Artigo equina 18 jul ago-2008
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![Page 1: Artigo equina 18 jul ago-2008](https://reader031.fdocuments.mx/reader031/viewer/2022022201/5887fe571a28ab554e8b5627/html5/thumbnails/1.jpg)
A crise dos Estados Unidoschega à Eqüinocultura
Roberto Arruda deSouza Lima
Engenheiro agrônomo,Doutor em
Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,
Pesquisador do [email protected]
As importações de cavalos vivos apresenta-ram crescimento nos últimos meses (Figura 1).Em parte, esse fenômeno se deve às boas opor-tunidades que tem surgido com oferta de ani-mais a preços atrativos. Conforme será discuti-do nesse artigo, são grandes as chances que pre-valeça um mercado com boas ofertas de ani-mais, principalmente originários dos EstadosUnidos. Este fato está fortemente relacionado àcrise financeira mundial (com epicentro nos Es-tados Unidos), já discutida em artigo anterior eagora retomado de forma breve no presente tex-to. A análise da combinação entre oportunidadee riscos atrelados às crises é o foco deste artigo,
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destacando importação de eqüinos.Para melhor compreensão do que ocorre e
as perspectivas do mercado de eqüinos, em par-ticular do norte-americano, é importante reali-zar uma breve revisão sobre o comportamentorecente dos custos de produção e manutençãode eqüinos. Nesse sentido, convém verificar oque ocorre com os preços das commodities (ra-ção), terras e feno.
Os principais institutos e centros acadêmi-cos estimam que o atual nível de preços das com-modities deverá permanecer alto, em novo pa-tamar. Conforme discutido em recente artigo daRevista RUMINANTES, para apoiar esta pro-jeção de manutenção de novo patamar de pre-ços, pode-se observar as previsão da FAPRI(Food and Agricultural Policy Research Institu-te, que é um importante instituto de pesquisa comcentros nas Universidades de Iowa e Missouri/Columbia, nos Estados Unidos), conforme fi-gura 2.
Este cenário de preços elevados provoca im-portantes reflexos no mercado de terras. Em pri-meiro lugar, elevação do preço do hectare, poishá maior interesse na oferta de produtos agro-pecuários e, conseqüência desse primeiro im-pacto, as ocupações do solo deverão apresen-tar maior rentabilidade para justificarem o in-vestimento, plantio ou criação, nessas áreas va-lorizadas. Portanto, commodities e terras têmpressionado para cima os custos dos eqüino-cultures.
Adicionalmente, observa-se, no caso dos Es-tados Unidos, conforme dados do USDA (Uni-ted States Department of Agriculture), que oimpacto da elevação de custos sobre a ofertanorte-americana já causou importantes resulta-dos no mercado de cavalos, afetando duramen-te o Brasil. Relembremos o que ocorreu na dé-cada de 1980 nos Estados Unidos e que culmi-nou com a crise na eqüinocultura brasileira nadécada de 1990.
No final do século passado, desde o início
Figura 1: Brasil: valor das importações mensais de cavalos vivos,janeiro de 2006 a junho de 2008, em milhões de dólares.
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Figura 2: Projeção de preços de milho e soja, período2007/08 a 2017/18, CIF Rotterdam, em US$/t.
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dos anos de 1970, o mercado brasileiro esteve(artificialmente) aquecido, com volumes crescen-tes de importações, conforme pode ser obser-vado na figura 3. O grande incentivo para com-pra de cavalos ocorreu na década de 1980, emgrande parte devido à crise no mercado norte-ame-ricano (comentada a seguir), que disponibilizou ani-mais de grande qualidade a baixos preços.
O início da década de 1980, em especial osanos de 1981 e de 1983, foi marcado pela po-lítica fiscal de Ronald Reagan. Naquela época,durante o ajuste imposto pelo governo norte-americano, houve a suspensão dos fartos subsí-dios e benefícios que eram concedidos aos cria-dores de cavalos norte-americanos. Isso aca-bou afetando fortemente a indústria de eqüinos,instalando uma crise nos Estados Unidos quecriou grandes oportunidades para importadoresbrasileiros. Foi uma época em que exemplaresde excelentes linhagens foram trazidos para oBrasil, impulsionando a criação nacional. Vejaque o pico das importações brasileiras de cava-los vivos ocorreu em 1990 (Figura 3).
No entanto, os anos iniciais da década de1990 apresentaram, para o Brasil, um períodode ajustes e crise na eqüinocultura. O excessode animais (ou seja, de oferta) fez com que ospreços entrassem em queda. A redução no va-lor dos cavalos foi tão forte que se estima quemais de 80% dos criadores abandonaram seuscriatórios. Isto fez que houvesse maior ofertade cavalos, alimentando o círculo vicioso, pro-porcionando preços cada vez mais baixos.
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Figura 3: Brasil: valor das importações anuais de cavalos vivos, 1961 a 2005,em milhões de dólares.
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É verdade que houve – como sempre ocorreem crises – boas oportunidades. Preços baixospermitiram o acesso de maior número de pes-soas ao mercado de cavalos, inclusive aquelasque não têm propriedades para receber os ani-mais. Nesta fase, inicia o crescimento de ativi-dades como baias de aluguel, pequenos Cen-tros Hípicos entre outras (para maiores detalhes,ver o artigo O Mercado de Cavalos, de AndréG. Cintra). Deve-se ressaltar que aqueles quesobreviveram à crise dos anos 1990 foram aque-les que investiram em qualidade. Isto teve refle-xo positivo no plantel nacional, que passou a teranimais reconhecidos internacionalmente.
E o que podemos refletir para o presente eprojetar para o futuro? Primeiro, a atual crise,originada no mercado imobiliário norte-ameri-cano e com dimensão mundial, abre uma janelade oportunidade para compra de animais de boaqualidade junto a criadores que estão com suarentabilidade comprometida com a elevação decustos. Investimentos em qualidade deverãoocorrer nos próximos meses. Mesmo porqueserá condição necessária para sobrevier a au-mentos de custos (fortes nos Estados Unidos ecrescentes no Brasil). Em segundo lugar, nãomenos importante, é a necessidade de atençãoao cenário econômico, para que se repita a cri-se dos anos 1990. Aproveitar oportunidades édiferente de euforia. Lembre-se que os custosdeverão permanecer pressionados também noBrasil e, com a crise, menores serão as chancesde boas exportações.