabalhos, seguindo

essas mesmas direções básicas (PALACIO-ESPASA, 1981, 1984; PALACIO-ESPASA;

CRAMER, 1989; PALACIO-ESPASA; MANZANO, 1982, 1987). O trabalho desses auto-

res, no entanto, seguindo sua ênfase preventiva, foi se dirigindo a crianças cada vez

mais novas, até que se concentrou totalmente na psicoterapia mãe-bebê. Na década de

90 publicaram dois livros traduzidos para o português: Técnicas psicoterápicas mãe-

bebê (CRAMER; PALACIO-ESPASA, 1993) e Segredos femininos: de mãe para filha

(CRAMER, 1997), um emocionante trabalho que aborda especificamente a transmissão

das heranças psíquicas através das gerações.

Também na década de 90, Manzano e Palacio-Espasa (1993) relatam que am-

pliaram seu trabalho de psicoterapia breve para crianças de todas as idades, incluindo

os adolescentes, utilizando os mesmos princípios teóricos e técnicos. A diferença é que

as projeções mútuas entre pais e crianças mais velhas abarcam aspectos do conflito e-

dípico. A técnica de trabalho inclui atendimentos conjuntos, que visam permitir que os

pais e a criança tomem consciência do conflito que engendram uns nos outros, e que se

auto-alimenta em um círculo vicioso.

O trabalho do grupo apresenta muitos pontos importantes a serem ressalta-

dos: a coerência e o aprofundamento de seu embasamento teórico, a preocupação em

detalhar a técnica e em fundamentá-la, o cuidadoso e contínuo trabalho de pesquisa.

Os limites de sua utilização residem principalmente no fato de que exige formação psi-

canalítica e terapeutas com grande experiência clínica para que possa ser realizado da

forma como é proposto; além disso, dirige-se principalmente a crianças muito peque-

nas ou em idade pré-escolar, em especial àquelas em que as dificuldades são princi-

palmente reativas, e que podem se beneficiar de uma mudança na dinâmica do rela-

cionamento familiar, e cujos pais sejam permeáveis a essa mudança. Nossa experiência

mostra que, em nosso meio, estes casos representam a minoria dos que buscam aten-

dimento psicológico.

O grupo italiano: Filippo Muratori e colaboradores

Este grupo desenvolveu sua proposta de psicoterapia breve a partir do modelo da Es-

cola de Genebra (MURATORI; MAESTRO, 1995). Justifica sua adoção a partir das pes-

quisas sobre psicoterapia infantil, especialmente as de meta-análise, como os de Target

e Fonagy (1994), que têm demonstrado que a psicoterapia infantil tem resultados posi-

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tivos, que a melhora é maior quando a criança tem menos de 11 anos, quando tem um

conjunto circunscrito de sintomas ligados a um conflito internalizado central, quando

há tratamento simultâneo dos pais, e que a amplitude dos resultados não está ligada à

maior duração ou intensidade do tratamento. No entanto, ressaltam que há poucos es-

tudos sobre o processo psicoterápico, mostrando o que os terapeutas realmente fazem,

e sobre que aspectos do tratamento são significativos para a obtenção de resultados

positivos.

Seu trabalho é realizado em contexto clínico naturalista, com crianças de 6 a 11

anos, com desordens emocionais caracterizadas por ansiedade ou depressão, sem as

características de uma síndrome específica. O objetivo é elucidar um tema conflituoso

central que, durante a infância, repousa na interação da criança com os pais. É nesse

contexto que o terapeuta trabalha, destacando este tema e elucidando suas relações

com os sintomas da criança e com o mundo representacional dos pais. Uma vez que

consideram que os sintomas infantis freqüentemente têm uma dupla função – expres-

sar tanto a dinâmica individual quanto a familiar -, a presença da criança e dos pais é

necessária, pois permite ao terapeuta atuar sobre eles e sobre suas interações sintomá-

ticas. Diferentemente da Escola de Genebra, acrescentam como rotina sessões indivi-

duais com a criança, pois, uma vez que trabalham com pacientes na fase de latência, é

preciso considerar que há maior internalização do conflito, e que os temas conflituosos

compartilhados têm uma elaboração pessoal da criança que precisa ser trabalhada.

