O grande portal da era nova

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A propósito do estudo da Doutrina Espírita e dos grupos de estudos nos Centros Espíritas.

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O GRANDE PORTAL DA

M ilvaS

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2ª edição

Edição Eletrônica

Copyrigth 2013 byMaurício SilvaCuritiba - PR

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Edição Eletrônica no Brasil

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E Nra ova

Maurício Silva

Curitiba - PR

2ª ediçãorevista e ampliada

Edição eletrônica própriaMarço de 2015

O GRANDE PORTAL DA

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ÍndiceO Grande Portal 5Pérola cor de ouro 9Palavras iniciais 11A título de introdução 17

PARTE 1: Espiritismo para nós

1 A missão de Allan Kardec 212 A volta do Consolador prometido 253 O grande fanal do Espiritismo 29

PARTE 2: Nós e o Espiritismo

4 O nosso chamado pessoal 375 Clareza de posicionamento 416 O verdadeiro espírita 457 Cuidados pessoais a serviço do Cristo 51

PARTE 3: Espiritismo para todos

8 Importância do estudo 639 A necessidade do estudo 67

PARTE 4: Espiritismo e o Centro Espírita

10 O Centro Espírita 79

11 Centro Espírita: Unidade fundamental. Foco de atividade Coletiva 85

12 Visão esquemática das atividades de estudos doutrinários 93

PARTE 5: O portal de entrada

13 Palestras públicas: o portal de entrada no Centro Espírita 101

PARTE 6: Do desconhecido para o conhecido

14 A arte de pensar 11115 Provocações positivas 12716 Moldar, emoldurar e modular o ensino do Espiritismo 129

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17 O mundo invisível saiu do silêncio 135

PARTE 7: E o semeador saiu a semear

18 Apresentando o Evangelho Restaurado 14919 Pontos básicos para uma boa palestra 15520 E o semeador saiu a semear 165

Palavras finais 169

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Formamos uma grande família, na sublime família universal, uma equipe de espíritos

afins.Vinculados uns aos outros desde o instante divino em que fomos gerados pelo Excelso

Pai, vimos jornadeando a penosos contributos de sofrimentos, em cujas

experiências, a pouco e pouco, colocamos os pilotis de segurança para mais expressivas

construções...

Joanna de Ângelis

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PREFÁCIOEscrito pela Veneranda Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis, especialmente para este livro:

GrandeO PortalO Espiritismo é ciência do ser imortal, que se caracteriza pela

experimentação de laboratório, demonstrando a realidade dos seus conteúdos filosóficos, que libertam as consequências éti-co-morais-religiosas.

Resultado da observação cuidadosa do eminente Prof. Rivail, mais tarde sob o pseudônimo de Allan Kardec, os seus postulados fixam-se nas leis da Natureza, especialmente na lei de amor, ínsita em todo o Universo, por ser a lei de Deus.

Para que seja compreendido e praticado oferece incompa-rável tesouro de informações que se encontram na Codificação, constituída pelas obras básicas, cujas estruturas resistem a quais-quer enfrentamentos culturais, bem como naquelas que lhes são complementares, especialmente a Revista espíRita, desde a sua fun-dação no dia 1° de janeiro de 1858 até março de 1869, quando desencarnou o insigne mestre lionês.

Não se pode, portanto, conhecer realmente o Espiritismo, se-

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não mediante o seu grande portal, que é o acesso às obras fun-damentais: O LivRO dOs espíRitOs, O LivRO dOs Médiuns, O evangeLhO segundO O espiRitisMO, O Céu e O infeRnO e a gênese.

À medida que se toma conhecimento pedagógico da Doutri-na, atravessando-se o grande portal que leva à revelação dos imortais e aos nobres comentários do codificador, alargam-se os horizontes intelectuais e emocionais do indivíduo, propondo-lhe a ampliação dos estudos nas pequenas e oportunas obras O que é O espiRitisMO, O pRinCipiante espíRita e na coletânea exarada na referida Revista espíRita.

Graças a esse extraordinário trabalho de pesquisa e informa-ções, o Espiritismo jamais será ultrapassado, conforme assinalou Allan Kardec, porque pode absorver as novas conquistas do pen-samento e deixar à margem o que não seja compatível com as demonstrações da ciência em qualquer época.

Trata-se, portanto, de uma doutrina séria para pessoas igual-mente sérias.

Não se pode considerar espírita qualquer indivíduo que parti-cipe de reuniões mediúnicas ou doutrinárias, sem as reflexões hau-ridas na Codificação. Entretanto, não se trata de uma proposta elitista, que elimina as pessoas incultas ou desprovidas de conhe-cimentos especializados.

Na sua condição de O Consolador, que fora prometido por Jesus, abre-se com imensa facilidade a todos os níveis morais, so-ciais e culturais da humanidade, orientando, confortando e escla-recendo os grandes enigmas existenciais e dando-lhes saudáveis soluções.

Destaca, no seu bojo como de importância fundamental, a transformação moral do ser humano para melhor, lutando sempre contra as suas más inclinações, estimulando a prática da caridade por todos os meios e modos ao seu alcance.

Paraninfado por Jesus, que administra o planeta terrestre, são os seus Embaixadores, essas estrelas espirituais, que se encontram

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encarregados de promover o progresso da criatura humana, assim como do seu domicílio.

Divulgá-lo corretamente é dever inadiável a que se submetem todos aqueles que sorvem as suas águas lustrais que plenificam e libertam da ignorância.

A obra que estamos apresentando ao nosso querido público, é um trabalho grave e de atualidade, pelas considerações e apro-fundamentos dos temas apresentados, ao mesmo tempo fácil e agradável de ler, porque fundamentada na excelência da Codifi-cação Espírita.

Temos certeza que todo aquele que o ler com real interesse e sem prejuízos adrede estabelecidos, encontrará roteiro de segu-rança e esclarecimento para o aprofundamento das próprias re-flexões e iluminação da consciência.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã de 18 de dezembro de 2012, em reunião no Centro Espírita Caminho da Redenção, em

Salvador, Bahia.)

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Aprofundar, portanto, estudos, no seu organismo doutrinário, é dever de todo

espírita consciente, que passará a lecioná-lo, como decorrência do auto-aprimoramento, com segurança e lucidez, não permitindo

que a urze do absurdo ou o escalracho da fantasia se lhe imiscuam, gerando

dificuldades compreensíveis nas mentes necessitadas e nos espíritos sofridos que

pululam em toda parte, sedentos da água viva do Consolador Prometido, que já se encontra na Terra há mais de um século,

inaugurando o período de felicidade que se avizinha e de que nos deveremos constituir

pioneiros, pela forma como apresentarmos e vivermos o Espiritismo com Jesus.

Vianna de Carvalho

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Cor deOuro

Pérola

A pérola é uma joia de alto valor. E há as caríssimas, como as raras pérolas do Mar da China Meridional cor de ouro 24 qui-

lates, conhecidas como “Ouro do Mar de Sulu”.

As pérolas são encontradas em certas conchas de moluscos nas profundezas do mar. O molusco precisa ser ferido, e é a partir daí que a secreção se solidifica formando a pérola.

Pérolas são produtos da dor, resultado da entrada de uma substância estranha no interior da ostra, como um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra é uma substância lustrosa chamada nácar. Seu brilho é translúcido, capaz de captar os raios solares. Porém é a pérola que, em todo o seu esplendor reflete as cores do arco-íris.

Quando um grão de areia a penetra, as células do nácar co-meçam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resulta-do, uma linda pérola é formada.

Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, não produz pé-rolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

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Quem de nós já não se sentiu ferido, por esse ou aquele motivo ou circunstância?

Quem de nós já não sentiu a alma dorida, o peito dilacerado pela dor moral?

Tomemos o exemplo da mãe natureza, que demonstra-nos que a dor pode transmutar-se em joia preciosa e assim convencidos, por nossa vez, que as nossas tristezas se transmutem em luz de alegria; que os nossos padecimentos se façam estimulantes para o doce e suave exercício continuado do bem; que as nossas mágoas sejam transformadas pelo antídoto do perdão; que a ingratidão recebida seja aceita como oportuno convite a solidariedade; que a agressão de qualquer tipo de violência seja a pedra de toque para o exercício precioso de fraternidade e da construção da paz; que os nossos males físicos sejam as janelas que nos permitam visualizar a grandiosidade imperecível do Espírito; que o mal vi-gente seja reconhecido como amor ausente, assim como a sombra é a ausência da luz, e que é, portanto, passageiro, desfazendo-se tão logo se faça a luz do sentimento cristão; e que, por tudo isso, que o eventual esforço a ser dispendido por nós para as lamúrias e queixas, seja utilizado como o combustível moral a ser aplicado na formação da preciosa pérola da resignação e confiança em Deus, dando-nos ânimo para continuado empenho e trabalho reparador até a formação definitiva da “pérola cor de ouro do Mar de Sulu” em nossa realidade espiritual: o alcance da felicidade plena, re-fletindo as cores do arco-íris das luminescentes Leis Divinas.

Este livro é para mim uma pérola preciosa, por muitas razões.

Que ele ajude-o na sua jornada de renovação pessoal, sen-do-lhe útil.

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PalavrasIniciais

Conhecer a História ajuda melhor entender o presente. Por isso iniciamos nossos apontamentos destacando alguns aspectos

históricos do Espiritismo, a fim de contextualizar a nossa aborda-gem neste trabalho.

Inicialmente, o conteúdo desses apontamentos foi colhido na literatura espírita e em outras obras, aqui dando destaque às cita-ções que fundamentam as nossas assertivas e pavimentam a es-trada do nosso raciocínio, para que, juntamente com o leitor, pos-samos vislumbrar a grandeza e a importância da Doutrina Espírita e a sua especial missão junto a Humanidade. Também visamos enaltecer o dever de fidelidade aos postulados do Espiritismo que temos nós, os espíritas, em nosso cotidiano, bem como relembrar nossos compromissos para com o Centro Espírita, contribuindo com o seu desempenho, cuja razão de existir é ofertar dessa água que dessedenta para sempre aos irmãos do caminho, primando por distribuir o consolo e alimentar a esperança, repetindo diutur-namente o sublime convite do Amigo Celeste: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” 1.

O Centro Espírita, ao oportunizar o conhecimento doutrinário, deve, por conseguinte, fazê-lo de acordo com os propósitos do Espiritismo, e que o faça de modo a facilitar o seu aprendizado, utilizando-se de metodologia adequada, com organização, con-tinuidade e com conteúdo e forma apropriado para cada ocasião.

1 Mateus (11 : 28)

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Desejando colaborar com aqueles companheiros de lida, in-cumbidos da elaboração de programas de estudos e da sua apli-cação, também trazemos considerações sobre a arte de pensar, que norteia a inteligência humana na assimilação e transmissão do conhecimento.

Somos sabedores que são vários os modelos de gestão para as organizações em geral, inclusive para a área de Estudos no Centro Espírita, que é, especificamente, o tema central de nossa aborda-gem neste opúsculo. Aqui focamos um desses modelos, por ser um modelo simples, funcional e sabidamente exitoso.

Para esse trabalho, partimos do posicionamento de que o Cen-tro Espírita é uma unidade, é um todo, é um ser coletivo em comu-nhão, e que assim deve ser pensado e trabalhado, independen-temente da quantidade de suas atividades e do número dos seus trabalhadores.

Quando falamos em Centro Espírita como sendo uma unidade, um ser coletivo, o fazemos reconhecendo que essa qualidade pre-cisa ser construída com continuado esforço em prol da consolida-ção da união dentre os seus lidadores, primeiramente, o que nos leva a destacar em nossos arrazoados a importância do compro-misso pessoal de cada um com a Causa do Bem, que vem implícita numa organização espírita.

Eis a recomendação do Espírito Verdade nesse sentido:

Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Se-nhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem espe-rado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos jun-tos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor si-lêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” 2

2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 20, item 5, p. 315.

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É ainda o Espírito Verdade que nos conclama: Espíritas! amai--vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. 3

Em nome desse nosso compromisso pessoal e coletivo que te-mos com Jesus, alinhavamos também algumas considerações a este respeito, buscando aumentar nossa compreensão sobre o as-sunto, e, na razão inversa, diminuindo os riscos de nossas débeis mãos serem causadoras de solução de continuidade ao projeto maior da Instituição que frequentamos, ou do Movimento Espírita que fazemos parte, ou de nossa existência, como um todo.

No entanto, repetimos para frisar e para facilitar o acompa-nhamento das ideias expostas, que nossos apontamentos se di-rigem às questões do estudo, programas e aplicadores, não sig-nificando que os conceitos coletados não sirvam para as demais atividades do Centro Espírita, mas é preciso restringir os enfoques, dando objetividade ao texto.

Somos daqueles que entendemos que a reunião pública de pa-lestras é o grande portal de entrada num Centro Espírita dos que para ali foram encaminhados pelas leis da vida, a fim de encon-trarem respostas aos seus pedidos de socorro e amparo. O mo-delo trabalhado nesses nossos apontamentos elege essa reunião como o marco zero da estrada do conhecimento espírita, o elo inicial de uma longa corrente de acesso ao aprendizado do Espiri-tismo, que permitirá a cada um melhor conhecimento de si mesmo, despertando-lhe novas razões de viver, ao entender de onde veio, porque está aqui e para onde vai, levando-o, espontaneamente, a vincular-se as ações do Bem, a optar por Jesus.

Partindo disso, se faz necessário que as reuniões públicas de palestras sejam consideradas e tratadas como uma reunião de es-tudos, trabalhando e organizando seus temas e seus conteúdos levando-se em conta suas características de reunião de palestras e pública, que os que ali vão, no geral, não são espíritas e que há um fluxo contínuo de pessoas chegando, dos quais uns ficam,

3 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 6, item 5, p. 130.

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outros não voltam mais. No modelo por nós sugerido, a reunião pública de palestras vai pulsar como um marca-passo alimenta-dor desse fluxo de pessoas em direção aos outros grupos de estu-dos. E esses outros grupos de estudos, estruturados em módulos ou ciclos e encadeados de maneira apropriada em seus conteúdos, trabalhando em sincronia entre si e com as reuniões públicas de palestras – em tempo e conteúdo programático -, darão fluidez de modo contínuo no atendimento e encaminhamento interno dos que se acercam do Centro Espírita e da Mensagem Espírita, sem cau-sar descompasso no aprendizado e no funcionamento dos gru-pos de estudos, eliminando a entrada de novas pessoas quando o programa de estudos já está sendo aplicado há tempo.

Quanto aos programas de estudos e sua estruturação, nossos apontamentos se alongam mais nas próximas páginas, pontuando aspectos que, sabemos, contribuirão sobremaneira na elaboração e aplicação dos mesmos.

Dando fim as nossas palavras iniciais, registramos que nosso papel nesses arrazoados que alinhavamos foi somente o de reu-nir as citações dos Benfeitores Espirituais sobre cada ponto então abordado, ou pegar por empréstimo considerações técnicas ne-cessárias, elencando devida referência bibliográfica e dando o efetivo crédito aos respectivos autores. Sabemos que não estamos apresentando novidade. Mas também sabemos que há algumas práticas no meio espírita, quanto a grupos de estudos, que são lastimáveis, o que por si só justifica nossa iniciativa.

Confiamos que a nossa oferenda poderá auxiliar alguma Ins-tituição que se encontre experimentando desafios no campo dos estudos doutrinários, e aqui descubra soluções simples e práticas, que poderão harmonizar suas atividades.

E se outra utilidade não tiver nossos apontamentos, que tenha a de enaltecer o Centro Espírita como celeiro de bênçãos, casa acolhedora de todos quantos têm necessidade de esperanças e de consolações. Casa com Jesus sempre presente.

Irmão X, no livro Luz Acima, na página intitulada Nas hesita-

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ções de Pedro, recebida pela mediunidade de Chico Xavier, narra diálogo entre o apóstolo e Jesus a respeito de infeliz mulher que ali chegara buscando auxílio, mas trazia consigo todos os estigmas das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas na roupa em frangalhos. Pronunciava palavras torpes. Revelava--se semilouca e doente. Pedro, em sua hesitação, questionava: Como agir? Não estaria a sofredora resgatando os próprios débi-tos? Se bebera com loucura na taça dos prazeres, não lhe caberia o fel da aflição?

Jesus, manso e pacífico, orientou cada ponto das dúvidas de Pedro, e por fim disse-lhe:

- Pedro, para ferir e amaldiçoar, sentenciar e punir, a cidade e o campo estão cheios de maus servidores. Nosso ministério ultra-passa a própria justiça. O Evangelho, para ser realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa... Abre acesso à nossa irmã transviada e auxilia-a no reerguimento. Não a precipites em despenhadeiros mais fundos... Arranca-a da morte e traze-a para a vida... Não te esqueças de que somos portadores da Boa Nova da Salvação!...

E conclui Irmão X a narrativa:

O apóstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou exten-sa fileira de irmãos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu--se à mulher, acolhedor:

- Entre, a casa é sua!

- Quem sois? – interrogou a infeliz, assombrada.

- Eu? – falou Pedro, com os olhos empapuçados de chorar.

E concluiu:

- Sou seu irmão.

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Centro Espírita é o educandário básico da mente popular.

Bezerra de Menezes

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A título deIntroduçãoCostuma-se dizer que os tempos são outros, as diretrizes são

novas, os métodos devem ser renovados.

O Espiritismo, no entanto, meus filhos, permanece como sendo Jesus em todos os dias da nossa vida, qual porto de amparo às nossas aspirações e barco de segurança para as nossas ambições.

[...]

É verdade que todos trazemos angústias e pesares, que aguar-damos o lenço da consolação espírita para nossas lágrimas, para os nossos suores, como o bálsamo reconfortante, o penso refazen-te para as feridas do sentimento, do coração.

Convém, no entanto, não esquecermos que, ao nosso lado, ruge a tempestade e a batalha se agiganta, esperando a nossa contribuição a benefício dos mais infelizes do que nós.

Os que cremos, já possuímos a “pedra mágica do toque” da imortalidade, colocada no coração. Os que sabemos, já somos coparticipantes do banquete da luz. Os que conhecemos, já re-cebemos a revelação como ponte de intercâmbio entre os dois mundos.

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Para estes, que somos nós, não há meio termo, nem possibili-dades de acomodação com as contingências vantajosas do mun-do, na feição de deslealdade. A conduta seguirá a reta rígida da mensagem evangélica que nos impõe a transformação de dentro para fora.

Por esta razão, nesta Casa, como em outras, a luz do Cristo não pode ficar sob o alqueire, mas no velador, oferecendo bên-çãos, brindando apoio aos trôpegos e inseguros que aspiram a mais amplos horizontes e a mais largos ideais de vida.

Estais convidados para a Nova Era e não é lícito que estacio-neis, custe o preço que vos seja exigido, sejam quais forem as con-dições que a misericórdia do Senhor vos imponha...

[...]

Filhos! Não há alternativa, nem outra recomendação, exceto a velha regra áurea do amor em todas e quaisquer circunstâncias.

[...]

Pela significação desta data, suplicamos ao Amigo Divino e Vi-gilante que abençoe este santuário, transformando-o em templo de paz, em hospital-escola, em oficina de socorro e sabedoria para os cansados da rota.

Bezerra de Menezes1

1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Salvador, BA: Leal, 1991. Cap. 24, p. 73-75.

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parte 1O Espiritismo para nós

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

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Se um nome é necessário, inscreveremos em seu frontispício: Escola do Espiritismo

Moral e Filosófico, e para ela convidaremos todos quantos têm necessidade de

esperanças e consolações.

Allan Kardec

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A missão deAllanKardecA Doutrina Espírita, trazida pelos Espíritos luminares, não é obra

do acaso, da vontade momentânea de um autor. Obra de tal magnitude e com propósitos tão sublimes não poderia deixar de acontecer sem antes ter sido minuciosamente planejada pelos Nu-mes Tutelares da Humanidade, sob a direção maior de Jesus. Foi entregue aos homens tendo Allan Kardec como seu insigne Codifi-cador, de cuja missão foi devidamente cientificado em tempo pró-prio, e em seu cumprimento contou ele com um grupo de pessoas abnegadas que o auxiliaram nessa construção, uns diretamente, outros indiretamente.

O Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais tarde conhecido como Allan Kardec, já estava, há cerca de um ano, as voltas com os estudos e pesquisas relacionadas com o mundo espiritual e sua relação com o mundo corporal, e vinha se dedicando a revisão do trabalho que posteriormente formaria O Livro dos Espíritos. Ele frequentava, há certo tempo, reuniões que se davam na residên-cia do Sr. Roustan. Na noite de 30 de abril de 1856, numa dessas

1

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sessões, muito íntima, a que apenas assistiam-na sete ou oito pes-soas, o Prof. Rivail recebeu a primeira revelação da sua missão ditada pelos Espíritos através da médium Srta. Japhet:

“Deixará de haver religião e uma se fará necessária, mas ver-dadeira, grande, bela e digna do Criador... Seus primeiros alicer-ces já foram colocados... Quanto a ti, Rivail, a tua missão é aí.” 1

São suas estas palavras: “Foi essa a primeira revelação posi-tiva da minha missão e confesso que, quando vi a cesta voltar-se bruscamente para o meu lado e designar-me nominativamente, não me pude forrar a certa emoção.” 2

Com a argúcia de sua inteligência, Rivail não só identificou de pronto a grandeza e complexidade de sua missão, bem como identificou a grandeza indimensional do que estava por vir, como resultado de seu labor. A estruturação de um doutrina nova: o Es-piritismo.

Na sua humildade e diante do seu caráter diamantino, voltou a tratar deste assunto a fim de bem se certificar.

Em 7 de maio do mesmo ano, ele assim dirige-se ao Espírito Hahnemann 3:

Pergunta (a Hahnemann) — Outro dia, disseram-me os Espíritos que eu tinha uma importante missão a cumprir e me indicaram o seu objeto. Desejaria saber se confirmas isso.

Resposta — Sim e, se observares as tuas aspirações e tendên-cias e o objeto quase constante das tuas meditações, não te sur-preenderás com o que te foi dito. Tens que cumprir aquilo com que sonhas desde longo tempo. É preciso que nisso trabalhes ativa-mente, para estares pronto, pois mais próximo do que pensas vem o dia.

1 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. “Primeira revelação de minha missão”, p. 337-338.

2 Ibid. p. 338

3 Ibid. p. 338 - 339

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P. — Para desempenhar essa missão tal como a concebo, são--me necessários meios de execução que ainda não se acham ao meu alcance.

R. — Deixa que a Providência faça a sua obra e serás satisfeito.

A sua costumeira prudência e o seu bom-senso – marcas regis-tradas de seu proceder – não lhe deram trégua, até que em 12 de junho de 1856, dirige-se ao Espírito Verdade 4:

Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verda-de, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem ta-lento e qualidades de que não disponho.

Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conheci-mento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar--se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.

P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu

4 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. “Primeira revelação de minha missão”, p. 343

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lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constran-gido a fazer coisa alguma.

Apesar dos obstáculos, das armadilhas urdidas pelas mentes infelizes e infelicitadoras, das lutas hercúleas, com grande sacrifí-cio, dedicação e zelo, o notável Prof. Denizard Rivail prosseguiu e concluiu seu grandioso trabalho da Codificação Espírita, legando para a Humanidade os cinco livros basilares, além de vasto ma-terial a mais, como os doze volumes da Revista espíRita: O LivRO dOs espíRitOs, lançado em 18 de abril de 1857; O LivRO dOs Médiuns Ou guia dOs Médiuns e dOs evOCadORes, lançado em 15 de janeiro de 1861; O evangeLhO segundO O espiRitisMO, lançado em abril de 1864; O Céu e O infeRnO Ou a Justiça divina segundO O espiRitisMO, lançado em agosto de 1865; e A gênese, Os MiLagRes e as pRedições segundO O espiRitisMO, lançado em 6 de janeiro de 1868.

