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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS – ISARH INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL DO PARÁ - IDEFLOR CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE PRODUTOS FLORESTAIS MADEIREIROS E NÃO-MADEIREIROS DA REGIÃO MAMURU-ARAPIUNS RELATÓRIO FINAL Antônio Cordeiro de Santana (Coordenador) Ismael Matos da Silva Cyntia Meireles de Oliveira Rubens Cardoso da Silva Gisalda Carvalho Filgueiras Andréia Damasceno Costa Thaís Ferreira de Souza Alfredo Kingo Oyama Homma BEÉM – PARÁ 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS – ISARH INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL DO PARÁ - IDEFLOR

CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE PRODUTOS FLORESTAIS MADEIREIROS E

NÃO-MADEIREIROS DA REGIÃO MAMURU-ARAPIUNS

RELATÓRIO FINAL

Antônio Cordeiro de Santana (Coordenador) Ismael Matos da Silva Cyntia Meireles de Oliveira Rubens Cardoso da Silva Gisalda Carvalho Filgueiras Andréia Damasceno Costa Thaís Ferreira de Souza Alfredo Kingo Oyama Homma

BEÉM – PARÁ 2008

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 4

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................... 8

MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................................... 17

METODOS QUANTITATIVOS .............................................................................................................. 18

ANÁLISE QUANTITATIVA DO MERCADO ........................................................................................... 18

MÉTODO QUANTITATIVO DE ANÁLISE FATORIAL ............................................................................. 20

ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................................... 25

ANÁLISE AGREGADA DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS ................................................. 25

MERCADO AGREGADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS ............................................................. 38

Conceito de produtos não-madeireiros ........................................................................................ 38

Mercado de produtos não-madeireiros ........................................................................................ 40

ANÁLISE DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS POR MUNICÍPIO .......................................... 47

Mercado de madeira de Itaituba .................................................................................................. 47

Mercado de móveis de Itaituba .................................................................................................... 48

Mercado de madeira de Santarém ............................................................................................... 52

Mercado de móveis de Santarém ................................................................................................. 53

Mercado de madeira de Juruti ...................................................................................................... 54

Mercado de móveis de Juruti ........................................................................................................ 54

Mercado de móveis de Aveiro ...................................................................................................... 55

MERCADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS POR MUNICÍPIO ...................................................... 57

Mercado de ecobijoux de Itaituba ................................................................................................ 57

Mercado de artesanato de cerâmica de Itaituba .......................................................................... 59

Mercado de ecobijoux de Santarém. ............................................................................................ 60

Artesanato de madeira da oficina cabocla de Santarém .............................................................. 66

Mercado de óleos essenciais – FLONA do Tapajós ....................................................................... 69

Mercado de óleo de copaíba ......................................................................................................... 72

Mercado de peixe ornamental de Itaituba ................................................................................... 74

Mercado de produtos da farmacopéia de Juruti .......................................................................... 79

Mercado de artesanato de Juruti .................................................................................................. 84

Mercado de ecobijoux e artesanato de Aveiro ............................................................................. 85

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ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MERCADO ....................................................................................... 87

RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL ................................................................................................ 90

ANÁLISE DO ÍNDICE SISTÊMICO DE DESEMPENHO COMPETITIVO - ISDC ....................................... 102

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................... 106

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 112

APÊDICE 1 – RELATO DAS ENTREVISTAS SOBRE A INSTITUCIONALIDADE .......................................... 115

APÊDICE 2 – CICLO DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE PAU-ROSA ................................................................ 119

APÊDICE 3 – OUTROS PRODUTOS EXTRATIVOS ENCONTRADOS NA REGIÃO DA PESQUISA .............. 129

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INTRODUÇÃO

A dimensão da economia da madeira no Estado do Pará tem alto peso para o

desenvolvimento. Em 2007, gerou um consumo de US$ 4.48 bilhões, criando 12.590

empregos diretos e exportando US$ 991.76 milhões, o que representou 11,28% do total

exportado. Em relação apenas às exportações de madeira, o Estado do Pará participou com

29,70% do total do Brasil, assumindo a segunda posição no ranking. Além disso, respondeu

por 75% da madeira extraída de floresta nativa do país (DECEX, 2008).

Por seu turno, a indústria moveleira do Estado do Pará, apesar da disponibilidade de

matéria-prima é bastante incipiente e sua participação nas exportações de produtos

madeireiros foi de apenas 0,27%. Ao considerar apenas as exportações brasileiras de móveis,

a participação do Pará foi de apenas 0,8%, em 2007 (DECEX, 2008).

Os produtos não-madeireiros que constam nas estatísticas de exportação são o

palmito de açaí, a castanha-do-pará, os óleos essenciais, as sementes, as gomas, as cascas,

as folhas e os peixes ornamentais, porém em magnitudes pequenas. Em 2007, o valor

exportado destes produtos somou apenas US$ 27.35 milhões. Os demais produtos não-

madeireiros não constam nas estatísticas oficiais.

Os municípios da região Mamuru-Arapiuns: Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti,

destinam parte da produção madeireira para o mercado internacional, sendo a

intermediação feita por empresas-matriz instaladas em Belém ou por meio de outras

empresas também da Região Metropolitana de Belém. Em função disso, não foram

encontradas as estatísticas de exportação destes municípios. Quanto aos produtos não-

madeireiros, a oferta se destina principalmente ao mercado local. Apenas uma parte irrisória

é destinada ao mercado internacional. Como a transação também é feita por intermediários,

não se dispõem das informações.

A análise do mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros, geralmente

apresenta uma abordagem parcial, com ênfase nos segmentos que utilizam a madeira e

produtos não-madeireiros como insumo principal. São os casos dos segmentos de celulose e

papel, das empresas madeireiras de produtos serrados, laminados e artefatos; do segmento

de móveis; das indústrias de higiene e limpeza que utilizam óleos e produtos da floresta; da

indústria de cosméticos e de fármacos que utilizam essências e princípios ativos das plantas

para fabricarem produtos de alto valor agregado.

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No entanto, o setor florestal madeireiro e não-madeireiro e os demais produtos que

configuram a economia da natureza, possuem dinâmica própria, determinada pela oferta de

madeira em tora e de produtos não-madeireiros e pela produtividade total do ecossistema

das áreas de floresta. Mesmo que cada produto defina uma cadeia produtiva específica e os

diversos níveis de mercado entre sua extração e o consumidor final, as condições que

definem a sua dinâmica de desenvolvimento estão centradas no marco regulatório legal

para a gestão das áreas de florestas públicas, em regime de concessão.

Neste contexto, o mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros da área de

estudo está fortemente dependente da eficiência operacional das ações a serem

desenvolvidas pelo arranjo institucional que responde pela regulação dos planos de manejo

sustentáveis. O arranjo institucional local terá condições estruturais para coordenar as

atividades de exploração, processamento e distribuição dos produtos madeireiros e não-

madeireiros da área Mamuru-Arapiuns? Quais os impactos sobre o mercado de produtos

madeireiros resultantes da implantação do marco regulatório em relação à competitividade

sistêmica das cadeias produtivas? Qual o tipo de organização empresarial deve ser

implantado para alavancar a trajetória de desenvolvimento local e sustentável, a partir dos

planos de manejo e das áreas de florestas públicas?

Para responder estas perguntas, a hipótese é que o marco regulatório define a

competitividade sistêmica, mas sua implantação gerou grande choque de eficiência na

cadeia produtiva, em função da exigência da exploração sustentável dos recursos naturais.

Diante disso, os mercados estão operando com alto grau de incerteza e custo de transação,

dada a assimetria no fluxo de informação e o oportunismo dos agentes.

Nesta perspectiva, o estudo de mercado da região do Mamuru-Arapiuns adotou uma

metodologia, fundamentada na cadeia produtiva e nos mercados que se definem nas

transações de oferta e demanda entre os extratores e as indústrias processadoras, e entre

estas e as empresas que distribuem os produtos, que resultam do desdobramento da

madeira ou do beneficiamento e fabricação de artesanatos para as empresas que fazem a

sua distribuição para os diversos mercados: local, regional, nacional e internacional. Em cada

mercado, existe um custo de transação gerado por informação assimétrica e

comportamento oportunista dos agentes. Estas atitudes se desenvolvem em função do

comportamento das ações do arranjo institucional que regula as cadeias produtivas, daí a

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necessidade de compreender a dinâmica do mercado como uma organização regulada por

diversas forças além da simples operacionalidade das leis de oferta e demanda.

A metodologia adotada envolveu a aplicação de formulários específicos junto aos

empresários do segmento madeireiro, contemplando todas as serrarias instaladas próximas

à área de pesquisa dos municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti. O formulário

também foi aplicado às movelarias dos municípios de Itaituba e Santarém em amostra

representativa, e a todas as empresas instaladas em Aveiro e Juruti.

No segmento de produtos não-madeireiro, por outro lado, aplicou-se o formulário

em todas as organizações produtoras de artesanato, óleo e captura de peixes ornamentais.

Este formulário foi acompanhado de uma entrevista em profundidade para esclarecer ou

pormenorizar outras questões vinculadas aos mercados destes produtos. Fez-se entrevista

em profundidade nas principais instituições governamentais e não-governamentais ligadas

direta e indiretamente ao tema. No comércio, fez-se entrevista para obter informações

sobre a origem e destino dos produtos e dos preços praticados.

O tratamento dos dados foi feito utilizando-se o software SPSS, com a finalidade de

fazer o processamento dos dados e construir as tabelas de freqüência, informações

quantitativas e preços de produtos ofertados, assim como o destino da produção e questões

inerentes ao mercado dos produtos. Os modelos econométricos especificados para o estudo

de mercado e para a construção de indicadores de desempenho competitivo foram

estimados por meio dos softwares Eviews e SPSS.

O objetivo geral do trabalho foi analisar o mercado (oferta e demanda) de produtos

florestais da região Mamuru-Arapiuns, localizada entre os municípios de Itaituba, Aveiro,

Santarém e Juruti, Estado do Pará. Vale ressaltar que a pesquisa foi um pouco além e

contemplou outros produtos não-madeireiros encontrados na região da pesquisa, como mel,

penas de aves e peixes ornamentais.

Os objetivos específicos foram os seguintes:

a) Dimensionar o mercado, caracterizando a demanda de produtos florestais

madeireiros e não-madeireiros nas sedes dos municípios de Itaituba, Aveiro,

Santarém e Juruti;

b) Caracterizar os elos da cadeia de comercialização dos principais produtos florestais

com base nos preços e quantidades de produtos transacionados, assim como o grau

de adicionamento de valor ao longo da cadeia;

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c) Identificar as variáveis que influenciam na inserção dos produtos madeireiros e não-

madeireiros no mercado;

d) Caracterizar a infra-estrutura utilizada nos canais de escoamento dos produtos

florestais da região de Mamuru-Arapiuns;

e) Desenhar o cenário atual e futuro para a produção oriunda das concessões florestais

na região Mamuru-Arapiuns.

O trabalho foi estruturado em quatro seções. A primeira foi reservada à

apresentação do marco teórico, relacionado à análise de mercado, uma vez que, neste caso,

necessitou-se ir além dos conceitos tradicionais, traduzidos nas leis de oferta e demanda e

incorporou-se o conceito de Cadeia Produtiva e da Nova Economia Institucional. Esta

concepção respaldou a proposição dos modelos econométricos utilizados para a estimação

empírica das equações de demanda e oferta, assim como identificar os fatores que

influenciam o desempenho competitivo das empresas de madeira da região Mamuru-

Arapiuns. A segunda seção apresentou a análise geral dos mercados de produtos

madeireiros e não-madeireiros, agregando todos os municípios, com base nos resultados da

pesquisa de campo. A terceira seção analisou os mercados por município, visando explorar

peculiaridades e dinâmicas que a análise agregada não capta. Em seguida, apresentou-se a

análise empírica do mercado de produtos madeireiros, definindo a natureza da demanda e

oferta com base nas elasticidades. Construiu-se, também, um índice sistêmico de

desempenho competitivo das empresas entrevistadas. A última seção apresentou as

considerações finais do relatório.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para fundamentar a análise de mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros

serão adicionados nos postulados da teoria neoclássica, hegemônica neste campo de

análise, os conhecimentos da Nova Economia Institucional. Pensa-se no mercado

funcionando como uma instituição regulada por governos, blocos econômicos e

organizações globais, regionais e locais. Neste aspecto, lança-se mão do conceito de custo de

transação proposto por Coase (1991; 1960), que deixa de considerar a empresa apenas

como uma função de produção e passa a conceituá-la como uma estrutura de governança.

Neste aspecto, Williamsom (1985) amplia a análise dos custos de transação para contemplar

as relações que se realizam na integração entre os agentes de uma cadeia produtiva. A

análise leva em conta os custos de funcionamento do sistema econômico, foca a análise na

especificidade dos recursos e nos aspectos comparativos das instituições, além de

contemplar a coordenação vertical ou hierárquica das cadeias de valores dos produtos. Por

fim, o autor argumenta que as instituições são criadas, primordialmente, para que os

direitos de propriedade sejam respeitados. Com efeito, na medida em que o arranjo

institucional dá margem ao desenvolvimento de comportamentos oportunistas, os custos de

transação tornam-se mais elevados do ponto de vista coletivo. Em função disso, surge a

necessidade da criação de uma institucionalidade que, na linguagem de Costa e Andrade

(2007, p. 10), são os “nexus objetivos que articulam organizações e visões de mundo,

estruturas organizacionais e posturas individuais nessa mediação”.

Neste aspecto, o estudo aborda, além da função de produção, outros dois níveis de

análise:

a) O ambiente institucional, formado por regras formais, constituição, leis e

procedimentos de controle e coerção do comportamento individual com vistas a

atender aos objetivos que vão além da própria perspectiva dos agentes de uma

dada instituição (WILLIAMSOM, 1985; NORTH, 1990);

b) A estrutura de governança, onde ocorre a gestão de contrato com intenção de

manter a ordem, eliminar conflitos e gerar ganhos coletivos.

No âmbito das cadeias produtivas de produtos madeireiros e não-madeireiros da

Amazônia, a abordagem de mercado, necessariamente, deve considerar a influência do

arranjo institucional, uma vez que as organizações que realizam a produção e a distribuição

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dos produtos são regulada

governamentais e representações da sociedade organizada

O conceito de cadeia produtiva foi adotado

sistêmica das relações que ocorrem tanto no nível micro quanto no nível mesoanalítico

sistema produtivo. As conexões en

transações comerciais com fornecedores e clientes,

mercado. Nestas relações comerciais existem custos de transação, em função da ação

institucional, portanto a cada transação de compra

da oferta e da demanda dos produtos madeira em tora

não-madeireiros. Com efeito, todos os pontos positivos e negativos da ação institucional

serão levados em conta pelos agentes, segundo

ilustração da cadeia produtiva

Figura 1. Ilustração dos elos da cadeia produtiva de produtos madeireiros e não

O mercado de produtos madeireiros e não

produtivas de escopo macro, uma vez que cada uma delas se desdobra em outras

subcadeias. Todas as cadeias iniciam com a existência de uma

extrativa, juntamente com

serviços que formam o entorno da cadeia e defin

Matéria-prima

•Plano de manejo próprio;

•Manejo de áreas comunitárias;

•Áreas sem manejo;

•Outras empresas

Mercado

reguladas por um arranjo de instituições governamentais, não

esentações da sociedade organizada.

O conceito de cadeia produtiva foi adotado porque permite fazer uma análise

sistêmica das relações que ocorrem tanto no nível micro quanto no nível mesoanalítico

. As conexões entre os elos da cadeia produtiva são caracterizados por

com fornecedores e clientes, que, por sua vez, definem as

ções comerciais existem custos de transação, em função da ação

institucional, portanto a cada transação de compra e venda de produto, definem

da oferta e da demanda dos produtos madeira em tora, madeira desdobrada

madeireiros. Com efeito, todos os pontos positivos e negativos da ação institucional

serão levados em conta pelos agentes, segundo o grau de informação que cada um dispõe.

ilustração da cadeia produtiva e dos níveis de mercado é apresentada na

Ilustração dos elos da cadeia produtiva de produtos madeireiros e não

O mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros origina duas cadeias

produtivas de escopo macro, uma vez que cada uma delas se desdobra em outras

cadeias iniciam com a existência de uma matéria

juntamente com a rede de instituições, empresas correlatas e prestadoras de

o entorno da cadeia e definem a estrutura de

Indústria

•Serrarias (madeira serrada, laminado e artefatos);

•Movelarias;

•Cooperativas;

•Associações

Distribuição•Traders;

•Estâncias;

•Lojas especializadas;

•Mercado varejista;

•Intermediários

Mercado 1

Mercado 2

Governança da cadeia produtiva

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ições governamentais, não-

porque permite fazer uma análise

sistêmica das relações que ocorrem tanto no nível micro quanto no nível mesoanalítico do

são caracterizados por

que, por sua vez, definem as forças de

ções comerciais existem custos de transação, em função da ação

e venda de produto, definem-se pontos

, madeira desdobrada e produtos

madeireiros. Com efeito, todos os pontos positivos e negativos da ação institucional

o grau de informação que cada um dispõe. A

é apresentada na Figura 1.

Ilustração dos elos da cadeia produtiva de produtos madeireiros e não-madeireiros.

madeireiros origina duas cadeias

produtivas de escopo macro, uma vez que cada uma delas se desdobra em outras

matéria-prima de base

, empresas correlatas e prestadoras de

a estrutura de governança, a qual

DistribuiçãoTraders;

Estâncias;

Lojas especializadas;

Mercado varejista;

Intermediários

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coordena o fluxo das transações que se processam nos mercados 1 e 2 da Figura 1 (PORTER,

1999).

O conceito de cadeia produtiva, conforme foi cunhado nos idos de 1967 por Goldberg

(SANTANA, 2002), apresenta uma lógica para o fluxo de produto a partir da matéria-prima

(primeiro elo da cadeia) e, na seqüência, o produto vai sofrendo transformação, agregando

valor e serviços por ocasião do beneficiamento e processamento industrial (segundo elo da

cadeia), depois passa pela padronização, embalagem, reprocessamento e distribuição

(terceiro elo da cadeia) até chegar ao consumidor final (Figura 1). Esta é a lógica de

funcionamento das cadeias produtivas de commodities e/ou produtos do extrativismo, em

que o fluxo produtivo e de informação da cadeia foram elaborados com base na matriz de

insumo-produto (SANTANA, 1994; 2002; 2005).

Entre a produção de matéria-prima (primeiro elo da cadeia) e o processamento

industrial (segundo elo da cadeia), tem-se o primeiro nível de mercado para a madeira em

tora e produtos não-madeireiros. Este mercado funciona com as transações dos produtos

que se realizam entre os extratores, que operam em regime de concorrência pura, e as

serrarias e fábricas, que operam em concorrência imperfeita (oligopsônio ou monopsônio1).

Como não há uma coordenação eficiente para regular essas transações, os extratores levam

desvantagens na negociação. Na seqüência da cadeia, há outro mercado em que são

realizadas operações comerciais entre as indústrias e o segmento distribuidor dos produtos

para os mercados. Neste nível de mercado, as empresas operam em regime de concorrência

imperfeita, porém com poder de negociação diferente. Assim, as serraria que exportam

madeira beneficiada, tomam o preço dado pelas traders que comercializam o produto no

mercado internacional. O mesmo ocorre com as cooperativas e associações que produzem

óleos, ecobijoux2, peixes ornamentais, artefatos diversos e negociam com grandes empresas

ou com lojas que atuam no varejo e compram grandes quantidades do produto. Por último,

tem-se um terceiro nível de mercado que se concretiza com a venda dos produtos das

distribuidoras de varejo diretamente para os consumidores. Neste caso, os consumidores

1 Monopsônio se refere as ações de uma só empresa ou organização na compra de produtos de diversos vendedores; oligopsônio é a ação de poucas empresas operando na compra do produto. Geralmente, estas empresas têm poder de fixar o preço do produto em nível abaixo do preço que vigoraria em situação de mercado em concorrência perfeita.

2 Ecobijoux diz respeito aos produtos fabricados exclusivamente com gemas orgânicas e demais produtos naturais. Quando estes produtos naturais são combinados com produtos minerais e/ou sintéticos, chamam-se de ecojóias.

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operam com as regras de um mercado em concorrência pura, sem poder de influenciar o

preço e a quantidade demandada dos produtos transacionados.

Nestes dois mercados, há um problema de mensuração nas transações comerciais

entre empresas e fornecedores e/ou clientes, de acordo com a Nova Economia Institucional.

Este problema se configura na racionalidade limitada de informação e conhecimento e pelo

oportunismo dos agentes (BAUMOL ET al., 1982; WILLIAMSOM, 1985; 1999; 2002). No caso

das cadeias de produtos madeireiros e não-madeireiros, a assimetria de informação e a ação

individualista dos agentes constituem a maior dificuldade de coordenação das cadeias e de

funcionalidade do mercado. Isto se reproduz por igual nas relações dos agentes com as

instituições governamentais, as representações da iniciativa privada e da sociedade

organizada. Há, pois, um ambiente de desconfiança na funcionalidade do arranjo

institucional.

A representação gráfica das transações de mercado é ilustrada na Figura 2. Em

condições de concorrência pura, o preço (Pe) reflete o equilíbrio do mercado (ponto A),

considerado o preço “justo” tanto para compradores quanto para vendedores, ou seja, o

preço que prevaleceu porque é grande o número de vendedores e de compradores, todos

insignificantes em relação ao poder de influência nos preços de equilíbrio do mercado.

Figura 2. Ilustração da formação de preço nos mercados, envolvendo monopsônio na compra e concorrência pura na venda.

Por outro lado, na presença de um monopsônio, em que uma empresa compra o

produto de diversos fornecedores atomizados, o equilíbrio seria estabelecido no ponto B.

Como há assimetria de informação, o preço de compra do produto (Pc) situa-se abaixo do

preço de concorrência com plena informação (TIROLE, 2001). A diferença entre Pe e Pc é o

Preço Pv Oferta A Pe B Pc Demanda 0 Qi Qe Quantidade/t

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custo do mercado ou custo de transação. Quando a empresa vende para um mercado

consumidor também atomizado, consegue o Pv, acima do preço de concorrência pura.

Portanto, no mercado de produtos madeireiros da área de estudo, a estrutura de mercado

imperfeito é dominante na formação dos preços. Por isso, a análise será conduzida tendo em

vista esse comportamento de mercado. Para os produtos não-madeireiros, em que a

produção é comercializada diretamente para os consumidores, a formação dos preços é

dada pelas interações entre oferta e demanda. Porém, quando a venda é feita para as lojas

especializadas e/ou para agentes intermediários, há assimetria de informação e os custos de

transação conduzem a uma situação de concorrência imperfeita.

No mercado 1 (Figura 1), o segmento de processamento possui mais informação do

que o segmento fornecedor de matéria-prima. Cada empresa que possui plano de manejo3,

portanto, conhece o custo de produção dos extrativistas e demais fornecedores de madeira

em tora e demais produtos. Além disso, o fornecedor enxerga a atitude da empresa como a

única possibilidade de realizar a transação, uma vez que o preço de mercado da madeira é

tomado como um parâmetro, pois não tem poder para alterar este preço ao tomar qualquer

decisão venda/compra de produto. Como são desorganizados e, em grande parte, atuam na

informalidade, não têm poder de barganha para influenciar o preço. Em função disso, o

preço da madeira e demais produtos é fixado em nível próximo ao custo de produção. Ou

seja, muito abaixo do preço (ponto B, figura 2) que vigoraria se a transação ocorresse em um

mercado com plena informação (ponto A, figura 2). Este tipo de atitude força os

fornecedores a venderem uma maior quantidade de produto para gerar um nível de renda

mínima que lhe assegure a reprodução. Isto se traduz em aumento no esforço de extração e,

por conseguinte, gera um maior impacto sobre os estoques dos recursos naturais. Para

atenuar o efeito desta ação, a regulação deve gerar informação e conhecimento sobre a

atividade, estabelecer regras e coordená-las para implantar tecnologias de utilização

sustentável dos recursos e contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

No mercado 2 (Figura 1), também há um desequilíbrio de informação, cuja

concentração está no segmento distribuidor. As traders que comercializam o produto para o

3 Manejo florestal sustentável - segundo o Decreto no 1.282, de 19/10/1995 – é definido como a administração

de uma floresta para a obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de

sustentação do ecossistema. Portanto, o manejo sustentável deve ser economicamente viável,

ecologicamente correto e socialmente justo.

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mercado internacional, têm informação sobre o custo de produção dos empresários e sobre

o funcionamento do mercado local. Com efeito, determinam-se preços próximos ao nível do

custo de produção das commodities (madeira serrada, laminada, compensado). Este preço é

fixado em nível abaixo dos preços que o produto alcançaria no mercado em concorrência

perfeita. Por outro lado, na venda direta ao consumidor conseguem impor um preço (Pv)

mais alto do que os que seriam praticados no mercado em concorrência perfeita (Pe).

Por fim, a análise faz referência ao problema da extração dos recursos naturais, em

que a funcionalidade da estrutura de governança está sendo questionada. A base da

regulação está no fato de que boa parte dos recursos madeireiros e não-madeireiros é de

uso comum, pois os recursos são extraídos de áreas cujos direitos de propriedades não são

reconhecidos ou não existem de fato. Neste caso, segundo a lógica traçada por Hardin

(1968) e revisado por Crowe (1969), conhecida como “a tragédia dos comuns”, a utilização

de recursos de uso comum, quando há um mercado e cada agente resolve maximizar sua

utilidade, conduz a exaustão dos recursos.

Na Figura 3, XT representa o máximo de biomassa do recurso que uma dada área

pode suportar e Xc é o limite crítico do estoque de recurso natural, abaixo do qual a taxa de

crescimento pode ser negativa e o recurso tende para a exaustão. Assim, a produção do

recurso é efetivamente limitada por Xc e XT (RANDALL, 1981; TIETENBERG, 1988). A taxa

absoluta de crescimento do recurso é máxima quando o estoque de recurso atinge o ponto

Xm., que reflete o rendimento máximo sustentável do recurso e coincide com a taxa máxima

de crescimento absoluta. A relativa taxa de crescimento (dX/dt) é máxima quando a

biomassa atinge Xg e é zero quando atinge Xm e negativa a partir deste ponto.

O ponto XT é o equilíbrio natural do estoque do recurso natural e reflete o tamanho

da população que sobrevive infinitamente sem a influência de agentes externos. A

exploração racional do recurso deve ocorrer entre os limites Xg e Xh, que assegura um

rendimento sustentável para o estoque dos recursos naturais. Portanto, a regulação do uso

dos recursos naturais deve assegurar que a taxa de extração não comprometa a capacidade

de regeneração do estoque de recursos. Em caso de a demanda pelo recurso aumentar mais

rápido do que a oferta, mediante a extração, deve-se implantar produções domesticadas do

recurso para suprir o mercado.

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Figura 3. Taxa de variação de uma população pesqueira e nível sustentável de capturas em função do estoque de biomassa.

Na área de estudo, a taxa de extração superou a capacidade de reposição dos

estoques de madeira de espécies como o mogno, de essência como o pau-rosa, de frutos

como a castanha-do-pará, e está acontecendo com peixes ornamentais e com a copaíba.

Para evitar esta tragédia anunciada, deve-se proceder com a regularização desta área de

fronteira, planejar o manejo para a extração sustentável dos recursos e investir em

conhecimento científico e tecnológico, com vistas à domesticação de espécies e a produção

racional, conforme Homma (2004; 2008), sem esquecer-se de investir fortemente para

formar capital humano e capital social4, indispensáveis no processo de organização da

produção e operacionalização das aglomerações produtivas locais, no que tange ao trabalho

coletivo.

Portanto, as cadeias de produtos madeireiros e não-madeireiros são definidas a

partir da extração da madeira em tora. A clareza de informação e o grau de oportunismo dos

agentes que são incorporados nas transações comerciais estão diretamente conectados à

4 Capital humano diz respeito ao grau de cultura e de habilidade das pessoas, que se mensuram pelos anos de

escolaridade, experiência acumulada e a capacidade de aprendizado contínuo da sociedade. O capital

humano apresenta uma relação direta com o crescimento econômico. Capital social se refere a atitudes de

confiança que se estabelece em combinação com condutas de reciprocidade e cooperação. A confiança entre

as pessoas permite a criação e participação ativa de grupos horizontais, formada por pares que são

importantes para o funcionamento eficiente das instituições. Portanto, capital social é o nível de organização

dos agentes e de sua capacidade de reconhecer, criar e aplicar conhecimentos.

Taxa

de

cres

cim

ento

abso

luta

do

s r

ecu

rso

s

X Biomassa

do recurso

Y = dx/dt

Xc Xg Xm Xh XT

Y1

Ym

Y2* Sobre-exploração

Rendimento máximo

sustentável

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certificação de origem destes produtos. A eficiência da coordenação destas cadeias tem

como condição necessária e suficiente a regulação da exploração dos recursos naturais nas

áreas de florestas públicas. Deduz-se, então, que o plano de manejo sustentável seja

abrangente de tal forma que contemple os produtos não-madeireiros e a capacidade efetiva

e potencial para seqüestrar carbono.

A exploração dos recursos naturais a partir dos planos de manejo das áreas de

concessão florestais pode ser feita por dois tipos de empresas: uma capitalista e outra social,

no que tange ao objetivo econômico do retorno ao capital investido. Na empresa capitalista,

o objetivo é maximizar o lucro com o manejo e extração de madeira em tora. Por sua vez, a

empresa social não visa obter lucro, apenas recuperar o valor do capital investido, deixando

o excedente para a reprodução social das comunidades que exploram os recursos não-

madeireiros e/ou expansão da atividade. Este tipo de empresa pode ser revelado no caso em

que uma madeireira implanta o plano de manejo para a exploração dos produtos

madeireiros e não-madeireiros, assim como a capacidade potencial para seqüestrar carbono

da área, faz a agregação econômica e ambiental aos produtos e com o incremento do

faturamento beneficia as famílias do entorno da área manejada, contribuindo para eliminar

a pobreza das comunidades rurais da Amazônia.

Outra forma de empresa social pode ser desenvolvida nas áreas de exploração de

florestas públicas por comunidades de pequenos produtores rurais. Neste caso, os

investimentos feitos devem buscar apenas o retorno do capital investido, ficando o

excedente para propagar a iniciativa para outros locais, obter a escala de produção ajustada

aos mercados, por meio da organização coletiva de um conjunto de micro e pequenas

empresas e/ou unidades de produção conectadas em rede.

Esta proposição faz uma interface com a idéia de Mahammad Yunus (2008), prêmio

Nobel da paz em 2006 e criador do Grameen Bank de Bangladesh, quando afirma que o

empresário pode atuar investindo na empresa maximizadora de lucro e nas empresas

sociais, em que o investidor apenas recupera o capital investido. Na constatação de Yunus

(2008) isto é melhor do que filantropia, porque os investidores terão o dinheiro de volta

para apoiar novas iniciativas. Além disso, as empresas sociais contribuem para disseminar

iniciativas inovadoras de ajudar as pessoas a solucionar problemas sociais, mediante a

combinação de objetivos aparentemente contraditórios, que são a maximização de lucro e a

maximização dos benefícios sociais. Aliás, a empresa que consegue otimizar estes objetivos,

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pode, além da agregação dos valores econômicos e ambientais, incorporar o valor social e

receber um prêmio de preço, que é pago pelo consumidor.

Nas áreas de florestas públicas destinadas ao programa de concessões na região

Mamuru-Arapiuns, além da exploração dos produtos madeireiros, não-madeireiros, da

incorporação da capacidade de seqüestrar carbono da área, ainda deve-se considerar as

atividades agropecuárias conduzidas pelas comunidades rurais. Neste caso, a otimização da

exploração, combinando os objetivos econômicos, sociais e ambientais, torna-se mais

complexos, porém, a pluriatividade per si agrega condições desejáveis de sustentabilidade.

Estes desafios teóricos e metodológicos devem ser enfrentados pelo arranjo

instituições que responde pela regulação, planejamento, implantação de ações, fomento e

coordenação nos âmbitos micro, meso e macroanalíticos que a questão requer.

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MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo sobre o mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros foi

definida em edital pelo IDEFLOR e abrange os municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e

Juruti. Estes municípios definem os limites da região Mamuru-Arapiuns de interesse do

IDEFLOR para a exploração de florestas públicas sob regime de concessão. Estes municípios

funcionam como canais para escoamento da produção madeireira e não-madeireira da área,

assim como fontes de pressão sobre a exploração dos recursos naturais.

O material empregado na pesquisa envolveu a aplicação de formulários específicos

junto aos empresários do segmento madeireiro, contemplando todas as serrarias instaladas

próximas à área de pesquisa dos municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti. O

formulário também foi aplicado às moveleiras dos municípios de Itaituba e Santarém em

amostra representativa, e a todas as empresas instaladas em Aveiro e Juruti.

No segmento de produtos não-madeireiros, por outro lado, aplicou-se o formulário

em todas as organizações produtoras de artesanato, óleo e pesca de peixes ornamentais.

Este formulário foi acompanhado de uma entrevista em profundidade para esclarecer ou

pormenorizar outras questões vinculadas aos mercados destes produtos. Fez-se entrevista

em profundidade nas principais instituições governamentais e não-governamentais ligadas

direta e indiretamente ao tema. No comércio, fez-se entrevista para obter informações

sobre a origem e destino dos produtos e dos preços praticados no mercado local.

O método contemplou dois padrões de análise: qualitativo e quantitativo. A análise

qualitativa foi estruturada a partir da organização das informações obtidas da pesquisa de

campo em tabelas de frequência, gráficos e esquemas ilustrativos das cadeias produtivas de

produtos madeireiros e não-madeireiros. A análise quantitativa, por sua vez, utilizou

métodos econométricos para a estimação das funções de demanda e oferta a partir de

dados secundários e da técnica da análise fatorial para o estudo das forças que definem a

organização empresarial e sua dinâmica competitiva.

O tratamento dos dados foi feito utilizando-se o software SPSS, com a finalidade de

fazer o processamento dos dados e construir as tabelas de freqüência, informações

quantitativas e preços de produtos ofertados, assim como o destino da produção e questões

inerentes ao mercado dos produtos. Utilizou-se o software Eviews para estimar as equações

de demanda e oferta de madeira em tora, bem como a análise fatorial dos dados.

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METODOS QUANTITATIVOS

ANÁLISE QUANTITATIVA DO MERCADO

A equação de demanda de madeira em tora foi especificada em função do preço da

madeira em tora e da taxa de desmatamento. Espera-se uma relação inversa entre preço e

quantidade demandada, em função da lei da demanda, pois à medida que os preços da

madeira em tora sofrem um aumento, a tendência é as empresas demandarem menos do

produto, ceteris paribus. Com relação à variável taxa de desmatamento, espera-se uma

correlação positiva, pois quando a taxa de desmatamento aumenta, naturalmente, a

demanda por madeira em tora tende a aumentar, com base na expectativa de que uma

maior disponibilidade do produto será ofertada nas regiões do desmatamento. A taxa de

desmatamento também influencia no deslocamento da oferta do produto, pois aumenta a

oferta de madeira oriunda destas áreas desmatadas. Portanto, tanto na oferta quanto na

demanda, espera-se um sinal positivo para o coeficiente associado a esta variável.

A oferta de madeira em tora, realizada tanto pelas empresas com planos de manejo

quanto por extrativistas de áreas legais e de produtores rurais. Espera-se uma relação

positiva entre a quantidade de madeira em tora e o preço e, uma relação negativa em

relação à variável ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, pois aumenta

o custo do produto.

