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 1 O ÁRTICO NO SÉCULO XXI: O FIM DO ISOLAMENTO RUSSO? Lucas Sudbrack 1  RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar as consequências do degelo do Ártico na geopolítica russa. A partir de uma análise histórica do isolamento geográfico da Rússia, assim como de seu isolamento político imposto pelos Estados Unidos e pela OTAN, busca-se entender a importância do derretimento do gelo para o desenvolvimento interno russo e a projeção do  país em direção ao mar. Por último, observam-se as relações bilaterais de Moscou com os  principais país es do sistema in ternacional que têm dem onstrado interesse s na região. Palavras-chave: Ártico. Degelo. Rússia. Geopolítica. OTAN.  1 INTRODUÇÃO A Rússia sempre foi um país único. Se a geografia da Ásia Central fez o comércio  prosperar na região, ela t ambém p ermitiu inúmeras invasões . Suas defesas naturais foram o frio e as grandes extensões geográficas, que tiveram papel fundamental na expulsão de franceses e alemães nos últimos dois séculos. Cientes dessa vulnerabilidade, os russos se colocaram em um constante processo de expansão, no qual também sofreram grandes derrotas. A queda da União Soviética foi, entre outros, mais um período de retração territorial sofrida por Moscou. Foi um forte golpe que mergulhou seu povo em crises políticas, econômicas e sociais. Por um breve período, os russos acreditaram que a única saída era seguir o modelo dos Estados Unidos. No entanto, a prosperidade global através do capitalismo estadunidense não chegou. O descontentamento de grande parte do mundo fez 1  Trabalho de conclusão do curso de especialização do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI) da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS). (Email: [email protected])

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    O RTICO NO SCULO XXI: O FIM DO ISOLAMENTO RUSSO?

    Lucas Sudbrack1

    RESUMO

    Este artigo tem como objetivo analisar as consequncias do degelo do rtico na geopoltica

    russa. A partir de uma anlise histrica do isolamento geogrfico da Rssia, assim como de

    seu isolamento poltico imposto pelos Estados Unidos e pela OTAN, busca-se entender a

    importncia do derretimento do gelo para o desenvolvimento interno russo e a projeo do

    pas em direo ao mar. Por ltimo, observam-se as relaes bilaterais de Moscou com os

    principais pases do sistema internacional que tm demonstrado interesses na regio.

    Palavras-chave: rtico. Degelo. Rssia. Geopoltica. OTAN.

    1 INTRODUO

    A Rssia sempre foi um pas nico. Se a geografia da sia Central fez o comrcio

    prosperar na regio, ela tambm permitiu inmeras invases. Suas defesas naturais foram o

    frio e as grandes extenses geogrficas, que tiveram papel fundamental na expulso de

    franceses e alemes nos ltimos dois sculos. Cientes dessa vulnerabilidade, os russos se

    colocaram em um constante processo de expanso, no qual tambm sofreram grandes

    derrotas.

    A queda da Unio Sovitica foi, entre outros, mais um perodo de retrao territorial

    sofrida por Moscou. Foi um forte golpe que mergulhou seu povo em crises polticas,

    econmicas e sociais. Por um breve perodo, os russos acreditaram que a nica sada era

    seguir o modelo dos Estados Unidos. No entanto, a prosperidade global atravs do

    capitalismo estadunidense no chegou. O descontentamento de grande parte do mundo fez

    1 Trabalho de concluso do curso de especializao do Programa de Ps-Graduao em Estudos Estratgicos

    Internacionais (PPGEEI) da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS). (Email:

    [email protected])

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    surgir novos alinhamentos em nome de um futuro menos desigual. E tambm fez a Rssia

    reassumir seu carter expansionista.

    Atualmente a Rssia tem se mostrado insatisfeita com os resultados das frmulas

    internacionais de desenvolvimento, como foi o socialismo anti-ocidental implementado na

    Unio Sovitica e a adeso ingnua da democracia liberal na dcada de 1990. Diferente da

    Alemanha e do Japo ps-Segunda Guerra, que abriram mo de sua soberania em nome da

    integrao ao mundo ocidental, Moscou decidiu seguir seu prprio caminho em busca de seu

    lugar como grande potncia independente (COLIN, 2007).

    Logicamente, os Estados Unidos no gostam dessa ideia. nica superpotncia

    existente, Washington tenta isolar todos aqueles que possam, de um algum modo, ameaar

    sua liderana global no futuro, principalmente ao se tratar de uma potncia militar, como o

    caso da Rssia.

    Para escapar desse isolamento, os russos contam com grandes mudanas climticas. O

    clima severo da regio faz com que a navegao, a construo e outras obras de engenharia

    sejam seriamente limitadas por trs obstculos: mares congelados, solo congelado e neve

    acumulada (COLACRAI, 2004). Por esse motivo, o degelo do rtico tem sido estudado e

    fantasiado h dcadas, principalmente pelos russos, j que a permafrost (o solo congelado)

    cobre grande parte do territrio do pas. Desse modo, ainda em 1957, o cientista, P. M.

    Borisov afirmou que era necessria uma guerra contra o frio e no de uma Guerra Fria,

    propondo a construo de uma grande barragem de 80 km de comprimento que mudasse o

    clima da regio rtica (BORISOV, 1969).

    A boa notcia para os russos que no foi preciso grandes obras para que o

    derretimento se tornasse realidade. O aquecimento global, sejam quais forem suas origens,

    tem aberto um leque de oportunidades e desafios que pode ajudar Moscou a recuperar o posto

    de grande potncia global. Se recentemente j se v a Rssia desempenhar um importante

    papel diplomtico no mundo, se posicionando fortemente contra os interesses de Washington,

    esses confrontos podem aumentar ainda mais nos prximos anos, medida que os ganhos

    possveis no rtico se tornem realidade. Assim, o objetivo desse trabalho analisar o cerco

    sofrido pelos russos, no passado e na atualidade, e como o degelo do extremo norte pode

    modificar essa realidade.

    Para melhor entender esse movimento, na primeira parte desse artigo se faz uma breve

    recapitulao da histria russa e de seu isolamento geogrfico. Na segunda parte, apresenta-se

    as mudanas no rtico, assim como as oportunidades e os desafios que o derretimento do gelo

    traz consigo. E na sequncia, exploram-se as polticas russas para o desenvolvimento da

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    regio. Em seguida observa-se o isolamento poltico imposto pela OTAN Rssia, e a viso

    que uma parte tem da outra. E por ltimo, busca-se analisar a relao de Moscou com demais

    pases que tem demonstrado interesse no rtico.

    2 A BUSCA PELO MAR

    A histria da presena humana na sia Central nos remete h seis mil anos, quando as

    tribos pastoris nmades comearam a migrar para a regio. Se, por um lado, a geografia das

    estepes possibilitava a viagem de comerciantes entre o oriente e a Europa, o que ajudou a

    desenvolver a regio, por outro, as plancies desprotegidas tambm facilitavam a chegada de

    conquistadores como o persa Ciro e o macednio Alexandre, o Grande. Ao longo do tempo, a

    falta de unio entre os povos locais acabou por representar sua maior fraqueza. No sculo

    XIII, isso ficou evidente quando os poucos principados russos, incapazes de oferecerem uma

    defesa conjunta contra as invases mongis, acabaram sendo dominados pelo exrcito de

    Genghis Khan. Por mais de dois sculos, os russos sofreram com a opresso mongol e,

    enfraquecidos, acabaram perdendo territrios do lado ocidental, invadidos por europeus que

    se aproveitavam de sua incapacidade de se defender. Esse perodo foi to desastroso para o

    povo russo que desde ento h uma conscincia de que se necessita um poder forte e

    centralizado que garanta segurana, ordem e, ento, desenvolvimento (SANTOS, 2008).

    Foi no final do sculo XV que Ivan III, o Grande, libertou o povo russo da dominao

    mongol. Porm, o risco de novas invases era iminente. A presena dos mares Negro e

    Cspio, alm das montanhas do Cucaso e dos Crpatos, no sul, e do oceano congelado ao

    norte, formavam uma espcie de conteno de possveis invasores, o que no acontecia no

    leste e no oeste. Assim, entre dominar e ser dominado, a Rssia passou a se expandir a ponto

    no s de dominar regies que serviriam como reas-tampo para o principado de Moscvia,

    mas ia alm, estabelecendo baluartes o mais longe possvel. Essa expanso, no entanto, criou

    problemas internos. Os povos dominados durante a expanso russa no necessariamente

    estavam dispostos a servir como defesa para Moscou, o que exigiu dos russos uma grande

    rede de segurana e de inteligncia interna que sustentasse o poder central. A dominao e a

    capacidade de controle de vastos territrios colocou a Rssia em uma eterna percepo de

    ameaas entre leste e oeste e entre interno e externo. Alm disso, o crescimento da Rssia e o

    consequente desenvolvimento de reas em regies inspitas fez surgir outro grande problema.

    Os russos conseguem produzir o suficiente para saciar toda sua populao, mas no

    conseguem transportar de forma eficiente esses produtos para locais mais afastados do centro,

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    fazendo com que o Estado tenha que assumir altos custos de transporte para que o interior do

    pas se mantenha habitado (FRIEDMAN, 2008).