Com ele renasce o Cristianismo simples e puro, incorruptível e nobre dos primeiros tempos, convocando os homens para as fon-tes eternas da paz e da alegria, transformando-se em roteiro insu-perável dos tempos. 5

5 FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1968, p. 30

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A volta do Consolador

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prometido

Como dissemos, os planos divinos para a Humanidade come-çaram muito antes de 18 de abril de 1857. No bojo da mensa-

gem de Jesus à Terra, no meio dessas Suas luzes, encontramos a anunciação de um advento dos mais significativos para o reconfor-to espiritual dos homens, com a promessa Dele da chegada futura de outro Consolador.

Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e es-tará em vós. - Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito. (S. João, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26.)

Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compre-ender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o

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Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido. O Espi-ritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: pre-side ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para ouvir.” O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.

[...]

Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem sai-ba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança. 1

Lins de Vasconcellos (Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, 1851 – 1952), uma das figuras mais destacadas do Movimento Espíri-ta brasileiro, com vasta ficha de serviços prestados ao Bem, teve, por exemplo, destacada atuação, entre 1947 e 1952, no adven-to do Pacto Áureo 2, bem como sua participação na Caravana

1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap.VI, itens 3 e 4, p. 128 - 129.

2 O chamado Pacto Áureo foi um acordo celebrado entre a Federação Espírita Brasileira (FEB) e representantes de várias Federações e Uniões de âmbito estadual, visando unificar o movimento espírita a nível nacional. Foi assinado na sede FEB, na cidade do Rio de Janeiro, a 5 de outubro de 1949. A expressão é atribuída a Arthur Lins de Vasconcelos Lopes, um de seus signatários à época. A assinatura do Pacto Áureo foi a base para um entendimento entre as instituições espíritas no país, possibilitando uma nova fase de difusão da Doutrina Espírita, viabilizando a convivência entre as mesmas sem prejuízo da liberdade de pensamento e da ação individuais. Como consequência, em 1 de janeiro do ano seguinte (1950), foi instituído o Conselho Federativo Nacional da FEB (CFN), com a posse dos seus onze membros pelo pre-sidente da FEB. Em 8 de março desse mesmo ano, o CFN lançou a Proclamação aos Espíritas. Desde então, o CFN exerce a função de dirimir dúvidas, orientando o movimento Espírita e recomendando diretrizes para os Centros Espíritas.

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da Fraternidade 3. ao lado de nomes como Leopoldo Machado, Francisco Spinelli e outros. Foi representante da Federação Espírita do Paraná no Conselho Federativo Nacional e membro efetivo da Assembléia Deliberativa da Federação Espírita Brasileira, além de Vice-presidente da Liga Espírita do Estado da Guanabara, 1º se-cretário da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro e seu presidente de honra, além de muitos outros encargos. É ele que nos diz:

O Espiritismo, consolidando a promessa de Jesus Cristo, trouxe à Terra um novo “modus-operandi” capaz de estimular o espíri-to humano no roteiro da dignificação pessoal e social, fazendo-o religioso com religiosidade íntima, capaz de ligá-lo realmente a Deus, destarte, convocando-o para o auxílio aos náufragos e ven-cidos morais do mar proceloso das aflições, redimindo-se, por fim, através da redenção que propicia ao próximo. 4

Vianna de Carvalho (1847 – 1926), destacado conferencista espírita de eloquência rara, articulista e polemista arrebatado, seu nome ficou demarcado na história da difusão doutrinária em vá-rios pontos do Brasil, que teve ensejo de residir ou de visitar, já que, como oficial do Exército Brasileiro, Engenheiro militar, perio-dicamente transferia-se de uma unidade militar à outra. Culto e

3 Firmado o Pacto Áureo restava sua consolidação, colhendo as assinaturas das federa-ções ausentes e criando federações ou órgãos de unificação em estados que ainda não o pos-suíam. Para essa tarefa, formou-se um grupo de espíritas com o propósito de visitar todos os Estados do Norte. Principalmente os Estados que ainda não tinham se decidido sobre o Pacto Áureo, de 5 de outubro de 1949. Os caravaneiros - Arthur Lins de Vasconcelos, Carlos Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio e Leopoldo Machado, iniciaram a jornada em 31 de outubro de 1950. De Salvador até o extremo Norte, os caravaneiros visitaram todas as capitais e mais Parnaíba, vivendo em todas elas, inesquecíveis programas de intensa vibração doutrinária e fraternal. Em todas as cidades, a Caravana procedeu da maneira seguinte: (I) Conferências culturais para o grande público, que atraíram verdadeiras multidões a elas, tare-fa quase que da responsabilidade do prof. Leopoldo Machado; (II) Reuniões de mesa-redonda para reajustamento de pontos de vista de choque, das quais o ideal da unificação sempre saiu vitorioso, por isso que de todas elas foram lavradas as respectivas atas; (III) Visitas de estí-mulo às instituições espíritas de assistência social; (IV) Programas sociais, organizados pelos irmãos visitados. A Caravana, cumprida sua tarefa, desfez-se em 13 de dezembro do mesmo ano, encerrando suas viagens em Belo Horizonte, MG.

4 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 224

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fluente, encantava os ouvintes com a Mensagem Espírita. Firme e sensato, contribuía com a organização das Instituições que fre-quentava. Determinado e persistente, mantinha-se em constante trabalho pelo Bem. São suas estas palavras, colhidas de sua larga produção literária através da mediunidade de Divaldo Franco:

No momento em que variam as técnicas das “ciências da alma”, no estudo da personalidade humana e dos problemas que lhe são correlatos, o Espiritismo, conforme a Codificação Karde-quiana, é a resposta clara e insofismável para as aflições que se abatem sobre o homem, dando cumprimento à promessa de Jesus, quanto ao Consolador, de que este, em vindo à Terra, não somen-te Lhe recordaria as lições, como também esclareceria, confortaria e conduziria o ser através dos tempos... 5

5 FRANCO, Divaldo P. Enfoques espíritas. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1980, p. 144

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Espiritismo

3

Aquilo que hoje estamos por fazer em nome do Espiritismo, além da fidelidade aos seus princípios, há de estar em consonância

com seus propósitos, que foram estabelecidos desde os seus pri-mórdios e vêm explicitados nas páginas da Codificação conforme palavras de Allan Kardec: “Por meio do Espiritismo, a Humanida-de tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é consequência inevitável”. 1

É quando o Espiritismo demonstra-nos seu grande fanal, agin-do e fomentando nossas próprias mudanças íntimas, para melhor.

A literatura espírita é rica em citações destacando o quanto o Espiritismo, qual celeiro de bênçãos, guarda em seu bojo benefí-cios à Humanidade, bastando que o homem dele se aproxime e, dedicado e laborioso, possa servir-se com abastança segundo as suas necessidades.

Quando os ensinos espíritas forem bem compreendidos, exa-minados, absorvidos pelos homens, estes mudarão o comporta-

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Conclusão, V, p. 482.

O grandefanal do

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mento social, em razão da modificação moral que cada ser se imporá, erguendo-se uma comunidade pacífica e justa, a es-praiar-se, generosa, por toda parte, auxiliando a transformação da Terra, regenerada e luminosa, que seguirá no rumo da destina-ção que a espera como aos seus habitantes, hoje em lutas cruentas e rudes, por haverem abdicado das armas do amor, da mansidão e da fraternidade.

Este é o grande fanal do Espiritismo. 2

Raul Teixeira, uma das vozes mais firmes da atualidade na di-vulgação fidedigna da Mensagem Espírita ao redor do Mundo, quando questionado: “Qual a principal Mensagem Espírita?”, deu-nos esta síntese notável:

Raul – A mais excelente Mensagem Espírita se configura na proposta de renovação espiritual da pessoa humana. Para o Es-piritismo, o fenômeno mais importante que se pode dar com o in-divíduo é o do seu progresso para Deus, o que se opera mediante o desenvolvimento intelectual, a fim de que conheça as leis que regem o nosso universo material, e o desenvolvimento moral, que se caracteriza pelo devido cumprimento das leis morais, ou seja, aquelas que regem a vida da alma. 3

Leiamos as ponderadas palavras de Allan Kardec, também chamado o bom-senso reencarnado:

Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, com-preenderão também a verdadeira solidariedade e, conseguinte-mente, a verdadeira fraternidade. Uma e outra então deixarão de ser simples deveres circunstanciais, que cada um prega as mais das vezes no seu próprio interesse e não no de outrem. O reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justi-ça para todos e o da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças. Virá esse reinado?

2 FRANCO, Divaldo P. Enfoques espíritas. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1980, p. 21 - 22

3 TEIXEIRA, Raul T. Ante o vigor do Espiritismo. Entrevistas. Niterói, RJ: Frater, 1998, p. 20

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Duvidar do seu advento seria negar o progresso. Se compararmos a sociedade atual, nas nações civilizadas, com o que era na Idade Média, reconheceremos grande a diferença. Ora, se os homens avançaram até aqui, por que haveriam de parar? Observando- se o percurso que eles hão feito apenas de um século para cá, po-der-se-á avaliar o que farão daqui a mais outro século.

[...]

Qualquer que seja a influência que um dia o Espiritismo che-gue a exercer sobre as sociedades, não se suponha que ele ve-nha a substituir uma aristocracia por outra, nem a impor leis; pri-meiramente, porque, proclamando o direito absoluto à liberdade de consciência e do livre-exame em matéria de fé, quer, como crença, ser livremente aceito, por convicção e não por meio de constrangimento. Pela sua natureza, não pode, nem deve exercer nenhuma pressão. Proscrevendo a fé cega, quer ser compreendi-do. Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé racional, que se baseia em fatos e que deseja a luz. Não repudia nenhuma descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis da Natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência fora repudiar a obra de Deus. Em segundo lugar, estando a ação do Espiritismo no seu poder moralizador, não pode ele assumir nenhuma forma autocrática, porque então faria o que condena. Sua influência será preponderante, pelas modificações que trará às ideias, às opiniões, aos caracteres, aos costumes dos homens e às relações sociais. E maior será essa influência, pela circunstân-cia de não ser imposta. Forte como filosofia, o Espiritismo só teria que perder, neste século de raciocínio, se se transformasse em po-der temporal. Não será ele, portanto, que fará as instituições do mundo regenerado; os homens é que as farão, sob o império das ideias de justiça, de caridade, de fraternidade e de solidariedade, mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo. 4

Francisco Spinelli, que desencarnou em 7 de agosto de 1955, presidiu a Federação Espírita do Rio Grande do Sul (Fergs), inte-

4 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, “As expiações coletivas”, p. 270-271.

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grou a Caravana da Fraternidade, que percorreu vários estados do país na propaganda da unificação da prática espírita, foi o criador do programa da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (Fergs): “Em cada Centro Espírita uma Livraria”, e grande incenti-vador da Evangelização da Infância e da Juventude, é daqueles que continua contribuindo do mundo espiritual com sua visão da real grandeza e beleza do Espiritismo através de seus ditados:

A missão do Espiritismo é inclinar o homem para a fonte da mo-ral austera do Cristo, oferecendo-lhe a água lustral do equilíbrio e o pão salutar da esperança a fim de que, saciado, possa dirigir os passos no rumo da equidade e da honra, em busca do fanal da vida: a felicidade plena!

[...]

Penetremo-nos, portanto, do dever sadio e nobre da edifica-ção do bem em nós mesmos e, sejam quais forem as conjunturas negativas que os possam intimidar, tenhamos em mente que o Se-nhor, embora abandonado por todos, no Pretório, era o Príncipe vencedor, enquanto Barrabás, aclamado pela maioria, represen-tava o crime que a sociedade pretendia combater.

Certos de que a nossa tarefa devemos fazê-la e o nosso dever cabe-nos cumpri-lo, avancemos resolutos e amparados no escla-recimento que acende uma luz íntima na mente, seguindo o ideal espiritista que, atestando a nossa incorruptível imortalidade, nos oferece a instrumentação para vencer todas as dificuldades e che-gar ao posto de vitória com a honra ilibada e o coração tranquilo. 5

Se as propostas espíritas são tão salutares para nós, por que não oportunizarmos a experiência desse conhecimento aos ou-tros? Se nos sentimos estimulados por essa mensagem em viven-ciar seus ensinamentos no nosso dia a dia, na vida de relação social, com nossa família, outros não poderão fazê-lo também, em benefício próprio, desde que conheçam dessas lições? Então,

5 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 61-64

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por que não o fazemos através de iniciativas pessoais e também nos engajando com mais afinco nas ações de divulgação do Espi-ritismo, nas tarefas no Centro Espírita?

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Ao Espiritismo compete a tarefa indeclinável de espalhar nova luz sobre a

Humanidade inquieta e atormentada.

Vianna de Carvalho

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Nós e o Espiritismo

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

parte 2

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Este instante é o de fazer luz, o da nossa definição espírita, o da nossa realização

clara e firme, qu edeixe na história dos tempos o sulco profundo da nossa

integração nas hostes da Doutrina apresentada por Allan kardec, como sinal inapagável da nossa vitória sobre a morte,

sobre o engodo, sobre a inferioridade, sobre nós mesmos, antecipando a nossa

ressurreição que já começa, para a nossa penetração na vida estuante que nos espera.

Lins de Vanconcellos

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O nossochamadoPessoal

4

Quando nos propomos e nos dedicamos a conhecer as proposi-ções espíritas, na medida em que vai se dando o entendimen-

to das suas lições, de modo natural e espontâneo vão ocorendo transformações de pensamentos e atitudes nossas perante a vida.

É o que nos afirma Allan Kardec:

[...] Para os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele veem outra coisa, que não somente fenômenos mais ou menos curiosos, diversos são os seus efeitos.

O primeiro e mais geral consiste em desenvolver o sentimento religioso até naquele que, sem ser materialista, olha com absoluta indiferença para as questões espirituais...

O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resig-nação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de tão alto, que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos...

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O terceiro efeito é o estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio ego-ísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, de mais difícil de desarraigar [...] 1

E alargando esse entendimento do conteúdo doutrinário e de suas propostas, melhor contextualizamos o Espiritismo na Terra e o que ele representa para a Humanidade, e, por conseguinte, nos vemos envoltos pelas malhas da responsabilidade com o bem e a verdade, que do seu bojo extraímos e que passamos a ter, na qua-lidade de adeptos que somos dessa Doutrina revivescente do Cris-tianismo simples e puro. Mais nitidamente, então, se despontam nossos compromissos para conosco mesmo e para com o próximo, perante a imortalidade, e se apresenta, como um grito silencioso de nossa consciência, nosso chamado para o serviço do bem.

Ouçamos esse chamado vindo diretamente do venerando Es-pírito Bezerra de Menezes:

Fomos chamados para a construção da Era Melhor.

Estamos convocados para a tarefa sacrossanta do amor.

Doutrina Espírita é conhecimento com responsabilidade; com-promisso indeclinável que nos impomos, a fim de ressarcirmos o passado de sombras, de dúvidas, de mancomunações com o mal que ainda vive dentro de nós.

[...]

O Espiritismo, no seu segundo século, chama-se “ação”.

Até há pouco, combatiam a mensagem luminosa. Os adver-sários, porém, da Terceira Revelação, filhos meus, estão agora dentro de nossas fileiras, dentro de nós... Ou modificamos a nossa forma de agir, de servir e de amar, ou seremos responsáveis pelo adiamento da concretização dos ideais do Consolador na Terra. Esta é a religião, cujo nome foi dado por Jesus. O Consolador, não

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Conclusão, VII, p. 488-489.

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o esqueçamos.

Consolemos as lágrimas, estancando-as no seu nascedouro; atendamos à dor, ferindo-a na origem. Lutemos contra o mal em nossa alma e ganharemos a Terra da Paz.

Hoje é o fruto do nosso ontem, mas o amanhã é o nosso hoje vitorioso nimbado de bênçãos com Jesus... 2

2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Salvador, BA: Leal, 1991, p. 83-84

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O de que carece o Movimento Espírita, em seus labores, é daqueles que se sintonizem

com a lógica do pensamento espírita, aprumada nas considerações clarificadoras do Espírito da Verdade, capaz de facear o avanço intelectual terrestre, sem temores, sem tibieza, estabelecendo a inabalável fé, que faz a alma crescer, iluminar-se, libertando-se do cruel pieguismoo da

exaltação neurótica ou, ainda, do anseio do domínio da opinião, quando uma luz mail alto se ergue, a do Cristo, que o Espiritismo

alimenta com os óleos da sua celeste inspiração.

Camilo

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Clarezade Posicionamentos

5

Relembremos aqui alguns conceitos, a fim de que, com eles vi-vos na lembrança e pulsantes em nossos corações, reavaliemos

nosso comportamento diário, e, se necessário, empreendamos urgentes correções em nosso curso vivencial, recuperemos even-tuais valores que deixaram de ser considerados, reconsideremos certos posicionamentos equivocadamente adotados por nós. Mas que tais proposições não fiquem no discurso, mas se efetivem na prática diária.

Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão ine-rente à variedade de sentidos das mesmas palavras.

Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas. 1

O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Conclusão, VII, p. 486-487.

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e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos: 1° os que creem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma ciência experi-mental; 2° os que lhe percebem as consequências morais; 3° os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. 2

Segundo o Dicionário Aulete, adepto é quem ou o que apren-deu ou assimilou ideias, princípios, de uma religião, doutrina etc. Também é quem ou o que segue, defende, é partidário de uma religião, uma organização, uma doutrina etc. Bem como é aquele que admira e/ou apoia determinada ideia, certos princípios mo-rais, ou modos de agir, de ser, de pensar etc.

Com o Espiritismo – Doutrina de ação por excelência – o crente se renova, dia a dia, vivendo a fé em todos os atos. Experimen-tando-a, passa a viver em permanente culto de serviço edificante, porquanto, como Cristo que emerge dos fundos dos tempos, a Ca-ridade faz-se o selo de identificação dos corações no abençoado solo das imperecíveis realizações.

Foi por essa razão que Allan Kardec, o apóstolo lionês, afir-mou: - “A Caridade é a alma do Espiritismo. Ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para os seus semelhan-tes. É por isso que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem Caridade”. Porque se a Fé cristã é Jesus em luz na alma do homem, a Caridade é a luz de Jesus no coração da Humanidade inteira.

Descortinando novos horizontes para o mundo, a fé espírita brilha convidativa renovando concepções em torno da vida e feli-citando o ser. 3

Assim, na qualidade de adeptos do Espiritismo, deveremos perseguir seu Norte proposto.

2 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Introdução, I, p. 13

3 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 216-217

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A Doutrina Espírita, na atualidade, não se reveste apenas de lapidares conceitos, antes se constitui parte essencial para o nosso “modus-vivendi” na Terra.

Não é apenas uma mensagem nobre, mas um programa de ação.

Não é somente uma bela Filosofia, porém um roteiro para a evolução.

Estudemos, portanto, a Doutrina para vivê-la; conheçamos a Doutrina para ensiná-la, realizando o serviço que nos cabe. 4

4 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 19

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O segredo da felicidade se encontra na ação consciente em relação às Leis Divinas e ao

estatuto de comportamento humano.

Joanna de Ângelis

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Espírita

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Não há como deixar de se perceber o quanto o comportamento humano está em desalinho com os princípios cristãos. Por con-

seguinte, o quão distante está a consolidação dessa Era Nova na Terra. Aparentemente, tudo conspira contra, havendo pouquíssima atenção dos homens para com as coisas de Deus.

O flagrante modelo de vida praticado por maioria de nós, onde prepondera esforços quase que totais pelo ter, em detrimen-to, chegando quase ao desprezo, do propósito pelo ser, tem o egoísmo como seu agente causal. Para os seguidores desse mode-lo, o imediatismo e o consumismo são as únicas regras conhecidas para um “bem viver”. A mensagem que propõe o altruísmo e a ca-ridade como alavancas para se alcançar dias melhores, parece, para estes, como fantasiosas, utópicas, sem consistência, portanto desconsideradas.

No entanto, apesar de ser uma luta de pigmeus contra gigan-tes, travada entre a proposta vivencial cristã e o atual modo de viver preponderante entre a maioria dos homens, não há como impedir a instalação definitiva do reino dos céus na Terra, pois o

O verdadeiro

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progresso intelecto moral da Humanidade é Lei Divina. A hora é de escolhas e definições.

Jesus, meus filhos – que prossegue crucificado pela ingratidão de muitos homens – é livre em nossos corações, caminha pelos nossos pés, afaga com nossas mãos, fala em nossas palavras gen-tis, e só vê beleza pelos nossos olhos fulgurantes, como estrelas luminíferas no silêncio da noite. 1

Adolfo Bezerra de Menezes (Adolfo Bezerra de Menezes Ca-valcanti, 1831 – 1900), Espírito Benfeitor, em sua última existência notabilizou-se pelo seu amor e dedicação ao próximo e ao Espi-ritismo. Recebeu carinhosamente vários codinomes, como quali-ficativos do seu trabalho ímpar em terras brasileiras, como, por exemplo: Médico dos Pobres, Kardec Brasileiro. Esse venerando Espírito-espírita, pela extensão de sua atuação em prol da assis-tência as necessidades humanas e da divulgação da Mensagem Espírita, pela excelência do amor que vivencia como Guia da Hu-manidade que é, ofertou-nos mais esta oportuna recomendação:

Nesse homem aturdido, porém, encontra-se a oportunidade de construir o mundo novo, a era melhor do espírito, a que se refe-rem as palavras renovadoras de Jesus.

Antídoto para as problemáticas afligentes da atualidade é o Espiritismo, conforme no-lo ofereceu Allan Kardec, em mensagem de lógica e ciência, de fé e razão, abrindo o pórtico da Era Nova, mediante a proposição do Cristianismo restaurado.

Indispensável, portanto, estudar Kardec para melhor compre-ender e amar Jesus.

Imperioso conhecer o Espiritismo nas suas fontes puras para, com mais acerto, viver-se o Cristianismo, em espírito e verdade.

Eis por que saudamos, nos labores deste dia, um brado de re-novação e uma metodologia libertadora, tendo em vista o mo-

1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 116

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mento grave em que se vive na Terra.

Só uma Doutrina que “enfrente a razão face a face” e encontre respaldo na ciência, poderá oferecer uma fé robusta capaz de conduzir a criatura com segurança pelo rumo da paz.

Espíritas, meus irmãos, estudai para conhecer e instruí-vos para viver o amor em toda a sua plenitude.

Não vos inquieteis ante as dificuldades que repontam em toda parte.

Mantende o ânimo seguro e permanecei vinculados ao Senhor, a “rocha nossa”. 2

Como dissemos anteriormente, quando as luzes da aceitação da mensagem cristã e do seu entendimento nos visitam, descorti-nam-se para nós as nossas responsabilidades para conosco mes-mo e para com o próximo, pedindo-nos não apenas promessas, mas real e duradouro comprometimento com a Causa do Bem. Não para mudar o Mundo, propriamente dito, mas para realizar mudanças positivas em nós próprios, em nosso mundo íntimo. Ho-mem transformado, Mundo transformado!

Em apoio orientativo a essa responsabilidade nobre que vai, ou que deveria ir, dominando nossas atenções e ações, conforme vamos melhor compreendendo e mais vivenciando o Espiritismo, Allan Kardec questionou os Espíritos das Luzes 3:

642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, por-quanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 68

3 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998.Perg. 642 e 643, p. 313

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643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?

“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nun-ca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque, fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu con-curso venha a ser necessário.”

Para bem definir os caracteres do verdadeiro espírita, Allan Kardec contempla-nos ainda com suas luzes conceituais:

Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. 4

E nos brinda com mais estas considerações:

Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando- se por fazer o bem e coibir seus maus pen-dores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem praticar o mal. A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos. 5

Emmanuel também contribui com a fixação desta definição do verdadeiro espírita em nossa memória, e o faz pela luminosa me-diunidade de Francisco Cândido Xavier, lecionando:

4 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 17, item 4, p. 276.

5 ________. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Cap. 3, item 28, q. 3º, p. 41.

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Sabem que a existência na Terra é como estágio na escola.