O modelo de mercado foi estruturado por um sistema formado com as duas

equações estruturais de demanda e oferta, cujas variáveis endógenas são determinadas por

um conjunto de variáveis instrumentais, com equações na forma reduzida. As equações são

superidentificadas pelos critérios de ordem e de posto.

O sistema de equações foi especificado na forma de painel de dados, combina

informações longitudinais (cross-section) e de séries temporais, agregando as vantagens de

ampliar o número de observações, dado que o período das séries temporais de interesse da

pesquisa é curto, aumentar a eficiência das estimativas e reduzir problemas de

multicolinearidade. Os dados se referem aos municípios da área pesquisada, no período de

2000 a 2006, portanto não se trata de amostra aleatória. Por esta razão, o modelo de efeito

fixo foi adotado. A estrutura do modelo é a seguinte:

ditdd ititdidit TDESMATPREÇOaMADDemanda εββδ ++++= 21 lnln:

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oitooo itoitititoioit ICMSTDESMATTDESMATPREÇOaMADOferta εββββδ ++++++= − lnlnln: 41321

VPEXNEMPNMATPBPCICMSTDESMATTDESMATosInstrument ln,ln,ln,ln,ln),1(,: −

.,...,1

;,...,1

);,0(~ 2

Tt

Ni

IIDNit

=

=

εσε

em que:

Variáveis endógenas

MADit Quantidade de madeira em tora (demandada e ofertada) nos municípios i (i = Aveiro, Itaituba, Juruti e Santarém), no período t (t = 2000,..., 2006), medido em m3;

PREÇOit Preço da madeira em tora em R$/m3 por município i, no período t;

Variáveis exógenas e instrumentais

TDESMATit Taxa de desmatamento em % por município i, no período t;

TDESMATit-1 Taxa de desmatamento em % por município i, no período t-1;

ICMSit Imposto sobre a comercialização da madeira em tora em R$ por município i, no período t;

NMATit Número de pessoas matriculadas no município i, no período t;

NEMPit Número de empregos no município i, no período t;

PBPCit Produto interno bruto per capita do município i, no período t;

VPEXit Valor bruto da produção do extrativismo vegetal em R$ do município i, no período t;

Parâmetros

a É o valor do intercepto geral da equação, mantido igual para todos os cross-section;

βj Parâmetros que medem o efeito das variáveis exógenas sobre as variáveis endógenas das equações de demanda e oferta;

δ Parâmetro que representa o efeito longitudinal que é fixo no tempo;

εit Termo de erro aleatório, com distribuição independente e normal dos erros.

O modelo foi estimado pelo método de mínimos quadrados em dois estágios usando

estimativa da variância residual cross-section no Eviews 6 (2007). Uma análise detalhada

sobre a especificação e estimação de modelos de painel de dados, envolvendo efeitos fixos,

efeitos aleatórios e modelos dinâmicos podem ser encontrados em Greene (1997), Baltagi

(1998; 2001) e Wooldridge (2002; 2003). A escolha do modelo de efeito fixo deve-se ao fato

de os dados não serem gerados a partir de amostra aleatória, além da confirmação obtida

pelo teste de Hausman (1978), conforme Wooldridge (2002).

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O modelo é um painel de dados equilibrados com efeitos fixos, inclusive mantendo o

mesmo intercepto, com sete observações (2000 a 2006) e quatro municípios (especificação

dos coeficientes cross-section) perfazendo um total de 28 observações. As diferenças entre

os municípios ou unidades de sessão-cruzada podem ser captadas no termo de intercepto,

sendo que tais diferenças são mantidas constantes no tempo.

A fonte dos dados foi o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008),

onde se obteve as informações de produção de madeira em tora, preço, número de

empregos, número de matrículas, PIB per capita e valor da produção do extrativismo; o

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (2008) forneceu a taxa de desmatamento e

a Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Pará - SEFA-PA (2008) forneceu o valor do

ICMS.

MÉTODO QUANTITATIVO DE ANÁLISE FATORIAL

A análise fatorial, de modo geral, é utilizada para analisar a estrutura das inter-

relações (correlações) entre um grande número de variáveis, definindo um conjunto de

dimensões latentes comuns que facilitam a compreensão da estrutura da nuvem de dados,

chamadas de fatores. Com o emprego dessa técnica, inicialmente pode-se identificar as

dimensões isoladas da estrutura dos dados e então determinar o grau em que cada variável

é explicada por cada dimensão ou fator. Depois dessa etapa, a análise fatorial pode ser

empregada para reduzir a massa de dados (SANTANA, 2007a; SANTANA, 2008a).

Um modelo geral de análise fatorial pode ser apresentado na forma matricial como

em Dillon e Goldstein (1984):

εα += FX (1)

Em que:

X = é o p-dimensional vetor transposto das variáveis observáveis, denotado por X = (x1, x2,

..., xp)’;

F = é o q-dimensional vetor transposto de variáveis não-observáveis ou variáveis latentes

chamadas de fatores comuns, denotado por, F = (f1, f2, ..., fq)’, sendo que q < p;

εεεε = é o p-dimensional vetor transposto de variáveis aleatórias ou fatores únicos, εεεε = (e1, e2,

..., ep)’;

αααα = é a matriz (p,q) de constantes desconhecidas, chamadas de cargas fatoriais.

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No modelo de análise fatorial pressupõe-se que os fatores específicos são ortogonais

entre si e com todos os fatores comuns. Normalmente, E(ε) = E(F) = 0 e Cov (ε, F) = 0.

A estrutura inicial utilizada para determinar a matriz de cargas fatoriais, em geral,

pode não fornecer um padrão significativo de cargas das variáveis, por isso não é definitiva.

A confirmação ou não dessa estrutura inicial pode ser feita por meio de vários métodos de

rotação dos fatores (DILLON; GOLDSTEIN, 1984; JOHNSON; WICHERN, 1992). Nesta pesquisa,

utilizou-se o método varimax de rotação ortogonal dos fatores. O método varimax é um

processo em que os eixos de referência dos fatores são rotacionados em torno da origem

até que alguma outra posição seja alcançada. O objetivo é redistribuir a variância dos

primeiros fatores para os demais e atingir um padrão fatorial mais simples e teoricamente

mais significativo (HAIR et al., 2005; SANTANA, 2005; SANTANA, 2007b).

A escolha dos fatores foi realizada por meio da técnica de raiz latente. Esta técnica

parte do princípio de que qualquer fator individual deve explicar a variância de pelo menos

uma variável para que seja mantido para interpretação. Cada variável contribui com um

valor 1 do autovalor total. Com efeito, apenas os fatores que têm raízes latentes ou

autovalores maiores que 1 são considerados significantes e os demais fatores com

autovalores menores do que 1 são considerados insignificantes e descartados (HAIR et al.,

2005; MINGOTI, 2005; SANTANA, 2008a). A matriz de cargas fatoriais, que mede a

correlação entre os fatores comuns e as variáveis observáveis, é determinada por meio da

matriz de correlação, conforme Dillon e Goldstein (1984).

Para a definição do Índice Sistêmico de Desempenho Competitivo - ISDC, conforme

Santana (2007b), estimou-se a matriz de escores fatoriais após a rotação ortogonal da

estrutura fatorial inicial. O escore fatorial, por definição, situa cada observação no espaço

dos fatores comuns. Para cada fator fj, o i-ésimo escore fatorial extraído é definido por Fij,

expresso da forma descrita em Dillon e Golsdtein (1984):

xbxbxbF ippiiij+++= ...

2211; i = 1, 2, ..., n; j = 1, 2, ..., p. (2)

Em que:

bi são os coeficientes de regressão estimados para os n escores fatoriais comuns;

xij são as n observações das p variáveis observáveis.

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A variável Fij não é observável, mas pode ser estimada por meio das técnicas de

análise fatorial, utilizando-se a matriz de observações do vetor x de variáveis observáveis.

Em notação matricial, a equação 2, torna-se:

bxF qppnqn ),(),(),(= (3)

Na equação 3, F é a matriz da regressão estimada a partir dos n escores fatoriais e

que podem ser afetados tanto pela magnitude quanto pelas unidades de medida das

variáveis x. Para contornar este tipo de problema, substitui-se a variável x pela variável

padronizada w, dada pela razão entre o desvio em torno da média e o desvio padrão de x,

como a seguir:

s

xxw

x

i

ij

)( −=

Com esses valores, modifica-se a equação 3 para gerar a equação 4.

β),(),(),( qppnqn wF = (4)

Na equação 4, a matriz de pesos beta - ββββ, com q colunas e p coeficientes de regressão

padronizados, substitui b, dado que as variáveis estão padronizadas em ambos os lados da

equação. Pré-multiplicando ambos os lados da equação 4 pelo valor (1/n)w’, em que n é o

número de observações e w’ é a matriz transposta de w, obtém-se:

ββ),(),(),(),(),(),(),( ''

11qpppqppnnpqnnp RwwFw

nn== (5)

A matriz (1/k)w’w se constitui na matriz de variáveis inter-correlacionadas ou matriz

de correlação entre as observações da matriz x, designada por R. A matriz (1/k)w’F

representa a correlação entre os escores fatoriais e os próprios fatores, denotada por ΛΛΛΛ.

Reescrevendo a equação 5, tem-se que:

β),(),(),( qpppqp R=Λ (6)

Se a matriz R for não-singular, pode-se pré-multiplicar ambos os lados da equação 6

pela inversa de R, obtendo-se:

Λ−

= R1β (7)

Substituindo o vetor ββββ na equação 4, obtém-se o escore fatorial associado a cada

observação, como a seguir:

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Λ−

=),(

1

),(),(),( qppppnqn RwF (8)

O ISDC, conforme Santana (2007a,b; 2008a) foi definido como uma combinação

linear desses escores fatoriais e a proporção da variância explicada por cada fator em

relação à variância comum. A expressão matemática é dada por:

∑∑=

=q

jij

jj

j

i FPISDC1 λ

λ (9)

Em que λ é a variância explicada por cada fator e Σλ é a soma total da variância explicada

pelo conjunto de fatores comuns. O escore fatorial foi padronizado (FP) para se obter

valores positivos dos escores originais e permitir a hierarquização das empresas, uma vez

que os valores do ISDC estão situados entre zero e um. A fórmula matemática é a seguinte:

−=

FFFF

FPi

i

minmax

min

Em que Fmin e Fmax são os valores máximo e mínimo observados para os escores

fatoriais associados às empresas de madeira e móveis.

Para facilitar a interpretação dos resultados, foram estabelecidos os seguintes

intervalos de valores do ISDC, agrupando as empresas conforme seu grau de desempenho

competitivo: valores do ISDC igual ou superior a 0,70 são considerados altos; valores

situados entre 0,40 e 0,69 são intermediários; valores inferiores a 0,40 são considerados

baixos.

As variáveis incluídas na análise foram: quantidade de madeira em tora utilizada por

cada empresa, em m3; receita bruta total obtida com a venda de produtos de madeira, em

R$; número de empregos formais das empresas; mão-de-obra qualificada das empresas;

indicador de capacidade instalada das empresas; preço da madeira em tora; preço da

madeira beneficiada (preço médio dos produtos); logística de transporte e comercialização;

indicador de educação (nível de escolaridade e treinamento); índice de inovação tecnológica

e de gestão empregado pelas empresas (inovação tecnológica); e indicador de ações

coletivas das organizações locais em que as empresas estão vinculadas (cooperação).

Nota-se que essas 11 variáveis constituem um número considerado grande em

relação ao tamanho da amostra, que conta com apenas 54 empresas, em uma razão de

cinco observações para cada variável. A priori, isto estaria no limite do recomendado que

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seria a utilização de pelo menos cinco observações para cada variável. Diante deste

problema, foram feitos testes para aferir a adequação do método à amostra de dados. Os

dois principais testes aplicados foram: teste de esfericidade de Bartlett, que avalia a

significância geral da matriz de correlação, ou seja, testa a hipótese nula de que a matriz de

correlação é uma matriz identidade; teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) se baseia no

princípio de que a inversa da matriz de correlação se aproxima da matriz diagonal, para

tanto compara as correlações entre as variáveis observáveis. Valores deste teste abaixo de

0,50 são inaceitáveis (HAIR et al., 2005).

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ANÁLISE DOS RESULTADOS

ANÁLISE AGREGADA DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS

A madeira gera dois produtos principais a partir da extração da floresta em pé: a

madeira em tora, envolvendo bitolas diferentes, mas ainda com predominância da bitola de

6 m lineares de comprimento e a lenha para consumo das padarias, consumo doméstico nas

fazendas e/ou para a produção de carvão. O carvão se destina ao abastecimento de

churrascarias, restaurantes e consumo doméstico, sendo a maior parte destinada ao

abastecimento das empresas de ferro gusa ou simplesmente guseiras. Nesta pesquisa, foram

entrevistadas apenas as empresas que trabalham com o desdobramento da madeira:

serrarias, estâncias e movelarias.

Algumas empresas estão verticalizadas, pois a maior parte da madeira que utiliza tem

origem em planos de manejo próprio. Nas entrevistas, obteve-se: 76,9% da madeira das

serrarias legalizadas, estâncias e movelarias são oriundas de plano de manejo próprio; 9,6%

compram de produtores locais (do próprio município) com ou sem plano de manejo; 5,8%

compram o produto semi-elaborado de empresas (movelarias) e; 7,7% de áreas de manejo

comunitário ou de área de reserva (Tabela 1). Por estas respostas, as empresas entrevistadas

utilizam mais de 20% da matéria-prima de origem ilegal. Se forem consideradas apenas as

movelarias, 90% da madeira utilizada são obtidas de forma ilegal e os 10% são adquiridos de

estâncias. A razão é que a quase totalidade das movelarias opera na informalidade. Em

função dos produtos que fabricam, ao comprar madeira legalizada não conseguem vendê-lo,

pois o custo de produção torna-se muito elevado, por falta de tecnologia, máquinas,

equipamentos apropriados e design moderno para atingir um nicho de mercado de

consumidores de alta renda.

Tabela 1. Origem da madeira utilizada na produção das empresas entrevistadas, 2008.

Itens Freqüência Porcentual

Produção própria 40 76,9 Compra de produtores locais (com/sem manejo) 5 9,6 Compra de empresas o produto semi-elaborado 3 5,8 Área de manejo comunitário/reserva 4 7,7 Total 52 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

O mercado de madeira em tora e dos produtos gerados a partir de seu

desdobramento (madeira serrada, laminada, painéis, móveis e artefatos) está sendo

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regulado pelo Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis e Meio Ambiente -

IBAMA e Secretaria de Meio Ambiente - SEMA no Estado do Pará. Assim, a comercialização

de madeira é permitida se oriunda de um plano de manejo aprovado, extração autorizada e

fiscalização de sua distribuição ao longo de todos os elos da cadeia. Isto significa que a

madeira em tora é o elemento básico da regulação do mercado dos produtos madeireiros, o

que está de acordo com o conceito de cadeia produtiva, cujo fundamento está na existência

de uma matéria-prima de amplo mercado.

Na Amazônia, nunca houve “regulação de fato” da exploração, processamento e

comercialização da madeira. Diversos autores contam a história da exploração madeireira

em sinergia com as atividades de pecuária e agricultura, configurando a depredação das

espécies florestais de maior valor comercial, assim como da biodiversidade do bioma

amazônico ainda quase todo desconhecido (HOMMA, 1988; SANTANA, 2002). Neste

aspecto, o arranjo institucional, conforme Costa e Andrade (2007), não conseguem

solucionar o problema complexo que é o uso sustentável dos sistemas produtivos da

Amazônia.

A regulação se justifica per se, porque elimina o comportamento informal e “ilegal”

da maioria dos agentes, que enviesam as leis do mercado e desfavorecerem a utilização de

tecnologias apropriadas, o investimento em ciência e tecnologia, a formação de capital

humano e capital social e a preservação do capital florestal madeireiro e não-madeireiro.

Como a maioria das empresas da área de estudo opera de forma ilegal, obtendo

mais-valia da expropriação do trabalho e da natureza, a coordenação da atividade

madeireira torna-se um processo conflituoso. O desdobramento desta questão está levando

às consequências esperadas (porém indesejadas), que são o ataque ao patrimônio público e

privado e até o atentado contra a vida. Apesar disto, a sociedade organizada concorda que a

regulação da atividade florestal é uma condição necessária e suficiente para a exploração

sustentável dos recursos naturais. Além disso, as instituições estão dispostas a enfrentar o

problema de todas as formas para, ao final, se chegar a um mercado com maior

disponibilidade de informação e conhecimento, com critérios claros para a exploração dos

recursos florestais madeireiros e não-madeireiros.

Entretanto, um ponto de fricção está ocorrendo entre os madeireiros que querem

seguir as regras postas, que é a dificuldade operacional encontrada no que tange à

viabilização de seus planos de manejo. A burocracia, em função de problemas estruturais

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das instituições reguladoras, diante da massa de projetos apresentados e da dimensão e

dispersão das áreas territorializadas no espaço amazônico, não estão conseguindo dar

respostas em tempo hábil para o empresário. Há casos em que entre o protocolamento dos

projetos e a liberação, tem-se uma demora de até três anos. Em outras situações, o tempo

ultrapassou os três anos. Diante disso, as empresas passam a operar com grande capacidade

ociosa e/ou trabalha com madeira de origem ilegal.

As causas da demora na aprovação dos planos de manejo e outras questões

relevantes sobre a ação das instituições que atuam na região estão descritas no Box 1

(Apêndice 1).

Sabe-se, pela mídia, que o número de projetos com erros é grande. Porém, o

feedback sobre como solucionar o problema não é dado. Diante destes fatos, alguns

empresários vêem seu empreendimento indo à falência. Por conseguinte, analisam a

capacidade de fiscalização das instituições e resolvem arriscar, dando continuidade, porém

de forma ilegal, à atividade, para não fechar as portas da empresa. Então, com relativa

freqüência, os fiscais do IBAMA apreendem madeira oriunda de áreas não legalizadas. A

mudança das ações do IBAMA para a SEMA, no que tange à regularização dos planos de

manejo, dificultou o processo, porque a SEMA está sediada em Belém, portanto, não está

presente nas áreas de maior demanda dos planos de manejo. Com isto, o custo de transação

aumentou sobremaneira. Além disso, não há uma rede institucional operando, pois as

SEMMA dos municípios não têm poder de decisão, e o IBAMA passou apenas a fiscalizar as

atividades. Este arranjo institucional envolvendo o IBAMA, SEMA, IDEFLOR e SEMMA,

articulados com o INCRA e ITERPA está criando um clima de desconfiança sobre as ações da

institucionalidade por não conseguirem solucionar os problemas do setor florestal

madeireiro e não-madeireiro da região estudada.

A questão da regulação institucional do setor madeireiro passou a ser mais efetiva no

que se refere à apreensão de madeira ilegal, mediante a ampliação da atividade de

fiscalização. Todavia, em função da deficiência de pessoal para proceder com a fiscalização e

com os leilões para venda da madeira apreendida, esta continua sendo acumulada e

aumentando volume de madeira estocada, que continua se estragando em função das

condições inadequadas de armazenamento. O reflexo disso aparece nos pátios do IBAMA

(fotos superiores da Figura 4) e da CDP (fotos inferiores da Figura 4), onde grande volume de

madeira apreendida está sendo deteriorado. Especificamente, a madeira beneficiada que se

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encontra na CDP, é um reflexo da crise financeira mundial, que gerou cancelamento de

negócios e renegociação de contratos. Também existe madeira apreendida por

irregularidade na documentação.

Figura 4. Madeira em tora e beneficiada apreendidas pelo IBAMA no município de Itaituba e/ou acumulada na área da CDP, por causa da suspensão de contrato, 2008.

A deficiência de pessoal nos órgãos responsáveis pela regulação da cadeia produtiva

de madeira está atrapalhando, sobretudo as empresas que estão operando de forma legal,

pois existem diversos relatos de problemas com o cumprimento de contrato de exportação

por conta da demora na liberação da carga.

Assim, a regulação do mercado exige que as instituições resolvam o problema de

pessoal técnico e façam funcionar uma institucionalidade com eficiência. Quanto mais

demorar a concertação do problema, maior será o impacto sobre a economia local no que

tange ao aumento do desemprego e diminuição do mercado e, consequentemente, da

arrecadação de impostos.

Em função do quadro apresentado, a análise do mercado de produtos oriundo das

glebas da região Mamuru-Arapiuns ficou prejudicada, pois indicar a origem da madeira

procedente dessas áreas seria como assinar uma confissão de operação ilegal. Assim, 96,2%

informaram que a madeira tem origem no município, sem indicar se localizado na área de

estudo. Pesquisa paralela e depoimento de empresários, fora do questionário, dão conta

que ocorre extração de madeira da área de forma ilegal. O caso mais eminente é a madeira

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que sai por Juruti, é legalizada no Estado do Amazonas e depois retorna ao Pará. Portanto,

apenas 3,8% da madeira processada nas empresas entrevistadas têm origem na região do

Mamuru-Arapiuns. Este fato pode ser justificado pela abundância de árvores existentes nas

áreas de floresta dos municípios pesquisados.

Em Juruti também há um grande estoque de madeira nobre oriundas das áreas do

Projeto Juruti/ALCOA (fotos superiores da Figura 5). A madeira tem origem em áreas

manejadas, mas os comunitários não reconhecem a legalidade do processo de destinação

dessas áreas. Os comunitários de Juruti Velha embargaram a saída da madeira, extraída de

projeto de manejo, apreendendo a balsa. A madeira está sendo estragada em função das

condições inadequadas de armazenamento (Figura 5).

Figura 5. Madeira apreendida em Juruti Velha pelos comunitários e madeira extraída do Projeto Juruti/ALCOA, 2008.

A madeira extraída do Projeto Juruti/ALCOA é armazenada em condições também

inadequadas, em uma área chamada de “bota-fora”. Os comunitários e os empresários

entrevistados não entendem porque não se viabiliza a utilização da referida madeira antes

de se estragar (fotos inferiores da Figura 5).

A oferta de madeira em tora é formada pelo conjunto de espécies encontradas nas

serrarias e/ou movelarias e estâncias entrevistadas nos municípios da pesquisa. Na Tabela 2,

constam apenas as espécies com maior freqüência e para as quais foram fornecidas as

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informações de preço e custo de transporte. Outras espécies foram encontradas, porém não

foram reveladas as informações de quantidade e preço. Portanto, as empresas entrevistadas

estão trabalhando com 27 espécies de madeira, de valor comercial. Isto mostra a

diversificação e riqueza das áreas de florestas da região Mamuru-Arapiuns (Tabela 2).

Entre as espécies utilizadas na produção de madeira estão a andiroba e a copaíba.

Estas árvores são extraídas simplesmente pela necessidade de lucro imediato e/ou pelo não

interesse dos madeireiros em realizar a exploração de produtos não-madeireiros. Neste

caso, é possível mostrar que a preservação destas árvores para a extração de óleo geraria

um fluxo de renda equivalente ao obtido pela produção de madeira.

Tabela 2. Principais espécies encontradas nas serrarias, estâncias e movelarias, preço médio e custo de extração e transporte, 2008.

Nome da Espécie Quantidade

(m3)

Preço Médio (R$/m

3)

Valor Bruto (R$)

Custo Médio (R$/m

3)

01. Amapá 12 600,0 7.200,00 75,00 02. Andiroba 508 354,2 179.916,67 59,00 03. Angelim pedra 362 573,3 207.546,67 71,00 04. Cedro 406 532,5 216.213,91 61,00 05. Cedrorana 9 691,2 6.220,59 60,00 06. Copaíba 3.000 462,5 1.387.500,00 50,00 07. Cumaru preto 10.057 560,4 5.635.691,38 115,00 08. Cupiuba 22 170,0 3.740,00 100,00 09. Currupixá 25 187,0 4.675,00 35,00 10. Fava tapete 11 310,0 3.410,00 40,00 11. Freijó 79 606,9 47.941,71 50,00 12. Garapa 140 275,0 38.500,00 110,00 13. Goiabão 5 308,9 1.544,44 60,00 14. Guarupá 23 870,0 20.011,10 96,70 15. Ipê roxo 685 544,4 372.944,44 85,00 16. Itauba 160 900,0 144.000,00 225,00 17. Jarana 10 170,0 1.700,00 100,00 18. Jatobá 56 636,5 35.644,44 100,00 19. Louro 72 600,0 43.200,00 85,00 20. Marupá 321 391,3 125.591,25 50,00 21. Massaranduba 319 559,0 178.317,78 120,00 22. Mata Menino 12 400,0 4.800,00 70,00 23. Mogno 5 1.100,0 5.500,00 450,00 24. Muiracatiara 610 574,7 350.592,13 66,10 25. Sucupira amarela 5 750,0 3.750,00 100,00 26. Tatajuba 10 235,0 2.350,00 50,00 27. Tauari 600 334,2 200.500,00 50,00

Valor da produção 17.524 - 9.229.001,51 - Fonte: Pesquisa de campo.

Tomando-se o preço médio da madeira de R$ 507,30/m3 no pátio da empresa e o

custo médio de transporte é de R$ 97,60/m3, tem-se que no transporte da madeira dos

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planos de manejo até a fábrica gastam-se 19,24% do preço da madeira em tora. O custo

total médio da extração e transporte de madeira foi estimado em R$ 221,80/m3 (sem os

juros sobre capital e a remuneração do empresário). Portanto, a receita líquida média de

madeira em tora da área estudada é de R$ 285,50/m3. Esta seria a estimativa da receita

líquida que a empresa capitalista tem como objetivo maximizá-la.

A conta, geralmente utilizada para efeito de decisão sobre a extração madeireira é a

seguinte: admitindo que cada hectare explorado em regime de manejo produza 2,5 m3 de

madeira em tora por ano (dois cortes em ciclo de 20 anos e 25 m3/corte), tem-se um valor

da produção de R$ 1.268,25/ha/ano. A pecuária extensiva (sistema de cria-recria e engorda)

da região pesquisada produz 0,8 UA/ha e gera uma receita bruta de R$ 900,00/ha/ano.

Portanto, a exploração manejada gera uma receita equivalente a 40,92% superior ao valor

da pecuária extensiva. Se incluir no manejo sustentável, o aproveitamento de resíduo da

madeira e a extração de produtos não-madeireiros, a exploração florestal torna-se uma

alternativa à pecuária, sem computar o custo ambiental que a pecuária de corte produz.

Por outro lado, fazendo a mesma análise com base na receita líquida, tem-se que o

sistema de cria-recria e engorda da pecuária no Pará situa-se em torno de R$ 150,00 por

hectare, quase cinco vezes menor do que a exploração de madeira em tora. Portanto, no elo

de produção de madeira, a atividade apresenta viabilidade econômica superior à pecuária

extensiva no sistema de cria-recria e engorda.

Com relação à quantidade de madeira em tora declarada, de 17.524 m3

(considerando apenas as cinco espécies de maior importância para a empresa), isto

representa 14,3% dos 123.150 m3 informados no Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE (2008), para o ano de 2007. O valor da produção da madeira em tora

utilizada nas empresas entrevistadas foi de R$ 9.229,00 mil em 2007 e representou 56,3% do

valor apresentado pelo IBGE para os municípios estudados. Este resultado indica que a

madeira processada nas empresas tem um valor comercial superior, isto por conta do efeito

da certificação dos projetos de manejo.

Não obstante estes resultados, atualmente, as empresas estão atuando com grande

capacidade ociosa. Com base nos resultados da Tabela 3, tem-se que 55,8% das empresas

estão operando com mais de 36% de capacidade ociosa e 23,1% com mais de 50%. Por outro

lado, apenas 19,2% estão operando com até 10% da capacidade operacional da empresa

ociosa.

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Quais as razões que estão conduzindo às empresas operarem com grande capacidade

ociosa? Muitas respostas foram dadas, porém a maior concentração está na escassez de

madeira certificada, ou seja, oriunda de planos de manejo, para 68% dos entrevistados

(Tabela 4). A segunda mais importante razão, que está intimamente ligada à primeira, foi a

ação ineficiente do IBAMA/SEMA/MMA – Ministério do Meio Ambiente, por não

viabilizarem a aprovação dos planos de manejo apresentados pelas empresas e o maior

esforço dado à fiscalização da extração e comércio de madeira de origem ilegal.

Tabela 3. Nível de capacidade ociosa que a empresa está trabalhando, 2008.

Intervalos Freqüência Porcentagem

De 0 - 5% 4 7,7 De 6 - 10% 6 11,5 De 11 - 20% 4 7,7 De 21 - 35% 9 17,3 De 36 - 50% 17 32,7 Mais de 50% 12 23,1

Total 52 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

A terceira justificativa mais importante foi a falta de capital de giro para as empresas

financiarem estoques e a comercialização da produção. O alto custo de produção e os

impostos também foram apontados como responsáveis por inibir a atividade da empresa.

Das serrarias e moveleiras entrevistadas, poucas apresentaram estoques de madeira

em tora no pátio, exceto em Juruti, onde uma madeireira estava com grande estoque.

Algumas empresas não deixaram fotografar a parte interna. A Figura 6 contempla ilustrações

da situação encontrada nas empresas madeireiras e movelarias da área de estudo.

Tabela 4. Razões da grande capacidade ociosa das empresas entrevistadas, 2008.

Razões Madeireira Percentual

Alto custo de produção 9 18,0 Escassez de matéria-prima 34 68,0 Baixo poder aquisitivo do consumidor 5 10,0 Elevada concorrência de empresas informais 3 6,0 Falta de capital de giro 22 44,0 Ação deficiente do IBAMA/SEMA/MMA 21 42,0 Impostos elevados 8 16,0 Outra razão 11 22,0 Total 50 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

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Figura 6. Ilustração de duas serrarias (parte superior) e duas movelarias (parte inferior), 2008.

Os principais produtos gerados a partir do desdobramento da madeira, que

compreendem a formação da oferta dos produtos transacionados no mercado 2 são

apresentados na Tabela 5.

As informações disponibilizadas na Tabela 5 indicam que as serrarias dominam o

mercado, pois madeira serrada e madeira plainada representam 94,61% do valor da

produção. Estes produtos, na quase totalidade, se destinam ao mercado nacional e

internacional.

Analisando-se comparativamente as informações das Tabelas 2 e 5, observa-se que

os dados sobre as espécies utilizadas não refletem a realidade dos produtos. Ora, se para

cada m3 de madeira serrada exige-se pelo menos 3,0 m3 de madeira em tora e, em muitos

casos, o coeficiente de transformação é de 3:1, conclui-se que grande parte da produção de

madeira serrada deve ser ilegal. Estes resultados estão de acordo com as informações

obtidas junto ao IBAMA de Santarém e depoimento de outras instituições, organizações de

produtores e de empresários.

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Tabela 5. Principais produtos das empresas madeireiras entrevistadas, quantidade, preço e valor da produção, 2008.

Nome do produto Unidade Quantidade Preço Médio

(R$) Valor Bruto

(R$) Porcentagem

Madeira serrada m3 330.868 614,90 203.450.733,20 91,68 Madeira em tora m3 26.000 250,00 6.500.000,00 2,929 Cumaru m3 10.000 19,00 190.000,00 0,086 Esquadrias uma 5.481 203,40 1.114.835,40 0,502 Madeira plainada m3 3.756 1.538,80 5.779.732,80 2,604 Copaíba m3 3.000 17,00 51.000,00 0,023 Madeira m3 2.000 200,00 400.000,00 0,180 Deck m3 680 782,90 532.372,00 0,240 Cama uma 673 395,50 266.171,50 0,120 Móveis de escritório um 439 629,10 276.174,90 0,124 Porta uma 320 115,50 36.960,00 0,017 Ripão um 310 49,60 15.376,00 0,007 Tábuas m3 290 557,30 161.617,00 0,073 Mesa jantar uma 250 466,00 116.500,00 0,052 Pernamanca uma 210 116,70 24.507,00 0,011 Piso m2 190 1.400,00 266.000,00 0,120 Esteio um 180 32,20 5.796,00 0,003 Cadeiras um 168 173,50 29.148,00 0,013 Armário cozinha um 166 1.442,30 239.421,80 0,108 Móveis em geral um 152 10.600,00 1.611.200,00 0,726 Madeira para móveis m3 150 40,00 6.000,00 0,003 Guarda roupa um 118 1.230,80 145.234,40 0,065 Cômoda uma 104 361,30 37.575,20 0,017 Vigas m3 100 375,00 37.500,00 0,017 Janela uma 90 86,70 7.803,00 0,004 Móveis cozinha um 78 2.400,00 187.200,00 0,084 Caixilhos um 60 27,50 1.650,00 0,001 Caixas um 50 80,00 4.000,00 0,002 Quadrado para forro um 50 60,00 3.000,00 0,001 Piso engenheirado m2 40 1.300,00 52.000,00 0,023 Bancos um 35 150,00 5.250,00 0,002 S4S uma 30 26,00 780,00 0,000 Ripão telha um 20 55,00 1.100,00 0,000 Perfis um 15 1.500,00 22.500,00 0,010 Lambril m3 10 1.500,00 15.000,00 0,007 Armário banheiro um 8 450,00 3.600,00 0,002 Estante uma 7 1.122,20 7.855,40 0,004 Móveis reformados um 7 160,00 1.120,00 0,001 Mesa uma 5 261,10 1.305,50 0,001 Mesa centro uma 5 120,00 600,00 0,000 Rack um 5 500,00 2.500,00 0,001 Casa pré-moldada uma 4 75.000,00 300.000,00 0,135 Berço um 3 500,00 1.500,00 0,001 Balcão um 2 950,00 1.900,00 0,001 Valor da produção - - - 221.914.519,10 100,00

Fonte: Pesquisa de campo.

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Com relação à oferta de madeira em tora, o número de espécies comerciais utilizadas

no processamento industrial, juntamente com a revelação de que tais produtos existem em

abundância nas florestas desta última fronteira de mata densa, não se tem problema com a

oferta de matéria-prima para atender à demanda dos mercados, da forma como está sendo

explorada. Porém, com os planos de manejo que limitam a extração de madeira a 25

m3/ha/ano, pode-se ter escassez de oferta e, como consequência, o aumento no preço

internacional do produto. Aliás, isto já vem ocorrendo desde 2002, quando a ação do IBAMA

passou a ser mais efetiva na região estudada.

O problema foi revelado pelos entrevistados quando perguntados sobre a

disponibilidade de se obter madeira em tora de plano de manejo da região. Apenas 9,6% dos

entrevistados responderam que existe madeira certificada em abundância. Os 90,4%

restantes responderam que têm dificuldade de encontrar o produto (28,8%), que a madeira

está escassa (28,8%) e que está muito difícil (32,7%) abastecer a indústria nas condições

atuais (Tabela 6).

Tabela 6. Situação da disponibilidade de madeira em tora dos planos de manejo na região, 2008.

Situação do estoque Freqüência Porcentual

Abundante 5 9,60 Dificuldade de encontrar 15 28,85 Escasso 15 28,85 Muito difícil 17 32,70 Total 52 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

O grau de agregação de valor aos produtos das serrarias e das estâncias ainda é

baixo, para todas as empresas entrevistadas. Portanto, a oferta destes produtos é inelástica

a preço. Isto significa que a forma de ampliação do faturamento das empresas no mercado

interno se dá por meio de incrementos de preço e/ou por aumento da demanda puxado

pelo incremento de renda do consumidor. No lado do mercado internacional, o faturamento

tem relação direta com a desvalorização do câmbio e/ou com aumento dos preços. No

momento, em função da crise, a perspectiva do mercado apresenta grande incerteza. Sendo

assim, o caminho seguro é agregar valor aos produtos ao longo de toda cadeia. A

certificação é um fator de agregação de valor, pois o prêmio de preço entre a madeira

certificada e a madeira de origem ilegal atinge mais de 100% para algumas espécies.

