o Encontro Com o Outro No Saberfazer Da Educação

download o Encontro Com o Outro No Saberfazer Da Educação

of 12

description

artigo publicado sobre o encontro com o Outro na perspectiva das diferenças

Transcript of o Encontro Com o Outro No Saberfazer Da Educação

O ENCONTRO COM O OUTRO NO SABERFAZER DA EDUCAO / EL ENCUENTRO CON EL OTRO EN EL SABERHACER DE LA EDUCACIN

Kaluany Honda Leone - UFJF / [email protected] Castro Andrade - UFJF / [email protected]

RESUMOQuando falamos de educao, irremediavelmente nos vm cabea a escandalosa situao dos professores, ou a crise da infraestrutura escolar ou ainda os resultados emprobecidos das provas de rendimento. Dessa maneira, fica explcita a suposio de que a origem de todo o mal social advm da crise educativa e que ao revertermos este quadro, estaramos caminhando rumo a uma sociedade mais igualitria e democrtica. Considerando que a educao nunca neutra, talvez pudssemos nos apropriar da ideia de Biesta (2013) e dizer que ela uma interveno cujo fim melhorar a vida de quem a ela se submete, torn-la mais harmoniosa e porque no dizer, mais humana. H atualmente a ideia de que a educao deve gerar no indivduo educando possibilidades de ao e reflexo no mundo, com o mundo e para o mundo, entrelaando-se com questes democrticas, desejando que os indivduos sejam capazes de seus prprios julgamentos. Neste vis, pode-se pensar que a escola no deve ser a provedora da soluo do mal que assola a sociedade e sim, a base de sustentao na qual emergem mltiplas maneiras para os seres humanos virem ao mundo e se tornarem seres nicos e singulares. A bem da verdade, na histria da humanidade, o homem carrega em si o histrico de no haver se lanado ao Outro atravs da compreenso, da abertura e do dilogo. Temos sim, massacrado, ignorado, assimilado, excludo, aceitado o Outro, mas compreendido, ainda no. A criao de um mundo plural e diferente, surge de uma abertura democrtica onde os sujeitos possam agir e reagir compreendendo a ideia de que sem a existncia do Outro (possuidor de unidades e diversidades prprias), no h como emergir, de fato, a subjetividade individual. Dessa maneira, entendemos que o mundo plural e diferente se materializa pelo entendimento e o dilogo aberto, respeitoso e responsivo entre os indivduos. A Atualidade nos prope uma caminhada que nos leva a outro mundo, um mundo que desconhece a condenao e se abre compreenso, um mundo onde possamos fazer educao para o Outro, mas tambm com o Outro, despertando o Amor latente que h em ns. Um mundo onde possamos criar uma nova pedagogia. Talvez precisemos despertar para a conscincia de que somente nos fazemos plenos atravs do nosso encontro com o Outro. Quia precisemos nos reconhecermos uns nos Outros e uns com os Outros e esse reconhecer, deve ser entendido como um poema que deve ser escrito e reescrito, interpretado e reinterpretado, lido e relido, principalmente nas entrelinhas. Sobre o saberfazer educativo, entendemos que este deve estar permeado por criaes de sentido produzidas pelas interaes dialgicas que essencialmente configuram o trabalho de educar e educar-se. Dessa maneira, sentimos o clamor da educao por um novo saberfazer, uma nova maneira de encarar as possibilidades pedaggicas, uma nova maneira de criar possibilidades pedaggicas, uma possibilidade mais humana de responder ao Outro, de conviver com o Outro, de olhar o Outro, sem que o assassinemos, julguemos ou excluamos, antes de tudo que possa vir.Palavras-chave: Complexidade; Morin; sujeito; tica.