O processo é composto por 3 fases, e dura cerca de 4 meses. São realizadas 5

sessões com a família, focalizadas no conflito transgeracional, 5 sessões com a criança,

com o mesmo terapeuta, com foco na percepção que ela tem do problema e em seu es-

tilo defensivo, e uma sessão final com a família, para voltar a apontar o tema conflituo-

so central, sua relação com o sintoma da criança e com as representações dos pais.

Ressaltando a dificuldade de encontrar instrumentos adequados para avaliar

os resultados e para interpretá-los, os autores afirmam que suas pesquisas indicam que

a terapia é efetiva para acelerar o processo de redução dos sintomas, e que esta redução

implica numa melhora do funcionamento global da criança. Indicam ainda que as mu-

danças ocorrem primeiro na interação pais-criança e, só após um período de tempo, no

comportamento da criança.

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Psicoterapia breve infantil: Revisão da literatura e delineamento de modelos de intervenção

Encontro: Revista de Psicologia • Vol. XI, Nº. 16, Ano 2007 • p. 49-74

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3.3. Os autores sul-americanos

Arminda Aberastury

A autora propõe o que denomina “psicoterapia analítica com fins e tempo determina-

dos” (ABERASTURY, 1972), para ser utilizada em situações específicas, especialmente

as emergenciais e agudas, como preparação para cirurgias, adoção, separação dos pais

ou migração. O objetivo é a cura sintomática ou a solução de um conflito determinado,

e não a cura de conflitos psicológicos profundos ou a modificação de estruturas men-

tais. A estratégia inclui dar à criança e aos pais toda a informação referente à situação e

trabalhar com os emergentes que surgirem, utilizando a interpretação, adaptada aos

limites de uma psicoterapia breve. O atendimento é realizado individualmente com a

criança, e individualmente ou em grupo com os pais.

Na verdade, esta não é exatamente uma proposta de psicoterapia breve, mas

de aplicação, em situações específicas, da psicoterapia analítica modificada. Assim, não

há uma descrição detalhada do modelo de trabalho, mas orientações gerais, além do

relato de casos clínicos, que podem ajudar a compreender melhor como se dá o proces-

so. No entanto, decidimos incluí-la aqui por sua relevância, tanto em termos de pionei-

rismo, em especial na América do Sul, quanto pela influência que exerceu sobre outros

autores importantes, como Knobel.

A proposta de Aberastury (1972) continua gerando frutos até hoje, no expres-

sivo crescimento da psicologia aplicada à área da saúde, incluindo a psicologia hospi-

talar. Apenas para citar alguns exemplos de trabalhos desenvolvidos em nosso meio,

voltados para o atendimento de crianças hospitalizadas, temos o de Silveira e Outeiral

(1998), descrevendo atendimento pré-cirúrgico, e o de Trinca (2003), que utilizou o

Procedimento de Desenhos-Estórias como instrumento de comunicação, em atendi-

mentos psicológicos breves a crianças que aguardavam procedimentos cirúrgicos.

Maurício Knobel

A Psicoterapia de Tempo e Objetivos Limitados visa tratar certos tipos de fenômenos

com a maior economia de tempo possível e a melhor adequação à realidade. O traba-

lho é dirigido a um foco, através de interpretações parciais e atenção seletiva. Evita-se

deliberadamente a regressão e a neurose de transferência (KNOBEL, 1997), sendo que

a transferência é utilizada para compreender o paciente e ajudá-lo a discriminar a con-

fusão que dela resulta, diluindo-a no aqui e agora de sua vida. A elaboração se baseia

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em insights com maior participação cognitiva do que afetiva (compreensão de um con-

flito e de suas causas), e as intervenções visam mudar a informação falsa para informa-

ção verdadeira, o que leva, segundo o autor, à mudança parcial nos objetos e vínculos

objetais alterados pela distorção cognitiva. O número de sessões deve ser fixado previ-

amente, e não deve exceder 12 ou 14.

O atendimento aos pais é considerado fundamental, especialmente em virtude

da dependência da criança. De acordo com o caso pode ser uma orientação terapêutica,

ou uma psicoterapia, realizada concomitantemente, em conjunto ou mesmo em substi-

tuição à psicoterapia da criança. Se isto não for levado em conta e os pais não estive-

rem preparados para as mudanças que o processo ocasionar na criança, sua ação pato-

gênica será reforçada.

4. NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM PSICOTERAPIA BREVE (NEPPB), NO BRASIL: IRANÍ TOMIATTO DE OLIVEIRA E TEREZA I. HATAE MITO

O trabalho do NEPPB desenvolveu-se em São Paulo, a partir do interesse de seus

membros em pesquisar técnicas de psicoterapia breve adaptadas à realidade brasileira

(YOSHIDA; ENÉAS, 2004). O grupo, que se reuniu em 1987, voltou-se inicialmente pa-

ra o atendimento de adultos, mas a demanda por assistência a crianças deu início às

tentativas de desenvolver uma proposta de trabalho para essa população. Com esse

objetivo, a autora uniu-se ao grupo em 1989. Logo de início, ficaram evidentes as difi-

culdades envolvidas nessa tarefa: a ausência de referências na bibliografia, a comple-

xidade oriunda das condições típicas da infância, como a dependência da criança, que

gera a necessidade de envolver os pais no processo, e a variedade de faixas etárias e

níveis de desenvolvimento.

A forma de trabalho que aos poucos foi sendo desenvolvida e pesquisada re-

sulta de uma síntese da influência de vários autores, especialmente do Grupo de Ge-

nebra e de Proskauer, que, associada à experiência clínica dos profissionais envolvidos,

resultou numa proposta adaptada à nossa população e às condições de nosso meio. O

conceito de “área de mutualidade psíquica”, de Cramer (1974), representou um marco

importante, pois permite enfocar de início os pais como parte do processo, integrando-

os na compreensão dinâmica do caso e abrindo novas possibilidades de intervenção. O

trabalho desse autor, no entanto, dirige-se a crianças pequenas, especialmente àquelas

com idade entre 3 e 6 anos, e, também por isso, sua ênfase principal é dada ao atendi-

mento dos pais. Isto contrasta com nossa população clínica, constituída especialmente

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Psicoterapia breve infantil: Revisão da literatura e delineamento de modelos de intervenção

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por crianças mais velhas, em idade escolar, que necessitam de um trabalho que leve

em conta, de maneira mais significativa, sua própria organização psíquica e sua manei-

ra pessoal de organizar as influências que recebe do ambiente familiar. Nesse sentido

foram extremamente relevantes para o desenvolvimento de nosso trabalho as idéias de

Proskauer (1971), que aborda mais detalhadamente o processo com a criança, dando

ênfase à busca de uma forma possível de comunicação e ao estabelecimento de uma re-

lação com o terapeuta, que possa ser utilizada por ela como um modelo de relação po-

sitiva.

Assim, o trabalho que desenvolvemos, de certa forma, se aproxima do que

posteriormente foi elaborado por Muratori e pelo grupo italiano (MURATORI et al.,

2002), que adaptou a proposta do Grupo de Genebra para crianças mais velhas, consi-

derando que, com elas, é preciso levar em conta que há maior internalização do confli-

to, e que é preciso trabalhar a elaboração pessoal que a criança já fez dos temas confli-

tuosos compartilhados. A diferença é que estes autores organizaram um modelo de a-

tendimento que tem pré-determinado o número de sessões e a seqüência em que são

atendidos os pais e a criança, visando maior uniformização do processo para fins de

pesquisa, enquanto nosso modelo é mais flexível, e procura se adaptar às característi-

cas de cada caso em particular, e às condições em que o trabalho é realizado.

Embora ele tenha sido desenvolvido em grupo, cada um dos profissionais en-

volvidos guarda suas próprias especificidades, fruto, entre outros aspectos, de sua

própria experiência, de suas características pessoais e, em conseqüência, de seu próprio

olhar clínico e de sua forma de atuação. O que será aqui apresentado é uma proposta

norteada pelas especificidades do trabalho da autora.

Inicia-se com uma avaliação diagnóstica breve, mas cuidadosa, buscando co-

nhecer o funcionamento psíquico da criança, seu desenvolvimento, as características

dos pais e das relações familiares. Nesta fase, o objetivo é que os pais não apenas for-

neçam informações sobre a criança e sua história, mas sejam envolvidos no processo e

revejam sua própria história.

