Lingua portuguesa, globaliza~ao e lusofonia · PDF fileE diretor da revista ... lima empresa...
Transcript of Lingua portuguesa, globaliza~ao e lusofonia · PDF fileE diretor da revista ... lima empresa...
Lingua portuguesa, globaliza~ao e lusofonia
kloises de Lemos lllarfills·
Falar de globalizatyao e falar de integra~ao dos mercacios a escala ll1uncli<li. E fal:"lr de integrar;ao clos mercaclos e fa lar de tecnologias cia
cOlllunicar;ao e cia informar;ao, que sao a condir;ao de possibiliclade dessa integ ra~ao . POI' sua vez, falar de tecnologias cia cOlllunicar;ao e cia infor
mar;:io e falar, t<lmbem , de recles sociotecnicas, que estao cliretamente
conectadas a lima sociedade que tem , na info rmar;ao e no conhecimento,
a sua forr;a geraclo ra . As recles cl isseminam infonnar;ao e conhecimento: lim ponal, llin site,
lim blogue, 0 Pacebook, 0 1iuilfer, (em essa dupla funr;?I0, instrumental e cognitiva. Selvindo as pavos, as cOlllunidades humanas, as instituir;oes, as
empresas, Olltras organiza~oes, os neg6cios, as redes sociotecnicas selvem,
pois, para 0 desenvolvimento humano (Macedo, Martins e Macedo, 2010; La Rocca e Marlins, 2009).
Mas tambem serve m ° desenvolv imento civ ico, que e parte do
desenvo lvimento humano . Ao favorecerem a troca e 0 debate de icleias,
• Professor cateclratico cia Universiclacle clo Minho. Dirige 0 Centro cle Estllclos cle Comunica\=ao e Sociedade (Cecs) . E diretor da revista Comllllicardo e Sociedade e cia Revista LIls6jo11a de £Stile/OS CIl/turals. Dirige 0 programa clollloral Estuclos de Comllnica~ao: Tecnologia , Cultura e Sociedade, num cons6rcio de seis centros de investiga\=30 portugueses. E tambem 0 diretor cia programa doutoral (Minho/Aveiro) em Estuclos Culturais. Preside a Sopcom, a LusocQm e a Confibercom. Publicou , em 2011 , Cr ise 110 Castelo cia CII/tllra - Das Esfre/as para CiS Telas (Sao Paulo, Anll<lblume).
16 Ullgllr1 porl lfg llesa e /us% nia
~ss il11 C0l110 0 at iv ismo na recie, em favor de causas socia is, po llt icas e
cuhurais. as recles sociotecnicas constroem e aprofunclam 0 sentido de
cidadania de lima comuniclacle e 0 seu senl icio cdtieo e clemocratico. ' Apesar de toclos esses beneficios, penso, no ent ;:~nto, que a lingua
gem das redes e menos icleias do que emoc;oes, e 0 sell valor e menos va lor-mercacloria , e menos tarnbem valor informativo e cognitivQ, do que
valor relacional e afetivo . Tanto Oll mais do que a icleia, importa hoje, de
facto, a imagem que se cia de lima cOl11uniclacle, de LIma instituic;ao au de lima empresa (0 look, 0 timiJIg, 0 marketing, a marca - a griffe), assim como 0 design, au seja , a criativiclacle e a jnova~ao. Menos icleias e mais
emor;oes, a linguagem clas recles existe, pais, em fun~ao cia reJa~ao : para
estabelecer contacto, para nos aproximarmos de um outro , para friccio
nell" e massa jar com palavras a pele cle um out ro, para exprimir as nossos
humores, as nossas irrita~6es, para desabafa r ...
Importa, nas recles sociotecnicas, a ci rclilarid;:lde da rede, que consti
lui sempre para n6s proprios lim apoio afetivo. Pode, afinal , nao chegar a
dizer-se nada de importante - mas e importante para nos .1 conexao que
a rede lorna posslvel , lima vez que os <lfetos sao eJetivos. A recle constitui
lim refllg io im<lginario, um<l experimenta~ao, a cria~ao cl e lIlll muncie
Ollt ro, a fabrica~ae cle um illgar cle sonho, oncle nos e posslveJ respirar
nas condi,oes que estabelecemos (Maffesoli e Martins, 2011).
Culturas da unidade e cldnlras da misnJra
E lim entenclimento cacla vez mais generali zaclo na literatllra p6s
-colonial que existem culturas cia unidacle, que se op6em a cuituras cia
mistura. As culturas cia uniclade seri<lm de exclusao e .15 cia mistura seriam culturas de pa rl icipa, ao (Santaella , 2012)' .
Vejcl-se, nesse semido, p O l' exemplo , sobre Jiteraci<l , cidadania e media , e 1l111ito pal1 icuJannenLe sobre experiencias, cHo res e contextos da educae;ao para os media: Pinlo, Pcreim, Pereira e Ferrei ra (2011). E ;:lssinale-se lamiJem o impol1ante <;o ntribtlLo das cOll1l1nicae;oes ou-line em lingua pOJ1uguesa para a pl'Omo.:;;:10 de tim munclo global mult icultural (Martins, 20 12).
2 Vejcl-se, tambem nesse sentido, Fiorin, que convoca 0 romance a Guorani, de Jose de Alencar, para iclentificar a n<t e;ao brasi lcira : "0 mito de origem da na~ao brasileira opera com a uniao cia natl1l'eza e a cll lt llra, Oll seja, dos valores amcricanos com os europeus. 0 13rasil seria , assim , a sfntese do velho e do novo munclo, construfda depois da destrui c;;1o do ediffcio colonial e dos e1ememos pelversos da natureza. Os elementos lllsitanos permanecem, mas Illodificados peJos valores cia natureza americana (Fiorin , 20 11 , p. 125).
Ltngu({ portllguCStl, glob(J/izm;du e Ills%llitl 17
Essa tematiza~'ao e feita, por exemplo, a prop6sito cia nar;ao brasi
leira, considerada, clesde Freyre, como uma clIltllra cle mistllra, de "mis
cigenaC;ao", senclo 0 Brasillllll pafs de "cultura hfbricla", para retomar 0
classico conceito cle Canclini, um pais multicuhural, de cultura participa
tiva e dial6gica (Freyre, sid e 1957[1933]). A idcia de cuitura participativa
e dial6gica, pr6pria de um pais multicultural como 0 Brasil, valoriza os
diferentes contributos - africanos, amerfnclios, orienta is e europeus - na
constrllc;ao cia iclentidacle nacional. 3
Acontece, no entanto, que 0 ocidente foi feito sob 0 influxo cia
cultura cia uniclacle. Foi feito, desde os gregos, por um logos que sendo
palavra, tambem e razao, visto que 0 logos e a instfincia soberana de
decisao. E uno e unico. E foi feito, tambem, pcla tradic;ao judaico-crista,
uma palavra com funr;ao simb6lica, uma paJavra que relJl1e e f<lz uniclacle.
Toclos nos lembramos cle que na simb6lica ociclental, no principio
era a Verbo e 0 Verbo estava orientaclo para Deus e 0 Verbo era Deus,
como e clito no Pr610go clo Evangelho de Sao joao. Ou seja, em sintese,
o grande mito sobre 0 qwIl repousa 0 Ociclcnte e a pabvra, tanto na tra
dir;ao classica, greco-btiml, como na tradir;ao judaico-crista. E a palavra
sempre reuniu 0 que estava disperso e clesorclenaclo, sempre trabalhou
no senticlo cia uniclade, fosse a palavra logos, ou entao simbolo (Martins,
2011a).
o pensamento cia uniclacle contrapor-se-ia entao ao pensamento
cla multiplicidade. 0 principio da iclenticlade, da 16gica de Arist6teles,
junta mente com a clialetica hegeliana e a sua sfntese reclentora, e ainda 0
Mais adiante, Fiorin acrescenta, todavia, uma nota critica: "0 selo de nobreza cia na~ao brasileira e cI,lClo pehl fusao clo sangue portugues com 0 sanglle tupi L . .J esta exclufdo 0 elcmento africa no, que foi importantissimo, juntamente com 0 indigena e 0 europeu, para a forma<;ao da nacionalidade" (ibid., p.26).