RESUMENCuando hablamos de educacin, irremediablemente nos viene a la cabeza la escandalosa situacin de los profesores, o la crisis de la infraestructura escolar o todava los resultados empobrecidos de las pruebas de rendimiento. As, queda explcita la suposicin que el origen del mal social adviene de la crisis educativa y que al cambiarmos este cuadro, estaramos caminando rumbo a una sociedad ms igual y democrtica. Considerando que la educacin nunca es neutra, tal vez pudiramos nos apropiar de la idea de Biesta (2013) y decir que ella es una intervencin cuya finalidad es mejorar la vida de quienes a ella se someten, volverla ms armoniosa y porqu no decir, ms humana. Hay actualmente la idea que la educacin debe generar en el sujeto educando posibilidades de accin y refleccin en el mundo, con el mundo y para el mundo, entrelazndose con cuestiones democrticas, deseando que los sujetos sean capaces de sus propios juicios. As, podemos pensar que la escuela no debe ser la proveedora de la solucin del mal que devasta la sociedad y s, la base de sustentacin en que emergen mltiples maneras para que los seres humanos vengan al mundo y se vuelvan seres nicos y singulares. A bien de la verdad, el hombre trae en si el histrico de no se haber lanzado al Otro a travs de la comprensin, de la apertura y del dilogo. Hemos s, masacrado, ignorado, asimilado, excludo, aceptado el Otro, pero comprendido, todava no. La creacin del mundo plural y diferente, surge de una apertura democrtica donde los sujetos puedan actuar y reaccionar comprendendo la idea que sin la existencia del Otro (que posee unidades y diversidades propias), no es posible emergir, de hecho, la subjetividad individual. As, entendemos que el mundo plural y diferente se materializa por el entendimiento y el dilogo abierto, respetuoso y responsivo entre los sujetos. La Actualidad nos propone una caminata que nos lleva a otro mundo, un mundo donde podremos hacer educacin para el Otro, pero tambin con el Otro, despertando el Amor latente que hay en nosotros. Un mundo donde podremos crear una nueva pedagoga. Tal vez necesitemos despertar para la conciencia de que somente nos haremos plenos a travs del nuestro encuentro con el Otro. Quizs necesitemos de reconocermonos unos en los Otros y unos con los Otros y este reconocer, debe ser entendido como un poema que debe ser escrito y reescrito, interpretado y reinterpretado, ledo y reledo, principalmente en las entre lneas. Sobre el saberhacer educativo, entendemos que este debe estar permeado por creaciones de sentido, que se producen por las interacciones dialgicas que esencialmente configuran el trabajo de educar y educarse. As, sentimos el clamor de la educacin por un nuevo saberhacer, una nueva manera de arrostrar las posibilidades pedaggicas, una nueva manera de crear posibilidades pedaggicas, una posibilidad ms humana de responder al Otro, de convivir con el Otro, de mirar el Otro, sin que lo asesinemos, juzguemos o excluyamos, antes de todo lo que se pueda venir.Palavras-clave: Complejidad; Morin; sujeto; tica.