E, por isso, não perdem tempo.

Moram no trabalho constante.

Indulgentes para com todos e severos para consigo mesmos.

Aceitam a justiça perfeita, através da reencarnação, e acolhem no sofrimento o curso preciso ao burilamento da própria alma.

Verificam que o erro dos outros podia ser deles próprios e, em razão disso, não perdem a paciência.

Reconhecendo-se imperfeitos, perdoam, sem vacilar, as im-perfeições alheias.

E vivem a caridade como simples dever, aprendendo e servin-do sempre.

São esses que Allan Kardec, em sua palavra esclarecida, de-fine como sendo “os espíritas verdadeiros ou, melhor, os espíritas--cristãos”. 6

Nessa jornada pelo continente de nossa alma, identificamos conquistas realizadas e a realizar, observamos necessidades nos-sas e dos nossos irmãos, e isso se dá em vários momentos e situa-ções ao longo da existência de cada um de nós.

Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão. 7

É necessário não fugir do mundo, nem das responsabilidades que nos cercam, mas, sim, realizar, e bem, a parte de serviço con-fiada ao nosso esforço, nos círculos de luta a que estamos sujeito.

A atitude primordial do discípulo sincero é, portanto, compre-

6 XAVIER, Francisco C. Seara do médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 2. ed. Rio de Jan eiro: FEB, 1961, p. 32

7 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, “As expiações coletivas”, p. 266

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ender o caráter transitório da existência carnal, concientizar-se de sua imortalidade, consagrar-se ao Mestre como centro essencial da vida e repartir com os semelhantes os seus divinos benefícios.

Valorizemos, pois, no Espiritismo, a vida, a vida abundante, conduzindo nossas convicções em atos que falem da excelência da fé imortalista capaz de libertar mentes e tranquilizar corações, em definitivo. 8

8 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 163

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Cristo

7

A beleza, a profundidade, a abrangência, a objetividade e a qualidade da mensagem da qual nos fazemos portadores nas

atividades de exposição doutrinária e de coordenação de gru-pos de estudos – focos deste nosso arrazoado – das quais par-ticipemos, deve ter utilidade para nós próprios, primordialmente, devendo estar em permanente aplicação nas nossas experiências vivenciais, comportamentais. Assim se dando, a nossa fala estará revestida da segurança emocional de quem não somente sabe o que diz, mas de quem já faz uso daquele ensino. Assim, a beleza e a qualidade da mensagem estarão suplementadas pela subs-tância dos nobres sentimentos de quem a transmita, por estar este ciente e confiante de que o que está por repassar aos outros em nome da Doutrina Espírita, é o melhor para si próprio também. A confiança é contagiante. A falta dela também.

Nos diz E. Kelly: “A diferença entre um chefe e um líder: um chefe diz, ‘Vá!’ - um líder diz, ‘Vamos!’”

Não estamos postulando a condição de que se seja espírito

Cuidados pessoais a serviço do

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puro para que se possa veicular a Mensagem Espírita. Seria enor-me tolice, mas, sim, que estejamos enquadrados na definição kar-dequiana, de quem reconhece suas tendências más e empreende continuado esforço em vencê-las.

Há um provérbio na Suécia que diz: “Quando um cego carrega o manco, ambos vão para a frente”, ilustrando a condição de que somos todos irmãos em caminhada comum de evolução espiritual. E auxiliando-nos mutuamente, a caminhada será menos agreste.

Acompanhemos a abordagem de Lins de Vasconcellos sobre o tema:

A Revelação Espírita, porém, é cristalina e inconfundível, con-clamando todos aqueles que dela se abeberam a um aprofunda-do estudo em torno da vida imortal e impondo a tônica da reno-vação interior, de modo a consubstanciar nas atividades de toda hora o programa traçado pela linha mestra da Codificação: “Fora da Caridade não há salvação”.

Estes são dias em que se fazem necessários muito siso no estu-do e muita meditação antes de atitudes e cometimentos, de modo que o labor duramente desenvolvido desde há mais de cem anos não venha a sofrer solução de continuidade por capricho de uns ou insolência de outros, estribados em opiniões pessoais ou apres-sadas disposições de divergir e dissentir...

Merece que reexaminemos os postulados kardequianos, aprendendo mais uma vez, como “embaixadores das vozes” de que nos fazemos, a técnica da ação relevante pelo trabalho que edifica, da solidariedade que ajuda e da tolerância que firma o valor do homem na gleba abençoada da caridade. Quando os problemas surgem, urge a aplicação da atitude reflexiva; quan-do as necessidades se multiplicam é indispensável parar a fim de meditar; quando os empeços se avolumam, faz-se imperioso examinar o óbice para vencer as dificuldades, afastando-as do caminho.

[...]

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Mais do que nunca estamos sendo convidados a um trabalho positivo de construção da nova Humanidade. Que as nossas ati-tudes não venham comprometer o programa superior, que no mo-mento repousa em nossas débeis e agitadas mãos. 1

Cuidemos para que não sejamos daqueles referidos por Jesus, quando nos disse: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.” 2

“Não nos enganemos quanto às nossas responsabilidades. Coloquemos acima dos “pontos de vistas” a Doutrina Espírita, e além das ambições pessoais o sagrado ideal que juramos desdo-brar e defender, se necessário com o contributo da nossa renúncia e da nossa abnegação.” 3

Está escrito em algum lugar, e com outras palavras, que al-cançar o “inferno” pelos seus caminhos próprios, é uma questão de escolha, que devemos respeitar; mas se chegar ao “inferno” supondo estar trilhando os caminhos do “céu”, é de se lastimar tamanha insensatez.

Há pessoas demolidoras e pessimistas em matéria de fé, que estão sempre acionando os camartelos da devastação.

Cultivando o mau-humor, fazem-se ríspidas, e o que produ-zem, acionadas por um ideal, desfazem-no pela forma azeda com que se comunicam com os que participam da sua ação.

Acreditam-se sempre certas, sem darem margem aos outros de opinar em contrário.

Agridem, verbalmente, as correntes com as quais não simpa-tizam, vendo o lado pior de tudo, sem apresentarem a beleza do

1 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 98-99

2 Mateus (23 : 13)

3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 99

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seu ideal incorporada ao seu comportamento.

Disseminando a ideia do bem, põem-se contra os outros, os que não concordam com as suas expressões, tanto quanto com aqueles que, embora favoráveis, não se lhes submetem ao talante.

São uma propaganda negativa do que pensam defender com entusiasmo e agressividade.

O Espiritismo, sendo doutrina de libertação e responsabilida-de, não passa indene a esses propagandistas da violência. 4

A luz não faz coleção de sombras. Não percamos tempo, não desprezemos a oportunidade do trabalho no bem, não disperse-mos forças, não prestemos desserviços em nome do Senhor. A hora é de se definir pela ação nobre, apoiados nos objetivos radiantes da sua luminosa doutrina.

São altamente expressivas estas palavras de Emmanuel, Espíri-to, alertando-nos sobre a importância do tempo:

Vem!

Jesus reserva-te os braços abertos.

Vem e atendo-o ainda hoje. É verdade que sempre alcançaste ensejos de serviço, que o Mestre sempre foi abnegado e miseri-cordioso para contigo, mas não te esqueças de que as circunstân-cias se modificam com as horas e de que nem todos os dias são iguais. 5

Não te endureças, pois, na estrada que o Senhor te levou a trilhar, em favor de teu resgate, aprimoramento e santificação. Re-corda a importância do tempo que se chama Hoje. 6

Desfrute hoje, é mais tarde do que supões, recomenda provér-

4 FRANCO, Divaldo P., CHRISPINO, Álvaro (Organizador). Aos espíritas. Coletânea. Salvador, BA: Leal, 2005, p. 45

5 XAVIER, Francisco, C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 24.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, p. 344

6 ________. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, p. 150

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bio chinês.

“[...] Tipo magro de rosto ovalado e de faces rosadas; olhos de um azul bem claro, com entradas frontais acentuadas e bem ampla tonsura. Dono de um discreto e afável sorriso e de um olhar tranquilo e penetrante [...] 7, assim Raul Teixeira descreve o Espí-rito Camilo, seu orientador espiritual na grandiosa tarefa atual de espalhar os ensinos de Jesus no mundo. Este Benfeitor Espiritual, fortemente vinculado a semeadura do Bem na Terra, que teve oca-sião de nos dizer que o Espiritismo é como um gigantesco oceano do qual estamos nas praias, apenas ...8 nos traz suas amadureci-das reflexões, firmes e determinantes, encharcadas com o afeto paternal de quem dedica profundo amor a Jesus:

Entre os companheiros que se situam nesse contexto de ditos espiritistas, grande quantidade ignora os conceitos basilares espí-ritas, mas há outros que se esmeram nas leituras, conhecem vários textos e autores, não para que retirem a orientação feliz para as suas existências, porém, a fim de viverem se digladiando uns com os outros a respeito de pontos de vista que, como pontos de vista, estarão sempre firmados nas faixas de maturidade e de conquis-tas feitas por cada um, sem que, obrigatoriamente, reflitam o real sentido das propostas espíritas.

[...]

O de que carece o Movimento Espírita, em seus labores, é da-queles que se sintonizem com a lógica do pensamento espírita, aprumada nas considerações clarificadoras do Espírito Verdade, capaz de facear o avanço intelectual terrestre, sem temores, sem tibieza, estabelecendo a inabalável fé, que faz a alma crescer, ilu-minar-se, libertando-se do cruel pieguismo ou da exaltação neu-rótica ou, ainda, do anseio de domínio da opinião, quando uma luz mais alto se ergue, a do Cristo, que o Espiritismo alimenta com

7 FARIA, Osvaldo E. O chamado dos irmãos da luz. Niterói, RJ: Frater, 2008, p. 107

8 Ibid. p. 109

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os óleos da sua celeste inspiração. 9

É ainda o Benfeitor Espiritual Camilo que nos traz considera-ções graves como sinal de alerta:

Variados têm sido os que se deixam conduzir pelas influências narcóticas de muitas mentes atreladas ao mal ou ao marasmo, do Mundo Invisível, naturalmente desleixados com relação a vigilân-cia íntima, realizando seu afazeres, quando os realizam, como quem se desincumbe de um fardo pesado e difícil, mas não como quem participa do alevantamento espiritual da Humanidade.

[...]

Surgem problemas a solucionar na esfera de renovação do Espírito, sempre postergados, sem que os companheiros se deem conta de que poderão estar sendo minados por fluidos aneste-siantes da vontade.

Uma vez que não puderam impedir que muitas criaturas acei-tassem e desejassem servir na Seara do Cristo, Entidades do Além, inimigas do progresso e da luz, que não se dão por vencidas com a primeira perda, fazem com que esses mesmos indivíduos não se movimentem no bem, que tem caráter de premência e que depen-de tão somente da boa vontade dos lidadores. Estão no movimen-to do bem, mas não atuam com o bem, o que é sempre lastimável. 10

E arremata:

O que se vê é um processo de pouca vontade para empreen-der mudanças em si mesmo...

[...]

Muitos dão preferência ao uso de expressões que bem indicam a sua pouca disposição de transformação superior: “não há nada

9 TEIXEIRA, Raul T. Correnteza de luz. Pelo Espírito Camilo. Niterói, RJ: Frater, 1991, p. 51-53

10 Ibid. p. 145-146

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demais nisso”, “todo mundo faz assim”, “todo mundo usa isso”, enquanto outros preferem: “não sou de ferro”, “sou humano ain-da”, “não sou fanático”. Entretanto, surgem os que já se admitem como são, fazendo do seu estado um estado intocável que alimen-tam afirmando: “comigo é assim...”, “quem quiser gostar de mim tem que ser assim”, “sou muito bom, mas não me pise no calo...“, e seguem desfilando as suas “máximas”, mantendo o processo pernicioso de suas renitentes perturbações indefinidamente. 11

Necessário refletirmos demoradamente, o tempo urge. Ama-nhã é um dia tão distante que talvez não o alcancemos ainda pre-sos ao corpo físico. Guardemos em lugar especial da memória e do coração, recomendações colhidas na Boa Nova, que concla-ma-nos a tomar da charrua e não olhar para trás, e, decididos pelo Bem incondicionalmente, façamos do dia de hoje o nosso grande e importante dia de nossas vidas.

Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquan-to é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. 12

Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte.... 13

A questão do tempo é tão séria e grave, que desde os tempos em que o Meigo Rabi caminhava pelas terras áridas da Palestina, o alerta já nos era dado:

“Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.” 14

Camilo, Espírito, sempre afável e paternal, amigo e diligente orientador de todos nós, quando, em 15 de março de 1974, se apresentou por primeira vez mediunicamente à Raul Teixeira, assim

11 Ibid. p. 140-141

12 João (9 : 4)

13 Lucas (13 : 33)

14 Tiago (4 : 14)

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dirigiu-lhe especial mensagem, demarcando nova etapa em sua vida: “Meu filho, Jesus, cujo nome vem sendo proferido por nós ao longo das eras e, ao mesmo tempo, por nós incompreendido, deverá ser a nossa Estrela Maior, a nossa Inspiração Maior, o nos-so Aconchego Maior. Se lograrmos dar conta desse compromis-so, iniciado há tantos séculos sem o necessário êxito, sorveremos a ventura no cálice da vitória, milenarmente suspirada. O tempo urge filho, e não o teremos demasiado... Esqueça-se a si mesmo; recorde-se, porém, dos velhos deveres junto ao Irmão Seráfico de Assis, e que nada nos detenha. Vamos, meu filho, pois o Divino Amigo tem-nos sob o Seu olhar de misericórdia, e temos bem pou-co tempo...” 15

Tomemos estas palavras, como se para nós tivessem sido diri-gidas diretamente, e repitamo-las intimamente no silêncio do nos-so coração, para que ali finquem raízes inamovíveis: “Vamos, meu filho, pois o Divino Amigo tem-nos sob o Seu olhar de misericórdia, e temos bem pouco tempo...”

E sempre que iniciarmos um novo dia, que é sinônimo da bon-dade Divina ofertando-nos novas oportunidades, o façamos re-fletindo sobre o que nos propõe Emmanuel, Espírito, em face da indagação posta por Jesus: “Que fazeis de especial?” 16

Em face, pois, de tantos conhecimentos e informações dos pla-nos mais altos, a beneficiarem nossos círculos felizes de trabalho espiritual, é justo ouçamos a interrogação do Divino Mestre:

- Que fazeis mais do que os outros? 17

Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a pa-lavra pronunciada e a oportunidade perdida, fala brocardo po-pular chinês.

Num belo apólogo, conta Rabindranath Tagore que um lavra-

15 FARIA, Osvaldo E. O chamado dos irmãos da luz. Niterói, RJ: Frater, 2008, p. 107

16 Mateus (5:47)

17 XAVIER, Francisco, C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 15.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, p. 134

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dor, a caminho de casa, com a colheita do dia, notou que, em sentido contrário, vinha suntuosa carruagem, revestida de estrelas. Contemplando-a, fascinado, viu-a estacar, junto dele, e, semies-tarrecido, reconheceu a presença do Senhor do Mundo, que saiu dela e estendeu-lhe a mão a pedir-lhe esmolas...

- O quê? – refletiu, espantado – o Senhor da Vida a rogar-me auxílio, a mim, que nunca passei de mísero escravo, na aspereza do solo?

Conquanto excitado e mudo, mergulhou a mão no alforje de trigo que trazia e entregou ao Divino Pedinte apenas um grão da preciosa carga.

O Senhor agradeceu e partiu.

Quando, porém, o pobre homem do campo tornou a si do pró-prio assombro, observou que doce claridade vinha do alforje po-eirento... O grânulo de trigo, do qual fizera sua dádiva, tornara à sacola, transformado em pepita de ouro luminescente...

Deslumbrado, gritou:

- Louco que fui!... Por que não dei tudo o que tenho ao Sobe-rano da Vida? 18

Vamos repetir as considerações do Espírito Camilo, a fim de bem as fixarmos na memória: Se lograrmos dar conta desse com-promisso, iniciado há tantos séculos sem o necessário êxito, sorve-remos a ventura no cálice da vitória, milenarmente suspirada.

Para tanto, nos esforcemos para que não nos façamos espinho, quando podemos ser as pétalas da rosa; para que não sejamos problema, quando podemos ser solução; que não nos façamos obstáculo, quando podemos ser ponte de comunhão.

Adotemos os apontamentos de Tiago, o apóstolo, em 1:19:

Mas, todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tar-

18 XAVIER, Francisco, C. Cartas e crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1966, p. 7-8

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dio para se irar.

O Espírito Emmanuel, o grande evangelizador, comenta-nos essa citação:

Analisar, refletir, ponderar são modalidades do ato de ouvir. É indispensável que a criatura esteja sempre disposta a identificar o sentido das vozes, sugestões e situações que a rodeiam

[...]

Quem ouve, aprende. Quem fala, doutrina.

Um guarda, outro espalha.

Só aquele que guarda, na boa experiência, espalha com êxito.

[...]

Tenhamos em mente que todo homem nasce para exercer uma função definida. Ouvindo sempre, pode estar certo de que atingi-rá serenamente os fins a que se destina, mas, falando, é possível que abandone o esforço ao meio, e, irando-se, provavelmente não realizará coisa alguma. 19

19 XAVIER, Francisco, C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, p. 169-170

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Espiritismo para todos

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

parte 3

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Iluminemos o raciocínio sem descurar o sentimento.

Burilemos o sentimento sem desprezar o raciocínio.

O Espiritismo, restaurando o Cristianismo, é universidade da alma. Nesse sentido, vale recordar que Jesus, o Mestre por excelência,

nos ensinou, acima de tudo, a viver construindo para o bem e para a verdade, como a dizer-nos que a chama da cabeça

não derrama a luz da felicidade sem o óleo do coração.

Emmanuel

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Estudo

8

Ah! a abençoada oportunidade do estudo dirigido e bem pen-sado se faz como um guia que se propõe a conduzir cami-

nhantes por trilhas desconhecidas, apesar de sonhadas, ou como o bom pastor que se apresenta para conduzir as ovelhas ao recan-to farto de alimento. Tanto a disposição para programas pessoais de estudo particular, como a participação em grupos de estudos nos Centros Espíritas, são variáveis de uma mesma equação que se complementam, pois não se pode imaginar o estudo sério do Espiritismo dispensando-lhe apenas o tempo em que estivermos participando de um grupo de estudos no Centro Espírita. Precisa mais. Bem mais.

Por essa razão é que se faz imperioso estudar o Espiritismo, trazendo informes destes dias para examiná-los à luz meridiana da Doutrina, clareando as nebulosas informações de psiquistas e parapsicólogos, os problemas morais ao estudo sistemático da moral espírita e as conclusões da ciência ao ensinamento doutri-

Importânciado

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nário [...] 1

Joanna de Ângelis, pseudônimo de abnegada religiosa baia-na – Sóror Joana Angélica -, participa do Movimento de reno-vação da Terra junto à falange dos Instrutores Espirituais – essas novas “Vozes dos Céus” – encarregados da sementeira de luz e da esperança entre os homens em nome da Doutrina Espírita, o que o faz desde as épocas da Codificação Espírita, quando, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos dois ditados seus, assinando: Um Espírito Amigo. A primeira recebida em Havre e a segunda em Bordéus, França, ambas no ano de 1862. Através da profícua mediunidade de Divaldo Pereira Franco, notável tra-balhador da Seara de Jesus, ela tem legado a todos nós diversos livros, donde colhemos essa oportuna assertiva:

Estudar o Espiritismo na sua limpidez cristalina e sabedoria in-contestável é dever que não nos é lícito postergar, seja qual for a justificativa a que nos apoiemos. 2

Mas esses programas de estudos precisam ser bem pensados e bem elaborados, como bem recomenda-nos Bezerra de Menezes:

Nosso compromisso é com Jesus – nossa barca, nossa bússola, nosso norte, nosso porto...

Jesus, meus amigos! Aquele a quem juramos fidelidade, amor e serviço.

Hoje é o nosso dia de apresentar o Evangelho restaurado à sofrida alma do povo.

Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança, trocando verbalismo sonante e vazio pela semente de luz que de-vemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das pai-xões e do desequilíbrio.

1 FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1968, p. 127

2 ________. Estudos espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2.ed. Salvador, BA: Leal, 1982, p. 12

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A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com seguran-ça os náufragos das experiências humanas ao porto da paz. 3

Vianna de Carvalho e Lins de Vasconcellos, quais sábios pro-fessores do além, também nos lecionam sobre a importância do estudo e da divulgação da Doutrina Espírita. Começamos citando Vianna de Carvalho:

Impostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós, desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec a fim de que o Consolador de que se faz instrumento não apenas enxugue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar nas fontes do sofrimento as causas de todas as aflições que produzem as lágri-mas e os suores. 4

E agora Lins de Vasconcellos:

Depreende-se que o Espiritismo, ao inverso das outras Doutri-nas, cultiva o estudo, favorecendo o discernimento com largueza de vistas em relação aos problemas intrincados da alma encarna-da.

[...]

“O homem é o que pensa” – eis a nova fórmula. Nem o que demonstra nem o que dele se pensa.

A vida íntima, a de natureza mental, significa o ser no seu es-tado real.

Por isso, “o progresso completo constitui o objetivo”, como também afirmaram os Espíritos, porquanto são os atos que defi-nem o caráter, oferecendo a contribuição para o mérito ou desme-recimento do indivíduo.

3 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 79

4 ________. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salvador, BA: Leal, 1979, p. 96

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[...]

Desenvolver as possibilidades intelectuais, iluminando a mente e libertando o coração, eis os objetivos da reencarnação para lo-brigar o êxito a que se propõe.

[...]

A paz depende sobretudo da razão.

Quando a razão se ilumina o coração se eleva, santificando os impulsos e revigorando os sentimentos, o bem e o mal perdem o aspecto dualista para surgirem na feição do Eterno Bem, presente ou ausente.

[...]

Por isso mesmo crê mais aquele que compreende e não o que vê, ouve, ou que simplesmente foi informado.

A autoiluminação é filha do esclarecimento intelectual.

O convite ao estudo, em Espiritismo, não pode, desse modo, ser desconsiderado.

Elaboremos programas para todos os momentos da vida e re-servemos ao estudo um tempo necessário à manutenção ativa da nossa elaboração espiritual que edifique e felicite. 5

5 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 115-118

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Estudo

9

Conhecendo a psicologia humana e sabendo que quanto maior a mudança proposta para determinado estado vigente das

coisas, maior será a resistência a essa mudança, Allan Kardec in-dicou-nos que o melhor será darmos um passo de cada vez em direção ao pleno esclarecimento humano da realidade espiritual para além da vida. Primeiro se trabalhar o alcance do entendi-mento amplo e mais genérico do espiritualismo, e depois se traba-lhar as proposições espíritas, propriamente ditas.

Eis a recomendação de Kardec:

É crença geral que, para convencer, basta apresentar os fatos. Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico. Entretanto, mostra a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo se encontram pessoas que os mais patentes fatos absolutamen-te não convenceram. A que se deve atribuir isso? É o que vamos tentar demonstrar. No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secun-dária e consecutiva; não constitui o ponto de partida. Este precisa-mente o erro em que caem muitos adeptos e que, amiúde, os leva

A necessidadedo

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70 | O grande portal da era nova

a insucesso com certas pessoas. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência da alma. Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido. Convencê-lo de que há nele alguma coisa que escapa às leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis espíRita, cuidai de torná-lo espiRituaLista. Mas, para tal, muito outra é a ordem de fatos a que se há de recorrer, muito especial o ensino cabível e que, por isso mesmo, precisa ser dado por outros pro-cessos. Falar-lhe dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, é começar por onde se deve acabar, porquanto não lhe será possível aceitar a conclusão, sem que admita as premis-sas. Antes, pois, de tentarmos convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos, cumpre nos certifiquemos de sua opinião relativa-mente à alma, isto é, cumpre verifiquemos se ele crê na existência da alma, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a morte. Se a resposta for negativa, falar-lhe dos Espíritos seria perder tempo. Eis aí a regra. 1

Emmanuel, Espírito, pela luminosa mediunidade de Francisco Cândido Xavier, ao escrever a abertura do livro LibeRtaçãO 2, di-tado por André Luiz, Espírito, nos relembra antiga lenda egípcia que bem caracteriza o grande esforço que é preciso fazer para se veicular a mensagem imortalista num mundo onde o imediatismo e consumismo ditam regras, e onde ninguém quer se mexer da zona de conforto em que se encontra.

Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristão e ao conhe-cimento salutar que André Luiz vai desvelando, recordamos praze-rosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho.

No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.

Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas,

1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Cap. III, ítem 19, p. 36

2 XAVIER, Francisco, C. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 7.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978, p. 7-11

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do outro lado, através de grade muito estreita.

Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de pei-xes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.

Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menospreza-do de todos.

Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.

Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.

O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou ator-mentado de fome.

Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.

Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.

Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encon-trou a grade do escoadouro.

A frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, re-fletiu consigo:

— “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros ru-mos?”

Optou pela mudança.

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Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.

Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança ...

Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.

Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.

Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, em-barcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.

Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, ja-mais perdendo a leveza e a agilidade naturais.

Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.

De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproxi-mou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.

Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.

O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.

Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida.

Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas mó-

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veis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.

Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que ele-gera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.

O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar--se à obra do progresso e salvação deles.

Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? Não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?

Não hesitou.

Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.

Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se en-caminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.

Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.

Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a co-letividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.

Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saiam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.

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Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.

Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e co-municou-lhe a reveladora aventura.

O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.

O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo liquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobra-vam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente.

Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.

Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.

Ninguém acreditou nele.

Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oce-anos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os

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olhos voltados para eles unicamente.

O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, ten-tando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:

— “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barba-tanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-es-tar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa! ...”

Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguar-dando o tempo.

Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.

As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...

A Mensagem Espírita nos faz bem? Agradeçamos àquele que se fez nosso benfeitor em dada ocasião, que nos presenteou com a oportunidade de conhecermos a Doutrina Espírita.

Agora queremos que outros tantos aceitem também esse con-vite, o que é louvável.

Mas não nos enganemos imaginando que o pretendido en-gajamento das pessoas no estudo se faça sem maiores óbices. Entre outros, há o obstáculo da falta de hábito de leitura periódi-ca, quanto mais de leitura sadia e edificante. Há o empecilho da pouca vontade de estudar com dedicação para se aprender de fato alguma coisa, faltando autodeterminação; também há o fato de que na nossa formação escolar assimilamos equivocadamente que estudo é para quando estamos em banco escolar e, ainda pior, somente para se conseguir aprovação (alcançar nota média suficiente) em cada prova e no final de cada ano, sabendo-se ou não efetivamente a matéria; acrescente-se preconceitos religio-

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sos, e por aí vai.

Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; senão houver folhas, valeu a intenção da semente, escreveu Henfil.

Como semeadores da Boa Nova e caminheiros da Era Nova, nos resguardemos nos ensinos de Jesus, ministrados ontem com validade para todo o sempre:

Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.

E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram.

E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda.

Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, se-cou-se.

E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufoca-ram e não deu fruto.

E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem.

E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 3

Já nos foi dito pelas Vozes dos Céus, em 1857:

Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignifican-tes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fa-zem esforços!” 4

Em realidade, somos fracos de vontade, não de inteligência.

3 Marcos (4:3 a 9)

4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Perg. 909, p. 418

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Estamos informados de tantas coisas na vida que são boas, sau-dáveis, importantes e necessárias. As aceitamos, nelas reconhe-cemos tais qualidades, mas não as adotamos, não as praticamos, não fazemos como deveria ser. Entre o saber e o fazer, a vontade é a determinante que faz a diferença!

Despertar esse interesse é desafio urgente. Programas de es-tudos bem elaborados, com temas bem escolhidos e apropriada-mente ordenados entre si, apresentados de maneira eficaz, em reuniões bem preparadas e bem conduzidas, com sincero empe-nho em se conquistar cada um dos participantes para os caminhos de Jesus, com dedicação, entusiasmo e oferta de amizade sincera, são fatores que muito auxiliarão tal intento.

Sobre a necessidade de estudo e, especialmente, de estudo da Doutrina Espírita, abaixo destacamos várias citações de Allan Kardec constantes em O Livro dos Espíritos, como maior funda-mentação ainda para nosso convencimento:

Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. 5

*

O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. 6

*

[...] A verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíri-tos deram, e os conhecimentos que esse ensino comporta são por demais profundos e extensos para serem adquiridos de qualquer modo, que não por um estudo perseverante, feito no silêncio e no

5 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Introdução, item VIII, p. 31

6 Id.

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recolhimento. 7

*

[...] Nunca, porém, dissemos que esta ciência fosse fácil, nem que se pudesse aprendê-la brincando, o que, aliás, não é possí-vel, qualquer que seja a ciência. Jamais teremos repetido bastante que ela demanda estudo assíduo e por vezes muito prolongado. 8

*

[...] Por isso é que dizemos que estes estudos requerem aten-ção demorada, observação profunda e, sobretudo, como, aliás, o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança. Anos são precisos para forma-se um médico medíocre e três quar-tas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como preten-der-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo. 9

7 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Introdução, item XVII, p. 46

8 Ibid. Item XII, p. 38

9 Ibid. Item XIII, p. 38-39

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Espiritismo e oCentro Espírita

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

parte 4

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Num templo espírita-cristão, é razoável anotar que todo trabalho á ação de

conjunto.Cada companheiro é indicado à tarefa

precisa; cada qual assume a feição de peça particular na engrenagem do serviço, sem

cuja cooperação os mecanismos do bem não funcionam em harmonia.

Emmanuel

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OCentro

10

A nossa jornada de redenção e crescimento espiritual, enrique-cida e apoiada pelo conhecimento espírita, se abrigadados

em um Centro Espírita, tende a ser muito mais segura e exitosa.

E como bem entender o que seja um Centro Espírita e seus pro-pósitos?

No dizer de Allan Kardec: Se um nome é necessário, inscreve-remos em seu frontispício: Escola do Espiritismo Moral e Filosófico, e para ela convidaremos todos quantos têm necessidade de espe-ranças e de consolações. 1

Já o venerando Espírito Bezerra de Menezes nos ensina: Cen-tro Espírita é o educandário básico da mente popular.

Enquanto Emmanuel define: “Um Centro Espírita é uma escola

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. In: Revista espírita: jornal de estudos psicológi-cos, ano 4, p.8, jan. 1861. Trad. Julio Abreu Filho. 1 ed, São Paulo: Edicel.

Espírita

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onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eter-na.” 2

O Centro Espírita é uma célula viva e pulsante onde se forjam caracteres, sob a ação enérgica do bem e do conhecimento 3, es-creve-nos João Cléofas.

E os seus propósitos?

Sobre isso, eis lição dada pelo Benfeitor Espiritual Bezerra de Menezes: Compreendamos que o Evangelho veio até nós para que o Cristo restaurasse entre os homens, por nosso intermédio, o primado da Verdade e uma Nova Era se estabelecesse entre as criaturas da Terra. 4

E ainda sobre o Centro Espírita, assim se posiciona Vianna de Carvalho: Destinado aos infelizes, estes não são apenas os que sofrem as dificuldades econômicas e que são conhecidos como constituintes das classes humildes. A dor não se limita a questões de circunstância, tempo e lugar. 5

Na revista Presença Espírita de setembro/outubro de 2006 6, colhemos algumas das citações que abaixo transcrevemos, pela sua oportunidade:

Como toda organização que se preza, um Centro Espírita apresenta-se estruturado conforme seus valores fundamentais e operacionais e adota missão muito especial, guardada a sua es-

2 XAVIER, Francisco C. O centro espírita, In: Revista O Reformador. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, janeiro de 1951

3 FRANCO. Divaldo P. CHRISPINO, Álvaro (Organizador). Aos espíritas. Coletânea. Salvador, BA: Leal, 2005, p. 97

4 ________. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 82

5 ________. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salvador, BA: Leal, 1979, p. 96

6 Revista Presença Espírita, tendo como sua mantenedora a Mansão do Caminho, foi fundada por Divaldo Pereira Franco e Nilson Pereira, lançada em 20 de fevereiro de 1974. Periódico que tem primado por levar informação útil, de forma agradável. (N.A)

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pecificidade de unidade fundamental do Movimento Espírita, local voltado à convergência e convivência de pessoas interessadas no conhecimento e prática vivencial do Espiritismo, desempenhando papel primordial na tarefa de divulgação doutrinária.

• São núcleos de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho praticados dentro dos princípios espíritas;

• São escolas de formação espiritual e moral, que trabalham à luz da Doutrina Espírita;

• São postos de atendimento fraternal para todos os que os procuram com o propósito de obter orientação, esclarecimento, ajuda ou consolação;

• São oficinas de trabalho que proporcionam aos seus fre-quentadores oportunidades de exercitarem o próprio aprimora-mento íntimo pela prática do Evangelho em suas atividades;

• São casas onde as crianças, os jovens, os adultos e os ido-sos têm oportunidade de conviver, estudar e trabalhar, unindo a família sob a orientação do Espiritismo;

• São recantos de paz construtiva, que oferecem aos seus frequentadores oportunidades para o refazimento espiritual e a união fraternal pela prática do “amai-vos uns aos outros”;

• São núcleos que se caracterizam pela simplicidade pró-pria das primeiras casas do Cristianismo nascente, pela prática da caridade;

• São unidades fundamentais do Movimento Espírita.

[...]

A sua base de sustentação é a Doutrina Espírita, conforme co-dificada por Allan Kardec. Os pilares que estruturam suas ações são o trabalho, a solidariedade e a tolerância. E o teto que abriga toda a obra é o amor fraternal em ação permanente, ou seja, a prática da caridade, sem a qual não há como se cogitar de cons-trução da felicidade possível na Terra.

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[...]

Quem busca um Centro Espírita, o faz para aproximar-se do conhecimento espírita e suas práticas, ou o faz pelo peso de seus problemas ainda sem solução e suas dores sem lenitivos, ou, ain-da, mesmo que em menor número, por simples curiosidade. 7

Recordar sempre que os que se achegam ao Centro Espírita não são espíritas ainda, e talvez nem venham a se tornar espíritas. O acolhimento, o atendimento e o encaminhamento dessas pes-soas deve se dar com esse entendimento, cabendo-nos dispen-sar-lhes o melhor de nós e o máximo da Doutrina Espírita. E os que fiquem e os que já estão ali, recebam a devida guarida, para que assim permaneçam.

Os Centros Espíritas têm por objetivo promover o estudo, a di-fusão e a prática da Doutrina Espírita, atendendo as pessoas que:

• Buscam esclarecimento, orientação e amparo para seus problemas;

• Querem conhecer e estudar a Doutrina Espírita;

• Querem trabalhar, colaborar e servir em qualquer área de ação que a prática espírita oferece.

[...]

Quando alguém se dispõe a buscar um Centro Espírita é opção das mais felizes que toma. Oportunidade de encontrar-se com a mensagem de Jesus, despida de formalidades e outros aspectos exteriores, direta, clara e inteligível, para que alcance seu íntimo, visite seu coração e ali faça morada definitiva e duradoura, pas-sando a nortear sua jornada de redenção pessoal.

[...]

E o Centro Espírita precisa ser aquele local no qual o cami-nhante encontre um grupo de almas em que haja ressonância com

7 SILVA, Silmar O. Revista Presença Espírita. Salvador, BA: Leal, setembro/outubro de 2006

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as suas disposições nascentes de crescer em humildade e em fra-ternidade, de lutar pela construção de um mundo melhor a partir da melhoria efetiva do homem, que possa abrigar com mais jus-tiça, com mais amor, com mais caridade, os seus afetos e os seus irmãos de Humanidade, já num futuro que não esteja tão distante.

[...]

Chegará o dia em que o Senhor da Vida nos cobrará presta-ção de contas da administração que dispensamos aos valores di-vinos que nos foram confiados, tais quais os talentos da parábola, que deveriam ser multiplicados e distribuídos a cada um que se aproximasse do nosso Centro Espírita. 8

É momento de respondermos a Jesus, pois temos material sufi-ciente para deliberação pessoal:

Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no um-bral de todos os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que buscais?” 9

8 Id.

9 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, p. 60

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Um Centro Espírita é uma escola onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem

e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eterna.

Emmanuel

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Centro Espírita:Unidade Fundamental

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AtividadeFoco de

ColetivaNosso objetivo é de estabelecer um primeiro laço entre os Espí-

ritas, que o desejam há muito tempo e lamentam de seu isola-mento. Ora, esse laço, sem o qual o Espiritismo, permanecendo no estado de opinião individual, sem coesão, não pode existir senão com a condição de se ligar a um centro por uma comunidade de vistas e de princípios. Esse centro não é uma individualidade, mas um foco de atividade coletiva, agindo no interesse geral, e onde a autoridade pessoal se apaga. 1

Sim, é Allan Kardec falando da necessidade dos Centros Espí-

1 KARDEC, Allan. Constituição provisória do Espiritismo. In: Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 11, p.26, dez. 1868. Trad. Julio Abreu Filho. 1 ed, São Paulo: Edicel.

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ritas existirem.

E é Allan Kardec, em o Livro dos Médiuns, item 331, quando trata das reuniões mediúnicas, que nos ensina: uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for.

Parafraseando-o, podemos afirmar com segurança o mesmo quanto a um Centro Espírita: Centro Espírita é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for.

Por mais atividades que realize, por maior que seja sua estrutu-ra organizacional, o Centro Espírita deve ser visto e administrado como um todo, qual engrenagens de um relógio em funcionamen-to harmônico e sempre pontual, unificadas pelo mesmo ideal e propósitos, atuando em uníssono, em comunidade de vistas e de princípios.

Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos pro-pósitos. Distanciados entre nós, continuaremos à procurado traba-lho com que já nos encontramos honrados pela Divina Providên-cia. 2

Estamos por aprender a viver em comunidade e o Centro Espí-rita é excelente escola também para essa lição. No entanto, saber viver a vida harmoniosa em comunidade é conquista do espírito.

Em cada templo, o mais forte deve ser escudo para o mais fra-co, o mais esclarecido a luz para o menos esclarecido, e sempre seja o sofredor o mais protegido e o mais auxiliado, como entre os que menos sofram seja o maior aquele que se fizer o servidor de

2 XAVIER, Francisco C. Mensagem de união. In: Reformador. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: FEB, novembro/dezembro de 1980

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todos, conforme a observação do Mentor Divino. 3

Recordemos Allan Kardec ao tratar da vida em comunidade:

A comunidade é a abnegação mais completa da personalida-de. Cada um devendo dar de si pessoalmente, ela requer o mais absoluto devotamento. Ora, o móvel da abnegação e do devo-tamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo. Mas reconhe-cemos que o fundamento da caridade é a crença; que a falta de crença conduz ao materialismo e o materialismo leva ao egoísmo. [...] Mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta; é preciso que esteja no coração ...

[...]

Antes de fazer a coisa para os homens, é preciso formar os homens para a coisa, como se formam operários, antes de lhes confiar um trabalho. Antes de construir, é preciso assegurar-se da solidez dos materiais. Aqui os materiais sólidos são os homens de coração, de devotamento e de abnegação.

[...]

Sem a caridade, não há instituição humana estável; e não pode haver caridade nem fraternidade possíveis, na verdadeira acepção da palavra, sem a crença. Aplicai-vos, pois a desenvol-ver esses sentimentos que, engrandecendo-se, destruirão o ego-ísmo que vos mata. Quando a caridade tiver penetrado as mas-sas, quando se tiver transformado na fé, na religião da maioria, então vossas instituições se tornarão melhores pela força mesma das coisas; os abusos, oriundos do personalismo, desaparecerão. Ensinai, pois, a caridade e, sobretudo, pregai pelo exemplo: é a âncora de salvação da sociedade. Só ela pode realizar o reino do bem na Terra, que é o reino de Deus; sem ela, o que quer que façais, só criareis utopias, das quais só vos resultarão decepções.

[...]

3 XAVIER, Francisco C. Unificação. In: Reformador. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: FEB, dezembro de 1975

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Assim, pela força das coisas, o Espiritismo terá por consequên-cia inevitável a melhoria moral; esta melhoria conduzirá à prática da caridade, e da caridade nascerá o sentimento da fraternidade. Quando os homens estiverem imbuídos dessas ideias, a elas con-formarão suas instituições, e será assim que realizarão, natural-mente e sem abalos, todas as reformas desejáveis. 4

Envidar todos os esforços para que não se formem grupos den-tro do grupo, pois isso será sinal de perda de unidade. Mais dia menos dia, caso isso aconteça, tomará ares de disputa interna, de desagregação, o que traz o risco de solução de continuidade para as atividades, no geral.

Enquanto ainda é tempo, revesti-vos, pois, da túnica branca: sufocai todas as discórdias, pois que as discórdias pertencem ao reino do mal, que vai ter fim. Que vos possais confundir todos numa mesma família e vos dar, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos. Se, entre vós, houver dissidên-cias, causas de antagonismo; se os grupos, que devem todos mar-char para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem vacilar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humil-dade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre em erro, ainda que coberto de algum tipo de razão, porquanto Deus maldiz a quem diz a seu irmão: Raca. Os grupos são indivíduos coleti-vos que devem viver em paz, como os indivíduos, se, realmente, são espíritas; são os batalhões da grande falange. Ora, em que se tornaria uma falange, cujos batalhões se dividissem? Os que vissem os outros com olhos ciumentos provariam, só por isso, que estão sob má influência, desde que o Espírito do bem não pode produzir o mal. Como bem o sabeis, reconhece-se a árvore pelos seus frutos. Ora, o fruto do orgulho, da inveja e do ciúme é um fruto envenenado que mata quem dele se nutre.

O que digo das dissidências entre os grupos, digo-o igualmen-te para as que pudessem existir entre os indivíduos. Em semelhante

4 KARDEC, Allan. Viagem espírita 1862. Rio de Janeiro: FEB, p. 26-32

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circunstância, a opinião de pessoas imparciais é sempre favorá-vel àquele que dá provas de maior grandeza e generosidade. Aqui na Terra, onde ninguém é infalível, a indulgência recíproca é uma consequência do princípio de caridade que nos leva a agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem para conosco. Ora, sem indulgência não há caridade, sem caridade não há verdadeiro espírita. A moderação é um dos sinais carac-terísticos desse sentimento, como a acrimônia, como o rancor é a sua negação; com acrimônia e espírito vingativo estragam-se as melhores causas, mas com moderação sempre agimos dentro dos preceitos do bom direito. Se, pois, eu tivesse de opinar em uma divergência, eu me preocuparia menos com a causa e mais com a consequência. A causa, sobretudo em querelas de palavras, pode ser o resultado de um primeiro movimento, de que nem sempre se é senhor; a conduta ulterior dos dois adversários é o resultado da reflexão: eles agem de sangue frio e é então que se forja o verdadeiro caráter normal de cada um. Uma cabeça ruim e um bom coração muitas vezes caminham juntos, mas rancor e bom coração são incompatíveis. Minha medida de apreciação seria, pois, a caridade, isto é, eu observaria aquele que falasse menos mal de seu adversário, que fosse mais moderado em suas recrimi-nações. É com esta medida que Deus nos julgará, pois que Ele será indulgente para quem tiver sido indulgente e inflexível para quem tiver sido inflexível.

O caminho traçado pela caridade é claro, infalível e sem equí-vocos. Poder-se-ia defini-lo assim: “Sentimento de benevolência, de justiça e de indulgência para com o próximo, baseado no que quereríamos que o próximo nos fizesse.” Tomando-a por guia, po-demos estar certos de não nos afastar do reto caminho, daquele que conduz a Deus; quem quer que deseje, de maneira sincera e séria, trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a carida-de em seus mais minuciosos detalhes e por ela conformar sua con-duta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, peque-nas ou grandes. Quando estivermos em dúvida sobre que partido tomar, no interesse alheio, basta que interroguemos a caridade e ela responderá sempre de maneira justa. Infelizmente escutamos,

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na maioria das vezes, a voz do egoísmo. 5

E assim continua o preclaro Codificador:

Mas este não é o único escolho. Eu disse que os adversários têm uma outra tática para alcançar seus fins: semear a desunião entre os adeptos, atiçando o fogo das pequenas paixões, dos ciúmes e dos rancores; fazendo nascer cismas; suscitando causas de anta-gonismo e de rivalidade entre os grupos, a fim de fragmentá-los. E não creiais que sejam os inimigos confessos que agirão assim; estes se resguardarão! São os pretensos amigos da Doutrina e, muitas vezes, os aparentemente mais calorosos; muitas vezes mes-mo, com habilidade, farão que amigos verdadeiros, mas fracos, tirem castanhas do fogo com as próprias mãos, amigos que eles ludibriaram e que agirão de boa-fé e sem desconfiança. Lembrai--vos de que a luta não acabou e que o inimigo está ainda à vossa porta; permanecei alerta, a fim de que ele não vos pegue em falta. Em caso de incerteza, tendes um farol que não vos pode enganar: a caridade, que nunca é equívoca. Considerai, pois, como sendo de origem suspeita todo conselho, toda insinuação que tendesse a semear entre vós os germes da discórdia, e a vos desviar do reto caminho que vos ensina a caridade em tudo e por todos. 6

Os causadores desses antagonismos, os contendores, são tam-bém retratados pelo Espírito Camilo:

Avaliamos, contudo, que os contendores, estão, quase sempre, defendendo cores e ideias pessoais que, comumente, retratam de-sajustes emocionais, anseio de domínio ou neuroses várias con-substanciadas em teimosia injustificada, detendo-se em pontos de vistas ou achismos inconvenientes ou caprichosos. 7

Nosso esforço, nosso empenho devidos são lembrados por Be-zerra de Menezes, Espírito:

5 KARDEC, Allan. Viagem espírita 1862. Rio de Janeiro: FEB, p. 31-32

6 Ibid. p. 34

7 TEIXEIRA, Raul T. Cintilação das estrelas. Pelo Espírito Camilo. Niterói, RJ: Frater, 1992, p. 29

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O Espírita Cristão é chamado aos problemas do mundo, a fim de ajudar-lhes a solução; contudo, para atender em semelhante mister, há que silenciar discórdia e censura e alongar entendimen-to e serviços. 8

Sendo devido aos trabalhadores e gestores do Centro Espírita administrar suas áreas de atividades dando-lhes coesão, unifica-das pelo mesmo ideal e propósitos, atuando em uníssono, em co-munidade de vistas e de princípios, por que com a área de estudos doutrinários em seu arraial haveria de ser diferente?

“O Espírita, no conjunto de realizações espíritas, é uma engre-nagem inteligente com o dever de funcionar em sintonia com os elevados objetivos da máquina.” 9

“Cada companheiro é indicado à tarefa precisa; cada qual assume a feição de peça particular na engrenagem do serviço, sem cuja cooperação os mecanismos do bem não funcionam em harmonia.” 10

Em nosso Centro Espírita, pensemos no estudo do Espiritismo como um conjunto de ações reunidas numa unidade indivisível, sendo tratado e trabalhado de modo unificado em relação à Insti-tuição como um todo, nas várias faixas etárias. Divisível em grupos próprios com suas especificidades para facilitar o ensino, mas não dissociável de um mesmo objetivo, fora do conjunto e do contexto pretendido.

Grupos independentes, mas não autônomos, isolados ou alheios ao conjunto. Programas de estudos próprios, porém não apartados de uma interdependências entre os demais programas de estudos.

