Almeida Garrett
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Joo Baptista da Silva Leito de Almeida Garrett e mais tarde 1. Visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de
fevereiro de 1799 Lisboa, 9 de dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romntico, orador, par do
reino, ministro e secretrio de estado honorrio portugus.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo portugus, foi ele
quem props a edificao do Teatro Nacional de D. Maria II e a criao do Conservatrio de Arte Dramtica.
Introduo
"Vivemos num sculo democrtico. Tudo o que se fizer h-de ser com o povo e pelo povo
ou no se faz"
A frase, da autoria do prprio Garrett, consta na pea Frei Lus de Sousa e descreve bem o pensamento
poltico-ideolgico do autor.
Os sentimentos nacionalistas e a celebrao do Povo como entidade formadora da nacionalidade so
"gostos da poca, tpicos do romantismo e surgem como reao da intelectualidade europeia poltica
hegemnica e aglutinadora de Napoleo", segundo palavras da estudiosa Maria de Ftima Marinho.
Como liberal e romntico, Almeida Garrett tambm procurou no Povo as razes da identidade nacional e a
sua obra espelha o compromisso que assumiu com os valores, as tradies e a Histria do pas.
O gosto do escritor pelo popular evidenciou-se sobretudo na recolha que fez dos contos e tradies
populares, reunidos em poesia no Romanceiro. Um trabalho muito prximo da etnografia e de que Garrett
foi pioneiro em Portugal.
No entanto, o Povo de Garrett, como faz questo de evidenciar, " um povo idealizado, inspirado nos
valores do romantismo, que no so genuinamente os valores do povo real, ignorante e faminto".
Todavia Garrett foi, sobretudo, um idelogo da burguesia liberal e os livros que escreveu demonstram o
seu empenho na reforma poltico-social e cultural da sociedade portuguesa.
Romantismo O Romantismo um movimento cultural que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da Amrica a
partir da segunda metade do sculo XVIII.
Romantismo deriva de "romance" (histria de aventuras medievais), o qual teve uma grande divulgao
no final dos anos setecentos, respondendo ao crescente interesse pelo passado gtico e pela nostalgia da
Idade Mdia. Muito variada nas suas manifestaes, esta corrente sustentava-se filosoficamente em trs
pilares: o individualismo, o subjetivismo e a intensidade.
O Romantismo portugus tem de ser enquadrado no cenrio das guerras liberais . Forma-se luz dos
princpios da liberdade, igualdade e fraternidade. , pois, investido de uma dimenso idealista. Deve
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ainda referir-se que os nossos primeiros grandes romnticos foram exilados polticos e contactaram, na
Europa, com outros escritores j empenhados na difuso das normas da nova esttica.
Costuma datar-se o incio do Romantismo em 1825 com a publicao, em Paris, do poema Cames de
Almeida Garrett. Todavia, esta obra no teve sequncia imediata e mais correto dat-lo em 1836, ano
de publicao de A Voz do Profeta de Herculano. Este tambm o ano em que Passos Manuel, chefe do
governo Setembrista, abre caminho reforma do teatro portugus por Garrett.
O Romantismo completamente o oposto da corrente anterior o Classicismo. Representa, na
literatura e na arte em geral, os anseios da classe burguesa que, na poca, estava em ascenso. A
literatura, portanto, abandona a aristocracia para caminhar ao lado do povo, da cultura leiga. Por esse
motivo, acaba por ser uma oposio ao Classicismo. Ao Romantismo cabe a tarefa de criar uma
linguagem nova, uma nova viso do mundo, identificada com os padres simples de vida da classe
mdia e da burguesia.
A arte romntica inicia uma nova e importante etapa na literatura, voltada para os assuntos do seu tempo
revolues sociais e polticas, esperana e paixo, luta e rebeldia e o quotidiano do homem
burgus do sculo XIX; retrata uma nova atitude do homem perante si mesmo. O interesse dessa nova
arte est voltado para a espontaneidade, os sentimentos e a simplicidade sendo, assim, subjetiva e
opondo- -se, desse modo, arte clssica que cultivava a razo, isto , a realidade objetiva.
poca Poltica em Portugal Liberalismo em Portugal
O liberalismo comeou a ganhar terreno em Portugal quando o regime absolutista do antigo regime
entrou em crise. Esta crise prendia-se com a manuteno da preponderncia social da nobreza; o
exacerbado protagonismo da colnia brasileira relativamente metrpole; e o carcter "sagrado" da
realeza portuguesa.