A partir dessa avaliação, decide-se se o caso demonstra condições de se bene-

ficiar de um atendimento breve. Não utilizamos propriamente critérios de indicação,

mas critérios de exclusão, para os casos em que não se percebe possibilidades de bene-

fício, ou nos quais se evidencia a existência de riscos iatrogênicos significativos (Olivei-

ra, 2002a). As conclusões diagnósticas têm o objetivo principal de alicerçar um plane-

jamento terapêutico que leve em conta as características do caso (que inclui criança e

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pais), suas necessidades e possibilidades, além das possibilidades do terapeuta e do

contexto de atendimento. A idéia não é ter um plano rígido de trabalho, mas estabele-

cer parâmetros compatíveis com a situação, em relação às áreas conflitivas com maio-

res necessidades e possibilidades de serem trabalhadas, aos tipos de intervenção mais

adequados, a quem será atendido e com que freqüência, e à duração do processo.

A fase terapêutica propriamente dita inclui intervenções flexíveis e adaptadas

às características do caso. Com os pais trabalha-se especialmente sua forma de vivenci-

ar esse papel, suas expectativas em relação à criança e a ligação entre essas expectati-

vas e aspectos de seu passado, buscando-se maior diferenciação e discriminação de i-

dentidades. Com a criança, dependendo do caso, são trabalhados conflitos específicos,

a construção de uma relação positiva que possa servir como um novo modelo, a ex-

pressão de afetos e emoções, a auto-imagem, sempre respeitando suas possibilidades

de comunicação e a importância da experiência vivida na relação terapêutica, e da

brincadeira expressiva. Os focos do processo dos pais e do processo da criança são pa-

ralelos e complementares.

Dá-se especial atenção à fase de término, que é vivida pelos pacientes de a-

cordo com sua história de perdas e com as possibilidades que tiveram de elaborá-las.

Considera-se que é importante trabalhar os sentimentos ambivalentes que surgem nes-

sa fase, evitando que o encerramento seja vivido como um abandono, o que compro-

meteria os resultados alcançados. Sempre que possível, é desejável realizar entrevistas

de follow-up, que permitem aos pais e à criança se re-assegurar do interesse do tera-

peuta e da possibilidade de contar com uma ajuda disponível, se sentirem necessidade.

Além disso, permite ao terapeuta intervir precocemente se surgirem novas dificulda-

des, e avaliar o trabalho realizado e a manutenção dos resultados alcançados.

Com a finalidade de facilitar a compreensão e a comparação, a Tabela 1 sinte-

tiza as principais idéias dos diferentes autores citados, em relação a alguns dos aspec-

tos abordados nos diferentes modelos de trabalho.

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Tabela 1. Principais aspectos das propostas de PBI de diferentes autores ou grupos de autores.

Foco Objetivos Estratégias Pais Número

de sessões

Forma de

atendimento

Mackay Conflito específi-co mais provável de ser modifica-do; atitudes parentais patogê-nicas

Modificar rela-ções de objeto e imagens paren-tais

Interpretação pre-coce e sistemática das manifestações mais acessíveis do conflito emocional central.

Intervenção sobre atitudes patogêni-cas

Média de 6 a 12

Separada ou conjunta, com o mesmo terapeuta ou não

Lester Padrões de com-portamento ina-dequados (re-gressões ou ini-bições)

Desenvolvimento do auto-conhecimento e amenizar ou eliminar sintomas desadaptativos

Principalmente interpretação, ao lado de outras for-mas de intervenção.

Clarificação, explicação, orien-tação e re-educação

– Separada ou conjunta, com o mesmo terapeuta

Proskauer Aspectos centrais que possam ser trabalhados no tempo disponível

Facilitar mudan-ças numa área delimitada

Estruturar uma relação de ajuda (aliança terapêuti-ca) através da co-municação verbal ou simbólica. Aten-ção especial à sepa-ração.

Foco em sua própria patologia e/ou sua relação com a criança

Média de 6 a 20

Não deixa claro, mas dá a enten-der que a criança é atendida indi-vidualmente

Messer e Warren

Falhas adaptati-vas frente às demandas situa-cionais, no con-texto dinâmico e relacional

Reduzir ou eli-minar a distância entre os recursos adaptativos e as demandas situa-cionais

Continência do terapeuta para possibilitar ativida-de criativa e expres-são de afetos e emoções.