“Se tua mente pode librar no voo mais alto, não te esque-

8 XAVIER, Francisco C. VIEIRA, Waldo. O espírito da verdade. Por Diversos Espíritos. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961, p. 19

9 XAVIER, Francisco C. Educandário de luz. Pelo Espírito Emmanuel. São Paulo, SP: Ideal, 1984, p. 44

10 Ibid. p. 22

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ças dos que ficaram no ninho onde nasceste e onde estiveste longo tempo, completando a plumagem.” 11

11 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, p 118

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DoutrináriosEstudos

Visão esquemática dasatividades de

A visão de Centro Espírita como ser coletivo – e adoção desse modelo, que deve ser realidade funcional desde o seu nas-

cimento, em nome da saúde e sobrevivência da Instituição – uni-ficado pelo mesmo ideal e propósitos, atuando em uníssono, em comunidade de vistas e de princípios, com harmoniosa interação entre seus membros (pessoas, grupos de trabalho) -, deve refle-tir também nos grupos de estudos e seus programas de estudos, que deverão estar em consonância entre si, tanto quanto o que diz respeito ao conteúdo dos programas – distintos, apropriados aos níveis de conhecimento e faixas etárias, mas não dissociados do conjunto –, como quanto à qualidade dos mesmos e dos seus aplicadores.

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É preciso haver um encadeamento entre eles (programas de es-tudos), formando como que uma estrada pela qual os caminhantes possam trilhar de modo a irem sempre adiante e em ascendência, com cadência, com método, estando eles (os programas de es-tudos) inteligentemente estruturados, dispostos e adequadamente ordenados, de modo a permitirem abundante colheita de seus fru-tos do conhecimento, espontânea e naturalmente, com entusias-

mo, com alegria, com satisfação.

Toda caminhada tem um primeiro passo. A caminhada do conhecimento espírita, no Centro Espírita, tem início com a che-gada daquele que teve seu interesse despertado pelas razões já

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expostas e aqui repetidas: ele está buscando respostas para a vida, necessariamente não uma religião. Busca orientações, pre-cisa de consolo, obrigatoriamente não quer vínculos doutrinários. Daí a necessidade inicial de conquistá-lo com a mensagem que ele quer e precisa ouvir, de despertar-lhe interesses e vontade, de renovar-lhe convites para que se dê a oportunidade de conhecer a Mensagem Espírita com mais vagar, através de estudo continu-ado. Esses são objetivos irremovíveis das reuniões públicas de pa-lestras, também chamadas Palestras Públicas, pois essa é principal porta de entrada na Seara Espírita. Portanto, por simples dedução, concluímos que seus temas - nas Palestras Públicas - tenham pre-visão e abordagem visando não a doutrinação, mas o esclareci-mento que reconstrua a esperança, apresentando-se o Espiritismo como o Consolador, com enfoques que norteiem o ouvinte para uma vida melhor já no momento presente. Espiritismo é para hoje.

Como bem ensina Allan Kardec, antes de que o torneis espíRita, cuidai de torná-lo espiRituaLista.

enquantO as ObRas da COdifiCaçãO espíRita sãO O pORtaL de aCessO aO COnheCiMentO espíRita, O gRande pORtaL de entRada nO CentRO espíRita é a ReuniãO COstuMeiRaMente ChaMada de ReuniãO púbLiCa Ou de paLestRas púbLiCas. Aí está o marco zero da estrada do conhecimento espí-rita. Se tal encontro for bem preparado e as recomendações ali transmitidas encontrarem ressonância na intimidade de quem che-ga, diante de suas expectativas, anseios e necessidades, este se sentirá estimulado e se fará mais receptivo aos convites para novos encontros e mais dócil ao encaminhamento nos passos seguintes do conhecimento espírita, sugeridos em seu próprio benefício e pensados para ele. Tais passos, então, se darão com maior de-dicação pesoal, pois consentidos pela razão e pelos sentimentos.

O planejamento do programa de palestras públicas deve partir do entendimento que os que estarão assistindo-as, em sua maio-ria, não são espíritas, repetimos, e o programa precisa ser bem pensado, dando cadência e ordenamento dos temas, repassando informações com método e dinâmica, de modo a construir no pú-blico presente raciocínio e entendimento da visão espírita sobre os

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variados aspectos da vida. Isso no âmbito de uma única palestra assistida e ouvida, obviamente no limite do tema então apresen-tado, que deve ter começo, meio e fim. Porém, mais ainda, ao longo da sucessão das palestras, de modo que aqueles que re-tornem com maior frequência e assiduidade, sejam então também brindados com mais informações que lhes deem possibilidade de maiores ilações e conjecturas sobre as razões de viver, encontran-do estímulo renovador de esperanças.

Confúcio, em sua sabedoria, ensina-nos: Conte-me e eu es-queço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me e eu com-preendo.

Percebe-se que tais palestras, individualmente, não têm o ca-ráter formativo, mas informativo, e guardam a primordial e sublime missão de conquistar almas, despertando-lhes o interesse, estimu-lando-as para o conhecimento mais demorado do Espiritismo, ao oferecer-lhes a oportunidade mais duradoura da linfa refrescante do consolo, da esperança, da orientação de novos rumos para uma vida melhor na Terra, a partir de hoje.

Os temas deverão ser variados e atuais, obviamente que abor-dados à luz do Espiritismo, enfocando, por exemplo, o indivíduo perante si próprio, perante a família, diante da sociedade e nas suas relações com Deus. Devem oferecer respostas à problemática humana. Abordá-los segundo o nível de conhecimento da maioria presente (que, em tese, pouco ou nada sabe da Doutrina Espírita) e buscar satisfazer suas expectativas imediatas e anseios futuros. Devem ser temas independentes – com começo, meio e fim em cada ocasião – mas não isolados e dissociados do conjunto dos demais temas.

A chamada Palestra Pública é sim uma reunião de estudos também, que conta com público específico e leva em conta a in-termitência na presença de uns e outros, e repassa-lhes informa-ções precisas como se o fosse pela última vez, mas convida-os e estimula-os sempre para que fiquem, e valoriza os que voltem e permaneçam, repassando-lhes mensagens que interagem umas

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com as outras, em sequência adequada e com método próprio, chamando-lhes a atenção, regularmente, para a lógica do enca-deamento dos temas.

Jamais dar conotação à reunião de Palestras Públicas, de reu-nião que simplesmente se propõe a entreter pessoas com informa-ções gerais, mesmo que úteis, por falsamente entender que, pro-vavelmente, os que ali vão não voltarão mais e já terão recebido então tudo o de que precisam, e que a atividade em si mesma não teria outra razão de existir a não ser de estar ela se repetindo periodicamente, em dia e hora estipulados.

Organizemos adequadamente tais atividades. Nas ações es-píritas não deve haver improviso.

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A comunidade é a abnegação mais completa da personalidade. Cada um devendo dar de si

pessoalmente, ela requer o mais absoluto devotamento. Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a

caridade, isto é, o amor ao próximo.

Allan Kardec

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O Portal de Entrada

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

parte 5

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Irmãos e irmãs, que foram felicitados com a luz do Espiritismo nas próprias vidas, urge o tempo, é hora de nos aplicarmos

ao estudo, a fim de que a alegria que já é sentida nos diversos afazeres, mesmo que

falte o necessário saber, possa ampliar-se ao infinito, com a consciência das suas razões, que o conhecimento das

arrebatadoras lições da Doutrina Espírita é capaz de proporcionar. Servidores atentos, que desejamos ser, dessa Mensagem que se faz manancial e farol, orientando e libertando, dirijamos a nossa visão e o

nosso entendimento para o seu conteúdo excelente.

Camilo

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spíritaCentroPalestras Públicas:o portal de entrada noE

E, agora sim e finalmente, chegando ao ponto inicial de nossa proposição, deve – a Reunião Pública ou de Palestras Públicas

– ter o papel fundamental de portal de entrada no Centro Espírita, marco inicial da estrada do conhecimento espírita conducente a Era Nova, que nos ensejará, aos que assim queiramos, novos pen-samentos, novos sentimentos e emoções harmoniosas, novo modo de viver.

É momento de reencontro com Jesus, que doce e meigamente vem convidar-nos:

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou man-so e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” 1

1 Mateus (11:29 e 30)

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E Ele dizia a todos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” 2

Se alguém quer...

Sim, ali estarão se reunindo, periodicamente, pessoas que es-peram ouvir outra vez o convite do Amigo Sublime.

Todo esforço e jeito para conquistar-lhes a volta e a permanên-cia, portanto. Estimular-lhes a leitura edificante e o envolvimento com estudos continuados das proposições espíritas para uma vida melhor na Terra, em grupos apropriadamente estruturados para eles.

Se algum deles quiser apenas e momentaneamente continuar vindo assistir somente as Palestras Públicas, ótimo. Como os temas são bem pensados e ordenados, essa pessoa terá a oportunidade de ir formando conhecimento espírita adequado ao longo do tem-po. Claro que não com a mesma produtividade conseguida num outro grupo de estudos particularmente preparado para esse fim. A Palestra Pública funciona como terapia ambulatorial, já o grupo de estudos é terapia por internação. Tende a ser mais eficiente.

Cada pessoa que venha a integrar-se num grupo de estudos continuado e ali permaneça, se terá alcançado mais um objetivo. Bom de todo modo, pois é o que desejamos.

Se alguém queira continuar vindo assistir as Palestras Públicas e engajar-se num outro grupo de estudos, logo adiante, melhor ainda.

Por conseguinte, visualiza-se a importância dos constantes convites feitos aos presentes, quando das atividades de palestras públicas, para que se permitam outra cadência nos estudos em suas vidas, que o Centro Espírita está a ofertar regularmente.

E aqui destacamos outro foco desse nosso arrazoado, o fato de que tais migrações, ingressos em novo grupo de estudos se dê dentro de um cronograma que permita ao grupo de estudos ao

2 Lucas (9:23)

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qual se encaminharia o interessado, recebê-lo em tempo certo, ou seja, sempre no início de um ciclo ou início do programa pla-neado, segundo um modelo com divisões, fases ou módulos, que também é nossa sugestão.

Ingressos de pessoas em grupos de estudos quando o mesmo já esteja em andamento e em certa altura do caminho, são impró-prios, por se fazerem improdutivos tanto para quem chega como para quem ali já esteja. O ideal será sempre o ingresso no começo do programa previsto. E é possível adequar sistematicamente a passagem entre os que venham das reuniões de Palestras Públicas para outro grupo de estudos, que chamemos aqui de grupo para iniciantes ou principiantes, e destes para os demais grupos de es-tudos no geral do Centro Espírita. Basta organização e método. Basta que os grupos de estudos organizem seus programas divi-dindo-lhes o conteúdo em módulos, aplicando-os em sequência prevista, e que, temporalmente, se ajustem e se sincronizem com os demais grupos e programas, de tal maneira que o final e o início de cada módulo ou ciclo coincidam entre si. Que o planejamento na elaboração e na aplicação dos programas se faça em número de reuniões, de aulas ou de encontros, distribuindo-os segundo o calendário, deixando sempre uma certa margem de flexibilidade em cada ciclo, a fim de se atender necessidades imprevistas que porventura se apresentem quando o mesmo já estiver em curso. Mas que tudo aconteça em conjunto entre todos os grupos de es-tudos do Centro Espírita, para se ter uma estrutura e uma grade de atividades em perfeita sincronia.

Durante o transcorrer de cada módulo ou ciclo, concomitan-temente estariam então acontecendo os convites estimuladores feitos nas reuniões públicas de palestras, para que, em data certa e sabida anteriormente, os novos interessados se juntassem aos demais, sempre partindo da fase inicial programada para ingresso dos novos frequentadores e em grupo específico.

Fixemo-nos, para efeito de detalhamento e raciocínio, aos gru-pos formados para os chamados iniciantes ou principiantes, já que o modelo serve (e deveria ser assim) para todos os grupos de es-

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tudos.

Preparemos um programa de estudos, com seus temas, com seu conteúdo programático, e organizemos sua subdivisão em ciclos ou módulos, dando-lhes estrutura e sequência condizentes em conteúdo e tempo. Por exemplo, hipoteticamente, o programa no seu todo seja planejado para trinta reuniões (ou aulas, como queiram), e o primeiro módulo fique com dez temas/reuniões, o segundo e o terceiro também com dez cada um.

No exemplo hipotético, o primeiro módulo ou ciclo, teria dez temas/reuniões, ou seja, sendo uma reunião por semana, teríamos dez semanas de duração. Após esse tempo, os membros desse grupo passam para o segundo módulo com seus dez temas/reuni-ões e depois ao terceiro.

Olhando a reunião pública de palestras como a grande porta de entrada, ali estariam os frequentadores estudando (segundo metodologia de palestra pública já abordada acima) ao longo dessas dez semanas ou menos, conforme o tempo de chegada de cada frequentador, e sendo estimulados ao engajamento no grupo de estudos para iniciantes ou grupo para estudos iniciais do Espiritismo, como queiramos chamá-lo.

Quando do reinício do primeiro módulo desse programa, os novos interessados estariam começando nesse módulo, sem o atrapalho de quererem estudar mais detalhadamente o Espiritismo e precisarem ingressar num grupo já a meio caminho na aplicação do seu programa de estudos. O mesmo se dando para os módu-los seguintes. Todos ordenadamente ajustados. Satisfatoriamente cumprindo seus propósitos. Apropriadamente disseminando o en-sino espírita.

Claro que sim, e você conclui bem, é necessário, em termos de espaço físico, uma sala para as palestras públicas e, no mesmo dia ou não, em horário concomitante ou não, outra sala (ou a mes-ma sala, conforme horário diferenciado) para o chamado primeiro módulo, depois, vencidas as dez semanas (em nosso hipotético exemplo), mais uma sala para o grupo no segundo módulo, além

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da sala para o primeiro módulo, e depois outra para o terceiro módulo, funcionando com as duas outras dos outros módulos. Ob-servemos que a lógica nos diz que podemos ter uma única sala disponível, e com ajuste de horários e de dias, conciliarmos as reu-niões de palestras públicas e tais grupos de estudos e as demais atividades do Centro Espírita. Raciocinemos aqui de acordo, sim, com o espaço físico do Centro Espírita e os dias da semana. Não é obrigatório que tudo aconteça num mesmo dia e horário.

E, nesse sistema, a cada dez semanas (tempo hipotético), com os convites-encaminhamentos feitos nas reuniões públicas de pa-lestras, inicia-se um novo grupo para o primeiro módulo do pro-grama, cujos membros que até então dele participavam, irão para o módulo seguinte. E assim sucessiva e ciclicamente.

Cada grupo, após passar pelos três módulos (número de nosso exemplo hipotético), seguirá pela estrada do conhecimento aberta pelo Centro Espírita, ingressando em outro grupo de estudos, tam-bém pensado previamente para recebê-lo, obedecendo a uma adequada cadência de ensino, cujo programa, por ser passo se-guinte da jornada do conhecimento, será elaborado levando-se em conta o que foi estudado no programa anterior, para que haja sequência e crescimento no aprendizado, de forma sustentada. Esse grupo sequencial estará com seu programa também estru-turado modularmente. E assim entre todos os programas e grupos de estudos, demarcando com exatidão o caminho que pode ser trilhado.

Isso não engessará a área de estudos do Centro Espírita?

Não, não engessará. Ordenará.

Esse modelo dá mais flexibilidade na coordenação de cada grupo e dos grupos no geral, e maior dinâmica na gestão das pes-soas.

Nada obsta a que o Centro Espírita, em havendo interessados e aplicadores, promova programas ou cursos com temas e objeti-vos específicos, independentemente da estrutura e grade regular

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dos seus estudos continuados.

Tenhamos em mente que o conhecimento espírita começará para nós quando nos propusermos a conhecê-lo, mas não tem fim definido.

Não importa a quantidade do que se quer passar de informa-ção, de conhecimento. Importa de como se organiza esse ensino para que se tenha a devida qualidade e eficiência. Ou seja, qua-lidade e não quantidade.

Não guardemos a pretensão de querer sempre esgotar um de-terminado assunto num único encontro ou aula. Necessariamente isso não se dará e insistir nessa intenção tornará o momento impro-dutivo. É melhor que os membros do grupo fiquem com o gosto de “quero mais” do que com a sensação de que “não aguento mais”.

Acompanhemos o racioncínio de Vianna de Carvalho, Espírito:

Todavia, para que o adepto do Espiritismo se integre realmente no espírito da Doutrina, exige-se-lhe aprofundamento intelectual no conteúdo da informação espírita de modo a poder corporificá--la conscientemente no comportamento moral e social, na jornada diária.

[...]

Religião da ciência, como ciência da filosofia, é ao mesmo tempo a filosofia da religião e sua ética não se estratifica na mora-lidade das convenções transitórias nem se resume a dogmas aten-tatórios à razão.

[...]

E, por essa razão, maior deve ser o nosso empenho na sadia divulgação dos postulados espíritas, lavrados no estudo sistemá-tico e constante do contexto doutrinário, para que o medicamento com que pretendemos amenizar ou erradicar os males morais da sociedade hodierna, não venha a produzir maiores danos como resultado da sua má dosagem e aplicação.

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[...]

Respeitando e considerando todas as formas de divulgação, não nos podemos furtar à conclusão de que a quantidade tem re-cebido maior valorização do que a qualidade que deve manter o caráter específico de pureza que não podemos subestimar.

O movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Es-pírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados, ressalvadas as excelentes e incontáveis exceções.

O que possa lucrar pela quantidade, pode redundar em preju-ízo na qualidade.

[...]

O Espiritismo é Doutrina de otimismo, de educação integral, de higiene mental e moral. É o retorno do Cristo ao atormentado homem do século ciclópico da Tecnologia, através dos Seus emis-sários, renovando a Terra e multiplicando a esperança e a paz nas mentes e nos corações que Lhe permanecem fiéis.

[...]

Destinado aos infelizes, estes não são apenas os que sofrem as dificuldades econômicas e que são conhecidos como constituintes das classes humildes. A dor não se limita a questões de circunstân-cias, tempo e lugar. Dessa maneira não prescreve a ignorância, mas proscreve-a.

Impostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós, desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec, a fim de que o Consolador de que se faz instrumento não apenas enxu-gue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar nas fontes do sofrimento as causas de todas as aflições que produzem as lá-grimas e os suores. 3

3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 92-96

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Recordemos o que nos diz o Espírito Benfeitor, Camilo: Espiri-tismo é como um gigantesco oceano do qual estamos nas praias, apenas ...

E se não houver interessados num dado momento de maneira a que não se forme grupo para o primeiro módulo? Sem problemas, ele iniciará quando tenha público. O planejamento desse sistema, que chamemos Sistema Modular, está em função de número de temas/reuniões e não do calendário anual propriamente. Uma vez iniciado um grupo, o advento dos módulos seguintes é consequên-cia natural. O Centro Espírita é que tem que se adequar no tempo e no espaço para cumprir seus propósitos e não as pessoas que dele se aproximem a fim de ali conseguirem a água que desse-denta para sempre.

A disseminação da Mensagem Espírita, a distribuição do Con-solo e o fornecimento de nutrientes para alimentar a esperança, não podem ficar restritas a determinados meses do ano, apenas, fechando-se as portas em certas épocas, como se a necessidade também tirasse férias. Claro que num modelo organizacional não se despreza a visão de conjunto das disponibilidades dos recursos requeridos para um bom planejamento, onde se contemple par-ticularidades e peculiaridades de cada Centro Espírita, de cada cidade, de cada região. Mas a assistência precisa ser contínua, ininterrupta. Adaptada sim ao contexto próprio, mas não ausente.

Óbvio que a implantação desse sistema exige uma readequa-ção geral dos programas e grupos de estudos do Centro Espírita, do seu espaço físico e do seu número de dias da semana em que sejam abertas suas portas ao público. E por que não nos aprovei-tarmos da oportunidade e repensarmos todos os programas de estudos do Centro Espírita sob um novo prisma?

Falemos agora um pouco sobre a arte de pensar já que preci-samos pensar programas de estudos.

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Do conhecido para o desconhecido

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

parte 6

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Não pode haver maior júbilo para os seres do que honra de poder saber, por meio da aprendizagem oportuna, ivendo melhor,

cooperando melhor com a Divindade.

Camilo

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ensarPA arte de

Não temos nenhuma pretensão de originalidade. Praticamente todas as noções aqui apresentadas no intuito de melhor ad-

ministrar os recursos intelectuais, foram extraídas do livro a aRte de pensaR, de Pascal Ide (Livraria Martins Fontes. 2.ed, São Pau-lo), o qual, por sua vez, lembra-nos que este mesmo assunto foi profundamente examinado por um dos maiores filósofos gregos, Aristóteles. Nesse mesmo sentido, veremos que Allan Kardec traz, em essência, a mesma proposição Aristotélica. Mais uma razão para nos determos no tema intitulado a aRte de pensaR, como fun-damentação estrutural para se alcançar o conhecimento ou para se repassar conhecimento.

Acompanhemos Allan Kardec a respeito:

Vejamos, então, de que maneira será melhor se ministre o en-sino da Doutrina Espírita, para levar com mais segurança à con-vicção. Não se espantem os adeptos com esta palavra — ensino. Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aque-le que procura persuadir a outro, seja pelo processo das expli-cações, seja pelo das experiências. O que desejamos é que seu

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esforço produza frutos e é por isto que julgamos de nosso dever dar alguns conselhos, de que poderão igualmente aproveitar os que queiram instruir-se por si mesmos. Uns e outros, seguindo-os, acharão meio de chegar com mais segurança e presteza ao fim visado.

[...]

No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secundária e conse-cutiva; não constitui o ponto de partida. Este precisamente o erro em que caem muitos adeptos e que, amiúde, os leva a insucesso com certas pessoas. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência da alma.

[...]

tOdO ensinO MetódiCO teM que paRtiR dO COnheCidO paRa O desCO-nheCidO. Ora, para o materialista, o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e tratai, antes de tudo, fazendo que ele a obser-ve, de convencê-lo de que há nele alguma coisa que escapa às leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis espíRita, cui-dai de torná-lo espiRituaLista. Mas, para tal, muito outra é a ordem de fatos a que se há de recorrer, muito especial o ensino cabível e que, por isso mesmo, precisa ser dado por outros processos. Falar--lhe dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, é começar por onde se deve acabar, porquanto não lhe será possí-vel aceitar a conclusão, sem que admita as premissas. Antes, pois, de tentarmos convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos, cumpre nos certifiquemos de sua opinião relativamente à alma, isto é, cumpre verifiquemos se ele crê na existência da alma, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a mor-te. Se a resposta for negativa, falar-lhe dos Espíritos seria perder tempo. Eis aí a regra. Não dizemos que não comporte exceções. Neste caso, porém, haverá provavelmente outra causa que o tor-na menos refratário. 1 (Grifos nossos)

Em nosso educandário básico da mente popular, que é como o

1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. p. 36-37

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venerando Espírito Bezerra de Menezes conceitua Centro Espírita, trabalhemos para formar a convicção, a certeza, a fé verdadeira.

A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preci-so, sobretudo, compreender. [...] A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da in-credulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e in-teressada. 2

A Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis nos ensina:

O discernimento resulta do exercício da arte de pensar, que deve crescer de forma adequada, favorecendo o homem com a percepção do ser e do não-ser, do correto e do errado, do justo e do abominável.

Duas proposições surgem como metodologia correta para o desenvolvimento da razão, para o uso do discernimento: pensar sempre e o que se deve pensar. 3

Essas assertivas nos recomendam o exame das chamadas Leis dO pensaMentO, aqui tratadas, conduzindo o foco das abordagens para os nossos objetivos em pauta.

Vejamos.

2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 19, item 7, p. 302-303

3 FRANCO, Divaldo P. Momentos de consciência. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salva-dor, BA: Leal, 1992, p. 84-85

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LEIS DO PENSAMENTO

O pensamento é primeiramente receptivo, depois criativo ou produtivo; antes de produzir seu fruto, a árvore recebe a luz do sol e os sais minerais da terra. Precisamos, assim, alimentar o pensa-mento na sua fase receptiva, como se supre o solo com a semente desejada assim que esteja preparado, sabendo, também, que a inteligência tem três operações, que vão da mais simples a mais complexa: a apReensãO ou a ideia (quando trabalha as definições das coisas, quando trabalha “o que é a coisa”, o começo, o geral), O JuízO (quando busca enunciar o verdadeiro e o falso, trabalhando dois conceitos distintos, fazendo distinções) e O RaCiOCíniO (opera-ção utilizada para estabelecer o juízo, firmar conceitos, desenvol-ver a ideia).