A descrena neste regime poltico passava tambm pela propagao na Europa da ideologia
revolucionria francesa, desde o final do sculo XVIII; as consequncias das Invases Francesas (1807-
1810); a perda progressiva do Brasil (1808-1822); a dbil estrutura econmica; os resultados das guerras
peninsulares que reafirmaram o poderio ingls; e o conservadorismo da decadente estrutura social
portuguesa.
A primeira experincia liberal portuguesa, atribulada e pouco homognea, encontrava- -se apartada do
contexto europeu. Este distanciamento no s tinha a ver com a sua situao geogrfica, mas sobretudo
com o seu atraso ao nvel mental, social e econmico.
Estes fatores atrasaram a adoo da nova ideologia, introduzida inicialmente nos meios burgueses as
grandes cidades, onde este novo iderio poltico colhia mais adeptos.
Os principais promotores desta revoluo liberal burguesa foram Manuel Fernandes de Toms, Jos da
Silva Carvalho e Jos de Ferreira Borges, os homens que tiveram um papel preponderante na evoluo
poltica de Portugal.
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O primeiro flego liberal est intimamente ligado a um movimento intelectual associado ao pensamento
iluminista da poca das Luzes; com a maonaria, uma sociedade secreta, que veiculava algumas correntes
iluministas nas grandes cidades abertas ao exterior; e com uma nova mentalidade pr-romntica, que
nascia nos meios burgueses.
Os militares portugueses encontravam-se numa situao difcil de gerir, pois estavam fortemente
envolvidos em atividades revolucionrias ou contrarrevolucionrias. A eles se deve a proclamao da
extino do regime absolutista, no Porto, a 24 de Agosto de 1820, pela guarnio militar da cidade. Como
motivao prxima desta revolta temos a reao ao domnio britnico, que se fez sentir depois da
expulso dos exrcitos franceses (1810); como motivao de fundo, aponta-se a tentativa de
reestruturao socioeconmica da nao num novo quadro poltico.
No "Relatrio acerca do Estado Pblico de Portugal" da autoria de Fernandes Toms, lido perante as
Cortes Constituintes, reunidas pela primeira vez, em 1821, esto implicitamente enunciados os principais
pontos do projeto liberal.
A situao da agricultura nacional era, segundo os liberais, calamitosa, sintetizada por um grande dfice
cerealfero; s o vinho, exportado largamente para a Europa e Brasil, se evidenciava como um produto
rentvel. Os forais eram considerados uma fonte de problemas e a supresso das ordens religiosas que se
viria a registar em 1834 uma necessidade. O comrcio vivera melhores dias com D. Maria, mas agora
debatia-se com a falta de aproveitamento das vias fluviais, estava preso pelas taxas e municipais, que
afetavam a livre circulao. A soluo desta crise comercial j no passava pela aposta no Brasil; a nova
esperana de renovao comercial repousava na aposta africana de S da Bandeira (1836) e na
implementao de um programa de desenvolvimento dos transportes internos de Costa Cabral (1842-
1846) e dos caminhos-de-ferro de Fontes Pereira de Melo, a partir de 1853.
As fbricas eram outro dos problemas a resolver. Este assunto foi debatido nas cortes; a questo do
maquinismo e das manufaturas s viria, no entanto, a ser aprofundada durante o Setembrismo (1836).
Quanto ao tesouro, este encontrava-se esgotado.
A Constituio de 1822 e as que se seguiram contm os mais importantes princpios liberais: o direito
propriedade individual, onde assentam as liberdades individuais do cidado; e o reconhecimento da nao
portuguesa, considerada o conjunto dos portugueses "de ambos os hemisfrios", isto , numa aluso
colonialista, primeiro o Brasil e depois o sonho africano, presente, como se disse, a partir de 1836.
A experincia liberal portuguesa, depois da legislao de Mouzinho da Silveira e da vitria liberal na
guerra de 1832-1834, traduziu-se na transferncia da propriedade, pertencente anteriormente s ordens
religiosas, para uma nova burguesia ligada s atividades financeiras e sedenta de ascenso nobre. A
pequena burguesia, interessada nas atividades industrial e artesanal, cedo se desiludiu com o advento do
liberalismo; o povo no teve direito a muitas liberdades; ao longo do sculo XIX continuava a sua saga de
emigrao para o Brasil, procurando na ex-colnia a oportunidade de uma vida melhor.
