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  • ARTIGO

    DIABETES MELITO TIPO 2, HEMOGLOBINA GLICADA E EXERC~CIOS F~SICOS

    Lucieli Teresa Cambr;' Monique da Silva Gevaerd2

    RESLIMO O objetivo deste trabalho foi realizar uma reviso sobre diabetes

    melito tipo 2 e hemoglobina glicada, relacionando hemoglobina glicada e glicose plasmtica, complicaes associadas ao diabetes melito, bem como os efeitos dos exerccios fsicos nos nveis de hemoglobina glicada. Para a busca dos artigos foram consultadas as bases de dados PUBMED e LILACS, utilizando as palavras-chave do artigo e suas combinaes. A partir dessas relaes, acredita-se que, para evitar ou amenizar o desenvolvimento de complicaes devido ao inadequado controle metablico no diabtico, imprescindvel a adoo de um estilo de vida saudvel, com hbitos alimentares adequados e a prtica regular de exerccios. De maneira geral, as alteraes na hemoglobina glicada induzidas pelos exerccios ocorrem atravs da reduo da massa corporal e da gordura corporal, assim como de mudanas na distribuio desta gordura e no aumento da concentrao e translocao do GLUT-4, aliada a maior sensibilidade celular a insulina. Essas alteraes podem ser observadas em indivduos e animais diabticos, como efeito de exerccios aerbios elou exerccios resistidos com pesos. Apesar disso, percebe-se que algumas questes referentes a volume, intensidade e durao do programa de exerccio adequado ainda so contraditrias; assim, so necessrios mais estudos envolvendo hemoglobina glicada e as diferentes formas de exerccios isolados ou combinados com dieta. Palavras-chave: diabetes melito, exerccios resistidos com pesos,

    exerccios aerbios, hemoglobina glicada e complicaes diabticas.

    ' Especialista - Mestranda em Cincias do Movimento Humano - CEFID-UDESC. Bolsista CAPES. Doutora - Professora do PPG em Cincias do Movimento Humano - CEFID - UDESC.

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  • Atualmente, cerca de 12 milhes de brasileiros so diabticos. Entretanto. estima-se que apenas 7,8 milhes de indivduos tenham diagnstico confirmado. Conforme dados do Ministrio da Sade (2006), durante o ano de 2002, a taxa de mortalidade por diabetes rnelito (UM) no Brasil foi de 20,8%, representando mais de 36 mil indivduos falecidos especificamente por DM. Alm disso. verifica-se que o DM tem sido subnotificado como causa de bito, uma vez que os diabkticos normalmente morrem devido as complicaes crnicas da doena, sendo estas consideradas como causa (SARTORELLI; FRANCO, 2003). O DM, como diagnstico primrio de internao hospitalar, constitui a sexta causa mais frequente e contribui com 30 a 50% para outras causas, como cardiopatia isqumica, insuficincia cardaca, acidente vascular cerebral e hipertenso arterial. Os diabticos representam cerca de 30% dos pacientes internados em unidades coronarianas intensivas com dor precordial, sendo tambm a principal causa de amputaes de membros inferiores e de cegueira adquirida, alm de representarem cerca de 26% dos pacientes que ingressam em programas de dilise (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). Dessa forma, acredita-se que a adoo de medidas estratgicas para o controle do DM e para a preveno de possveis complicaes decorrentes deste possa reduzir os custos do seu tratamento, melhorar a qualidade de vida de seus portadores, bem como reduzir os indicadores de sade supramencionados (SILVA, 1996; DE MEL0 et al., 2003; SCHMID et al., 2003).

    Dentre os tipos de DM, destacam-se 1 e o 2. O DM tipo 2 abrange 85 a 90% do total de casos de DM (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). Ele apresenta forte influencia gentica (ALMEIDA, 1997; GROSS et al., 2002) e de fatores ambientais, dentre os quais destaca-se a obesidade, presente em 80 a 90% dos diabticos tipo 2. A obesidade, principalmente a visceral, tem sido identificada como o fator de risco mais importante para o DM tipo 2, tornando a perda de massa corpora! fundamental para o prognstico da doena (POLLOCK; WILMORE, 1993; DE MEL0 et ai., 2003; SARTORELLI; FRANCO, 2003). Nesse sentido, tem sido demonstrado que pequenas redues de massa corporal (5 a 10%) esto diretamente associadas expressiva melhora nos niveis pressricos e no controle metabolico,

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  • reduzindo a mortalidade relacionada ao DM (CORRA et al., 2003; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003).