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Os móveis e artefatos produzidos a partir da madeira também são rústicos,

elaborados a partir da madeira densa, fugindo do padrão tecnológico e design demandado

pelo mercado nacional e internacional (Figura 7).

A terceira foto da Figura 7, por sua vez, combina madeira com estofado, design

moderno e cores ajustadas à tendência do mercado consumidor de renda média e alta.

Portanto, esta empresa apresenta potencial para competir no mercado internacional.

Figura 7. Móveis de madeira densa com design rústico e móveis com design moderno, combinando madeira densa, estofado e vidro.

Com relação ao destino da produção, tem-se que, no último lustro, 54% dos produtos

foram comercializados no mercado regional e 46% fora da região, sendo 14% no mercado

nacional e 22% no mercado internacional (Tabela 7).

Tabela 7. Pessoal ocupado, faturamento e destino das vendas de produtos madeireiros, 2002/2010.

Anos Pessoal Ocupado

Faturamento médio (R$/ano)

Mercados de destino da produção (%)

Venda Município

Venda Estado

Venda Região

Venda Brasil

Venda Exterior Total

2002 2410 789.242,11 33,3 19,5 - 12,5 34,7 100,0

2006 1721 628.822,00 31,6 17,0 6,7 13,4 31,3 100,0

2007 1394 364.260,53 30,6 17,3 6,8 16,9 28,4 100,0

2010 1214 630.945,28 25,6 19,7 11,0 14,4 29,3 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

Observou-se uma tendência decrescente da participação das vendas para o mercado

internacional, caído de 34,7% em 2002 para 28,4% em 2007. Isto se deve ao efeito da

estrutura de governança implantada para coordenar a cadeia produtiva de madeira. A

exigência de plano de manejo e o aumento da fiscalização do IBAMA, juntamente com a

incerteza na liberação da extração de madeira dos planos de manejo aprovados em prazo

hábil, bem como a demora na liberação das cargas, contribuiu para elevar o custo de

transação e o risco da quebra de contratos. Em função disso, a madeira certificada se tornou

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escassa. No caso específico dos móveis, o Brasil perdeu parcela do mercado internacional

para a China, que conseguiu ampliar sua participação no mercado com produtos de maior

valor agregado, preços competitivos e com design moderno. Os móveis se destinam

praticamente ao mercado local e do Estado, em função do estilo tecnológico, qualidade do

acabamento e design dos produtos (SANTANA, 2008).

Os dados de faturamento e de ocupação de mão-de-obra revelaram um

desaquecimento do setor, sendo marcante a queda entre 2002 e 2007. Isto implicou em

redução de 53,85% no faturamento e de 42,17% no emprego. Portanto, o efeito da

regulação da atividade madeireira foi significativo para a economia local. Assumindo que a

maior parte das serrarias entrevistadas opera na legalidade, é necessário que a regulação do

setor pelo governo torne-se efetiva. Aliás, esta é uma expectativa revelada nos resultados

estimados para 2010, em que se espera gerar um maior faturamento e recuperar a parcela

do mercado internacional, que foi perdida ao longo deste período. Estes impactos negativos

se devem, fundamentalmente, a uma ação ineficiente do manejo institucional ligado a este

segmento da economia da Amazônia. Cabe ressaltar, entretanto, que a parcela do mercado

conquistada até então foi, em grande parte, à custa da utilização de mão-de-obra informal,

acesso a incentivos fiscais e crédito subsidiado, destruição da floresta e da biodiversidade. A

implantação efetiva de um marco regulatório, talvez possa recuperar grande parte deste

passivo.

As vendas para o mercado nacional tiveram comportamento inverso ao do mercado

internacional, em função do aumento do poder aquisitivo da população brasileira no

período. Como o Brasil, neste período apresentou firme taxa de crescimento da economia,

parte da oferta de madeira foi destinada ao mercado nacional, uma vez que o crescimento

do PIB é a principal variável definidora da demanda de madeira no Brasil, conforme Santana

(2002).

A inserção das empresas no mercado nacional e internacional indica que há demanda

para os produtos, uma vez que o mercado é amplo. A insatisfação dos empresários e os fatos

relatados como causa da dificuldade de acesso à matéria-prima, para que passem a operar

em plena capacidade é porque a demanda é superior à oferta destes produtos. Uma

demanda maior do que a oferta, como tende a prevalecer neste mercado, gera como

resultado um incremento do preço dos produtos. Com isto, viabiliza-se o custo do plano de

manejo.

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MERCADO AGREGADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS

Conceito de produtos não-madeireiros

Historicamente, a madeira nem sempre foi o produto principal da economia florestal

da Amazônia. A literatura registra que as drogas, a borracha, a castanha e o palmito

representaram durante longo tempo o interesse pela exploração dos recursos florestais, pois

o domínio da madeira no mercado internacional é relativamente recente (SANTOS, 1989;

HOMMA, 2004; BRITO, 2005).

Neste trabalho, considera-se produto não-madeireiro – PNM todos aqueles que

crescem e são colhidos em áreas de florestas, exceto madeira em tora, e não resultam da

atividade agropecuária e da aqüicultura. Neste caso, são considerados também os produtos

obtidos de plantas semidomesticadas em plantios ou sistemas agroflorestais, assim como os

peixes ornamentais e outros produtos da fauna silvestre. Este é um conceito em construção,

portanto não apresenta uma precisão científica.

Existem produtos não-madeireiros da Amazônia que têm expressiva representação

no mercado internacional, e alguns estão reproduzindo os resultados da “doença holandesa”

(dutch disease). Este termo se refere ao fato de um determinado local, região ou país ser

detentor de riquezas naturais que podem contribuir para o crescimento da econonia. O

recurso torna-se o produto principal da economia local e, às vezes, como foram os casos do

café no Brasil e da borracha na Amazônia, da economia mundial. Por falta de investimentos

em C,T&I, a pressão de demanda conduz a sua exaustão ou a substituição por produtos

sintéticos com maior escala de produção e menor custo. Neste aspecto, dutch disease é um

termo econômico que tenta explicar a aparente relação entre a exploração de recursos

naturais em substituição aos produtos sintéticos como são os casos do açaí e castanha-do-

pará, conforme destaque em estudos da FAO (2008) e Santana et al. (2008). O sentido aqui

empregado deste termo diz respeito à descoberta desses recursos naturais pelos

consumidores globais, que estão exercendo uma grande pressão na demanda e, por

conseguinte, exigindo a regulação de sua exploração, capitaneado por interesses de órgãos

governamentais e internacionais para investir na atividade.

Na região de estudo, pelo menos o pau-rosa já se apresentou como um produto que

causou o fenômeno da “doença holandesa”, cujo resultado foi sua exaustão, de acordo com

a profecia de Hardin (1968), pois não havia regulação para evitar a “tragédia dos comuns”

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evidenciada (o ciclo do pau rosa foi apresentado no Box 2, Apêndice 2). Porém, cresce o

interesse por produtos naturais com princípios ativos de potencial para combater problemas

de saúde, correlacionados ao consumo de produtos industrializados (sintéticos). Entre eles, a

região de estudo apresenta óleos (copaíba, andiroba, pequi e cumaru), açaí (antocianina) e

castanha-do-pará, entre os produtos ligados à saúde. Este aspecto é de fundamental

importância porque a exploração sustentável destes recursos pode obter apoio de

instituições internacionais que contribuam para que o Estado do Pará opere um amplo

programa de governança para a extração e agregação de valor aos produtos da floresta e da

fauna amazônica, de modo a proporcionar condições sustentáveis de sobrevivência e

aumento da qualidade de vida das populações de baixa renda das comunidades rurais e

urbanas, vinculadas às cadeias produtivas destes produtos.

Apesar disto, somente agora houve uma retomada de interesse da ciência e dos

governos na direção dos PNM. Isto tem ocorrido, particularmente, devido aos estudos que

mostram que além do potencial de ampliação de produtos obtidos, a atividade pode

proporcionar maior engajamento de pessoas, que passam a ter na atividade um importante

componente de subsistência. Há indicações de que a geração de emprego em florestas onde

se trabalha com a obtenção de PNM é de 5 a 15 vezes maior do que no processo da simples

exploração madeireira (BRITO, 2005).

Por outro lado, o sucesso na exploração dos PNM somente será garantido se forem

muito bem conhecidas suas disponibilidades e seus potenciais de sustentabilidade. Além

disso, deve-se ter uma boa informação sobre o mercado consumidor. Devem ainda ser

estimuladas ações que induzam ao processamento parcial ou total dos produtos próximo às

fontes dos recursos florestais, o que poderá aumentar as receitas dos produtores em termos

de comercialização. Necessário também se faz a prospecção de novos nichos de mercado

que os produtos podem preencher. Outro aspecto importante é a identificação da escala

apropriada para processamento dos recursos e os níveis de qualidade requeridos para os

produtos e de especialização dos empreendimentos. Em geral, na produção em escala

doméstica, o processamento limita-se à secagem e à embalagem dos produtos.

Na escala de produção comunitária, as operações podem incluir o processamento de

produtos medicinais, óleos vegetais, sabões, corantes e taninos. Em centros mais complexos

podem ser incluídos o processamento da goma-resina, ceras e óleos vegetais. Todas as

atividades devem ser iniciadas em escala piloto, no sentido de serem testados o processo, as

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qualidades do produto e as preferências do mercado. A definição por sistemas que

apresentem flexibilidade para o processamento de diferentes produtos poderá reduzir os

custos individuais dos produtos. Iniciativas do tipo foram identificadas nos municípios de

Itaituba e de Santarém, cujas análises serão desenvolvidas depois.

Mercado de produtos não-madeireiros

Os produtos não-madeireiros, embora tenham um mercado que está em franca

expansão - com alguns produtos distribuídos nos mercados de diversos países dos cinco

continentes como são os casos dos produtos gerados a partir do açaí, castanha-do-pará,

pau-rosa, óleo de copaíba - na região de estudo, tanto a oferta como a demanda são

pequenas. O mesmo ocorre com as ecobijoux e ecojóias produzidas com sementes, fibras,

penas e outros artesanatos fabricados com os produtos da floresta e da fauna. Os peixes

ornamentais, que sofrem maior pressão sobre os estoques naturais, também estão sendo

exportados para diversos mercados internacionais. Há, entretanto, um grande potencial

para a expansão da oferta destes produtos antes mesmo de a extração igualar a capacidade

de regeneração dos estoques naturais. Por outro lado, não se tem noção sobre a dimensão

do estoque dos recursos naturais com potencial de mercado da área de estudo. Para isto,

necessita-se desenvolver pesquisa para identificar os estoques, mapear sua área de

ocorrência, valorar o capital e promover sua utilização de forma racional e sustentável.

A regulação da extração destes produtos deve ser considerada no momento da

concessão das áreas e dos planos de manejo de exploração de reservas e FLONAS, pois como

o mercado por produtos não-madeireiros está crescendo, e em função da demanda de

grandes empresas, os preços devem aumentar a pressão sobre a matéria-prima. Isto pode

desencadear rapidamente o processo para uma superexploração dos recursos e a sua

conseqüente exaustão em curto espaço de tempo.

Os produtos extrativos, tanto madeireiros quanto não-madeireiros, apresentam

comportamento sazonal e a oferta, de modo geral, vincula-se a um processo de

esgotamento dos recursos naturais, em função do uso comum que, geralmente, leva a uma

extração maior do que a capacidade natural de reposição dos estoques. A exploração

extrativa também está associada a uma organização rudimentar da produção, com escala

inadequada, baixos níveis tecnológicos e de informação, e baixa produtividade do trabalho.

Neste ponto, é fundamental a identificação de nichos de mercado e alternativas de

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comercialização, visando ajustar o volume da produção às condições de demanda do

mercado. Um passo importante nesta direção diz respeito à organização das comunidades

para fazer a coleta de forma racional dos produtos e iniciar seu processo de industrialização,

visando à integração com grandes empresas inseridas no mercado internacional.

Na medida em que a demanda aumenta, em função da capacidade limitada da

oferta, gera-se desequilíbrio no mercado de produtos, cujas conseqüências se refletem no

aumento de preços. Este, por sua vez, estimula a pressão sobre a extração dos recursos, que

se não regulada, rapidamente conduz ao esgotamento dos recursos. As alternativas para

enfrentar o problema estão no investimento em conhecimento científico e tecnológico,

formação de capital humano e capital social, visando à domesticação das espécies e

implantação de cultivos visando equilibrar o mercado e, ao mesmo tempo, diversificar a

oferta dos produtos para aumentar a sustentabilidade da produção e a comercialização

desses produtos (HOMMA, 2008).

No caso da região estudada, o pau-rosa, a castanha-do-pará, o palmito e o cipó-titica

são casos de superexploração. Os produtos como óleos (copaíba, andiroba e piquiá) estão

sendo extraídos no limite da capacidade produtiva das áreas identificadas como de maior

densidade, e outros produtos como cascas, sementes, folhas, estão sendo explorados bem

abaixo da capacidade produtiva da floresta. Por conseguinte, na região estudada há uma

grande concentração de produtos não-madeireiros, envolvendo produtos da fauna (mel de

abelha, penas de aves e peixes ornamentais) e da flora (sementes, óleos, folhas, cascas,

raízes, gomas e látex). No Box 3, Apêndice 3, apresenta-se uma lista de produtos não-

madeireiros. Isto facilita a ampliação da escala de produção de um leque de produtos

diferentes, que articulados em rede com outras organizações no Pará, deve continuar

atendendo, de forma sustentável, a expansão do mercado nacional e internacional sem

produzir a exaustão dos recursos. Naturalmente, necessita-se de uma governança com

nódulos eficientes de coordenação da cadeia de valor destes produtos. Necessita-se,

portanto, de uma ampliação do volume, qualidade e padronização dos produtos, nos

diversos territórios.

Na Figura 8 consta uma amostra de alguns tipos de óleos, leite de sucuuba, mel,

casca de árvores e semente de cumaru extraídos da região estudada.

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Figura 8. Óleos de andiroba, copaíba, cumaru e piquiá, leite de súcuba, mel, cascas de árvores com princípios ativos medicinais, e sementes de cumaru, comercializadas no mercado de Santarém, 2008.

Observa-se que os óleos não apresentam padrão de qualidade. A embalagem e

rotulagem dos produtos não estão adequadas para a comercialização em mercados onde o

consumidor é mais exigente em qualidade. Uma parte destes produtos é comercializada no

mercado local e o restante se destina aos demais mercados: estadual, regional, nacional e

internacional.

Na região estudada, os principais produtos não-madeireiros comercializados estão na

Tabela 8. Nesta tabela constam peixes ornamentais, óleos, cascas, sementes e artesanatos

diversos. Estes produtos definem três cadeias produtivas: a cadeia de óleos e essências, a

cadeias de sementes e gemas e a cadeia de peixes ornamentais. De modo geral, os produtos

apresentam baixo valor agregado, em função de diversos aspectos de deficiência na

estrutura produtiva e de comercialização. Os peixes representam a maior parcela do valor da

produção, em função da quantidade capturada e da demanda de mercado ser

substancialmente maior. Na seqüência aparecem os óleos, seguido dos produtos do

artesanato.

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Tabela 8. Produtos não-madeireiros, quantidade e preços, 2008. Nome Unidade Quantidade Preço médio Valor (R$)

Acará disco um 1.000 2,50 2.500,00 Acari um 52.500 1,00 52.500,00 Acari arábica um 4.000 1,20 4.800,00 Acari cara chata um 3.000 1,20 3.600,00 Acari onça um 6.500 1,30 8.450,00 Acari tigre de bola um 4.500 1,50 6.750,00 Acari titanic um 20.000 5,00 100.000,00 Bola Branca uma 12.000 4,00 48.000,00 Dicrossus (piabas) uma 5.000 0,80 4.000,00 Touro um 20.000 2,00 40.000,00 Apistograma um 5.000 2,00 10.000,00 Barbatimão um 10 1,00 10,00 Sandálias par 14 18,00 252,00 Tornozeleiras uma 120 2,00 240,00 Anéis um 200 3,00 600,00 Bolsa uma 40 60,00 2.400,00 Brincos um 265 5,00 1.325,00 Cintos um 40 18,00 720,00 Colares um 63 15,00 945,00 Copaíba l 60 25,00 1.500,00 Pulseiras uma 140 4,00 560,00 Andiroba l 520 25,00 13.000,00 Óleo de piquiá l 80 25,00 2.000,00 Sacaca sc 65 1,00 65,00 Unha de gato sc 10 1,00 10,00 Sabonete um 60 2,00 120,00 Santo Domingo (Massagem) - 90 8,00 720,00 Vela uma 20 2,00 40,00 Verônica uma 30 1,00 30,00 Mel l 15 10,00 150,00 Outros - 170 5,00 850,00 Valor total - - 306.137,00

Fonte: Pesquisa de campo.

A maioria dos produtos não-madeireiros da região é comercializada no mercado local

e no Estado, pois em 2007, as vendas para esses mercados totalizaram 57,8%. As vendas

para o Brasil totalizaram 10% e para o mercado internacional 32,2% (Tabela 9). Os produtos

destinados aos mercados do Estado e internacional apresentaram tendência crescente, o

que sinaliza para um incremento na demanda pelos produtos. Para 2010, as expectativas

visam orientar as vendas para fora do mercado municipal, com o objetivo de abastecer aos

mercados mais amplos e deixar a dependência da comercialização, sobretudo dos

artesanatos, aos poucos turistas que visitam a cidade.

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Com relação às vendas para o mercado internacional, os peixes e os óleos são os

produtos exportados de forma mais freqüentes, em função do volume produzido e da

demanda de grandes empresas e/ou de intermediários à procura destes produtos.

Tabela 9. Destino das vendas dos produtos não-madeireiros, 2008.

Anos Pessoal Ocupado

Faturamento Médio (R$)

Mercados de destino da produção (%)

Vendas Municípios

Vendas Estado

Vendas Região

Vendas Brasil

Vendas Exterior Total

2.002 36 33.333,33 24,8 34,1 14,6 6,8 19,7 100,0

2.006 65 24.326,00 34,6 30,2 - 11,0 24,2 100,0

2.007 59 13.528,57 21,9 35,9 - 10,0 32,2 100,0

2.010 560 41.275,00 - 49,8 - 13,8 36,4 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

No caso dos produtos fabricados a partir de sementes, a tecnologia empregada é

rudimentar e o volume produzido é pequeno, com poucas possibilidades de comercialização

para mercados mais amplos. O exemplo é que muitos pedidos são ignorados por simples

incapacidade de atendimento. Neste ponto, falta espírito empreendedor e avançar no

campo da organização da produção em rede, visando conectar toda a produção de

ecobijoux, ecojóias e outros artesanatos do Estado do Pará, para desenvolver um plano de

marketing de venda destes produtos. A demanda nacional e internacional por este tipo de

produto é grande e crescente, inserida tanto no canal estabelecido pelo “mercado justo”,

quanto de mercado amplo de PNM.

A oferta dos produtos não-madeireiros está nos países em desenvolvimento.

Segundo a FAO (2008), portanto, a Amazônia e, particularmente, o Estado do Pará concentra

grande parte dos produtos com potencial de comercialização no mercado internacional

(pau-rosa, castanha, açaí, cupuaçu, cumarina, copaíba, peixes, ecobijoux e ecojóias). Apesar

da pressão dos produtos sintéticos que possuem uma oferta regular, os PNM são

potencialmente explorados nos países em desenvolvimento com mão-de-obra barata e

abundante.

Embora o comércio internacional dos PNM seja relativamente conhecido, o mesmo

não ocorre com a cadeia de produção e comercialização de produtos negociáveis no

mercado doméstico. A viabilidade econômica do extrativismo depende, em alguma medida,

da capacidade de concorrência com outros meios de produção. Segundo Anderson (2005), a

perda de competitividade do extrativismo frente às outras formas de produção deve-se em

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parte à dispersão dos recursos naturais e da população envolvida nesta atividade. A

dispersão reduz a produtividade da terra e da mão-de-obra e a sazonalidade aumenta a

capacidade ociosa e produz descontinuidade no fluxo de produção e comercialização.

No caso dos produtos não-madeireiros, a regulação das áreas de extração está em

processo. Apenas as comunidades da FLONA Tapajós têm uma regulação do IBAMA, embora

de baixa efetividade.

Sobre os planos de manejo, necessita-se avançar mais, pois é necessário valorar os

produtos não-madeireiros da floresta e da fauna, nas áreas autorizadas para a exploração

sustentável de madeira. Os planos de manejo, quando muito, evoluem até o aproveitamento

dos resíduos gerados com a extração madeireira, aproveitando pequenas toras para

artefatos e móveis, galhos, tocos e raízes para a fabricação de carvão. É necessário

contemplar outros produtos como frutas, folhas, cascas, óleos, etc.

A origem da matéria-prima utilizada na fabricação de produtos não-madeireiros da

região pesquisada que provém de produção própria representa a menor parcela de 25%. A

maior parte é oriunda de produtores locais de áreas manejadas ou não (41,7%) e outra

parcela de 33,3% vem das áreas de reserva (Tabela 10).

Tabela 10. Origem da matéria-prima para os produtos não-madeireiros, 2008.

Itens Não-madeireiro Porcentual

Produção própria 3 25,0 Compra de produtores locais (com/sem manejo) 5 41,7 Área de reserva 4 33,3 Total 12 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

Com relação ao artesanato feito a partir de restos de árvores e troncos, reproduzindo

animais e aspectos da cultura regional, tem-se uma menor participação no mercado.

Observa-se, pelas características dos produtos, que eles reproduzem a cultura local, com os

principais animais da fauna sendo representados (Figura 9).

O artesanato de madeira produzido em Juruti é mais rústico, embora com os mesmos

traços artesanais. Os produtos de Santarém combinam peças de madeira com produtos

fabricados de cipó e de palhas de palmeiras da região. Este fato além de diversificar a

produção acompanha uma linha comercial mais atrativa, porque apresenta elementos de

persuasão para atrair os consumidores e estimular a aquisição dos produtos.

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Figura 9. Artesanato de Juruti (fotos superiores) e de Santarém (fotos inferiores), 2008.

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ANÁLISE DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS POR MUNICÍPIO

Mercado de madeira de Itaituba

De acordo com o IBAMA, 60% ou mais da madeira em Itaituba ou é clandestina ou

burlou o sistema. Há várias formas de burlar o sistema, principalmente, os planos de manejo

aprovados que são usados como “pano de fundo” para a extração clandestina da madeira

(Figura 10).

Figura 10. Madeira serrada no pátio da CDP, toras e caminhão apreendidos pelo IBAMA de Itaituba.

Há uma grande demora para se concretizar a culpabilidade do dano. Muitas vezes

quando se constata a culpa, a madeira até já foi exportada. Os empresários embutem 5% no

valor de suas vendas, sendo esse o custo da multa. As madeiras priorizadas são, sobretudo,

as nobres, tipo exportação. No caso do ipê, o m3 pode chegar a US$ 2,000.00 no exterior.

Grande parte da madeira de Itaituba sai serrada bruta para Belém, onde é repassada para as

grandes empresas exportadoras.

As perdas são grandes, o coeficiente de transformação nas empresas pesquisadas

mostra que são necessários 3,0 m3 de madeira em tora para gerar 1,0 m3 de madeira

serrada. O ideal, conforme o IBAMA é que cada 1,66 m3 gere 1,0 m3 de madeira serrada.

Porém, a tecnologia utilizada não permite este rendimento.

Segundo a Secretaria de Estado da Fazenda - SEFA, quase 100% da madeira no

município é exportada, por isso não gera imposto, pois a Lei Kandir isenta o produto de

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços - ICMS.

A crise mundial também tem afetado demasiadamente o setor. A madeireira

Tiberwizi já “amarga” o efeito de contratos desfeitos. Atualmente está com 100 m3 de

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madeira serrada no porto de Santarém devido a um contrato desfeito e mais 250 m3 de

estoque forçado na empresa.

Esta informação foi corroborada pela Companhia de Docas do Pará - CDP, ao destacar

que no ano de 2008, considerando até o mês de outubro, foram 15.000 toneladas

exportadas de madeira serrada. Em 2007, mesmo período, foram 116.554 toneladas

exportadas e, em 2006 foram 79.874 toneladas. Quanto à tarifa portuária (o preço da tarifa

portuária é de R$ 2,73/t), em 2007, foram gerados de taxa R$ 419.758,74; em 2006, R$

310.851,51; e em 2008 R$ 390.400,00 (deste valor, deve-se considerar que cerca de R$

100.000,00 é o pagamento pelo armazenamento da madeira no porto que atualmente está

sem comprador). A crise fez a exportação diminuir em quase 80% desde o mês de agosto.

A CDP coloca como prazo oito dias para que o empresário deixe sua madeira na

companhia, passando isso, inicia a cobrança de taxa pelo armazenamento. A taxa é alta para

evitar que o pátio da instituição vire depósito. Isto atualmente tem acontecido com muita

freqüência, em virtude, da crise que faz quebrar contratos. Por isso, pode-se observar o

pátio da CDP cheio de madeira serrada, algumas já até mesmo depreciando devido às

intempéries a que estão expostas (Figura 10).

O destino dessas madeiras é a Europa, Ásia e América do Norte, cujo envio é feito,

principalmente, pelas traders Robco (instalada no município de Breves) e Tradelink (em

Belém). Atualmente somente se tem exportado o ipê, madeira utilizada na fabricação de

deck para piscina.

Mercado de móveis de Itaituba

O setor moveleiro de Itaituba é constituído de micro empresas que já atuam há mais

de três anos na atividade e empregam, em média, sete funcionários, incluindo mão-de-obra

familiar. A estrutura das empresas, modo geral, restringe-se a um barracão com máquinas e

equipamentos básicos como serras e plainadeiras já obsoletas, e bancadas rústicas. A

demanda é basicamente local, cerca de 95% se dá no próprio município, e a principal forma

de trabalho é por encomenda, o que dificulta a ampliação da escala e o tamanho das

empresas, visto ser muito difícil planejar qualquer tipo de expansão, balizando-se em

demandas pontuais. Mesmo assim, tudo o que se produz fora das encomendas é vendido. A

Figura 11 ilustra a estrutura das empresas moveleiras de Itaituba.

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Figura 11. Equipamentos das movelarias de Itaituba: plaina, serra e ambiente interno da empresa.

Em termos de inovação tecnológica e de gestão, nota-se completa ausência.

Nenhuma empresa investiu em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) de produto, processo

e/ou gestão (SANTANA, 2008)

As espécies empregadas na fabricação de móveis são adquiridas de laminadoras e

estâncias em Itaituba, ou em Miritituba, na maioria das vezes sem nota fiscal, pois para se

expedir a nota é necessário adquirir no mínimo três metros cúbicos de madeira legal. As

espécies mais empregadas são: cedro (Cedrela fissilis), angelim pedra (Hymenolobíum

excelsum), muiracatiara (Astronium lecointei); freijó (Cordia goeldiana) e marupá (Simarouba

amara). As quantidades adquiridas de madeira para produção de móveis varia entre um e

sete metros cúbicos por mês (Tabela 11). O custo de transporte da matéria-prima adquirida

em Itaituba é de R$ 30,00, entretanto se esta for comprada em Miritituba, o custo sobe para

R$ 150,00.

Tabela 11. Principais espécies, quantidades e preços de madeiras empregadas na fabricação de moveis em Itaituba – PA.

Espécie de Madeira Quantidade adquirida

m3/mês Preço (R$/m3)

Angelim pedra (Hymenolobíum excelsum) 1,0 400

Cedro (Cedrela fissilis) 1,0 a 7,0 600

Freijó (Cordia goeldiana) 1,0 600

Marupá (Simarouba amara) 1,0 550

Muiracatiara (Astronium lecointei) 1,0 400

Fonte: Pesquisa de campo.

Os móveis produzidos em quase todas as empresas do município são rústicos, com

estilo retilíneo com acabamento à base de verniz. Alegou-se que a falta de crédito para

aquisição de novas máquinas e o baixo nível de renda das famílias, contribui para a produção

de produtos com design ultrapassado e menos sofisticados. Estes dois fatores associados à

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escassez de matéria-prima e alto custo de produção fazem com que as empresas operem

com uma capacidade ociosa acima de 50%.

Por outro lado, a movelaria da “A Mão Cooperadora”, de uma Organização não-

Governamental - ONG vinculada a uma instituição religiosa, sediada em Itaituba desde a

década de 1980, é uma referência em estilo e design moderno de móveis. Seus produtos são

direcionados ao nicho de mercado de classe de renda alta. A Figura 12 contrasta o padrão de

qualidade móvel produzido na média das empresas de Itaituba com aqueles produzidos na

ONG.

Figura 12. Móveis com padrão tecnológico das movelarias de Itaituba e da movelaria da ONG A Mão Cooperadora.

A diferença de preço é considerável, chega ao patamar de 154,5% para guarda-roupa,

por exemplo. Os preços médios praticados no mercado de Itaituba são apresentados na

Tabela 12.

As quantidades produzidas de cada produto variam muito em função da

disponibilidade de matéria-prima e demanda de mercado. Assim em determinado período

do ano surgem mais pedidos de portas e camas, por exemplo. Então, a produção se

concentra nestes dois produtos, até que surja uma nova demanda, e o processo de produção

é então reajustado para atender este fim. Para alguns entrevistados, este é o maior

problema do setor, pois é muito difícil fazer um planejamento com base em uma demanda

incerta, tanto em produto quanto em quantidade. Por conta disso, o setor não se moderniza

porque ninguém quer assumir riscos de novos investimentos que não sabe se vai poder

pagar.

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Tabela 12. Tipo de produto e preço médio praticado no mercado moveleiro de Itaituba – PA.

Tipo de Produto R$/unid.

Porta 130,00

Armário 750,00

Guarda-roupa 1.100,00

Estante 700,00

Rack 500,00

Balcão 950,00

Fonte: Pesquisa de Campo.

Outro aspecto fundamental é a escassez de matéria-prima de qualidade. As

movelarias trabalham com o aproveitamento de madeira, ou seja, o refugo das laminadoras.

Foi ressaltada a dificuldade de transporte da madeira devido às fiscalizações do IBAMA.

Apesar de observarem que é uma vantagem estar perto da matéria-prima, as ações do

IBAMA restringem sua utilização. Algumas vezes, a madeira vem de área de manejo,

entretanto, sem nota fiscal, já que o preço da nota é maior do que o preço do próprio

produto. Por exemplo, um metro cúbico de cedro (Cedrela odorata) é R$ 700,00,

proveniente de área de manejo. Se for expedida nota fiscal para este mesmo produto, a

madeira passa a ter o valor de R$ 1.500,00/m3.

Um moveleiro relatou que há dificuldades na região para desenvolver os

empreendimentos, em virtude da falta de qualificação técnica da mão-de-obra e dos

empresários. Faltam cursos técnicos profissionalizantes para os profissionais deste segmento

produtivo. O desperdício de madeira é grande, pois apenas 70% da madeira serrada é

transformada em móvel, que ocorre em virtude da falta de qualificação e de tecnologia, o

que tem um impacto negativo direto sobre o meio ambiente.

Outra questão apontada foi que produzir com qualidade é considerada uma grande

dificuldade, pois não há ferramentas adequadas. Apesar disso, não têm dificuldade para

vender a produção para os consumidores de baixa renda locais.

As instituições do governo que poderiam ser agentes-chave neste processo deixam a

desejar em suas ações. Segundo os entrevistados, o SEBRAE iniciou uma série de

treinamentos com o fim de estruturar o pólo moveleiro de Santarém, Altamira e Itaituba, os

cursos perduraram por cerca de três anos e para alguns entrevistados contribuíam de forma

significativa para a gestão do negócio e a concepção empresarial da atividade, mas faltou

continuidade e afinidade com ações empreendidas por outras instituições, como a de

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microcrédito para renovação do parque tecnológico. Atualmente, os empresários locais

sabem calcular custos e tomar decisões com menos risco, mas não conseguem acompanhar

as tendências do mercado e se limitam a vender a produção somente no mercado local,

embora almejem alçar vôos mais altos. Acrescente-se a isso, a iniciativa, no ano de 2000, da

criação do pólo moveleiro de novo progresso que teve conseqüência desastrosa no mercado

de Itaituba, por conta do movimento migratório de empresas e de mão-de-obra, que foram

em busca de novas oportunidades.

As empresas de Itaituba assumem sua parcela de culpa no processo, quando

admitem não haver união no grupo. Existe uma cooperativa (Coopermóveis), mas as

negociações ocorrem de forma isolada, não foi criado um sentimento de coletividade, de

busca de melhorias para o setor como um todo, embora a cooperativa exista de direito, de

fato cada empresa decide seu negócio e toma decisão conforme o que é melhor para si. Ou

seja, as empresas atuam de forma individual nas suas relações com fornecedores e com

clientes e não coletivamente como deveria ser.

Mercado de madeira de Santarém

Em Santarém, restaram médias e grandes madeireiras que destinam sua produção ao

mercado internacional dos seguintes países: China, Holanda, Estados Unidos, Alemanha,

Bélgica, Japão e Itália, na forma de madeira serrada e plainada. As principais espécies de

madeira comercializadas são: muiracatiara, freijó, cedrorana, cumaru, ipê e cedro. A madeira

em tora destas espécies é adquirida a um preço médio de R$350/m3 de produtores

extrativistas do entorno da FLONA e do município de Alenquer.

As empresas extraem 80% da madeira em tora de área própria é ofertada por

pequenas e médias empresas em Santarém, onde cerca de 80% são oriundas de área própria

de plano de manejo e de área autorizada pelo IBAMA e 20% são adquiridos de produtores

locais com ou sem manejo.

Estas empresas fazem o desdobramento da madeira (madeira serrada e madeira

laminada), secam em estufa ou ao ar livre, imunizam e fazem o alisamento (madeira

plainada). O nível tecnológico destas empresas é o mais avançado e moderno da região

pesquisada. A Figura 13 ilustra a madeira em tora e o processo de desdobramento da

madeira realizado em uma serraria de Santarém.

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Figura 13. Madeira em tora e processo de desdobramento da madeira em Santarém.

Mercado de móveis de Santarém

As estâncias e movelarias de Santarém enfrentam dificuldade para adquirir madeira

serrada de origem de planos de manejo, em função do preço elevado. Cerca de 70% dos

moveleiros compram madeira da Estância Tapajoara e as principais espécies trabalhadas

são: cumaru, freijó, muiracatiara, e agora a marupá, como uma nova alternativa de matéria-

prima, por ser madeira branca e mais barata, que as serrarias desperdiçam. A madeira é boa

de trabalhar e apresenta boa qualidade e durabilidade.

As 52 movelarias de Santarém (formais e informais) estão ligadas à Associação dos

Moveleiros e ocupam cerca de mil pessoas. Estas empresas são especializadas na fabricação

de camas, armários, cômodas, cadeiras e em serviços de reparos de móveis (Figura 14).

Figura 14. Móveis de madeira densa: armário e cadeiras, produzidos nas movelarias de Santarém.

Segundo Santana (2008), estes produtos se destinam ao mercado local, principalmente

para as populações de média e baixa renda. Os móveis são rústicos e de baixo padrão de

qualidade, portanto, sem possibilidade de venda no mercado internacional.

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Mercado de madeira de Juruti

Em Juruti existe apenas a serraria IMAPIN. A empresa possui um projeto de manejo

que está sob análise desde o ano 2000. Já adotaram todas as providências solicitadas pelo

INCRA e o ITERPA, mesmo assim não conseguem a aprovação. Até 2006, o IBAMA era o

responsável por esta ação, atualmente é a Secretaria de Meio Ambiente - SEMA. Alega que o

IBAMA expedia autorização para o colono fazer desmatamento em até três hectares, o que

possibilitava a aquisição de até 60 m³ de madeira em tora com garantia de procedência

legal. Após passar para a SEMA, em 2007, localizada em Belém, ficou difícil, pois a Secretaria

Municipal de Meio Ambiente - SEMMA não tem autorização para emitir essa documentação

e, com isso, o colono ficou impedido de vender. Mas o colono tem que desmatar para poder

produzir e se sustentar. Este fato talvez explique o porquê das movelarias comprarem

madeira sem certificação. Acredita que a maior dificuldade seja a falta de legalização das

terras e a desorganização das inúmeras comunidades rurais e que o Projeto Juruti (ALCOA)

trará impactos negativos para a população urbana.