    Para manter o centro do pas seguro, o cientista poltico George Friedman destaca

    cinco imperativos geopolticos russos: expandir-se para o norte e leste; expandir-se para o sul;

    expandir-se o mximo possvel para o oeste; administrar o imprio com terror; e manter

    portos de guas quentes com acesso ao mar aberto (FRIEDMAN, 2008). De modo parecido, o

    tenente-general portugus Eduardo Santos destaca que com a estabilidade do Imprio Russo e

    o domnio de territrios at o Pacfico, surgiram duas grandes metas de uma estratgia

    geopoltica que perdura at os dias de hoje: o domnio do Mar Negro, conquistando

    Constantinopla para chegar ao Mediterrneo; e alcanar a ndia, para ter acesso ao ndico. Em

    outras palavras, o grande objetivo russo era o domnio de acessos a portos de guas quentes

    (SANTOS, 2008).

    Uma vez definido o objetivo, era necessrio coligir foras para assumir uma poltica

    mais enftica em relao a ele, o que aconteceu somente no sculo XIX. Entretanto, os russos

    se depararam com diversos desafios. No Mar Negro, apesar de conseguir se estabelecer na

    Crimeia, a Rssia no tinha fora suficiente para invadir o Imprio Otomano e teve de lidar

    com diversos choques que sacudiam a Europa: as guerras napolenicas, as revolues

    nacionalistas e a Guerra da Crimeia, na qual foi derrotada pela aliana entre ingleses e

    franceses.

    J o caminho para alcanar a ndia teria que necessariamente passar pelo Afeganisto,

    local de geografia montanhosa e de belicosas tribos, o qual nem Alexandre, o Grande, nem

    Genghis Khan foram capazes de dominar. Alm disso, para avanar em direo ao ndico, os

    russos deveriam vencer os ingleses, que ocupavam a ndia, no chamado Grande Jogo, a

    disputa pelo controle da sia Central que se estendeu pelo sculo XIX.

    Com seus dois principais objetivos frustrados, Moscou virou sua ateno para o

    Pacfico. Com a Segunda Guerra do pio, entre chineses e ingleses, em 1856, os russos

    conseguiram anexar um vasto territrio no leste, fundaram Vladivostok, criaram a base de

    Port Arthur, e comearam a construir uma imensa ferrovia que atravessaria o pas de leste a

    oeste, tornando fcil a mobilidade de tropas ao longo da sia Central e diminuindo custos

    logsticos. Porm, no extremo oriente a vida dos russos tambm no foi fcil. Quando a

    Revolta dos Boxers contra a ocupao estrangeira eclodiu na China, os russos se viram

    obrigados a reforar militarmente seus novos territrios na costa do Pacfico. Os japoneses,

    percebendo as foras russas se aproximando de seu pas e com medo de acabar sendo ocupado

    como a ndia ou a China, invadiram o continente. Como um pas insular, o Japo possua uma

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    poderosa fora naval e facilmente dominou as novas bases russas do leste. A tentativa

    desesperada do Czar de transferir a frota do Bltico para o Pacfico para recuperar sua posio

    teve um resultado catastrfico. Quando chegavam sia, os navios russos foram facilmente

    derrotados pelos japoneses, que os aguardavam previamente. A derrota na Guerra Russo-

    Japonesa foi tida como tamanha humilhao entre o povo russo que, indiretamente, foi

    decisiva para a queda da monarquia no pas.

    Com a revoluo de 1917 e a consequente guerra civil, a ento Unio Sovitica

    demorou em se posicionar enfaticamente na busca por seus objetivos geopolticos globais, o

    que iria acontecer com a vitria na Segunda Guerra Mundial, da qual os soviticos saram

    como segunda potncia mundial. No entanto, as novas tecnologias de guerra fizeram com que

    a geografia perdesse relevncia nos debates geopolticos mundiais. Na dcada de 1960, os

    discursos do general Sergey Shtemenko a favor de uma penetrao econmico-cultural no

    Afeganisto, o que poderia representar o acesso sovitico ao ndico no futuro, foram

    ignorados pelo lder Khrushchev que dava prioridade para os msseis intercontinentais,

    acreditando que as armas nucleares estavam assumindo o centro do poder geopoltico

    mundial. O equvoco foi percebido pelo estadista durante a crise dos msseis em Cuba,

    quando o mesmo no pode contar com uma marinha poderosa para fazer frente aos porta-

    avies estadunidenses (SANTOS, 2008). Mesmo com o intuito de investir em um programa

    de construo naval, a Unio Sovitica no possua acesso permanente a mares abertos. O

    porto de Murmansk no noroeste estava restritos a condies climticas e as sada do Mar

    Negro para o Mediterrneo e do Mar Bltico para o Atlntico eram estritamente controlados

    pelas foras ocidentais que dominavam as regies. O nico porto por onde os soviticos

    poderiam alcanar o mar durante o ano todo era o de Vladivostok, milhares de quilmetros

    distante do centro militar, econmico e poltico do pas.

    Nas dcadas seguintes, a Unio Sovitica passou por um perodo de baixo crescimento

    econmico, no conseguindo mais fazer frente ao desenvolvimento de seu rival ocidental.

    Quando o pas entrou em colapso e o bloco socialista ruiu, marcando mais uma vez a vitria

    do poder martimo sobre o imprio terrestre russo, o ento presidente Yeltsin comandou o

    desmanche de toda antiga regulao econmica, acreditando que o livre mercado levaria a

    Rssia ao desenvolvimento. De mesmo modo, o campo das relaes exteriores foi guiado por

    um posicionamento pr-ocidente que fazia com que a Rssia abdicasse de seus reais

    interesses. Acreditava-se que ao se posicionar em segundo plano no cenrio internacional e ao

    seguir os interesses do ocidente desenvolvido, a prosperidade chegaria ao Estado russo. No

    entanto, a imposio de valores que no condizem com a realidade do povo acabou por ser um

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    fracasso. O governo era incapaz de estabelecer mecanismos de controle sobre a nova

    economia, o que resultou em desemprego e grande queda no PIB, fazendo com que o pas

    dependesse de emprstimos estrangeiros.

    A situao mudou mesmo quando Putin chegou presidncia em 2000. A forte

    represso s provncias separatistas e a caa s poderosas mfias do pas deram maior

    confiana populao. O incentivo s exportaes, a inflao controlada, a dvida externa

    renegociada e as indstrias de tecnologia recebendo pesados investimentos estatais resultou na

    retomada do crescimento econmico e na rpida escalada do PIB.

    No plano exterior, a partir de 2003, crticas russas sobre a invaso norte-americana no

    Afeganisto e no Iraque e mais tarde crticas estadunidenses sobre o episdio envolvendo a

    Rssia e a Gergia criaram um cenrio lembrando os anos de Guerra Fria. Os planos da

    OTAN de instalar um escudo antimssil perto das fronteiras russas acirraram ainda mais o

    debate entre as duas partes nos ltimos anos.

    Ao mesmo tempo em que os governos ocidentais criticavam as aes polticas e

    militares do governo russo, as crticas sobre a economia russa vinham do FMI (Fundo

    Monetrio Internacional). Os auxlios monetrios do fundo aos russos durante o governo

    Yeltsin foram enviados junto com uma srie de polticas econmicas a serem cumpridas.

    Alm de um severo plano de privatizaes, houve reduo nos gastos sociais e no

    financiamento de diversas agncias estatais, incluindo o setor militar. Coincidncia ou no, o

    boom econmico da Rssia ps Guerra Fria s ocorreu depois que a cooperao com o FMI

    foi cancelada, em 19982.

    Sob uma viso internacional, podemos notar que os Estados Unidos seguem uma

    estratgia de conteno da Rssia, apoiando abertamente grupos radicais separatistas dentro

    do antigo territrio sovitico, e tentando trazer os pases da antiga Unio Sovitica para a rea

    de influncia ocidental, como foram os casos da Gergia e, mais recentemente, da Ucrnia.

    Internamente, o crescimento econmico, e o consequente poder poltico internacional, possui

    um aspecto preocupante para os russos. Ao mesmo tempo em que o pas, rico em petrleo e

    gs natural, precisa dos recursos energticos para crescer, ele segue sem conseguir diversificar

    sua economia, dependendo muito da exportao dos hidrocarbonetos. Alm do peso

    econmico, esses recursos do Rssia poder poltico, j que muitos dos pases ocidentais

    dependem do petrleo e do gs russos, principalmente os europeus.

    2 http://port.pravda.ru/russa/09-11-2011/32438-conselhos-0/

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    Esse breve relato da histria russa nos mostra que independente do tipo de governo

    vigente, a Rssia sempre procurou uma sada para o mar, de modo que possa livrar-se do

    isolamento a qual submetida pelas potncias ocidentais. Nesse longo caminho rumo ao

    desenvolvimento, e rumo ao mar, a Federao Russa conta com uma importante ajuda: o

    degelo do rtico.

    3 REDESCOBRINDO O NORTE: OPORTUNIDADES E DESAFIOS

    Se durante a Guerra Fria, o rtico foi palco de uma tenso permanente entre Estados

    Unidos e Unio Sovitica, por este ser o menor caminho para que um mssil intercontinental

    atingisse o inimigo, nos anos seguintes a regio presenciou uma grande desocupao frente ao

    descaso russo e a incapacidade de administrao do novo governo central. No entanto,

    recentemente, ao mesmo tempo em que o debate sobre o aquecimento global emerge, as

    oportunidades energticas e martimas em um rtico sem gelo desperta o interesse de

    diversos pases. O recuo crescente do gelo no extremo norte do planeta tem tornado possvel o

    acesso a grandes reservas de petrleo, gs natural e diversos outros minrios. Alm disso,

    novas rotas comerciais, mais curtas que as convencionais, esto surgindo.