Primeiras palavras para um novo contexto ou palavras antigas a serem revistasQuando falamos de educao, irremedivelmente nos vm cabea a escandalosa situao dos professores, ou a crise da infraestrutura escolar ou ainda os resultados emprobecidos das provas de rendimento. Dessa maneira, fica explcita a suposio de que a origem de todo o mal social advm da crise educativa e que ao revertermos este quadro, estaramos caminhando rumo a uma sociedade mais igualitria e democrtica. H atualmente a ideia de que a educao deve gerar no indivduo educando possibilidades de ao e reflexo no mundo, com o mundo e para o mundo, entrelaando-se com questes democrticas, desejando que os indivduos sejam capazes de seus prprios julgamentos. Dessa forma, a escola vista como uma ferramenta atravs da qual se cria a democracia, formando cidados democrticos e gerando uma cultura democrtica. Entendendo que a educao democrtica, est centrada na ideia de produo da pessoa democrtica, eliminando a concepo do indivduo isolado, nos perguntamos: Poderamos realmente nos apropriar e cobrar da educao tal postura redentora frente sociedade? Poderamos realmente entender a educao como a salvao da colheita de um semear absurdamente deficitrio? Ou qui devssemos rever conceitos e levantarmos o vu que nos impede de ver questes que existem, persistem e possivelmente (ao lado de muitas outras questes que no cabe neste trabalho julgar) nos levam atual conjuntura educativa?Considerando que a educao nunca neutra, talvez pudssemos nos apropriar da ideia de Biesta (2013) e dizer que ela uma interveno cujo fim melhorar a vida de quem a ela se submete, torn-la mais harmoniosa e porque no dizer, mais humana?Se assim podemos entender a educao, no mnimo torna-se interessante, para no se dizer trgica, a suposio de que a educao a origem de todo o mal social.Neste vis, pode-se pensar que a escola no deve ser a provedora da soluo do mal que assola a sociedade e sim, a base de sustentao na qual emergem mltiplas maneiras para os seres humanos virem ao mundo e se tornarem seres nicos e singulares. Biesta (2013) complementa: vimos ao mundo como seres nicos e singulares pelas maneiras em que assumimos nossa responsabilidade pela outridade dos outros, como acontece naquelas situaes em que falamos com nossa prpria voz. Partindo do princpio educativo sugerido por Biesta (2013), talvez fosse necessrio resgatar atravs da educao, a humanidade do Homem, a fim de que no sejamos tragados pelas ondas bravias da vida. O desafio reside em um ponto crucial salvaguadar a humanidade do ser humano, e isso apenas acontecer, caso admitamos que existe um abismo que separa a educao da socializao, caso admitamos que a educao , nas palavras de Biesta (2013, p. 25) mais do que a simples insero do indivduo humano em uma ordem preexistente, que ela acarreta uma responsabilidade pela unicidade de cada ser humano individual.

A questo do Outro e o encontro com eleOs problemas educacionais atuais, muitas vezes nos remetem a problemas com ns mesmos, nossa humanidade, nossa outridade, nossa alteridade, ou talvez, nossa falta de humanidade, outridade e alteridade. Gert Biesta (2013) prope que os indivduos somente podem tornar-se presena, ou seja, somente podem se fazer existir, por meio das relaes com outros indivduos. dizer, somente nos tornamos presena atravs de nossas relaes com aqueles que no so como ns, somente vimos ao mundo atravs do nosso encontro com o Outro que nos estranho e diferente. Sem embargo, este encontro nem sempre se d amistosamente. A bem da verdade, na histria da humanidade, o homem carrega em si o histrico de no haver se lanado ao Outro atravs da compreenso, da abertura e do dilogo. Temos sim, massacrado, ignorado, assimilado, excludo, includo, aceitado o Outro, mas compreendido, ainda no.Fica em ns a pergunta: Quem o Outro? Ou talvez a pergunta se fizesse entender melhor com a seguinte reformulao: De quem estamos falando quando nos referimos ao Outro? Quem o outro que sempre esteve presente no mundo, no nosso mundo, e que no fomos capazes de enxerg-lo e possivelmente ainda nem o vemos?Deleuze apud Skliar (2002, p. 85) nos abre ao pensamento sobre quem o Outro, em termos deleuzianos.Que o Outro, propriamente falando, no seja ningum, nem voc, nem eu, significa que ele uma estrutura, que se encontra efetuada somente por termos variveis nos diferentes mundos de percepo - eu para voc no seu, voc para mim no meu. Nem mesmo basta ver no outro uma estrutura particular ou especfica do mundo perceptivo em geral; de fato, uma estrutura que funda e assegura todo o funcionamento deste mundo em seu conjunto. que as noes necessrias descrio deste mundo - permaneceriam vazias e inaplicveis se o Outro no estivesse a, exprimindo mundos possveis. (traduo nossa)[footnoteRef:1] [1: Que el Otro no sea nadie propiamente hablando, ni usted ni yo, significa que es una estructura que se encuentra solamente efectuada por medio de trminos variables en los diferentes mundos perceptivos yo para usted en el suyo, usted para m en el mo. No basta siquiera con ver en otro una estructura particular o especfica del mundo perceptivo en general; de hecho, es una estructura que funda y asegura todo el funcionamiento del mundo en su conjunto. Y es que las nociones necesarias para la descripcin del mundo (...) permanecern vacas e inaplicables, si el Otro no estuviera ah, expresando mundos posibles.]