3 A iclein da "coloniza<;,10 doce", que teria caracterizado 0 processo de expansao maritimo portugucs, teve no salazarismo c no luso-tropicalismo os seus principais apoios icleol6gicos (Castelo, 1998). E por muito que Ch,lCon (2000, 2002) remeta para 0 desconhecimcnto do pensamento de Gilbelto Freyre a hostilidadc que muitos investig<lclores afivclam ao 11lso-tropicalisI110, a sua mera convoca<;ao e suficiente anatema para l11uitos autares, que nele denunciam UIl1 jufzo condescendente no que respeita it violencia hist6rica em que consistiu 0 coionialismo (por excmplo: Boxer, 1963; Bastide, 1972; Alexandre, 1973).
18 Lfugua porluguesa e /us% Hia
principia cia reuniao icle ntiUiria subjacente a figllra~ao s imb6 lica, contrapor-se-iam ao prindpia cia clife ren~a. Seriam 0 pensamento cia uniclacle e a Jogica cia iclentidacle que funclariam a cultura cia exciusao no Ociclente.
Fixemo-nos, pOl' mornentos, na expansao ocident::ll ciqs seculos XV
e XVI. Sulcando oceanos, abrindo caminho para novas lerrilo rios, pa ra
o utras tenets, ta nto para 0 Ocidente como para 0 O rieme, a ex pansao maritima ocicle nta l seguiu a 16gica cia cultura cia unidacle: 0 territo rio, a u melhor, 0 mundo, era uno; a igreja era ulla; 0 Estaclo era LIm ; a familia
era una; a hist6ria era igualmente una, e ainda pOl' cima clecli nava lima
narrativa cia salvac;ao; enfim , a verdade e ra unica e eterna.4
Quer isso cl izer que a metaffsica cia uniclade e uma escarologia,
entenclicla esta como a projec;ao para cl iante cle um prop6silo reclentor,
ou seja, de um prop6silO para 0 futuro, fundado numa origem perclid;:1.
E essa metaffsica que nos garante um funda mento seguro, lim territ6rio
conhecido e uma iclentidade estavel, tlluito embora paclec;a do "castigo
ocidental", pa ra fa lar como Santaella (2011), cia submissao a "tirania clas
oposic;oes bin{trias" : materia e espfrito; corpo e alma; concreto e abslrato;
forma e conteudo; ser e nao ser; slljeito e objelo; pensamento e senti
menta; razao e emoc;ao. O rclenanclo-se clenlro clo principio cia dualidade
4 Pode dizc r-sc que a expansf!o marftima po rtllgllesa teve lUll momento mitico fllndador, de que a Carta de Perc Vaz de Caminha ao rei POttugues, D. Manuel I, sobre 0 acbameuto do I3wsil, e uma boa expressao - lim tempo lllftico de descoberta e ellcontro. Mas logo se passou a lima segunda fase, de integra\=f!o, e a uma terceira , de domin:l\=ao. A ideia da "divcrsidade do mundo", que a expansao marftima europeia eoloeol! a descobel1o (Moclelski, 1996), ficou, pois, comprometida, p raticamente logo no infcio, petas necessidades imperialistas do capital ismo eomercia l. Tambcm Todorov, em A
Conquista da A l1u!rica (991), coloca-se a questao da alteridade no encontro com 0 outro civi lizacional. Colocando-se na perspet iva da cOl11unica~ao intercullural e opondo-se ao eI1lendimento do ddlogo intercultural, Todorov interroga , antes de mais, a 16gica das intcrdependencias, que se exercem a IreS nfvcis: axiol6gico, praxeol6gico e epistemico. 0 nive l axiol6gico clas interdependencias prende-se com os jllizos de valor que Lemos sobre 0 Olltro. No nlvel prJxeol6gico, colocam-se as pnlticas concrelas de assimi la~ao, submiss;10 Oll indireren\=a relativamente ao outro. POI' sua vez, 0 conhecimento que temos sobre a identidade do outro caracteriza 0 nivel epistemico. Todorov contra ria, po is, a "16gica da unidade", da perspetiva do di[llogo intercultural, lim di(lIogo que desconhece os processos comunicacionais de segrega(ao, d011lina~ao e lomada de poder. Sobre a ideia de "diversidade do mUlldo", com que se conrrontotJ a expansao maritima cliropeia, assim como sobre a qllestao da alteridade no enconlro com 0 oulro civilizacional, vel' Macedo (20 13, Parle O.
JJnp,u(/ jJOrlUp,UeSU, globallz({friO e lusofolllCl 19
sujeito c preclicaclo, a metafisica cia uniclaclc sempre nos clell iclenticlades clefinidas, ou seja, definitivas, em vez de idcntidades indefinidas, ou seja, infinitivas, a fazer-se.
Parece-nos (ltil, nesse contexto, convocar 0 pensamento cia dij'e
reJl(:a de Derricla (1967a, p. 47). Nao existe realidade preexistenle ao discurso, scnelo na linguagem e at raves clela que se constr6i a realidade sociaL Diluindo a oposic;ao entre sujcito e estrutura, ou seja descentrando
o sujcito, a diferel1t;;C1 constitui-se no ate em que se manifesta, "entre Dionisos e Apolo, entre 0 eia c a estrutura" (ibid.).
A diferelIt;;({ "nao pCl1ence simplesmente a historia, nem a cstrutura", e1a "nao se apaga na historia, porque nao esta Ila historia; ela e tambem
"uma estrutura originaria: a aiJertura cia historia, a propria historicidade" (ibid.). Insurginclo-se contra Levi-Strauss, Denicla clenuncia, entretanto, a
metaffsica cia presenC;a, do funclamento ultimo e cia verclade pOl' cletras
do jogo clas reprcsentac;oes, mostrando-se recetivo a participac;ao no jogo infinitiv~, a partir de llma posi,ao indefinicla (ibid., pp. 409-412). Contrariamentc £10 pensamcnto cia uniclade, 0 pensamento cia cliferenc;a
chi-nos, pois, iclentidacles indefiniclas e infinitivas, conforme a nossa conclic;ao hibricla e em socicdacles multiculturais.
Durante sccuIos, ate a Segunda Guerra Mundial, 0 Ociclente tratou
o negro como selva gem, primitivo, "embrutecido, cnrecIado em praticas perigosas" e agressivas (Cunha, 1994, p. 80)5. Na seguncla metaclc do scculo XIX, ainda os portugueses faziam campanhas militares, ditas
5 Spivak (1999) assinaia quc, na litcratura inglesa do seclIlo XIX, 0 africano e descrito entrc a besta C 0 ser humano, uma espccie de animal com rollpas. POI' SLla vez, Lopes, refcrindo·se a Mo(ambiquc c as SLlas Hnguas nativas (l1ngllas bantu), assinaia que, em contexto colonial, para diminllir como pri111itiv<ls as Ifngu<ls da regiao, Lltilizava111-se os tcnnos de "dlalecto", c ainda em situa(oes extrc111as, "1[llgua de ald', como se cssas linguas, diantc da Ifngu<-l portuguesa, a uni('a lcgftima, nao passassem dc mcros sons articlllados (Lopes, 2013, p. 136), Analisando, par slla vez, a "constru(ao clisclIfsiva dos discursos intolcrantes", Barros (2011, p. 264) destaca que, para tratar clas difcl'cn(as, os discursos do preconceito e da intolcrftncia ('onstroc111, entre outros percursos tematkos e figurativos, a animalizac;ao do "outro"; a "antinatur,llidade" do cliferentc; 0 ('anktcr c\oentio da diferenc;a; enfim, a imoralidadc do "Olltro". Desse modo, nos discursos radstas em rel,u;;ao ao negro, por exemplo, 0 tema cia animalizac;ao atribui <to "outro" tra(os fisicos e caracterfsticas c0111portamcnt<lis de animais, desumanizando-o. Alem disso, "Ao colocar 0 'mJtro' C01110 antinatmal [. . .I, 0 discurso intolerante vai trata-Io ainda COlllO 'anof1nal'. Os iguais, ao contrario, s,10 'naturalizados' e considerados 'nonnais'" (ibid" pp. 264-265).
