Artigo equina 11 mai jun-2007

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AGRONEGÓCIO GRONEGÓCIO GRONEGÓCIO GRONEGÓCIO GRONEGÓCIO E ntre as muitas preocupações deste sécu- lo, destacam-se aquelas relacionadas ao meio ambiente, em especial, o aquecimen- to global. Neste cenário, o petróleo tem tido papel central no debate político e acadêmico devido a sua volatilidade de preços, instabilidade política de importantes países produtores, nível de estoques e geração de gases de efeito estufa na sua utiliza- ção. Entre as potenciais soluções, ainda que par- ciais, está a substituição de combustíveis fósseis por etanol. A produção de etanol ocorre, principalmente, O custo da ração é movido a a partir da cana-de-açúcar (tecnologia predomi- nante no Brasil) e do milho (predominante nos Estados Unidos). O governo norte-americano tem, entre suas prioridades, o forte crescimento da pro- dução de etanol. Estima-se que os EUA investi- ram, apenas em 2006, 35 bilhões de dólares na produção de álcool combustível. Este foco na pro- dução de etanol tem elevado a demanda de sua matéria-prima, o milho, conforme pode ser obser- vado na Figura 1. O programa norte-americano para o setor pre- vê a substituição de 20% do consumo de gasolina Figura 1: Estados Unidos - uso de milho na produção de etanol. FONTE: WWW.EARTH-POLICY.ORG Roberto A. de Souza Lima Professor Doutor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) [email protected] Rudy Taransantchi Graduando da FMVZ/USP.

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Entre as muitas preocupações deste sécu-lo, destacam-se aquelas relacionadas aomeio ambiente, em especial, o aquecimen-

to global. Neste cenário, o petróleo tem tido papelcentral no debate político e acadêmico devido asua volatilidade de preços, instabilidade política deimportantes países produtores, nível de estoquese geração de gases de efeito estufa na sua utiliza-ção. Entre as potenciais soluções, ainda que par-ciais, está a substituição de combustíveis fósseispor etanol.

A produção de etanol ocorre, principalmente,

O custo da ração é movido a

a partir da cana-de-açúcar (tecnologia predomi-nante no Brasil) e do milho (predominante nosEstados Unidos). O governo norte-americano tem,entre suas prioridades, o forte crescimento da pro-dução de etanol. Estima-se que os EUA investi-ram, apenas em 2006, 35 bilhões de dólares naprodução de álcool combustível. Este foco na pro-dução de etanol tem elevado a demanda de suamatéria-prima, o milho, conforme pode ser obser-vado na Figura 1.

O programa norte-americano para o setor pre-vê a substituição de 20% do consumo de gasolina

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Professor Doutor daEscola Superior de

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Universidade de SãoPaulo (ESALQ/USP)

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FMVZ/USP.

por etanol no prazo de dez anos. Isto implica emaumento superior a 500% no consumo de etanolnos Estados Unidos até 2017, elevando o consu-mo médio anual dos atuais 20 bilhões de litros para132 bilhões. Conseqüência direta desta política, apressão para elevar a produção de milho tem sidocrescente. Reforçando a necessidade de maioroferta de milho, o governo chinês anunciou em 9de abril deste ano que a China tornar-se-á impor-tadora de milho dentro de poucos anos.

Para atender a esta crescente demanda, a pro-dução mundial desta commodity tem se elevadoem nível mundial. Comparando as safras 1990/91e 2006/07 de milho do Brasil, Estados Unidos edo Mundo como um todo, nota-se incremento de76%, 35% e 44%, respectivamente (Figura 2).

Os preços do milho, em nível mundial, têm seelevado, mesmo com o aumento da produção e

Figura 2: Produção de milho, em milhões de toneladas, no Brasil, Estados Unidos e Mundial.

Figura 3: Cotações do milho e da soja no mercado futuro, Bolsa de Chicago (CBOT), em 30/04/2007.

da área plantada. Adicionalmente, deve-se obser-var que o aumento da área plantada de milho im-plica em redução da área anteriormente ocupadapor outras culturas, em especial a soja. Reduzin-do a previsão de oferta destas culturas, seus pre-ços também se elevam. As cotações do milho eda soja no mercado futuro refletem este cenário(Figura 3).

Pelos dados comentados nos parágrafos ante-riores, observa-se que o custo da alimentação denossa tropa será impactada pela atual “febre doetanol”. Os custos do milho e da soja deverão seelevar, o que provocará alterações nas formula-ções das rações. Deve-se observar que as eleva-ções dos custos internacionais, na atual economiaglobalizada, são transmitidos aos preços internosno Brasil. A forte valorização do real frente aodólar, verificada nos últimos anos (e que deverá

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persistir nos próximos meses),tem amenizado os efeitos daalta nas cotações, em dólar,das commodities.

Ainda na linha dos efei-tos do mercado do etanol so-bre os custos da ração paraeqüinos, deve-se destacar quea produção de DDG deveráse elevar, o que contribuirápara redução dos preços defarelos protéicos, como o pró-prio DDG e o farelo de soja.

O DDG (do inglês, distillers dried grain) é o sub-produto da produção de etanol de milho. Assimcomo a produção de álcool de cana-de-açúcarimplica na produção de grandes quantidades debagaço, na produção do etanol, cerca de um terçodo milho transforma-se neste “bagaço” (DDG,Figura 4). Empresas como a Cargill (dona damarca Purina) já estão utilizando o DDG em suasformulações.

Um importante alerta deve ser destacado: avelocidade do crescimento da oferta agrícola, res-trita às áreas disponíveis para plantio e inúmerosfatores ambientais, difere-se muito da velocida-de de crescimento da capacidade de produçãode etanol. Esta, por sua vez, não responde, ne-cessariamente, na mesma velocidade do cresci-mento da demanda. Em outras palavras, oferta edemanda caminham com ritmos diferente. Istoimplica em momentos de desequilíbrio, positivose negativos, entre oferta e demanda, causandoflutuações nos preços.

Conclui-se, de tudo que foi dito, que os custose formulações das rações deverão sofrer oscila-ções nos próximos meses, sendo que no longoprazo, milho e soja deverão estar relativamentemais caros, e os farelos protéicos relativamentemais baratos. Como vivemos no curto prazo (Key-nes já dizia que “no longo prazo, todos estaremosmortos”), fabricantes de ração e criadores de ca-valos devem ficar atentos ao mercado do etanole seus reflexos nos seus custos de produção.

Figura 4:DDG - destillersdried grain.

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