    Os recordes mnimos da extenso do gelo do rtico identificados em 2007, e

    novamente em 2012, pelo Centro Nacional de Dados da Neve e do Gelo confirmam que o

    gelo est recuando lentamente no norte do planeta, mesmo que de forma no linear. Com esse

    derretimento, enormes jazidas de recursos naturais tem se tornado acessveis. Pesquisas da

    United States Geological Survey afirmam que o rtico contm 90 bilhes de barris de

    petrleo e 47,23 trilhes de metros cbicos de gs natural, correspondente a cerca de 13% do

    petrleo e 30% do gs natural ainda no descoberto na Terra. Alm disso, h diversos

    minerais na regio, como cobre, ouro, zinco, chumbo, nquel, entre outros (USGS, 2008).

    Evidentemente, o interesse internacional nessas riquezas grande, mas quase a totalidade dos

    recursos do rtico est localizada dentro da Zona Econmica Exclusiva dos pases,

    regulamentada pela Conveno da ONU sobre o Direito do Mar (UNCLOS), de 1982, o que

    elimina grandes disputas internacionais pelos hidrocarbonetos. Com novas e enormes reservas

    de petrleo e gs natural em seu territrio, a Rssia ganha tempo para resolver seu dilema

    econmico. As exportaes de hidrocarbonetos o grande motor do crescimento russo, logo,

    o pas precisa diversificar sua economia antes que as reservas acabem. No entanto, a dvida

    entre investir em outras reas, diminuir o crescimento, e fazer durar suas reservas de

    hidrocarbonetos, ou manter o crescimento a ponto de exaurir suas reservas, parece estar sendo

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    deixado de lado, ao menos por mais algumas dcadas, j que as jazidas do rtico esto se

    tornando acessveis. Na figura a seguir, observa-se a diminuio do gelo rtico durante as

    ltimas dcadas, assim como a previso da extenso do mesmo para as dcadas seguintes.

    Figura 1 Histrico e previso do gelo ocenico rtico

    Fonte: The Arctic Institute. Disponvel em: .

    Outro importante fato que tem despertado o interesse da Rssia, e de diversos pases,

    a nova rota martima que surge ao norte da Rssia. O trajeto entre Roterd e Yokohama

    usando a chamada Northern Sea Route 40% menor se comparada ao trajeto tradicional, feito

    pelo Canal de Suez e atravessando o ndico e o Mediterrneo (WANG, 2013). Alm de mais

    curta, e menos poluente, j que os navios diminuem sua emisso de carbono, a nova rota foge

    de possveis ataques piratas e de possveis intervenes de pases no sudeste asitico e no

    Oriente Mdio, considerados instveis. Com essa nova rota, Moscou pode no s transportar

    facilmente os recursos naturais extrados da regio, mas tambm pode cobrar taxas daqueles

    que naveguem perto de sua costa, oferecendo todo auxlio necessrio em troca.

    Esse novo espao de ocupao no extremo norte tambm faz surgir obstculos a serem

    superados pelas foras armadas russas. Segundo Caitlyn Antrim, pesquisadora sobre o futuro

    dos oceanos e do rtico, o degelo da regio traz consigo quatro problemas militares para a

    Rssia: a proteo de seus msseis balsticos presentes nos seus submarinos; a proteo das

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    novas rotas martimas do norte; a defesa de sua costa, seus portos e navios; e o trnsito de

    navios de guerra para o Atlntico e o Pacfico atravs do rtico (ANTRIM, 2010).

    Assim como obstculos, a menor ocorrncia de gelo tambm traz benefcios, como o

    caso da estrutura interna do pas. Aps dcadas de investimentos para desenvolver e interligar

    o interior, nenhuma cidade da Sibria consegue ser economicamente autossuficiente. A

    infraestrutura herdada da Unio Sovitica faz com que toda a produo energtica das regies

    mais remotas do pas seja rapidamente transformada em riquezas russas, mas para que os bens

    produzidos por todo o territrio russo cheguem a essas cidades isoladas necessrio que

    Moscou arque com grandes custos de transporte (GADDY; HILL, 2003). No entanto, o

    degelo tambm atinge os rios, que podero ter um papel fundamental na conexo interna do

    pas, ainda mais com o fato de o transporte hidrovirio ser um dos mais baratos existentes. Se

    em um primeiro momento surgem desafios com o derretimento da permafrost, que pode

    danificar construes, os grandes cursos dgua, que atualmente descongelam apenas alguns

    meses por ano, tornam-se navegveis e podem fomentar as cidades existentes e tambm

    representar um sistema de escoamento de outros recursos do centro do pas a baixos custos, j

    que rios como o Lena, o Ob e o Yenisei fornecem acesso a minerais como o ouro, diamante,

    ferro e bauxita. Assim, o custo-benefcio para explorar diversos recursos do centro da Eursia

    deve aumentar consideravelmente. Fazendo uma comparao, se o rio Mississippi

    historicamente crucial para o escoamento de produo estadunidense e para o

    desenvolvimento de um poder martimo, os russos tambm passam a contar com um grande e

    similar sistema hidrovirio no interior de seu territrio.

    De um modo geral, com uma sada relativamente rpida para o mar, Moscou se

    aproximar do sistema financeiro e comercial global. O nico porto russo aberto para os

    mares at ento era o de Vladivostok, porm alm de muito distante do centro econmico,

    militar e poltico russo, as tenses martimas entre Japo, China e Coreia do Norte no leste

    tem tornado a regio um tanto instvel. No oeste diferente. Murmansk cinco vezes mais

    perto de Moscou do que Vladivostok, e d acesso direto ao Atlntico. Com essa nova

    realidade, a Rssia que estava isolada pela geografia e pela poltica, tem visto a barreira

    geogrfica cair, e pode levar consigo a barreira poltica. Na figura a seguir, enxerga-se a

    infraestrutura de transporte da Rssia, destacando-se as cidades de Moscou, Murmansk e

    Vladivostok para fins de comparao de distncias.

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    Figura 2 Esquema de infraestrutura de transporte da Rssia 2010-2030

    Fonte: Academia Russa de Transporte (com alteraes do autor). 2008. Disponvel em:

    .

    Alm do mais, o interesse russo pelo rtico no novo. A regio est profundamente

    ligada ao esprito nacional. Cerca de 20% do PIB russo e 22% de todas as exportaes russas

    so geradas acima do crculo polar rtico. Segundo dados russos, mais de 90% dos

    hidrocarbonetos russos esto no rtico, sendo que 66,5% esto na poro oeste de seu

    territrio, a que tem ocorrncia de menos gelo devido corrente atlntica de ar quente que

    vem do sul, e mais prxima do centro do pas (ZYSK, 2013). Assim, o sonho russo de ter

    uma sada fcil para o mar, que h sculos lhe foi negado pelas potncias ocidentais martimas

    e pela sua prpria geografia, est se tornando realidade sem que ningum possa impedir.

    Para isso, o governo atual tem feito do extremo norte sua grande prioridade. Prova

    disso foi quando, em 2007, um navio quebra-gelo e dois mini submarinos russos comandaram

    uma misso cientfica na qual foi cravada uma bandeira russa no fundo do mar do Polo Norte,

    demonstrando a inteno de ocupar a regio. Ao mesmo tempo, o deputado e veterano

    explorador russo, Artur Chilingarov, declarava: o rtico nosso, e ns temos que

    demonstrar nossa presena l (BLANK, 2011).

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    4 DESENVOLVENDO O RTICO

    O primeiro passo para o desenvolvimento do rtico russo tem sido investir em

    pesquisas. Se aps o fim da Guerra Fria, os campos militares e as prises soviticas foram

    abandonados, deixando na regio runas e muito lixo, atualmente o governo russo tem se

    esforado em revitalizar o norte. Estima-se que at 2015 todo litoral norte esteja mapeado,

    assim como as guas rticas que so territrio russo. Alm disso, em 2009, o ento presidente

    Medvedev anunciou que a Universidade Tcnica de Arkhangelsk (State Technical

    University), no litoral norte russo, criada em 1929, se transformaria na Universidade Federal

    do Noroeste rtico (Northern Arctic Federal University), com o foco em pesquisas de apoio

    as reivindicaes territoriais russas e na explorao de petrleo e gs natural da regio. As

    reivindicaes territoriais russas so baseadas na UNCLOS, que afirma que os pases em que

    a plataforma continental ultrapasse as 200 milhas mar adentro, tm o direito sobre essa rea.

    Cabe aos pases provarem na ONU esse fato. Por isso, os russos tentam provar que a

    cordilheira Lomonosov, que corta o Oceano rtico, uma continuao de seu territrio, o que

    expandiria a soberania russa sobre as guas do Polo Norte. Entretanto, esse processo lento.

    A Rssia foi o primeiro pas a fazer uma submisso Comisso de Limites da Plataforma

    Continental (CLPC), em 2001, mas foram pedidos novos e complexos dados adicionais que

    ajudassem a provar o direito russo sobre tais guas. O novo material enviado pelos russos, em

    2013, referente somente ao Mar de Okhotsk, no leste do pas, e no inclui reas que possam

    ser contestadas pelo Japo. Deste modo, Moscou pretende avanar lentamente sobre as guas

    do norte do planeta sem que maiores discordncias com outros pases surjam (SILVA, 2014).

    No toa que os avanos cientficos so vistos como cruciais para que Moscou

    possa desenvolver e proteger os recursos do rtico. No noroeste do pas a Rssia j tem

    desenvolvido grandes campos de explorao, principalmente na pennsula de Yamal. Para

    contornar a carncia de tecnologia de explorao de recursos em alto mar, tm sido feitos

    acordos com diversas empresas estrangeiras e as primeiras produes offshore j esto

    ocorrendo no campo de gs natural de Shtockman, a leste do mar de Barents, e nos campos de

    petrleo no Mar de Pechora.