20 LinguCi pOJ1uguesa e Ills% llia
de "paci fi cac;:ao" dos negros em Africa (vejam-se, pOl' exemplo, e m
Mo\ambique, as batalhas de Marracliene, Magul e Chaimite, com Ant6nio
Eoes, Paiva Couceiro e MOllzinho de Albuquerque), acompa nhadas de
campanhas missiomlrias para converter e cristianrza r as pretos, fazenda
obra de "civiliza~ao", C0l110 e n taD se dizia.6
A vi t6ria clas ciemocracias sabre as parses tota litarios clesencacleoll
entretanto. no pos-guerra , lim movimento clos pa ises colonizados de luta
pel a independencia. A Inglaterra perclell a India (1947), e mais tarde as
ccl6nias africanas como, por exemplo, a Roclesia do SuI, hoje Zimbabwue
(1980). A Fra n~a perdell a Indochina, atllal Camboja (1953), e mais tarde
a Argelia (1962) . Muitos parses de Afri ca tornaral11-se inclepencienres .
Entretanto, Portuga l deixoll de fa lar de "selvagens" e de "primit ivos" e
passou a fa lar de "assimilados"7. Na aparencia, a distfmcia entre brancos
e negros deixa de ser intransponivel, embora fiqu e condicionada a sub
missao do negro 010 universo do branco. Ou seja, e assimilado 0 negro
que ace ita os valores da "civiliza«;ao", expressos na subu1,issao e lealdade
pa ra com 0 branco (Cabecinhas e Cunha, 2003, p. 172). Sem cJuvicJa que
a representa~ao do negro corno "assimilado" ex prime un}a rela~ao de
domina~ao, a um tempo simb6lica, social, econ6mica e poiftica . Como
assinala Mia Couto (2009, PI'. 187-188), "A politica p0I111guesa em Africa
6 A seguir a Conferencia de Berlim (1884 / 1885), Portugal , tal C0l110 as potenci:lS coloniais e uropei.ls, desencadeou UIll:l corricln a ocupa.;ao de Africa: .1
domina~ao imperial do territ6rio sobrepunha-se, assim, ao tradicional dire ito hist6rico de propriedade. Foi entao que 0 famoso "Mapa Cor de Rosa", expressao por que ficou conhecida a pretensao pOI1Uguesa de liga r Angola a Mo.;ambiqlle, embate l! de fre nte COIll os inte resses imperi.lis ingleses de ligar 0 Cairo ao Cabo. 0 Ultimatllln, decrctado pela Inglaterra a Portugal, em 1890, dcsfcriu lim rude golpe no orgulho colonial pOl1ugues e desencadeou l1l11 fervor naciona lista, que apreSSOl! a quechl chi Mo narqllia e levou a j nstaura~ao da Rep(lblic<l, em 1910.
7 0 "Est at uta dos Indfgenas Portllgueses clas Provincias da Guine, Angola e Mopmbique" foi aprovado pelo Decreto-Le i n. 39 666, de 20 de maio de 1954. Estabelecia a distin~ao e ntre ind(genas e {lssimilacios. Mas com o objetivo de assegll rar uma reserva de mao de obra, que respondesse as necessidades do Imperio, depois do (erma do trMico de escravos, foi eslabelecido, em finais do secli lo XIX, em 1899, lllll reglilamento sobre 0 Iraba lho indfgella , que fazia a distinc;~o ent re 0 indfgena eo civilizado a ll assimilado, "eSlallilo rese rvaclo a lima minoria negra, que respondia a longo prazo a um cOlljunlo de criterios e pralicas cuilura is ideruificados com a < civili za~ao
p0l1uguesa'" (Begue, 2012, p. 173).
Ungll{l portllguesa, globaliza~ao e Ilisofollin 21
foi orientacia no sentido de fabricar uma camacia social - os assimilados -capaz de gerir a maqllina do Estado colonial. Os candidatos a assimilados deviam virar as costas a sua religiao, a sua cultura, as suas ralzes".
Desde a entrada na decada de 1960, dao-se as guerras pela independencia das colonias portuguesas. Alguns anos antes, em 1951, Portugal deixa de falar de "imperio colonial" e de "coI6nias". Trata-se agora de "ultramar" e de "provincias ultramarinas". Portugal quer-se um "pals uno, multicultural e pluricontinental", do Minho, a provincia mais ao Norte clo territ6rio continental portugues, ate Timor, no Sudeste Asiatica. A guerra da inclepenciencia, 0 EstacIo portugues chama "teHorismo" e, aos guerrilheiros, chama "terroristas", ou "tunas", Oll, ainda, "bandoleiros".8
Em 1975, um ano apos a queda clo salazarismo/marcelismo, POliugal faz a descoloniza<;ao. Mas e 0 colonizador que diz tel' feito a descoloniza<;8.0. 0 colonizado tem um discurso diferente. Diz tel' feito "a luta annada" e tel' ganhado a indepencIencia ao combater 0 colonizador, expulsando-o do seu territ6rio, pel a for<;a clas armas, numa luta de guerrilha.9 0 IlaS
drnento de novos pafses faz acrecIitar, por algum tempo, que as antigas colonias eram um ex€mplo vivo de povos que nao quiseram ser Hapaga_ dos" nas suas mem6rias, venda a sua iclentidade anulada na narrativa, una e (mica do colonizador, que exercia uma domina<;ao, polftica, economica, sodal e cultural, "assimilando-os"lO.
A cultura do uno, uma cultura logocentrica, etnocentrica e imperia!ista, que assimilava a diferen<;a, cIestruindo-a, sucecleu a cultura do m61-tiplo e cia participa<;ao, a da multiculturalidade, manifesta no surgimento de uma vasta pan6plia cle pafses diferentes e l1luiticultllrais, fundacIos na
8 Vel', pOI' exemplo, "Videos e documentarios HTP - Guerra Colonial 0961-1974)". Disponlvcl em: <http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/guerracolonial/?id~83&t=2#list83>. Acedido a 07 jun 2013.
9 Retomando esse ponto de vista, lllas referindo-se tambem aos colonizadores como colonizados, Couto (2009, pp. 191-192) assinala: "Nao foi Portugal que descolonizou os palses africanos. A descolonizar;aa s6 pode ser feita pelos pr6pri9s colonizados. E n6s todos eramos colonizados. Descolonizamo-nos uns <lOS outros, uns e outros".
10 it <linda como ato de insurgencia contra a expropriar;ao e a apagamento da vaz e da narrativa pr6prias que Nataniel Ngamane (2012) se encrespa, ainda haje, contra a designar;ao de Mor;;'lInbique como pats lus6fono. E tambem Mia Couto (2009, p. 191) distingue entre a escolha que Mor;ambique fez da lingua portuguesa e a sua condi<;ao de pais Ills6fona: "0 portugues e adotado nao como uma heranp, mas como 0 mais valioso trofell de guerra. Se a ado~'ao do portLlgues foi tim ata de soberania, ja a criar;ao da lusofonia nao resultou da iniciativa pr6pria de Mor;ambique".
22 Lingua par/ugliest! e /usa/ollia
riqueza de Illuitas IingU<ls, na mistura de muit,lS etnias e na explosao de
lima Illuhiplicidade de narr<ll ivClS. Tambem e esse 0 espa~o cia lusofonia , lim espac;o plu ra l num contexto p6s-colon ial. ll
A c1iferenc;a p~H'ecia impo l" agora os sells clireitos. ESlav3mos nos 3110S
1960 e 1970. Para Illuitas dessas antigas col6 nias, pode falar-se entao de "parses em vias de clesenvolvimento" . Foi assim com a Argelia , a Tanzan ia,
a Nigeria, 0 Zirnbabwue , e l<1mbem com Angola e [vlo~ambiqll e.