    Apesar dos avanos cientficos e tecnolgicos, o DM ainda no tem cura. Todavia, o paciente diabtico pode viver muito e com qualidade, desde que siga um tratamento adequado, cujos objetivos bsicos so normalizar a glicemia e manter o controle metablico, o qual pode ser avaliado atravs da mensurao de hemoglobina glicada (Acl ), perfil glicmico e lipdico, bem como atravs da determinao do ndice de massa corporal e do percentual de gordura corporal (SILVA, 1996; SCHMID et al., 2003). O tratamento do DM pode ser realizado por meio de dieta alimentar, hipoglicemiantes orais elou insulina e da prtica regular de exerccios fsicos.

    Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma reviso sobre DM tipo 2 e A l c , relacionando A l c e glicose plasmtica, complicaes associadas a doena, e os efeitos dos exerccios fsicos nos nveis de A lc . A busca dos artigos foi realizada atravs das bases de dados PUBMED e LILACS, utilizando os seguintes termos: Diabetes Mellitus, Weight-Resisted Exercise, Aerobic Exercise, Glucosided Hemoglobin e Complications Diabetics. Foram selecionados os artigos entre os anos de 1993 e 2006, priorizando-se os trabalhos originais mais recentes. Em algumas situaes, utilizou-se a lista de referncias bibliogrficas desses artigos. A seleo inicial foi realizada a partir dos ttulos e resumos encontrados, sendo selecionados os artigos que atendiam ao objetivo do estudo.

    Hemoglobina Glicada

    A hemoglobina ama protena presente nos glbulos vermelhos, responsvel pelo transporte de oxigknio para todos os tecidos corporais Os glbulos vermelhos so livremente permeveis a molcula de giicose, expondo a hernoglobina praticamente as mesmas concentraes da glicose plasmtica (GROSS et al., 2002; GIP-Alc, 2003). Assini, a gliccse sangunea liga-se a hemoglobina atravs de uma reao irreversvel, no-enzimtica, denominada de processo de glicao, dando origem a hemoglobina glicada (Alc). A percentagem de A1 c depende da concentrao de glicose sangunea, da durao da exposio da hemoglobina a glicose e do tempo de meia-vida dos eritrcitos. Dessa forma, quanto maior a concentrao de glicose

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  • circulante e maior o perodo de contato entre a ylicose e a hemoglobina, maior ser a percentagem de A1 c.

    Considerando que os glbulos vermelhos se renovam a cada dois ou trs meses, a determinao da A l c reproduz exatamente os niveis de glicose durante esse perodo, incluindo glicemias de jejum e ps-prandial. Portanto, constitui um excelente parmetro para o controle glicmico de longo prazo (GIP-A1 c, 2003).

    Na prtica clnica e laboratorial, h outras terminologias empregadas para A1 c: hemoglobina glicosilada, hemoglobina glucosilada, glico-hemoglobina, HbAl c, A1 C, entre outras. Do ponto de vista qumico, o termo hemoglobina glicosilada deveria ser utilizado se a reao entre a glicose e a hemoglobina fosse dependente da ao enzimtica, enquanto o termo hemoglobina glicada refere-se ao processo de condensao entre a glicose e a protena, independentemente de ao enzimtica (GIP-A1 c, 2003).

    Hemoglobina Glicada e Nveis de Glicose Plasmtica

    As dosagens de A l c e a glicemia so extremamente importantes na avaliao do controle glicmico, porm fornecem informaes diferentes sobre os nveis de glicose sangunea. Os valores de A l c representam a glicemia mdia nos dois ou trs meses precedentes, e a glicemia revela o nvel de glicose sanguinea real no momento especfico em que o exame foi realizado (GIP-A1 c, 2003).