Mercado de móveis de Juruti

Antes de 2007, em Juruti existiam sete movelarias informais. Atualmente existe um

número maior, porém quase todas operam na informalidade. A madeira comprada na

comunidade é muito mais barata que a comprada na serraria. Por exemplo: o preço do

angelim é R$ 400,00/m³ (na comunidade) e R$ 900,00/m³ (na serraria). A Prefeitura cria

dificuldades para o licenciamento. A empresa de Juruti Velha, que tem projeto de manejo,

vende a madeira para fora do município. Para beneficiar a madeira junto à serraria paga-se

R$ 200,00/hora e isso torna o produto muito caro não possibilitando a venda de uma cama

para o mercado local. Alegam que têm que abrir a madeira e isso esquenta o motor

forçando-os a parar para esfriar, o que diminui a produtividade. Reforçam que estão na

dependência de uma única serraria que vende mais caro, pois não há competição; dessa

feita, acreditam que a “concessão da floresta” para os colonos ajudaria na resolução dessa

questão. Acreditam que a ALCOA ajuda, pois vai forçar a legalização. Atestam que toda

madeira trabalhada vem da região, principalmente da gleba Curumucuri. Reconhecem que

ao trabalharem com madeira retirada com motosserra incorrem em perdas durante o

beneficiamento, principalmente porque seus instrumentos de trabalho (na maioria) não são

os mais modernos, prejudicando a obtenção eficiente de peças e cortes específicos.

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Os principais produtos madeireiros utilizados por serrarias, estâncias e movelarias

estão apresentados na Tabela 13.

O cotejamento das informações obtidas permite inferir que são essas as principais

espécies trabalhadas, tanto para extração de madeira como não-madeira. Não obstante,

convém notar que angelim, cedro, cumaru, ipê, itauba, muiracatiara e pau amarelo foram as

espécies mais citadas pelos entrevistados:

Tabela 13. As cinco principais espécies madeireiras utilizadas pelas empresas de Juruti, 2008.

Nome popular Nome científico

Acapu Vouacapoua americana Aubl.

Amarelão/garapa Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr.

Andiroba Carapa guianensis Aubl.

Angelim Dinizia excelsa Ducke

Angelim pedra Hymenolobium heterocarpum Ducke

Angelim rajado Pithecellobium incuriale (Vell.) Benth.

Angelim vermelho Dinizia excelsa Ducke

Cedro Cedrela odorata L.

Cedro vermelho Copaíba Copaifera guianensis Desf.

Cumaru Dipterix odorata (Aubl.) Willd.

Cupiuba Goupia glabra Aubl.

Freijó Cordia goeldiana Huber

Ipê Tabebuia sp.

Itauba Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez

Marupá Jacaranda copaia (Aubl.) D.Don

Muiracatiara Astronium lecointei Ducke

Pau amarelo Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers.

Quaruba Vochysia paraensis Ducke

Sucupira Diplotropis purpurea (Rich.) Amshoff

Tatajuba Bagassa guianensis Aubl

Tauari Couratari oblongifolia Ducke & R.Knuth

Tauari vermelho Couratari sp.

Taxi Tachigali paniculata Aubl.

Fonte: Pesquisa de campo.

Mercado de móveis de Aveiro

Em Aveiro foram entrevistadas três movelarias, sendo duas na sede do município e

uma na Vila Fordlândia. Na realidade, trata-se de marcenarias de “fundo de quintal”, que

trabalham por encomenda dos clientes do mercado local. A madeira utilizada pelas

marcenarias da sede do município é oriunda do “beiradão”, fornecida pelos agricultores ou

colonos da região, por ocasião da derrubada da mata para o plantio das culturas. Estes

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colonos são das regiões de Santa Cruz, Cupari, Apacé e Daniel, que exploram projetos de

assentamentos ainda não homologados pelo INCRA. A movelaria de Fordlândia, além de

madeiras compradas dos colonos, adquire madeiras de uma serraria do km 85 da

Transamazônica.

As empresas enfrentam dificuldades de mercado, pelo baixo poder aquisitivo dos

consumidores, assim como pela falta de capital de giro para movimentar o negócio e

trabalhar com madeira legalizada, uma vez que os projetos de manejo ficam distantes e o

custo de extração e de transporte oneram o preço da madeira e, por consequência, o

produto final.

As espécies de madeira utilizadas com maior frequência nas movelarias de Aveiro

são: cedro, muiracatiara, angelim, cupiuba, marupá. A movelaria de Fordlândia, além dessas

espécies, utiliza a andiroba. Os principais produtos fabricados por essas movelarias são:

guarda-roupas, mesas, cadeiras, rack, portas, janelas, caixilhos e cama.

Os coeficientes técnicos revelados pelas movelarias foram, em média, os seguintes:

• 1,0 m3 de madeira em tora = 10 portas;

• 1,0 m3 de madeira em tora = 20 jogos de caixilhos;

• 1,0 m3 de madeira em tora = 15 janelas;

• 1,0 m3 de madeira em tora = 8 guarda-roupas;

• 1,0 m3 de madeira em tora = 100 cadeiras;

• 1,0 m3 de madeira em tora = 20 camas.

As serrarias de Aveiro fecharam em março de 2008, em função da ação do IBAMA e

da SEMA, uma vez que estavam utilizando madeira de áreas não autorizadas. Uma das

madeireiras protocolou na SEMA, a solicitação para um novo projeto de manejo para

exploração de madeira na 5ª vicinal da comunidade Nova Esperança. Apesar de Aveiro

abrigar a reserva extrativista Tapajós-Arapiuns, até o momento, não se extrai madeira deste

local.

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MERCADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS POR MUNICÍPIO

Mercado de ecobijoux de Itaituba

A utilização de sementes de espécies nativas para produção de ecobijoux no

Município de Itaituba se dá de forma artesanal e em micro escala, praticada por mulheres

artesãs e populações tradicionais indígenas. O processo de produção é manual,

empregando-se mão-de-obra familiar e, inicia-se com a coleta das sementes nas áreas de

florestas da reserva extrativista (Resex), da floresta nacional do Tapajós, terras indígenas da

tribo Munduruku, e outras localidades interioranas. O tempo de coleta pode durar de duas

horas a três dias, dependendo do tipo de semente, época do ano e proximidade com áreas

de mata. Posteriormente, as sementes são esterilizadas por meio de fervura e em seguida,

desidratadas. Após a secagem, as sementes são perfuradas e lixadas, para depois serem

utilizadas na fabricação de cordões, pulseiras, brincos e anéis. O processo é tradicional e a

tecnologia de produção é repassada dos pais para os filhos e netos.

O padrão tecnológico usado na fabricação de ecobijoux é baixo. Normalmente,

fervem-se as sementes e os põe para secar ao sol para depois, com uma furadeira de broca

adaptada fazer os furos nas sementes. Também, utiliza-se soda cáustica para limpar a

semente e, em alguns casos, houve relatos de que o produto causou náuseas para as

pessoas no momento de sua aplicação nas sementes.

As perdas no processo de fabricação das ecobijoux são altas, em torno de 50%. O

processo de perfuração das sementes é manual e a forma de armazenamento é inadequada.

As sementes e peças prontas são guardadas em vasilhas plásticas no interior da residência,

local considerado inadequado, pois não há controle de umidade e de agentes

contaminantes. Não se tem controle até mesmo dos animais domésticos. A organização

coletiva na produção necessita que máquinas apropriadas para aumentar a eficiência do

processo, aumentar a produtividade da mão-de-obra e estimular a ação coletiva tanto no

processo interno de fabricação quanto na estruturação de um arranjo produtivo no local.

As principais espécies utilizadas são: açaí (Euterpe oleracea), buriti (Maritia flexuosa),

cajá (Spondias mombin), tucumã (Astrocaryum aculeatum), inajá (Maximiliana maripa),

bacaba (Oenocarpus bacaba), flamboyant (Delonix regia), milagre, molongó preto, molongó

preto com vermelho, olho de boi, olho de bode, patauá e tucum; penas, coquinhos e

espinhos de árvores. As sementes de patoá são adquiridas de extrativistas locais ao preço de

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R$ 20,00 o cacho com cerca de mil sementes, em média. Foi revelado na pesquisa que esses

produtos existem em abundância na floresta. Só coletam o necessário para o trabalho de

rotina, pois não pensam produzir em escala comercial. Há demanda, porém, falta

capacidade empreendedora para o atendimento da demanda.

A comercialização das ecobijoux ocorre de duas formas distintas, a primeira é feita

pelos povos indígenas, principalmente a tribo Munduruku situada na Praia do Índio,

destacando-se as aldeias Sauré, Aldeia Nova, Manoné e São Luis do Tapajós, em que a maior

parte das vendas é feita diretamente aos turistas e soldados do exército que servem em uma

base próxima à Praia do Índio (Figura 15). A outra forma de comercialização ocorre em uma

loja da associação de mulheres artesãs próxima à orla de Itaituba.

Figura 15. Exposição de ecobijoux confeccionadas pelos indígenas da Praia do Índio e na orla de Itaituba, 2008.

Não há estratégia para comercializar os produtos em outros locais, o que poderia ser

remediado com o apoio das instituições e o fomento à organização dos artesãos.

A Associação de Artesãos em Itaituba não se mostra ativa no sentido de traçar

objetivos e estratégias coletivas, visando à comercialização dos produtos. Atualmente, a

única vantagem do associado é vender o produto no ponto de vendas da associação,

localizado na parte central da cidade.

Na Praia do Índio, a atividade ocupa cerca de 40 indígenas das aldeias, sendo que

deste total, 15 são mulheres que trabalham diretamente na produção de ecobijoux. Os

homens e crianças produzem peças de cerâmica. A receita média mensal com a venda de

ecobijoux é de R$ 600,00/mês e a de artesanato em cerâmica, arcos e flechas R$

1.000,00/mês. Tanto nas aldeias quanto na loja das artesãs, os preços das peças são

similares.

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Em função da característica extrativa e artesanal de produção, não há controle de

custos sobre a matéria-prima coletada na floresta e da mão-de-obra ocupada no processo

produtivo, o que dificulta até mesmo, saber se a atividade é lucrativa.

Os artesãos reclamam da falta de apoio das instituições no que concerne à falta de

cursos que os ensinem a gerir com mais eficiência a atividade, o que inibe a produção em

escala e a elaboração de um produto final com qualidade. Neste particular, o SEBRAE, ONG e

órgãos governamentais podem contribuir para superar os problemas apontados pela

comunidade e para a formação de capital humano, oferecendo cursos de treinamento e

aperfeiçoamento sobre os aspectos de gestão empresarial e planos de negócios, assim como

fortalecer os laços de cooperação no trabalho conjunto, produção e comercialização dos

produtos.

Na tribo dos mundurukus, observou-se um embrião de ações de empreendedorismo,

pois foi criada uma marca que consta de uma etiqueta colocada em cada produto. Nesta

etiqueta, conta-se um pouco da história das comunidades. Este é um princípio importante

para a conexão da comunidade a uma rede de mercado justo, que pode inserir tais produtos

no mercado internacional. Porém, a comunidade necessita se preparar para atender ao

incremento de demanda.

Mercado de artesanato de cerâmica de Itaituba

O artesanato de Itaituba é fabricado com sementes, fibras, cascas, madeira e

cerâmica. Similarmente ao que acontece na produção de ecobijoux, a cerâmica tem maior

destaque na praia do índio. O trabalho com cerâmica gera renda no valor de R$ 1.000,00 a

R$ 1.200,00/mês. A atividade é desenvolvida em oficina localizada no próprio local de venda,

sendo feita por seis pessoas. Na concepção de Everaldo - índio Munduruku que coordena o

projeto intitulado “Centro de Artesanato Korap Mug Um” - o índio precisa ser independente,

como seus antepassados. Essa visão conflita com as políticas paternalistas da Fundação

Nacional do Índio – FUNAI, posto que a proposta do projeto é que o índio seja um

empreendedor (Figura 16).

As principais dificuldades apontadas foram com relação ao transporte para escoar a

produção e para transportar tijolos na época da cheia. No caso da argila, compram tijolo cru

das olarias ao preço de R$ 0,20 por unidade. São necessários 300 tijolos a cada cheia (cada

tijolo cru pode gerar uma peça grande ao preço de até R$ 30,00 ou 50 peças pequenas de

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argila ao preço de R$ 1,00). Da olaria até a praia do índio paga-se R$ 50,00 de frete para o

transporte dos 300 tijolos.

Figura 16. Produtos de artesanato fabricados com cerâmica, palha e sementes na praia do índio em Itaituba.

No município de Itaituba, a atividade mineral, conforme a SEMMA, é intensa e se

constitui, principalmente, de micro empresas mineradoras. Em 2007, em Cuiucuiu, foram

extraídas 150 toneladas de ouro. Esta é a maior mina já descoberta no Tapajós. Assim,

algumas das concessões previstas já estão sofrendo pressão para a exploração de minério. É

o caso de grupos de interesse que demandam a atividade na Floresta Nacional - FLONA

Cripuri. Mesma questão está ocorrendo na FLONA de Jamanchi que possui 200.000 ha

somente de mata e o resto já foi toda garimpada. Entretanto, até o momento a atividade de

mineração tem ficado em segundo plano nas discussões de concessão das FLONAS.

Mercado de ecobijoux de Santarém.

O mercado de ecobijoux no município de Santarém apresenta características

similares ao de Itaituba, com baixo nível de organização, emprego de técnicas rudimentares

e artesanais de produção, concentrada nas populações tradicionais indígenas e ribeirinhas.

Na localidade de Alter-do-Chão, concentra-se parte significativa da produção de

ecobijoux e outros artesanatos produzidos nos municípios e em comunidades de outros

municípios próximos. O público-alvo é o turista que freqüenta o local. Outra parte é

comercializada em lojas no centro comercial e na orla de Santarém por ambulantes e

hippies, que vendem para turistas e a população em geral que circula na orla. A Tabela 14

mostra os principais produtos comercializados e os respectivos preços.

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Tabela 14. Tipo de produto e preço pago pelos consumidores de ecobijoux em Alter-do-Chão e Centro de Santarém, 2008.

Produto Preço em R$

Brincos com sementes 4,00 – 6,00

Brincos de madeira 7,00

Cinto de casca de coco e açaí 12,00

Colar pequeno 7,00

Colar médio 18,00

Colar grande (diversas voltas) 35,00

Porta caneta de ouriço de castanha do Pará 12,00

Imã de geladeira (caroço de inajá e uxi) 4,00

Porta jóia de ouriço de castanha do Pará 15,00

Chaveiro do fruto da castanha do Pará 5,00

Anel de caroço de tucumã 1,50

Cesta de palha de tucumã 30,00 – 50,00

Bolsa de palha de buriti 30,00 – 50,00

Fonte: Pesquisa de campo.

Deve-se ressaltar que, segundo informações de comerciantes do centro comercial de

Santarém, embora a matéria-prima exista no local e em abundância, as peças que vende em

sua loja são compradas em Pacuti, no interior do Ceará e no Rio de janeiro. Isto ocorre em

função do acabamento e qualidade superior dos produtos, pois como se diz, os produtos

locais são de fato artesanais e muito rústicos. Como o mercado é segmentado, com

consumidores jovens, a inclusão da cultura nos produtos locais deve ser combinada com arte

e design moderno, para alcançar diversos nichos de mercado. Portanto, esses nanonegócios

precisam ganhar contornos de produção competitiva. Para isto, há necessidade de

treinamento e capacitação destes empresários.

As principais sementes utilizadas na confecção de ecobijoux são: morototó

(Dydimopanax morototoni), tucumã (Astrocaryum aculeatum), inajá (Maximiliana maripa),

açaí (Euterpe oleracea), maraí (paxiuba, uxi (Eudopleura uchi), tento vermelho (Ormosia

spp), coco curuá , saboneteira (Sapondis saponaria), olho de boi, lágrima, além de ouriço da

castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), coco (Cocos nucifera) e arte em madeira (tronco e

galhos de árvores). As Figuras 17 e 18 mostram os produtos comercializados em Alter-do-

Chão e na comunidade de Jamaraquara, na FLONA do Tapajós.

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Figura 17. Produtos comercializados pelas artesãs de Alter-do-Chão.

Figura 18. Produtos comercializados pelas artesãs de Jamaraquara.

As espécies utilizadas pelas artesãs da comunidade de Jamaraquara são: Envira

(Xylopia nítida), jutaí (Dialium guianenses), tento amarelo da mata, tento amarelo do igapó,

caracaxiá e piraputi. A Tabela 15 contém as principais espécies de sementes utilizadas na

produção de ecobijoux na FLONA do Tapajós em Belterra, assim como as quantidades e os

preços praticados no mercado local de Santarém.

As sementes assinaladas com (*) indicam que são as sementes coletadas diretamente

na FLONA e por conta disso, as artesãs não sabem atribuir preço de custo, uma vez que não

há despesas de aquisição de sementes, mas quando indagadas sobre o custo de

oportunidade do tempo investido na coleta, afirmaram que consideram o preço de uma

diária, ou seja, R$ 15,00. Considerando que a coleta envolve mão-de-obra de toda a família,

ou do casal chefe da família, e que o tempo de coleta é muito variável, podendo abranger

mais de um dia dependendo do tipo de semente e seu grau de uso na confecção das peças.

Pode-se estimar um custo de coleta para duas pessoas trabalhando três dias de R$ 90,00. Na

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produção de colares, a base de cálculo de custo é feita da seguinte forma: o preço da diária é

de R$ 15,00, assim se um cordão de tamanho médio é vendido por R$ 15,00, a artesã sabe

que precisa produzir pelo menos dois cordões por dia, no mínimo. De igual sorte é feito o

cálculo para brincos que são vendidos por R$ 5,00 a unidade, assim são necessários, no

mínimo, produzir três brincos para empatar o custo de oportunidade da mão-de-obra. Cabe

ressaltar que a produção não é diária, as artesãs produzem as peças, nas horas vagas dos

afazeres domésticos, não há uma hora certa, específica dispensada à produção de ecobijoux.

Tabela 15. Tipo, quantidade e preço de sementes utilizadas na confecção de ecobijoux na FLONA do Tapajós, Belterra – PA.

Tipo de Semente Preço

(R$/unid.) Quantidade

(unid.)

Envira (Rollinia exsucca) * 1500 smts

Saboneteira (Sapondis saponaria) 10,00 0,5 kg

Jutaí (Dialium guianenses) * 3,0 kg

Paxiuba * 5 kg

Tento Amarelo do Igapó * 5 kg

Tento Amarelo da Mata * 1 kg

Açaí (Euterpe oleracea) * 1 kg

Caracaxiá * 3 kg

Pirapichi * 5 kg

Lágrima 5,00 100 g

Tento Vermelho (Ormosia spp) * -

Fonte: Pesquisa de campo.

Com relação às sementes que são adquiridas em Santarém, a semente de lágrima é

comprada por R$ 5,00 cada 100 gramas e a de saboneteira por R$ 10,00/kg. O custo de

transporte não é considerado, tendo em vista que as próprias artesãs se deslocam a

Santarém, dentro de sua rotina, pois não o fazem especificamente para adquirir semente.

Em geral, realizam as compras de que necessitam e aproveitam a ocasião para comprar as

sementes. A Figura 19 mostra o canal de comercialização do mercado de sementes de

Santarém.

O estoque de matéria-prima na FLONA foi considerado abundante, pois é só entrar

na mata e coletar as sementes necessárias para confecção das ecobijoux. De acordo com as

mulheres entrevistadas de Jamaraquara, a receita bruta do negócio é estimada em R$

3.500,00/ano. A logística de transporte utilizada pelas artesãs é a fluvial/rodoviário.

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Figura 19. Canal de comercialização de ecobijoux em Santarém, 2008.

As artesãs de Alter-do-Chão e de Jamaraquara afirmaram que se houvesse mais

incentivo para o setor seria possível melhorar significativamente a qualidade do produto e

permitir a produção em escala. Prova disso, que em Jamaraquara com a introdução de

energia elétrica foi possível que as artesãs inovassem tecnologicamente com a adaptação de

uma furadeira de uso na construção civil, para perfurar as sementes, serviço que antes era

manual, com isso, a produtividade do trabalho foi consideravelmente ampliada e as perdas

de sementes diminuíram sensivelmente quando comparada com o processo manual de

Itaituba, por exemplo, caindo de 50% para 10% (Figura 20).

Figura 20. Adaptação de furadeira para perfurar sementes utilizadas na produção de ecobijoux.

Comunidades Tradicionais da RESEX e FLONA do Tapajós, aldeias indígenas locais.

Transportam de barco ao porto de Santarém

Mercadão 2000

Lojas de bijuterias e artesanato de

Santarém e Alter do Chão

Turista Consumidor

Local

Produtos: sementes, brincos, colares, pulseiras, anéis, porta caneta, imã, outros

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Além do incentivo a novos investimentos por meio de microcrédito, outro ponto

importante para a atividade é a introdução de cursos nas áreas de gestão de negócios,

vendas, tecnologia de produto e de processo, marketing, coleta, transporte e

armazenamento de sementes. Neste campo, o SEBRAE tem promovido ações junto às

artesãs da FLONA, que realizam curso na área de produção de ecobijoux, mas há uma lacuna

a ser preenchida no que concerne à gestão do negócio, principalmente custos de produção.

Com relação às artesãs de Alter-do-Chão, em tempos pretéritos houve a oferta de cursos

promovidos pela ONG Conselho Nacional de Seringueiros – CNS, mas hoje não há mais

cursos nem treinamento em qualquer área de produção. Para contornar estes e outros

problemas os microempresários de Alter-do-Chão estão organizando uma cooperativa que

agregará artesanato, moda praia, gastronomia e outros, com o fim de aumentarem a

participação no mercado, ampliar o volume de vendas e margem de lucro, além de se

fortalecerem contra atitudes oportunistas de guias turísticos, que parecem ter convênio com

empresas específicas, não permitindo a circulação dos turistas em todas as lojas de Alter-do-

Chão, além de denegrirem os produtos dos artesãos locais.

A determinação do coeficiente de transformação dos produtos das artesãs que

produzem ecobijoux, não é tarefa simples tendo em vista a multiplicidade de produtos que

podem ser obtidos. Todavia, com um quilo de semente de morototó, por exemplo, é possível

produzir cinco colares grandes. Quando se utiliza mais de um tipo de semente, por exemplo,

um quilo de morototó, um de saboneteira e 100 g de semente de lágrima, produzem-se até

12 colares grandes.

A associação comunitária Apruci-Pesque (em Santarém) tem destaque na

comercialização de artesanato em fibra de tucumã. São cerca de 56 famílias envolvidas com

a atividade (de três comunidades), que se dedicam à confecção do artesanato. Os pigmentos

utilizados são todos naturais, sendo eles a cor preta do jenipapo (Genipa amaricana), o

amarelo açafrão (Crocus sativus), o verde da língua de vaca (Elephantapus scaber), o

vermelho do cragiru (Arribidea Chica) e o roxo do capiranga. No ano de 2008, a associação

comercializou seus produtos para a Venezuela e os Estados Unidos, com o apoio do SEBRAE,

gerando renda líquida de R$ 5.600,00. Ano passado (2007), a comercialização foi feita para o

Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Belém.

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O artesanato produzido nesta comunidade é ilustrado na Figura 21. Esta comunidade

conseguiu penetrar nos mercados nacional e internacional, portanto, deve ser tomada como

exemplo para conectar as demais comunidades da região, visando produzir um conjunto

diversificado de produtos para a venda em escala nestes mercados.

Figura 21. Artesanato de Santarém produzido por artesãs da associação Apruci-Pesque.

Artesanato de madeira da oficina cabocla de Santarém

Em Santarém, o Programa Florestas e Comunidades Oficinas Caboclas é composto

por seis comunidades ribeirinhas do Tapajós: Nova Vista, Nuquini, Surucuá, Pini, Prainnha e

Itapainuna, que fabricam móveis artesanais e peças artísticas para decoração a partir da

madeira morta caída na floresta e aproveitada. Os objetivos do Programa são:

• Desenvolver um sistema de manejo integrado dos recursos florestais através do

gerenciamento de florestas e de desenvolvimento de alternativas sustentáveis

de agricultura e de utilização dos recursos da floresta;

• Servir como modelo para comunidades de outras localidades da Amazônia

interessadas em gerenciar seus recursos florestais de forma sustentável.

As árvores mortas, em sua maioria, são encontradas caídas no chão da floresta e,

então, feita a seleção aquelas que oferecem boas condições para o uso no artesanato.

Depois as árvores são aparadas e levadas para a oficina. Esse procedimento de utilização de

madeira já morta é pioneiro na região. As madeiras preferidas são: Ipê roxo, sucupira

amarela, macacauba, cumaru preto, cumaru branco e, às vezes, o jacarandá.

Um dos principais entraves desse segmento diz respeito à retirada de madeira morta

da floresta e o transporte até a comunidade, visto que a floresta é fechada e a distância do

local até o barco e daí até o galpão da oficina é grande. Porém, alguns artesãos estão com o

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propósito de iniciarem a extração de árvores, por meio de técnicas de manejo florestal de

impacto reduzido, que ainda está em processo de estudo de sua viabilização na área.

O padrão tecnológico utilizado pelos artesãos é baixo. As ferramentas utilizadas são

triviais o martelo, serra, terçado, serrotes e pregos para a fabricação dos móveis artesanais.

Os móveis são trabalhados com base nos animais da fauna regional, sempre vinculados ao

folclore local, em face do maior conhecimento dos povos locais e dos turistas.

Os produtos mais vendidos são os bancos em forma de animais como boto, jacaré e

preguiça, mesas de centro e cadeiras (Figura 22).

Figura 22. Mesa, bancos e cadeiras com a forma de animais da região de Santarém.

A oferta destes produtos é realizada o ano todo. A produção do artesanato é

verticalizada, uma vez que os artesãos realizam todas as etapas do canal de distribuição do

produto: coletam a madeira (matéria-prima principal), fabricam as peças e comercializam os

produtos na loja da cooperativa para os consumidores locais, regionais, nacionais e

internacionais (turistas).

Os artesãos da Cooperativa Oficinas Caboclas estão motivados para a organização

das comunidades e conquistas dos objetivos como: ampliação do mercado para seus

produtos por maio da inserção em novos mercados, principalmente o mercado

internacional, participação em feiras, melhoras a diversificação dos produtos e aumentar o

valor agregado dos produtos, ampliar a escala de produção. Pretendem fazer parceria com o

SEBRAE para a obterem capacitação sobre comércio internacional e sobre os meios

necessários para exportar seus produtos.

No que diz respeito à comercialização, uma grande rede varejista de São Paulo era

responsável por 80% do mercado de destino dos produtos da Cooperativa, mais o contrato

para o fornecimento do artesanato não foi renovado para o ano de 2008, causando um

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grande transtorno aos artesãos que viram sua renda diminuir consideravelmente. As razões

da não renovação do contrato não foram reveladas.

Atualmente a principal dificuldade da Cooperativa é comercializar a produção, pois as

vendas estão restritas ao mercado local, com venda eventual para o mercado nacional,

viabilizada por turistas que visitam a região. Este problema está causando desmotivação aos

associados. Atualmente a venda concentra-se no mês de julho, em função da festa do boi de

Parintins e em setembro da festa do boto de Santarém. Nestas dadas, o fluxo de turistas que

transitam por Santarém é grande e a venda aumenta.

No que se refere à assistência técnica para a Cooperativa Oficinas Caboclas, o SEBRAE

tem atuado na capacitação dos cooperados ministrando os seguintes cursos: gestão

ambiental, tecnologia de produção, manejo florestal e segurança do trabalho. Atualmente, a

demanda de treinamento é na área de comércio exterior, exportação e secagem de madeira,

visando à inserção no mercado internacional para aumentar o volume de produção e de

vendas.

O principal elemento definidor da demanda por artesanato caboclo, independente da

origem, é o fato de serem produtos ecologicamente corretos e produzidos por comunidades

pobres da Amazônia. A oferta do produto depende do estoque de árvores caídas. Como a

distância aumenta cada vez mais para encontrar este produto e as dificuldades aumentam

para a coleta e transporte, é necessário trabalhar com áreas manejadas para a extração de

madeira, visando atender ao objetivo de inserção no mercado internacional.

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Mercado de óleos essenciais – FLONA do Tapajós

As comunidades de São Domingos, Nazaré e Pedreira, localizadas na FLONA do

Tapajós em Belterra, exploram óleos essenciais de andiroba (Carapa guianensis), copaíba

(Copaifera multijuga) e piquiá (Caryocar villosum). Na atividade, trabalham cerca de 40

pessoas, em sua maioria mulheres.

As comunidades, por meio do Pró-manejo (Funbio), obtiveram crédito para a

construção de uma unidade de beneficiamento de óleo, localizada em São Domingos, mas

que não está funcionando, pois as máquinas e equipamentos ainda não foram adquiridos. A

conclusão da usina é de suma importância para as comunidades, pois permitirá atender

demandas em escala e com produtos de melhor qualidade. Ressalte-se que em 2006, a

demanda foi de mil litros de óleo de andiroba para o mercado Francês, mas as comunidades

não puderam atender. O maior volume já exportado para França foi de 60 litros a R$ 30,00

cada litro.

Com relação à comercialização de óleo para o mercado internacional, constatou-se

que apenas a Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós - COOMFLONA, no

município de Santarém, tem comercializado óleo para a França.

O entrave principal na exportação diz respeito à necessidade de apresentar o

certificado de origem do produto, que é dado pelos planos de manejo. Entretanto, os planos

de manejo são apresentados sem proposta para a extração dos produtos não-madeireiros.

Desta forma, não há como a empresa pagar a elaboração de cada produto separadamente.

Este é um fundamento concreto para que o plano de manejo envolva o inventário tanto dos

produtos madeireiros quanto dos não-madeireiros. É, pois, uma forma de inclusão social de

baixo custo, mediante a exploração racional de todos os recursos da floresta.

Portanto, trata-se de uma indústria com objetivos múltiplos. Para atender o objetivo

da extração madeireira, a empresa busca a maximização do lucro e para o objetivo da

extração dos produtos não-madeireiros a empresa busca apenas obter o retorno do capital

investido, ou seja, o excedente gerado será distribuído para as famílias das comunidades

locais.

Ressalta-se, ainda, que existe uma empresa em Santarém que vende os produtos da

FLONA e está cadastrada na tradenet, uma rede on-line de exportadores e, a cada momento,

aparecem compradores interessados em cipós, raízes, cascas e até mesmo serragem, porém,

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sem a origem do produto dada pelos planos de manejo não é possível exportar. Estas

dificuldades para atender a demanda, acabam levando ao descrédito da empresa pelos

clientes. Como os produtos são oriundos das comunidades da Floresta Nacional - FLONA,

nem mesmo amostras para o exterior estão podendo ser enviadas. Em decorrência, a

empresa tem se dedicado somente à comercialização da semente do cumaru (Dipteryx

odorate) e óleos de copaíba e andiroba, sendo esses enviados, principalmente, para São

Paulo.

O processo de produção do óleo de andiroba e piquiá é artesanal e inicia com a

coleta das sementes e frutos. Nesta etapa, utiliza-se a mão-de-obra de homens e mulheres,

que transportam e acondicionam a matéria-prima na usina de beneficiamento;

posteriormente, as sementes e frutos são catados para separar aqueles inadequados ao

processo de produção de óleo; em seguida realiza a lavagem, serviço feito exclusivamente

pelas mulheres. Ressalte-se que 30 mulheres, em um dia de coleta, conseguem catar e

transportar de 1.000 a 1.500 kg de semente de andiroba. Após a lavagem, as sementes são

cozidas em fogão à lenha, para uma quantidade de 1.000 a 1.500 kg durante um dia de

cozimento. Depois passa um período de descanso de 20 dias, quando as sementes são

quebradas para se retirar a massa. Esta massa é colocada em uma bica para o óleo drenar e

escorrer. Então é coado e armazenado em tambores de 50 litros (Figura 22).

Figura 23. Armazenamento de óleo de andiroba em tambores de 50 litros e vasilha de um litro para o consumo em casa.

A safra da andiroba vai de março a julho, quando se inicia o período de coleta dos

frutos e o trabalho com a produção de óleo se estende até agosto/setembro, o que gera

trabalho por sete meses na comunidade. A Figura 23 ilustra o processo de produção do óleo

de andiroba em São Domingos.

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Observa-se que a sazonalidade é marcante na produção do óleo de andiroba. Isto

exige estratégia para se coletar o máximo de sementes, beneficiá-las e fazer o

armazenamento, visando reduzir perdas e ampliar a escala de produção.

Figura 24. Processo de extração do óleo de andiroba (Carapa guianenses) na comunidade de São Domingos – FLONA do Tapajós.

O rendimento médio de óleo de andiroba (com boa quantidade de massa na

semente) é de 1,5 litros de óleo para cada 10 kg de semente. As perdas são consideráveis,

em média, para cada 2.000 kg se sementes perdem-se 50%, pois muitas sementes quando

coletadas já não servem para a produção de óleo, ou por não serem saudáveis ou por haver

pequenas quantidades de massa em seu interior.

O óleo de piquiá, por outro lado, apresenta rendimento maior que o da andiroba,

pois para cada 10 kg de fruto, obtêm-se cinco litros de óleo. A Tabela 16 mostra a

quantidade de óleo e demais produtos elaborados na FLONA do Tapajós.

Coleta de semente e fruto na floresta

O processo ocupa cerca de 40 pessoas por um período de aproximadamente sete meses, rende cerca de 300 a 500 litros de andiroba/ano com uma receita bruta de R$ 9.000,00 a 15.000,00. Há elevado potencial para expansão da produção em virtude da abundância de matéria-prima. O rendimento médio é de 1,5 litro de andiroba para cada 10 kg de semente.

Seleção e lavagem da matéria-prima

Cozimento e descanso por 20

dias

Quebra da semente e retirada da

massa

Obtenção do óleo de

andiroba.

2000 kg de sementes

300 a 500 litros de óleo

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Tabela 16. Tipo de produto, quantidade e preço dos óleos essenciais e demais produtos elaborados na comunidade de São Domingos, na FLONA do Tapajós – PA.

Produto Quantidade Preço (R$/unid)

Óleo de andiroba 300 litros/ano 30,00/litro

Óleo de copaíba 40 litros/ano 30,00/litro

Óleo de piquiá 80 litros/ano 30,00/litro

Sabonetes de andiroba 60 und./mês 2,00/unid.

Vela de andiroba 20 und./mês 2,00/unid.

Santo domingo (composto medicinal) 100/ano 18,00/unid.

Receita Bruta Total 16.320,00

Receita Bruta por Associado 741,82

Fonte: Pesquisa de campo.

Mercado de óleo de copaíba

A extração do óleo de copaíba é feita diretamente da árvore na floresta. Os

extrativistas selecionam as árvores maduras e boas para produção. Estas são perfuradas e o

óleo escorre para o recipiente em que é armazenado. Uma árvore de copaíba pode produzir

até cinco litros de óleo por perfuração a cada cinco anos. Porém a média situa-se entre um a

três litros/árvore. É importante a identificação e mapeamento das áreas de ocorrência das

copaibeiras para que se produza o manejo, extraindo-se a árvore de baixa produtividade

para a produção de madeira em tora e as de maior produtividade destinadas à extração de

óleo e para o fornecimento de material genético para a implantação de sistemas de cultivos

racionais.