Mas fo i pOl' p O ll CD te mpo que a cuitura cia dife renc;a e cia partici
pa~ao fez valeI' os sells cii reitos, porque hoje, pOl' toclo 0 laclo, a cultum clo uno voltOl! a levar a melhor sabre a diferenc;a, e a l11uhicultura lidade
regride em favor cia "cultura-munc!o" (Lipovetsky e SeIToy, 2010; Martins,
Cabecinhas e Macedo, 2011), lima icleia hOlllogeneizante e empobrececlora
das culturas, que clillli melll6rias e fronleiras, virlllaliza paisagens e apaga pavos e na~oes . 12
As redes globais cia infonna~ao, proplIlsadas pelas lecnologias cia jnfonna~ao, acelerara lll 0 tempo hist6rico e mobil izaram a epoca, tota l
e infinitamente, criando 0 mercaclo global. A cinetica do munclo e agora
esta , a de um mercado global, cr iado pelas tecno logias d;] informac;flo,
um espac;o de com role, que tudo converte em mercacloria, bens, corpos e almas, e nao cessa m de nos Illobilizar para ele.13
11 Fioril), ao interrogar a utopia de lim espa(o IlIs6fono, funda-o nessa cullum do m(i1 tipio e da participa \ ao, um espa~o Illulticllhural. Depois de convocar Benveniste, e a sua obm 111SlitWiollS ludo-Ellropeellnes, iembrando que ptilritl e pal sao formados pela Illesllla I"<l iz, remctendo ambos para a /Jotes/as, cli z 0 segllinte: "A lusofonia nao sed p<"i tria, porquc nao sed tim espa~o de podcr ou de autoridade. Sed m(uria , porque cleve ser UIll cspa\'o de scntimento, e ser<"i fr{ltria , porque cleve scr 0 espa~o de iguais que tem a mcsllla origem" (Fiorin , 2011 , pp . 134-135). Couto (2009, p. 187), por sua vez, insistc no cl istinto entendimento quc os mo\,ambicanos (em sobre a lusofonia, relativ<lmente a portuglleses C b rasi leiros: "A adesiio mopmbicana a lusofonia est{l curegada de reservas, aparentes rccusas, desconfiadas aderencias" .
12 Vcr lambcm, ncsse scnliclo, Mart ins (2011b). 13 A idcia de encarar ,,'a lingua como prodlllO" ( RCIO, 2012), como Ifng lla
cl e conhccimcnto e conH~ rc io, e lima cxcclente ilustra~ao dessa cinetica e dessa ll1obili za~ao. NUIll eSluclo inlitulado Polellcial lkoJlomico da Linglla POIlIIg uesa, cncomenclado pelo Instilllto Camocs - Instituto cI·a Coopem\ao e cia LIngua c coordenado po r Luis nCIO, os principais capitulos lem a seguimc cles igna~ao: "Efeitos de rede e valor econ6mico cia lingua"; " Va lor cia Hngua e das ind(lslrias cullurais e criati vas em pcrcentagem do pm"; "Comcrcio ex tcrno c inveSlimcnto d irelo estrangeiro (I DE)"; "Fluxos mign1l6rios e turismo" .
Hilguet jJortugliesa, g!aba/izm;rlo e {/{sa/allin 23
As tecnologia~ cia informa~ao constituem 0 "rei clanclestino" cia nossa
epoca (Simmel), Elas Jigam giobalmente os inclividuos em tempo real e
criam nelcs 0 cerebro de que precisam: (1) 0 cle individuos moveis, ou
seja, 0 de indivfduos que assumem doravante uma condic;ao nomada,
precdria, sem direitos sociais, (2) prontos para a mobiliza~ao, 0 que sig
nifica, prontos para qualquer trabalho, responc\endo em permanencia as
necessidades do mercado, (3) 0 de indivfduos competitivos, com 0 sentido
apurado da 16gica cia produc;;:ao, (4) e performantes, ou seja, realizadores,
concretizadores de sucesso,
Moveis, ou seja, prontos a ser mobilizaclos, competitivos e perfor
mantes, quer dizer, aptos a trabalhar para 0 mercado, e tambem para
o banco de dados, 0 rallking e a estatistica, enfim, para aquilo a que a
tcodiceia do mel'caclo chama "qualiclacle" e "excelencia". As tecnologias da informa~ao podem programar-nos assim, podem dar-nos esse cerebro,
ebs que se constituiram entre n6s como lim espac;o de controle.
A metafisica tradicional era funclada na palavra, um espar;;o de pro
messa. E a promessa cleclinava um futuro, danclo-nos garantias sabre ele.
Essa metaffsica cia uniclade acabou no Ocidente: ja nao lan~amos um
prop6sito para diante (para 0 futuro), funclanclo-o numa origem perdida.
Agora e para 0 presente que somos mobilizaclos. As palavras cia promessa
(centradas no futuro) foram substitufdas peIos nll1nerOS cia promessa
(que, no Ocidente, sao sobretudo nll1llCrOS da crise): os do Produto
Interno Bruto (PIB), que nao crescem ou tem crescimento negativo; os
cia Baiarwa Comercial, com desequilibrios cronicos entre as exporta~oes
e as importar;;oes; os clo dCfice, interno e externo; os do desemprego; os
do envelhecimento da popular;;ao; os clas desigualclades socia is, que se
alastram; os da quebra drastica dos Indices demogrMicos ...
Trata-se de nlU11eros vil'ados para 0 presente e que, no Ocidente,
assinalam a sua crise. 0 padre, 0 homem de leis e 0 poiftico j3 nao orga
nizam a vida no Ocidente, porque a crise se impos no presente de modo
a nao se vislumbrar um horizonte; para a promessa, temos agora os eco
nomistas,' os engenheiros e os gestores. Sao os nossos magos - magos
do presente.
Nesse contexto de mobiliza~ao tecno16gica para 0 mercado global,
com as culturas em escombros e por entre paisagens cle rufnas, a tema
tizar;ao do debate sobre a lfngua chega a assemelhar-se a Ulll.:'1 alucinada
narrativa messifInica. Numa entrevista concedida ao site "Inteiigencia
Economica", por ocasiao do lan~amento da obra Potencial Ecollomico
24 Hugua porluglfesa e !us%llia
cia Liug l/a PorlllgllesCl, pOl' si coordenada, LU Is RetD, reitor do ISCTE-IUL,
exclama: "Esta e a hora do portugues" « ilttp :/linteiigencia economica.
com.pI»14.
E colocanclo de imecliato a lingua portuguesa na ' ro ta cia economia ,
avisa que a navegac;ao sera agora em dire~ao a lim novo arquivo cultural ,
em que a lingua seja "procilHo" e "va lor econ6mico", sendo avaliada a sua
importancia em termos de percentagem no PIB ( ibid.). Lan~ada . pais, ao
mar cia sua transfonna~ao "numa palencia econ6mica munclial" (ibid.), 0
fumo cia ifngu:l portuguesa e, por lim lado, "a comunidacle lus6fona ", e,
pOl' Qutro, "0 vaJor criaclo para fora, para urna economia em rede" (ibid.).
Tecnologias da informa~ao, globaliza~ao
e rede sociotecnica lus6fona
Partincio do Ociciente, as tecnologias cia informac;ao prociuziram,
toclavia, a "globaJizac;ao cosrnopolita", uma globali zi:lc;ao comandada par
especu ladores e usunl rios, que serve 0 mercado globa l, para onele nos
mobiliza, total e infinitmne nte Olinger, 1990[1930]; Sloterclijk, 2000; Mal1ins,
2011b). Como assinalei, essa globali zac;ao nos deu tJll1 Cl iclenticlacle defi
nida, ou seja , definili va, a de individuos m6veis, rnobili zaveis, compeliti
vos e performantes. 'fem~s, po is, agora, uma outra cuitura cia uniclacle, a
"cultura-mundo", servida por lima (mica lingua, 0 ingles.
