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  • MA311 - Cálculo III

    Primeiro semestre de 2020

    Turma B – Curso 51

    Ricardo M. Martins

    [email protected]

    http://www.ime.unicamp.br/~rmiranda

    Aula 31: Sistemas não-homogêneos

    http://www.ime.unicamp.br/~rmiranda

  • Sistemas não-homogêneos sem coeficientes constantes

    Nesta aula veremos como resolver sistema da forma

    ẋ = A(t)x + b(t),

    onde A(t) = (ai ,j(t))i ,j é uma matriz n × n e as funções ai ,j(t) sãocont́ınuas no intervalo (α, β).

    Vamos começar com caso b(t) ≡ 0:

    ẋ = A(t)x. (1)

    Neste caso, temos n equações diferenciais lineares. Note que se

    x(t) e y(t) são soluções da equação (1), então pela linearidade,

    c1x(t) + c2y(t) também será solução.

    Será que existe um conjunto ḿınimo de soluções? Sim, existe!

  • Sistemas não-homogêneos sem coeficientes constantes

    Teorema

    O conjunto das soluções de (1) é um espaço vetorial de dimensão

    n.

    Como encontrar uma base deste espaço vetorial? Usando o

    teorema abaixo:

    Teorema

    Se x1(t), . . . , xn(t) são soluções de (1) no intervalo (α, β) então

    o Wronskiano

    W (x1(t), . . . , xn(t))

    ou é a função nula ou nunca vale zero. Se nunca valer zero, as

    funções são l.i.

  • Sistemas não-homogêneos sem coeficientes constantes

    Outra forma de encontrar uma base para o espaço-solução de (1) é

    a seguinte. Sejam e1 = (1, 0, . . . , 0), e2 = (0, 1, 0, . . . , 0), . . . e

    en = (0, . . . , 0, 1).

    Teorema

    Sejam x1(t), . . . , xn(t) soluções de (1) com condições iniciais

    xj(0) = ej , no intervalo (α, β). Então

    {x1(t), . . . , xn(t)}

    é uma base para o conjunto-solução de (1), chamada de conjunto

    fundamental de solucões.

    A prova do teorema acima é fácil: o Wronskiano destas soluções

    sempre vale 1 em t = 0.

  • Matriz fundamental

    Considere novamente a equação

    ẋ = A(t)x

    e seja {x1(t), . . . , xn(t)} um conjunto fundamental de soluções.

    A matriz

    Ψ(t) =

    x11 (t) x

    12 (t) · · · x1n (t)

    x21 (t) x22 (t) · · · x2n (t)

    ......

    . . ....

    xn1 (t) xn2 (t) · · · xnn (t)

    é chamada de matriz fundamental do sistema, onde

    xj(t) = (x11 (t), . . . , x

    n1 (t)).

  • Matriz fundamental

    Como {x1(t), . . . , xn(t)} um conjunto fundamental de soluções, ascolunas de Ψ(t) são l.i., logo Ψ(t) é uma matriz invert́ıvel, para

    todo valor de t ∈ (α, β).

    A solução geral da equação (1) é dada por

    x(t) = c1x1(t) + . . .+ cnxn(t),

    ou em termos da matriz fundamental,

    x(t) = Ψ(t)c ,

    onde c = (c1, . . . , cn).

  • Matriz fundamental

    Se o sistema (1) estiver acompanhado de uma condição inicial

    x(t0) = x0 = (x01 , . . . , x0n ) então a solução do sistema poderá ser

    obtida fazendo

    x(t) = Ψ(t)Ψ−1(t0)x0,

    onde Ψ(t) é a matriz fundamental.

    Quando a matriz fundamental for constrúıda usando as soluções

    como no Teorema 3 (xj(0) = ej), ela será denotada por Φ(t).

    Neste caso, a solução do sistema (1) com condição inicial

    x(0) = x0 é

    x(t) = Φ(t)x0.

