Parauapebas: O Impacto do Grande Dia

1
Parauapebas: O Impacto do Grande Dia Por Adilson Motta, 09/2010 Nossas riquezas minerais estão sendo levadas... Um dia elas vão esgotar, esta é a certeza. A previsão era de 500 anos de exploração noite & dia para serem exauridas. Essa era a projeção na década de 60, quando em sua descoberta, em especial, Carajás. Hoje, o tempo previsto é de apenas 200 anos devido a ampliação do parque de exploração e o contínuo aumento demandado pela economia do produto em outros países, em especial a China (ou melhor: Estados Unidos e Japão). Pois lá (na China) existem 6.000 empresas norte-americanas e 3.000 empresas japonesas, que são a base do crescimento da economia daquele país. Grande parte da riqueza dessa economia galopante se transforma em remessas de capitais que evadem a países ricos, onde o salário não compete nem permite. As reservas minerais de Carajás e demais no Brasil estão sendo exploradas, sinônimo de “saqueadas” numa velocidade nunca dantes visto. No futuro, quando essas reservas acabarem, e que a demanda do mesmo para suprir a indústria nacional o exigir, o que acontecerá? É uma incógnita que se sabe e que, no momento, se fecha os olhos, pois a tônica maior é vender e gerar lucros para seus novos donos que acumulam fabulosa fortuna ao custo da frustração de milhões de brasileiros (num projeto de país que poderia) e uma sintonia, cuja frequência está voltada apenas para o momento da demanda e a realização de grupos privados que se apossaram da “pérola” da nação e que só pensam no lucro. E, ao pensar apenas no momento, estamos virando às costas para décadas e séculos a frente e gerações futuras que precisarão desse minério. Nossas gerações futuras verão o rastro de destruição que lhes ficará como herança e reprovarão a “flexibilidade” das entidades oficiais, a incompetência ou a sutil ganância de nossos governos, que não souberam aproveitar a dádiva das entranhas da terra agregando valor ao “in natura” no sentido de acionar a indústria nacional e o mercado de exportação; reprovarão nossa passividade amparada na ignorância ou omissão que a gerou e a ganância desenfreada de governos “entreguistas” que não tiveram dó nem piedade da “pátria amada e mãe gentil” saqueada no ópio da corrupção. Vale lembrar como retalho de um mesmo tecido de acontecimentos o que ocorreu em Serra do Navio, no Amapá (em 1956), onde a Icomi, parceira da Bethlehen Steel Corporation (importante empresa siderúrgica norte americana) exploraram uma grande jazida de manganês. O minério se esgotou, mas lá os problemas ambientais persistem até hoje através de uma alta taxa de arsênio* (substância altamente tóxica que provoca câncer), nascimentos de crianças com anencefalia (sem o cérebro). Levaram bilhões de dólares como lucro e deixaram um cenário de terras arrasadas. Para Padre Dário (07/2009), o minério, única fonte de renda da região, garante em Carajás os próximos 200 anos, mas nas outras minas um tempo bem menor (de 15, 20 a 40 anos). O povo comenta: “Estamos carregando uma bomba relógio debaixo de nossos pés”. Diversos municípios tem forte dependência econômica e tributária da atividade minerária. Nesta situação, o fechamento ou esgotamento de uma mina representa desemprego, forte redução da atividade econômica e queda substancial da arrecadação de impostos. O que nossos governos estão fazendo para reduzir a dependência do metal que um dia irá acabar? O que estão fazendo para garantir a sustentabilidade econômica e reduzir o Impacto do Grande Dia? Não precisa, caro cidadão, responder agora. Apenas olhe para a realidade nas múltiplas dimensões do político, econômico, social, ambiental, perspectiva, futuro e reflita. * Caro leitor, se houver discrepância quanto a este texto, pesquise e fundamente suas dúvidas. Foi este o passo que utilizei para construí-lo. Contestar sem fundamentar é pedantismo alienatório. *Arsênio: utilizado no processo de enriquecimento do manganês.