A "globalizac;ao cosmopolita", funclacla nas tecnologias cia informa
~ao e na economia, nao pode ser contrariada par indivicluos solitarios e
impotentes, nem por ESlados-naC;6es em crise. A globalizac;ao COS1110PO
Iita reqller a alternaliva de lima "globalizac;ao multiculturalista" (Marlins,
2011b), "natllralmente associacla ao mllitilingllismo" (Lopes, 2013, p. 139),
um clesafio que se espera possa rellnir os pavos de areas geocliiturais
14 "Estao criacla's loclas as concli~6es para lornarmos iSlo lim fen6meno global", diz ainda LUIS HelO na enlrevista int ilulad'l "0 valor economico cia lingua portuguesa", concedida ao mesmo site « Imp:! / inleiigenciaeconomica.com.pt». E defendendo que e do interesse de IOclos os Estados da Lusofonia que "a afirma~iio da LIngua seja global", afinna a convio; iio de que "Hapidamenle loda a America Latina eSlad a falar po rtugues" (ibid.). Enltlsiasmacio, entrelanto, com as pagillas que a revista nOlle-americana Monocle dedicou a wGeneralioll Llisopbonia" , concluiu : "a Monocle fez mais peia notoriedade cia Lingua do que n6s e a CPLP fi zemos" (ibid.).
Lilzgua portuguesa, globo/izariio e lusojoJlio 25
alargadas, que promova e respeite as difercnr;;as, dignificando as Hnguas
nacionais, aquila a que Lopes (ibid.), fundado na cxperiencia mo~ambi
cana, chama de "sistema eco16gico linguistico".
A globalizar;;ao multiculturalista e fcita pela mistura, pela miscigena
c;ao de etnias e pela miscigenac;ao de mem6rias e tradic;oes, enfim, pelo
plurilinguismo 1-) (Brito e Martins, 2004).
E esse 0 contcxto em que se insere a lusofonia como movimento
multicultural de povos que falam a mesma lfngua, 0 portugues. A luso
fonia, ao inves cia homogeneizac;ao empobrecedora e de sentido (mico,
estabelecida pela globalizac;ao cosmopolita, tem a virtude do heterogcneoj
a seduc;ao de uma rede tecida de fios de varias cores e texturas, UIna rede
capaz de resistir a reduc;ao do diverso a UIna unidade artificial.
Precisamos, no entanto, manter-nos vigilantes sobre todos os equf
vocos que possam atravessar 0 conceito de lusofonia:
(1) devemos dcsconstrl.lir as cqufvocos de uma centralidade por
tuguesa cia lusofonia (Martins, 2006)16;
15 Lopes (2013) sente-se constrangido com 0 concdto de globaliza<:;ao lus6fona, par Ihe vcr associada a idcia de desvaloriza~10 das Hnguas nacionais. Inspirando-se na lfngua bantu, ve ai LIma timaka, ou seja, um "contlito", para 0 qual e preciso encontrar uma SOlll(aO. Chamando a debate 0 liYfo que escreveu em 2004, A batalha elas lrnguas, Lopes (2013, p. 145) confessa entender a babeliza<;:10 e tudo 0 que passou elepois de Noe como 0 infcio da maravilha que julga ser 0 1l1uitilingllis1l1o. Nesse sentido, e no seu ponto de vista, 0 1l1uiticulturalis1l1o 1l1ultilinguista transforma-a em miltmdo, que no p011uglles mo<;ambicano, pOl' via cbs lfnguas bantu, quer dizer urn problema ja com <l solll<;ao nas maos e COI11 a indica<;~10 do caminho que e necessario pcrcorrer. Tambem Ngomane (2012), atllal diretor da Escola de Comllnica<;ao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, recusa, em Mo<;ambique, 0 conceito de lusofonia: "LlIs6fonos, e? S6 se for no quaelro do velho sonho imperial portugues do alem-mar, do Minim a Timor".
16 E nlCU entendimento que nesse equfvoco reSSO<l, embora remota mente, ainda uma "visao Ilisocentrica" salazarista (Martins, Oliveira e Bandeira, 2011). TaI'nbem Ribeiro (2013), num texto que assinou no suplcmento ipsiloll do jornal Pi/blico, de 18 de janeiro de 2013, com 0 tftulo "Para acabar de yez C0111 a lusofonia", denuncia esse equivoco. Mas como bem assinala Pomar, em cinco posts que escrevclI no seu blogue, entre 19 de janeiro e oito de fevereiro de 2013, 0 texto de Ribeiro assenta ele pr6prio em alguns equfV{)COS, nan senelo 0 mais despiciendo 0 de excluir a bibliografia que n10 reconforta as Sllas posil;oes (veja-se, sobretudo 0 post que escreveu a 20 de janeiro de 2013, acedido a 16 jlln 2013: <http://alexandrcpomar.typepad. com/alexandre_pomar/2013101/111sofonia-3.html> ).
26 LIngua por/uguesa e /us% llia
(2) os equrvocos de reconst i lu i ~ao, em contexto p6s-colonial, de
narrativas do antigo ilnperio, hoje com prop6siloS neocoloniais,
sejam eles conscientes Oll inconscientes (I3aptista, 2006, Call to,
1993 e 2009; Ngomane, 2012) 17;
(3) tambem os equlvocos clo Iusotropicalismo renascente e redi
vivo, de uma "coloniza~ao doce", que hoje tanto pode gloriri car
a antigo pars colonial corno exa ltar as atua is parses indepen
dentes (Cape la , 1974; Casle lo, 1999; Freyre, sid)";
(4) e ainda , os equfvocos de algum cliscu rso p6s-colonial, que e a narrativa de lima hist6ria do "ressentin1ento", 19 lim disclirso
17 Com cfc ito, nos casos de paises africanos mu ltilingues, COIllO Angola e JVlo~ambique , a lllsofonia pode nao passar de "Iusoa fonias" (Couto, 2009). E, nessas circunslancias, "quem qucr SCI' apagado?" (Ngomane, 2012).
18 Nunca cxistill lima "co lon iza~flo doce". C.l pela , na illl l"Ocilu; ao ao livre que publicou, em 1974, intitulado Escmvfllurtl. A empresa de saque. a abolicioJlisl1/O (18 10-1875), mostra como ainda nos anos 1940, 1950 e 1%0, a escravatura era regra 11<1 Colonia POltuguesa de t\'lo~·ambique. Exemplo disso foram as notas cia visita que 0 Cardeal Cerejeiu fez como leg~lclo ",I lmere" do Papa, para a sagrae;r1O da Catedral de Lourenc;o Mclrqucs, em 1944. Ao passar pela Missflo do lie, na Zambcsia, comenloll , no sell cl i;hio: "[, .. 1 c preciso que cesse 0 abuso cle se constru ir gr<lI1c1es fOl1lll1as com 0 sangue dos pretos" (Capeicl, 1974, p. 13). Depo is, cm viagem p:l ra M;lceqllece, manifcstou 0 sell des,llenro: "Impera na Bcira a escravatu ra! N;Jo h;1 m;lllei ra de se convencerem que os pretos sao pessoas hUlllanas" (ibid .) . A clenlmcia cia ideia de lima "coloni za\,iio doce" e feila, tambcm, por Begue (2012), na sec~,10 "L'indigenat: un ap;lItheid non avouc" (ibid ., pp. 173-"(74). POI' sua vez, Baptista, com lim enfoquc pr6prio cia tcoria cia cultura, Illostra como, ja durante 0 Estado Novo, "a feriela que todo 0 colonialismo se esforp por esconder", a de tl111:1 "identicbde negada c humilhacla do negro na sua propria terra ", fo i abertamcnrc ex posta na sua intrfnseca violencia, primeiro atraves da literatura , c dcpois pclo ci ncma (Baptista, 2013).