Com relação ao óleo de cumaru, embora exista em abundância na FLONA, a

comunidade não faz sua exploração, pois não sabem como proceder à extração do óleo a

partir do fruto. De acordo com os entrevistados, as comunidades já se dispuseram a pagar

para uma pessoa de Santarém que domina a técnica, mas que se recusou a ensiná-los. Para

fabricarem o composto medicinal Santo Domingo, utilizado para massagem, a comunidade

compra o óleo de cumaru a R$ 30,00/litro no Mercadão 2000 em Santarém.

As comunidades receberam treinamento do SEBRAE em qualidade, gestão

empresarial, comercialização e manejo florestal, mas ainda não praticam os conhecimentos

adquiridos, pois não fazem controle de custos de coleta e processamento do óleo. Quando

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perguntados sobre o custo de um litro de óleo de andiroba, por exemplo, não souberam

responder. O SEBRAE poderia contribuir ainda ofertando um curso de extração de óleo de

cumaru e assim, ampliar o leque de produtos da comunidade, além de eliminar o custo de

adquirir esta matéria-prima para elaboração de seus produtos no mercado.

O nível de escolaridade predominante na comunidade de São Domingo é de 1a a 4a

série do ensino fundamental, somente um dos 22 associados possui ensino médio completo.

Quanto ao incentivo financeiro, as comunidades receberam apoio do Pró-manejo

(com recursos do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - FUNBIO) para montar a unidade

de produção de óleos de sementes nativas, mas que ainda não funciona em virtude de

faltarem algumas máquinas e equipamentos.

Na tentativa de impulsionar a comercialização de óleos em Itaituba, foi citado pelo

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itaituba – STTR, que o município (juntamente com

mais 5 municípios do entorno) foi contemplado este ano pelo programa territorial do

Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA com uma usina de óleo para processamento

de babaçu (Orbignya phalerato), andiroba, copaíba, cumaru, patauá e bacaba (Oenocarpus

bacaba). Cerca de 3.000 famílias serão beneficiadas só em Itaituba, sendo o valor do projeto

da ordem de R$ 90.000,00. Paralelamente, também está previsto para executar no ano de

2009, uma usina de óleo financiada pelo Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social -

DED, em parceria com o Instituto de Pesquisas na Amazônia - IPAM e a Secretaria de

Mineração e Meio Ambiente de Itaituba - SEMMA.

Este tipo de iniciativa deveria ser disseminado na região para estruturar a rede de

empresários de produtos não-madeireiros na forma de Arranjo Produtivo Local – APL.

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Mercado de peixe ornamental de Itaituba

A pesca de peixe ornamental praticada em Itaituba compreende uma vasta extensão

dos rios Tapajós, Amazonas, Xingu e seus afluentes. Abrange os municípios de Jacareacanga,

Itaituba, Aveiro (localidade de Cassuepã), Belterra, Santarém e Altamira. Em Itaituba, a

principal colônia de pescadores é a do Pimental, localizada 30 km da cidade. De acordo com

um pescador de Pimental, no município e regiões do entorno, cerca de 140 pescadores

praticam a pesca ornamental, sendo que cada pescador, em média, captura por ano cerca de

8.000 peixes. A principal espécie capturada é o acari.

A Tabela 17 mostra as principais espécies capturadas, seus respectivos preços em

nível de pescador e das empresas intermediárias, que funcionam como atacadistas, pois

compram em escala para revenderem nos mercados de Altamira, Santarém e Belém, e a

margem de preços.

Tabela 17. Espécies capturadas de peixes ornamentais no Município de Itaituba – PA.

Espécie Preço Recebido pelo

Pescador R$ Preço na Empresa

Atacadista R$ Diferença

Percentual

Acari tigre bola 0,25 1,20 380

Acari aba branca 0,25 1,20 380

Acari cara chata 0,25 1,20 380

Apistograma 0,30 1,50 500

Dicrossus (piabas) 0,30 1,50 500

Acari onça 1,00 4,00 75,00

Acari arábia 2,00 7,50 73,30

Acari titanic 5,00 15,00 66,67

Acará disco 2,50 8,00 68,75

Fonte: Pesquisa de campo.

Note-se que os preços recebidos pelos produtores são consideravelmente baixos em

relação aos preços de revenda pelas empresas intermediárias, em função da informação

assimétrica e do oportunismo dos agentes. Este fato tem implicações importantes sobre o

nível de estoque natural de peixes, pois, se os pescadores das espécies mais comuns de acari

resolvessem estabelecer uma estratégia para capturar uma quantidade capaz de gerar uma

renda de R$ 1.000,00 por mês, precisariam capturar 4.000 peixes neste período.

Considerando-se um número médio de 140 pescadores, isto representaria uma captura

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mensal de 560.000 peixes, ou anual de 6.720.000, o que representa seis vezes mais que os

níveis atuais.

A Figura 24 ilustra os peixes da espécie acari, mais capturados pelos pescadores de

Itaituba, em função da demanda dos mercados nacional e internacional.

Figura 25. Peixes ornamentais: acari aba branca, acari cara chata e acari onça, capturados pelos pescadores de Itaituba.

Desta forma fica mais claro entender o nível de preço pago pelas empresas

intermediárias, que indiretamente forçam os produtores a buscarem peixes cada vez mais

longe, para manterem uma renda mínima que lhes seja favorável. Está é uma evidência clara

da aplicação do referencial teórico, já que o poder de fixar preços das empresas

compradoras é exercido de forma preocupante, pois a margem estabelecida é muito alta.

Por outro lado, com aumento nos níveis de preços pagos aos pescadores, o que já

está ocorrendo com alguns peixes que estão se tornando escassos e a demanda é alta, o

efeito pode ser devastador para as espécies capturadas, pois como se trata de um “recurso

de uso comum”, uma vez que a pesca é livre. Assim, de acordo com a “tragédia dos

comuns”, o livre acesso e a expectativa de elevado benefícios, atrairá outros pescadores, a

taxa de extração aumenta e, em conseqüência, o lucro benefício máximo da pesca

ornamental tende a diminuir rapidamente, em função da redução dos estoques.

Em se tratando de um recurso renovável, mas com possibilidade real de ser

esgotado, deve-se estabelecer uma estratégia para fazer regulação da atividade, visando

planejar a pesca, de modo a adequar às taxas de captura sem perder de vista a importância

social e econômica para as comunidades que dependem da renda gerada nesta atividade.

Por ano são capturados, em média, 1.120.000 peixes ornamentais, em sua maioria do

gênero acari, sendo que deste total, aproximadamente 80% são comercializados a R$ 0,25.

Na exportação, estes peixes atingem o preço de até R$ 100,00. Este fato reforça a idéia da

organização dos produtores para se conectarem em uma rede de mercado justo e reduzir

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este diferencial de preço que fica com os intermediários da comercialização. A receita bruta

anual dos pescadores seria de R$ 224.000,00/ano. Computando-se as outras espécies que

compõem os 20% de maior cotação de preço no mercado, negociados ao preço médio de R$

1,50, obtém-se uma receita total de R$ 380.000,00/ano. A soma destas receitas é de R$

560.000,00/ano, gerando uma renda receita mensal por pescador de aproximadamente R$

330,00. Embora seja um valor baixo para padrões urbanos, para populações tradicionais e

ribeirinhas, pode significar uma alternativa de renda imprescindível para o sustento da

família, até porque se forem excluídas as fontes de renda obtidas com produtos da floresta e

da pesca, grande parte das famílias das comunidades irão sobreviver à custa dos programas

sociais do governo federal.

Do lado dos empresários de peixes ornamentais, percebe-se que o negócio é

promissor. Devido a isso, não há interesse, na maioria das vezes, em capacitações e

tecnologias. Foi ressaltado por um dos entrevistados que, de acordo com a normativa 13 do

IBAMA, são 180 espécies de peixes ornamentais no país. Entretanto, pesquisadores

japoneses desenvolvendo estudos no Tapajós, identificaram mais de 200 espécies.

Há uma grande carência em pesquisas nessa área. Segundo um empresário, a

Alemanha é um dos países que mais investiu em termos de pesquisa, porém, ressentem-se

da falta de informações quanto à multiplicação de espécies em cativeiro.

Segundo relatos obtidos na colônia de pescadores de Itaituba, o reconhecimento da

categoria de pescadores artesanais por parte da Delegacia Regional de Trabalho - DRT

poderia contribuir para reduzir a pressão sobre os estoques pesqueiros, uma vez que seria

criada a classe, que passaria a ter direito ao seguro durante o período de defeso. Por conta

do entrave entre a Secretaria de Estado de Aqüicultura e Pesca, que deseja a criação da

categoria, e a DRT que não apóia a idéia, parte significativa dos pescadores não receberão o

benefício este ano, o que provavelmente os levará a violar o defeso e continuar pescando.

O canal de comercialização da pesca ornamental em Itaituba é constituído de três

agentes principais: os pescadores, as empresas compradoras locais, em número de quatro;

as empresas compradoras de Santarém, Altamira e Belém e os consumidores do próprio

Estado, das Regiões Nordeste e Estados Unidos, Japão, Coréia e países da Europa e África. A

Figura 25 ilustra o canal de comercialização do peixe ornamental de Itaituba.

Os agentes intermediários locais são constituídos de quatro empresas que compram

de pescadores locais, principalmente peixes da espécie acari, além de piabas, acará disco e

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apistograma. Segundo um empresário de Itaituba, cuja empresa opera devidamente

legalizada há nove anos no ramo, os principais mercados compradores no Estado são:

Belém, Santarém e Altamira, onde totaliza cerca de 90% das vendas. Em 2002, as vendas no

Estado representavam 60% e 30% para os demais estados da região, o faturamento neste

ano foi de R$ 70.000,00, caindo substancialmente em 2007 para R$ 45.000,00, sendo o

principal motivo a escassez de matéria-prima, pois para haver captura em escala faz-se

necessário percorrer várias regiões de pesca, além do que certas espécies são específicas de

uma única área. Cabe ressaltar que mesmo com as dificuldades apresentadas, o faturamento

médio mensal da empresa foi 11 vezes superior ao dos pescadores artesanais, com uma

margem de lucro sobre os custos totais de 15 a 20%.

Figura 26. Canal de comercialização da pesca ornamental de Itaituba e participação de mercado (PM) das empresas locais.

As empresas de Itaituba reivindicam ações concretas das instituições governamentais

e das entidades de classe para com a pesca ornamental, visto que os poucos esforços

empreendidos são desarticulados e pontuais. Programas de capacitação profissional e

treinamento técnico, programas de acesso a informação sobre produção, tecnologia e

mercado, linhas de crédito, dentre outras são demandas locais tanto dos pescadores quanto

das empresas. Enfatizou-se, por exemplo, que esta era a primeira vez que uma universidade

estudava o segmento de pesca. Há um sentimento de abandono e isolamento generalizado.

Uma empresa local informou que pagou uma consultoria da França e outra de Manaus, para

a identificação e catalogação das espécies ornamentais que ocorrem em sua área de

Pescadores Ornamentais.

R$ 0,25 a

R$ 5,00

Empresas de Itaituba. R$ 1,20

a R$ 8,00

Empresas de Santarém, Altamira e

Belém US$ 5,00

a US$ 100,00

Rio de Janeiro Goiânia Nordeste Norte

PM = 1,0% PM = 90% PM = 8%

EUA Europa Ásia África

PM = 1,0%

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atuação. Há, portanto um grande espaço potencial para as instituições de ensino e pesquisa,

e o governo por meio da Secretaria de Aqüicultura e Pesca, CEPNOR, SEBRAE, UFRA, dentre

outros, realizarem estudos e desenvolverem ações com foco no desenvolvimento da pesca

ornamental, principalmente quanto à sua regulação.

Os agentes exportadores de Santarém, Altamira e Belém compram os peixes das

empresas de Itaituba e vendem para estados das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste

e, países da Europa, Ásia (Japão e Coréia), África e EUA, a um preço que pode variar de US$

5,00, para as espécies mais comuns, até US$ 100,00 para o tipo Titanic e acará disco.

O negócio com o mercado externo acontece por código de barras. Cada código

identifica o peixe solicitado e em qual região está. Os peixes são mandados para Manaus e

Fortaleza para em seguida serem exportados. O custo do frete para Belém de 100 peixes é

de R$ 300,00.

De acordo com a SEMMA, na feira agropecuária do município no ano passado, as

lojas de aquário já estavam comercializando o peixe sem passar pela fiscalização. Já para o

empresário, as atividades ficaram muito reduzidas nos últimos dois anos, principalmente em

virtude das ações do IBAMA, o que tem prejudicado a classe que trabalha em situação

regular. Para um entrevistado, que tem tradição na família a cerca de 10 anos na

comercialização de peixes ornamentais, há um desentendimento em relação à legislação por

parte do IBAMA. Foi destacado pelo empresário que desde março tem uma portaria (o

IBAMA diz), que ainda não chegou a Itaituba, proibindo a captura do “pão-de-cada-dia”.

Assim, o órgão que não dispõe da portaria, aconselha o empresário a ligar para Santarém e

Belém para se informar, mas quando liga ninguém sabe dessa portaria.

A demanda internacional de peixe é espacialmente definida, na Ásia países como

Japão e Coréia preferem os acaris; os peixes de pele destinam-se aos mercados da Europa,

enquanto que EUA e África preferem os peixes de escama. De acordo com os entrevistados,

a demanda tem diminuído e os pedidos são irregulares. Isto se deve, em parte, à exportação

de fêmeas para o mercado asiático, principalmente Japão, que desenvolveu tecnologia de

reprodução, procriando as espécies em cativeiro e deixaram de comprar no Brasil. Outra

parte diz respeito às vendas para outros países com maior exigência. Ressalte-se, neste

aspecto, a ausência de instituições do governo na regulação da atividade produtiva e na

comercialização, destacando-se que não é a primeira vez que o Estado perde mercado por

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não exercer controle sobre a saída de matéria-prima de origem animal e vegetal, como

ocorreu com a borracha em tempos pretéritos.

Considerando-se que inovação de produto para este setor significa a descoberta de

uma espécie, o aquecimento da demanda interna e de exportação depende, em muito da

liberação do IBAMA para a comercialização de outras espécies, como por exemplo, certos

tipos de arraias que têm potencial econômico.

Além disso, é importante a alocação de recursos nas instituições de ensino e pesquisa

com o objetivo de desenvolverem técnicas de reprodução em cativeiro, sobretudo das mais

exploradas comercialmente como o acari, que já apresenta sinais de escassez, tornando

assim possível a criação de espécies ornamentais, em criatórios específicos.

Mercado de produtos da farmacopéia de Juruti

Os comerciantes que trabalham com produtos medicinais fazem a compra da

matéria-prima nas comunidades e/ou fazem encomendas para intermediários, pois não há

um fluxo contínuo de oferta destes produtos das comunidades para o mercado local. A

maioria dos produtos tem oferta e demanda irregular e/ou instável. Do lado da oferta, esses

produtos são coletados de acordo com a sazonalidade das plantas silvestres, portanto a

oferta sofre a mesma flutuação que a natureza impõe. No lado da demanda, como a maioria

desses produtos se destina ao mercado local, a procura dos consumidores é esporádica,

fluindo de acordo com suas necessidades de cura. Geralmente, o público atendido é

formado pelas pessoas que não conseguem adquirir produtos farmacêuticos, em função do

preço, portanto de baixa renda. A demanda formada por pessoas de alto conhecimento e

elevada renda, que buscam produtos naturais é insignificante ou não identificada no

mercado local.

Estes produtos são perecíveis e a forma de embalagem não permite longo tempo de

prateleira. Os comerciantes não dispõem de conhecimento das técnicas de beneficiamento e

armazenamento dos produtos como (leite de sucuuba, leite de Amapá e leite do mururé,

cascas de árvores, folhas, raízes, etc.). A margem média obtida na comercialização destes

produtos foi estimada em 30% do preço pago pelo consumidor.

Há também iniciativas de comercialização de produtos com embalagens mais

apropriadas para produtos como mel e óleos na forma de sache no mercado de Santarém,

que são postos à venda em uma única loja.

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80

Em geral, segundo relatos dos comerciantes, o mercado de produtos não-madeireiros

da região está sendo ameaçado pela derrubada ilegal da floresta e pela facilidade de

aquisição de medicamentos alopáticos químicos. Evidenciaram a falta de tecnologias

adaptadas para o manejo adequado das espécies, como exemplos citaram a maneira correta

de perfurar a copaibeira e de fazer os corte para extração dos diferentes “leites” (amapá,

sucuuba, etc.).

Os produtos não-madeireiros (cascas, óleos, mel, leites, raízes, sementes),

comercializados no Mercadão 2000 de Santarém são oriundos da área Mamuru-Arapiuns. As

cascas, em sua totalidade, vêm da área do Mamuru e a maioria dos óleos e castanhas vem

de colônias localizadas próximas a Santarém, principalmente da região do Arapiuns (Tabela

18).

Tabela 18. Principais produtos da farmacopéia comercializados no mercado de Santarém, 2008.

Nome comercial Local de origem

Preço Quantidade Uso Destino Fator de conversão

Canela mamelada Cinnamomum

zeylanicum Breyn

Ceará 2,00 30 sc Medicinal Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Casca preciosa (pressão alta) Aniba canelilla

(Kunth) Mez.

Mamuru 1,00 40 sc Medicinal Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Cumaru (semente)Dipteryx

odorata Willd.

Mamuru 1,00 30 sc Medicinal Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Pau rosa Amiba

rosaeodora Ducke Tapajós 2,00 20 sc Medicinal Mercado

local 1 sc/ faz em média 200 sacos

Barbatimão Stryphnodendron

barbatimam Mart.

Mamuru 2,00 30 sc Medicinal Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Verônica Dalbergia

subcymosa Mamuru 2,00 20 sc Medicinal Mercado

local 1 sc/ faz em média 200 sacos

Aroeira Astronium

urundeuva (Fr.All)Eng

l.

Ceará 2,00 25 sc Medicinal Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Sacaca Croton

cajucara Mamuru 2,00 10 sc Medicinal Mercado

local 1 sc/ faz em média 200 sacos

Carapanauba Aspidosperma

crapanauba

Mamuru 2,00 20 sc Medicinal Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Catuaba Mamuru 2,00 30 sc Afrodisíaco Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Marapuama Mamuru 2,00 20 sc Afrodisíaco Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Nó-de-cachorro Mamuru 2,00 20 sc Afrodisíaco Mercado local

1 sc/ faz em média 200 sacos

Jacareuba (diabetes e colesterol) Calophyllum

brasiliensis

Mamuru 2,00 30 sc Medicinal Mercado nacional

1 sc/ faz em média 200 sacos

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Quina Mamuru 2,00 15 sc Medicinal Mercado local

1 saca/ faz em média 200 sacos

Óleo de cumaru Colônia de Santarém

2,00 (70ml)

2 l Medicinal Mercado local

Compra 30 l Cada l faz 33 vidrinhos

Mel de abelha Colônia 10,00 (100 ml)

10 l Medicinal Mercado local

Óleo de amapá (pulmão)

Arapiuns 15,00 /l 1 l Medicinal Mercado local

Já compra em litro

Castanha-do-pará Bertholletia excelsa

Colônia 3,00 15 sc Alimento Mercado local

1 saca faz 200 sacos de 700 g

Óleo de gergelim Colônia 2,00 (70ml)

2 l Medicinal Mercado local

Compra 30 l Cada l faz 33 vidrinhos

Óleo de piquiá Mamuru 2,00 (70 ml)

3 l Medicinal Mercado local

Compra 30 l Cada l faz 33 vidrinhos

Óleo de mamona Colônia 15,00 /l 3 l Tirar resto de parto

Mercado local

Compra 30 l Cada l faz 33 vidrinhos

Óleo de andiroba Carapa guianensis

Aubl

Cametá 2,00/70ml 7 l Medicina Mercado local

Compra 50 l Cada litro faz 33 vidrinho

Óleo de copaíba Copaifera guianensis

Cametá 2,00 /70 ml

7 l Medicinal Mercado local

Compra 50 l Cada litro faz 33 vidrinho

Leite de sucuuba Himatanthus

sucuuba

Arapiuns 12,00 6 l Medicinal Mercado local

Compra de litro

Banha de carneiro Arapiuns 5,00 2 kg Medicinal Mercado local

1 kg de banha faz 5 litros diluído

Fonte: Pesquisa de campo.

Pelo que se observa a partir dos dados da Tabela 18, a cultura popular se encarregou

de indicar a finalidade dos produtos na cura das doenças e enfermidades das pessoas. No

entanto, as doses são na base da experiência, pois não se sabe cientificamente o poder de

cura de cada princípio ativo destes produtos. Também, em função do processo de

beneficiamento rudimentar e o grau de impureza e/ou de perda de validade pelo tempo de

exposição para venda, qual o real poder de cura desses produtos e em que dosagens devem

ser ministradas para surtir efeito.

Os fornecedores das cascas são pequenos extratores das áreas do Mamuru, que têm

na extração das cascas, uma oportunidade de aumento da renda. A freqüência com que

esses extratores vão à Santarém é semanal, pois precisam comprar mantimentos, e produtos

de higiene básica, porém a oferta de cascas ocorre a cada dois meses, pois a demanda por

estes produtos é pequena. Neste caso, o impacto sobre o estoque dos recursos naturais é

menor do que sua capacidade de regeneração.

Por outro lado, este é um mercado invisível, pois não há informação nas estatísticas

oficiais sobre o comportamento da oferta e demanda da maioria destes produtos. Também

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as áreas de concentração destes produtos ainda não foram identificadas e mapeadas, para

efeito de planejamento estratégico da extração sustentável. Assim, corre-se o risco de tais

áreas serem desmatadas para a produção de madeira em tora (os planos de manejo não

focam a questão), para a pecuária ou produção agrícola em geral pelos próprios pequenos

produtores.

Com relação aos produtos não-madeireiros utilizados na farmacopéia de Juruti, todos

extraídos da área de estudo Mamuru-Arapiuns e são comercializados de forma similar à

Santarém. Podem ser destacados os seguintes:

a) Produtos principais comercializados – mel de abelha, óleo de copaíba (Copaifera

guianensis Desf.) e óleo de andiroba (Carapa guianensis Aubl.);

b) Para combater inflamação – unha de gato, uxi amarelo, saratudo, óleo de curuá,

seiva de jutaí, copaíba, anani, cajuaçu (Anacardium spruceanum Benth. ex Engl.), óleo

de cumaru (Dipterix odorata (Aubl.) Willd.), leite de sucuuba;

c) Para o fígado – carapanauba, sacaca, espinheira santa e preciosa;

d) Banhos e defumações – envira taia;

e) Combate ao colesterol – ipê roxo (Tabebuia sp.), sacaca;

f) Estimulante – xixuá, marapuama, leite do amapá;

g) Combate à diabete – miraruíra;

h) Artesanato e utensílios domésticos – Cipó titica (Heteropsis flexuosa), Tucumã

(Astrocaryum aculeatum), Buruti (Mauritia flexuosa), Arumã (Ischinosiphon obliquus)

e Jacitara (Desmoncus polyacanthus Mart.);

i) Breu branco (para calafeto de embarcação).

A Tabela 19 reúne as principais espécies exploradas pela população tradicional e

preços pagos, no município de Juruti, com fins medicamentosos. O maior volume dos

produtos é comercializado dentro do próprio município de Juruti, quer diretamente ou por

encomenda. Daí, o comerciante não conhece a destinação final, mas supõe que em alguns

casos os produtos vão ser revendidos.

Pelas informações da Tabela 19, nota-se que a margem de comercialização total

média é de 36,53%, indicando que de cada R$ 100,00 reais gastos pelo consumidor na

aquisição destes produtos, 36,53% ficam com os agentes da comercialização e 63,47% com

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os pequenos produtores extratores. Isto revela que o mercado destes produtos opera em

regime de concorrência perfeita.

Tabela 19. Preço e margem de comercialização dos principais produtos utilizados na farmacopéia e no artesanato em Juruti, 2008.

Produto Unidade Preço pago ao produtor (R$)

Preço de venda (R$)

Margem de comercialização

(%)

Andiroba l 10,00 15,00 33,33 Copaíba l 15,00 20,00 25,00 Mel de abelha l 12,00 18,00 33,33 Óleo de curuá l 35,00 45,00 22,22 Óleo de cumaru l 40,00 50,00 20,00 Leite de sucuuba l 10,00 15,00 33,33 Leite de amapá l 5,00 8,00 37,50 CASCA* – carapanauba, evirataia, jatobá, preciosa, sacaca, sucuuba e uxi amarelo

sc 30,00 1,50

83,33 Semente de cumaru kg 3,00 7,00 57,14 Semente de jucá “ 1,50 3,50 57,14 Semente de tento “ 2,50 5,00 50,00 Abano/tucumã** um 1,00 (P); 1,50

(M); 2,00 (G) 1,50 (P); 2,50 (M); 3,50 (G) 38,73

Paneiro/ambé “ 8,00 10,00 20,00 Peneira/arumã “ 8,00 10,00 20,00 Vassoura/titica “ 2,50 3,50 28,57 Tipiti/bacaba “ 10,00 15,00 33,33 Tipiti/jacitara “ 18,00 25,00 28,00

Fonte: Pesquisa de campo. * saca de 30 kg, na compra, e pacotes de 100 g, na venda (60% de perda). ** (P) pequeno; (M) médio e (G) grande (calculou-se a média das margens).

O desvio padrão da margem de comercialização foi de 16,89%, considerado alto, pois

a sazonalidade e a perecibilidade destes produtos fazem com que os preços variem

bastante. Na época da safra tais preços caem e na entressafra aumentam muito. As cascas,

embora o mercado seja de concorrência pura, as perdas são muito grandes, daí o diferencial

da margem, pois para se proteger do risco e pelo custo de beneficiamento e embalagem,

tornam o produto majorado para o consumidor.

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Mercado de artesanato de Juruti

O artesanatos/utensílios são produtos derivados do “tessume”5 correm o risco de

desaparecer, posto que não há renovação do pessoal que os produzem e esse conhecimento

pode se perder. Há ocorrência de intermediação entre os produtores e os comerciantes

locais. O cipó titica (Heteropsis flexuosa) é uma das matérias-primas que sofrem com o

avanço do processo de desmatamento uma vez que sua ocorrência está associada à

presença de árvores de grande porte (que são cobiçadas pela exploração madeireira), as

quais, por ocasião da derrubada, levam junto o “pé” do cipó. Na fase adulta, o caule fica

grosso e lenhoso o que torna a fibra altamente resistente e durável, conferindo-lhe às

características indispensáveis para o seu uso na fabricação de móveis, artefatos e objetos

artesanais

O tucumã (Astrocaryum aculeatum), palmeira de até 20 m de altura, além da

produção de um fruto de grande valor nutritivo, sua madeira serve para a produção de

brincos; anel do caroço; óleo culinário de suas sementes; fibras retiradas das folhas secas

que servem para a confecção de redes e cordas e, que quando maceradas, tornam-se mais

resistentes, sendo utilizadas no artesanato.

O buriti (Mauritia flexuosa) que já se encontra na lista vermelha de espécies em

extinção da IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources),

vem sofrendo com a depredação das matas ciliares, particularmente daqueles cursos

d’águas que circundam a sede municipal e algumas comunidades. Suas fibras são utilizadas

na confecção de paneiros.

A bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.) além do consumo do vinho de seus frutos,

fornece as folhas para a cobertura das moradias e a estirpe muitas vezes é utilizada como

esteio, viga e serve ainda como cabo em algumas ferramentas.

O Arumã possui quatro espécies: (i) de folha branca (Ischinosiphon obliquus); (ii) de

folha vermelha (Ischinosiphon arouma); canela de jacamim (Ischinosiphon gracilis) e arumã

d’água (Ischinosiphon polyphyla), das quais se extrai as fibras que servem para o artesanato

(peneiras e outros).

5 Denominação genérica para o processamento das fibras vegetais na produção de peneiras, tipitis, paneiros,

abanos, etc.

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A Jacitara (Desmoncus polyacanthus Mart.) tem suas fibras utilizadas na fabricação de

tipiti, que é um instrumento usado para espremer a mandioca ralada a fim de que sirva para

fazer a farinha.

A Figura 20 ilustra o artesanato fabricado em Juruti, tanto de madeira (ilustração do

jabuti) quanto de cipó, fibra e palha ou “tessume”.

Figura 27. Artesanato produzido em Juruti de cipó, fibras, palha e madeira, 2008.

Mercado de ecobijoux e artesanato de Aveiro

A produção de ecobijoux e artesanato de Aveiro são realizados nas comunidades de

Pinhel e Escrivão na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Estas comunidades são

representadas pela Associação Intercomunitária Yaná-Caeté. Esta é uma condição necessária

para que a reserva seja criada, uma vez que consta no Estatuto da Resex, a atividade

econômica que as famílias podem explorar na reserva, além de ser um canal de

comunicação que representa juridicamente as reivindicações dessas comunidades junto às

demais instituições governamentais.

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O artesanato de Escrivão é fabrica

são: bancos, produtos do “tessume” (vassoura, cestinhos).

A fabricação de ecobijoux

da floresta, como sementes, fibras, palhas e cocos. Os princip

pulseiras, aneis, tornezeleiras e brincos. Esta produção ocorre de forma esporádica, por

grupo de seis pessoas que fabricam as peças para comercializarem por ocasião de algum

evento, pois não há mercado local para tais produtos.

Na Casa do Artesão em Pinhel, fabricam

produtos são: sandálias, chap

bambu, palhas e fibras. A Figura 2

Figura 28. Casa do artesanato e produtos fabricados pela comunidade de Pinhel em Aveiro, 2008.

O artesanato de Escrivão é fabricado de madeira, talas, cipós. Os principais produtos

são: bancos, produtos do “tessume” (vassoura, cestinhos).

ecobijoux na comunidade Pinhel é feita com a utilização de produtos

da floresta, como sementes, fibras, palhas e cocos. Os principais produtos são colares,

pulseiras, aneis, tornezeleiras e brincos. Esta produção ocorre de forma esporádica, por

grupo de seis pessoas que fabricam as peças para comercializarem por ocasião de algum

evento, pois não há mercado local para tais produtos.

a Casa do Artesão em Pinhel, fabricam-se também artesanato. Os principais

produtos são: sandálias, chapéus, cintos, colheres de pau para cozinha e bolsas. Usam

bambu, palhas e fibras. A Figura 21 contém ilustração da Casa do Artesanato e dos produtos.

Casa do artesanato e produtos fabricados pela comunidade de Pinhel em Aveiro,

86

do de madeira, talas, cipós. Os principais produtos

na comunidade Pinhel é feita com a utilização de produtos

ais produtos são colares,

pulseiras, aneis, tornezeleiras e brincos. Esta produção ocorre de forma esporádica, por

grupo de seis pessoas que fabricam as peças para comercializarem por ocasião de algum

se também artesanato. Os principais

us, cintos, colheres de pau para cozinha e bolsas. Usam

contém ilustração da Casa do Artesanato e dos produtos.

Casa do artesanato e produtos fabricados pela comunidade de Pinhel em Aveiro,

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ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MERCADO

Os resultados do modelo de painel de dados com efeitos fixos foram apresentados na

Tabela 20. Os sinais dos parâmetros estão de acordo com o teoricamente esperado e se

apresentaram estatisticamente diferentes de zero a 1%. O preço apresenta sinal negativo,

indicando uma relação inversa com a quantidade demandada e a taxa de desmatamento

apresentou um sinal positivo, mostrando que aumentos na taxa de desmatamento

produziram incrementos na demanda de madeira em tora da região do Mamuru-Arapiuns.

Tabela 20. Resultados da estimação da equação de demanda de madeira em tora da região Mamuru-Arapiuns, 2008.

Variável dependente: LOG(MAD)

Instrument list: C TDESMAT TDESMAT(-1) LOG(ICMS) LOG(PBPC) LOG(NMAT) LOG(NEMP) LOG(VPEX) LOG(VPPC)

White period standard errors & covariance (d.f. corrected)

Variável Coeficiente Desvio padrão Estatística - t Probabilidade

C 11.3196 2.60E-05 434672.9 0.0000

LOG(Preço) -0.22056 6.52E-06 -33818.00 0.0000

TDESMAT 0.57620 3.37E-08 171016.4 0.0000

Fixed Effects (Cross)

Aveiro - C -2.35E-07

Itaituba - C -2.35E-07

Juruti - C -2.35E-07

Santarém - C -2.35E-07

Cross-section fixed (dummy variables)

R-quadrado 0.758946 Média da variável dependente 11.05302

R-quadrado ajustado 0.691986 Desvio padrão da variável dependente 0.384910

Desvio P. da regressão 0.213621 Soma de quadrados dos resíduos 0.821412

Estatística - F 22.70349 Estatística Durbin-Watson 2.360002

Probabilidade (Estat. - F) 0.000047 Segundo estágio SSR 0.461412

Instrument rank 9.000000

Os resultados da Tabela 20 mostraram que 75,89% das variações na quantidade

demandada de madeira em tora foram explicadas diretamente por variações simultâneas no

preço e na taxa de desmatamento e indiretamente pelas variáveis instrumentais. A

estatística F apresentou-se diferente de zero a 1%, atestando a adequação do modelo de

efeitos fixos ao fenômeno estudado. A estatística de Durbin-Watson indicou ausência de

autocorrelação serial de primeira ordem nos resíduos.

As estimativas dos parâmetros foram interpretadas como elasticidade, uma vez que a

equação foi especificada nos logaritmos. A elasticidade-preço da demanda de madeira em

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tora, igual a – 0,220, indica que as quantidades demandadas tendem a cair 2,2% em resposta

a cada aumento de 10% nos preços do produto, ceteris paribus. Este resultado revela que a

demanda é inelástica a preço. Este fato caracteriza a demanda pelo produto como instável

em curto prazo, pois quaisquer variações nas quantidades demandadas produzem grandes

variações nos preços. Como o mercado de madeira está fortemente atrelado ao consumo no

mercado nacional e/ou internacional, pequenas alterações na demanda destes mercados

induzem grandes variações nos preços no mercado local e causam variações na renda do

segmento de madeira e móveis.

A elasticidade-cruzada da demanda de madeira com relação à taxa de

desmatamento, igual a 0,576, mostra que a cada incremento de 10% na taxa de

desmatamento da região Mamuru-Arapiuns, tende a produzir aumento na demanda de

madeira em tora de 5,76%, ceteris paribus. Como é inelástica a preço, mudanças na

demanda, provocada por aumento na taxa de desmatamento, tendem a gerar grandes

volatilidades na renda do extrativismo florestal, favorecendo-os em curto prazo e

estimulando a expansão da atividade no local.

A estabilização da demanda de madeira em tora na região estudada depende da

eficiência do marco regulatório, comandado pelo arranjo institucional (INCRA, ITERPA,

IBAMA, SEMMA, IDEFLOR, SEMMA) no que tange à regularização fundiária, concessão de

áreas de florestas públicas e ao controle do desmatamento e fiscalização da comercialização

do produto.

Os resultados obtidos para a equação de oferta também se apresentaram coerentes

com o esperado, pois os preços apresentaram correlação positiva, assim como as taxas de

desmatamento contemporâneas e defasadas de um período. A variável ICMS apresentou

sinal negativo, indicando que aumento na carga tributária tende a reduzir a oferta dos

produtos florestais da região estudada (Tabela 21).