No sculo XIX, no seio da burguesia intelectual, surgiu uma mentalidade romntica de valores liberais.
Esta mentalidade est bem patente nas Cortes Gerais e nas obras literrias o Retrato de Vnus (1821) e
Cato (1821) do multifacetado Almeida Garrett. Na pintura e na msica esta mentalidade faz-se sentir na
Alegoria do artista Antnio Domingos Sequeira e nos hinos (Gratido) e missas do msico Joo
Domingos Bomtempo. Alexandre Herculano, o romancista e historiador, e Almeida Garrett, o jornalista,
dramaturgo e poltico, so as figuras mais destacadas no panorama romntico nacional, exercendo uma
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forte influncia na cultura oitocentista portuguesa, neste contexto liberal, oferecendo-nos duas perspetivas
muito distintas, mas ambas decisivas, fundamentadas em diferentes experincias vivenciais.
Guerra Civil em Portugal (1832-1834)
Aps a revolta de 1820, que implantou o liberalismo em Portugal, o pas ir conhecer um longo perodo
de instabilidade poltica, ditado pela oposio entre as faces liberais e as absolutistas e conservadoras.
A monarquia constitucional teve dificuldades em se implantar, em parte devido s mentalidades
enraizadas, que se opunham vivamente s mudanas jurdicas necessrias instituio de uma nova
ordem social, poltica e econmica. Apesar de se verificarem mudanas nas posies sociais, a
mentalidade continuava presa aos antigos moldes. Mesmo enfraquecida, a nobreza era regenerada a partir
do exterior, atravs dos burgueses recm-titulados que perpetuavam a velha ordem. As camadas
populares, em particular as rurais, em nome das quais havia sido feita a revoluo, continuavam
empobrecidas e fracas, conformadas com o seu destino. Este estado de coisas ajuda a esclarecer o tipo de
reaes s medidas impostas pela legislao liberal, como a obrigatoriedade dos enterramentos em
cemitrios ou a abolio dos dzimos, e tambm o eco que o iderio absolutista monrquico tinha numa
grande parte da populao portuguesa.
Assim se explica o golpe de D. Miguel, em 1823 (Vila-Francada), reprimido de forma pouco decidida por
D. Joo VI (1767-1826). Tal facto levou a uma nova conspirao em Abril de 1824 (Abrilada), em que o
prncipe D. Miguel, apoiado na rainha D. Carlota Joaquina, sua me, pretendeu restaurar a monarquia
absolutista. O golpe terminou com o exlio do prncipe, mas as sementes da discrdia estavam lanadas.
A atitude pouco enrgica do rei, por um lado, e as contradies polticas e sociais do liberalismo, por
outro, deixam espao para dvidas que vo resultar numa guerra civil aps a morte do monarca, em 1826.
D. Miguel, regressado do exlio, decide assumir o poder em nome de D. Maria da Glria (futura D. Maria
II), filha de D. Pedro IV, chegando ao pas em 1828, sendo entusiasticamente recebido pela populao.
Poucos meses depois faz-se proclamar rei absoluto, desrespeitando o que havia prometido ao imperador
brasileiro.
A guerra civil iniciou-se em Julho de 1832, com o desembarque das tropas liberais de D. Pedro IV no
Mindelo, s quais se juntaram muitos liberais, que conspiravam no pas e no estrangeiro. Aps dois anos
de lutas intensas, em que as tropas miguelistas revelam as suas fraquezas, a guerra civil termina no
Alentejo com a assinatura da Conveno de vora Monte (26/5/1834). D. Miguel foi afastado de cena
mas o seu fantasma permanecer atravs dos partidrios do absolutismo e da velha ordem.
O liberalismo portugus no conseguia vencer as suas prprias contradies internas Auto gerando crises
polticas, como a de Setembro de 1836 (pelos Setembristas, liberais radicais de esquerda), que voltou a
adotar a Constituio de 1822. O texto constitucional que a veio substituir, jurado em 1838, avanava na
direo de um maior liberalismo, pondo de lado o poder da realeza e alargando o direito de voto a um
maior nmero de pessoas. Contudo, o Partido Setembrista acabou por se diluir nas foras moderadas,
levando a que em 1848 Costa Cabral restaurasse a Carta Constitucional. Apenas os mais extremistas
levantaram a voz contra este processo, como foi o caso do conde de Bonfim, lder da revolta militar de
Torres Novas, em 1844, que falha por falta de apoio militar e popular, mas que sintomtica do estado da
nao.