19 I3loolll 0997, p. 31) fala, ncsse contexto, dc lima "Escola do ressentimcnto", em que associa "afrocentristas" a " feminisl<is, marxistas, novos-historicistas de inspirac;;10 fouca ultiana , Oll desconstnnores". Tr:lta-se de uma crft ica lIlll
tanto controversa. Ena ltcccndo, pOl' lim !aclo, aqllilo que designa como "C'inone OCiclenlal", quc "cx istc prccisa mcnte P;lnI impor limilcs, para cstabelccer lim principio de medida" (ibid ., p. 44), Bloom desqualifica como "resscntidos" (ibid., p. 42) aqueles a que chama de umulticultura listas" (ibid., pp. 29 e 39), que bem gostariam, em SCli enlencler, de se livrar de utodos os homens brancos europclls e ja fa lcciclos" (ib id. , p. 48). No meslllo sentido, entcndc-sc 0 processo dc descreC\ibi li za~'iio a que l3loom (ibid ., p. 40) sujeita a escritora americana negra , Alice Walker, aulonl de Meridia no. Nesse contex to, ga nl1a parti cula r relevo a il1trodu \,fl o no d ebate contcmpora neo do tema "d lnone lus6fono". Vcr, por exemplo, Venfl ncio
L(lIgllC1 jJOrtllgllcsa, glolJafizardo e lusq(oll/(/ 27
que se constitlli como lima especic de vindicta historica, de
"revanche" ser6dia, a pretexto de rcsgatar a memoria de um
passado colonial. 20
Conclusao
E c nesse contexto, afastados todos csses equlvocos, que as tecnolo
gins cia informa~:Jo ganham novas virtllaliclades. A convergencia de recles
informaticas e de telecomllnicac;oes, tal C01no obscrvou \Vebster (1999),
pennitill 0 desenvolvimento de rneios de ge.stao c de clistribuic;ao cia infor
mac;ao, bem como a possibiliclade de estabelecer liga<;ao, em tempo real
e a baixo custo, entre espas;os flsicos geograficamente distantes. Como
conseqllencia clessa revolw;ao clas tcleC011111nica<;oes, surgiram na internet,
entre 0 final do secllio XX e 0 tempo presente, "milhares de blogues e
de Olltros c1ispositivos escritos em Hngua portugllcsa, tendo-se esta tor
nado numa cbs mais presentes na Yflorld Y'(f(de W'eb" (Macedo, Martins e
Cabecinhas, 2011, p. 130),
Em 2010, segundo a IJlternet ''(Iorld Statistics, a internet era lltilizac!a
qU<1se pOl' dois mil milhoes cle pessoas (dois bilhoes de pessoas) em
toclo 0 mundo. E os utilizadores lus6fonos eram cerea de 83 milhoes,
representanclo a quinta c0111unidacle linguIstica corn maior presenc;a no
ciberespa~:o, a frente dos utilizaclores falantes de alemao, arabe, frances
c russo (ibid.).
(2012). A.., "cscriws da /}/orgen!" a que Venfmcio se refere sao as de In{\cio Rebelo de Andrade e AdeJino l·orrcs.
20 Era comulll, sobretudo nos anos qlle se seguiram a indepl'nclencia clas col6-nias portllgLles~15 em Africa, circlliarem nos media desses parses variadissimos exemplos dessa "hist6ria do ressentimenw", uma hist6ria argllmentada em termos racials e fllndada na "lcgitimidade histor1ca" de sc tel' participado na luta armada. Para dar lUll (l11ico exemplo, con\'oco 0 artigo de opiniao do jornalista Salomao j\Ioyana, publicado no jornal diario mor;ambicano Notre/as, de 13 de outubro de 1993, que denuncia como raci.''>tas e intolerantes as cr6nicas que 0 ministro da lnforma<;ao mO~'ambicano, Rafael j\'iagllni, antiga vot': da Frelimo na Tanzfli1ia, entao publicava, com 0 pselld6nimo de Vandole Ukalyol. Escreve Moyana: Vamlole: cOllsiclera-se "no caminho certo" e "patriota" "simplcsmente pm ter participado na iuta armada e por ser preto". E cita expressamente Vandome: "Para nos pretos, termos i\linistros em l\Io~'ambiqlle e lima conquis[a cia Ima de liberta~'ao l1aciol1a\", que "os colonialistas portugueses nao nos deram. de mao beijada" (J\Ioyana, 1993).
28 Linglla porluguesa e lus% llia
E nesse contexto em que gostaria de convocar 0 projeto colelivo de investiga~ao, em cursa no Centro de Estucios de COl11unica~ao e Socieclade (Cecs) cia Universidacle clo Minho, sabre "narrativas icle ntitarias e mem6ria
social - (re)constrw;oes cia lusofonia em contextos interculturais".21 Ao analisa r lim conjulllo de blogues porlugueses, rno~ambicanos e
brasileiros, que c!ocumentam as enormes virtualiclacles desses dispositivos
de clicllogo inte rcultura l, esse projeto convoca a questao cia divers idacle do muncio ius6fono, colocanclo-se a questao com que ja se havia confrontado a expansao maritima portuguesa: a de lima descoberta noetica, tambem a de LIma filosofia cia integra~ao, e ainda a de lima icleologia cia clomina\=ao, enquanto conexoes cia re la~ao com 0 munclo cliverso.21
As tecnologias cia informa~ao e cia comunica~ao permitem, pois, clisclltir globalmenre, em portugues, temaricas lus6fonas. E enquanto e interrogado 0 olhar com que cada pais de expressao portuguesa enca ra a lusofonia , e lan\=aclo 0 desa fio de abrir caminho novo, que seja, na dife
ren~a, promessa cle clia!ogo, coopera~ao, paz e clesenvolvimenro.
21 Sobre 0 Projeto "Narrativas Identit{lrias e Mem6ria Social" (Re f. P1'OC/ CC!COM/ 10510012008), ver: <http://www.lasics.uminho .pt/ idnar/>.
22 E esse 0 ponto de vista desenvolvido p~r Macedo (2013), na tese de doutorame nto, apresentada na Universidade do Minho, com 0 titulo Da c1iversidade do 11l1llldo ao l1Iulido diverso da Ills% llia: a reillvell~do de Ulua comlill;dade geocullural lUI sociedade em rede. Inspirando-se no tdpt ico fa rdlm das De/(cias, de Hieronymus Bosh, sobre a divers idade do mundo, Lurdes Macedo ap rofunda 0 conce ito de lusofonia projetanclo-o como um conceito cOlllplexo, que cOlllpreencle tanto lima hist6 ria de coloniz<l\"ao, como uma hist6 ria p6s-colonial. Tomanclo como melMora 0 trfptico de Bosh, que nos fala da diversidade do mundo, nUllla hist6 ria da coloniz<l\"ao, at raves da expansao marItima , 0 conceito de lusofonia talllbelll pode fa lar-nos cia diversidade do mundo , IlUllla hist6 ria p6s-colonia l de navega\"ao oll-lille, em que os paises lus6fonos partilhalll d ife re n\"as e interdepende ncias, numa cultura de p.1Z e desenvolvimento. Nesta hist6 ria de colonia lismo e p6s-colonia lis1l10, c toclavia salvaguardada a complexicbde de ambos, e m tempos sa lie ntada por Boaventura Sousa Santos (2002, p. 31) : "Enquanto 0
discurso colonial assentQU na poJariclacle e ntre 0 colonizador (Pr6spero) e 0
colonizaclo (Ca lib.ln), 0 p6s-colonialismo salienta a ambivalencia e a hibridez entre ambos ja que nao sao inclepenclentes lUll do outro nem sao pensaveis lim sem 0 o llt ro".
Lfngua pm1uguesa, globa/izaf(c1o e lllsofollia 29
Referencias
ALEXANDRE, v. (973). "Le colonialisme portugais: n'alite et my the". In:
Suisse-Portugal, de l'Europe ell'Ajrique. Genebra, Pl'. 8-17. BAPTISTA, M. M. (2006). "A lusofonia nao e um jarditn ou da necessidade
de 'perder a medo as realidades e aos mosquitos"'. In: MARTINS, M.