Os resultados da Tabela 21 mostraram que 99,69% das variações na quantidade

ofertadas de madeira em tora foram explicadas diretamente por variações simultâneas no

preço, na taxa de desmatamento (presente e passada) e no ICMS, e indiretamente pelas

variáveis instrumentais. A estatística F apresentou-se diferente de zero a 1%, atestando a

adequação do modelo de efeitos fixos ao fenômeno estudado. A estatística de Durbin-

Watson indicou ausência de autocorrelação serial de primeira ordem nos resíduos.

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As estimativas dos parâmetros da oferta foram interpretadas como elasticidade, uma

vez que a equação foi especificada nos logaritmos. A elasticidade-preço da oferta de madeira

em tora, igual a 0,792, indica que as quantidades ofertadas tendem a aumentar 7,92% em

resposta a cada incremento de 10% nos preços do produto, ceteris paribus. Este resultado

revela que a oferta é inelástica a preço. Isto torna a oferta de madeira instável em curto

prazo, pois quaisquer variações nas quantidades ofertadas produzem variações mais que

proporcionais nos preços.

Tabela 21. Resultados da estimação da equação de oferta de madeira em tora da região Mamuru-Arapiuns, 2008.

Variável dependente: LOG(MAD)

Instrument list: C TDESMAT TDESMAT(-1) LOG(ICMS) LOG(PBPC) LOG(NMAT) LOG(NEMP) LOG(VPEX)

White period standard errors & covariance (d.f. corrected)

Variável Coeficiente Desvio padrão Estatística - t Probabilidade

C 18.5347 0.000660 28075.33 0.0000

LOG(Preço) 0.79171 3.40E-05 23295.72 0.0000

TDESMAT 0.47620 1.75E-08 271973.6 0.0000

TDESMAT(-1) 0.24440 1.34E-07 18302.75 0.0000

LOG(ICMS) -0.65223 4.55E-05 -14340.84 0.0000

Efeitos Fixos (Cruzado)

Aveiro - C 3.38E-08

Itaituba - C 3.38E-08

Juruti - C 3.38E-08

Santarém - C 3.38E-08

Cross-section fixed (dummy variables)

R-quadrado 0.996913 Média da variável dependente 11.05302

R-quadrado ajustado 0.995562 Desvio padrão da variável dependente 0.384910

Desvio P. da regressão 0.025642 Soma de quadrados dos resíduos 0.010520

Estatística - F 738.0587 Estatística Durbin-Watson 3.066219

Probabilidade (Estat. - F) 0.000000 Segundo estágio SSR 0.010520

Instrument rank 9,000000

A elasticidade-cruzada da demanda de madeira com relação à taxa de

desmatamento, igual a 0,476 em tempo contemporâneo e 0,244 em um período passado,

mostra que a cada incremento de 10% na taxa de desmatamento da região Mamuru-

Arapiuns, tende a produzir aumento na oferta de madeira em tora, respectivamente, de

4,76% imediatamente e 2,44% no período seguinte, ceteris paribus. Estes resultados

mostram que em curto prazo, a taxa de desmatamento produz um deslocamento na oferta

de 7,2%, mediante impacto no presente e no futuro próximo. Como a oferta é menos

inelástica do que a demanda, este deslocamento de oferta tende a beneficiar mais aos

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90

consumidores de madeira em tora, portanto as serrarias, do que aos extrativistas e

produtores rurais.

Com relação ao ICMS, a elasticidade foi de – 0,652, indicando que aumentos na carga

tributária na comercialização dos produtos da madeira tende a reduzir a oferta de madeira

legalizada em tora em 6,52%. Ou seja, o ICMS pode contribuir significativamente para a

extração e comercialização de madeira ilegal.

Estes resultados respaldam as análises qualitativas apresentadas anteriormente,

dando conta da complexidade de fatores que afetam o mercado de produtos madeireiros,

estritamente vinculado à atuação do arranjo institucional que opera ao longo da cadeia

produtiva.

RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL

A adequação da análise fatorial foi determinada pelos testes Bartlett e KMO. O teste

de Bartlett avaliou a significância geral da matriz de correlação e apresentou um valor de

108,04, indicando que as correlações, em geral, são significantes ao nível de 1% de

probabilidade, ou seja, a matriz de correlação não é diagonal. O teste KMO, da ordem de

0,647 indicou que as variáveis estão correlacionadas e o modelo fatorial apresentou um

nível bom de adequação aos dados. Estes resultados respaldam o emprego da análise

fatorial para a extração de fatores e a estimação dos escores fatoriais.

A matriz de correlação R, como descrito na metodologia, foi transformada por meio

de um modelo fatorial para gerar a matriz de cargas fatoriais. As cargas das variáveis

associadas aos fatores são interpretadas como identificadoras da estrutura latente das

variáveis, que refletem as forças competitivas das empresas de madeira e móveis. O

primeiro passo dessa tarefa reside em selecionar o número de componentes a serem

mantidos para a estimação dos escores fatoriais.

A Tabela 22 contém os resultados da solução inicial e rotacionada para os nove

fatores possíveis e seu relativo poder explanatório expresso pelos autovalores. Aplicando o

critério da raiz latente, conforme Dillon e Goldstein (1984), três componentes foram

mantidas ou extraídas. Observa-se que os três fatores explicam 68,94% da variância total da

nuvem de dados, o que é satisfatório pelo critério da porcentagem da variância.

Na Tabela 22, as três primeiras colunas são os resultados da variância total, variância

relativa e variância acumulada das 11 componentes. As três últimas colunas contêm a

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variância total, variância relativa e variância acumulada para os quatro fatores extraídos. O

fator 1 explicou 24,047% da variância total, o fator 2 explicou 17,18%, o fator 3 explicou

14,435% e o fator 4 13,275%. No acumulado, os quatro fatores explicaram 68,94% da

variância total da nuvem de dados.

Tabela 22. Resultados dos autovalores para a extração de fatores componentes e variância total explicada pelos fatores.

Componente Autovalores (λ) e variâncias iniciais Variâncias após rotação

Variância Total

% of Variância

Variância acumulada %

Variância Total

% da Variância

Variância acumulada %

1 3,094 28,131 28,131 2,645 24,047 24,047 2 1,780 16,182 44,313 1,890 17,180 41,227 3 1,448 13,167 57,480 1,588 14,435 55,662 4 1,260 11,458 68,937 1,460 13,275 68,937 5 0,780 7,093 76,031 6 0,699 6,357 82,388 7 0,582 5,292 87,680 8 0,505 4,591 92,271 9 0,413 3,752 96,024

10 0,248 2,252 98,275 11 0,190 1,725 100,000

Fonte: Pesquisa de campo.

Na Tabela 23, a quinta coluna fornece a estatística, detalhando o grau em que cada

variável é “explicada” pelas três componentes, denominada de comunalidade. Das duas

últimas linhas, a primeira é a soma da coluna de cargas fatoriais ao quadrado (autovalores) e

indica a importância relativa de cada fator na explicação da variância associada ao conjunto

de variáveis analisadas. A soma de cada fator corresponde aos resultados da coluna quatro

da Tabela 23. O número 7,583 representa a soma total de cargas fatoriais ao quadrado e

indica a parcela total de variância extraída pela solução fatorial rotacionada, igual a 68,937%.

A parcela total da variância explicada pela solução fatorial (7,583) pode ser

comparada com a variação total do conjunto de variáveis que é representada pelo traço da

matriz fatorial. O traço é a variância total a ser explicada, obtida pela soma dos autovalores

do conjunto de variáveis (soma da primeira coluna da Tabela 22), que é igual a 11,0, dado

que cada variável tem um autovalor possível igual a 1,0. A soma total dos porcentuais de

traço extraído para a solução fatorial serve como índice para determinar o grau de

adequação da solução fatorial em relação ao que todas as variáveis representam. O índice

para esta solução mostra que 68,937% da variância total são representados pela informação

contida na matriz fatorial da solução em termos dos quatro fatores. O índice é considerado

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intermediário, e as variáveis estão, como esperado, estreitamente relacionadas umas com as

outras.

Tabela 23. Matriz de cargas fatoriais (α) após a rotação ortogonal pelo método Varimax.

Variáveis Fatores

Comunalidade F1 F2 F3 F4

Preço madeira beneficiada 0,097 0,887 -0,123 0,062 0,816 Preço madeira em tora 0,038 0,830 0,269 0,059 0,766 Quantidade de madeira em tora 0,652 -0,262 -0,364 -0,092 0,636 Número de empregos 0,789 0,303 0,366 -0,078 0,854 Receita bruta total 0,587 0,336 0,294 -0,255 0,609 Logística de transporte 0,355 0,018 0,670 0,239 0,633 Educação -0,043 0,272 -0,061 0,739 0,625 Mão-de-obra qualificada 0,613 0,109 -0,095 0,529 0,676 Inovação tecnológica -0,080 0,069 0,765 -0,029 0,597 Cooperação 0,007 -0,222 0,313 0,686 0,619 Capacidade instalada da empresa 0,855 -0,003 0,050 0,138 0,754

Soma de quadrado do autovalor 2,645 1,890 1,588 1,460 7,583 Porcentual do traço (%) 24,047 17,180 14,435 13,275 68,937

Fonte: Pesquisa de campo.

A soma em linha de cargas fatoriais ao quadrado gera a comunalidade, última coluna

da Tabela 23. Estes números mostram a magnitude da variância em uma variável que é

explicada pelos quatro fatores tomados juntos. O tamanho da comunalidade é um índice útil

para avaliar o quanto de variância em uma dada variável é explicado pela solução fatorial.

Comunalidades grandes indicam que uma grande parcela da variância em uma variável foi

extraída pela solução fatorial. Uma comunalidade pequena, inferior a 0,50, mostra que uma

boa parte da variância contida em uma variável não é explicada pelos fatores.

Sempre que uma solução fatorial satisfatória é obtida, é importante atribuir um

significado a ela. O processo envolve substantiva interpretação do padrão das cargas

fatoriais para as variáveis, incluindo seus sinais, como esforço para nomear cada fator. Em

geral, todas as cargas fatoriais significantes foram utilizadas no processo de interpretação,

porém, as variáveis com maior carga influenciaram mais na seleção de nomes ou rótulo para

representar os fatores.

A seleção das variáveis significativas que devem fazer parte de um fator é eleita com

base na magnitude da carga fatorial (Tabela 23). Assim, as variáveis significativas podem ser

eleitas, olhando-se da esquerda para a direita ao longo de cada linha e selecionando-se as

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cargas de maior valor. Adotando este processo, o fator 1 tem cinco cargas significativas e os

fatores 2, 3 e 4 têm duas cargas significativas cada um.

O primeiro fator contemplou as seguintes variáveis: quantidade de madeira em tora,

número de emprego, receita bruta, mão-de-obra qualificada e capacidade instalada da

empresa, ambas com sinais positivos e valores de intermediários para altos, demonstrando

que todas variam juntas, estando coerente com as forças definidoras da estrutura de

organização empresarial interna. Assim, uma maior quantidade produzida está associada a

uma maior receita, maior número de empregados, mão-de-obra qualificada e a capacidade

instalada da empresa, ceteris paribus. Para que a posição competitiva dessas empresas

aumente, de acordo com os determinantes do fator 1, as estratégias devem ser ajustadas

pata atenuar as ameaças das empresas rivais, de produtos substitutos, de novos entrantes

no mercado e do aporte regulador da atividade. As variáveis vinculadas ao fator 1, em geral,

estão fortemente atreladas às empresas de maior porte, com maior capacidade de exercer

poder de mercado e conquistar maior parcela de mercado. Este fator pode ser chamado de

dimensão capacidade empresarial, uma vez que os fatores influenciados por essas variáveis

dizem respeito à obtenção de economias de escala e barreira à entrada, eficiência e

produtividade da mão-de-obra (volume de produção, número de empregos, poder de

mercado, qualidade da mão-de-obra) que se enquadram nas dimensões estrutura e

desempenho do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho - ECD ou modelo tradicional, nas

dimensões micro do modelo sistêmico e na força rivalidade e ameaça de entrantes do

modelo de Porter (SANTANA, 2007a,b).

As empresas madeireiras e moveleiras dos municípios da área Mamuru-Arapiuns,

quanto ao tempo de funcionamento, apresentam a seguinte distribuição: 13% estão

operando há menos de um ano; 13% entre um e dois anos; 15% entre dois e cinco e 59%

estão em funcionamento há mais de cinco anos (Figura 1). As 18 empresas madeireiras, duas

estâncias e 12 moveleiras estão operando há mais de cinco anos. Isto significa que esta

aglomeração empresarial, espacialmente concentrada nos municípios de Santarém e

Itaituba apresenta alto grau de enraizamento, pois 21 (39%) destas empresas estão

operando nestes municípios há mais de 10 anos.

Com relação ao porte das empresas, tem-se que: 39 (72%) empresas são

microempresas, pois empregam até 19 pessoas; 14 (26%) empresas são de pequeno porte

porque empregam entre 20 e 99 pessoas e uma (2%) de médio porte (Figura 22). Entre as

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empresas de pequeno e médio porte estão 13 madeireiras, uma moveleira e uma estância.

As microempresas são constituídas de cinco madeireiras, quatro estâncias e 30 movelarias.

Figura 29. Tempo de funcionamento da empresa na área de estudo e porte da empresa com base no número de empregos, 2008.

Ainda com relação à capacidade empresarial, tem-se que as empresas madeireiras,

ao longo de 2008, processaram, em média, 928 m3 de madeira em tora, com 52

empregados, gerando um valor médio de R$ 860,00 mil. As movelarias, por sua vez,

processaram o equivalente a 258 m3 de madeira em tora, com sete empregados em média,

gerando um valor médio de R$ 89,50 mil. Por fim, as estâncias beneficiaram ou

comercializaram o equivalente a 81,2 m3 de madeira em tora, com 23 empregados e uma

receita bruta de R$ 175,00 mil em 2008. Estas variáveis constituem grande peso na

dimensão capacidade empresarial, indicando que em horizonte de longo prazo, com a

adequação da estrutura de governança, um maior porcentual da capacidade instalada das

empresas passe a ser utilizada.

A qualidade da mão-de-obra dessas empresas, dentro de suas limitações, foi

assegurada mediante a participação de funcionários em diversos cursos não sistemáticos, ao

longo dos últimos cinco anos. A Tabela 24 contém o leque de áreas de interesse e a

frequência das empresas que proporcionaram a realização de treinamento para alguns de

seus funcionários.

Observa-se que as áreas de maior interesse das empresas são: segurança e medicina

do trabalho, com freqüência de 37% das empresas; qualidade e produtividade dos produtos

e do trabalho, com 35,2% das empresas; operação de máquinas e equipamentos, com

31,5%; manejo florestal com 24,1% e gestão ambiental com 16,7%; e tecnologia de produção

com 18,5%. Todas estas áreas estão vinculadas à obtenção de maior eficiência no processo

7; 13%

7; 13%

8; 15%

32; 59%

Menos de um ano

De 1 a 2 anos

De 2 a 5 anos

Mais de 5 anos

39; 72%

14; 26%

1; 2%Até 19 pessoas

De 20 a 99 pessoas

De 100 a 499 pessoas

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produtivo, conferindo, ao final, maior capacidade para as empresas manterem e/ou

ampliarem suas parcelas de mercado, segundo suas capacidades instaladas.

Tabela 24. Áreas de interesse das empresas para atualização e treinamento dos funcionários, 2008.

Áreas de realização de treinamento Frequência Porcentual

Qualidade e produtividade 19 35,2

Gestão do meio ambiente 9 16,7

Tecnologia de produção 10 18,5

Operação de máquinas e equipamentos 17 31,5

Manejo Florestal 13 24,1

Gestão Empresarial 9 16,7

Vendas / marketing 5 9,3

Desenvolvimento e design de produtos 6 11,1

Segurança e medicina do Trabalho 20 37,0

Georeferenciamento da área de manejo 4 7,4

Informática e computação 4 7,4

Exportação e comércio exterior 6 11,1

Línguas estrangeiras 2 3,7

Não realiza treinamento 22 40,7

Fonte: Pesquisa de campo.

Por outro lado, é significativo o número de 22 (40,7%) empresas que não realizaram

nenhum treinamento no último lustro. Este aspecto contribui negativamente para a

dinâmica da dimensão capacidade empresarial, revelada como o principal fator explicativo

do desempenho competitivos das empresas. Portanto, a sustentabilidade destas empresas

exige a inclusão de estratégias de qualificação da mão-de-obra para todas as empresas da

aglomeração empresarial dos municípios da área de estudo.

No segundo fator, foram incluídas as variáveis: preço da madeira em tora e preço

dos produtos da madeira. Estas variáveis estão relacionadas às empresas de diversos

tamanhos, evidenciando a capacidade de criar vantagem competitiva por meio do foco no

preço dos produtos. Estas variáveis definem a dimensão mercado. Esta dimensão de

conduta está ligada às estratégias estabelecidas para definir a concorrência via preços da

matéria-prima e dos produtos, contemplada nas forças competitivas do modelo tradicional,

denominada conduta e na rivalidade das empresas que concorrem em preço no modelo das

cinco forças de Porter (SANTANA, 2008a).

As informações da Tabela 25 indicam o peso das principais variáveis utilizadas pelas

empresas pesquisadas para definirem suas estratégias competitivas. Nota-se que para 81,5%

das empresas, um preço competitivo é a principal força para vencer a concorrência

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empresarial e se manter no mercado. Em seguida surgem a qualidade do produto (72,2%), o

preço da matéria-prima (55,6%) e o prazo de entrega do produto (51,9%). Estas e as demais

variáveis definem o foco das estratégias concorrenciais das empresas de produtos

madeireiros da região Mamuru-Arapiuns. Portanto, a concorrência é baseada no preço que,

diga-se de passagem, não é uma estratégia competitiva sustentável em longo prazo, pois as

empresas que pautam suas estratégias em inovação tecnológica e de gestão, diferenciação

de produto, informação e conhecimento, rapidamente eliminam as estratégias tradicionais

focadas em custo e preço. Portanto, a orientação para a sustentabilidade da aglomeração

empresarial de madeira e móveis deve ser considerada na formulação de suas estratégias

competitivas.

Tabela 25. Fatores observados pelas empresas para orientar suas estratégias competitivas vinculadas ao mercado, 2008.

Fatores Frequência Porcentagem Preço competitivo do produto 44 81,5

Preço da matéria-prima e insumo 30 55,6

Qualidade e origem do produto 39 72,2

Prazo de entrega do produto 28 51,9

Disponibilidade do produto para entrega 17 31,5

Canal de comercialização adequado 14 25,9

Produto certificado (área de manejo) 16 10,7

Fonte: Pesquisa de campo.

O terceiro fator contempla as variáveis: logística de transporte e inovação

tecnológica. Estas duas variáveis estão diretamente relacionadas à competitividade

sistêmica das empresas, uma vez que a logística de transporte (modais de transportes,

infraestrutura portuária, condições de armazenamento, custos de transporte e regulação da

comercialização) e o desenvolvimento e utilização de inovações tecnológicas no produto, em

todo processo produtivo e na gestão contribuem para criar estratégias competitivas

sustentáveis para as empresas. Esta dimensão pode ser entendida como o embrião da

dinâmica competitiva das empresas de madeira e móveis da área de estudo (SANTANA,

2002; 2007; 2008; SANTANA et al., 2008; SANTANA, 2008b).

O transporte da matéria-prima até o pátio das empresas e dos produtos até os

mercado é estruturada em três alternativas: a rodoviária, utilizada por 24 (44,4%) empresas,

que consiste no transporte das toras de madeira e/ou do produto beneficiado em

caminhões. Estas operações, geralmente se resumem ao mercado local. O modal

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fluvial/marítimo, utilizado por 10 (18,5%) empresas, consiste no transporte de madeira em

tora até o pátio da empresa e do produto beneficiado até o porto em balsas. A partir deste

ponto, os navios conduzem o produto para o mercado internacional pelo mar. O modal

fluvial/rodoviário, que combina o transporte do produto por caminhões e/ou balsas, é

utilizado por 20 (37%) empresas.

A logística de transporte e comercialização da madeira em tora e dos produtos

fabricados pelas empresas madeireiras influencia diretamente na competitividade das

empresas, sobretudo porque as estratégias competitivas são construídas com base nos

fatores tradicionais como recursos naturais, crédito subsidiado, mão-de-obra barata e

logística de transporte. As variáveis que definem a dinâmica desta logística estão na Tabela

26. Observa-se que o custo da matéria-prima tem o maior peso na logística para 34 (63%)

empresas, seguido do custo da mão-de-obra para 32 (59,3%) empresas.

Tabela 26. Fatores que influenciam a logística de transporte e comercialização da matéria-prima e produtos das empresas de madeira e móveis, 2008.

Fatores que influenciam no preço Frequência Porcentagem

Custo de matéria-prima 34 63,0 Custo de mão-de-obra 32 59,3 Despesas administrativas e impostos 26 48,2 Despesas portuárias 22 40,7 Custo de transporte 22 40,7 Custo da comunicação 16 29,6

Fonte: Pesquisa de campo.

As despesas administrativas e o pagamento de impostos representam o maior peso

para 26 (48,2%) empresas. Na sequência aparecem as despesas portuárias e o custo de

transporte para 22 (40,7%) empresas e, por último, o custo da informação para 16 (29,6%)

empresas. Nas entrevistas, foram reveladas que estas variáveis oneram o custo do produto

final, o que reduz a competitividade dos produtos no mercado nacional e/ou internacional.

Em alguns casos, o peso dessas variáveis é considerado proibitivo, o que leva o empresário,

dada a escala e o padrão tecnológico, a adquirir madeira sem a certificação de origem,

contratar mão-de-obra informal e não dispor de informação sobre o mercado. Este aspecto

deve ser levado em consideração na definição das ações de apoio à organização desse

aglomerado de empresas madeireiras da região Mamuru-Arapiuns.

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Com relação à introdução de inovação tecnológica no produto, processo produtivo e

nas técnicas de gestão empresarial, tem-se um desequilíbrio em favor da não utilização de

inovação nos últimos cinco anos (Tabela 27).

Tabela 27. Aspectos de inovações tecnológicas utilizadas pelas empresas madeireiras da região Mamuru-Arapiuns, 2008.

Introdução de inovações Decisão

Sim % Não %

Produto novo para a sua empresa, mas já existe no mercado? 29 55,8 23 44,2

Produto novo para o mercado nacional? 6 11,5 46 88,5

Produto novo para o mercado internacional? 11 21,2 41 78,8 Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? 16 30,8 36 69,2

Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? 6 11,5 45 86,5

Implantação de técnicas avançadas de gestão (manejo)? 13 25,0 39 75,0

Implantação de significativas mudanças na estrutura organizacional? 19 36,5 33 63,5

Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização? 20 38,5 32 61,5 Implantação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISO 14001, etc.)

9 17,3 43 82,7

Máquinas e equipamentos modernos 7 13,5 45 86,5

Fonte: Pesquisa de campo.

Com relação ao produto, obteve-se que 29 (55,8%) das 52 empresas que

responderam a esta questão fizeram a introdução de um novo produto para sua empresa,

mesmo que já exista no mercado local, nacional ou internacional. Com relação a produto

novo para o mercado nacional, apenas seis empresas informaram positivamente. Para o

mercado internacional, 11 empresas introduziram produto novo, geralmente, produtos

fabricados a partir de novas espécies de madeira.

As inovações no processo produtivo, com relação a tecnologias novas para as

empresas, obtiveram-se respostas afirmativas de 16 empresas. Estas inovações se devem à

implantação de planos de manejo florestal, que antes não eram praticados pela maioria das

empresas da região estudada. Com relação a processo novo para o setor, têm-se algumas

iniciativas no aproveitamento de resíduos das sobras na empresa, vinculando moveleiras e

comunidades, e avanço na produção de painéis de madeira, que antes não se praticava na

região, por envolver a utilização de máquinas e equipamentos modernos e maior

conhecimento técnico. Estas iniciativas promovem a diferenciação e a agregação de valor

aos produtos, fatores necessários para manter a dinâmica competitiva das empresas em

longo prazo.

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99

No campo da inovação de gestão, um número relativamente maior de empresas está

utilizando técnicas avançadas de gestão (13; 25%), mudança na estrutura organizacional do

ambiente interno (19; 36,5%), mudanças nas práticas e conceitos de comercialização (20;

38,5%) e mudanças para atender aos requisitos das normas para a certificação de produtos

(9; 17,3%).

Embora seja uma parcela significativamente menor de empresas que está

introduzindo inovações tecnológicas (no produto e no processo produtivo) e de gestão, tal

iniciativa revelada nos municípios com maior concentração de empresas (Itaituba e

Santarém) deve ser levada em consideração no desenho das ações de apoio ao

desenvolvimento competitivo desse segmento empresarial.

Os coeficientes técnicos de transformação, relacionados às máquinas e

equipamentos modernos para o desdobramento, acabamento e fabricação de novos

produtos, que é um indicativo do padrão tecnológico das empresas, revelaram que 16

(88,9%) serrarias necessitam pelo menos 2,5 m3 de madeira em tora para cada m3 de

madeira desdobrada ou beneficiada e apenas duas (11,1%) citaram o coeficiente 1,66 m3

apenas como referência do ideal sugerido pelo IBAMA. Na realidade, algumas empresas, em

função das máquinas e equipamentos em uso, necessitam de mais que 3,0 m3 para gerar um

m3 de madeira beneficiada tipo exportação. As movelarias, por sua vez, conseguem um

maior aproveitamento da madeira, com 23 (69,7%) aproveitam 80% e 10 (30,3%) aproveitam

mais de 80%, pois trabalham a partir da madeira serrada para fabricar seus produtos.

Observa-se, portanto, que o desperdício a partir da madeira em tora que chega às serrarias

da região Mamuru-Arapiuns é de pelo menos 40%.

O quarto fator foi composto pelas variáveis educação (número de anos de

escolaridade da mão-de-obra e dos empresários, treinamentos realizados em diversas áreas

de interesse da empresa) e cooperação (participação dos empresários em organizações,

trabalho cooperativo, ação coletiva para enfrentar problemas e conquistar oportunidades).

Este fator contempla a formação de capital humano e a construção de capital social,

portanto representa a dimensão desenvolvimento local para as empresas de madeira e

móveis dos municípios pesquisados (SANTANA, 2008b).

Um dos fundamentos do processo de desenvolvimento local e sustentável está na

disponibilidade e formação de capital humano. O capital humano envolve o conhecimento

tácito e codificado em posse da sociedade local, bem como seu grau de habilidade,

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100

traduzido nos anos de escolaridade e na destreza para solucionar problemas tradicionais e

novos que se apresentam no curso do desenvolvimento local. Referências sobre o capital

humano pode ser encontrada em Santana (2008b) e Santana et al. (2008).

Na Tabela 28 está a distribuição do número de empregados de acordo com o nível de

escolaridade. Foram encontrados 26 (1,7%) trabalhadores sem escolaridade ou analfabetos

e 495 (32,6%) com ensino fundamental incompleto, que podem ser enquadrados como

analfabetos informais. Este é um porcentual significativo e que limita consideravelmente o

enraizamento de iniciativas de desenvolvimento local e sustentável. Portanto, este problema

deve ser removido como condição prioritária das ações institucionais para o local.

Tabela 28. Nível de escolaridade dos trabalhadores nas empresas madeireiras entrevistadas na região Mamuru-Arapiuns, 2008.

Escolaridade (Situação atual) Frequência Porcentual

Sem escolaridade (analfabeto) 26 1,7

Ensino fundamental incompleto 495 32,6

Ensino fundamental completo 242 15,9

Ensino médio incompleto 475 31,3

Ensino médio completo 220 14,5

Ensino superior incompleto 35 2,3

Ensino superior completo 26 1,7

Ensino de pós-graduação completo 1 0,1

Total 1.520 100,0

Fonte: Pesquisa de campo.

Por outro lado, o contingente de trabalhadores que completaram o ensino superior

e/ou ainda está cursando representa apenas 4% do total. Isto significa que investimentos em

educação constituem a prioridade das estratégias de política para o desenvolvimento local

desse aglomerado empresarial, pois o mercado exige mão-de-obra qualificada em toda

cadeia produtiva. Nos planos de manejo, utilização tecnológica no ambiente interno das

empresas, logística de produção e distribuição, informação de mercado e gestão da cadeia

produtiva, exigem-se mão-de-obra com maior nível de escolaridade e de instrução em áreas

técnicas.

Com relação à participação efetiva em organizações sociais como cooperativas,

apenas 18,5% das empresas responderam afirmativamente. Portanto, 81,5% das empresas

não participam efetivamente de organização social. Esta é uma informação preocupante

quando se pensa em desenvolvimento local e sustentável, uma vez que a ação

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individualizada predomina nas estratégias empresariais para conviver no ambiente

competitivo em que operam.

Um fato ainda mais revelador diz respeito às informações da Tabela 29, que indicam

o grau de importância dada pelos agentes entrevistados sobre o reconhecimento das ações

coletivas e foram desenvolvidas no âmbito das organizações, com o fito de solucionar

problemas, identificar alternativas de políticas e conquistar objetivos e metas traçadas em

conjunto.

Tabela 29. Indicador da percepção dos agentes com relação à importância das organizações sociais para o desenvolvimento local, 2008.

Tipo de Contribuição Qualificação

Índice * 0 % 1 % 2 % 3 %

Auxílio na definição de objetivos comuns para o setor 19 43,2 7 15,9 11 25,0 7 15,9 0,332

Estímulo na percepção de visões de futuro para a ação estratégica 20 44,4 6 13,3 13 28,9 6 13,3 0,318 Disponibilidade de informação sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc. 20 45,5 7 15,9 9 20,5 8 18,2 0,332

Identificação de fontes e formas de financiamento 22 50,0 4 9,1 8 18,2 10 22,7 0,345

Promoção de ações cooperativas 19 43,2 8 18,2 7 15,9 10 22,7 0,361

Apresentação de reivindicações comuns 20 45,5 3 6,8 11 25,0 10 22,7 0,373

Criação de fóruns e ambientes para discussão 20 46,5 5 11,6 8 18,6 10 23,3 0,360 Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas 25 56,8 4 9,1 5 11,4 10 22,7 0,311 Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local 20 46,5 6 14,0 7 16,3 10 23,3 0,356

Organização de eventos técnicos e comerciais 22 51,2 3 7,0 9 20,9 9 20,9 0,335

Fonte: Pesquisa de campo. Observação: 0 - nulo; 1 - baixo; 2 – médio; 3 – alto. Índice = 0 x nulo + 0,3 x baixo + 0,6 x médio + alto.

O índice que mede o grau de reconhecimento das empresas quanto à ação coletiva

para atuar na solução de questões nos níveis micro e mesoanalíticos, situa-se inferior a 0,4,

portanto, considerado baixo. Com efeito, o maior peso recai, em quase todas as questões,

na resposta nula, ou seja, os efeitos das ações coletivas não são perceptíveis pelos agentes

entrevistados. Com base neste resultado, pode-se afirmar que a construção de capital social

deve iniciar do zero. Como a formação de capital social é um dos pilares do desenvolvimento

endógeno, pois dele depende toda a dinâmica operacional da estrutura de governança,

principal problema identificado no mercado de produtos madeireiros da região Mamuru-

Arapiuns, as ações de política para apoiar o desenvolvimento deste aglomerado de empresas

devem ser priorizados.

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ANÁLISE DO ÍNDICE SISTÊMICO DE DESEMPENHO COMPETITIVO - ISDC

Os resultados da Tabela 30 permitem posicionar individualmente as empresas com

respeito às fragilidades e pontos fortes, inclusive com a magnitude do impacto, segundo a

dimensão fatorial. O ISDC revelou que existem três (5,56%) empresas com alto desempenho

competitivo sistêmico (duas de Santarém e uma de Itaituba), 33 empresas com desempenho

intermediário (61,11%) e 18 empresas com baixo desempenho competitivo sistêmico

(33,33%). Duas empresas apresentaram significativo domínio nos três primeiros fatores e a

outra empresa apresentou relativa eficiência na dimensão desenvolvimento local. A

empresa de maior desempenho lidera as dimensões capacidade empresarial e mercado. Este

fato revela que a empresa exerce um efeito demonstração no que se refere à inserção no

mercado, capacidade de atendimento às demandas dos vários níveis de mercados e

qualificação de mão-de-obra. Porém, com relação às forças que induzem o desenvolvimento

local, a empresa mostra-se completamente isolada. Com efeito, apresenta grande

dificuldade para implantar o manejo de baixo impacto e, por sua vez, a cadeia de custódia

dos produtos que fabrica e comercializa.

Por outro lado, a terceira empresa apresentou forte relação com o desenvolvimento

local. Com este resultado, pode-se desenvolver estratégia para que a liderança destas

empresas se torne sustentável para o desenvolvimento local. A expectativa é que tais

empresas adéquem suas ações para equilibrar os efeitos das forças que determinam o

desenvolvimento local e sustentável. Portanto, o aparato regulatório deve operar nesta

direção, orientando os instrumentos de ação para alterar o quadro atual.

No que se refere às empresas que se enquadram no ISDC intermediário, foram

identificadas 15 madeireiras (seis em Itaituba, oito em Santarém e uma em Juruti), 16

movelarias (sete em Itaituba, oito em Santarém e uma em Juruti) e duas estâncias (uma em

Itaituba e uma em Santarém). Neste grupo de empresas, as deficiências são mais comuns e

profundos com relação aos fatores 1 e 3, pois metade delas apresentaram sinais negativos

para esses fatores. Em seguida vem a deficiência no fator 2 (Tabela 9). Observa-se que tais

empresas estão com problemas na capacidade empresarial, mercado e competitividade

sistêmica. Em geral, tem-se que 13 empresas apresentam alta deficiência em dois fatores e

cinco em três fatores. Estas deficiências são contrabalançadas pelo bom desempenho nos

demais fatores, o que lhes assegura a posição de centralidade. Um grupo de 15 empresas

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apresentou sinal negativo apenas para um dos fatores, porém o desempenho positivo obtido

nos demais fatores foi relativamente pequeno.

Tabela 30. Valores dos escores fatoriais originais e padronizados e o índice de desempenho competitivo.