O pensamento de Deleuze nos permite pensar na outridade como realmente um encontro que promove o surgimento das mltiplas possibilidades de relao do nosso eu com o Outro que se revela a ns. Pensar esse encontro consolida a ideia de que atravs de uma possvel sensibilidade que nos abrimos ao estabelecimento de relaes atravs das quais surgiremos como sujeitos ativos e reflexivos e faremos surgir este sujeito no Outro que est diante de ns. Para isso, necessrio que saibamos enxergar atravs do olhar, que saibamos olhar e reconhecer o Outro como um agente que produtor e produto, ao mesmo tempo, de relaes de igualdade. E ainda mais importante, que saibamos que a outridade se silencia num olhar que no v e que por muito tempo, temos sido silenciadores e silenciados.Ser que nos falta sensibilidade? Ser que poderamos pensar que nos falta Amor? Ser que perdemos a habilidade de nos encontrarmos com o Outro e nos reconhecermos como pares? Ser que podemos pensar que pode ser por este motivo e no por outros, que estamos imersos em um mundo repleto de violncia simblica, fsica e moral? Seria a sensibilidade a ferramenta atravs da qual conseguiramos resgatar nossa capacidade de reconhecer o Outro, estar com o Outro, viver com o Outro? preciso que estejamos aptos natural dialogicidade da vida, que possamos escutar o Outro, responder ao Outro, enfim, dialogar com o Outro. A vida s faz sentido com a existncia do Outro. Se faz necessrio o entendimento de que isoladamente no possvel o afloramento da prpria existncia, e por mais frustrante que isso possa parecer, este um fato que no vanescer. Logo, conviver com o Outro, permitir suas aes e agir com elas, para elas e atravs delas, condio importante e sobretudo necessria para que possamos vir ao mundo e promover a vinda do Outro ao mundo. A epistemologia da complexidade, que segundo Morin (2000), a capacidade de unir algo que no deveria ter sido separado, nos leva ao entendimento de que devemos promover nosso encontro com o Outro, promover uma religao do eu com o Outro, entendemos a possibilidade de nos juntarmos ao Outro e assim tecermos relaes realmente humanas. Porm, nos fica a pergunta: o que se espera do nosso encontro com o Outro? O que pressupe a religao do eu com o Outro? O que se entende por estar junto ao Outro? Trata-se de nos abrirmos integralmente vicissitude de compreender o Outro esquivando-nos do lanamento da condenao peremptria em direo a este Outro, trata-se de fazer algo que ainda no fomos capazes de fazer e que condio necessria de tudo que h por vir.Sobre a etimologia da palavra complexidade que cinge toda sua teoria, Morin em sua obra Introduo ao Pensamento Complexo diz que a palavra complexidade se refere palavra complexus advinda do latim, cujo significado o que est tecido junto.A complexidade um tecido [...] de constituintes heterogneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do mltiplo. Num segundo momento, a complexidade efetivamente o tecido de acontecimentos, aes, interaes, retroaes, determinaes, acasos, que constituem nosso mundo fenomnico (MORIN, 2005, p. 13).