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A tenso recrudesce com o autoritarismo da poltica cabralista, com a ao intervencionista do Estado,
ainda que num sentido moderno. Leis como a da sade pblica, de 18 de Setembro de 1844, do origem a
uma srie de revoltas populares que ficaram conhecidas por Revolta da Maria da Fonte (1846). Na sua
origem est a obrigatoriedade de enterrar dentro dos cemitrios, bem como o pagamento de taxas pelos
servios prestados, que levaram ao levantamento da populao de Fonte Arcada, na Pvoa de Lanhoso,
que se sentia atingida nas suas mais profundas crenas religiosas. Perturbados por uma conjuntura de
crise de subsistncia, provocada por maus anos agrcolas, pelo aumento dos preos dos cereais e pela
baixa dos salrios, os populares da Regio Norte do pas, aos quais se juntaram membros do clero,
revoltaram-se de forma tumultuosa, pilhando e queimando as reparties sua passagem, atitude
compreensiva tendo em conta que ainda vigoravam os direitos senhoriais e que as novas leis punham em
causa os direitos comunitrios. A interveno das tropas levou organizao do movimento popular em
juntas, politicamente aproveitadas pelas foras setembristas, cartistas e miguelistas. O governo de Costa
Cabral acabou por se demitir e a lei da sade pblica revogada.
No entanto, a instabilidade dos novos governos no apaziguou os nimos dos revoltosos, em particular os
miguelistas. A Emboscada, nome dado ao golpe da rainha D. Maria II, que, orquestrada por Costa Cabral,
no exlio, assume o poder nas suas mos revogando a lei eleitoral, exaltando ainda mais os nimos, levou
a que a junta do Porto se revoltasse. Esta junta era liderada por Passos Manuel e apoiava-se na Guarda
Nacional, na Infantaria 6 e na Artilharia 3. Outras juntas seguiram o seu caminho, eclodindo uma nova
guerra civil conhecida por Patuleia. Durante seis meses foram travados duros combates por todo o pas,
terminados apenas com a interveno de tropas inglesas, no mbito da Qudrupla Aliana, que do a
vitria rainha. A Conveno de Gramido (30 de Junho de 1847) marca o fim da guerra e, aps algumas
hesitaes, marca o advento de uma nova era para o liberalismo portugus, com a subida ao poder do
Duque de Saldanha, que prope uma poltica de regenerao para o pas.
Vida de Almeida Garrett Joo Baptista da Silva Leito, a que s depois acresceram os apelidos com que se notabilizou (Almeida
Garrett), nasce a 4 de Fevereiro de 1799 numa casa da velha zona ribeirinha do Porto, no longe da
alfndega onde o pai possua o cargo de selador-mor.
A 10 de Fevereiro batizado na igreja de St Ildefonso. Filho segundo, entre cinco irmos, de Antnio
Bernardo da Silva e de Ana Augusta de Almeida Leito, famlia burguesa ligada atividade comercial
e proprietria de terras na regio portuense e nas ilhas aorianas.
Infncia repartida pela Quinta do Castelo, para onde a famlia se transferiu, e a do Sardo, ambas ao sul
do Douro, no concelho de Gaia. Ao legado de velhas histrias e lendas populares das criadas Brgida e
Rosa de Lima junta-se o preceptorado do tio paterno, bispo de Malaca, Frei Alexandre da Sagrada
Famlia, e do materno tio Joo Carlos Leito, formado em cnones e depois juiz de fora no Faial.
Em 1809 parte com a famlia para os Aores, antes que as tropas de Soult entrassem no Porto. Passa a
adolescncia na ilha Terceira, destinado carreira eclesistica, entre a escola rgia do padre Joo
Antnio e as aulas do erudito Joaquim Alves a que a aprendizagem no seio familiar dava sequncia.
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Chegou a tomar ordens menores com que, por intercedncia do tio Alexandre, ento bispo de Angra,
deveria ingressar na ordem de Cristo. No entanto, desde cedo recusou prosseguir.
Em 1821 vai para Coimbra e matricula-se no curso de Direito. Ao contacto com os escritores das
Luzes acresceu a leitura dos primeiros romnticos, enquanto transformava em ardor revolucionrio a
rpida adeso s ideias liberais. A vivncia acadmica seria determinante na sua iniciao poltica e
filosfica. Ainda estudante, participa no movimento conspirativo que conduziria revoluo de 1820.