    Estudos tm estabelecido uma relao entre os nveis de cjlicose sangunea e A I c. Rohlfing et al. (2002), utilizando os dados do Diabetes Control and Complications Trial (DCCT), evidenciaram que um aumento de 2 mmol.1-' ou 35 mg.dl-l corresponde a um acrscimo de 1 % nos niveis de Alc. Essa relao (Tabela 1) foi estabelecida a partir da anlise de mais de 26 mil resultados de A I c de 1.439 pacientes, utilizando em mdia 18 valores de A l c para cada paciente e seus perfis glicmicos correspondentes (7 pontos de glicemia-antes das refeies, 90 minutos aps as refeies e antes de dormir). Foi demonstrado tambm que os niveis de A l c foram mais influenciados pela glicemia recente, em comparao com a de longa data. Assim, a glicemia dos 30 dias precedentes contribuiu com aproximadamente 50% do resultado final, ao mesmo tempo em que a glicemia dos ltimos 90-1 20 dias colabora somente com cerca de 10%.

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  • Em outro estudo, Bonora et al. (2001) avaliaram pacientes diabticos tipo 2 no usurios de insulina, sugerindo que a glicemia pr-prandial tem maior relao com os nveis de A lc , em comparao a glicemia ps-prandial. Com isso, o melhor controle da glicemia pr- prandial poderia reduzir os riscos de complicaes cardiovasculares. Os achados deste trabalho indicaram que a glicemia de jejum parece no ser um bom indicador dos nveis glicmicos ao longo do dia, da mesma forma que a A l c em relao aos niveis ps-prandiais. Os autores sugerem que o melhor procedimento seria a monitorao peridica da glicemia de jejum, da ps-prandial e dos nveis de A lc . Entretanto, de forma geral, na prtica clnica a determinao de A l c tem sido considerada o melhor parmetro de controle glicmico.

    Tabela 1 - Valores da glicemia mdia (estimada pelo perfil glicmico de sete pontos) e valores correspondentes de A I c

    Nivel de A l c (%) Glicemia mdk (rng.dl-') 4 65 5 1 O0 6 135 7* 170 8 205 9 240 10 275 11 31 O 12 345

    Meta para o tratamento de acordo com Associao Americana de Diabetes (2002). Fonte: adaptado de Rohlfing et al. (2002).

    Hemoglobina Glicada Associada as Complicaes Crnicas do Diabetes Melito Tipo 2

    Embora seja utilizada desde 1958 como uma ferramenta de diagnstico na avaliao do controle glicmico em diabticos, a dosagem da A l c passou a ser cada vez mais empregada e aceita pela comunidade cientfica aps 1993, depois de ter sido validada atravs dos estudos DCCT em 1993 e United Kingdomi Prospective Diabetes Study (UKPDS) em 1998, os quais so considerados os estirdos ciinicos mais importantes sobre a avaliao do impacto do controle giicrnico

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  • nas complicaes crnicas do DM (GIP-Alc, 2003; CAMARGO; GROSS, 2004).

    Apartir desses estudos, o nvel de A I c foi considerado um marcador bioqumico capaz de estimar a chance de ocorrncia e progresso da doena microvascular e da neuropatia. Conseqentemente, qualquer reduo dos nveis de A l c traduz-se em benefcios para o paciente diabtico, diminuindo o risco de desenvolvimento das complicaes decorrentes da doena (SILVA, 1996).

    Nesse sentido, foi verificado pelo UKPDS (1998) que, para cada decrscimo absoluto de 1 % na A I c, houve reduo da incidncia de complicaes microvasculares em 35%, de mortes relacionadas ao DM em 25% e de bitos em geral de 7%. Dessa forma, a homeostase da glicemia deve ser o objetivo do tratamento do DM, o qual avaliado atravs da mensurao da A I c (CAMARGO; GROSS, 2004).

    De acordo com o mtodo de referncia do DCCT (GIP-AI c, 2003; CAMARGO; GROSS, 2004), o limite mximo de normalidade da A l c para indivduos no-diabticos de 6%. Quando os diabticos mantm a A l c abaixo de 7%, passam a apresentar riscos de complicaes em ndices similares aos da populao em geral (GIP-Alc, 2003). A partir disso, a meta proposta, para esses pacientes, consiste na manuteno dos nveis de A l c abaixo de 796, visto ter sido evidenciado que as complicaes crnicas do DM comeam a se desenvolver quando os nveis de A I c situam-se permanentemente acima de 7%. Por isso, acima desse percentual indica-se a reviso da teraputica em vigor. Vale salientar que os nveis de A l c no so influenciados por sexo, raa, variao sazonal ou pelo transcurso de doenas agudas (GIP-Alc, 2003).