Em outras palavras, implica dizer que embora hajam constituintes diferentes, faz-se necessrio lanar um olhar para o conjunto. Sem embargo, a soma do conhecimento sobre cada um dos constituintes, insuficiente para se falar sobre um conhecimento do conjunto formado pela juno dos constituintes. No apenas a parte est no todo, mas o todo est na parte. O princpio hologramtico est presente no mundo biolgico e no mundo sociolgico [...] Portanto, a prpria ideia hologramtica est ligada ideia recursiva, que est ligada, em parte, ideia dialgica (MORIN, 2005, p. 74-75). O princpio hologramtico idealizado por Morin (2001), que versa sobre a parte que est presente no todo, mas tambm do todo que est presente em cada parte, indica que o indivduo (enquanto parte) est presente na sociedade (enquanto todo) e a sociedade est presente no indivduo. Assim, o princpio hologramtico, nos abre compreenso da indissociabilidade de todas as coisas. Nos leva ao entendimento e crena numa viso positiva sobre todas as coisas, a um otimismo sobre o porvir.Por um longo tempo, a cincia foi reducionista, o conhecimento do todo era reduzido ao simples conhecimento das partes que o constituem. De maneira equivalente, se dava o pensamento sobre o indivduo humano, e, por sorte, assumindo o paradigma da complexidade, chegamos ao entendimento de que no possvel conhecer o ser humano conhecendo apenas as partes que o constituem. Sobre o princpio de reduo, Morin (2002, p. 42), diz:O princpio de reduo leva naturalmente a restringir o complexo ao simples. Assim, aplica s complexidades vivas e humanas a lgica mecnica e determinista da mquina artificial. Pode tambm cegar e conduzir a excluir tudo aquilo que no seja quantificvel e mensurvel, eliminando, dessa forma, o elemento humano do humano, isto , paixes, emoes, dores e alegrias. Da mesma forma, quando obedece estritamente ao postulado determinista, o princpio de reduo oculta o imprevisto, o novo e a inveno.

Significa dizer que no h mais determinismos, previsibilidade, no existem mais certezas. A natureza, o futuro, os sujeitos, se constrem atravs de possibilidades mltiplas de compreendermos o mundo em que estamos imersos e no qual vivemos e compreendermos a ns mesmos, frente nossas possibilidades e dificuldades.A complexidade se nos apresenta, ento, como uma forma de resistncia perversidade do mundo, limpando nossos olhos da cegueira que nos impede de ver a esperana que habita em novos horizontes.Morin (2002) nos fala que a educao deve ser responsvel pela ideia de que a unidade humana no apague a ideia da diversidade humana e que a diversidade no apague a ideia da unidade humana. Assim, podemos pensar em uma educao onde possamos compreender o Outro frente s suas diferenas, que no sejamos obssessivos com a ideia da nossa unidade e que no tentemos impor ao Outro a nossa unidade, mas que nossas unidades e diversidades prprias possam entender e dialogar com as do Outro. Com relao ao pensamento de Morin citado nas linhas anteriores, Biesta (2013) ainda reitera que a educao no deve se conter responsabilidade de proporcionar que seres nicos e singulares venham ao mundo, mas sobretudo, que seja responsvel por proporcionar um mundo de pluralidade e diferena, uma vez que este, o mundo onde nascem, seres nicos e singulares.A criao de um mundo plural e diferente, surge de uma abertura democrtica onde os sujeitos possam agir e reagir compreendendo a ideia de que sem a existncia do Outro (possuidor de unidades e diversidades prprias), no h como emergir, de fato, a subjetividade individual. Dessa maneira, entendemos que o mundo plural e diferente se materializa pelo entendimento e o dilogo aberto, respeitoso e responsivo entre os indivduos, que a sua vez, surge daquilo que Morin (2003, p.79 ) chama de auto-tica, que compreende: a preocupao autocrtica na tica-para-si; a conscincia da complexidade e dos desvios humanos e uma moral da compreenso. Pensar a auto-tica de Morin, remete ao pensamento sobre as diferenas. bem verdade que temos a tendncia de julgar e excluir tudo aquilo que no se enquadra em nosso modelo de representao, julgamos e excluimos aqueles que no vivem ou no so capazes de viver e de se adaptar ideia de padro, universal e homogneo, caractersticas marcantes da Modernidade, mas um pensamento ainda mais inquietante: se somos todos possuidores de unidades e diversidades prprias e nicas, como possvel um modelo de representao ser o fundamento para julgar algo dspar? Como pode a representao ser capaz de representar algo que podemos chamar de irrepresentvel, que a identidade de cada ser humano?Morin nos diz (2003) que a tica-para-si quando conectada autocrtica, traz indiferentemente, uma tica para o outro. Significa dizer, ao lanar um olhar para ns mesmos, de maneira crtica e vigilante, podemos nos despir da armadura forjada com verdades absolutas e assim, nos abrir irremediavelmente ao Outro, que nos estranho, diferente e outro, sem atentarmos aos nossos modelos de representao e conscientes de que ns prprios temos nossas fraquezas, negligncias e torpezas, e portanto, no podemos ser juzes de coisa alguma.Voltando ao campo especfico da educao, as ideias de Morin, corroboram com a proposta educativa de Biesta (2013) que compreende a educao como a oportunidade de uma relao pela qual os indivduos possam vir ao mundo, encontrarem sua prpria voz e se constiturem como seres nicos e singulares. Biesta (2013) ainda afirma que dever do educador assegurar que tal oportunidade exista, e que outrossim, permitamos aos nossos estudantes encontrar e enfrentar o que estranho, diferente e outro, e responder com sua prpria voz. Como j dito anteriormente, isso apenas acontecer, a partir de uma religao do eu com o Outro , que ademais, eliminar a dor e a molstia que tanto nos preocupa e que j se converteu em um desejo, que estar junto com o Outro, viver com o Outro, reconhecendo-o como par. A Atualidade[footnoteRef:2] nos prope uma caminhada que nos leva a outro mundo, um mundo que desconhece a condenao e se abre compreenso, um mundo onde possamos fazer educao para o Outro, mas tambm com o Outro, despertando o Amor[footnoteRef:3] latente que h em ns. Um mundo onde possamos criar uma nova pedagogia, nas palavras de Skliar (2003, p. 46): [2: A Atualidade neste trabalho entendida como o momento atual, onde so lanados questionamentos frente s verdades absolutas impostas ao Homem em momentos passados. ] [3: Neste trabalho, tratamos como amor, o afeto de que nos fala Carlos Skliar (2013), o afeto enquanto um gesto que traz a educao de volta ao campo da tica. Skliar chama esta tica de tica Singular ou Responsiva, ou seja, uma tica que que surge como uma resposta perante um Outro especfico, a cada vez que eu me encontro com ele, que d uma resposta a algo ou a algum que nos afeta. Nas palavras de Skliar: sabe cundo uno ya no se queda ms tranquilo, [...], cundo est em viglia, porque algo ha visto, algo ha sentido y hasta que no responde, no est tranquilo.]