Precisamos entender e respeitar essa dinâmica do pensamen-to, para que não esperemos colher frutos antes do tempo.

Vejamos mais alguns aspectos sobre o ponto destacado por Allan Kardec ao afirmar: tOdO ensinO MetódiCO teM que paRtiR dO CO-nheCidO paRa O desCOnheCidO.

pRiMeiRa Lei:pROCedeR dO COnheCidO aO desCOnheCidO

Não se entra em uma região desconhecida a não ser partindo de uma terra conhecida ( já que nela, então, nos encontramos). Na combinação dos dois pés para uma caminhada segura, um pé se levanta e vai em direção “ao seu desconhecido” enquanto sabe estar apoiado pelo outro pé que ficou suportando tudo porque se manteve “no seu conhecido” chão.

Avança-se então do conhecido onde estamos para o desco-nhecido no qual estaremos.

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Só poderemos consultar um livro de matemática se tivermos uma noção, ainda que confusa, do que é um número. Caso con-trário, nada tiraremos de proveito dali.

Sempre um passo de cada vez.

A inteligência apoia-se num conhecimento do qual ela tem certeza, cita Claude Bernard.

Como na construção de um edifício, um andar do prédio para ser levantado, precisa apoiar-se nas vigas do andar inferior.

Tomemos como exemplo (na verdade é um contraexemplo) um texto de um assunto supostamente desconhecido para nós. Leia-mos o começo deste artigo de linguística: “Entre os fenômenos de encadeamento transfrástico que asseguram a isotopia textu-al, conforme a regra de recorrência proposta pelos gramáticos do texto, a anáfora e a catáfora desempenham um papel preponde-rante.”

Outro exemplo: citamos um trechinho do discurso de Guima-rães Rosa quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras, com uma hora e meia de duração, em 16/11/1967:

“Nada desandava, entretanto, nem desconchavando mesmo a quem não afeito a esse ritmo e velocidade de espírito. Inteligência que ao auge resplêndida se exercia, quando no aperreio do ar-rocho e já a horas de estalar, sem beirada o prazo. Dele então se inesperava: faísca, a inédita ideia, terminante, ou a útil definição, saltada acima, brasa. Ainda mais se em contenda. Parece mesmo que, para com toda a eficácia fixar-se a escogitar coisa do cor-rer comum, primeiro carecesse ele de atribuir-lhe sentido adverso hostil, para acometida e de vencida.”

Límpidos e intelegíveis, não é mesmo?! Ora, se esses artigos são incompreensíveis, o que não é impossível, é simplesmente por-que não conseguimos ligá-los a noções já conhecidas. Se fosse de um tema que melhor o dominássemos, ou se nosso vocabulário fosse mais rico, não haveria surpresas.

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Ora, “o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão gran-de...” 4 exige metodologia própria, levando em consideração que, repetindo o que já citamos acima, os que adentram no Centro Espírita por primeira vez não são espíritas, desconhecem termos, ideias, princípios, máximas, leis morais da vida. De nada adian-tará, nesse primeiro momento, ofertarmos longos tratados sobre a formação do períspirito, suas propriedades e funções, quando o que a pessoa precisa de imediato é de respostas para os pro-blemas de sua vida, que a consolem e lhe deem esperança, esta já quase exaurida, na maioria dos casos. Ela quer nos ouvir re-petindo conselhos dos Benfeitores espirituais, e não saber os me-canismos da mediunidade que lhes propiciaram (aos Benfeitores) ditarem essa ou aquela página de aconselhamento, de ânimo e de coragem.

Hoje ela busca razões e estímulo para continuar vivendo. Hoje o “seu COnheCidO” são os problemas que sofre e o “seu desCOnheCi-dO” são o consolo e a esperança buscadas. Partindo “do conheci-do” (os problemas) e oferecendo-lhe o consolo e a esperança com a Mensagem Espírita (“o desconhecido”) estaremos beneficiando--a como a água beneficia a terra crestada pelo Sol.

Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.

Disse-lhe a mulher: SENHOR, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede. 5

Amanhã será outro dia, nova oportunidade para se dar mais um passo na estrada do conhecimento,

É preciso boa desenvoltura para orientar o pensamento de ma-neira adequada para se chegar a um resultado satisfatório, ou não nos faremos inteligíveis.

4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. p. 31

5 João (4:14 e 15)

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Partir do que é conhecido, do que é buscado pela pessoa ou grupo de pessoas em uma reunião de estudos, ou numa palestra, é a única ou, em todo caso, a melhor maneira de captar sua aten-ção.

Isso vale para a abordagem de um tema num dado momento, tanto quanto para um elenco de temas enfeixados num progra-ma de estudos. Ou seja, no nosso caso, um programa de estudos deve, segundo esta lei do pensamento, ser estruturado recorren-do-se a uma ordem muito apropriada dos assuntos ou temas e de suas abordagens, que venha ao encontro não só dos anseios e buscas do grupo, mas também do conhecimento que tenham até então a respeito dos assuntos a serem tratados.

Olhando-se para a elaboração de um programa de estudos inteiramente voltado para aqueles que estão iniciando o apren-dizado espírita, devemos nos atentar no fato de que tais pessoas não são espíritas e é preciso, “primeiro que o torneis espírita, cui-dai de torná-lo espiritualista antes de tudo”.

Em resumo, esse programa de estudos há que contemplar pri-mordialmente respostas iniciais para as buscas pessoais, para os anseios de cada um; há que levar em conta, repetimos, o conheci-mento geral dessas pessoas a respeito de cada tema em particu-lar; há que ordenar conteúdo e apresentação dos ensinos espíritas também partindo do conhecido para o desconhecido, do “Mais COnCRetO” ao “Mais abstRatO”.

Mas, como circunscrever o conhecido e o desconhecido, nesse caso, de modo geral, já que não se tem suficiente intimidade com cada membro do grupo de estudos que nos permita conhecê-los a tal ponto?

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segunda Lei:a inteLigênCia vai dO Mais univeRsaL aO Mais paRtiCuLaR

O nosso universo conhecido, o nosso mundo pessoal, está re-pleto de conhecimentos. Mas nem tudo conhecemos com deta-lhes particulares. Sabemos o que é uma lâmpada, para o que ela serve. Mas nem sempre sabemos sobre a sua constituição, seus componentes, seu funcionamento... e as vezes não sabemos nem como trocar uma lâmpada queimada por uma nova. Cada conhe-cimento a mais que venhamos tendo sobre a lâmpada, mais nosso “universo” inicial vai sendo detalhado, aprofundado, revelado, enfim, vai se particularizando. Paulatinamente nosso universo se expande, se enriquece, pois se particulariza. No entanto, obser-vemos que o conhecido num certo momento auxiliou na conquista do conhecimento acrescido, expandindo-o. Um dependeu do ou-tro.

O conhecido do qual parte o espírito é um mais universal (do mais geral) e o desconhecido ao qual ele chega é um mais par-ticular (mais específico). Assim se dá como numa escada quando subimos degrau a degrau.

A inteligência parte como se fosse do alto da montanha; de lá ela tem uma visão global do vale. Mas, se quiser conhecê-lo melhor, deverá descer e caminhar pelo vale, e assim sua visão se fará mais detalhada.

Exemplo do caminho: Você se encontra num longo caminho. De repente avista alguma coisa no fim desse caminho. Você diz: “É alguma coisa.” Depois, ao se aproximar, percebe que a coisa se move: “É um ser vivo.” Continuando a se aproximar, você se dá conta de que o ser vivo, e mais precisamente o animal (pois só o animal é capaz de se mover por si mesmo), é bípede e tem o andar de um homem: “É um homem.” E, ao se aproximar ainda mais, completando a precisão de seu conhecimento: “Ora vejam! É Sócrates!”

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À semelhança do sentido da visão, a inteligência passa do mais geral ao mais distinto, ao mais detalhado.

Todos nós temos como nosso universal, a nossa vida até então, tudo o que acumulamos de conquistas e de derrotas. E tem tantas coisas que precisamos particularizar, aprofundar, dando-lhe a de-vida atenção, não é mesmo?

Todos nós temos como nosso universal, a nossa vida até então, tudo o que acumulamos de conquistas e de derrotas. E tem tantas coisas que precisamos particularizar, aprofundar, dando-lhe a de-vida atenção, não é mesmo?

[..]. Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos con-tribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser perfeito, tem que saber tudo, e porque, cumprindo que o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desen-volvimento do Espírito. 6 (Grifos nossos)

teRCeiRa Lei:a inteLigênCia eM tRês atOs

Como anteriormente citado, a inteligência tem três operações, que vão da mais simples à mais complexa, que são assim classificadas, enquanto pensamento: a ideia Ou apReensãO (quando alcança as definições das coisas, quando alcança “o que é a coisa”), O JuízO (quando alcança enunciar o verdadeiro e o falso, trabalhando dois conceitos) e O RaCiOCíniO (operação utilizada para estabelecer o juízo). E: teRMO, pROpOsiçãO e aRguMentO, enquanto representação sensível, concreta, por sons orais ou por quaisquer outros símbolos representativos.

Com efeito, as duas questões da criança são: “O que é? Por

6 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Perg. 898, p. 414

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quê?” E todas as questões procedem dessas duas interrogações fundamentais. Ora, a primeira operação do espírito permite responder à primeira questão: “O que é uma perna? – É um órgão que permite andar.” E a segunda e a terceira operações respondem à segunda questão; a segunda operação (o juízo) une dois conceitos e coloca uma questão: “Mamãe, os barquinhos que andam na água têm pernas?”, e a terceira (o raciocínio) responde à questão: “Claro que sim, meu querido, se não tivessem, eles não andariam, só que a perna dos barquinhos são diferentes das pernas humanas”.

Ora, a arte de pensar se baseia na atividade da inteligência. Analisemos bem a arte em transmitir o ensinamento que pretendemos ministrar, levando em conta essas três grandes partes numa abordagem:

• a aRte da definiçãO (teRMO), pela qual aprendemos a dizer corretamente o que são as coisas (o que é uma perna);

• a aRte da enunCiaçãO (pROpOsiçãO), segundo a qual colocamos um problema, isto é, unimos ou separamos dois conceitos (barco e perna);

• enfim, a aRte da deMOnstRaçãO (aRguMentO), pela qual a razão resolve o problema ao determinar a causa da união dos dois conceitos (que é um terceiro conceito: o andar, esse conceito, aliás, foi fornecido pela definição).

Num primeiro momento pode nos parecer complicada e confusa essa classificação. Mas não é assim. Primeiro, considere que ela vem apresentada com caráter meramente didático, já que no nosso pensar cotidiano não nos apercebemos desses critérios em separado. No entanto, não podemos negar que, assim vistos em separado, nos damos conta que eles são acionados, que eles estão em atividade sim, e sempre. Talvez não saibamos utilizá-los bem.

Já não terá acontecido com você ouvir alguém ou ler um texto onde a não clareza de sua apresentação leva-nos a nada

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entender, quer pelas palavras (termos) inadequadas, ou pela desordem como foi apresentado (proposição) ou pelos fracos argumentos trabalhados (demonstração)?

O nosso pensar utiliza-se dessas leis. Quantos juízos sobre as mais variadas questões, não emitimos diariamente?

Vamos prosseguir.

Resumindo:

Primeira Segunda TerceiraAs operações da razão (psicologia)

Ideia, intuição ou abstração Juízo Raciocínio

Instrumentos da razão (lógica) Termo, definição Enunciação,

proposiçãoDemonstração, argumentação

A definiçãO é temporalmente o que vem em primeiro lugar. Evidentemente é preciso saber o que é uma coisa (o que depende da primeira operação) antes de poder afirmá-la em outro momento ou em outro contexto (o que depende da segunda operação do espírito).

No entanto a operação mais decisiva, final, é a segunda operação do espírito. Esta, portanto, é a primeira na ordem da perfeição. Com efeito, as duas outras lhe são subordinadas: ninguém fala com conceitos isolados, estes servem para formar JuízOs e os próprios RaCiOCíniOs servem para estabelecer esses enunciados. Além do mais, a meta da operação intelectual é o verdadeiro; ora, é o JuízO e somente ele que enuncia a verdade (ou a falsidade).

Razão e inteligência não são duas faculdades diferentes, mas operações distintas de uma mesma faculdade que chamamos inteligência.

Ao se transmitir o conhecimento espírita, além do esmerado preparo intelectual do conteúdo do tema em pauta, é preciso

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organizar a abordagem, para que se dê com a devida clareza, precisão e ordem, bem conceituando cada termo, cada ideia, tendo cuidado com o vocabulário utilizado, já que, obrigatoriamente, os integrantes de um grupo de estudos ou ouvintes de uma palestra, não conhecem a terminologia espírita; do mesmo modo, agir com acuidade mental e verbal para bem apresentar e ponderar cada ponto objetivado no estudo, no tempo e na extensão absolutamente suficientes, enunciando e argumentando com segurança o assunto, respondendo aos questionamentos, pois, assim se fazendo, se estará oportunizando aos demais integrantes da reunião, material de análise suficiente para que possam pensar os variados ângulos da abordagem, alcançando o desejado juízo a respeito, abrindo-lhes as comportas da compreensão com raciocínio esclarecedor.

As recomendações a seguir, dadas pelo Caroável Benfeitor da Humanidade, Bezerra de Menezes, acima já citadas, são de clareza ímpar, e merecem ser repetidas para melhor fixação na nossa mente:

Nosso compromisso é com Jesus – nossa barca, nossa bússola, nosso norte, nosso ponto...

Jesus, meus amigos! Aquele a quem juramos fidelidade, amor e serviço.

Hoje é o nosso dia de apresentar o

Evangelho restaurado à sofrida alma do povo.

Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança, trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de luz que devemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das paixões e do desequilíbrio.

A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com segurança os náufragos das experiências humanas ao porto da paz. 7

7 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 79

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quaRta Lei:taL ObJetO, taL inteLigênCia

A inteligência adapta seu método ao objeto que ela estuda.

Se a inteligência está a serviço do verdadeiro, portanto da compreensão do real, seus meios de investigação devem procurar ser tão ricos e variados quanto a realidade.

É preciso, pois, partir das situações concretas nas quais nosso espírito tem melhor desenvoltura: nessas situações que a arte de pensar tem condições de servir ainda com mais utilidade.

Provando de maneira patente a existência do mundo invisível, o Espiritismo leva, forçosamente, a uma ordem de ideias bem diversa, porque alarga o horizonte moral limitado à Terra. A importância da vida corporal diminui à medida que cresce a da vida espiritual; colocando-nos naturalmente num outro ponto de vista, o que nos parecia uma montanha não se nos afigura maior do que um grão de areia. As vaidades, as ambições terrenas tornam-se puerilidades, brinquedos infantis em presença do futuro grandioso que nos aguarda. Prendendo-nos menos às coisas terrenas, menos nos satisfaremos a expensas dos outros, donde uma diminuição no sentimento do egoísmo. 8

Nossos apontamentos levam em conta a inteligência em atividade. Ora, essa atividade do espírito apresenta-se:

• ou ela (a inteligência) está em situaçãO ReCeptiva ou situaçãO de aCOLhiMentO; mas receptividade não é passividade: aquela está para esta assim como olhar está para ver...

• ou ela (a inteligência) está em situaçãO eMissiva. A inteligência é de fato chamada a restituir o que ela compreendeu. Essa atitude vem apenas em segundo lugar, pois só é possível dar o que se recebeu e se assimilou.

8 KARDEC, Allan. Viagem espírita 1862. Rio de Janeiro: FEB, p. 27

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Além de um programa de estudos devidamente embasado na arte de pensar e estruturado de acordo com o público-alvo almejado, quem esteja com a incumbência de repassar o conhecimento precisa estar atento à dinâmica da inteligência que recebe a informação, seu processamento e seu retorno, entendendo-se que necessariamente não se alcança o objetivo do ensino de primeira e única vez. Na maior parte das vezes, será preciso mais enriquecer a argumentação, com outros ângulos de abordagem; outras vezes, esse ou aquele integrante do grupo não está devidamente receptivo naquele momento; sempre, porém, avaliar antecipadamente o método e a dinâmica a serem utilizados para se tratar esse ou aquele assunto objetivado, a fim de bem enquadrá-lo na cadência das atividades das inteligências presentes.

O objetivo essencial da inteligência não é o de interpretar as incógnitas de fora, mas solver as dificuldades íntimas.

O homem conquista o átomo, mas, se não sublima os sentimentos, estes convertem o veículo do poder em máquina infernal de destruição impiedosa.

[...]

É que a inteligência sem o amor nada ou quase nada significa.

É verdade que a sabedoria promana de Deus, mas o amor é o próprio hálito divino que vitaliza o Universo. 9

Planejemos a abordagem sabendo que os dois sentidos informativos por excelência são a visãO e a audiçãO:

• a mediação visual: ler, escrever;

• a mediação auditiva: escutar, dizer (formular).

Isso não significa que os demais sentidos do ser não contribuam com a recepção das informações.

9 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 199-200

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Uma ressalva também importante: as leis do pensamento e as demais anotações que aqui fazemos, dizem respeito ao uso da inteligência para aprender e para ensinar. Temos dirigido os escritos mais especificamente para o aspecto de repassar o conhecimento, por ser o objetivo do nosso trabalho.

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Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos contribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser perfeito, tem que saber tudo, e porque, cumprindo que o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as ideias

adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.

O livro dos Espíritos

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ositivasPProvocações

Na análise de um texto, antes mesmo de nos perguntarmos o que ele diz precisamente, convém interrogarmo-nos sobre o

que ele provoca em nós. Será:

• O sabeR – esse texto busca ensinar-nos algo? Ele mostra-nos o que é verdadeiro ou falso, apresenta-nos o estado de uma questão?

• O MOveR – esse texto leva-nos a agir ou a reagir, orienta nossa ação, nossas intenções, num certo sentido? Ora, po-de-se agir de maneira humanizante ou alienante. A ques-tão corolário imediata é, portanto: esse texto faz-nos cres-cer em humanidade a serviço dos outros homens ou não?

• O COMOveR – esse texto sensibiliza-nos? Ora, isso pode ocorrer de maneiras diferentes: pode alegrar-nos ou, ao contrário, entristecer-nos, animar-nos a esperança ou ati-çar nossa cólera.

Por que esses efeitos múltiplos? É que o próprio homem é múl-tiplo. Mais particularmente, há três grandes tipos de faculdades

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no homem: a inteLigênCia (cujo ato é saber), a vOntade (cujo ato é mover) e a afetividade ou sensibiLidade (cujo ato é comover). Simboli-camente: a cabeça, o coração, as entranhas.

Os temas/aulas alcançarão melhores resultados se pensados, preparados e transmitidos, combinando-se os fatores de “provo-cações”, que aqui estão postos, já que, se estas cabem para a leitura de um texto, servem também para se transmitir o conteúdo desse texto ou de diversos textos em aulas, palestras, etc.

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nsino doEMoldar, emoldurar e modular o

spiritismoENuma visão de conjunto, trouxemos para nossas reflexões o

propósito do Espiritismo, enfocando, em poucas palavras, a missão do prof. Denizard Rivail (logo mais assinando suas obras como Allan Kardec, seu psedônimo), a promessa e a volta do Consolador e o grande fanal da Doutrina Espírita. Chegamos ao enfoque do verdadeiro espírita e de seu congraçamento nos Cen-tros Espíritas, destacando algumas características pessoais e co-letivas a título de retomada de lembranças e convite a reflexões. Pela grandeza e excelência das proposições do Espiritismo para a Humanidade, trouxemos considerações sobre a importância e a necessidade do seu estudo, com seriedade e continuidade. Com essas balizas, apresentamos o Centro Espírita e suas responsabi-lidades, como sendo um cofre onde está depositada a “pedra de

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toque” para o bem-estar dos homens, e, também, como pode o Centro Espírita melhor desincumbir-se de sua missão, abrindo-se ao popular, adequando-se a um modelo voltado para as pesso-as que chegam e valorizando os que ali já estejam, começando por fazer das Palestras Públicas o portal de entrada na Era Nova do Espírito, descortinando uma estrada intelecto-moral-vivencial que melhor será trilhada levando-se em conta aspectos da arte de pensar, para concluirmos que o sistema modular de programas de ensino espírita é bem vindo, tanto para uma melhor organização dos estudos no Centro Espírita, como para os integrantes desses grupos de estudos.

Assim, a tônica é moldar, emoldurar e modular os programas de ensino espírita, para o que buscamos colaborar com os arrazo-ados aqui expendidos.

No momento em que se tenham os módulos esquematizados, veremos que eles compõem um programa maior e continuado de

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estudo, que poderia vir enfeixado num programa único de longa duração, mas dividi-lo para apresentação e aplicação tem vá-rias vantagens, como, por exemplo: o efeito psicológico naquele que não tem hábito de estudos, ao se lhe apresentar um progra-ma para treze (13) semanas, e, depois disso, outro programa para outras poucas semanas, será diferente, mais palatável, do que se lhe apresentar um programa para dois (2) anos de duração. Outra vantagem é operacional, pois, modularmente, se tem maior flexi-bilidade para ajustes que se apresentem necessários durante seu curso. Além de outras.

É um modelo simples e prático.

Ouçamos os Benfeitores Maiores.

Na atualidade, depois das experiências realizadas em toda parte, para melhor facilitar a compreensão do Espírito pelo estu-do correto, é necessário que o programa de estudo sistematizado seja oferecido sem o elitismo que levaria as mentes à condição antiga dos ocultistas, selecionando os esoteristas dos exoteristas, os iniciados dos profanos, mas reunindo todos na mesma progra-mação, em que cada qual haurirá o conhecimento dentro das suas possibilidades intelecto-morais, daí extraindo o indispensável para restabelecer no íntimo o reino dos céus. Isto porque, o Espiritismo é doutrina fácil de ser assimilada, simples na sua estrutura para ser compreendida, mas não vulgar para ser interpretada.

É fácil porque se encontra nas leis naturais; é simples porque vivencia a lei do amor; mas é profunda, ao mesmo tempo, na sua complexidade, porque tem origem divina.

Nem uma tarefa programada para um grupo de acadêmicos, nem um programa trabalhado pela ingenuidade, senão linhas mestras direcionadas num compromisso que, à semelhança de um leque, abrirão perspectivas para todos os recursos da inteligência e do sentimento.

Compreendemos, os espíritos-espíritas que hoje mourejamos nesta faixa de vibrações, a necessidade urgente de oferecer às

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gerações novas um programa capaz de as equipar para enfrentar o materialismo, na sua multiface, de maneira hábil, com recursos que possam coagular as expressões deletérias que invadem os múltiplos arraiais da Terra levando ao suicídio, à loucura, à vio-lência.

O Espiritismo prossegue o antídoto contra esse mal, nas suas variadas expressões.

É certo que tornar o homem espiritualista é a tarefa inicial; fa-zê-lo espiritista é o passo a seguir.

Como o pensamento de Allan Kardec pode ser comparado às sete notas musicais da divina sinfonia da vida, ao homem cabe utilizar-se delas no campo da Doutrina Espírita para compor as melodias que enriqueçam a Terra de beleza, promovendo o espí-rito humano.

A Codificação Espírita é o alfabeto da Nova Era sobre o qual se erguerá o templo da paz, quando a mensagem da Terceira Re-velação atingir todas as criaturas do orbe, realizando o fanal da imensa revolução social que modificará as estruturas do Planeta.

Um programa de estudo sistematizado da Doutrina Espírita, sem nenhum demérito para todas as nobres tentativas que têm sido feitas ao largo dos anos, num esforço hercúleo para interessar os neófitos no conhecimento consciente da Nova Revelação, é o pro-grama da atualidade sob a inspiração do Cristo.