Envolvimento direto como alia-dos no trabalho

Depende do caso e das condições reais

Separada ou conjunta

Grupo de Genebra

“Área de conflito mútuo”

Restabelecer os limites entre o self da criança e o dos pais, propi-ciando a retoma-da do curso do desenvolvimento

Interpretações diri-gidas à relação pais-criança, sua relação com a histó-ria dos pais e outros tipos de interven-ção.

Intervenções dirigidas à relação com a criança e à relação entre a situação atual e o passado dos pais

Média de 8 a 10

Flexível, de acor-do com o desen-rolar do processo, mesmo terapeuta

Muratori e cols.

Conflito atual e sua relação com o conflito trans-geracional

Elucidar um tema conflituoso cen-tral da relação pais-criança, sua ligação com os sintomas e repre-sentações mútuas

Interpretação do tema conflituoso central e de sua relação com sinto-mas e com mundo representacional, e outros tipos de intervenção.

Elucidar o confli-to atual e sua relação com o conflito transgera-cional

No máximo 11 (entre criança e pais)

Sessões conjun-tas e só com a criança, mesmo terapeuta

Aberastury Conflito em situação específi-ca, especialmente emergencial e aguda

Cura sintomática ou resolução de um conflito de-terminado

Fornecer informa-ções sobre a situa-ção vivida e traba-lhar com emergen-tes através da inter-pretação adaptada à P.B.

Informação sobre a situação atual e interpretação

– Criança indivi-dualmente, pais individual-mente ou em grupo

Knobel Situações emer-genciais ou pro-blemas psiquiá-tricos diversos (não especifica)

Favorecer o pleno exercício das potencialidades e o desenvolvimen-to do processo evolutivo

Interpretações par-ciais que evitem regressão, transfor-mar informação falsa em verdadeira

Orientação tera-pêutica, acompa-nha-mento tera-pêutico ou psico-terapia

– Separada, con-junta, só pais ou psicoterapia familiar

Oliveira Áreas conflitivas com maiores necessidades/ possibilidades de serem trabalha-das, envolvendo a relação pais-criança

Realistas e adap-tados às possibi-lidades do caso e às condições do atendimento

Flexíveis e adapta-das ao caso, tanto em abrangência quanto em nível de aprofunda-mento.

Foco no papel de pais e na relação com a criança, e ligação com as-pectos do passado

Variável, de acordo com o caso e com os limites reais.

Separada e/ou conjunta, mesmo terapeuta ou terapeutas dife-rentes, bem inte-grado

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Reflexões sobre o delineamento de modelos de psicoterapia

breve infantil

Analisar as diferentes propostas de PBI e tentar organizá-las em modelos de trabalho é

uma tarefa que se torna difícil pela própria restrição do material disponível. Muitos

dos autores que estudaram a psicoterapia psicodinâmica breve aplicada a adultos de-

senvolveram extensamente suas propostas, não só do ponto de vista de suas bases teó-

ricas, mas também em relação à técnica e à teoria da técnica; realizaram pesquisas cui-

dadosas, escreveram livros e inúmeros artigos, e algumas vezes até manuais para o

treinamento de terapeutas. Daí resulta não só um elevado nível de desenvolvimento

do trabalho, mas também a transmissão mais abrangente das idéias e conclusões que

emergiram.

Como já ressaltamos anteriormente, o mesmo não se aplica aos autores que se

propuseram a realizar esse tipo de intervenção com crianças. Na grande maioria das

vezes, sua produção sobre o assunto é bastante limitada, restringindo-se a um ou dois

artigos, que não têm seqüência em trabalhos posteriores.

Apesar das dificuldades, no entanto, consideramos que pode ser útil fazer

uma tentativa de classificação das formas de trabalho em PBI, uma vez que isto ajuda-

ria a organizar as idéias em torno do tema e perceber melhor sua evolução. Vamos, pa-

ra isso, utilizar os parâmetros dos quais se valeram Messer e Warren (1995) para classi-

ficar as psicoterapias breves de adultos, a partir da concepção de modelos teóricos a-

plicados à psicanálise por Greenberg e Mitchell (1994). Já nos referimos a esta formula-

ção em trabalho anterior (OLIVEIRA, 1999b), e ela também é citada por Yoshida (2004),

tendo trazido uma organização e uma perspectiva bastante úteis para a compreensão

da evolução na área.