Transcript of Parauapebas: O Impacto do Grande Dia

Page 1: Parauapebas: O Impacto do Grande Dia

Parauapebas: O Impacto do Grande Dia

Por Adilson Motta, 09/2010

Nossas riquezas minerais estão sendo levadas... Um dia elas vão esgotar, esta é a certeza. A

previsão era de 500 anos de exploração noite & dia para serem exauridas. Essa era a projeção

na década de 60, quando em sua descoberta, em especial, Carajás. Hoje, o tempo previsto é de

apenas 200 anos devido a ampliação do parque de exploração e o contínuo aumento demandado

pela economia do produto em outros países, em especial a China (ou melhor: Estados Unidos e

Japão). Pois lá (na China) existem 6.000 empresas norte-americanas e 3.000 empresas japonesas,

que são a base do crescimento da economia daquele país. Grande parte da riqueza dessa economia

galopante se transforma em remessas de capitais que evadem a países ricos, onde o salário não

compete nem permite. As reservas minerais de Carajás e demais no Brasil estão sendo exploradas,

sinônimo de “saqueadas” numa velocidade nunca dantes visto. No futuro, quando essas reservas

acabarem, e que a demanda do mesmo para suprir a indústria nacional o exigir, o que acontecerá?

É uma incógnita que se sabe e que, no momento, se fecha os olhos, pois a tônica maior é vender

e gerar lucros para seus novos donos que acumulam fabulosa fortuna ao custo da frustração de

milhões de brasileiros (num projeto de país que poderia) e uma sintonia, cuja frequência está voltada

apenas para o momento da demanda e a realização de grupos privados que se apossaram da “pérola”

da nação e que só pensam no lucro. E, ao pensar apenas no momento, estamos virando às costas

para décadas e séculos a frente e gerações futuras – que precisarão desse minério.

Nossas gerações futuras verão o rastro de destruição que lhes ficará como herança e reprovarão a

“flexibilidade” das entidades oficiais, a incompetência ou a sutil ganância de nossos governos, que

não souberam aproveitar a dádiva das entranhas da terra agregando valor ao “in natura” no sentido

de acionar a indústria nacional e o mercado de exportação; reprovarão nossa passividade amparada

na ignorância ou omissão que a gerou e a ganância desenfreada de governos “entreguistas” que

não tiveram dó nem piedade da “pátria amada e mãe gentil” saqueada no ópio da corrupção.

Vale lembrar como retalho de um mesmo tecido de acontecimentos o que ocorreu em Serra do

Navio, no Amapá (em 1956), onde a Icomi, parceira da Bethlehen Steel Corporation (importante

empresa siderúrgica norte americana) – exploraram uma grande jazida de manganês. O minério se

esgotou, mas lá os problemas ambientais persistem até hoje através de uma alta taxa de arsênio*

(substância altamente tóxica que provoca câncer), nascimentos de crianças com anencefalia (sem o

cérebro). Levaram bilhões de dólares como lucro e deixaram um cenário de terras arrasadas.

Para Padre Dário (07/2009), o minério, única fonte de renda da região, garante em Carajás os

próximos 200 anos, mas nas outras minas um tempo bem menor (de 15, 20 a 40 anos). O povo

comenta: “Estamos carregando uma bomba relógio debaixo de nossos pés”.

Diversos municípios tem forte dependência econômica e tributária da atividade minerária. Nesta

situação, o fechamento ou esgotamento de uma mina representa desemprego, forte redução da

atividade econômica e queda substancial da arrecadação de impostos.

O que nossos governos estão fazendo para reduzir a dependência do metal que um dia irá acabar?

O que estão fazendo para garantir a sustentabilidade econômica e reduzir o Impacto do Grande Dia?

Não precisa, caro cidadão, responder agora. Apenas olhe para a realidade nas múltiplas dimensões

do político, econômico, social, ambiental, perspectiva, futuro e reflita.

* Caro leitor, se houver discrepância quanto a este texto, pesquise e fundamente suas dúvidas. Foi este o passo que utilizei para

construí-lo. Contestar sem fundamentar é pedantismo alienatório.

*Arsênio: utilizado no processo de enriquecimento do manganês.