Uma pedagogia do acontecimento, uma pedagogia descontnua, que provoque o pensamento, que retire do espao e do tempo todo o saber j disponvel; que obrigue a recomear do zero, que faa da mesmidade um pensamento insuficiente para dizer, sentir, compreender aquilo que tenha acontecido; que emudea a mesmidade. Que desordene a ordem, a coerncia, toda a pretenso de significados. Que possibilide a vanguidade, a multiplicao de todas as palavras, a pluralidade de todo o outro. Que desminta um passado unicamente nostlgico, somente utpico e absurdamente elegaco.A pedagogia proposta por Skliar (2003), talvez seja possvel a partir do momento em que pudermos ver a a humanidade do Homem como uma questo fundamentalmente aberta, cuja anlise deve ser realizada repetidas vezes a fim de nos manter alertas, principalmente frente s tentativas de reduo do que significa ser humano e levar uma vida humana (BIESTA,2013).Biesta (2013, p.196) complementa: Isso certamente mais difcil que viver num mundo em que est claro quem humano e quem no , quem racional e quem louco, quem civilizado e quem no . Mas a sensao de segurana que vem junto com essa abordagem s pode ser uma pseudossegurana, porque a verdadeira questo como viver com os outros que no so como ns no desaparecer.

Talvez precisemos despertar para a conscincia de que somente nos fazemos plenos atravs do nosso encontro com o Outro. Quia precisemos nos reconhecermos uns nos outros e uns com os Outros e esse reconhecer, e como j dito anteriormente, deve ser entendido como um poema que deve ser escrito e reescrito, interpretado e reinterpretado, lido e relido, principalmente nas entrelinhas.