Espírita, amigos e irmãos!

[...]

Segui adiante, conscientes das vossas responsabilidades com Cristo e Kardec, no cérebro e no coração, a escorrerem pelas vos-sas mãos, edificando a Humanidade melhor, num mundo mais feliz por que todos anelamos.

Estudemos o Espiritismo e melhor viveremos o Cristianismo.

Penetremo-nos no conhecimento kardequiano para melhor

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sentirmos a palavra viva de Jesus.

Cristo e Kardec estão erguendo o homem do caos em que jaz para os píncaros da Imortalidade. 1

1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 94-97

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Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança, trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de luz que devemos colocar na alma dos que padecem na

cegueira das paixões e do desequilíbrio.

Bezerra de Menezes

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aiu doSO mundo invisível

ilêncioSNa revista Presença Espírita 1de janeiro/fevereiro de 2015, nº

306, foi publicado o artigo do próprio autor, que ora trans-crevemos.

Léon Denis, um dos mais aplaudidos divulgadores do Espiritis-mo em todos os tempos, contemporâneo de Allan Kardec, escre-veu em seu livro: O problema do ser, do destino e da dor, Primeira Parte, Capítulo II, que O Livro dos Espíritos “é o resultado de um trabalho imenso de classificação, coordenação e eliminação, que teve por base milhões de comunicações, de mensagens, prove-

1 Revista Presença Espírita, tendo como sua mantenedora a Mansão do Caminho, foi fundada por Divaldo Pereira Franco e Nilson Pereira, lançada em 20 de fevereiro de 1974. Periódico que tem primado por levar informação útil, de forma agradável. (N.A)

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nientes de origens diversas, desconhecidas umas das outras, ob-tidas em todos os pontos do mundo e que o eminente compilador reuniu depois de se ter certificado da sua autenticidade. Tendo o cuidado de pôr à parte as opiniões isoladas, os testemunhos sus-peitos, conservou somente os pontos em que as afirmações eram concordes.

Falta muito para que fique terminado esse trabalho, que, desde a morte do grande iniciador, não sofreu interrupção. Já possuí-mos uma síntese poderosa, cujas linhas principais Kardec traçou e que Os heRdeiROs dO seu pensaMentO se esfORçaM pOR desenvOLveR COM O COnCuRsO dO invisíveL. Cada um traz o seu grão de areia para o edi-fício comum, para esse edifício cujos fundamentos a experimen-tação científica torna a cada dia mais sólidos, mas cujo remate elevar-se-á cada vez mais alto.

(...) Há duas coisas na doutrina dos Espíritos: uma revelação do mundo espiritual e uma descoberta humana, isto é, de uma parte, um ensinamento universal, extraterrestre, idêntico a si mesmo nas suas partes essenciais e no seu sentido geral; da outra, uma con-firmação pessoal e humana, que COntinua a seR feita segundO as Re-gRas da LógiCa, da expeRiênCia e da RazãO. A convicção que daí deriva fortalece-se e cada vez se torna mais rigorosa, à proporção que as comunicações aumentam em número e que, por isso mesmo, os meios de verificação se multiplicam e estendem.

(...) Até agora, só tínhamos conhecido sistemas individuais, re-velações particulares; hoje, são milhares de vozes, as vozes dos defuntos que se fazem ouvir. O mundo invisível entra em ação e, no número dos seus agentes, Espíritos eminentes deixam-se reco-nhecer pela força e beleza dos seus ensinamentos. Os grandes gênios do espaço, movidos por um impulso divino, vêm guiar o pensamento para cumes radiosos.

(...) No Espiritismo, a multiplicidade das fontes de ensino e de difusão constitui, portanto, um contraste permanente, que frustra e torna estéreis todas as oposições, todas as intrigas. Por sua própria natureza, a revelação dos Espíritos furta-se a todas as tentativas

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de monopólio ou falsificação. Em relação a ela é de todo impo-tente o espírito de domínio ou dissidência, porque, quando con-seguissem extingui-la ou desnaturá-la num ponto, imediatamente ela reviveria em cem pontos diversos, malogrando assim ambições nocivas e perfídias.

(...) Nesse imenso movimento revelador, as almas obedecem a ordens que partem do Alto; são elas próprias que o declaram. A sua ação é regulada de acordo com um plano traçado de an-temão e que se desenrola com majestosa amplitude. Um conselho invisível preside, do seio dos Espaços, à sua execução. É compos-to de grandes Espíritos de todas as raças, de todas as religiões, da fina flor das almas que viveram neste mundo segundo a lei do amor e do sacrifício. Essas potências benfazejas pairam entre o céu e a Terra, unindo-os num traço de luz por onde sem cessar sobem as preces, por onde descem as inspirações.

(...) Quem poderia executar essa obra de discriminação, de seleção, de renovação? Os homens estavam mal preparados para isso. Apesar dos avisos imperiosos da hora presente, apesar da decadência moral do nosso tempo, nem no santuário nem nas cá-tedras acadêmicas se tem elevado uma voz autorizada para dizer as palavras fortes e graves que o mundo esperava.

(...) Só do Alto, pois, é que podia vir o impulso. Veio. Todos aqueles que têm estudado o passado, com atenção, sabem que há um plano no drama dos séculos. O pensamento divino mani-festa-se de maneiras diferentes e a revelação é graduada de mil modos, conforme as exigências das sociedades. Foi por isso que, havendo soado a hora da nova dispensação, o Mundo Invisível saiu do seu silêncio.”

Quanto ao desenvolvimento das linhas principais traçadas, na Revista Espírita de janeiro de 1862, Kardec registra sua aprovação e seu apoio moral a iniciativa do editor Sr. Didier de publicar o que chamou de Biblioteca do Mundo Invisível, compreendendo uma série de volumes com trabalhos mediúnicos obtidos nos diversos centros, depois de uma escolha rigorosa.

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Textualmente, disse Kardec: aqui Lhe daMOs a nOssa apROvaçãO e O nOssO apOiO MORaL pORque a JuLgaMOs útiL e porque a considera-mos a melhor via aberta aos médiuns, grupos e sociedades para suas publicações. Nela colaboraremos como os outros, por nossa própria conta...

Além das obras especiais que pudermos fornecer a essa cole-ção, dar-lhe-emos, sob o título particular de CaRteiRa espíRita, alguns volumes compostos de comunicações escolhidas, quer entre as que são obtidas em nossas reuniões de Paris, quer entre as que nos são enviadas por médiuns e pelos grupos franceses e estrangeiros que se correspondem conosco e não quiseram fazer publicações pessoais. Emanando de fontes diferentes, essas publicações terão o atrativo da variedade. a eLas JuntaReMOs, COnfORMe as CiRCunstân-Cias, as ObseRvações neCessáRias à sua COMpReensãO e desenvOLviMentO. A ordem, classificação e todas as disposições materiais serão ob-jeto de particular atenção. (Grifos e destaques nossos.)

Nesse mesmo texto da Revista Espírita de janeiro de 1862, do qual aqui citamos excertos, Allan Kardec o conclui, dizendo sobre a iniciativa da Biblioteca do Mundo Invisível: Esse plano parece responder a todas as necessidades e não duvidamos que seja acolhido com simpatia por todos os sinceros amigos da doutrina.

E há vários outros momentos felizes de Allan Kardec na Revis-ta Espírita onde ele aconselha, orienta e dá publicidade a tantas outras obras tratadas por ele como de interesse do Espiritismo, de modo a estimular a propagação da Doutrina em todo o mundo. Não só divulga e estimula como participa de outras tantas publi-cações em prol da divulgação espírita, por serem obras acessórias – como o é a Revista Espírita, de sua autoria.

Na esteira do tempo, vemos Gabriel Delanne, Léon Denis, Er-nesto Bozzano, Cesare Lombroso, Russel Wallace e outros muitos homens notáveis de todas as áreas do pensamento humano, vei-culando pesquisas, resultados, considerações, entendimentos so-bre o Espiritismo.

Nos tempos mais próximos de agora, nos deparamos com a

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vasta literatura, mediúnica ou não, circulando no mundo. As con-tribuições ímpares dos médiuns Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco, Yvonne Pereira, Raul Teixeira, dentre outros, somando cen-tenas e centenas de títulos editados.

Todo esse vasto material de conhecimento superior vem ao en-contro daquelas pessoas que se achegam em uma Casa Espíri-ta, famintos de esperança, órfãos de fé, claudicantes pelo peso da angústia, magérrimos de ânimo, fracos de coragem e vontade próprias. E o Consolador prometido, já presente entre nós, agora revestido das letras do Espiritismo, atinge seu desiderato: abriga--nos em seu aprisco. Um que outro chega na Casa Espírita pela curiosidade, pelo querer saber mais sobre Espiritismo. Em linhas gerais, esse é o perfil mental, emocional, psicológico e espiritual dos que adentram pelo umbral de um Centro Espírita.

Kardec afirma que “Os espíRitOs têM eM vista a instRuçãO geRaL e a pROpagaçãO dOs pRinCípiOs da dOutRina” (e os Espíritos Benfeitores da Humanidade não cessaram suas atividades), e que para que isso se desse desde o início da chegada das luzes do Espiritismo à Terra, ele próprio estimulou e participou pessoalmente em pro-jetos para ampliar as publicações de obras úteis aos objetivos da propagação do Espiritismo, de suas obras e de autores variados, como acima citado.

A divulgação do Espiritismo vem acontecendo a olhos vistos. O Movimento Espírita segue crescente. No que pese a Doutrina Espí-rita, propriamente dita, ainda ser ignorada pela grande maioria.

O convite do mundo invisível que saiu do silêncio, para que conheçamos, estudemos e vivamos segundo o Espiritismo, está es-palhado pela Terra.

É o livro espírita como carro-chefe desse movimento de uma revolução silenciosa. Múltiplos autores desenvolvendo a síntese pO-deROsa construída por Kardec.

Vale destacar, que o preclaro, o “bom-senso reencarnado”, Allan Kardec, em momento algum disse ou insinuou, ou estimulou

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que o aprendizado e o ensino do Espiritismo somente deveria se dar, exclusivamente, pelas cinco obras da Codificação: O LivRO dOs espíRitOs, O LivRO dOs Médiuns, O evangeLhO segundO O espiRitis-MO, O Céu e O infeRnO e a gênese.

Sim, a Doutrina Espírita é um monólito indivisível e O LivRO dOs espíRitOs é síntese monumental e nas cinco obras básicas encontra--se exarado o corpo doutrinário do Espiritismo. Estas são e conti-nuarão sendo a base fundamental desse conhecimento superior.

Afirmar de que o aprendizado e o ensino do Espiritismo so-mente deve se dar, de modo exclusivo, pelas cinco obras da Codi-ficação, é dizer que as centenas, milhares de obras consagradas na literatura espírita, obras acessórias que são ao conhecimento do Espiritismo, de nada servem ao estudo e aprendizado espírita, é desejar implantar a tese do exclusivismo, um fundamentalismo muito semelhante ao superado “fora da Bíblia não há salvação” ou “fora da Igreja não há salvação”. Ou muito próxima da “lógi-ca” do Califa Omar, um dos chamados Califas Perfeitos, para or-denar, no ano 644, em Alexandria, queimar a Grande Biblioteca de Ptolomeu: “Não existe mais que um livro verdadeiro: o Alcorão. Se os livros dessa biblioteca contêm coisas opostas ao Alcorão, são ímpios e há que queimá-los; e se dizem o mesmo que o Alco-rão, são supérfluos e há que queimá-los também.”

É dizer que foi e é pura perda de tempo de Emmanuel, An-dré Luiz, Joanna de Ângelis, Camilo, Victor Hugo, Manoel P. de Miranda e tantos outros notáveis e reconhecidos ao dispensarem tanto tempo num trabalho que, segundo a tese do “exclusivismo”, em nada contribui para o melhor conhecimento e entendimento do Espiritismo e nem com eles devemos consultar, colher material e divulgá-los.

Qual seria nosso conhecimento e entendimento do mundo es-piritual e sua relação com o mundo material e com os homens, não fossem livros de André Luiz, de Manoel Philomeno de Miranda, de Yvonne Pereira e outros mais?

Se são os espíritos-espíritas, como sempre repetido pelo Vene-

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rando Bezerra de Menezes, esses que estão à frente da grande ta-refa mundial da divulgação doutrinária, por que “nunca se deram conta” da “improdutiva tarefa” a que se dedicam e por que nunca alertaram aos espíritas em todo o mundo, de que para se estudar o Espiritismo, apenas e tão somente bastam as obras básicas? Nada de ler os livros deles, os próprios autores e propagadores da Dou-trina Espírita...

Não têm valor? São dispensáveis? Seriam eles uma turma de desocupados e vaidosos?

Do mesmo modo os conferencistas que dedicam vida integral em propagar o Espiritismo no mundo, como Divaldo Franco, Raul Teixeira. Também perda de tempo? Segundo a tese da “exclusivi-dade”, basta que se publique mais e distribua mais as cinco obras da Codificação e dizer ao povo que as leiam e dali, somente dali, tirem suas conclusões e fomentem seus entendimentos.

Nessa mesma linha, encerrem-se os grupos de estudos nas Casas Espíritas, pois, para se comentar esse ou aquele texto da Codificação se faz necessário entabular raciocínio, formular exemplos, fazer comparações, etc., no que depende de conheci-mentos vários adquiridos no dia a dia da existência, apresentados por terceiros (artes, ciências, política, cultura geral etc.), e, na tese da “exclusividade”, também nada disso seria permitido, pois tais raciocínios não estariam textualmente nas obras básicas.

Ora, se não cabe nada escrito além da Codificação, também não cabe nada falado, explicativamente, sobre o Espiritismo. Nada de conferências, palestras, estudos que não seja apenas para ler em voz alta o que está escrito nas cinco obras da Codifi-cação e que cada um tire suas conclusões. E sobre cada conclu-são, também não se pode contrapor argumentos, pois isso viria de alguém que não o próprio Allan Kardec. Até se entender algum ponto, seria ler, ler e ler o texto kardequiano, até a exaustão ou até a conclusão ser tida por alguém como certa. Mas quem seria esse legítimo alguém? E em não havendo entendimento?

Diferente, é claro, escrever ou falar o que não esteja de confor-

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midade com o conteúdo exarado nas obras da codificação. Isso está fora de questão.

Logo, a tresloucada ideia de que fora das cinco obras da Co-dificação não se encontra ensino espírita, é fruto da vaidade hu-mana, de quem, enceguecido pelo orgulho, supondo conhecer Espiritismo mais do Kardec, se considera acima de todo o mundo espiritual superior que assina milhares de livros espíritas, desen-volvendo a ideia matriz, ideia central, e diz que eles todos estão equivocados, perdendo tempo e jogando conversa fora, o que também, na sua visão caolha, também aconteceu com Allan Kar-dec, por ter utilizado por base milhões de comunicações, de men-sagens, provenientes de origens diversas, desconhecidas umas das outras, obtidas em todos os pontos do mundo, na estruturação dos seus livros, e, o que é pior, ter aprovado, estimulado e partici-pado , ele próprio, de um movimento de divulgação do Espiritis-mo contando com diversos autores de variados livros, franceses ou não, além de publicar a Revista Espírita, tendo como um dos seus objetivos desenvolver e propagar as ideias e o ideal espírita (os seus doze volumes não fazem parte da Codificação Espírita).

Acatar e praticar essa ideia é dar testemunha de que, sobre Espiritismo, leu apenas as primeira letras. Divulgá-la é prestar um desserviço à lídima divulgação da mensagem espírita.

O Espiritismo é o Consolador de volta e guarda sérios propósi-tos junto a Humanidade.

Leiamos o venerando Espírito Bezerra de Menezes:

Fomos chamados para a construção da Era Melhor.

Estamos convocados para a tarefa sacrossanta do amor.

Doutrina Espírita é conhecimento com responsabilidade; com-promisso indeclinável que nos impomos, a fim de ressarcirmos o passado de sombras, de dúvidas, de mancomunações com o mal que ainda vive dentro de nós.

[...]

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O Espiritismo, no seu segundo século, chama-se “ação”.

Até há pouco, combatiam a mensagem luminosa. Os adver-sários, porém, da Terceira Revelação, filhos meus, estão agora dentro de nossas fileiras, dentro de nós... Ou modificamos a nossa forma de agir, de servir e de amar, ou seremos responsáveis pelo adiamento da concretização dos ideais do Consolador na Terra. Esta é a religião, cujo nome foi dado por Jesus. O Consolador, não o esqueçamos.

Consolemos as lágrimas, estancando-as no seu nascedouro; atendamos à dor, ferindo-a na origem. Lutemos contra o mal em nossa alma e ganharemos a Terra da Paz.

Hoje é o fruto do nosso ontem, mas o amanhã é o nosso hoje vitorioso nimbado de bênçãos com Jesus... 2

Não esqueçamos de que a Doutrina Espírita, na atualidade, não se reveste apenas de lapidares conceitos, antes se constitui parte essencial para o nosso “modus-vivendi” na Terra.

Não é apenas uma mensagem nobre, mas um programa de ação.

Não é somente uma bela Filosofia, porém um roteiro para a evolução.

Estudemos, portanto, a Doutrina para vivê-la; conheçamos a Doutrina para ensiná-la, realizando o serviço que nos cabe. 3

Os limites do alcance e abrangência do Espiritismo não termi-nou com a publicação do quinto livro da Codificação: a gênese, Os MiLagRes e as pRedições segundO O espiRitisMO. A Codificação Espírita não se circunscreveu e fechou-se num ciclo. Ao contrário. Iniciou uma nova era para a Humanidade: a Era do Espírito. O corpo dou-trinária estava concluído. No entanto, a obra maior estava apenas

2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Salvador, BA: Leal, 1990, p. 83-84

3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 2 ed. Salva-dor, BA: Leal, 1972, p. 18

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se iniciando, uma vez que os Espíritos, saindo do silêncio, vinham para confirmar a moral do Cristo, mostrar-lhe sua utilidade à todos os homens da Terra, tornando inteligíveis e patentes, verdades que haviam sido ensinadas sob a forma alegórica.

Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer lembrada Sua lei que estava esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria pôr limites ao poder de Deus e traçar-Lhe normas? Quem nos diz que, como o afirmam os Espíritos, não estão chegando os tempos preditos e que não chegamos aos em que verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser ostensi-vamente reveladas ao gênero humano, para lhe apressar o adian-tamento? Não haverá alguma coisa de providencial nessas mani-festações que se produzem simultaneamente em todos os pontos do globo? 4 (Grifos nossos.)

É claro e evidente que os planos divinos seguem seu curso, onde está contemplada a ação dos Espíritos Benfeitores também através dos livros, desenvolvendo, aclarando a ideia geratriz, o que continua a ser feita segundo as regras da lógica, da experiên-cia e da razão. Deus não está de braços cruzados.

Guardemos na lembrança: são chegados os tempos em que verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, es-tão sendo ostensivamente reveladas ao gênero humano, para lhe apressar o adiantamento. E isso em todos os pontos do globo. Bem-vindo, pois, as inúmeras publicações de livros espíritas.

Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. 5

E busquemos nossa instrução espírita na Codificação Espírita e

4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Conclusão, VIII, p. 490

5 __________. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 6, item 5, p. 130

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em toda a literatura espírita.

Não dê ouvidos aos que lhe falem ao contrário, dizendo ine-xistir essa via láctea de conhecimento, onde a Codificação, re-vivendo Jesus, é o epicentro rodeado de inúmeros outros astros - cada um com movimento próprio em regiões do espaço infinito, mas integrantes e não distantes da grande Harmonia do Universo -, estes que são os sinceros amigos da doutrina.

Os que dizem ao contrário, não sabem o que falam. Apresen-tam-se como doutores da lei e senhores do conhecimento, mas, fascinados por um falso saber, presos a letra que mata e alheios ao espírito que vivifica 6, são cegos se propondo a conduzir outros cegos, não entram no Céu e não deixam ninguém entrar, como comentados por Jesus, a quem, Este sim, devemos ouvir:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem fazê-lo! (Mt. 23:13.)

Deixai-os. São cegos conduzindo cegos! Ora, se um cego con-duz outro cego, ambos acabarão caindo num buraco. (Mt. 15:14.)

Os livros espíritas e os Benfeitores Espirituais, seus autores, bem como os autores encarnados, estão para auxiliar-nos na compre-ensão das razões da vida e do existir, para que consigamos a nos-sa efetiva reforma moral íntima, para melhor, e, conforme ensinou Allan Kardec, consigamos ser hoje melhor do que ontem e ama-nhã busquemos ser melhores do que hoje.

Jesus, guia e modelo, é a porta, e Kardec é a chave.

6 Corintios 2, 3:6 (...) porque a letra mata e o espírito vivifica.

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A história do mundo conhece um grande grupo de criaturas que honra a inteligência e o sentimento humano, principalmente quando a atualidade do mundo lamenta

e sofre, em face do nível geral de tantos indivíduos renascidos presentemente na Terra.

José Lopes Neto

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E o semeador saiu a semear

E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

parte 7

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Cuidemos de aprofundar a mente e o coração nas preciosas palavras do Codificador e dos Espíritos da Luz, estudando o Espiritismo e fazendo não só que cada Casa Espírita seja um Templo, mas, sobretudo, se transforme numa Escola de iluminação de consciências e sabedoria, onde se criem hábitos salutares e o amor mantenha sua

substância, conduzindo as almas para o aprisco do Cristo, nosso eterno e incessante Condutor.

Vianna de Carvalho

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vangelhoEApresentando o

estauradoRRepetimos as paternais palavras de Bezerra de Menezes:

Hoje é o nosso dia de apresentar o Evangelho Restaurado à sofrida alma do povo.

Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança, trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de luz que devemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das pai-xões e do desequilíbrio.

A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com seguran-ça os náufragos das experiências humanas ao porto da paz.

Quando estivermos por apresentar a mensagem espírita, te-nhamos em mente de que não se trata de proferirmos uma pales-tra pura e simples, onde se repasse conhecimentos gerais apenas.

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Saibamos estar falando “à sofrida alma do povo”.

É uma oportunidade ímpar para se difundir a orientação nobre e o consolo tão buscado, por isso [...] “falemos a linguagem sim-ples e comovedora da esperança, trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de luz que devemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das paixões e do desequilíbrio”.

Não guardemos objetivos difusos ao grande fanal do Espiritis-mo e aos nossos compromissos na disseminação e vivência pes-soal dos seus postulados. “A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com segurança os náufragos das experiências humanas ao porto da paz”.

A tarefa da exposição doutrinária para qualquer público é sempre de grande responsabilidade, com propósitos essenciais muito claros.

Impostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós, desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec, a fim de que o Consolador de que se faz instrumento não apenas enxu-gue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar nas fontes do sofrimento as causas de todas as aflições que produzem as lá-grimas e os suores. 1

Estejamos preparados para falar ou escrever com simplicida-de, com naturalidade, com espontaneidade, com a emoção de quem já experimentou o bálsamo refazente do Consolador em muitas circunstâncias da própria vida, por isso sabe de seu valor e de sua veracidade. Não sejamos daqueles que somente indiquem caminhos, mas sim quem convida a seguir junto na jornada comum iniciada.

Saber falar de Espiritismo não é uma questão de arroubo de oratória. É saber falar o que alcance o coração sofrido do próxi-mo.

1 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 96

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O que consola, orienta e convence não é a forma com que se fala ou escreve, apenas, mas o conteúdo que se repassa.

Buscar melhorar a forma é altamente válido e necessário, pois se aprimorará as condições de serviço ao próximo. Por mais bonita que seja a moldura de um quadro de pintura, esta não substituirá a eventual falta de beleza e originalidade do artista do que vai retratado na tela.

Pela oportunidade, transcrevemos aqui orientações a respeito, dadas pelo Espírito André Luiz:

Palestrar com naturalidade, governando as próprias emoções, sem azedume, sem nervosismo e sem momices, fugindo de prele-cionar mais que o tempo indicado no horário previsto.