  • Matriz fundamental

    A matriz fundamental não se parece muito com a exponencial da

    matriz dos coeficientes?

    Sim! Porém, a técnica vale mesmo quando os coeficientes não são

    constantes, enquanto a exponencial matricial só vale quando temos

    coeficientes constantes.

    Mas no caso em que os coeficientes não forem constantes, como

    eu vou achar a matriz fundamental?

    Sei lá. Quer dizer, já t́ınhamos este problema antes. Use algum

    método: coeficientes a determinar, variação de parâmetros, etc.

    Use qualquer método que produza as soluções x1(t), . . . , xn(t).

    E o caso não-homogêneo?

    Veremos agora!

  • Matriz fundamental

    Considere a equação

    ẋ = A(t)x + b(t)

    e suponha que você tenha uma matriz fundamental Ψ(t) para o

    problema homogêneo associado.

    A solução da equação não-homogênea vai ser obtida conseguindo

    uma solução particular para ela, usando o método de variação dos

    parâmetros.

    Assuma que existe uma solução na forma

    x(t) = Ψ(t)u(t).

  • Matriz fundamental

    Derivando em t, obtemos

    Ψ′(t)u(t) + Ψ(t)u′(t) = P(t)Ψ(t)u(t) + b(t)

    Como Ψ(t) é a matriz fundamental, temos que Ψ′(t) = A(t)Ψ(t).

    Logo a equação anterior se reduz a

    Ψ(t)u′(t) = b(t).

    Como Ψ(t) é invert́ıvel, segue que

    u′(t) = Ψ−1(t)b(t).

  • Matriz fundamental

    Esta equação pode ser facilmente resolvida:

    u(t) =

    ∫Ψ−1(t)b(t) dt + c ,

    onde c é um vetor constante. Resolvendo agora para x(t) temos

    x(t) = Ψ(t)c + Ψ(t)

    ∫ tt1

    Ψ−1(s)b(s) ds,

    com t1 ∈ (α, β). Se nossa condição inicial for x(t0) = x0 e amatriz fundamental escolhida for a Φ(t) então a solução será

    x(t) = Φ(t)x0 + Φ(t)

    ∫ tt0

    Φ−1(s)b(s) ds.

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    O caso dos sistemas da forma

    ẋ = Ax + b(t) (2)

    é muito interessante, e podemos usar exp(At) para dar a solução.

    Na verdade, estou bem mais preocupado com este caso do que

    com o caso geral em que A = A(t).

    Considere então o sistema (2) reescrito como

    ẋ− Ax = b(t).

    Vamos achar um fator integrante para esta equação. Como?

    Multiplicando por uma exponencial matricial, claro!

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    Multiplicando

    ẋ− Ax = b(t)

    por e−At obtemos

    e−At ẋ− e−AtAx = e−Atb(t),

    que pode ser reescrita como

    d

    dt

    (e−Atx(t)

    )= e−Atb(t)

    e integrada como

    e−Atx(t) =

    ∫e−Atb(t) dt.

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    A integral do lado direito de

    e−Atx(t) =

    ∫e−Atb(t) dt

    pode ser resolvida para obtermos∫e−Atb(t) dt = g(t) + c

    e dáı

    x(t) = eAtg(t) + eAtc ,

    onde c = (c1, . . . , xn).

    Portanto, todo o problema está em calcular uma primitiva para a

    função g ′(t) = e−Atb(t).

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    O exemplo abaixo é muito representativo de tudo que fizemos.

    Exemplo

    Resolva o sistema{ẋ1 = −2x1 + x2 + 2et ,ẋ2 = x1 − 2x2 + 3t.

    Considere

    A =

    (−2 11 −2

    ), b(t) =

    (2e−t

    3t

    ).