    Exerccio Fsico e Diabetes Tipo 2

    Os exerccios fsicos, quando prescritos de forma adequada. melhoram a aptido fsica, previnem e auxiliam no tratamento de diversas doenas e suas complicaes. Para Nahas (2001), nenhuin outro estmulo atua direta ou indiretamente em diversos rgos e sistemas, como o muscular, sseo, endcrino e o cardiovascular. Assim, observa-se que os exerccios regulares podem modificar em inmeros aspectos os sistemas estruturais e funcionais do organismo.

  • No DM, os benefcios decorrentes da prtica regular de exerccios so inmeros, podendo ser agudos ou crnicos. De maneira geral, auxiliam no controle metablico e na reduo dos fatores de risco de desenvolvimento da doena cardiovascular, os quais so consideravelmente aumentados nessa populao, alm de melhorar a qualidade de vida do portador de DM (KRISKA, 2000; DMASO, 2001 ; MERCURI; ARRECHEA, 2001 ).

    O principal efeito consiste na reduo da glicemia, em funo do aumento do consumo de glicose pelo organismo. Esse efeito pode ser observado durante e aps a prtica de exerccio, podendo perdurar por longo perodo, melhorando o controle glicmico tanto aguda quanto cronicamente. Alm disso, auxilia na reduo da massa corporal, do percentual de gordura corporal e dos nveis de colesterol e triglicerdeos, aumentando a sensibilidade do organismo a insulina (ALMEIDA, 1997; KRISKA, 2000; ROHLFING, 2002). Contribui, ainda, na melhora do condicionamento cardiorrespiratrio, no aumento da massa muscular e na reduo da perda de massa ssea (ALMEIDA, 1997; DMASO, 200 1 ).

    Uma possvel explicao para a reduo da glicemia, durante a prtica de exerccios, consiste no aumento da permeabilidade da fibra muscular a glicose, mesmo na ausncia de insulina, em virtude do processo de contrao (DUNSTAN et al., 1998; GUYTON; HALL, 1998; MERCURI; ARRECHEA, 2001; COLBERG, 2003). Assim, o exerccio fsico regular aumenta a captao e o metabolismo da glicose pelo msculo, assim como incrementa a sntese de transportadores de glicose (GLUT-4).

    Diversos hormnios regulam a expresso do GLUT-4, sendo que a insulina e os hormnios da tireide aumentam o contedo deste. Contudo, diirante a contrao muscular, a expresso do GLUT-4 independente da regulao hormonal. Assim, ele favorece a captao de glicose pelo msculo tanto em repouso, devido a ao da insulina, quanto durante a contrao muscular (PEIRCE, 1999: DMASO, 2001 ; DOHM, 2002). Aps o trmino do exerccio, a ressintese de glicognio muscular e heptico resulta do incremento na translocao do GLUT- 4, independentemente da ao da insulina. Entretanto, depois de determinado perodo, a insulina necessria para potencializar esse processo. Nesse caso, a deficincia elou a resistncia de insulina prejudicam a sntese de glicognio (PEIRCE, 1999).

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  • 3 i::sulina dzve-se as a u m e ~ t o direto de GLU-T-4. podendo reduzir as quan!ida:jes de ;!iooglicerniantes orais eloti de insu!ina.

    As reduces de massa corporal e de percentual de gordura corporal, i~dependentemente de ocorrer-em atravs da dieta ou do exercicio, tambm estao assocradas a reduo dos nveis sanguneos de colesterol e triglicerdeos (NAHAS, 2001). Miller et al. (apud Francischi, 2001) concluem em sua meta-anlise que, em sujeitos obesos submetidos a um programa de dieta isolada ou aliada a exerccios durante 15 semanas, a manuteno de massa corporal perdida aps um ano do final do tratamento foi maior naqueles que realizaram exerccios. Dessa forma. a adesao a um programa de exercicio parece ser fundamental gara promoo da perda de massa corporal e. consequenterriente, melhora do perfil lipdico, exercendo efeito satisfatrio na redu30 de fatores de risco para cornplicaes cardiovascc;lare.