Um novo andejar?A sensibilidade nos proporcionar responder ao Outro atravs do indizvel, nos permitir pensar com o Outro, estar com o Outro, viver com o Outro. Essa sensibilidade nos levar ao belo campo onde se germinam as sementes da humanizao das relaes humanas.Sobre a educao, Skliar (2013) ainda complementa que talvez seja necessria uma nova forma de olhar, um olhar primeiro de igualdade. Para Skliar (2013), a ideia de igualdade perpassa pelo olhar e pelo reconhecer os indivduos e a ns mesmos como iguais, num gesto to inicial quanto simples, apartados da promessa de igualdade ou da utopia de igualdade, que durante dcadas e mais dcadas acabaram por fomentar a desigualdade. Skliar diz que educadores so igualadores[footnoteRef:4] e que por fim, devem afetar, tocar, atingir, ensinar, todos e todas que por sua frente passam e que no se pode fazer isso abrindo com excees. [4: O termo igualadores citado por Skliar (2013), se refere a educadores imersos em uma prtica que lana olhares a seus educandos e enxerga uma igualdade primeira entre os seres.]

O saberfazer[footnoteRef:5] da educao deve abarcar um gesto primeiro de igualdade antes de qualquer outra coisa e que na inexistncia deste gesto inicial, a igualdade sofre a pena de ser apenas uma abstrao. Estamos falando sobre um olhar, um movimento corporal, uma atitude que ao incio do processo da relao educativa demonstre e transmita o sentimento e o reconhecimento de igualdade entre os sujeitos, entre o eu e o Outro. O encontro do eu com o Outro em condies de igualdade, de reconhecimento como pares, abre novas possibilidades de nascimentos, de vindas ao mundo, a exposio ao Outro, a ao conjunta dos indivduos, a influncia do eu no Outro e do Outro no eu nos torna nicos e em certo sentido, humanos. [5: A escritura junta destas palavras objetiva superar marcas que em ns esto devido formao que tivemos dentro do modo hegemnico de pensar, representado pela cincia moderna, na qual um dos movimentos principais a dicotomizao desses termos, vistos como pares mas opondo-se entre si (ALVES, p.41 apud MARQUES; MONTEIRO; OLIVEIRA, 2012).]

O saberfazer educativo deve estar permeado por criaes de sentido produzidas pelas interaes dialgicas que essencialmente configuram o trabalho de educar e educar-se. Dessa maneira, sentimos o clamor da educao por um novo saberfazer, uma nova maneira de encarar as possibilidades pedaggicas, uma nova maneira de criar possibilidades pedaggicas, uma possibilidade mais humana de responder ao Outro, de conviver com o Outro, de olhar o Outro, sem que o assassinemos, julguemos ou excluamos, antes de tudo que possa vir.

REFERNCIAS

BIESTA, G. Para alm da aprendizagem: educao democrtica para um futuro humano.Belo Horizonte: Autntica. 2013.

MARQUES, L.P; MONTEIRO, S.S; OLIVEIRA, C.E.A. Tempos e temporalidades. In: MARQUES, L.P; MONTEIRO, S.S; OLIVEIRA, C.E.A. (orgs) Tempos: movimentos experienciados. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012.

MORIN, E. A cabea bem feita: Repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. Elo Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

MORIN, E. tica, cultura e educao. PENA-VEGA, A; ALMEIDA, C.R.S; PETRAGLIA, I. (Orgs.). So Paulo: Cortez, 2001.

MORIN, E. Os sete saberes necessrios a Educao do futuro. Trad: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 5a edio. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2002.

MORIN, E. Meus demnios. Trad. Leneide Duarte. 4. edio. Rio de Janeiro: Bertrand. 2003.

MORIN, E. Introduo ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005.SKLIAR, C. Alteridades e pedagogas. O... Y si el otro no estuviera ah? Educao e sociedade. Ano XXIII, no. 79, p. 85-123, 2002.

SKLIAR, C. A educao e a pergunta pelos Outros: Diferena, alteridade, diversidade e os outros outros. Ponto de Vista (UFSC), Florianpolis, v. 5, p. 37-50, 2003.

SKLIAR, C. Conferncia: Educar a todos significa educar a cualquiera y a cada uno: sobre la singularidad y la pluralidade en educacin. Universidad de Mlaga. 08 de maio de 2013. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=KlZ8WKuEXnc