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    Desta forma,

    eAt =

    1

    2e−3 t +

    1

    2e−t

    1

    2e−t − 1

    2e−3 t

    1

    2e−t − 1

    2e−3 t

    1

    2e−3 t +

    1

    2e−t

    e dáı

    e−Atb(t) =

    1 + e2 t −3

    2te3 t +

    3

    2tet

    −e2 t + 1 + 32tet +

    3

    2te3 t

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    Agora integramos cada função coordenada de e−Atb(t), obtendo

    g(t) =

    t +1

    2e2 t − 1

    2te3 t +

    1

    6e3 t +

    3

    2tet − 3

    2et

    −12e2 t + t +

    3

    2tet − 3

    2et +

    1

    2te3 t − 1

    6e3 t

    Desta forma, a solução geral da EDO é

    x(t) = etAg(t) + etA(c1, c2)T .

  • Sistemas da forma ẋ = Ax + b(t)

    Note que para calcular eAt é preciso colocar a matriz A na forma

    padrão, calculando seus autovalores e autovetores e tudo mais.

    Além disto, quando calculamos g(t) é preciso recorrer a técnicas

    de integração aprendidas no Cálculo I, como por exemplo

    integração por partes.

    Quem disse que era fácil? Mas o método é bem legal, né?

    Observação importante: sistemas não-autônomos não tem retrato

    de fase, ou seja, as curvas-solução podem se interceptar. Escolha

    alguns valores de c1, c2 para condições iniciais e desenhe as

    curvas-solução para perceber isto.

    Coloquei um resumo nos próximos slides.

  • Resumão

    Dado o sistema ẋ = A(t)x + b(t):

    # Se A(t) ≡ A e b(t) ≡ 0, então a solução é dada por

    x(t) = exp(At)x0,

    onde x0 é a condição inicial.

    ◦ Para calcular exp(At) pode ser necessário escreverA = MBM−1 (forma de Jordan), onde B é a matriz com os

    autovalores e M é a matriz mudança de base.

    ◦ Atenção ao caso complexo e também ao caso de autovaloresrepetidos.

  • Resumão

    Dado o sistema ẋ = A(t)x + b(t):

    # Se A(t) ≡ A e b(t) 6= 0 então

    x(t) = eAtg(t) + eAtc ,

    onde

    g(t) + c =

    ∫e−Atb(t) dt,

    ◦ Note que c não necessariamente é o vetor das condiçõesiniciais, mas pode ser descoberto a partir dele.

    ◦ Podemos calcular exp(At) da mesma forma que antes,passando pela forma de Jordan.

  • Resumão

    Dado o sistema ẋ = A(t)x + b(t):

    # No caso geral, a solução é dada por

    x(t) = Φ(t)x0 + Φ(t)

    ∫ tt0

    Φ−1(s)b(s) ds,

    onde x(t0) = x0.

    ◦ A matriz fundamental Φ(t) é constrúıda colocando em suascolunas as soluções dos PVIs com condições iniciais xj(0) = ej .

    ◦ Atenção: se A = A(t), não podemos calcular exp(At)! Por istorecorremos à matriz fundamental.

    ◦ Como achar as soluções xj(t)? Usando coeficientes adeterminar, ou variação dos parâmetros.

    ◦ O método geral é bastante complicado, e é dif́ıcil acharsoluções expĺıcitas escritas em termos de funções elementares.

  • Exerćıcio

    ExerćıcioResolva o PVI {

    ẋ = −2y ,ẏ = x + aet ,

    com condições iniciais x(0) = y(0) = 1, e onde a ∈ R é umaconstante.

    # Mostre que a solução depende continuamente de a.

    # Esboce a solução deste PVI com a = 0 e com a = 1 e vejacomo as soluções são diferentes.

    # Tente fazer com valores menores de a e veja que as trajetóriasnunca são curvas fechadas se a 6= 0.

  • Exerćıcio

    Exerćıcio (agora em 3D)

    Resolva o PVI ẋ = −2y ,ẏ = x ,

    ż = z + x ,

    com condições iniciais x(0) = y(0) = z(0) = 1. Você consegue

    fazer um esboço desta trajetória?