Messer e Warren (1995) dividem as propostas de técnicas psicoterápicas bre-

ves para adultos em três modelos principais: o pulsional/estrutural (adotamos a tra-

dução para o termo sugerida por Yoshida, 2004), o relacional e o integrativo ou ecléti-

co. Os dois primeiros referem-se ao que Greenberg e Mitchell (1994) consideram os

dois grandes modelos teóricos existentes na psicanálise, que têm origem em diferentes

visões do homem e refletem diferentes enfoques: o modelo pulsional/estrutural se re-

fere à visão freudiana e o modelo relacional caracteriza a Teoria das Relações Objetais e

a Psicologia do Self. O terceiro modelo, integrativo, é fruto de uma tendência a integrar

técnicas e conceitos de diferentes tradições terapêuticas, com o objetivo de aumentar a

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eficiência e as possibilidades de aplicação das psicoterapias. Essa busca tem ocorrido

de três maneiras principais: na procura de fatores comuns às diversas propostas de

trabalho, que poderiam ser responsáveis pelo sucesso de diferentes tipos de psicotera-

pias, na maior flexibilidade técnica, e nas tentativas de integração teórica.

Segundo Yoshida (2004), o modelo pulsional/estrutural é o adotado pelo que

denomina a primeira geração de autores dentro da psicoterapia breve, que a propuse-

ram como uma psicoterapia de orientação psicanalítica aplicada a situações específicas.

Esses autores, entre os quais estão Malan, Sifneos e Davanloo, introduziram modifica-

ções técnicas em relação à psicanálise, tais como maior atividade do terapeuta, o esta-

belecimento de foco e objetivos limitados, mas mantêm princípios como a neutralidade

do terapeuta, a busca da reconstrução genética do sintoma e a associação livre. Desta

forma, a ênfase permanece na compreensão do conflito intra-psíquico e de como ele se

manifesta na transferência, e a principal ferramenta de trabalho continua sendo a in-

terpretação.

No campo da psicoterapia breve infantil, reconhecemos esta forma de traba-

lho em Mackay (1967) e Lester (1968). Não por acaso são trabalhos surgidos entre o fi-

nal da década de 60 e o início da de 70, período incluído naquele em que surgiu a pri-

meira geração de autores da psicoterapia breve de adultos. Ambos ressaltam a inter-

pretação do material inconsciente como principal instrumento de trabalho e propõem

uma forma de intervenção breve com crianças que se aproxima bastante daquelas des-

tinadas aos adultos.

Um caso particular, aqui, é o de Aberastury (1972). Como seguidora da escola

kleiniana, ela se vincularia, a rigor, à teoria das relações objetais. No entanto, denomi-

na sua proposta exatamente da mesma forma que Yoshida (2004) utiliza para descrever

aquelas dos autores do modelo pulsional/estrutural: psicoterapia de orientação analí-

tica aplicada a situações específicas. Também, sua proposta, em termos técnicos e

quanto aos seus objetivos, assemelha-se a esse modelo, priorizando a interpretação de

material inconsciente como instrumento de trabalho (embora ressalte que é necessária

alguma adaptação da interpretação aos limites de uma intervenção breve). Em virtude

disso, consideramos que a proposta de Aberastury está mais próxima do modelo pul-

sional/estrutural.

Dois aspectos principais podem ser ressaltados neste modelo. O primeiro é

que, com exceção da utilização do material lúdico, a estrutura do processo terapêutico

parece muito semelhante à dos modelos para adultos, tanto em termos de objetivos,

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quanto de tipos de intervenção e do tipo de relação que o terapeuta estabelece com o

paciente. Consideramos que é a isso que se referem Warren e Messer (1999) quando

avaliam haver, em algumas formas de trabalho com crianças, uma contaminação da-

quelas desenvolvidas para adultos. O segundo aspecto diz respeito à inserção dos pais

no processo. Todos os autores ressaltam a necessidade de se levar isso em conta, mas

os que estamos considerando nesse primeiro modelo não explicitam claramente como

isso é feito, ou sugerem indicações semelhantes às utilizadas algumas vezes pela psi-

canálise de crianças: grupos de orientação de pais ou psicoterapia individual. Nossa

opinião é que, embora esses autores considerem a importância do papel dos pais tanto

na gênese das dificuldades infantis quanto em seu tratamento, sua forma de trabalhar

com crianças, muito semelhante à utilizada com adultos, dificulta a possibilidade de

encontrar uma maneira de incluir os pais no processo.