    Como mericionado previamente, oiutro benefcio decorrente da prtica de exerccios consiste na melhora do condicionamento cardior:espiratorio (ALMEIDA. 1997). Num es:udo prospectivo com 8.633 homens entre 30 e 79 anos, no qual foi avaliada a relao entre aptido cardiorrespiratria e glicemia de jejum com o 3eser;volvimento do DM tipo 2, observou-se que irxiividuos com baixa capacidade cardiorrespirat6ria apreseritaran: r isco aumentado para o desenvolvimento da doeria, do mesmo modo que a idade, o aito ndice de nassa corporal, a presso arterial e os triglicerdeos elevados associaram-se diretamente ao desenvolvimento do DM. No entanto, o ri;ilel de aptido fisica apresentou un? efeito indeperidente dessas ,,. 7T. . . Aveis menci~nadas (WEI et ai., 1999)

    For outro lado, o DM tarribm afeta a salde emocional do pacierite. De zccrdo com Oliveira e Casal (20@1), a consec;uencia da doena tio ect2dG emc7cional est relacionada com as lesoes vascuiares, que podero surgir em longo prazo, tornando-o insatisfeito corr? siia i!nagem corporal. Igualrneiite, a baixa a~to-estima, geralmente observada em pacientes diabticos, esta diretamente associada com a insegurana E a depresso. Moreira et al. (2003) correlacionam a depresso no diabtico com a aceitao da doena e com a incapacidade em lidar com as diversas alteraes impostas por ela em alguns aspectos do cotidia:-)v A partir disso, Oliveira e Casal (2001 ) argumentam que o indivduo diabtico deve aceitar a si mesmo, ass~ in i i ndo a responsabi l idade do prpr io t ratamento e ,

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  • ou desconforto torcico, nuseas ou sensao de desmaio, deve parar o exerccio imediatamente (FRAIGE, 2001 ).

    Dentre os cuidados para prevenir a hipoglicemia, destacam-se: o monitoramento frequente da glicemia; o aumento na ingesto de carboidratos antes e aps a realizao dos exerccios e, quando possvel, exercitar-se com um companheiro (POLLOCK; WILMORE, 1993; BENETTI, 1996; ACSM, 2000; COLBERG, 2003). Alm disso, importante manter uma hidratao adequada antes, durante e aps o exerccio, pois qualquer alterao nos nveis glicmicos pode causar poliria e aumentar o risco de desidratao (COLBERG, 2003).

    Os diabticos com excesso de massa corporal devem evitar a pratica de exercicios em que tenham que suportar o prprio peso, visando minimizar os riscos de leses ortopdicas e irritaes nos ps. Outro cuidado necessrio o uso de calados adequados e confortveis (PEIRCE, 1999; ACSM, 2000). Da mesma forma, os portadores de retinopatia devem evitar exerccios vigorosos, especialmente contraes isomtricas, as quais causam aumento na presso arterial e nos riscos de hemorragia ocular (PEIRCE, 1999).

    Exerccio Aerbio e Hernoglobina Glicada

    Considerando os benefcios decorrentes da prtica regular de exerccios referentes a reduo da glicemia, vrios estudos (NUNES, 1996; SILVA; LIMA, 2002; MAIORANA et al., 2002) tambm tm evidenciado a influncia dos exerccios aerbios sobre os nveis de Alc. Conforme j descrito, existe estreita relao entre os nveis de glicose sangunea e os de ~ l c , enfatizando a importncia da determinao da A1 c como uma ferramenta de avaliao do controle glicmico em diabticos.

    Em trabalhos envolvendo exerccios predominantemente aerbios, Nunes (1996) avaliou policiais obesos (12 sem distrbios metablicos, 7 com intolerncia a glicose e 5 com DM tipo 2), os quais realizaram exerccio aerbio durante 16 semanas (5 vezes por semana), 60 minldia e intensidade entre 60 e 8596, aliado a dieta alimentar. Os resultados demonstraram redues significativas nos nveis de A l c entre pr e ps-teste nos trs grupos, ao contrrio da massa corporal, que, embora tenha reduzido, no apresentou diferenas significativas.