    As parcerias com empresas estrangeiras para explorao energtica tambm ajuda a

    desenvolver a navegao martima. Diversas empresas interessadas em explorar o campo de

    Shtockman iro estabelecer bases para operaes no rtico, inclusive de resgate e salvamento

    em Murmansk. O desenvolvimento da Northern Sea Route crucial para Moscou, pois

    atravs dela os recursos extrados do noroeste podero ser facilmente transportados at os

  • 12

    mercados consumidores da sia, sem a necessidade de mais investimentos em novos dutos

    que cruzem o continente asitico (BRIGHAM, 2013).

    Esforando-se para tornar a rota navegvel, todo ano novas viagens experimentais so

    feitas. J foram feitas viagens de transporte de gs natural condensado de Murmansk at a

    China, que mesmo com velocidade reduzida para contornar algumas ilhas, concluiu o trajeto

    em menor tempo do que a rota tradicional. Outra viagem notvel foi quando um navio

    comercial da Norilsk Nickels deixou Murmansk e chegou a Xangai. Apesar de ser um navio

    com capacidade para enfrentar gelo, a viagem foi concluda sem a necessidade de ajuda de

    quebra-gelos. Em 2012, o quebra-gelo nuclear Rossiya trafegou pela Northern Sea Route em

    dezembro, nos dias mais frios do ano. At o momento, navios comerciais sem classificao

    para navegar no gelo ainda no trafegaram pela regio, mas com a rpida escalada dos

    investimentos russos, isso no deve demorar a acontecer (BRIGHAM, 2013).

    Seguindo com as melhorias, se a infraestrutura requerida para a navegao

    complexa, pelo fato de no se tratar de uma nica rota definida, mas sim uma combinao de

    passagens alternativas entre o arquiplago de Novaya Zemlya e o estreito de Bering, portos,

    estruturas aduaneiras e postos de controle martimo tm sido construdos ao longo da costa

    norte. Ao mesmo tempo, tem sido desenvolvido um sistema de satlites especialmente para a

    administrao da rea, o que exige maior preciso devido curvatura do polo. Para acelerar o

    desenvolvimento da rota, Moscou tambm no descarta a cobrana de taxas daqueles que

    naveguem pelas guas internas nacionais, podendo assim financiar e oferecer a infraestrutura

    de apoio necessria em pocas de clima mais rgido.

    Apesar de ainda se ter muito a ser feito, j possvel notar o crescimento do trfego na

    regio. Em 1987, o ano de mais alto fluxo de mercadorias pela Northern Sea Route, foram 7

    milhes de toneladas navegando na rota. Durante a dcada de 1990 esses nmeros ficaram em

    cerca de 2 milhes de toneladas, mas se espera que em 2015 ele chegue em 13 milhes de

    toneladas (ZYSK, 2013).

    Alm do foco comercial, a navegao martima crucial para o campo militar. Afinal,

    Moscou v nas imensas reservas de hidrocarbonetos existentes a oportunidade de manter seu

    crescimento e obter mais tempo para diversificar sua economia, dependendo menos das

    exportaes de recursos energticos no futuro. Assim, o rtico representa, primeiramente,

    uma base de recursos energticos para os russos, crucial para o futuro da nao e que precisa

    ser defendida (BRIGHAM, 2013).

    Para isso, muitos investimentos tm sido direcionados para as foras armadas j que a

    era ps-sovitica deixou todo sistema militar russo precrio. Na dcada de 1980, a Unio

  • 13

    Sovitica chegou a possuir uma frota de 170 submarinos, sendo 45 nucleares. Atualmente esse

    nmero de 33 submarinos, sendo nove nucleares. A situao decaiu tanto que em 2008,

    Medvedev, em sua campanha presidncia, disse em Murmansk que a marinha do pas no

    possua navios para apoiar os pescadores russos que eram frequentemente abordados pela

    guarda costeira norueguesa em funo das divergncias sobre pesca no Mar de Barents

    (ROWE, 2009).

    Mesmo assim, a Rssia ainda possui a maior frota polar do mundo, com dezoito

    quebra-gelos em operao, sendo sete nucleares. Moscou tambm possui dois teros da sua

    frota naval em bases no rtico, sendo dividida em quatro distritos militares, do qual a

    Northern Fleet, no noroeste, a maior delas e uma das mais poderosas do mundo.

    Entre os investimentos para modernizar a frota, o governo russo anunciou

    recentemente que, at 2020, 51 novos navios de guerra, 16 submarnos multifuncionais e 08

    submarinos porta-msseis entraro em atividade na marinha russa. Os russos tambm

    encomendaram navios de assalto anfbio dos franceses e anunciaram a criao de uma brigada

    especializada no rtico na pennsula de Kola. Essa nova brigada ter equipamentos de guerra

    para condies climticas severas. Contando todos os gastos de reforma das foras armadas,

    incluindo a construo de um complexo militar-industrial, sero destinados, at o mesmo ano,

    700 bilhes de dlares3. Para 2015, oito novos submarinos de quarta gerao, lanadores de

    msseis balsticos, e seis submarinos nucleares ficaro prontos (ZYSK, 2013).

    De mesmo modo, o poderio areo tambm tem sido reforado. Em 2007, houve mais

    voos na regio do que todo o perodo entre 1991 e 2006, e em 2008 esse nmero aumentou

    ainda mais. Em 2008, bombardeiros russos voaram sobre o rtico em reas no sobrevoadas

    desde os tempos de Guerra Fria, o que acarretou crticas do governo canadense por esses

    avies se aproximarem demais do territrio canadense. Exerccios conjuntos das foras russas

    tambm tm sido desenvolvidos. Em 2009, um exerccio envolvendo militares do distrito de

    Leningrado, da Sibria, guardas da fronteira e as frotas do Bltico e de Murmansk simulou,

    entre outras ameaas, a necessidade de proteo das instalaes de petrleo e gs natural no

    noroeste russo (ZYSK, 2013).

    Recentemente, entre 2013 e 2014, diversos novos incrementos militares foram

    realizados. A Northern Fleet recebeu dois novos submarinos nucleares4 e uma srie de caas

    MIG-29K5, um depsito de msseis Bulava comeou a ser construdo a 120 km da fronteira

    3 http://portuguese.ruvr.ru/2012_08_05/Exercito-como-garantia-preservacao-do-estado/

    4 http://barentsobserver.com/en/security/2014/01/two-new-nuclear-powered-submarines-northern-fleet-03-01 5 http://barentsobserver.com/en/security/2014/01/northern-fleet-pilots-new-migs-08-01

  • 14

    com a Noruega6 e, nas Ilhas da Nova Sibria, os russos protagonizaram a maior exerccio de

    saltos areos j realizado no rtico com a participao de 350 paraquedistas7. Alm disso, a

    pista da base area de Rogachevo, em Novaya Zemlya, foi reformada para o estabelecimento

    de caas interceptadores e de um sistema de msseis de defesa antiarea que proteger a

    Rssia de ataques vindos do norte (GBIN, 2014).

    Evidentemente, os esforos russos de expandir sua rea de influncia para e a partir do

    rtico j desperta desconfiana do ocidente, principalmente dos Estados Unidos e da OTAN.

    Com medo de que a Rssia recupere o poder sovitico perdido, o bloco ocidental articula-se

    em reao a essa nova empreitada de Moscou no extremo norte.

    5 A OTAN E O CERCO RSSIA

    Para grande parte dos estadunidenses, a Rssia nunca deixou de ser uma ameaa em

    potencial. Mesmo derrotada na Guerra Fria, o pas manteve suas armas nucleares e, se num

    primeiro momento se alinhou s polticas do ocidente, logo depois retomou uma posio mais

    enftica contra a maioria dos temas defendidos por Washington no cenrio internacional, o

    que faz ressurgir o sentimento da ameaa sovitica nos Estados Unidos. So muito comuns na

    opinio pblica argumentos contra a Rssia no estilo dos usados durante a Guerra Fria. O pas

    frequentemente acusado de possuir uma postura agressiva, de estar se armando e de estar

    reivindicando vastos territrios sem boas razes para isso (VORONKOV, 2013).

    O exerccio de Battle-Grffin, de 1999, exemplificou bem a viso da OTAN de que um

    conflito com os russos poderia surgir. A organizao criou um cenrio de crise entre dois

    pases do norte da Europa, uma democracia moderna com relaes internacionais bem

    desenvolvidas, e um instvel pas em desenvolvimento que ameaava a paz do mundo. Para

    muitos, estava claro que se tratava de uma simulao de confronto entre Noruega e Rssia

    (ZYSK, 2009).

    Com essa mentalidade, a OTAN vem aumentando sua presena em direo Rssia,

    descumprindo uma promessa feita ao ento presidente da Unio Sovitica, Gorbachev, de que

    a organizao no se expandiria para o leste aps a unificao da Alemanha, em 19908. Desde

    ento, porm, diversos pases do leste europeu entraram para o bloco. Alm disso, o projeto

    da OTAN nos ltimos anos instalar em alguns desses pases msseis capazes de interceptar

    6 http://barentsobserver.com/en/security/2013/12/russia-builds-huge-nuclear-missile-depot-severomorsk-13-12

    7 http://barentsobserver.com/en/security/2014/03/arctic-here-we-come-17-03 8 http://port.pravda.ru/russa/25-05-2009/27060-gorbachevotan-0/

  • 15

    um possvel ataque russo, de modo que em um suposto futuro confronto entre a Rssia e o

    ocidente, o poder de ataque russo seria prejudicado fortemente. Na figura seguinte, observa-se

    a expanso do bloco em direo ao leste ao longo dos anos, podendo-se identificar a incluso

    de doze pases desde o fim da Guerra Fria.