L.; SOUSA, H.; CABECINHAS, R. (eds.). ComUilicar;iio e lusojoilla.
Leitllra cn7ica da cultura e dos media. Porto: Campo das Letras,
PI'. 23-44. __ (2013). Identidade Cultural Portuguesa: do colonialismo ao p6s
-colonialismo. Li~iio. Provas de agregac;ao em Estudos Culturais,
realizadas na Universidade do Minho, a 11 e 12 de junho.
BARROS, D. L. P. de (2011). "A constru,ao discursiva dos discursos
intolerantes". In: __ (org.) PrecoHceito e Inlo/erancia. Reflexoes Lillg11istico-Discursivas. Sao Paulo, Universidade Presbiteriana
Makenzie, PI'. 255-270. BASTIDE, R. (1972). "Lusotropicology, race, nationalism, class protest
and development in Brazil and portuguese Africa". In: CHILCOTE, R. H. (ed.). Protest alld resistallce ill Angola alld Brazil. Berkeley,
University of California Press, Pl'. 225- 240. BEGUE, S. (2012). "Societes dans I'Empire Portugais". In: BAR]OT, D.;
FREMEAUX, J. (orgs.). Les societes coloniales ell'age des empires des
anllees 1850. allx amu!es 1950. Paris, Sedes/Cned, PI'. 168-176. BENVENISTE, E. (969). Le vocabulaire des illstitlltions illdo-europee,,"es.
Paris, Minuit, 1 voL
BLOOM, H. (1997). 0 Callone Ocidelltal. !.isboa, Temas e Debates -Actividades Editoriais.
BOXER, C. (963). Race relations ill the pOituguese colollial empire, 1415-1825. Londres, Oxford University Press.
BRITO, R. e MARTINS, M. L. (2004). "Considera,oes em torno da rela
C;ao entre lfngua e pertenc;a identitaria em contexto lus6fono". In:
Alluario internaciona/ de Comunicafiio LlIsa/ona 2. Sao Paulo,
Feder~lc;ao Lus6fona de Ciencias cia Comunicac;ao, pp. 9~77.
CABECINHAS, R. e CUNHA, L. (2003). Colonialismo, identidade nacional e representac;oes do "negro". E,llldos do SeCli/O xx.
CANCLINI, N. G. (1989). Cllilltras hfbridas. Estrategiaspara ellfrarysalir
de la lI1odemidad. Mexico, Grijalbo. CAPELA, J. (1974). I!SCI"avatlira. A empresa de saqlle. 0 aboliciollisll1o
(1810-1875). Porto, Afrontamento.
30 LlnBI/CI porlllglfesa e {lls%llia
CASTELO, c. (1999). "0 Modo pOr/llglles de es/ar 110 1IIIIIIdo ". In : 0 11150-
-/ropiealislllo e a ideologia cololliet! por/llgllesa (1933-1961). Porto, Afrontamento.
CHACON, V. (2000). "Gilberto Freyre, a globa liza,ao e q luso-tropicaIiSlllO" . In: MOREIRA, A.; VENANCIO, J. C. (eds.). a Illso-/ropica
lismo. Villa leoria socia l em qllesfclo. Lisboa , Vega, pp. 33-4 1. __ (2002). Ojillllro da IlIsojiJllia. Lisboa, Verbo.
COUTO, M. (1993). Celebrar uma cultura mulat,\. NOlleias, j om al Didrio Mor,;alllbicclI/o, 20 de dez.
__ (2009). "Luso-Afonias. A Lusofonia entre Viagens e Crimes" . In :
Illlerillvellr,;6es. Lisboa, Editorial Caminho, pp. 183-198. CRl ST6VAO, F. (2012a). "A identidade lusofona e a forma,ao multicul
tural ". In: __ (ed.). EI/Saios LIIS6/01l0s. Coimbra , Almedina! Clepul , pp. 23-34.
__ (2012b). "Modern idade e exemplaridade mult icultural de Casa
Gra nde e Senza la". In: __ (eel. ). ElIsaios LIIS6/01l0s. Coimbra, Almedina! Clepul , pp. 219-229.
CUNHA, L. (1994). A imagen do negro na banda desenhacla do Estado Novo. Neja/ario de all/a leorico-jJriilica, Provas de APee. Brag;],
Universiclacle do ivlinho. DERRlDA, J. (1967a). "Force et significa tion". In: L 'eeri/IlIe de la difjerell ce.
Paris, Seuil , pp. 9-49.
-_(1967b). "La stru cture , Ie signe et Ie jeu " . In : L'eeri/llre de la difjereuee. Paris, Seuil, PI' . 409-428.
FlORI N, J. L. (2011). "Lingua portuguesa, identidade nacional e lusofonia ". In : 13ARROS, D. L. P. de (org.). Precolleei/o e 11lI0lerdll c ia. lIeJlexoes Lillgu(slico-Disclirsivas. Sao Paulo, Universidade Presb iteriana Mackenzie, pp. 119-135.
FREYRE, G. (si d). a M ll lldo qlle 0 por/llglliis erioll. Lisbml , Eeli,ao "Livros clo 13rasil ".
__ (195711 9331). Casa Crallde & Sellzala. Lisboa, Eeli, ao "Livros elo Brasil".
JUNGER, E. (1990119301) La mobilisatiou/o/ale, in et/a/ UllivelSel - slliui de La mobilisCl /io'll totale. Paris, Galt imard.
LA ROCCA, F. e MARTINS, M. L. (2009) . Dialogo tra Fabio La Rocca e
Moises de Le mos Marlins: I 'esposizione in rele de lla vita quotidiana. Pol.is - Centro di iniziativa politico-cullUrale. Homa e J\'lilano,
13evivino Editore, pp . 109-11 4.
LlPOVETSKY, G. e SERROY, .J. (2010). A CII/lllra -ll/.lll1do. lIespos/a a IIl1/a sociedade desoriell ladCl. Lisboa, Ed . 70.
Li11glla porfligIlcsn, g!obnliz{/{XfO c !lIs%llia 31
LOPES, A. J. (2004). A Balalha das Lfngllas. PersjJeclivas sobre Lillgll[,lica
Aplicada em 11lofambique. Maputo, Imprensa Universit~lria. __ (2013). LIngua Portuguesa em Mo~ambique. Reuista Brasileira,
Academia Brasileira de Letra, fase yIII, ano II, n. 74. MACEDO, L. (2013). Da diversidade do lIl11ndo ao IIllllldo diverso da
lllso!onia: a reillUellr;aO de wna CO}}lullidade geocliltural na sociedade em rede. Tese de doutoramento em Ciencias cia Comunica~ao, especialidade de Comunica~ao Intercultural. Braga, Univcrsidade clo Minim.
__ ; I'vlARTINS, M. L. e CABECINHAS, R. (2011). "B1ogando a lusafo
nia: experiencias em tres paises de lingua oficial portuguesa". In: __ (cds.). Llis%llia e ClIltlira-lll11Hdo, Anuario Interllaciollal de
COlllllllicar;ao LlIs6jolla. Coimbra, Cees/Gracio Editor, pp. 121-142,
9 vol. __ ; MARTINS, M. L. c MACEDO, I. (2010). "Por mares nunea dantes
navcgados: contributos para uma cartografia do ciberespac;.'O lus6-fono". In: MARTINS, M. L.; CAIlECINHAS, R.; MACEDO, L. (eds.).
Llls%llia e COIJlli11icafclo em Rede. A1lltario InterllClcional de COlllllnicar;clo L1Is6jona. Coimbra, Cees/Gracio Editor, pp. 11-39, 8
vol. MAPFESOLI, M. e MARTINS, M. L. (2011). Ciberculturas. Revisla de
C0111111licafclO e Linguagells, n. 42. MARTINS, IvI. L. (2006). "Lusofonia c luso-tropicalismo. Equivocos e possi
bilidades de dois conceitos hiper-identitarios". BASTOS, Neusa (ed.). LIngua Portuguesa. Rejlex6es Ills6jonas. Sao Paulo, Educ, pp. 49-62.