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  • Silva e Lima (2002), em seus estudos com 33 indivduos diabticos sedentrios, constataram reduo significativa no ndice de massa corporal, na glicemia de jejum, na glicemia capilar e na A lc , aps 10 semanas de tratamento, com quatro sesses semanais (60 min), de exerccios predominantemente aerbios e intensidade leve a moderada (50 a 80% da FCmx). A A l c reduziu significativamente tanto nos indivduos tratados quanto nos no tratados com insulina. O efeito agudo foi observado por Passos et al. (2002), que, ao avaliarem dois sujeitos diabticos tipo 2 que realizaram atividades aerbias durante 20 sesses, verificaram diminuio da glicemia capilar em todas as sesses, assim como reduo significativa no ndice de massa corporal aps o programa de exerccios. Um dos sujeitos realizou exerccios em esteira rolante, com intensidade entre 70 e 80% da FCmx durante 60 min, e o outro em bicicleta ergomtrica, com intensidade entre 50 e 60% da Fcmx, durante 45 min.

    Em estudo realizado por Maiorana et al. (2002), foram combinados exerccios aerobios e exerccios resistidos com pesos em sujeitos com DM tipo 2 durante oito semanas, o que reduziu significativamente a A1 c e a glicemia de jejum. O programa consistia de trs sesses semanais, realizadas em forma de circuito, intercalando exerccios resistidos com pesos, ciclo ergmetro e esteira rolante. Segundo esses autores, ambos os exerccios apresentaram efeito benfico no tratamento do DM tipo 2, atravs de mecanismos diferentes. Santarm (2003) acredita que os exerccios resistidos com pesos apresentem melhores benefcios em longo prazo, devido ao aumento da massa muscular e, conseqentemente, da quantidade de tecido capaz de captar glicose, mesmo em repouso, auxiliando na manuteno de um controle glicmico adequado.

    Exerccios Resistidos com Pesos e Hemoglobina Glicada

    Exerccios resistidos com pesos so recomendados para promover o equilbrio, a fora muscular e a densidade mineral ssea em inmeras populaes (FLECK; KRAEMER, 1999). Igualmente, tm sido indicados para auxiliar no controle metablico no DM, uma vez que alguns estudos tm apresentado resultados relevantes, evidenciando alteraoes favorveis nos nveis de A1 c (CASTANEDA et al., 2002; DUNSTAN et al., 2002), ao mesmo tempo em que outros no

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  • encontram efeito algum sobre esta varivel (DUNSTAN et al., 1998; ISHII et al., 1998; CAMBRI, 2004; HOLTEIV et al., 2004). Essas contradies geralmente ocorrem devido as diferenas na intensidade dos exerccios fsicos, na durao da sesso e no perodo de treinamento, ou nos nveis de A l c iniciais, pois, em casos nos quais o controle metablico est adequado, normalmente h dificuldade de observar efeitos do treinamento nesta varivel.

    Ishii et al. (1998) avaliaram o efeito de 4-6 semanas de um programa de exerccios resistidos com pesos em diabticos tipo 2, sedentrios e no-obesos, com oito sujeitos constituindo o grupo controle e nove o grupo treinamento. O programa foi realizado cinco vezes por semana, com duas sries de nove exerccios a 40-50% de uma repetio mxima (RM), sendo 10 repeties para os membros superiores e 20 para os inferiores. Embora os valores de A I c tenham diminudo no grupo treinado, essa alterao no foi estatisticamente significativa. Resultados similares foram encontrados no estudo de Dunstan et al. (1998), no qual diabticos tipo 2 sedentrios foram submetidos a um programa de exerccios (trs sesses semanais) durante oito semanas. Os sujeitos foram divididos em grupo controle e treinamento (exerccios resistidos com pesos). Este ltimo realizou 2- 3 sries de 10-1 5 repeties em 10 exerccios, entre 50 e 55% de 1 RM. A reduo nos nveis de A l c tambm no apresentou significncia estatstica.