    Figura 3 Expanso da OTAN para o leste

    Fonte: Organizao do Tratado Atlntico Norte. Elaborada pela BBC. 2014.

    O cerco Rssia no muito diferente no rtico. Apesar de esforos na cooperao

    para o desenvolvimento da regio, entre os Cinco rticos (os cinco pases que possuem litoral

    em direo ao rtico: Rssia, Canad, Estados Unidos, Dinamarca9 e Noruega), somente a

    Rssia no faz parte da OTAN. E por isso que muitos defendem que a organizao

    desempenhe um maior papel na regio. Dentre seus membros, o Canad o que mais se ope

    a presena do bloco no rtico, com medo de que uma presena efetiva da organizao seja

    uma porta de entrada para que pases no-rticos exeram influncia na regio. Por outro lado,

    a Noruega defende abertamente o envolvimento da organizao na regio. Roger

    Ingebrigtsen, secretrio de estado noruegus por duas vezes, lembra que acordos bilaterais

    militares com a Rssia tm sido feitos desde 1995, mas afirma que alm dessa cooperao

    9 A Dinamarca considerada um pas rtico devido posse da Groenlndia. A ilha se encontra atualmente em

    um processo de independncia, mas, apesar de no fazer parte da Unio Europeia desde 1985, em questes de

    segurana ainda extremamente dependente do Reino da Dinamarca e, devido a sua localizao estratgica, dos

    Estados Unidos, que mantm bases militares no local desde a Segunda Guerra Mundial.

  • 16

    entre pases vizinhos, a presena dos aliados ocidentais no extremo norte de grande

    importncia (INGEBRIGTSEN, 2011). Alm disso, o primeiro-ministro noruegus, Jens

    Stoltenberg, afirmou: ns temos que fazer do extremo norte a prioridade de defesa, e vamos

    continuar a encorajar que OTAN e UE participem da questo da segurana10. Em 2009,

    durante o encontro com parlamentares da organizao, membros do gabinete noruegus

    tambm afirmaram que a OTAN deve aumentar seu papel no extremo norte (ROZOFF,

    2009).

    Apesar de a palavra rtico no ser citada nos ltimos documentos da organizao

    (2010 Strategic Concept e Chicago NATO summit declaration, de 2012), a OTAN uma

    aliana intergovernamental de Estados-nao soberanos que trabalha com o consenso de todos

    os membros. Sendo assim, se for entendido por eles que a organizao possui um importante

    papel na regio, ela ter um (COFFEY, 2012).

    O veterano do exrcito e conselheiro poltico Luke Coffey destaca trs reas em que a

    OTAN possa desempenhar um maior papel na regio, contribuindo para a segurana no

    rtico: tropas de resposta a desastres e de busca e resgate; vigilncia area e martima; e

    reconhecimento de plataformas operacionais. De mesmo modo, ele estabelece trs pontos nos

    quais a OTAN deve focar para aumentar sua presena no rtico: realizar uma de suas

    reunies na regio, o que traria o assunto imediatamente para a pauta da organizao;

    trabalhar mais com o Canad de modo a explicar porque a aliana pode ter um importante

    papel no extremo norte; e construir um suporte poltico com pases da OTAN no-rticos,

    como o Reino Unido, que tem procurado se engajar nos problemas da regio (COFFEY,

    2012).

    Trabalhando para estar cada vez mais presente no norte, a aliana militar tambm

    demonstra vontade de se expandir para Sucia e Finlndia, que ainda no so membros. Em

    2009, a OTAN realizou o maior exerccio militar com aeronaves da fronteira da Sucia com a

    Finlndia, incluindo 50 avies e duas mil pessoas de dez pases diferentes (ROZOFF, 2009).

    Em 2013, a Sucia fez parte pela segunda vez do exerccio da fora area norte-americana

    Red Flag, em Nevada, e, a partir de 2014, Sucia e Finlndia devem fazer parte da vigilncia

    do espao areo islands, pas sem fora militar. Em 2006, Estados Unidos parou de fiscalizar

    o espao areo da ilha diretamente, deixando esse papel para a OTAN (AKULOV, 2013).

    Membro do Conselho Sueco para a Paz, do Comit Gestor da Paz Internacional e do

    conselho de administrao da Rede Global Contra as Armas e Energia Nuclear, Agneta

    10

    http://www.defensenews.com/article/20130529/DEFREG/305290022/NATO-Rejects-Direct-Arctic-Presence

  • 17

    Norberg lembra que, apesar da maioria da populao sueca ser contra a adeso organizao,

    a Sucia est presente no Afeganisto e que em 2006 participou de um exerccio no Alasca,

    fazendo grandes manobras com avies de guerra. Segundo ela, a Sucia j faz parte da

    OTAN, falta somente um documento assinado para registrar o fato (AKULOV, 2013).

    Frente a esses movimentos, a reao russa tem sido forte. Em 2010, o ento presidente

    Medvedev, j afirmava que o rtico ficar bem sem a presena da OTAN11

    . O Ministro das

    Relaes Exteriores Sergei Lavrov tambm se pronunciou ao dizer, em 2011, que No h

    absolutamente nenhuma razo para que a OTAN se intrometa nas disputas sobre os recursos

    do rtico12. Em junho de 2013, o agora primeiro-ministro Medvedev voltou a fazer

    afirmaes parecidas ao falar que qualquer expanso da OTAN que incluam Sucia e

    Finlndia seria um aumento na balana de poder a ser respondida por Moscou13.

    A percepo de que EUA e OTAN constituem uma ameaa para seu pas ainda vive

    em grande parte da elite poltica, militar e acadmica russa. Atitudes como o incremento da

    supremacia nuclear ocidental, a expanso do escudo antimssil para pases vizinhos Rssia,

    e o crescimento da influncia ocidental em pases do leste europeu so vistos por Moscou

    como ofensivas estadunidenses (ZYSK, 2009). De mesmo modo, os russos no veem nenhum

    papel que a OTAN possa desempenhar na Eursia e sua expanso vista como a continuidade

    das polticas ocidentais de isolar a Rssia, deixando Moscou sozinha no mundo e vulnervel a

    qualquer invasor em potencial (BRZEZINSKY, 1997).

    O embaixador brasileiro que serviu em Moscou, Roberto Colin, resume a percepo

    russa:

    Em vez de receber a Rssia ps-sovitica como um parceiro igual para

    acabar com a Guerra Fria e a corrida armamentista, tanto a administrao de

    Clinton como a de Bush adotaram uma poltica triunfalista de extrair

    concesses unilaterais, primeiramente de Ieltsin e depois de Putin. Isso inclui a expanso da OTAN para o leste (quebrando uma promessa feita a

    Gorbatchev pelo primeiro presidente Bush); a retirada do Tratado ABM

    [sobre a reduo de msseis balsticos]; o tratado de reduo de armas nucleares de 2002; e o crescente cerco militar com bases em antigos

    territrios soviticos (COLIN, 2007, p. 35).

    Para Moscou a situao clara: a OTAN, apesar de criada na poca da Guerra Fria,

    continua constantemente em busca de novos membros, novos recursos e novas armas para

    combater um inimigo que no existe. O bloco parece sempre procurar uma oportunidade para

    11 http://barentsobserver.com/en/sections/security/medvedev-arctic-best-without-nato 12

    http://voiceofrussia.com/2011/11/29/61197944/ 13 http://barentsobserver.com/en/opinion/2013/06/russias-arctic-nato-and-norway-post-kirkenes-political-

    landscape-18-06

  • 18

    o uso de sua mquina de guerra, mesmo em situaes nas quais poderiam ser solucionadas

    pela diplomacia e pelo dilogo (NAZEMROAYA, 2012).

    Com esse choque de vises e com as atividades crescentes no rtico, os aparatos

    militares das partes passam a se encontrar no Polo Norte. Em 2007, o presidente Putin

    ordenou voos de patrulha sobre espaos neutros no rtico. Ao se aproximar do Alasca, dois

    avies TU-95 russos foram acompanhados de perto por quatro F-15 norte-americanos14

    . Em

    2010, foi a vez de dois Tu-160 Blackjack russos serem acompanhados por dois F-16

    noruegueses e dois Tornados da RAF, na primeira vez em que avies bombardeiros foram

    seguidos por tantos jatos da OTAN (CONLEY, 2012).

    Apesar de exerccios conjuntos tambm estarem sendo realizados entre Rssia,

    Noruega e OTAN, e entre Rssia, Noruega e Estados Unidos, essas relaes so bastante

    frgeis. Prova disso que elas so rapidamente suspensas quando surge uma crise, como

    aconteceu aps a Guerra da Gergia e aps a anexao da Crimeia pelos russos.

    6 RELAES BILATERAIS INTERESSES DE CADA PARTE

    A diminuio das atividades militares e o consequente desinteresse pelo rtico

    ocorrido no ps Guerra Fria acarretou na formao do Conselho rtico, um rgo multilateral

    para debates sobre cooperao entre os pases da regio e os povos indgenas,

    desenvolvimento sustentvel e monitoramento do meio ambiente. Apesar de ser o principal

    rgo multilateral existente no extremo norte, no qual diversos atores internacionais mostram

    interesse de participar, se trata de um conselho frgil, sem grande autoridade. Inclusive, o

    maior interesse de pases no-rticos no conselho faz com que os cinco pases com litoral

    para o norte criem receio de que o rgo ganhe fora e possa ser influenciado por atores que

    no fazem parte da regio. Desse modo, os Cinco rticos se reuniram na Groenlndia, em

    2008, para assinarem a Declarao de Ilulissat, na qual afirmam que todos os rgos

    existentes so suficientes e que cabe aos pases envolvidos resolverem os impasses entre eles

    sem interferncia exterior.