A palavra revela o equilíbrio.

Calar qualquer propósito de destaque, silenciando exibições de conhecimentos, e ajustar-se à Inspiração Superior, comentando as lições sem fugir ao assunto em pauta, usando simplicidade e precatando-se contra a formação de dúvida nos ouvintes.

Cada pregação deve harmonizar-se com o entendimento do auditório.

Respeitando pessoas e instituições nos comentários e nas refe-rências, nunca estabelecer paralelos ou confrontos suscetíveis de humilhar ou ferir.

Verbo sem disciplina gera males sem conta.

Sustentar a dignidade espírita diante das assembleias, absten-do-se de historietas impróprias ou anedotas reprováveis.

O orador é responsável pelas imagens mentais que plasme nas mentes que o ouvem.

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Nas conversações, não se reportar abusiva e intempestiva-mente a fatos e estudos doutrinários de entendimento difícil, de-vendo selecionar oportunidades, quanto a pessoas e ambientes, para tratar de temas delicados.

A irreflexão é também falta de caridade.

Manter-se inalterável durante a alocução, à face de qualquer situação imprevista.

Os momentos delicados desenvolvem a nossa capacidade de auxiliar.

Procurar abolir, em suas palestras, os vocábulos impróprios, as expressões pejorativas e os termos da gíria das ruas.

O culto da caridade inclui a palavra em todas as suas aplica-ções.

Sempre que possível, preferir o uso de verbos e pronomes na primeira pessoa do plural, ao invés da primeira pessoa do sin-gular, a fim de que não se isole da condição dos companheiros naturais do aprendizado, com quem distribui avisos e exortações.

Somos todos necessitados de regeneração e de luz. 2

Natural que nos sintamos apreensivos sempre que estejamos diante dessa atividade, dessa tarefa, a pregação doutrinária. E é bom que seja assim, pois esse tipo de sentimento exigirá de nós mesmos maior atenção e cuidado com o que fazemos e como fa-zemos, desde o preparo do tema. Não lute contra esse sentimen-

2 VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 6.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1960, p. 60-62

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to, aprenda a conviver com ele em harmonia. A insegurança traz dificuldades, sim, mas o excesso de confiança também prejudica. Lembremo-nos dos dizeres de Nicolau Maquiavel: “Será preciso, contudo, ser cauteloso com aquilo que fizer, e no que acreditar; é necessário que não tenha medo da própria sombra, e que aja com equilíbrio, prudência e humanidade, de modo que o excesso de confiança não o torne incauto, e a desconfiança excessiva não o faça intolerante.”

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O Espiritismo é simples, fácil e claro, dispensando linguagem bombástica e terminologia complicada.

Se não puder ser entendido por um espírito singelo, em verdade, não conduz a vera mensagem do Cristianismo autêntico, graças à prosápia ou a presunção do expositor

que fala ou escreve.

Vianna de Carvalho

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alestraPPontos básicospara uma boa

Aproveitemos o ensejo para recordar, mesmo que de passagem, alguns pontos básicos para uma boa palestra, seu preparo,

sua apresentação. As considerações que seguem são encontradas aqui e acolá nos compêndios e cursos que tratam do assunto.

1. COMeCe pensandO nO finaL

Antes de qualquer outra providência, pense no dia de sua apresentação. Qual é o objetivo de sua palestra, de seu estudo? Qual a utilidade prática do conhecimento que você vai transmi-tir? O que as pessoas que estarão assistindo esperam dela? Qual a mensagem essencial que você deseja deixar, ao final? Na sua opinião, quais os pontos principais que precisam ser trabalhados para que a mensagem pretendida seja bem construída ao longo da palestra? Lembre que não é apenas informação que a plateia

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busca. Se fosse assim, eles apenas leriam um livro ou um artigo. Eles esperam algo mais. Desejam que se faça luz na noite escura das próprias almas.

2. COnheça beM seu púbLiCO

Antes de começar a preparar o conteúdo, pergunte a si mesmo:

queM é O púbLiCO? Quanto você acha que eles sabem sobre o assunto que vai apresentar? Qual a faixa etária preponderante? Será um público muito heterogêneo? São espíritas ou não? Estarão predispostos ao tema?

quaL é O pROpósitO dO eventO? Inspirar? Consolar? Passar infor-mações concretas? Ministrar um curso? Eles estão interessados mais em conceitos e teorias ou em aspectos vivenciais, fatos e orientações? Precisam de material elucidativo para aplicar no dia a dia existencial?

quaL O seu pROpósitO? Trabalhar o pensar, o intelecto? O mover, chamando-os a mudanças? O comover, mexendo com a sensibi-lidade e estimulando mudanças morais?

pOR que vOCê fOi COnvidadO? O que esperam de você? Como conseguir empatia com os presentes?

Onde seRá? Descubra tudo sobre o local, grau de conforto (ca-lor, frio, acomodação, som, iluminação, fatores que geram dis-tração – barulhos, movimentação de outras pessoas), trânsito. O conforto de menos é adversário de uma boa atenção por parte dos assistentes. O conforto demais, em alguns aspectos, também. Você não vai alterar o conforto, mas precisa ter essa variável em suas considerações.

quandO? Você tem tempo suficiente para se preparar? Que hora do dia será a sua apresentação? Se há outras apresentações, qual a ordem? Qual o dia da semana? Tudo isso importa. Veja-mos, por exemplo, que a palestra será à noite de um determinado

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dia da semana, que não é final de semana nem feriado. Os que ali estarão, na sua maioria, estarão chegando de uma jornada di-ária de trabalho de cerca de 10 horas, provavelmente vindo direto do trabalho, tendo feito um rápido lanche (se é que conseguiram fazê-lo). Óbvio que a abordagem e sua dinâmica precisará ser inteligentemente preparada e aplicada, sabendo-se que estará diante de uma plateia em quase exaustão física e, quem sabe?, emocional (um pequeno descuido e muitos cairão no sono). Será diferente se a palestra for para um público às 10 horas da manhã de um domingo. Apesar do tema ser o mesmo. Com um certo tom de jocosidade, podemos dizer que num caso o empenho é para que não peguem no sono e no outro é para que acordem.

3. COnteúdO, COnteúdO e, pOR fiM, COnteúdO

Não importa o quanto é boa sua capacidade de comunicação ou o quanto ficou bonita sua apresentação visual, se sua palestra não for baseada num conteúdo sólido e com foco bem definido, você não terá sucesso. Um bom conteúdo é uma condição neces-sária, mas não suficiente. É preciso transmiti-lo de maneira apro-priada e de acordo com os ouvintes, disponibilizando elementos que construam raciocínio que leve a conclusão pela mensagem essencial que se propôs deixar. Uma boa história, na hora certa, vai te ajudar a atrair a plateia.

Cuidado: Poupe seus ouvintes de uma enxurrada de informa-ções. Isso acontece quando o palestrante passa muitas informa-ções sem fazer o esforço de mostrar como os ouvintes irão usá--las. Abre muitos pontos e ângulos de vista, mas não consegue fechá-los, concluí-los, “amarrá-los”. Também ocorre quando as informações parecem não ter nenhuma coesão. Às vezes parece que o palestrante está apenas se exibindo, ou simplesmente com medo de que, se não contar tudo, dando todas as informações, os ouvintes não irão entender a mensagem.

Não caia na armadilha de pensar que para que se faça enten-der, você precisa falar tudo e muito. Cogite, diferencie e classifi-

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que antes O que é essenCiaL, O que é iMpORtante, O que é neCessáRiO e O que é aCessóRiO para a construção da mensagem-foco da palestra. Isso formatará a ideia de simplicidade.

É preferível que a plateia fique com a sensação de “quero mais” do que de “não aguento mais”.

4. seJa siMpLes

Simples não quer dizer simplório. Ser simples pode ser difícil para o palestrante, mas vai ser muito bem apreciado pelos ouvin-tes. Simplicidade requer muito mais preparação e planejamento de sua parte, pois você deve pensar bem no que incluir e no que pode ser deixado de fora, e como vai falar em linguagem simples, acessível, com naturalidade e espontaneidade. Pergunte-se sem-pre: Qual é a essência da sua mensagem? Qual a mensagem final que você quer construir com sua palestra?

A título de exercício, ao longo do preparo de sua palestra, questione-se: Se os seus ouvintes pudessem se lembrar somente de tRês COisas de sua apresentação, quais você gostaria que fos-sem?

5. esbOçandO O COnteúdO

Comece planejando fazendo esboço do conteúdo pretendido com caneta e papel, ao invés de ir direto ao PowerPoint ou ao Word. Tal prática ajuda a concretizar a ideia na sua mente, ajuda na sua criatividade, além de ser mais fácil e mais rápido. Software ajuda muito na hora de fazer, depois de alinhavado, a montagem do trabalho, propriamente dito; antes do esboço pronto, por exigir de sua atenção para seu uso, o software tende a retirá-lo da con-centração devida para mellhor pensar sua palestra, já que utilizar o programa exige também de sua atenção. Enquanto você escreve os pontos chaves e monta a estrutura, pode fazer alguns desenhos como gráficos ou fotos que vão aparecer no seu slide, se é que

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você vai se utilizar desse material didático.

Apesar de estar usando todo o aparato tecnológico quando vai fazer sua apresentação, o ato de falar e interagir com a plateia – persuadir, emocionar ou informar – é todo seu.

Com o esboço pronto, imaginadas as ilustrações e destaques, as frases de efeito apontadas (indique sempre as fontes bibliográ-ficas de onde foram tiradas, se for o caso), aí sim, você se utiliza da ferramenta tecnológica que quiser, e essa tarefa também será mais fácil e rápida, pois irá configurar o que você já imaginou e planeou.

6. e daí?

Quando estiver preparando o conteúdo da sua palestra, colo-que-se no lugar da plateia e pergunte: “e daí?” Faça-se esse tipo de pergunta durante sua preparação. Por exemplo, seu assunto é importante? Você provavelmente já esteve na plateia e pensou como o que o palestrante estava falando era relevante ou apoiava sua ideia. “E daí” você se pergunta. “E daí?”, sempre faça essa simples e importante pergunta a si mesmo. Se você realmente não conseguir respondê-la, se não estiver agregando valores para consumar a ideia essencial que você quer deixar, se não tornar importante o ensino pretendido para o que a plateia busca, então tire aquele conteúdo da sua apresentação.

7. vOCê COnsegue passaR nO teste dO eLevadOR?

Aqui vamos nos utilizar de um exemplo bem acadêmico.

Teste a clareza de sua mensagem com o teste do elevador. Esse exercício força você a “vendeR” sua mensagem em 30, 45 segun-dos. Imagine a seguinte situação: Você agendou com o maioral do departamento de marketing de produto de sua empresa, uma das indústrias líderes em tecnologia no mundo, para mostrar suas

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ideias. Ambas as agendas e orçamentos estão apertados; e é uma oportunidade extremamente importante se você conseguir o aval da direção executiva. Quando você chega na recepção, fora do escritório do vice-presidente, de repente ele aparece com o pa-letó e pasta na mão e fala “Desculpe, houve um imprevisto, fale sobre sua ideia enquanto descemos até o hall de entrada...”

Você conseguiria vender sua ideia no elevador e caminhando até o estacionamento?

Na hora da apresentação efetiva de sua palestra, diante de um imprevisto qualquer, você conseguiria, improvisando, encur-tá-la em 10 ou 20 minutos (ou de 1 hora para 30 minutos), sem deixar de construir a ideia central e transmitir a mensagem-foco? Você conseguiria? Talvez nunca precise, mas praticar desta forma ajuda você a tornar seu conteúdo mais curto e claro. A questão é: não falar muito e sim falar bem. Acredite, imprevistos acontecem.

8. estRutuRa LiMpa e sóLida

A estRutuRa da apresentação está acima de tudo. Simplicidade, cadência lógica (começo, meio e fim). Sem ela, seu grande estilo pessoal e ótimo visual não são nada. Se você esboçou suas ideias e formou um modelo lógico, então suas ideias serão bem claras. Você deve observar se a lógica do conteúdo traçado e o anda-mento da sua fala estão em conformidade com o planejado.

No caso de uso de apresentação no PowerPoint, os slides tam-bém precisam estar de conformidade com a lógica do conteúdo e com o andamento de sua fala. Sua plateia precisa ver onde você quer chegar. E não é suficiente ter um slide no início com “agenda” ou “roteiro”, se você não tem uma boa estrutura, adequada ca-dência e ajustado sincronismo na fala e na animação gráfica. Ao contrário, os ouvintes ficarão desgastados se você promete uma palestra bem organizada no começo, mas na verdade está tudo bagunçado, sem foco e sem começo, meio e fim.

Material gráfico, eletrônico ou não, é um recurso didático, que

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deve ser utilizado sim, mas dentro dos conformes. É material de apoio. Representará síntese de sua palestra, com pontos de desta-que e de estímulo (como apresentações animadas e sonorizadas, como ilustração ao tema do momento). Cuidado para não exage-rar na dose.

Evite ser daqueles que apenas leem o que está posto nos sli-des. Repetimos para melhor memorização: o ato de falar e intera-gir com a plateia – persuadir, emocionar ou informar – é todo seu.

9. a aRte de COntaR históRias

Boas palestras incluem histórias. Os melhores palestrantes ilus-tram suas ideias com histórias. A melhor maneira de explicar ideias complicadas é através de exemplos ou compartilhando uma his-tória que ajuda a concretizar determinado ponto. Histórias são fá-ceis de lembrar.

Além disso, é importante pensar em seus minutos de palestra como uma boa oportunidade de “COntaR uMa históRia”.

Boas histórias são interessantes e claras no início, têm conteúdo provocativo no meio e oferecem uma conclusão lógica, ao final.

Recorde-se de Jesus e as parábolas. Recorde-se de Jesus e sua metodologia de ensino. Recorde-se de Jesus e suas técnicas de ensino e do material didático que lançou mão. Recorde-se de Jesus sempre. Terá alguém na face da Terra que tenha falado de assuntos tão importantes, profundos e complexos como os que Ele falou, sob as mais variadas adversidades, mas com tanta simplici-dade, clareza e poder de convencimento?

Ele dividiu a História, contando histórias e fazendo História viva pelos seus feitos.

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10. COnfiança - COMO aLCançaR

Quanto mais você conhece seu material para a apresentação, menos nervoso ficará.

Seja previdente. Prepare sua apresentação para o PowerPoint, se você assim quiser, mas não deixe de ter à mão esquema em papel, manuscrito ou impresso, de modo a poder dele fazer uso diante de um impedimento no uso do equipamento de multimídia. Computador, projetor de multimídia, são máquinas, apenas má-quinas. Podem não funcionar na hora “h”.

Saiba bem como operar o computador e o arquivo. Muito pró-prio se você souber fazer as devidas ligações e conexões do com-putador com o projetor multimídia. Vai que o responsável por dei-xar tudo prontinho para você, não apareça! Prudente ter o arquivo em dois pen-drives ( já não se fala mais em CD). Pen drive também pode falhar, ou o arquivo estar “baleado”. Pense nisso!

O velho quadro de giz! Não o desconsidere. Ainda é o apoio mais fiel que dispõem os palestrantes. Utilize-o de forma adequa-da. Se for quadro do tamanho grande, trace uma linha imaginária, ou não, no seu centro, dividindo-o em duas partes, à direita e à esquerda. Comece por utilizar a parte da esquerda (de quem está de frente para o quadro). A cada citação que escreva, ao termi-nar, saia da frente, para que todos possam ler. E assim continue. Ao terminar de utilizar a parte da esquerda, passe para a parte da direita. Se precisar continuar usando o quadro, tendo ocupado toda a parte da direita também, recomece pela da esquerda. Es-creva com letras grandes e legíveis, não se esqueça.

Voltemos aos “tempos modernos”.

Se você vai utilizar-se de projeção multimídia, colocou todos os slides em ordem lógica, criou bem o material de suporte, tem um backup do arquivo e tem o material impresso para eventualidades, então há menos motivo ainda para nervosismo. Se, além disso, en-saiou com um computador, memorizando a sequência dos slides e

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animações, então o nervosismo simplesmente vai embora.

Nós tememos o que não conhecemos. Se sabemos bem o que temos em mãos, sabemos bem sobre o assunto, sabemos qual sli-de vem depois de qual, se antecipamos algumas possíveis per-guntas ao longo do preparo do tema e temos as respostas, então eliminamos muito do desconhecido. Quando eliminamos o desco-nhecido, o nervosismo e a ansiedade também diminuem. Então a confiança vem naturalmente.

A oração é excelente recurso, que deve ser usado desde antes do preparo da palestra, bem como ao longo do seu preparo, e também antecedendo o momento da palestra, a fim de que você se coloque sob o fio da inspiração dos Benfeitores Espirituais. E quando tudo tiver terminado, ore ainda, agradecendo à Deus.

Recomenda-nos o apóstolo Paulo:

Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graças aos que a ouvem. 1

1 Efésios, 4:29

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Consolador inexaurível, o Espiritismo é a renascença do Cristianismo primitivo, resposta do amor do Cristo aos

aflitos apelos da humana criatura terrestre.

Vianna de Carvalho

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emearSE o semeador saiu a

A Doutrina Espírita é eminentemente educativa ou reeducativa. Os estudos doutrinários devem não perder esse foco. Não são

meras informações. São propostas modificadoras de pensamento e comportamento.

Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábi-tos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. 1

O Espiritismo é qual o maná que cai dos Céus, para alimentar os que peregrinamos pelos desertos em busca da terra prometida, que chega para altear-nos o ânimo, fortalecer-nos em coragem e estimular nossas esperanças, convidando-nos a renovação de valores.

O venerando Espírito Bezerra de Menezes ensina-nos: Quan-

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Perg. 685, p. 331

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do alguém se levanta, todos os homens se levantam com ele... 2

Em se tratando de programa de estudos para os que estão se achegando ao conhecimento espírita, sem medo de errar, levemos em conta, segundo Clélia Duplantier, que “três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão”. 3

E para abranger esses caracteres, aprendamos com Hilel:

Contam que um jovem sedento de afirmação espiritual procu-rou certa vez o pensador e sacerdote hebreu Shammai e o inter-rogou:

- Poderias ensinar-me toda a Bíblia durante o tempo em que eu possa quedar-me de pé, num só pé?

- Impossível! – respondeu-lhe o filósofo e religioso.

- Então de nada me serve a tua doutrina – redarguiu o moço.

Logo após buscou Hilel, o famoso doutor, propondo-lhe a mesma indagação.

O mestre, acostumado à sistemática da lógica e da argumen-tação, mas, também, conhecedor das angústias humanas, respon-deu:

- Toma a posição.

- Pronto! – retrucou o moço.

- Ama! – elucidou Hilel.

- Só isso?! E o resto, que existe na Bíblia? – inquiriu, apressa-damente.

- Basta o amor – concluiu o austero religioso. – Todo o restante

2 FRANCO, Divaldo P. Sol de esperança. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1978, p. 115

3 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. “As expiações coletivas”, p. 266

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da Bíblia é somente para explicar isso. 4

E em cada palestra pública ou não, em cada programa de es-tudos, para cada aula ao grupo de estudantes, ofertemos como dedicatória, as palavras ditadas por Bezerra de Menezes, André Luiz, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Hilário Silva, Anália Franco, Meimei, Emmanuel e outros:

Oferecemo-lo a todos os irmãos, cujos ombros jazem vergados ao peso de rijas obrigações, nesta hora em que a família humana desfalece à míngua de amor; aos que, por náufragos da existên-cia, viram quebradas, ante os furacões do materialismo destruidor, as embarcações religiosas em que se lhes erguia a fé; aos que levantaram a voz para redizer-te a palavra de esperança e luz, deslocando, à custa de sacrifício, os empeços das trevas; aos que, sobrecarregados de graves deveres, procuram preencher os luga-res dos que desertaram do serviço, tentando debalde esquecer os fins da vida; e, acima de tudo, aos que, por agora, não encontram para si mesmos senão a herança das lágrimas em que se lhes dis-solve o coração.

Com todos eles, Senhor, rumo à Era Nova, nós – gotas peque-ninas de inteligência no oceano da Infinita Sabedoria de Deus – partilhamos os lances aflitivos da Terra traumatizada por angústias apocalípticas, em busca de paz e renovação, trabalhando pelo mundo melhor, na certeza de que permaneces conosco e de que, como outrora, diante da tempestade, repetirás aos nossos ouvi-dos, tomados de inquietação:

- “Tende bom ânimo! Sou eu, não temais.” 5

4 FRANCO, Divaldo P. Estudos espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2.ed. Salvador, BA: Leal, 1982, p. 14

5 XAVIER, Francisco C. VIEIRA, Waldo. O espírito da verdade. Por Diversos Espíritos. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961, p. 11-12

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Quando os ensinos espíritas forem bem compreendidos, examinados, absorvidos pelos homens, estes mudarão o comportamento social, em razão da modificação moral que cada ser se imporá, erguendo-se uma comunidade pacífica e justa, a espraiar-se, generosa, por toda parte,

auxiliando a transformação da Terra, regenerada e luminosa, que seguirá no rumo da destinação que a

espera como aos seus habitantes, hoje em lutas cruentas e rudes, por haverem abdicado das armas do amor, da

mansidão e da fraternidade.Este é o grande fanal do Espiritismo.

Vianna de Carvalho

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inaisFPalavras

E dilatando a claridade do sol espírita conscientemente, através da exposição e da narrativa, falando ou escrevendo, vivamos a

mensagem excelente que reflete o amor de Deus a todas as criatu-ras, porquanto, se até ontem recebemos uma fé desfigurada, enig-mática e simbólica, com o Espiritismo, nos moldes com que Allan Kardec no-lo ofereceu, ressurge a verdadeira religião, apresen-tando o Senhor Jesus desvelado e simples, fazendo-se conhecer e amar em nós e conosco, até o fim dos tempos! 1

Bem disse a Veneranda Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis quando da apresentação desse nosso singelo trabalho: “Não se pode, portanto, conhecer realmente o Espiritismo, senão mediante o seu grande portal, que é o acesso às obras fundamentais: O LivRO dOs espíRitOs, O LivRO dOs Médiuns, O evangeLhO segundO O es-piRitisMO, O Céu e O infeRnO e a gênese”.

É o Espiritismo o inapagável sol de esperança, aquecendo e iluminando as nossas consciências atormentadas através dos mi-lênios e conduzindo-nos para o porto feliz da tranquilidade plena, indicando-nos rota certa para nosso definitivo encontro com o Sol das Almas e Amigo Incondicional, Jesus, que é a Vida, a Porta e a Vereda, que nos guia e nos sustenta na caminhada de redenção espiritual.

1 FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1968, p. 151

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Por tudo isso, digo-lhe, emocionado e genufletido em coração: glória a ti, Allan Kardec, dedicado bandeirante da luz e artesão do grande portal da Era Nova! Beneficiário do teu esforço gran-dioso, saúdo-te e homenageo-te com estes escritos. rogando ao Criador que te abençoe sempre e sem cessar!

E registro meu preito de gratidão ao Divaldo P. Franco, pela presença iluminativa em minha existência, como amigo, como ir-mão. Ele tem sido grande arrimo ao longo dos dias. Foi quem esti-mulou-me para que alinhavasse estas páginas, inclusive dispondo de seu tempo, já tomado de tarefas doutrinárias ao redor do mun-do, para ler, avaliar, opinar e revisar este opúsculo.

Gratidão ao J. Raul Teixeira, amigo querido que pude acompa-nhar por décadas em várias de suas longas e extraordinárias jor-nadas doutrinárias pelo Brasil e no exterior. Muito aprendi estando ao seu lado, sobre o Espiritismo e sobre a vida, até porque ele se faz exemplo, tanto na saúde como na doença.

Aos meus amados familiares, pela compreensão, pela tolerân-cia, pelo apoio, pelo incentivo, pelo carinho e pelo amor dúlcido e reconfortante.

À Deus, à Jesus Cristo e aos Espíritos Benfeitores.

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