Empresa Fatores

ISDC F1 F2 F3 F4

Madeireira ST6 3,0819 2,1682 1,6990 -2,4356 0,791

Madeireira IT3 1,6206 1,6295 1,5303 -0,7538 0,708

Madeireira ST11 0,9388 0,8822 1,3224 1,5254 0,700

Madeireira ST8 1,2057 -0,0294 2,0916 1,0045 0,679

Estância ST2 1,2861 0,7050 0,2458 0,9898 0,648

Madeireira ST10 0,6998 0,6404 0,3209 0,6059 0,585

Madeireira ST1 1,0975 1,6638 -0,6685 -1,1633 0,557

Movelaria ST9 0,1948 0,4268 0,7918 0,6079 0,552

Madeireira IT4 1,2013 0,0706 0,7866 -0,8254 0,550

Madeireira ST2 0,5968 -0,2922 0,3722 0,9177 0,538

Madeireira ST4 0,8486 -0,9311 0,6621 0,8083 0,529

Madeireira ST5 0,6768 -0,8351 0,8002 0,7706 0,525

Movelaria IT1 -0,6210 0,5761 0,7384 1,1636 0,517

Movelaria ST6 -0,6567 1,1931 0,1380 0,8791 0,512

Movelaria ST10 -0,2270 -1,0243 0,8263 2,0475 0,498

Madeireira IT1 0,7144 0,4965 -1,1032 0,1560 0,498

Madeireira IT7 -0,4952 0,4645 0,7451 0,5543 0,495

Madeireira JU1 0,6068 -1,3095 0,0986 1,4012 0,490

Movelaria IT3 -0,6172 0,9040 -0,0145 0,7066 0,485

Movelaria IT8 -0,5055 0,8515 -0,7520 1,2814 0,484

Madeireira ST3 0,8117 -1,3158 -0,3321 1,1159 0,475

Estância IT1 0,2017 0,0474 -1,1562 1,2181 0,474

Movelaria ST7 2,3560 -2,1257 -0,8668 -0,2541 0,470

Movelaria IT4 -0,2854 -0,0911 -0,0493 0,7786 0,455

Movelaria ST5 -0,5955 0,5397 -1,1985 1,6163 0,454

Movelaria ST4 -1,2833 1,0998 0,6090 0,3365 0,453

Movelaria IT6 -0,4432 1,0323 -0,5885 -0,0451 0,449

Movelaria ST11 -0,3613 0,5768 -0,5883 0,3317 0,446

Madeireira ST9 0,5253 -0,5056 -0,8322 0,3136 0,443

Movelaria IT2 -1,0369 1,4855 0,2554 -0,5417 0,442

Madeireira IT2 -0,0371 0,4512 0,5591 -1,5991 0,430

Movelaria IT7 -0,8585 0,2336 0,4641 0,2451 0,427

Madeireira IT5 2,4300 -1,1568 -2,8350 -0,8567 0,422

Movelaria ST12 -0,4517 0,4815 -1,3414 0,7501 0,419

Madeireira IT6 1,2538 -0,7683 -2,1761 0,0608 0,418

Movelaria JU1 -0,8950 1,1897 -0,5181 -0,3763 0,411

Movelaria IT5 -0,4348 0,8268 -1,3355 -0,3297 0,394

Movelaria ST3 -1,0436 0,5678 -0,6308 -0,0825 0,371

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Estância ST1 -0,9535 0,2836 -0,4572 -0,0930 0,369

Movelaria AV2 -0,5021 -1,1307 0,5889 -0,1472 0,366

Movelaria ST8 -0,9809 -0,8156 1,1114 -0,2248 0,364

Movelaria IT10 -0,8894 0,0713 0,5423 -1,0995 0,361

Movelaria AV1 -0,6566 -1,1647 0,5005 0,0707 0,357

Estância ST3 -0,8950 -0,8322 0,8725 -0,5600 0,346

Movelaria JU4 -0,7980 0,7156 -0,9794 -0,9836 0,346

Movelaria ST2 -0,1546 -1,7851 1,0923 -0,9055 0,345

Movelaria IT9 -0,3430 -0,0938 -1,4366 -0,3782 0,342

Estância JU1 -0,7114 -0,1158 -0,7747 -1,0580 0,310

Movelaria JU5 -0,7689 0,0377 -0,9369 -1,0875 0,306

Movelaria ST1 -0,6701 -1,3592 1,1671 -1,6126 0,301

Movelaria JU2 -0,6567 -0,7462 -0,3268 -1,0262 0,299

Movelaria AV2 -0,9212 -2,1637 1,0676 -0,3049 0,286

Movelaria JU3 -0,8704 -0,8616 0,4821 -1,8146 0,276

Movelaria JU6 -0,7280 -0,8587 -0,5826 -1,6982 0,247

Fonte: Pesquisa de campo.

Em função disso, tais empresas apresentam grande dificuldade de evoluir para uma

posição de alto desempenho, uma vez que as deficiências em algum fator são, geralmente,

mascaradas pelos resultados positivos obtidos em outro fator, criando uma situação de

acomodação ou de inércia competitiva.

Adicionalmente, este conjunto de 33 (61,11%) empresas constituiu o grupo

denominado de “meio de campo”, considerado a pior posição estratégica de design ou de

inovação tecnológica, dado que as empresas não conseguem dar o salto para atender às

exigências do ambiente competitivo em qualidade, diversificação e diferenciação de

produtos (SANTANA, 2007a,b). Tais empresas apresentam comportamento defensivo e se

ancoram na utilização dos fatores básicos da competitividade. Portanto, tais empresas

podem perder parcela de mercado em longo prazo.

Outro conjunto de 18 (33,33%) empresas apresentou baixo desempenho

competitivo. Nesta faixa do ISDC têm-se 15 movelarias (três em Aveiro, três em Itaituba,

quatro em Santarém e cinco em Juruti) e três estâncias (duas em Santarém e uma em Juruti).

Entre as empresas, quatro apresentaram deficiências nos quatro fatores, 12 em três fatores

e duas em dois fatores. Todas as empresas apresentaram deficiência na dimensão

capacidade empresarial e 17 (94,44%) empresas apresentaram deficiência na dimensão

desenvolvimento local. A terceira maior deficiência para 12 (66,67%) empresas ocorreu na

dimensão mercado. Por outro lado, as empresas apresentaram menor deficiência na

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dimensão dinâmica competitiva, pelo fato da grande diversificação e diferenciados de

produtos fabricados a partir de diversas espécies de madeira.

Estas empresas podem ser enquadradas na categoria de empresas seguidoras.

Apresentam, geralmente, escala inadequada de produção e se valem intensivamente do uso

de mão-de-obra não-qualificada, baixa qualidade do produto, tecnologia rudimentar e baixa

capacidade de gestão empresarial e ação individualizada na produção e comercialização de

produtos.

Por fim, em termos de política, os resultados do ISDC permitem orientar o aumento

no grau de desempenho competitivo, exigindo-se a superação das deficiências observadas

em cada fator, segundo a empresa. No caso de incentivos fiscais ou de recursos

constitucionais como ocorre na Amazônia, poder-se-ia diferenciar os encargos como

contrapartida da correção de rumos das variáveis relacionadas aos fatores em que se

mostrou ineficiente.

Constitui, portanto, um passo fundamental para orientar as estratégias empresariais

no nível microeconômico de análise, bem como as ações de política pública que se definem

no nível mesoeconômico, com vistas a regular a extração dos recursos naturais e coordenar

as cadeias produtivas.

O conjunto de 28 empresas com ISDC abaixo da média (0,452) está retardando a

construção de vantagens competitivas sustentáveis e aumentando a ameaça de entrada de

novos concorrentes no mercado. Este fato exige atenção para que este grupo de empresas

não comprometa as oportunidades das empresas que estão evoluindo mediante criação de

vantagens competitivas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As informações da pesquisa revelaram que, atualmente, o principal problema

enfrentado pelas empresas de produtos madeiros e não-madeireiros da região do Mamuru-

Arapiuns, diz respeito à estrutura de governança instalada para operar na cadeia produtiva

destes produtos.

A base do mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros da região estudada

está na extração de madeira em tora e de outros produtos do estoque de recursos naturais.

Esta extração, por longa data ocorreu sem regulação efetiva. A decisão de orientar o

planejamento estratégico da exploração florestal madeireira, mediante plano de manejo

sustentável, como marco de certificação da origem legal da madeira, assim como fiscalizar a

comercialização dos produtos gerados com o seu desdobramento, está causando conflitos

de diversas ordens.

Um conflito básico observado está na falta de estrutura das instituições para

recepcionar os planos de manejo protocolados pelas empresas, bem como analisarem sua

consistência e viabilidade, visitar in loco e autorizar a liberação da exploração. A demora na

execução desta tarefa, pelas informações levantadas, ultrapassa três anos em alguns dos

casos. Isto certamente decreta o fechamento das empresas, como foi evidenciado na região

da pesquisa. Percebendo esta deficiência das instituições, alguns empresários, ao invés de

fecharem as portas da empresa, arriscam continuar processando madeira extraída de

“planos de manejo” não aprovados e liberados, adquirindo madeira de áreas sem manejo

e/ou comprando madeira de intermediários, também sem origem legal.

Neste processo, quando a fiscalização do IBAMA apreende a madeira ainda em

trânsito para a serraria ou saindo da serraria para o porto, com destino à exportação, causa-

se um grande impacto e o conflito torna-se evidente para toda sociedade. Então, cria-se uma

espécie de caos na tentativa de cada um passar a sua verdade ou de autoafirmação para

continuar o processo. Nestes termos, a solução vislumbrada para este problema, centra-se

na reestruturação institucional para exercer o comando da regulação da cadeia produtiva de

produtos madeireiros e não-madeireiros. Esta regulação inicia com o direito legal de

propriedade da terra.

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O segundo ponto que o estudo revelou é a necessidade de se viabilizar a concessão

das florestas públicas, atrelado a um processo de fiscalização eficiente para incrementar a

oferta de produtos madeireiros e não-madeireiros. Neste ponto, deve-se exigir que seja feito

um inventário completo de todos os produtos madeireiros e não-madeireiros, para fins de

atendimento aos objetivos ecológicos, econômicos e sociais, tendo em vista a otimização

dos investimentos realizados. Na exploração de madeira em tora o objetivo e obter lucro e

extração dos produtos não-madeireiros a finalidade é assegurar apenas o retorno do capital

investido, com o excedente indo para o conjunto dos povos da floresta. Isto necessita de

investimento em pesquisa científica para o desenvolvimento em conhecimento, tecnologia e

inovação, formação de capital humano e, sobretudo, a construção de capital social.

Portanto, o problema detectado que está limitando a expansão do mercado de

produtos madeireiros e não-madeireiros localiza-se do lado da oferta. Sem a regulação da

exploração sustentável das áreas de floresta, a oferta deve continuar diminuindo e, por sua

vez, os empresários perdendo parcela de mercado e competitividade. Em decorrência, o

desemprego deve aumentar, bem como a renda das empresas e a arrecadação dos

municípios deve cair e a economia rural encolher, sobretudo neste momento da crise

financeira mundial cujos reflexos já atingiram o segmento madeireiro com negócios

cancelados e outros adiados.

A competitividade sistêmica das cadeias produtivas de produtos madeireiros e não-

madeireiros depende diretamente da regulação da exploração dos recursos naturais, no

âmbito dos planos de manejo das áreas de concessão de florestas públicas. Com a

implantação do marco regulatório, pode-se aumentar a eficiência da governança das

cadeias, uma vez que diminuem a assimetria de informação e a ação oportunista dos

agentes, dado que se institui o direito de propriedade e a certificação de origem dos

produtos.

Na base da regulação da exploração sustentável dos recursos naturais, está o

investimento em ciência, tecnologia e inovação – C, T & I, formação de capital humano e

construção de capital social. Com a expansão do mercado, exige-se escala de produção e

qualidade dos produtos, então a organização dos produtores para inserção em uma rede de

negócios para a comercialização dos produtos é uma condição necessária, assim como o

manejo de espécies madeireiras e o plantio racional com espécies da flora regional.

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Na construção de capital social, é importante que os investimentos viabilizem a

aquisição de máquinas, equipamentos e de infra-estrutura coletivas para o adicionamento

de valor aos produtos. Isto é de fundamental importância para a transformação de

“indivíduos produtivos locais” em aglomerações produtivas locais, considerando as

organizações em torno do artesanato e produtos da farmacopéia, as movelarias e artefatos e

as empresas madeireiras.

Nesta perspectiva de desenvolvimento endógeno e sustentável, a integração

hierárquica pode criar os nós dinâmicos da rede de produtos da natureza, oriundos do

Estado do Pará, e criar uma escala competitiva para inserir os produtos no mercado nacional

e/ou internacional.

Com relação à análise quantitativa do mercado, tem-se que a demanda e a oferta de

madeira em tora são inelásticas a preços, características relacionadas às flutuações na

produção de madeira e instabilidade na receita bruta do segmento florestal madeireiro da

região Mamuru-Arapiuns. Isto significa que pequenas variações na quantidade produzem

mudanças mais que proporcionais nos preços e, por sua vez, instabilidades na receita bruta

do segmento florestal.

A oferta é menos inelástica do que a demanda de madeira em tora. Isto significa que

redução na oferta causada pela diminuição da taxa de desmatamento, produz um impacto

maior sobre a receita bruta dos consumidores (serrarias, movelarias e estâncias) do que

sobre a renda dos extratores. O contrário ocorre com o aumento nas taxas de

desmatamento, pois o maior efeito distributivo será na renda dos produtores, ceteris

paribus. A empresa verticalizada, que exerce simultaneamente o papel de produtor e

consumidor, amortece os impactos das flutuações da oferta e da demanda.

A variável taxa de desmatamento produz deslocamento tanto na demanda quanto na

oferta de madeira em tora, sendo que o efeito sobre a oferta é dinâmico, uma vez que um

incremento na taxa de desmatamento produz um impacto contemporâneo mais forte sobre

a oferta e um efeito menor no ano seguinte.

A variável ICMS produz efeitos negativos sobre a oferta de madeira certificada,

portanto a majoração da carga tributária, pelo aumento do custo, reduz a oferta. Por sua

vez, pode estimular o aumento da extração e comercialização de madeira sem origem legal.

Estas variáveis estão sob a ação direta do arranjo institucional que regulam a

produção e comercialização dos produtos madeireiros na região estudada, bem como os

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direitos de propriedade ou de extração em área legal. Portanto, este resultado empírico

pode contribuir para que sejam desenvolvidas estratégias visando aumentar a estabilidade

da oferta e demanda de produtos madeireiros.

A análise fatorial permitiu extrair quatro fatores para representar a dinâmica da

variabilidade da nuvem de dados utilizados pelas empresas madeireiras da região Mamuru-

Arapiuns para criar estratégias competitivas e manter suas parcelas de mercado. Estes

fatores configuram as seguintes dimensões, por ordem de importância para o desempenho

competitivo empresarial: capacidade empresarial, mercado, dinâmica competitiva e

desenvolvimento local.

Os fatores revelaram que a aglomeração de empresas madeireiras, concentrada nos

municípios de Itaituba e Santarém, está operando com grandes deficiências em máquinas e

equipamentos, na introdução de inovações tecnológicas, educação da mão-de-obra e

organização social. Estes fatores são fundamentais no processo de desenvolvimento local e

sustentável, portanto, devem ser enfrentados prioritariamente para que a governança da

cadeia produtiva funcione. Estes fatores se definem no nível mesoanalítico, onde são

definidas as ações institucionais.

Com relação ao índice sistêmico de desempenho competitivo, os resultados

revelaram três empresas com alto desempenho competitivo, com liderança absoluta nas

dimensões capacidade empresarial e mercado. Outro conjunto de 33 empresas está

operando com ISDC intermediário, sendo que a maioria revelou deficiências em duas ou

mais das quatro dimensões. A posição de centralidade torna mais complexa a ação

contributiva do arranjo institucional para desenvolver estratégias que produzam o impulso

capaz de conduzir tais empresas para um patamar de alto desempenho competitivo.

O grupo de 18 empresas com baixo desempenho competitivo revelou graves

deficiências em todas as dimensões fatoriais. O maior problema está na dimensão fatorial

capacidade empresarial, pois existe limitação quanto ao tamanho do negócio, qualificação

de mão-de-obra, receita bruta, ou seja, a capacidade de gestão empresarial e a

produtividade do trabalho são limitantes para a sua sobrevivência no mercado. A segunda e

mais generalizada deficiência ocorre na dimensão fatorial desenvolvimento local (educação

e capacidade organizacional), considerado o ponto de maior apoio ao desenvolvimento

coletivo das aglomerações de micro e pequenas empresas, uma vez que se referem à

formação de capital humano e construção de capital social.

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Em termos de política, os resultados do ISDC permitem orientar a criação de

estratégias sustentáveis para o aumento no grau de desempenho competitivo tanto para

grupos de empresas quanto para cada empresa, uma vez que os pontos fracos e os pontos

fortes foram revelados. Portanto, os instrumentos de políticas regulatórias e de incentivos

fiscais e/ou de recursos constitucionais, podem ser diferenciados na aplicação, exigindo-se

como contrapartida a correção de rumos com relação às deficiências nos fatores analisados.

Adicionalmente, os resultados mostram direcionamentos para a operação

institucional de forma individual e/ou em articulação com as empresas e representações

organizacionais para apoiar a transformação desta aglomeração empresarial em arranjo

produtivo local, considerando a integração hierárquica entre os elos de produção e

processamento industrial das cadeias produtivas de madeira e móveis.

A deficiência tecnológica no processo produtivo é flagrante tanto no elo de extração

florestal quanto no processamento industrial. Os planos de manejo não consideram a

dinâmica potencial dos recursos naturais das áreas de florestas em sua plenitude – produtos

madeireiros e não-madeireiros, capacidade de seqüestrar carbono, pois apenas algumas

espécies são aproveitadas por falta de conhecimento e os recursos não-madeireiros são

completamente ignorados. Mesmo na extração seletiva da madeira, o desperdício é grande,

pois os resíduos da madeira não são aproveitados. No segmento industrial, em função do

baixo padrão tecnológico, aproveitam-se no máximo 60% de cada tora de madeira, sendo

que a grande maioria aproveita apenas 33%. Este grau de aproveitamento é similar ao dos

produtos não-madeireiros, pois pelo menos 60% das sementes coletadas são desperdiçadas

por falta de tecnologia e conhecimento (máquinas, equipamentos, beneficiamento e

armazenamento). Portanto, a estruturação da cadeia produtiva de madeira e móveis

necessita de investimento em conhecimento, informação, tecnologia e inovação para

superar o gargalo da competitividade ancorada em fatores básicos.

Outro desafio a ser enfrentado diz respeito à superação da baixa qualificação da

mão-de-obra e dos empresários em design, utilização de máquinas modernas, entendimento

sobre as técnicas de manejo e gestão ambiental, conhecimento e controle de fluxo de caixa,

legislação ambiental e do comércio exterior, marketing de produtos. Nota-se que um

porcentual significativo dos funcionários das empresas entrevistadas é composto por

analfabetos informais, pois ainda não concluíram o primeiro grau e menos de 2% tem curso

superior.

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Adicionalmente, as empresas madeireiras e não-madeireiras apresentam um

insignificante nível de organização social. A quase totalidade das ações realizadas na

produção, venda de produto e aquisição de insumos, investimento em treinamento de mão-

de-obra, aquisição de tecnologia e conhecimento, é feita de forma individualizada, assim

como as relações entre as organizações sociais e as instituições governamentais não

demonstram seus efeitos na percepção dos entrevistados. Portanto, alcançar o patamar das

ações coletivas, fruto da formação do capital social é uma tarefa longa que se tem a

percorrer e sem ela não se forma a base para o desenvolvimento local e sustentável.

A integração e dinâmica das cadeias produtivas dependem fortemente da superação

do déficit tecnológico, do gargalo da educação e da organização social. A tecnologia pode ser

superada com maior facilidade, porém a formação de capital humano e capital social

necessitam de investimento contínuo por longo período de tempo. Mas é uma tarefa a ser

enfrentada, pois representa a condição de suficiência para a dinâmica do processo de

desenvolvimento local e sustentável.

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APÊDICE 1 – RELATO DAS ENTREVISTAS SOBRE A INSTITUCIONALIDADE

Box 1. Depoimentos sobre a atuação institucional no setor madeireiro da região de estudo.

MUNICÍPIO DE ITAITUBA

As empresas madeireiras estão enfrentando grande dificuldade devido às ações do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis e Meio Ambiente - IBAMA na região. Eles citam que o órgão tem agido no sentido de reprimir a atividade. Conforme relato de um dos madeireiros, “o IBAMA devia andar ao lado dos madeireiros e não atrás deles”. Um funcionário do IBAMA apresentou-se insatisfeito com as ações do órgão na região, pois, na sua visão o IBAMA deveria atuar fortemente na educação e orientação das boas práticas do manejo e da utilização racional dos recursos florestais e não focar suas ações na fiscalização repressora, coagindo empresários e instalando um clima de revolta.

Essa mesma questão foi apontada pela Secretaria de Mineração e Meio Ambiente de Itaituba – SEMMA de Itaituba, que se perguntou por que o governo ao invés de coibir de forma repressiva a atividade madeireira na região, não incentiva, instrui e capacita o empresariado local?

Esta situação fez com que os empresários ficassem receosos em prestar informações para esta pesquisa, temendo mais problemas. Mesmo justificando que a pesquisa pode ajudar a compreender a situação e contribuir para reorientar a política florestal para a região, bem como mostrar a importância reconhecida do setor para a geração de emprego, renda e divisas para o Estado do Pará, no momento do início da conversa, houve muita dificuldade em obter informações quantitativas, sobretudo no que se refere a preço e faturamento. Houve, inclusive, um gerente de uma madeireira, SMH exportadora, que indignado com a situação mandou a Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA conversar com o governo para ajudá-los e não “ficar gastando o tempo deles dando informações para uma pesquisa que não leva a nada”.

Muitos madeireiros têm argumentado sobre a demora na liberação de projetos de manejo fora das Florestas Nacionais - FLONAS. Acreditam que após o processo de licitação nada mais será aprovado fora delas.

A visão dos madeireiros é de que a Secretaria de Meio Ambiente – SEMA e o IBAMA não estão preparados para ser o executor de lei. Por isso a morosidade de aprovação dos planos de manejo. Em média, duram três anos para a SEMA/IBAMA emitir um parecer. Isso pode ocorrer, pois, segundo a SEMMA, as leis ambientais são recentes, e muitas vezes entram em choque.

A empresa Gerlach, por exemplo, esperou três anos para a aprovação de um projeto de manejo de 480 hectares, o qual foi liberado em dezembro de 2007. Em função do período das chuvas, a empresa esperou até julho de 2008 para começar a extração da madeira. Em setembro, o IBAMA identificou, que no entorno do plano, estava havendo extração ilegal de madeira. Em função disso, o projeto foi embargado. A empresa atribuiu o crime ambiental aos assentados do Plano de Desenvolvimento Sustentável – PDS de Divinópolis. Anteriormente, a empresa já havia feito um boletim de ocorrência, avisando sobre a invasão. Entretanto, o Instituto Nacional de Colonização e reforma Agrária - INCRA deu posse, mas não legalizou os assentados. Em decorrência disso, o nível de confiança da empresa para com a instituição caiu a zero e, com isto sua visão de futuro tornou-se incerta. Como a madeira em tora deve ser oriunda dos planos de manejo, o embargo os tirou da atividade, por isso avisaram aos empregados das demissões. Ficaram 1.000 m3 de madeira em tora no chão no plano de manejo e a infra-estrutura montada para os empregados.

Outra questão pontuada foi a dificuldade de alinhar a lei à realidade amazônica, fato citado tanto pelos órgãos vinculados ao setor quanto pelos madeireiros, ou seja, as leis são construídas em Brasília sem o conhecimento devido da realidade. “É difícil fazer uma lei se você não tem conhecimento da realidade”. Isso pode ser percebido, pois, segundo a SEMMA foi uma empresa

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contratada de Brasília quem fez o inventário e o plano para as concessões florestais.

Ainda, sublinhou-se a falta de participação dos grupos de interesse para o Zoneamento Econômico-Ecológico - ZEE da região, que está em fase final, próximo de virar lei e poucas pessoas que serão afetadas pelo ZEE, participaram efetivamente do delineamento da proposta.

Segundo um madeireiro, “quando as questões ambientais começaram a ser discutidas na região em 2001, ninguém acreditava que ia chegar ao impasse que está hoje”. Ou seja, pouca gente participou das audiências públicas para encaminhar a lei para Brasília. Agora com as FLONAS “não vai ser do jeito que o governo está pensando, pois deve ser de acordo com os critérios impostos pelas multinacionais”.

Com as atuais discussões de manejo de impacto reduzido, somente aqueles que atentaram para essa perspectiva terão maiores chances de concorrer. O fato é que muitos projetistas têm esquecido este detalhe, o que acaba por prejudicar o empresário que contrata o serviço destes profissionais. O madeireiro não tem interesse em produtos não-madeireiros e aproveitamento do resíduo de madeira que fica na floresta (galhos e árvores sem valor comercial), assim como o resíduo que sobra do desdobramento da madeira em tora, devendo isso ser destinado às comunidades do entorno da FLONA. Das madeireiras entrevistadas em Itaituba, somente a madeireira Tiberwizi se preocupou em desenvolver projetos de marchetaria, tijolos ecológicos, tacos de assoalho e compostagem com serragem em parceria com a SEMMA para as comunidades. Outra questão levantada foi o interesse em identificar novos mercados compradores (como a China) para madeira tipo short (madeira curta plainada nos dois lados), como forma de diminuir as perdas. Neste ponto, nota-se que não há integração e informação entre as serrarias e as movelarias, pois estas têm dificuldade de acessar matéria-prima, exatamente madeira curta.

Em relação ao conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns, foi informado pelo IBAMA que no ano de 2006, uma cooperativa de plantadores de soja de Mato Grosso, invadiu a área dividindo-a em lotes de 2.500 ha. Em decorrência, os madeireiros de Itaituba, que tinham esse conjunto de glebas como uma reserva para o futuro, entraram em conflito com os produtores. O IBAMA agiu no sentido de apreender os tratores e retirar a cooperativa da área. Atualmente, a área está congelada, mas há informações de que na Gleba de Nova Olinda II está havendo extração ilegal de madeira que é escoada por Parintins através de balsas. Outra apreensão feita pelo IBAMA foi na empresa CAM Braga, por uma exploração na PARNA Amazônia, um pouco abaixo da Gleba Mamuru. Entretanto, apesar dessas situações, o IBAMA avalia que a exploração de madeira no conjunto de glebas ainda não é grande. Ela acontece mais no entorno, ou seja, no Parque Nacional da Amazônia.

Na visão do sindicato dos trabalhadores rurais de Itaituba, houve casos em que quando o trabalhador denunciava que o madeireiro estava extraindo madeira do parque, o IBAMA dava a informação precisa ao madeireiro de quem era o denunciante. Essa informação foi corroborada mais tarde pelo Instituto de Pesquisas na Amazônia - IPAM, ao informar que, no município de Trairão, o presidente do sindicato protocolou uma denúncia no IBAMA sobre a exploração madeireira na FLONA e, assim que chegou ao município alguém (do IBAMA) já tinha repassado a informação para os madeireiros. Na avaliação da presidente do sindicato, atualmente este tipo de comportamento não acontece mais em função de uma sindicância aberta no IBAMA para apurar o fato. Outra questão importante diz respeito ao uso indevido de nomes de agricultores nas aprovações dos planos de manejo. “Alguns madeireiros iam à comunidade, pegavam o número de documento e assinatura do agricultor, usando como justificativa algum benefício”. Como os agricultores, em sua maioria apenas assinam o nome, mas não sabem ler, o golpe ficava fácil. Quando os agricultores percebiam, aparecia um documento dizendo que o agricultor tinha vendido todas as suas árvores. Isso ocorreu na comunidade Jagarão, município de Aveiro, no ano de 2004.

Apesar destes conflitos, na maior parte dos casos, os agricultores têm uma relação contratual “amigável” com o madeireiro. Apesar da sensibilização do sindicato no sentido de não incentivá-los a comercializar madeira de forma clandestina, como a infraestrutura nas comunidades

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é precária e os madeireiros se comprometem a melhorá-la, o que favorece a relação. Ademais, a visão do produtor é que “ele é o dono da terra e, como tal, pode fazer o que quer com ela”. Assim, se consolida o contrato de trocas de toras por pontes e estradas vicinais e, ao final fica o “nós agradecemos ao madeireiro”. Na prática, se o Estado não conseguir suprir essa carência, o setor privado vai utilizar isso como instrumento de troca.

Outra questão apresentada, na forma de denúncia, foi que existem vários PDS fantasmas, criados por um acordo entre os madeireiros e a superintendência do INCRA em Santarém, no ano de 2007, o que culminou com a saída do superintendente Pedro Aquino Santana. A denúncia partiu do ministério público e agora a Federação dos Trabalhadores na Agricultura - FETAGRI, o Fórum da BR-163 e o IPAM fiscalizam esses PDS.

O IPAM destacou que as ações do IBAMA continuam muito aquém do esperado. Para o instituto, os planos de manejo não são de impacto reduzido (modelo sustentável de exploração florestal), o reflorestamento é pouquíssimo (só ocorre em propriedades de pequenos agricultores de projetos alternativos) e há uma invasão significativa das Unidades de Conservação - UD. Para o instituto, 60% da matéria-prima são dessas unidades. Igual porcentual foi atribuído pelo IBAMA.

MUNICÍPIO DE JURUTI

O Sindicato de Trabalhadores Rurais de Juruti – STTR, juntamente com a Associação de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas – AMT-BAM, mostram-se apreensivo porque o recurso mais óbvio de que dispõem seus associados não se encontra legalmente “disponível” e corre-se o risco de que grandes áreas de terra sejam apropriadas por outros agentes econômicos, alheios à realidade local, visto que não se conta com uma institucionalidade forte capaz de somar esforços e reivindicar a realização de avaliações que resultem em um zoneamento mínimo indicativo de quais áreas poderiam ser legalizadas visando seu melhor uso socioeconômico.

Certamente, um trabalho dessa natureza viria favorecer o reassentamento de pessoas em ambientes melhores em termos de aptidão edafoclimática e de acesso a vias de transporte, mercado, eletrificação rural e água para irrigação, dentre outros aspectos, e ajudaria na alocação prioritária e polarizadora dos serviços públicos melhorando a saúde, alargando as oportunidades de educação, reduzindo a barreira digital e concorrendo para que a população pobre do meio rural vencesse alguns obstáculos tradicionais ao desenvolvimento.

Assim é que pensam os representantes do escritório municipal da EMATER e da Diretoria do Departamento de Controle Ambiental da SEMMA. Para eles há a necessidade de uma nova concertação no ambiente organizacional que propicie a emergência de uma institucionalidade engajada com as questões de ordenamento do desenvolvimento municipal a fim de se aproveitar ao máximo as externalidades positivas decorrentes do Projeto Juruti e, ao mesmo tempo, minimizar àquelas negativas, sobretudo as que decorrem do aumento populacional. Isso corrigiria o déficit de iniciativas locais, o surgimento de conflitos graves e com problemas de reconciliação entre comunitários e a população migrante e, começaria a criar condições para forjar um sentimento de bem comum que ajuda no processo de desenvolvimento e de domínio no espaço municipal. O fato emblemático na contramão dessa questão foi a retenção, pela população de Juruti Velho, das balsas que transportavam a madeira da área de manejo de uma empresa licenciada pela SEMA, mas que os comunitários não reconheciam, posto que, são da área e não têm permissão para fazer a exploração.

A institucionalidade vigente tem dificuldade para estabelecer uma forma de parceria de gestão que reparta atribuições e aproveite as oportunidades conjunturais, mesmo reconhecendo os projetos decorrentes da Agenda Positiva firmada entre a Prefeitura Municipal e a Alcoa. Empresários e produtores rurais não entendem porque a madeira retirada pela Alcoa apodrece nas áreas dos chamados “bota fora”, mas não é liberada para ser utilizada pela população local. Moradores da gleba curumucuri permanecem ansiosos pelas ações de regularização fundiária sem

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as quais não poderão ter acesso aos financiamentos especiais. E assim, a polarização entre problema e oportunidade só faz crescer a necessidade de se construir um projeto de sociedade, mas que requer uma nova institucionalidade.

Por isso, para viabilizar esse novo ambiente institucional, é necessário criar instrumentos de concertação capazes de reduzir o “vazio social”, apagar as experiências negativas e evitar que grupos de pressão ligados a interesses econômicos ou institucionais se imponham e dificultem a expressão do interesse coletivo. É preciso criar um ambiente amigável que respeite a vida diária da população tradicional e promova sua inclusão em redes sociais mais amplas possibilitando-lhe a inserção no mercado.

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APÊDICE 2 – CICLO DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE PAU-ROSA

Box 2. Extrativismo do óleo essencial de pau-rosa na Amazônia (texto elaborado especialmente para este relatório por Alfredo Kingo Oyama Homma, pesquisador da Embrapa)

A produção do óleo essencial de pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke) apesar de estar baseado na extração de um recurso natural renovável, a natureza de sua extração, com o corte da planta-matriz, tem conduzido a uma atividade não-sustentável. Isso acontece, também, em razão do descompasso entre a taxa de extração e a taxa natural de regeneração. Os primórdios da utilização do óleo essencial de pau-rosa até a década de 1960 foram para a indústria de sabonetes e de perfumaria, como fixadora de perfumes. As Perfumarias Phebo Ltda., fundada em 1932, em Belém, Pará, que fabricava o conhecido sabonete Phebo e cerca de duzentos tipos de perfumes tinha como componente básico a utilização do óleo essencial de pau-rosa. A escassez do produto fez com que seu uso ficasse restrito para a perfumaria fina, por exemplo, como componente do Chanel nº 5, criado na década de 1920, pela estilista Gabrielle Chanel.

No início da extração do óleo essencial de pau-rosa na Amazônia, esta concentrou-se na fronteira com os Estados do Amazonas e Pará, estendendo-se para as regiões de Itacoatiara e Maués. Até a década de 1970 a extração de pau-rosa expandiu-se para as regiões de Parintins, Santarém e nos rios Tapajós, Madeira, Aripuanã, Negro e Solimões, chegando até Iquitos, no Peru (GUENTHER, 1972).

Uma idéia do esgotamento pode ser estimada, considerando que, de 1937 a 2002, foram exportadas quase 13 mil toneladas de óleo essencial de pau-rosa. Sabe-se que 18 a 20t de madeira são necessárias para produzir um tambor de óleo (180kg) e que uma árvore de porte adequado pesa, em média, 1,75t. O diâmetro a altura do peito (DAP) das árvores extraídas variava de 30 a 60 cm. As estimativas de rendimento variam de 0,7% a 1,1% de óleo essencial do peso da madeira em tora de pau-rosa. Isso indica que é necessário uma tonelada de tora para produzir 10 kg de óleo essencial de pau-rosa. Estimando a distribuição média de uma árvore para cada cinco hectares e que, no mínimo, 825 mil árvores foram abatidas, pode-se concluir que mais de 4 milhões de hectares de matas foram explorados. Mitja e Lescure (1996) em levantamento realizado no município de Presidente Figueiredo, Estado do Amazonas, estimaram em 4kg de essência de linalol por hectare de floresta.

Segundo Benchimol (1988), a redução na intensidade de extração com o aparecimento do substituto sintético tem permitido a regeneração parcial da espécie, aproximando-se da taxa de manejo florestal. Enquanto nas décadas de 1940 e 1950, abatiam-se, em média, 20.000 árvores/ano, na década de 1980 caia para 6.000 árvores/ano. Para Carvalho (1983), conforme levantamento realizado na Floresta Nacional do Tapajós, em área de grande ocorrência de árvores de pau-rosa, até o fim dos anos 1960, a regeneração tinha proporcionado árvores com até 20 m de altura e um diâmetro máximo de 15 cm, com uma densidade de 3,87 árvores/5 ha. Esta é uma indicação de que os extratores de pau-rosa estão abatendo árvores de pequeno porte nas antigas áreas de extração. Quando a extração do óleo essencial de pau-rosa foi iniciada na Amazônia brasileira, em 1926, a Guiana Francesa ainda dominava o mercado mundial do produto. Dada a extração indiscriminada, naquela colônia francesa, em 1932, apenas três destilarias estavam em operação e a extração era reduzida, o que levou à sua extinção e à expansão da produção amazônica. Naquela colônia francesa, a extração de pau-rosa iniciou-se antes da I Guerra Mundial, quando grandes quantidades de toras eram embarcadas para destilação na Alemanha, França e Inglaterra. Com a escassez de transporte marítimo por ocasião da I Guerra Mundial, partiu-se para a destilação no próprio local de extração. Dessa forma, 50 destilarias do interior chegaram a exportar, por ano, mais de 86 toneladas de óleo essencial de pau-rosa.

Nos Estados do Amazonas e Pará, nas décadas de 1930 e 1940, mais de 40 usinas foram implantadas para processamento desse óleo essencial. Na década de 1950, havia cerca de 50 destilarias, a maioria no Estado do Amazonas, variando a produção de 100 t até 600 t anuais, dependendo da flutuação dos preços mundiais (KISSIN, 1952).