    Entre os membros permanentes do Conselho rtico esto, alm dos Cinco rticos,

    Islndia, Sucia e Finlndia, que apesar de no estarem presente na OTAN, so aliados em

    potencial e num futuro prximo podem vir a fazer parte do bloco. Por esse fato, a Rssia se v

    mais uma vez isolada e por isso tem preferido fazer acordos bilaterais fora do conselho.

    14 http://en.rian.ru/russia/20090128/119842464.html

  • 19

    6.1 Noruega

    O pas o qual Moscou mais interage no rtico com certeza a Noruega. A prpria

    proximidade dos noruegueses com a imensa Rssia fez com que o pas sempre desconfiasse

    de seus vizinhos e por isso tambm um dos membros fundadores da OTAN.

    Sob uma tica realista, ao calcularmos a estrutura de poder entre a Noruega e Rssia,

    fica claro a discrepncia na balana, e ajuda a entender porque os noruegueses defendem a

    presena de seus aliados na regio (DAVIS, 2011). Nos ltimos anos, Oslo contribuiu com

    tropas na Guerra do Iraque, possui 500 soldados no Afeganisto e participou da campanha na

    Lbia. Alm disso, a Noruega tem investido intensamente em capacidades de defesa no

    rtico. Parece ser um consenso entre civis e militares noruegueses de que a OTAN possui um

    grande papel no desenvolvimento do rtico (COFFEY, 2012).

    Alm disso, h uma grande polmica sobre a situao do arquiplago de Svalbard. O

    Tratado de Svalbard, de 1920, garante a soberania das ilhas para os noruegueses, que possuem

    a responsabilidade de prezar pela sua proteo ambiental, mas impede os mesmos de

    estabelecer uma base naval, construir uma fortificao, e nunca usar o arquiplago com

    propsitos de guerra. Segundos Oslo, o tratado no restringe a presena militar e o direito de

    defesa das ilhas. Mas para Moscou, o documento interpretado como um impedimento para

    que haja qualquer fora militar em Svalbard, e que a Noruega estaria descumprindo tal

    acordo. Alm disso, o tratado no estipula regras sobre a rea martima em torno do

    arquiplago. Assim, a Noruega entende que a plataforma continental das ilhas faz parte da

    plataforma continental norueguesa, enquanto os russos, assim como outros pases, entendem

    que Svalbard possui seu prprio territrio martimo.

    A preocupao ecolgica e a preservao da natureza local outro motivo que a

    Noruega usa para manter uma presena mais intensa no arquiplago. Entretanto, o

    posicionamento noruegus em relao Svalbard visto por Moscou como duvidoso e

    injusto de uma perspectiva legal. Os russos acusam Oslo de possuir uma agenda estratgica

    escondida por trs dessas polticas que conecta o posicionamento estratgico do arquiplago

    aos interesses de segurana do ocidente (ZYSK, 2009).

    O fato de os principais desentendimentos entre noruegueses e russos se darem no mar,

    faz com que a Noruega priorize largamente a marinha e a aeronutica, invs do exrcito. Sua

    localizao geogrfica, fazendo fronteira com a Rssia somente no extremo norte, faz com

    que o pas identifique que um ataque naval ou areo seria muito mais provvel do que uma

  • 20

    invaso por terra. Mesmo assim, Oslo afirma que o incremento das capacidades militares

    russas no representam uma ameaa direta ao pas, mas devem ser considerados em um plano

    nacional de defesa noruegus (HILDE, 2013).

    Apesar da existncia da desconfiana, maiores disputas tm sido superadas, como foi o

    caso do acordo de delimitao das fronteiras martimas entre os dois pases em 2010. Alm

    disso, diversos projetos de integrao na regio de Barents tm surgido nos ltimos anos.

    Desse modo, Moscou e Oslo parecem se entender bem na prtica, mesmo que haja um medo

    por parte dos noruegueses ao entenderem que basta a Rssia querer para ocupar seu pas. No

    entanto, defender a presena da OTAN na regio pode fazer com que maiores desavenas

    surjam.

    6.2 Estados Unidos

    Pelo fato de os Estados Unidos estarem conectados regio somente pelo Alasca,

    distante dos grandes centros do pas, o degelo do rtico parece no ter despertado grande

    interesse de Washington, fazendo surgir diversas crticas sobre o posicionamento do governo

    estadunidense. Mesmo assim, em 2009 o governo lanou o documento NSPD-66 / HSPD-25,

    com polticas especficas para a regio. Afirma-se nele que a alta prioridade dos Estados

    Unidos est nas questes de segurana, particularmente a importncia de se manter a presena

    militar na regio. O documento destaca tambm que o pas tem interesses de segurana

    nacional no rtico, e est preparado para agir sozinho ou em conjunto com outros Estados

    para salvaguardar esses interesses que incluem assuntos como defesa antimsseis, sistemas de

    transporte martimo estratgico e liberdade de navegao15

    . Outro documento que faz

    afirmaes sobre a regio o Arctic Road Map da marinha estadunidense, dizendo que o

    rtico no uma regio desconhecida para eles e que se devem expandir suas capacidades

    para aumentar o envolvimento na regio16

    .

    Na questo militar interna, apesar de os Estados Unidos terem uma fora de guerra

    incomparvel a qualquer outra no mundo atual, quando se trata de regies polares a situao

    no a mesma. A Guarda Costeira americana possui apenas trs navios quebra-gelo, sendo

    que dois esto no fim de sua vida til. Mesmo se houvesse esforos para a produo de mais,

    necessitariam de oito a dez anos para que um novo quebra-gelo entre em servio e at agora

    no foi deslocado dinheiro para a produo de novos navios do tipo. Em 2013, inclusive, foi

    15 https://www.fas.org/irp/offdocs/nspd/nspd-66.htm 16 http://www.navy.mil/navydata/documents/USN_artic_roadmap.pdf

  • 21

    enviado um documento ao Congresso explicando a necessidade de modernizao dos quebra-

    gelos da guarda costeira17

    . Por outro lado, os Estados Unidos possuem uma frota de trinta a

    quarenta navios de combate, incluindo submarinos de ataque, contratorpedeiros e porta-

    avies, que podem ser deslocados para o norte seja partindo do Oceano Pacfico ou do

    Atlntico (BLANK, 2011).

    Na questo internacional, os Estados Unidos, percebendo o crescimento da

    visibilidade do Conselho rtico, tm se mostrado contra o debate de temas de segurana no

    rgo, a fim de no envolver muitos atores na discusso sobre o engajamento da OTAN na

    regio, o que Washington defende fortemente. Apesar de o Secretrio Geral da aliana, o

    General Anders Fogh Rasmussen afirmar que nesse momento a OTAN no tem a inteno

    de aumentar sua presena ou suas atividades no extremo norte18, os exerccios que o bloco

    vem realizando juntamente com Sucia e Finlndia, membros permanentes do Conselho

    rtico, nos mostra o contrrio. Alm disso, desde o final da Guerra Fria, a organizao vem

    se expandindo em direo aos russos, inclusive em pases da antiga Unio Sovitica. Assim,

    no por acaso que boa parte da elite acadmica, dos polticos e dos militares russos

    enxergam os Estados Unidos e a OTAN como uma ameaa segurana russa e suspeitam do

    aumento das atividades da organizao (CONLEY, 2012).

    No rtico, os Estados Unidos buscaram, historicamente, a cooperao militar com

    seus aliados. Durante a Guerra Fria, estabeleceu radares no norte do Canad e diversas bases

    na Groenlndia. Somando essa imagem de cooperao com a carncia de foras militares

    especializadas no rtico, Washington usa a OTAN para ocupar cada vez mais o norte do

    planeta. Apesar de a organizao fazer afirmaes contrrias expanso no norte, a incluso

    de Sucia e Finlndia no bloco deixaria a Rssia como nica fora militar do rtico fora da

    aliana militar, aumentando seu isolamento.

    Alm disso, sobre as rotas martimas, Washington possui a difcil misso de negociar

    com Canad e Rssia a fim de fazer com que os novos caminhos martimos do rtico sejam

    considerados rotas internacionais e no passagens internas dos pases em questo. Como rotas

    internacionais, qualquer pas poderia navegar pela regio sem pedir permisso e sem pagar

    possveis taxas para canadenses ou russos. Para proteger seus interesses martimos, os Estados

    Unidos nunca permitiro que as novas rotas martimas do rtico sejam consideradas guas

    nacionais de Rssia e Canad. No entanto, o rtico tem ficado em segundo plano. A

    prioridade de Washington na questo martima internacional ainda est focada em outras

    17 http://www.fas.org/sgp/crs/weapons/RL34391.pdf 18 http://www.defensenews.com/article/20130529/DEFREG/305290022/NATO-Rejects-Direct-Arctic-Presenc

  • 22

    regies como o Oriente Mdio e o Mar de China Meridional (WANG, 2013). A chance dos

    estadunidenses de melhor trabalhar os pontos de divergncias com os demais pases e de se

    engajar mais nos debates sobre as mudanas no rtico no perodo entre 2015 e 2017,

    quando o pas assume a presidncia do Conselho rtico.

    6.3 Alemanha

    Entre os maiores descontentes com a Declarao de Ilulissat, a Alemanha, atravs do

    German Institute for International and Security Affairs, se mostrou preocupada com a postura

    dos Cinco rticos, afirmando que no ser fcil persuadir esses pases de serem mais abertos

    participao de outros atores na regio. O documento de Ilulissat foi visto por muitos pases

    como uma tentativa de afastar os demais atores do norte, e acusaes de que os Cinco rticos

    pretendiam repartir a regio entre eles comearam a ser feitas.