__ (2011'1). Crise JlO Castelo da C1I111Im. Das JisllPlas panl as Telas. Sao
Paulo, Annablume. __ (2011b). "Globalization and Lusophone world. Implications for
Citizenship". In: PINTO, M.; SOUSA, 1-1. (eds.). COllllllllllication aJld Ci"flZenshtjJ. Rethl"nking crls(, alld cbaJlge. Coimbra, Gracia Editor, pp. 75-81.
__ (2012). "The Portuguese language Internet communications contribute to a multicultural global worlel". In: lAMCR CONFERENCE.
AnaL, .. Durban, University of Kuazulu-NataL __ ; CABECINHAS, R. e MACEDO, L. (eds.) (2010). LlIsojcmia
e Sociedade em Rede, Anucirio Intern(fcional de COIJIllJlicariio Llfsq(ona. COimbra, Cecs/ Gracio Editor, 8 vol.
__ ; CABECINHAS, R. e MACEDO, L. (eels.) (2011). L1Isojonia e C1I1t1lm
-il1l11ulo, AJll{(irio 11lternacional de COnlllnicar;clo Lusqjolla. Coimbra, Cecs/ Gracio Editor, 9 vol.
32 Lingua portuguestl e lusofolliCi
MARTINS, M. L.; O LI VEIRA, M. e flANDEIRA , tV!. (2011). 0 "mundo POI'(ugliest) cia Expos i~ao de 1940 em posta is ilust raclos. 0 global i1uma visao lusocentrica. Revis/a de Com/{Il ica~clo e Linglfagells, n. 42.
__ ; SOUSA, H . e CAflECINHAS, R. (eds.) (2006). Cqlllll ll iccu;:iio e
Lusa/oJ/fa, Para II1JlCi analise crft ica cia cu/lura e dos media. Porto,
Campo ci HS Letras. (Cole~ao Comunicar;ao e Sociedacle) ,
MINISTEIUO DE ULTRA MAR (J954) . Decl'eto Lei n. 39.666 cle 20 cle maio.
£Sfallllo das illdfgellCis Portllgueses etas Provfllcias cia Cuim], Angola e Mo,a lllbiqlle.
MODELSKI , G. (1 996). Portu guese Sea power and th e Evolut ion o f
Global Politics. The EvollltiOllalY \'(Iorld Politics HOlllepage. Lisboa, Academia de Marinha, 15 out. D isponivel em: <https://faclJlty. washington.eclu/ mocielsk ilMARI NHA.html>. Acessaclo em: 07 jun. 2007.
MONOCLE (2012). Gel/emlioll Ll/sop bollY' /Vby Porl l/g llese is Ibe I/ew langllage a/power and tracie, issue 57, v. 6, oct.
MOYANA, S. (1993). 0 vanda lismo cia terra. Notlc ias. Jom al D iiirio lHofClmbicClllo, 13 de olltubro.
NGOMANE, N. (2012). Quem quel' sel' apagaclo' Selllclllar io Sol, 06 cle janeiro.
PINTO, M.; PEREIRA, S.; PEREIRA, L. e FERREIRA, T. (2011). EcllICClriio para os ;Wedia em Portllgal: E:>.periencias, Aclores e Con/ex/os. Lisboa, ERe.
POMAR, A. (2013a). Lusofonia 5: referencia superficial a Gilberto Freyre. Lusolollict, n. 5, 02 cle agosto. D isponivel em: <http://alexancl repomar.typepacl.com/ alexandre_pomaI'/ 2013/ 02/ Iusofonia-5.html>.
__ (2013b). Lusofonia 4: primeio Mapa cor-cle-rosa. Lusolollict, n. 4,
21 cle janeiro. D isponivel em: <http://alexandrepomar. typepad.com/ a lexa nd re_poma 1'/ 20 13/ 01/ 1usofonia -4 .ht ml>.
__ (2013c). Lusofonia 3. Lusolollict, n. 3, 20 de janeiro. D isponivel em:
<http://a lexancl repomar.typepa cI .coml a I exa nd re_poma 1'/20 13/0 1 I lusofonia-3.html>.
__ (2013d). Lusofonia 2. Lllsololl ict, n. 2, 19 cle janeiro. D isponivel em: <http ://alexand;·epomar.typepacl.com/ a lexa ncl re_pomar/20 13/0 II lusofonia-2.html>.
__ (2013e). I.usofon ia 1. Lusolollia. n. 1, 19 de janeiro. D isponivel em: <http://alexanclrepomar. typepacl . coml a lexa nclre_pomar/20 13/011 lusofonia. html>.
PROj ETO NARRATIVAS IDENTITARlAS E MEM6RIA SOCLAL. D isponivel
em: <hup:llWW\v.Jasics.uminho. ptliclnar/>.
OOltllgucsa (! /us%Hio
11). ° "mundo po1'dos. ° global nllma ngllageJls, n. 42.
5). COJ1l11Jlicaf.;ao e
e dos media. Porto,
iedade).
.666 de 20 de maio. IS da CUim?, Allgola
I the Evolution of IIomep"ge. Lisboa,
1: <https:!/faculty. ~ssaclo em: 07 jun.
'tugllese is the new
;ias. jOrllal Didrio
Ilallario Sol, 06 de
(201]). EduCClfcio
'J COlltextos. Lisbo<l,
a Gilberto Freyre. ttp:! lalexandrepo,fonia-5.html>. 1. Lus%tlia, n. 4, Imar.typepad.coIU/
roo Disponfvel em:
'_pomar!2013/01/
1'0. Disponivel em:
_pomar/2013/01/
'0. Disponfvel em:
_pomar/2013/0 1/
)CJAL. Disponivel
Llngllo jJOrtllgllCS({, g/ob(//izt1(:ao e /lisojoJlia 33
RETO, L. (ed.) (2012). Potellcial ecollomico cia Hllgll" Portllglles". Lisboa, Texto Editores.
RIBEIRO, A. P. (2013). Para acabar de vez com a lusofonia. Plivlico
(!psiloll), 18 de janeiro. SANTAELLA, L. (2012). "IntercuituraJidade no espa<;o brasileiro··. In: ADAMI,
A. e HOI-ILFELDT, A. (orgs.). llls~foilia e [llterCllltlll'Cllidade, IX Congresso Llisocom. Sao Paulo, Intercom, pp. 42-54. Disponfvel em:
<http://www.intercon1.org.br/e-book/ix -ilisocom. pelf>
SANTOS, B. S. (2002). "Entre pr6spera e Caliban: colonialismo, p6s-colonia
lismo e inter-identidade". In: RAlVlALHO, M. J.; RIBEIRO, A. S. (01'gs.). h'Jltre ser e eslar. Ra[zes, perc1ln;;os e discllrsos cia identidode. Porto,
Afrontamento, pp. 23-85. SLOTERDIJK, P. (2000). La mobilisatioll illfillie. Paris, Christian Bourgeois. SPIVAK, G. (1999). A Critiqlle of PostcolollialReasoll.· rowanl a HIstmy 0/
the VaJlis/JiJlg Prese/lt. Harvard University Press.
TODOROV, T. (1991). A COllqllista da AlileriCCI. A Qllestcio do Olltro (3 eel.).
Sao Paulo, Martins Fontes.
VENANCIO, J. C. (2012). "Lusofonia e cfmone lus6fono. Da controversia
dos conceitos a manifesta~ao de cluas escritas a partir cia margem". In:
CRlSTOVAO, F. (eel.l. ElISaios LliSO/Ollos. Coimbra, Almedina/Clepul,
pp.83-99. WEBSTER, F. (1999). 7beories 0/ illformatioll socie(y (4 ed.). London,
Routledge. http://www.rtp.pt/wportal! sites/tv 1 guerracolonial!?icl =83&t= 2#list83