O modelo relacional é fruto de uma filosofia da ciência que reconhece a natu-

reza contextualizada do conhecimento, e que se refletiu na psicanálise especialmente

através da ênfase nas relações objetais, gerando uma nova visão da teoria da persona-

lidade, da psicopatologia e da técnica psicoterápica. O critério que Messer e Warren

(1995) utilizam para identificar esse modelo de psicoterapia breve é a ênfase nas rela-

ções objetais como clinicamente centrais. Assim, o relacionamento humano é a questão

central, e o objetivo da psicoterapia é compreender suas representações, além das ex-

pectativas, ansiedades e defesas envolvidas nos padrões de relacionamento interpesso-

al que o indivíduo estabelece. A própria relação terapêutica passa a ser uma questão

central, sobrepondo-se a outras preocupações técnicas e flexibilizando a forma de tra-

balho.

Consideramos que, nas psicoterapias breves infantis, esta visão colocou como

foco de atenção a relação pais-criança. Em outras palavras, se o principal objetivo mo-

tivacional do comportamento humano é o relacionamento interpessoal, e se, no caso

das crianças, a relação com os pais exerce papel fundamental, então é ela que centraliza

as possibilidades de compreensão e de mudança das dificuldades infantis. Os pais, que

no modelo pulsional/estrutural tinham sua importância reconhecida, mas não um lu-

gar bem definido no trabalho, passam aqui a ser o objeto central da intervenção psico-

terápica. Isto pode ser visto claramente na proposta do Grupo de Genebra (CRAMER,

1974; PALACIO-ESPASA, 1981), que focaliza a relação pais-criança, enfatizando a

transmissão geracional de padrões de relacionamento, que também se repetem na rela-

ção transferencial com o terapeuta. A psicoterapia, focalizada no que Cramer (1974)

denomina “área de conflito mútuo” entre os pais e a criança, visa explicitar esses mo-

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delos de relacionamento e, a partir de sua compreensão, discriminar as situações pas-

sadas das atuais, modificando a visão que os pais têm da criança e de sua relação com

ela, e favorecendo a discriminação de identidades. O fato de terem trabalhado prefe-

rencialmente com crianças em idade pré-escolar, portanto com maior grau de depen-

dência e mais suscetíveis às influências parentais, tornou ainda mais importante o pa-

pel dos pais no processo psicoterápico. Também a proposta do grupo de Muratori

(MURATORI et al., 2002), inspirada na do Grupo de Genebra, é um exemplo desse

modelo, o que fica ainda mais claro quando eles ressaltam a influência que receberam

de Luborsky, um dos principais representantes do modelo relacional na psicoterapia

breve de adultos.

O modelo integrativo lança mão de maior flexibilidade e da adaptação da téc-

nica a cada caso, buscando em diferentes fontes teóricas ou técnicas os recursos para o

trabalho. Mann é considerado um precursor da técnica integrativa na psicoterapia bre-

ve de adultos (MESSER; WARREN, 1995), pois, embora faça parte da primeira geração

de autores (YOSHIDA, 2004), tentou integrar construtos de diferentes escolas psicana-

líticas (ego, pulsão, objeto e self) e adotou uma técnica flexível, adequada a cada paci-

ente. Consideramos que Proskauer (1971), influenciado por ele, exerce esse mesmo pa-

pel na psicoterapia breve infantil: dá menos importância à interpretação como instru-

mento de trabalho, e maior importância à aliança terapêutica e ao que é vivido na rela-

ção, respeitando as possibilidades de comunicação da criança. Assim, tanto a explicita-

ção do foco quanto as próprias intervenções não precisam ser expressas verbalmente,

mas podem ser compartilhadas no nível da comunicação simbólica e da experiência

vivida. Além disso, ao invés de adotar critérios de seleção de pacientes, propõe mu-

danças técnicas que adaptem o trabalho e tornem possível o atendimento de casos con-

siderados pouco indicados para psicoterapia breve, inclusive de crianças instituciona-

lizadas. Percebe-se aqui não uma transposição da técnica da psicanálise infantil, nem

da psicoterapia breve de adultos, mas um modelo específico, que busca uma forma

breve de intervenção, respeitando as características típicas da infância.