Paralelamente despontava, irreverente, a vocao literria: no ano seguinte surgia o seu primeiro livro, O
Retrato de Vnus, um ousado poema que lhe mereceu um processo em tribunal.
Em 1823, aps a subida ao poder dos absolutistas, obrigado a exilar-se em Inglaterra onde inicia o
estudo do romantismo, movimento artstico-literrio ento j dominante na Europa.
Regressa em 1826 e passa a participar na vida poltica aplicando-se em trabalhos polticos que fixaram
as bases de doutrinao liberal por que ir pautar toda a sua posterior carreira de homem pblico.
No perodo conturbado que se seguiu, o trajeto pessoal do escritor (j casado com uma menina elegante,
Lusa Midosi) entrelaa-se com a histria poltica do Liberalismo. A revoluo foi um breve momento de
entusiasmo liberal, logo desfeito pela chegada ao poder da fao conservadora, que apoiava o Infante D.
Miguel.
No entanto em 1828 obrigado a exilar-se novamente depois da contrarrevoluo de D. Miguel. No
entanto, o escritor encontra na circunstncia penosa do exlio uma oportunidade intelectualmente
vantajosa. A permanncia em Frana e Inglaterra permitiu-lhe conhecer o movimento cultural europeu, na
sua dimenso artstica e ideolgica. A publicao (ainda em Paris) dos poemas Cames e Dona Branca
os primeiros textos romnticos portugueses constitui o resultado mais simblico e expressivo dessa
experincia. Seguiu-se a guerra civil, perodo em que ao novo rumo do gosto literrio junta a pedagogia
liberal de uma legalidade constitucional e de uma prtica das liberdades, colaborando diretamente nos
primeiros monumentos legislativos do liberalismo e iniciando-se na carreira diplomtica.
Em 1832, na Ilha Terceira, incorpora-se no exrcito liberal de D. Pedro IV e participa no cerco do
Porto. Exerceu funes diplomticas em Londres, em Paris e em Bruxelas. Aps a Revoluo de
Setembro (1836) foi Inspetor-geral dos Teatros e fundou o Conservatrio de Arte Dramtica e o
Teatro Nacional.
Durante os anos 40, sob o regime autoritrio de Costa Cabral, Garrett destaca-se na oposio; no entanto,
o entusiasmo e o fervor militante vo-se exaurindo, perante a instabilidade poltica, o materialismo
triunfante e o prprio desvirtuamento do ideal liberal. Descontente com o devir da revoluo, afasta-se da
vida pblica em 1847. Desse desencanto patritico do significativo testemunho algumas obras
publicadas neste perodo, o mais fecundo da criao literria garrettiana (O Alfageme de Santarm, Frei
Lus de Sousa, Viagens na Minha Terra e O Arco de SantAna, por exemplo).
Em 1851 regressa ao Parlamento, j sob a acalmia poltica da Regenerao. Recebe nesta derradeira fase
da vida alguns gestos oficiais de consagrao: feito visconde, em 1851 e nomeado Par do Reino, no ano
seguinte; chega ainda a ocupar um cargo ministerial (Negcios Estrangeiros), de que seria demitido
pouco tempo depois.
Ir falecer a 9 de Dezembro de 1854, vtima de cancro, em Lisboa, na sua casa situada na atual Rua
Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, depois de uma vida sentimental romanticamente atribulada:
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um casamento juvenil mal sucedido, com Lusa Midosi; a morte precoce da segunda companheira,
Adelaide Pastor, que lhe deixa uma filha ilegtima; e por fim uma paixo adultera, com a Viscondessa da
Luz, celebrada em versos escandalosos.
Amante de prazeres mundanos, galante e apaixonado, foi sempre um conspcuo ator do palco social
romntico, sabendo reverter em seu favor a imagem de dandy cosmopolita que sempre cultivou. No auge
de uma carreira brilhante e de uma vida intensamente fruda, Almeida Garrett podia justamente orgulhar-
se de ser (palavras suas) um verdadeiro homem do mundo, que tem vivido nas cortes com os
prncipes, no campo com os homens de guerra, no gabinete com os diplomticos e homens de Estado, no
parlamento, nos tribunais, nas academias, com todas as notabilidades de muitos pases e nos sales
enfim com as mulheres e com os frvolos do mundo, com as elegncias e com as fatuidades do sculo.