    Visto que os russos so os maiores exportadores de petrleo e gs natural para a

    Alemanha, bvio pensar que o grande interesse alemo no rtico seria nos recursos

    energticos. No entanto, as companhias alems parecem estar subestimando o potencial

    rtico, investindo mais em pases como Monglia e Cazaquisto do que no extremo norte.

    Para Andreas sthagen, do Arctic Institute, entre as razes para isso est a percepo de que

    os pases do rtico mantm um mercado mais aberto e transparente a ponto de no

    merecerem tamanho engajamento e ateno, e tambm possurem dvidas sobre o verdadeiro

    potencial de explorao frente aos altos custos de investimentos em tecnologia para climas

    severos (SHTAGEN in ENGEL et al, 2012). Deste modo, em suas relaes com os russos,

    os alemes parecem estar mais preocupados em garantir a segurana do abastecimento atual,

    aprimorando a infraestrutura existente, j que a maioria dos hidrocarbonetos que chegam ao

    pas passa por pases considerados instveis do leste europeu, do que investir diretamente em

    novas jazidas russas.

    A grande prioridade alem parece ento estar nas novas rotas de navegao. Dona da

    terceira maior marinha mercante do mundo e do maior nmero de navios de containers, a

    Alemanha trabalha para que a nova rota seja livre, segura e pacfica. Alm disso, tambm h

    interesse nas novas oportunidades para as companhias alems, principalmente na rea de

    tecnologias martimas. Para atingir esses objetivos, Berlim defende a participao de todos os

    interessados na regio em debates, incluindo a OTAN (ALEMANHA, 2013).

    Outro interesse do pas est nos pescados, j que, segundo o Ministrio das Relaes

    Exteriores, 50% dos pescados no Oceano rtico so consumidos na Unio Europeia. Alm

  • 23

    disso, assim como outros pases do bloco europeu, a Alemanha tem interesse no

    armazenamento de resduos nucleares no rtico russo.

    6.4 Reino Unido

    O Reino Unido possui uma histria de sculos de exploradores, empresas, navios e

    cientistas no rtico. Durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, os britnicos

    exerceram um importante papel militar nas guas entre Islndia e Groenlndia, e prximas

    costa norueguesa at a fronteira com a Rssia, respectivamente. Com o fim da Guerra Fria, a

    tenso de provveis conflitos deu lugar cooperao, e o pas foi um dos que instalaram uma

    estao de pesquisa cientfica em Svalbard, de olho no potencial da biodiversidade da regio.

    Atualmente a regio no mais vista como uma rea de conflito em potencial, mas h

    dois problemas em particular que despertam o interesse dos britnicos na regio. O primeiro

    que qualquer conflito futuro com a Rssia, ou mesmo com a China, ir incluir o rtico como

    uma importante arena de guerra, por isso h uma forte tendncia para o apoio da presena da

    OTAN na regio. O segundo problema referente dependncia energtica do pas dos

    hidrocarbonetos noruegueses, j que 55% das importaes de petrleo e 46% das importaes

    de gs natural vm da Noruega, fazendo com que a segurana da infraestrutura logstica desse

    comrcio seja de grande importncia (DEPLEDGE, 2013).

    6.5 China

    Com o grande crescimento econmico das ltimas dcadas, a China vem se tornando

    um dos grandes aliados russos na construo de um mundo multipolar, menos dependente das

    polticas ocidentais. No rtico no diferente. Beijing possui grande interesse tanto nos

    recursos energticos da regio, essenciais para sustentar o grande e crescente consumo chins,

    quanto nas novas rotas comerciais, com as quais o pas poder poupar grandes quantidades de

    dinheiro em transporte.

    Por esses motivos, a China , com certeza, o pas no-rtico que mais tem se feito

    presente na regio. Apesar de no haver uma poltica oficial de parte do governo da China

    sobre o rtico, o interesse na regio crescente. Os lderes chineses ainda esto nos primeiros

    estgios para formular uma poltica oficial, mas acadmicos, analistas polticos, militares e

    outros grupos de interesse esto procurando informar e exercer influncia sobre a formulao

    dessas polticas (CAMPBELL, 2012).

  • 24

    No campo cientfico a China sempre mostrou interesse nos polos do planeta. A partir

    da dcada de 1990 a China esteve envolvida em pesquisas nos polos. O pas mantm uma

    estao de pesquisa no arquiplago de Svalbard, em operao desde 2004. Desde 2009

    tambm tem conduzido um dilogo bilateral sobre problemas do rtico com a Noruega,

    possuindo institutos acadmicos especializados em pesquisas sobre a regio. Alm disso, os

    chineses so donos do maior quebra-gelo do mundo, o Xuelong (Drago da neve), que tem

    sido parte central das pesquisas polares chinesas. O mais recente plano quinquenal chins

    (2011-2015) fala em um esforo em pesquisas polares e ocenicas, e uma ativa gesto do

    meio marinho integrada (CAMPBELL, 2012).

    O Xuelong, construdo pela Ucrnia, j conduziu cinco expedies de pesquisa no

    rtico, incluindo a travessia do Polo Norte geogrfico do planeta em 2010. A China tambm

    pretende lanar o primeiro de uma srie de novos quebra-gelos que se juntaro ao Xuelong.

    Com investimentos de 200 milhes de dlares, os novos navios devem deixar a China com

    quebra-gelos maiores e de qualidade superior aos dos Estados Unidos e do Canad

    (RAINWATER, 2012).

    Sobre a questo militar, a China tem planos de modernizao de sua marinha nos

    prximos anos visando segurana das rotas martimas de suprimento. Desde 1993, o

    oramento do Exrcito de Libertao Popular, o equivalente chins s foras armadas, tem

    aumentado 15% por ano, incluindo a construo de msseis balsticos antinavios, aeronaves,

    minas navais, satlites pticos e submarinos, que podem ultrapassar a marinha norte-

    americana daqui a 15 anos (RAINWATER, 2012). No entanto, o grande foco dos chineses

    para com o rtico envolve questes econmicas, sendo a aquisio de recursos a grande

    prioridade da poltica externa chinesa.

    Como a maior nao naval do mundo, 46% do PIB chins est relacionado com a

    indstria martima. Assim, qualquer mudana nas rotas martimas ter impacto direto na

    economia chinesa, afetando a importao e a exportao (CONLEY, 2012). Tambm, pelo

    fato de metade do petrleo importado da China ser oriundo do Oriente Mdio e chegar at o

    Pacfico por uma infraestrutura controlada por estrangeiros, o pas tambm tem investido nas

    novas rotas martimas do norte, procurando assim acabar o Dilema de Malaca. Esse estreito

    controlado por pases considerados instveis e onde passa 85% do petrleo importado pela

    China. Considerando menores gastos em combustvel e seguros contra pirataria, alm das

    restries de capacidade dos canais de Suez e do Panam, analistas chineses calculam que a

    China poder poupar de 60 a 120 bilhes de dlares por ano ao utilizar as rotas do rtico

    (RAINWATER, 2012).

  • 25

    Aumentando cada vez mais sua presena no rtico, a China vem conseguindo

    importantes conquistas no mbito diplomtico. O maior exemplo ocorreu em 2013 quando o

    pas foi aceito como membro observador permanente do Conselho rtico (principal rgo

    internacional atuante na regio), enquanto a Unio Europeia ficou de fora.

    A interao entre Rssia e China no rtico tambm tem sido grande. Em maro de

    2013, a Chinese National Petroleum Corporation (CNPC) fechou um acordo com a estatal

    russa Rosneft para explorao de trs campos de petrleo nos mares de Barents e Pechora. Os

    chineses tero 33% da joint venture criada e financiaro os custos iniciais de perfurao e

    explorao19

    . Quatro meses depois, em julho, a CNPC anunciou a aquisio de 20% de um

    projeto de explorao de gs natural liquefeito (LNG) na pennsula de Yamal. A fim de

    garantir capital para investimento, os chineses se comprometeram em comprar trs milhes de

    toneladas de LNG por ano. Em sua capacidade mxima, o projeto deve garantir 16,5 milhes

    de toneladas anuais20

    . Como parte da parceria sino-russa no rtico, a China deve aumentar

    suas importaes de petrleo russo para at 620 mil barris dirios, se aproximando da

    Alemanha, maior importadora do petrleo russo com 700 mil barris dirios21

    . Esses acordos

    so de grande importncia no s para acelerar e aprimorar a extrao dos hidrocarbonetos do

    rtico, mas tambm para consolidar uma estrutura de escoamento de recursos para o

    continente asitico, que vem se firmando como uma alternativa ao mercado europeu.

    6.6 Demais pases asiticos

    Alm da China, outros pases asiticos entraram para o Conselho rtico, como

    membros observadores permanente em 2013. Japo, Cingapura e Coreia do Sul possuem

    interesses principalmente nas oportunidades para a indstria martima surgidas com as novas

    rotas. Entre esses pases, a Rssia tem trabalhado bastante com a Coreia do Sul em assuntos

    considerados estratgicos para os dois pases. Os coreanos enxergam no rtico uma nova

    oportunidade para as grandes empresas do pas nas reas de engenharia marinha e construo

    de navios, caso da Daewoo, e na rea de construo de quebra-gelos e de cargueiros e

    petroleiros transportadores de gs natural, caso da Samsung (CANADIAN

    INTERNATIONAL COUNCIL, 2011).