Messer e Warren (1995) demonstram essa mesma preocupação, criticando o

que consideram uma contaminação do trabalho com adultos nas propostas para crian-

ças: interpretações muito complexas e intelectualizadas, confrontação de defesas, ênfa-

se na utilização dos limites de tempo, cujo conceito a criança pode ainda não ter bem

estabelecido. Ressaltam a importância de se levar em conta as possibilidades da crian-

ça, em termos de compreensão e comunicação, e de se valorizar, a atividade criativa e a

brincadeira expressiva, e a expressão de afetos e emoções, mais do que a tentativa de

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torná-los conscientes. O foco, que é considerado mais um guia para o terapeuta, deve

incorporar aspectos do desenvolvimento, psicodinâmicos, ambientais e referentes à

crise imediata. Buscam, como referencial, uma integração entre a teoria psicanalítica e

as teorias de desenvolvimento infantil, e levam em conta, na compreensão do caso, a

adaptação entre os recursos individuais e as demandas impostas pelo processo de de-

senvolvimento.

Consideramos também de tipo integrativo a proposta de Knobel, que dá ênfa-

se aos aspectos cognitivos, que, para ele, na psicoterapia breve, têm maior participação

no processo de elaboração do que os aspectos afetivos. Assim, busca alterar as distor-

ções cognitivas, e com isso possibilitar mudanças parciais nos vínculos objetais. Além

disso, postula a utilização de elementos técnicos advindos de outros referenciais teóri-

cos, sempre que se considere que isto pode aumentar a eficiência e abreviar a duração

da psicoterapia.

Nossa forma de trabalho é também de tipo integrativo. Busca-se, a princípio,

uma compreensão bio-psico-social do caso, que inclui os aspectos psicodinâmicos, a

dimensão do desenvolvimento, a adaptação ao meio, o referencial transgeracional e os

padrões de relacionamento interpessoal. A partir dessa compreensão, o planejamento

terapêutico é adaptado às características e possibilidades do caso, do terapeuta e das

condições externas, inclusive no que diz respeito aos tipos de intervenção utilizados,

no contínuo suportivo-expressivo. O importante, a nosso ver, é que, qualquer que seja

o tipo de intervenção, ela se baseie numa compreensão dinâmica de sua motivação e

numa avaliação da utilização que determinado paciente pode fazer dela. O trabalho

com uma população ampla e heterogênea, os contextos institucionais e a experiência

de supervisionar terapeutas em formação conduziu-nos naturalmente a uma postura

mais flexível.

5. CONCLUSÃO

Realizamos, neste estudo, um levantamento das principais propostas de psicoterapia

breve infantil apresentadas por diferentes autores norte-americanos, europeus e sul-

americanos, desde que esse termo foi utilizado pela primeira vez por Allen, em 1942.

Além disso, buscamos elaborar uma análise crítica dessas diferentes propostas, entre as

quais incluímos a nossa, e contextualizar a evolução da área, especialmente em relação

à evolução dos trabalhos de psicoterapia breve de adultos, que sempre lhe serviram de

referência. A partir daí, pode-se verificar a existência de uma variedade de propostas

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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. XI, Nº. 16, Ano 2007 • p. 49-74

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de PBI, mas também a escassez de estudos mais amplos e sistemáticos, que possam ali-

cerçar a prática clínica.

Visando contribuir para a melhor compreensão e organização dos conheci-

mentos sobre essa modalidade de intervenção psicoterapêutica, utilizamo-nos do refe-

rencial proposto por Messer e Warren (1995) para realizar um delineamento de dife-

rentes modelos de trabalho, localizando cada um dos autores citados dentro desses

modelos: o pulsional/estrutural, o relacional e o integrativo.

Consideramos que a psicoterapia breve representa uma alternativa importan-

te na oferta de assistência psicológica à população, especialmente em nossa realidade

social e nos dias atuais, e que as crianças e os pais poderão auferir benefícios expressi-

vos se houver maior evolução dos conhecimentos sobre sua aplicabilidade, seus pro-

cessos e resultados.

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Iraní Tomiatto de Oliveira

Coordenadora do Curso de Psicologia do Cen-tro de Ciências Biológicas e da Saúde da Uni-versidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo. Doutora em Psicologia Clínica pela Universida-de de São Paulo.