    Holten et al. (2004) avaliaram diabticos tipo 2 sedentrios e individuos sem diabetes (grupo controle), com idade mdia de 66 anos, submetidos a seis semanas de exerccios resistidos com pesos (trs sesses semanais), os quais realizaram trs exerccios com trs sries de 10-12 repeties a 50% de 1 RM durante as trs primeiras semanas e entre 70 e 80% de 1 RM nas demais semanas. A A l c nao apresentou alteraes expressivas, ao contrrio do contedo de GLUT-4, que aumentou significativamente. O mesmo resultado foi observado por Cambri (2004), que, apesar de um periodo de treinamento superior ( I 2 semanas) e mesma freqncia semanal, nao encontrou diferenas na Alcao estudar oito diabticos tipo 2, sedentrios e obesos, com idades entre 47 e 58 anos. No entanto, a mdia da glicemia capilar reduziu significativamente entre pr e ps-sesso de exerccios. Com isso, foi proposto que as redues observadas na glicemia capilar ps-exerccio no foram suficientes para propiciar um efeito crnico, verificado por meio da reduo dos valores de A1 c.

  • Ao contrrio, Castaneda et al. (2002) constataram redues significativas na A1 c, com concomitante aumento da massa muscular, quando submeteram diabticos tipo 2 sedentrios, com idade mdia de 66 anos, a 16 semanas (trs sesses semanais) de exerccios resistidos com pesos. O treinamento foi composto por cinco exerccios com trs sries de oito repeties entre 60 e 80% de 1 RM durante as oito primeiras semanas e entre 70 e 80% de 1RM nas semanas subseqentes. Da mesma forma, Dunstan et al. (2002) realizaram um estudo mais prolongado com diabticos tipo 2 sedentrios, entre 60 e 80 anos, durante 24 semanas (trs sesses semanais) de exerccios. O treinamento consistia de nove exerccios entre 50-60% de 1 RM durante as duas primeiras semanas; no restante, a intensidade ficou entre 75 e 85% de 1 RM, sendo realizadas trs sries de 8-1 0 repeties. Nessas condies, os nveis de A I c reduziram significativamente: em torno de 7,4% e 14,8% ao final das 12 e das 24 semanas, respectivamente. O grupo controle, que realizou exerccios de flexibilidade, no apresentou alteraes significativas em nenhuma das situaes.

    Com base nos dados supracitados, verifica-se que talvez uma freqncia semanal superior a trs dias ou um perodo maior que 12 semanas sejam necessrios para ocasionar efeitos favorveis na A I c. Portanto, ficam ainda algumas dvidas quanto a durao total do estudo, a freqncia semanal e ao volume de cada sesso de exerccios resistidos com pesos, adequados para causar redues no % A I c.

    CONSIDERAES FINAIS Diante do exposto, sugere-se que para o controle metablico no

    DM, bem como para preveno de suas complicaes, imprescindvel a adoo de um estilo de vida saudvel, atravs de hbitos alimentares adequados e da prtica regular de exerccios, aliados ao tratamento farmacolgico. Recomenda-se tambm a realizao de exames laboratoriais peridicos, principalmente a determinao de A I c.

    De modo geral, as modificaes na A l c induzidas pelos exerccios ocorrem atravs da reduo da massa e da gordura corporal, bem como de mudanas na distribuio desta gordura e no aumento da concentrao e translocao do GLUT-4, aliadas a melhora na

    60 R. Min. Educ. Fs.. Viosa, v. 14.11.2. p. 37-67.2006

  • WEl, bA . GiBBClhS. L. 'JV; FJI~TC~~ELL, T. L.; KAMPERT, J. S.; LEE. C, h . FJLAIK, S. N. 'Ti-ie association between cardiorespiratory fitness and irnpa;red fasting giucose aid type 2 diabetes mellitus in men. Annals sf Internai Medicine, Phiiadeiphia, v. 130, n. 2, p.89-96, 1999.

    Laboratrio ae Analises ~~?uitisetorial, Universidade do Estado de Santa Catarina, Rua Pasoai Simone n' 351, Florianpolis. SC. Cep: 88080- 350 Forie: (48) 3244 2324 ramal 241

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