    19 http://barentsobserver.com/en/energy/2013/03/china-drill-barents-sea-25-03 20

    http://barentsobserver.com/en/energy/2013/07/new-chinese-foothold-russian-arctic-03-07 21 http://www.bloomberg.com/news/2013-03-25/russia-cuts-china-into-arctic-oil-rush-as-energy-giants-

    embrace.html

  • 26

    7 CONSIDERAES FINAIS

    O degelo do rtico, divulgado pelos grandes meios de comunicao como um

    problema ambiental, traz consigo diversas alteraes geogrficas que podero ter enormes

    impactos na geopoltica mundial. Quando abordado sob essa perspectiva, na maioria das

    vezes se fala em uma corrida pelas riquezas naturais da regio, o que pode resultar em

    confrontos militares com graves consequncias para o meio ambiente. No entanto, esse

    cenrio muito improvvel. A grande maioria dos recursos minerais encontrados no rtico

    est localizada em territrios nacionais, e mesmo que haja desavenas em relao a

    reivindicaes de novas reas ou sobre as rotas martimas, uma guerra na regio inviabilizaria

    os lucros de explorao de todos os envolvidos. Mais do que nunca, a paz na regio o nico

    meio para que os pases do extremo norte aproveitem as oportunidades que tem surgido, e por

    isso, as naes tm se mostrado comprometidas em resolver todos os desentendimentos locais

    de acordo com as normas vigentes pelas Naes Unidas.

    Por outro lado, apesar de o rtico no causar um conflito, trata-se de uma nova arena

    no sistema internacional. Um local que historicamente foi palco de diversas tenses militares

    e onde se localiza poderosos armamentos de guerra. Onde metade das terras da regio fazem

    parte da OTAN e a outra metade identificado como sua maior ameaa, outrora maior

    inimigo. Um local que visto pelos russos como uma porta para o mundo, para quebrar o

    isolamento ocidental e voltar a se expandir. Por isso, uma guerra na regio seria muito mais

    prejudicial para a Rssia do que para os Estados Unidos e seus aliados. E tambm por isso, se

    uma guerra pelo rtico improvvel, no se pode dizer o mesmo sobre uma guerra no rtico.

    Segundo o terico John Mearsheimer, a unipolaridade global impossvel de ser

    alcanada, por isso, os Estados Unidos, que dominam o hemisfrio ocidental, procuram cercar

    os pases que acumulem poder a ponto de ameaar no futuro a sua hegemonia. Em outras

    palavras, Washington no tolera competidores no sistema internacional e o isolamento de

    potncias emergentes faz criar conflitos que acabam levando a guerras, sejam elas diretas ou

    indiretas. No sculo XX, essa foi a postura dos Estados Unidos contra a Alemanha imperial e

    a nazista, contra o Japo e contra a Unio Sovitica, e dificilmente ser diferente no sculo

    XXI, seja em relao Rssia, China, ou qualquer outro pas emergente que junte foras

    para buscar uma posio mais favorvel no sistema internacional, ou seja, que adote uma

    postura revisionista da ordem global a seu favor (MEARSHEIMER, 2003).

    Com esse objetivo, os Estados Unidos vem adotando uma abordagem tnica e cultural

    que diferencia o ocidente dos russos. Com o fim da Guerra Fria, no mais se podia demonizar

  • 27

    os russos com base nos conflitos de ideologias, ento se assumiu uma viso onde no se pode

    escolher um lado. Expressa pelo economista Samuel Huntington, em O Choque das

    Civilizaes, essa abordagem afirma que questes econmicas e polticas podem mudar de

    acordo com a preferncia da populao, mas no se pode mudar a cultura a qual se pertence.

    Segundo Huntington, em conflitos de classes e ideolgicos a questo de que lado voc

    est? e as pessoas podem escolher e mudar de lado. Em conflitos entre civilizaes a

    pergunta o que voc ? . Isso no pode ser mudado (HUNTINGTON, 1993). Um

    exemplo de como essa mentalidade guia as aes da OTAN foi quando, em 2009, no

    exerccio militar realizado na Sucia, a organizao criou uma fictcia nao inimiga e a

    nomeou de Lapistan. Lapps um termo pejorativo (proibido na Sucia) para designar o

    povo Sami, que habita o norte da Escandinvia, e o final -stan faz meno aos recentes

    conflitos no Afeganisto e no Paquisto, de modo que a nomenclatura provocou protestos

    tanto da populao local como da comunidade muulmana (ROZOFF, 2009). De mesmo

    modo, os russos so demonizados atualmente por pertencerem outra cultura e civilizao

    com valores incompatveis aos valores estadunidenses. Assim como so os rabes, cujos

    atentados de 11 de setembro, justificam o militarismo estadunidense em diversas regies do

    mundo e sustenta a demonizao de grande parte do Oriente Mdio (NAZEMROAYA, 2012).

    Com a percepo de que a OTAN no est comprometida com uma coexistncia

    pacfica, nem com nenhuma forma de equilbrio estratgico, dificilmente a Rssia ir se

    manter dentro de suas fronteiras atuais e aceitar seu isolamento geopoltico. A prpria

    extenso territorial russa, com todas suas riquezas naturais e sua histria violenta, impede que

    o pas concorde com uma ordem mundial onde um mero coadjuvante. O mais provvel

    que o impulso histrico de controlar as terras que a circundam e abrir caminho em direo ao

    mar sejam retomados de modo que Moscou exera um maior protagonismo no sistema

    internacional.

    Para buscar seu espao, a Rssia tem procurado agir bilateralmente, de modo a anular

    ou reduzir a disparidade existente em rgos multilaterais, como o Conselho rtico, no qual

    dos membros permanentes todos os demais so membros ou aliados da OTAN. Com seus

    vizinhos terrestres rticos, tem sido feitos diversos acordos de cooperao, buscando o

    desenvolvimento integrado no norte da Escandinvia. Essa aproximao no nova. Durante

    o sculo XIX, o comrcio na fronteira russo-norueguesa era to intenso que um idioma nico,

    uma mistura de russo e noruegus, se desenvolveu na regio. O rublo era usado em vrias

    cidades do norte da Noruega, assim como centenas de embarcaes russas visitavam os portos

    noruegueses todos os anos. Porm, com a revoluo de 1917 a histria mudou

  • 28

    (INGEBRIGSTSEN, 2011). A Guerra Civil Russa, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria

    criaram um sentimento de desconfiana entre as partes que at hoje no conseguiu ser

    removido. O medo do poderio militar russo faz com que a Noruega seja a favor da presena

    de diversos outros atores na regio, como a OTAN e a Unio Europeia, alguns deles contra a

    vontade russa. Desse modo, por mais que a cooperao seja a grande prioridade norueguesa, o

    medo parece ser o sentimento que move essa relao.

    Mais afastada da regio, a Alemanha tem mostrado maior pragmatismo no seu modo

    de fazer poltica com os russos. Mostrando de maneira clara seus interesses, tem buscado

    colaborar sempre em nome da estabilidade e das trocas comerciais. O mesmo no se pode

    dizer do Reino Unido. Os britnicos tm colocado grande nfase nos valores ocidentais e,

    mesmo que saibam negociar em busca de seus interesses, no deixam de desconfiar das

    intenes russas. Em outras palavras, seguem de perto as polticas de seu maior aliado, os

    Estados Unidos. Washington segue seu grande interesse de isolar a Rssia de modo a anular

    possveis concorrentes globais. Por isso, o poder militar e a segurana esto sempre em

    primeiro lugar. A reao ocidental crise na Ucrnia ilustra muito bem esse isolamento.

    Diversas sanes foram aplicadas contra Moscou, exerccios militares conjuntos foram

    suspensos e as reunies do Conselho rtico ocorridas na Rssia foram boicotadas pelo

    Canad, atual presidente do rgo.

    Os possveis aliados russos so os pases emergentes. Se Brasil, frica do Sul e ndia

    no tem mostrado grande interesse no rtico, a China tem se mostrado um grande parceiro

    para o desenvolvimento da regio. Em nome da multipolaridade global, os dois pases tm

    firmados diversos acordos econmicos nos quais os recursos russos e o grande mercado

    chins parecem se encaixar perfeitamente. Com o desenvolvimento da regio, provvel que

    outros parceiros vo surgir. Mesmo que os pases rticos sejam contra uma maior presena de

    demais pases na regio, acordos especficos, principalmente com a utilizao de tecnologia

    em climas severos, j esto sendo feitos, principalmente com outros pases asiticos que veem

    timas oportunidades em um rtico sem gelo.

    De qualquer modo, mesmo que o gelo do extremo norte no derreta o esperado nas

    prximas dcadas, os avanos em tecnologia martima e em explorao de recursos, somados

    com os retornos econmicos da exportao de energia, ir fazer com que a Rssia aumente

    suas conexes e, consequentemente, sua participao no comrcio mundial (ANTRIM, 2010).

    A incerteza fica na quantidade de fora que Moscou ir ganhar e como os russos iro

    converter isso em um maior poder de influncia global. Assim como em que intensidade os

  • 29

    Estados Unidos e a OTAN iro responder ao ressurgimento dessa potncia de propores

    continentais.

    THE ARCTIC IN 21st CENTURY: THE END OS RUSSIAN ISOLATION?

    Abstract

    This article seeks to analyze the consequences of the melting of the Arctic in Russian

    geopolitics. From a historical analysis of the geographical isolation of Russia, as well as its

    political isolation imposed by the U.S. and NATO, we seek to understand the importance of

    the melting for the Russian domestic development and the projection of the country towards

    the sea. Finally, we observe Moscows bilateral relations with main countries of the international system that have shown interest in the region.

    Keywords: Arctic. Thaw. Russia. Geopolitics. NATO.

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