A Obra Tem o grande mrito de ser o introdutor do Romantismo em Portugal ao nvel da criao textual -
processo que iniciou com os poemas Cames (1825) e D. Branca (1826).
Ainda no domnio da poesia so de destacar o Romanceiro (recolha de poesias de tradio popular cujo
1. volume sai em 1843), Flores sem Fruto (1845) e a obra-prima da poesia romntica portuguesa Folhas
Cadas (1853) que nos d um novo lirismo amoroso.
Na prosa, saliente-se O Arco de Sant'Ana (1. vol. em 1845 e 2. em 1851), romance histrico, e
principalmente as suas clebres Viagens na Minha Terra (1846). Com este livro, a crtica considera
iniciada a prosa moderna em Portugal.
E quanto ao teatro, deve mencionar-se Um Auto de Gil Vicente (1838), O Alfageme de Santarm (1841)
e sobretudo o famoso drama Frei Lus de Sousa (1844).
Cronologia das Principais Obras
1820
Hymno Patritico, Porto
1821
O Retrato de Vnus, Coimbra
1822
Cato, Lisboa
1825
Cames, Paris
1826
Bosquejo da Histria da Poesia e Lngua Portuguesa (in Parnasso Lusitano), Paris; Dona Branca, Paris
1828
Adozinda, Londres
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1829
Da Educao, Londres; Lrica de Joo Mnimo, Londres
1830
Portugal na Balana da Europa, Londres
1838
Um Auto de Gil Vicente
1841
Mrope Gil Vicente, Lisboa
1842
O Alfageme de Santarm, Lisboa
1843
Romanceiro e Cancioneiro Geral, Lisboa
1844
Frei Lus de Sousa, Lisboa
1845-1850
O Arco de SantAnna, 2 vols, Lisboa
1846
Viagens na Minha Terra, Lisboa
1853
Folhas Cadas, Lisboa
Retrato
Joo Baptista da Silva Leito, mais conhecido por Almeida Garrett, era um homem de estatura mdia,
com boca e nariz grandes, mas que no desarmonizavam as feies do rosto que era comprido. Os olhos
eram de cor verde-mar, grandes e cristalinos, lmpidos e de um brilho ao mesmo tempo esplndido e
sereno.
Tinha a pele plida e morena, realando-lhe a cor preta da barba e a meia palidez do rosto num ar
melanclico simptico. Usava cabeleira postia desde muito jovem, em consequncia de ter ficado com a
cabea defeituosa pela queda que dera de um cavalo, mas no era calvo, como muita gente pensava.
Os lbios eram delgados e quando conversava parecia pairar o sorriso de fina e delicada ironia, que lhe
davam a pronunciada expresso de sabedoria, que a inveja e a ignorncia traduziam por orgulho. Falava
com extrema facilidade e singeleza, tambm lia admiravelmente e conversava com tanta amenidade e
riqueza de engenho que a todos persuadia e cativava.
Tudo isto, fazia de Almeida Garrett um nobre dotado de um ar muito distinto e bastante agradvel.
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Concluso
Ao elaborar este trabalho verifiquei que Almeida Garrett foi o impulsionador do Romantismo em
Portugal e um dos escritores mais completos de toda a histria de Portugal.
Apaixonado pelo belo e amante da liberdade, Almeida Garrett foi o escritor que melhor soube entender
o mundo do seu tempo e deu-o a compreender aos vindouros.
A arte romntica inicia uma nova e importante etapa na literatura, voltada aos assuntos do seu tempo
efervescncia social e poltica, esperana e paixo, luta e revoluo e ao quotidiano do homem
burgus do sculo XIX; retrata uma nova atitude do homem perante si mesmo. O interesse dessa nova
arte est voltado para a espontaneidade, os sentimentos e a simplicidade sendo, assim, subjetiva -,
opondo-se, desse modo, arte clssica que cultivava a razo realidade objetiva.
A arte, para o romntico, no se pode limitar imitao, mas ser a expresso direta da emoo, da
intuio, da inspirao e da espontaneidade vividas por ele na hora da criao, anulando, por assim dizer,
o perfeccionismo to exaltado pelos clssicos. No h retoques aps a conceo para no comprometer a
autenticidade e a qualidade do trabalho.
Comprometido com o seu tempo e vido de intervir nos destinos do pas, Almeida Garrett no foi apenas
escritor, mas tambm cronista, historiador, etngrafo e crtico consciente. E os seus livros testemunham
como poucos a poca e o pas em que viveu.