Em 1969, conforme levantamento realizado pela antiga Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia - Sudam, havia 53 usinas de destilação em funcionamento, sendo três no Pará e 50 no Amazonas (Terezo et al, 1971). Em decorrência do esgotamento das áreas mais acessíveis e das baixas cotações do produto, com a expansão do produto sintético, em 1971, esse total reduziu-se para 24 usinas, sendo nove no Pará e 15 no Amazonas. Em 1980, segundo dados do Censo Industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - FIBGE, esse número caiu para quatro estabelecimentos apenas no Estado do Amazonas. Em 1988, seis usinas de destilação encontravam-se em funcionamento (BENCHIMOL, 1988).

O ciclo de extração, exportação e de preço do óleo essencial de pau-rosa Analisaram-se sete períodos distintos, relacionando a extração, exportação e preços. As

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transformações e as medidas políticas ocorridas foram levadas em consideração para possibilitar o entendimento dos fenômenos. Dessa forma, os esforços com vistas a domesticação do pau-rosa e a expansão dos substitutos sintéticos constituem argumentos importantes na explicação do processo extrativo de pau-rosa.

Os dados utilizados na análise estão nas Tabelas 1 e 2. Os dados sobre extração, a partir de 1975, deixaram de ser coletados pelo IBGE. O estudo a partir daquele ano baseia-se nos dados de exportação.

A década de 1920

A extração de óleo essencial de pau-rosa para fins industriais na Amazônia começou em 1926 com o esgotamento das reservas na Guiana Francesa, com a instalação da primeira usina em Juruti Velho, na localidade de Taparapú, Pará. No primeiro ano de funcionamento exportou quase 16 t de óleo essencial de pau-rosa. O beneficiamento de pau-rosa foi a primeira agroindústria flora-química que foi implantada no Amazônia (BENCHIMOL, 1988).

O ambiente econômico era marcado pela escassez de alternativas econômicas que se seguiu à queda da economia da borracha. A domesticação da seringueira no sudeste asiático, que passou a dominar o mercado mundial da borracha, sugeria que plantios racionais do pau-rosa poderia alcançar sucesso semelhante. A despeito disso, a existência de estoques naturais funcionava como uma barreira para qualquer esforço nesse sentido e a extração indiscriminada de pau-rosa levou a ocupar a terceira posição na pauta de exportações da Região Norte. Sua extração, às vezes, alcançava níveis superiores aos que o mercado podia absorver. Em 1927, de 200 t extraídas, 80 t ficaram estocadas.

A grande competição entre extratores levava à queda dos preços e à descontinuidade da produção nos dois anos seguintes, 1928 e 1929 (Guenther, 1972). Essas circunstâncias justificavam a adoção de medidas protecionistas. A preocupação com o esgotamento levou os extratores do Estado do Amazonas a tomar medidas no sentido de organizar e proteger essa indústria nascente. Supostamente, o potencial existente era grande para a época, apesar do desconhecimento de sua dimensão exata

A década de 1930

Em 9 de abril de 1932, o Governo do Estado do Amazonas promulgou o Decreto 1.455, que estipulava a quantidade de óleo a ser produzida anualmente e a obrigatoriedade do replantio pelas destilarias, por árvore de pau-rosa abatida. Praticamente, todos os extratores subscreveram esta obrigação com prazo de validade de cinco anos e com a intenção de renovar por outros cinco anos.

Uma cooperativa foi criada em 1932, no Estado do Amazonas, após superadas as dificuldades iniciais, resultando no Consórcio dos Extratores de Essências Vegetais. Em 1935, idêntica medida foi adotada pelo Estado do Pará. Essa organização passou a ocupar, com o tempo, destacada influência, se não monopolista, nos Estados do Amazonas e Pará. Atuando em estrita cooperação com o Governo, o Consórcio estabelecia, para cada ano, a quantidade máxima a ser exportada e a correspondente quantidade a ser extraída e estabelecia as cotas para cada membro.

Essa forma de controle de extração identificava a proteção para os membros do Consórcio que exploravam um recurso de propriedade comum transformando-se em propriedade privada. O Consórcio atuava também como estabilizador de produção e de qualidade, promovia vendas e incentivava as exportações. Era uma organização de nove membros no Estado do Amazonas e seis no Pará (Kissin, 1952). Como resultado da obrigatoriedade do replantio, cerca de 28 mil árvores chegaram a ser plantadas, no período 1933 a 1943, utilizando-se mudas obtidas por regeneração natural. Esse Consórcio continuou sua existência até 1944, quando a emergente demanda de borracha vegetal pelos Estados Unidos e países Aliados atraiu toda a mão-de-obra disponível à extração do látex, relegando a extração de pau-rosa para o segundo plano (TEREZO et al, 1971).

A década de 1940

No período que antecedeu a II Guerra Mundial, o Governo estabeleceu uma série de medidas, como a de limitar a extração em torno de 100 t anuais de óleo de pau-rosa e fixar as exportações em, aproximadamente, 80 t, com o objetivo de manter a demanda e o preço em alta.

A despeito dessas recomendações, a extração média anual da década de 1940 foi de 256.600 kg e uma exportação média anual de 188 mil quilos. Os preços médios de exportação apresentaram-se irregulares, bem como as quantidades extraídas e as exportações.

O comércio sofreu muito na época da II Guerra Mundial, decorrente da paralisação dos negócios com

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a Europa, causando irregularidades nas quantidades extraídas e exportadas, a despeito da valorização da essência de pau-rosa. A entrada do Japão na Guerra, em 1941, provocou a paralisação da extração de linalol de árvores de “ho-oil” (Cinnamomum camphora Sieb. var. linaloolifera Fujita), um sucedâneo extraído das florestas em Taiwan, desde 1920, provocando grandes conflitos com as populações rurais (Guenther, 1972). Esta árvore é encontrada, também, no Japão e na China. Com isto, o preço alcançou, em pouco tempo, para a moeda da época, CR$ 100,00 o quilograma e chegou para CR$ 200,00, assegurando lucros extraordinários para os extratores arregimentados nos Consórcios do Pará e Amazonas.

Surgindo protestos e pedidos de todos os lados, o Governo Federal retirou daquelas duas organizações o direito de arbítrio exclusivo na extração e produção de essência de pau-rosa. Aos interventores dos Estados do Amazonas e Pará cabiam autorizar ou negar a instalação de novas usinas e fixar a cota de exportação de cada produtor (BASTOS, 1943).

Por causa das condições caóticas advindas da II Guerra Mundial, no Estado do Amazonas, os extratores reuniram-se numa organização denominada Conferência dos Produtores de Óleo de Pau-Rosa, que foi amparada por legislação estadual (Lei 152, de 27/12/1947) e reconhecida como órgão de consulta do Governo Estadual. A Conferência tinha como órgão executivo uma comissão permanente e atuava, sobretudo, fixando, semestralmente, o preço mínimo para o produto, com o intuito de firmar a situação dos exportadores em face dos compradores e representando os interesses comuns da indústria em relação ao poder público federal e estadual. A Lei que amparou os produtores de pau-rosa reconheceu a necessidade de seu plantio, prescrevendo certas medidas para prevenir contra gradual extinção das árvores de pau-rosa. Dessa forma, o Governo, em colaboração com a Conferência, estabeleceu que uma árvore deveria ser plantada para cada 20 kg de óleo vendido. O replantio seria feito sob a supervisão de uma entidade governamental, verificando-se o exato cumprimento da Lei (KISSIN, 1952; TEREZO et al, 1971).

Em 1947 foram extraídas 193 t de óleo de pau-rosa e as exportações absorveram parte do estoque do ano anterior, destinando-se metade para a Europa e metade para os Estados Unidos. Contudo, em 1948, o comércio sofreu, novamente, ficando, praticamente, paralisado, por causa da restrição extrema das compras inglesas, provocada pela escassez de divisas naquele país, e pela suspensão quase completa dos negócios com os Estados Unidos, em conseqüência da retração desse mercado na ocasião (KISSIN, 1952).

A década de 1950

As quantidades extraídas e exportadas de óleo essencial de pau-rosa atingiram o máximo durante a década de 1950, com média anual de 408.200 kg, e as quantidades exportadas, com média anual de 297 t. Em 1955, o ciclo da extração atingiu o seu máximo, com 599 t, e, em 1951, registrou-se o maior volume exportado, 444 t.

As cotações apresentavam tendência crescente até 1954, para então, decrescer até o final da década. Em 1951, a produção foi muito estimulada pela aplicação do regime de compensação de câmbio ao comércio de óleo de pau-rosa. Neste ano, a maior parte do óleo exportado pelo Estado do Amazonas foi vendido ao preço mínimo de US$ 1.388/tambor FOB. Isso permitiu lucros satisfatórios nas vendas feitas com câmbio vinculado. Em 1951, os embarques nos Estados do Amazonas e Pará alcançaram quantidade recorde, sendo interessante notar que mais de 100 t foram vendidas para a Inglaterra.

Até a década de 1950, a extração de pau-rosa foi crescente, assemelhando-se à da atual fase de extração madeireira, na incorporação de novas áreas de extração. Provavelmente, as reservas mais acessíveis e produtivas foram extraídas. Os insucessos nas tentativas de domesticação, dos incipientes resultados das pesquisas efetuadas nas décadas de 1930 e 1940, e as incertezas no surgimento do substituto sintético, foram as razões da manutenção do processo extrativo.

A década de 1960

Durante a década de 1960, a quantidade anual média extraída foi de 259.600 kg e as exportações anuais médias de 196.926 kg, semelhantes às da década de 1940. O setor começava a evidenciar sinais de esgotamento dos estoques de matérias-primas mais acessíveis, decorrente da intensidade da extração. As cotações para o período foram relativamente baixas, uma vez que a escassez do produto natural não levou a uma tendência crescente dos preços, cujo vácuo foi ocupado pelo similar sintético.

A manifestação do esgotamento, que se evidenciava pela alta taxa de abate de árvores, que consumia 20.000 árvores/ano, ensejou o início do desenvolvimento de pesquisas com vistas à domesticação do pau-rosa e na descoberta de outros sucedâneos naturais que contenham linalol.

Deve-se destacar as pesquisas realizadas durante a década de sessenta pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA conseguindo desenvolver, com sucesso, métodos de propagação do pau-rosa,

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tanto por semente como, vegetativamente, por estacas, bem como o aproveitamento integral de outras partes do pau-rosa, além do tronco, para a extração da essência. Contudo, ressalte-se a vulnerabilidade da planta a pragas e doenças em plantios artificiais. Desse modo, as pesquisas têm-se empenhado em efetuar triagens de plantas de crescimento rápido e resistência a pragas e doenças e que contenham alto teor de linalol (VIEIRA NETO, 1972; ARAÚJO, 1967 e 1971).

A década de 1970

O processo de domesticação prosseguiu na década de 1970, através dos esforços da antiga Sudam que vinha atuando na região de Santarém (PA), onde se faziam experimentos de povoamentos homogêneos em solos anteriormente explorados com pau-rosa. Ainda no Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi desenvolvia pesquisa para encontrar sucedâneos naturais para o pau-rosa e outras essências. Um exemplo desse substituto natural, que foi pesquisado durante a década de 1970 foi o Croton cajuçara Benth., conhecido vulgarmente por “sacaca”, sem sucesso prático. É árvore de porte pequeno, que contém linalol em menor proporção que o pau-rosa; seu ciclo vegetativo permite que com cinco anos já tenha condições de aproveitamento industrial (Saueressing, 1987; Pedroso, 1984). Alguns colonos nipo-brasileiros de Tomé-Açu chegaram a efetuar plantios experimentais de pau-rosa na década de 1970, cujas árvores existentes testemunham as oportunidades perdidas.

É interessante mencionar que existem dezenas de plantas vulgares que produzem linalol (bergamota, limão, jasmim, etc.). O grande problema da extração a partir dessas plantas para a utilização na perfumaria fina refere-se a transferência de odores de frutas, teor de gordura, as vezes serem irritantes para as vias respiratórias e a pele e não terem o “bouquet” indispensável. Nesse aspecto, o óleo essencial de pau-rosa é ímpar nesse sentido.

No campo de substitutos sintéticos, o êxito da síntese química nos laboratórios americanos, no final da década de 1950, permitiu a produção dos seus componentes básicos do linalol e do acetato de linalila (Gottlieb, 1957). Essa produção industrial, que passou a oferecer ao mercado mundial o substituto do óleo de pau-rosa a preços bastante reduzidos, trouxe profundas modificações na década de setenta na extração do produto natural. Como o linalol e o acetato de linalila são sintetizados a partir de subprodutos petroquímicos, o impacto da quadruplicação dos preços do petróleo, nos fins de 1973, gerou a paralisação das unidades produtoras, daí ocorrendo uma brusca demanda mundial do produto natural, que causou elevação especulativa do preço do óleo essencial de pau-rosa, em princípios de 1974, para US$ 5.148,00/tambor.

Em 1974, como conseqüência das altas cotações do produto, houve grandes esforços de extração sobre os estoques remanescentes. Contudo, as cotações, já no segundo trimestre de 1974, registravam queda para US$ 2.775,00/tambor e, meses depois, para menos de US$ 1.189,00/tambor, com a reativação das unidades de produção sintética nos Estados Unidos e na Alemanha Ocidental, que passaram a oferecer linalol a preços massificados de US$ 595,00 a US$ 714,00/tambor (BENCHIMOL, 1977).

A introdução da motosserra na Amazônia, a partir de 1971, e a abertura de estradas permitiram o acesso a novas áreas até então inacessíveis e a elevação da produtividade da mão-de-obra. Em termos reais, o preço atingido em 1974 foi o maior desde a década de 1950. Essa euforia especulativa gerou, em função da elasticidade-preço da oferta, uma produção de mais de 500 t de óleo de essência de pau-rosa, equivalente a quase 3.000 tambores, que não puderam ser escoados por falta de mercado.

Já no ano seguinte, o setor experimentava súbita queda de 46,23% nas cotações, que recaiu também sobre todos os óleos essenciais no mundo. Com isto, desencadeou-se a pior crise no comércio de óleo essencial de pau-rosa, piorada pela acumulação de um estoque de 2.500 tambores, que foram exaurindo, financeiramente, os exportadores-beneficiadores, que foram tragados pela alta dos juros e pela correção monetária do penhor mercantil. As pressões do setor terminaram por sensibilizar o Banco do Brasil, que resolveu acudir o setor em julho de 1976, com empréstimos a juro zero e opção de compra após decorridos doze meses (Benchimol, 1977). Desse modo, essa queda na demanda desestabilizou o setor de extração de pau-rosa, cuja recuperação tornou-se praticamente difícil, pois o óleo essencial de pau-rosa, em virtude dos altos custos de sua extração, da expansão do substituto sintético e do esgotamento de suas reservas conhecidas, ficou restrito ao uso por parte da perfumaria fina, com a perda de todo o mercado saboneteiro.

As importações brasileira de linalol e de acetato de linalila sintéticos são provenientes da Alemanha Ocidental, Suíça, Estados Unidos, Espanha, França, Japão, Holanda, México e Itália. As importações brasileiras de linalol mais que sextuplicou e de acetato de linalila mais que triplicou nestes últimos 30 anos. O maior atrativo está nos seus preços bem inferiores aos do produto natural, além de estáveis e livres de variação da extração características dos produtos naturais. A exceção ocorreu em 1974 quando houve um aumento abrupto em relação a 1973, de 88,15% e 85,00%, para linalol e acetato de linalila sintéticos, respectivamente,

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com crise do petróleo (Tabela 2). A estabilidade nos preços está condizente com a teoria de substituição de recursos naturais. Essas razões são fatores importantes que permitem seu uso em sabões, detergentes e em outras aplicações industriais de uso popular.

A demanda mundial, que girava em torno de 1.500 tambores anuais, caiu para menos de 300 tambores. A quantidade média anual exportada, na década de 1970, caiu para 170.111 quilogramas. Assim, em 1976, os estoques em poder do Banco do Brasil, excedendo 2.000 tambores, atravessaram os cinco anos de crise estrutural, pois os contratos assinados incluíam cláusula de paralisação da atividade extratora (BENCHIMOL, 1977).

Após a grande queda nas cotações em 1975, as exportações reduziram-se ao nível mais baixo desde 1943, o que contribuiu para a elevação dos preços. Houve crescimento nas quantidades exportadas no qüinqüênio 1976/80, notadamente dos estoques acumulados.

O que se verificou, em 1975 e nos anos seguintes, ilustra as proporções da crise de mercado para um recurso natural em face do esgotamento das reservas mais acessíveis e da retração da demanda, frente à existência de um substituto sintético, o qual tem, ao contrário, mostrado estabilidade nos preços. Com essa competição, os preços do óleo de essência de pau-rosa apresentaram tendência irregular, além da perda do mercado para o substituto sintético, uma vez que não ocorreu o processo de domesticação. Dessa forma, a partir de 1975, o setor de extração entra numa aguda crise conjuntural com a retração da demanda simultânea à redução das atividades de extração.

A década de 1980

A quantidade média anual exportada, no período 1980-85, caiu para 103.331 quilogramas, prevalecendo à tendência decrescente desde a década de 1960. Apesar de as cotações mostrarem-se relativamente elevadas, os preços reais, com exceção do de 1983, mostraram-se semelhantes aos das décadas anteriores.

O volume exportado, em 1980, o maior desde 1975, fez com que caísse a cotação do produto e se reduzissem às exportações nos dois anos seguintes. Essa redução nas exportações contribuiu para o aumento das cotações e, conseqüentemente, para o aumento nas exportações, no biênio 1983/84, para, novamente, cair na fase descendente de exportação/cotação. Nos anos seguintes até 1982, esses preços mantiveram-se irregulares, para voltar, a subir, abruptamente, em 1983, e cair, bruscamente, nos anos seguintes. O súbito aumento na demanda e no preço do óleo essencial de pau-rosa em 1983 por parte das perfumarias francesas e americanas, decorreu ao incêndio da fábrica de linalol de Givaudan, na Suíça, com a perda de estoques do linalol e acetato de linalila existentes. A instabilidade do mercado, decorrente da concorrência do substituto sintético, constitui uma das causas. Em 1986, apesar de manter a cotação similar à do ano anterior, as exportações reduziram-se 47,61%.

A exaustão das reservas mais acessíveis exige penetração de 10 km a 20 km das margens dos rios para o interior da mata, o que, além de penoso, aumenta, consideravelmente, o custo da extração. O corte das toras de pau-rosa e o seu transporte até ás margens dos rios navegáveis exige extremo sacrifício do homem-extrator que transporta as “achas” de pau-rosa (1 metro de comprimento) nas costas, ou puxados por um cipó ou corda. Por isso poucos são os caboclos que se desafiam à extração madeira no interior da selva, preferem extrair madeira nas várzeas ou próximos delas. Assim, mesmo com preços favoráveis, que atingiram US$ 4.757,71 a US$ 5.154,18, por tambor, em 1988, o setor de extração não consegue produzir mais que 800 tambores.

Deste modo, a partir da década de 1980, o óleo natural de pau-rosa não é mais usado na industria saboneteira (que representou o grosso de demanda) e sim apenas na indústria de perfumaria. O óleo natural de pau-rosa vale hoje mais pela sua fragrância e odor (nota madeira) do que pelo seus 85% de linalol contido, a despeito do sintético possuir 100% de linalol. Com a escassez do óleo essencial de pau-rosa, não se utiliza o óleo natural para extrair linalol nele contido como fixador, mas é utilizado pelas suas qualidades de odor e fragrância. Ocorre também que as grandes empresas de perfumaria que manipulam as fórmulas dos bouquets (mix de essências) misturam o sintético com o produto natural geralmente na base de 70% sintético e 30% natural (Benchimol, 1988; 2003). Esse fato caracteriza a complementaridade que o produto natural passou a ter e a formação de mercado distinto, destinando-se o produto natural exclusivamente à perfumaria fina.

Por outro lado, a diferença de localização entre as áreas de maior intensidade de expansão da fronteira agrícola, bem como o processo de povoamento com as áreas de ocorrência de pau-rosa, permitiu que a redução das reservas disponíveis decrescesse mais do que a própria extração.

Apesar da característica aleatória da descoberta de novas reservas de pau-rosa, desde que a diferença entre o preço e o custo de extração fosse correspondente ao custo da descoberta do recurso, a

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preferência era para permanecer na extração. Dessa forma, pode-se evidenciar que, com uma súbita melhoria nas cotações, os extratores remanescentes procuram aproveitar as circunstâncias do mercado, tentando descobrir novas reservas ou adentrar para áreas mais distante das margens dos rios.

A extração do recurso natural, mesmo quando o preço do produto supera o custo de extração, dificilmente levará a extinção integral do recurso. O final da extração econômica do recurso antecederá o da sua extinção, mediante a dificuldade da localização e da rarefação, por serem áreas de difícil acesso, distantes, e pela perda da economia de escala. O esgotamento total do recurso extrativo, ou de coleta ou aniquilamento, raramente será observado com a extração econômica.

A década de 1990 e o novo milênio

Durante as décadas de 1980 e 1990 os preços mantiveram tendência crescente, atingindo o máximo em 1998, com US$ 7.986,00/tambor. O alto preço do óleo de pau-rosa e do seu esgotamento passam a ser enfatizados em diversos programas governamentais com vistas ao seu plantio racional. Novas técnicas, visando a extrair o óleo de pau-rosa das folhas e galhos, sem derrubar as árvores passam a ser enfatizados nas pesquisas conduzidas pelo Inpa e a Universidade Estadual de Campinas - Unicamp (MARTINS, 2003).

A partir da década de 1990, a essência do pau-rosa e a sua presença em perfumes finos passa a ser questionada quanto ao aspecto ético da forma como é extraída. As grandes empresas de perfumarias passaram a se especializar em atender à crescente demanda do consumidor natural. Multinacionais francesas como a Yves Rocher, Biotherm, Clarins e Ushua, a The Body Shop (inglesa) e as americanas Rose Brier e Mahogany passaram a dedicar a venda de cosméticos com base natural (ESTUDO..., 2003; ROSEWOOD..., 2003). Muitas dessas empresas tiveram o seu sucesso associado com a defesa da proteção ambiental e dos animais, direitos humanos e parcerias com comunidades carentes e da não utilização de animais nos seus testes de laboratório e de buscar uma qualidade natural e terapêutica dos cosméticos, recorrendo-se a insumos naturais renováveis e conservando-se os recursos naturais. O sentido do mercado global é associado para os produtos até então com mercados exclusivamente locais. Na onda ecológica cresceu também o mercado de plantas medicinais e aromáticas, onde no Mercado do Ver-o-Peso, em Belém, Pará, ganhou força entre as barracas de cheiro e, à frente delas, as de mandingueiras, constituindo em sucesso de programas de televisão (BEZERRA, 2003).

O processo de esgotamento dos estoques de pau-rosa fez com que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama editasse a Portaria 01/98, em 18 de agosto de 1998, regulamentando a exploração, industrialização e comercialização do pau-rosa, no Estado do Amazonas (Brasil, 1998). Esta Portaria estabeleceu o abate árvores com DAP superior a 20cm e o plantio de 4 árvores por metro cúbico de matéria-prima em 1998, de 8 árvores a partir de 1999 e, a partir de maio de 2000, as empresas que industrializam pau-rosa deverão ter implantados plantios equivalentes ao consumo anual. Atualmente, estima-se que existem cerca de 42 mil mudas de pau-rosa plantadas no Estado do Amazonas. A tendência crescente do valor do produto exportado foi acompanhado pelo declínio da quantidade extraída (FERREIRA, 2002).

No Brasil a incorporação da proteção ambiental na indústria de cosméticos é perceptível em grandes empresas e, também das pequenas indústrias comunitárias. Em 1993 quando foi fundada a Associação de Silves pela Preservação Ambiental -ASPAC, no município de Silves, Estado do Amazonas, antiga região extratora de óleo de essência de pau-rosa, fizeram com que em 1999 fosse criada a Associação Vida Verde da Amazônia -AVIVE com o objetivo de elaborar uma proposta de um projeto comunitário para o desenvolvimento de uma linha de produtos naturais aromatizados com os óleos essenciais regionais. Com a colaboração de instituições de pesquisa, do Fundo Mundial para a Vida Selvagem e do Governo da Áustria implantaram uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável - RDS através do Edital 04 do Fundo Nacional do Meio Ambiente - FNMA, em 2001. Utilizando equipamentos de rappel para a coleta de sementes, folhas, galhos e cascas de árvores, além de outros equipamentos para a destilação e o preparo de óleos (capacidade de 20 litros), passaram a plantar espécies nativas aromáticas, ao mesmo tempo que desenvolviam novas linhas de produtos e de embalagens (BELEZA..., 2003; PAU ..., 2003).

Em 1993, a Amazônia Legal contava com 10 usinas em funcionamento, gerando 1,5 emprego por cada tambor de essência beneficiado. Apesar do rigor da legislação trabalhista, são poucas as reclamações na justiça, denotando um desinteresse dos filhos dos antigos extratores no trabalho com o pau-rosa. Uma tradicional firma de extração, a Francisco Ianuzzi, sediada em Parintins, no inicio da década de 1990, produzia 150 a 200 tambores/ano (IANUZZI, 1993).

Em 2003, a despeito da grande procura de óleo essencial de pau-rosa, existiam apenas sete destilarias em funcionamento no Estado do Amazonas. A extração é efetuada em terras públicas do Estado do

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Amazonas, sobretudo na bacia dos rios Jatapu e Nhamundá e, do alto rio Trombetas, no Estado do Pará (MOTA, 2003). Há melhoria do processo tecnológico, com a utilização de equipamentos de extração madeireira usados para o transporte de toras, mediante arraste com abertura de estradas, permitindo distanciar das margens dos rios. A extração de óleo essencial de pau-rosa se enquadra na categoria de produtos invisíveis, uma vez que não existe a coleta de dados de extração, ocorrendo apenas o controle na exportação. A discrepância entre os dados de produção/exportação levantados através do MDIC, DOF, SDS e as estimativas de produtores, chega a mais de 100% (PINAGÉ, Graciema Rangel, informação pessoal, 2009).

A busca de substitutos culmina com o êxito da domesticação da pimenta longa (Piper hispidinervum C.DC), identificado pelos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da domesticação e dos tratos culturais efetuados pelos pesquisadores da Embrapa Acre e da Embrapa Amazônia Oriental. Os plantios comerciais já estão sendo desenvolvidos no Estado do Acre e, no Estado do Pará, foi realizado em caráter experimental, não atraindo produtores, decorrente da competição com outras alternativas econômicas (WORKSHOP ..., 2001; MAIA et al, 2002). No período de 27 e 28/06 de 2000, foi realizado em Manaus a I Reunião Temática sobre Conservação e Utilização de Populações de Pau-rosa, patrocinado pela Embrapa Amazônia Ocidental e Inpa.

A busca de substituto para o pau-rosa está sendo feito em grande escala na China, na Província de Xiamen, de grandes plantios de Cinnamomum camphora, com o domínio da cultura de tecidos e da propagação vegetativa, visando um mercado atual de 30.000 toneladas de linalol. Somente uma empresa de perfumaria a Xiamen Peony Fragrancy & Chemicals Co. Ltd, pretende expandir seus plantios para 20.000 hectares de Cinnamomum camphora (INDÚSTRIA...., 2003; CINAMMOMUM ..., 2003).

Quanto as quantidades importadas de linalol e acetato de linalila, durante as décadas de 1980 e 1990, tem sido crescentes, com valor máximo de importação em 1998, com US$ 2.954.811, o que mostra o mercado potencial para o plantio racional de pau-rosa. Os preços de linalol tem mantido constante, com pequenos acréscimos, não acontecendo o mesmo com o acetato de linalila.

Considerações Finais

A análise dos preços de exportação, no período 1937/2002, mostra uma característica irregular. Para um produto que vem apresentando o esgotamento das áreas mais acessíveis, seria esperada tendência crescente nos preços, para haver uma compensação intertemporal, conforme o Princípio de Hotelling. Esses preços, inclusive, no período 1942/74, têm mostrado tendência decrescente. Os preços começam, realmente, a mostrar uma tendência crescente somente a partir da segunda metade da década de 1980. Essa tendência aproxima-se do enunciado por Pindick (1978), de que os preços de recursos naturais tenham a forma de U, isto é, decrescentes para então subir.

A despeito da tendência decrescente verificada após a década de 1950, considerando o gradativo esgotamento das reservas acessíveis e a conseqüente desativação das usinas de destilação, houve sensível esforço de extração em 1974, com o aumento das cotações, a extração de óleo essencial de pau-rosa atingiu a marca de 500t.

Razões de imperfeição do mercado, do aparecimento do substituto sintético e da expansão de cultivos de Cinnamomum camphora, especialmente na China, fizeram com que ocupasse o vácuo do esgotamento da essência de pau-rosa. A dependência da extração de pau-rosa de estoques de árvores existentes na natureza limita a sua expansão, a geração de renda e emprego para a Amazônia. Melhoria do mercado pode levar a intensificar o esforço de extração e exploração, obtendo um aumento temporário na quantidade extraída. Isto indica que os recursos extrativos vegetais não são extraídos até sua exaustão e termina por levar ao abandono da atividade extrativa, pelo surgimento de outras alternativas econômicas e do desequilíbrio quanto à capacidade de regeneração da espécie vegetal.

No caso da extração do pau-rosa, a incerteza na demanda do produto parece que sempre esteve presente. Pode-se conjecturar que essa incerteza manifestava-se pelo receio da perda de mercado com a entrada de outro produto natural, com a competitividade com os próprios extratores e, posteriormente, com o aparecimento dos sintéticos. Dessa forma, o desempenho dos extratores de pau-rosa com vistas em intensificar a extração no presente é coerente com a aversão ao risco quanto à demanda futura (WEINSTEIN e ZECKHAUSER, 1975).

No final da década de cinqüenta, a tecnologia da síntese química do linalol e do acetato de linalila trouxe nova incerteza quanto à desvalorização da essência natural, que passa a substituir o produto natural, levando a grande queda de preços na década de 1970. Esse aspecto confirma o caráter preditivo da tendência de preço em situação de incerteza na data do aparecimento do substituto (Dasgupta e Stiglitz, 1981). Acrescenta-se, ainda, o fato de a aversão ao risco dos extratores levar à intensificação da extração do recurso

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no presente (Heal, 1975). Desse modo, se não tivesse aproveitado por completo a essência de pau-rosa, com o aparecimento do substituto industrial, a região teria perdido em termos de receitas de exportação acumulada, no último meio século, cerca de 70 milhões de dólares. A descoberta do substituto sintético do óleo essencial de pau-rosa teve efeito positivo em evitar a sua destruição em maior escala.

O interesse pelo plantio domesticado em caráter empresarial ficou restrito às experiências realizadas nas décadas de trinta e quarenta, dado o receio do desaparecimento dessa atividade bastante promissora na época. Esses plantios foram realizados com a finalidade de cumprir uma legislação, porém não tiveram resultados animadores. A carência de informações de pesquisa relacionadas com o cultivo da espécie dificultava as ações tendentes à domesticação do pau-rosa.

A síntese do linalol, antes que se processasse a domesticação, desestimulou, também, as iniciativas com vistas em efetuar plantios racionais. A precariedade dos conhecimentos tecnológicos para efetivar grandes plantios homogêneos de pau-rosa e o longo tempo necessário para atingir a idade adulta aumentavam as dificuldades em relação à matéria-prima.

Nesse sentido, a domesticação e a expansão de plantios de pau-rosa, frente à existência de um substituto industrial, revelam-se bastante difíceis. Essa possibilidade só se tornará viável, se a pesquisa alcançar considerável aumento na produtividade e, assim, possibilitar a produção da essência natural a custos inferiores aos do similar industrial, com o crescimento dos custos industriais do produto sintético ou a tendência da volta aos produtos naturais, tornando o óleo de pau-rosa insumo indispensável.

Há, ainda, o risco da existência de sucedâneos naturais que contenham linalol ou não, com maiores chances de domesticação a curto prazo e vantagens comparativas referentes à precocidade para seu aproveitamento industrial.

Dado o caráter da seletividade e da aleatoriedade da espécie, a extração da essência de pau-rosa desenvolveu-se como se fosse um bem comum. Enquanto os estoques de pau-rosa eram relativamente abundantes, provavelmente havia externalidades positivas, que não eram diluídas com o aumento do número de extratores. Porém, à medida que esses estoques foram escasseando, o número de extratores passou a ser crítico, manifestando-se na externalidade de congestão e fazendo com que se reduzisse o número de destilarias.

As atividades de exploração para a descoberta de novos estoques atuam, concomitantemente, com as da extração. Não se dispõe de um inventário florestal ou de informações sistematizadas sobre a ocorrência de pau-rosa em nível de planejamento governamental. Essa deficiência de maiores pesquisas sobre inventários de recursos naturais deve implicar maiores custos para os extratores e do aproveitamento irracional das reservas existentes.

Á medida que as reservas mais acessíveis vão escasseando, a extração tende a se afastar das margens dos rios e das estradas e seguir em direção às cabeceiras dos rios. Naturalmente, isto impõe custos adicionais que aumentam em razão da inexistência de esforços de exploração sistematizados. A permanência no setor vai depender dos estoques em extração e da expectativa de descoberta de novas áreas, diante da incerteza na dimensão dos estoques, bem como das flutuações favoráveis das cotações do produto.

Os recursos extrativos, à medida que vão diminuindo, podem perder utilidade. A retração na demanda que acompanha o esgotamento conduz à queda nos preços, inviabilizando a extração dos estoques remanescentes e desestimulando o esforço de exploração. Isto faz com que esses recursos sejam substituídos por outras alternativas econômicas, apressando seu desaparecimento, ou que os extratores abandonem essa atividade. Os produtos que não necessitam de industrialização ou beneficiamento podem ter um ciclo de extração mais longo pela independência com a escala da planta industrial mínima e acompanhar a idéia da escassez e de preços crescentes, dado o crescimento da demanda.

Existe um grande potencial de mercado para pau-rosa que pode ser estimado pela quantidade máxima já exportada em 1951, de 444 toneladas, que se comparada com a exportação em 2002, de menos de 23 toneladas, indica que poderia multiplicar por vinte vezes, indicando que existe um potencial de corte anual de aproximadamente 30 mil árvores. O valor das exportações superiores a 6 milhões de dólares e o preço do óleo essencial atingindo quase US$ 8.000/tambor (180kg) indica as possibilidades do seu plantio como importante fonte de geração de renda e emprego em bases mais sustentáveis. Adiciona-se o valor da importação de substitutos sintéticos que atinge quase três milhões de dólares.

Agradecimentos especiais Ao economista Otto Vergara Filho (19 -1999), pesquisador da Embrapa Solos e ao Prof. Samuel Isaac

Benchimol (13/06/1923-05/07/2002), maior conhecedor da economia do pau-rosa e símbolo da inteligência amazônica, ambos falecidos, os sinceros agradecimentos do autor pela colaboração prestada.

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APÊDICE 3 – OUTROS PRODUTOS EXTRATIVOS ENCONTRADOS NA REGIÃO DA PESQUISA

Box 3. Produtos extrativos não-madeireiros da região Mamuru-Arapiuns (texto elaborado especialmente para este relatório por Alfredo Kingo Oyama Homma, pesquisador da Embrapa)

Muitos dos produtos mencionados abaixo fazem parte da medicina popular e outros são

comercializados para venda em laboratórios farmacêuticos. As menções a curas e terapias têm apenas cunho

informativo, coletadas na literatura, que fazem parte do mercado da angústia, decorrente da pobreza da população, falta de assistência médica e da não-disponibilidade de medicamentos (PRADAL,1979). Isso constitui uma clara indicação da necessidade de maiores investimentos nas plantas utilizadas pelas populações tradicionais, a identificação de seus princípios ativos e sua verticalização

Seringueira (Hevea brasiliensis M. Ang.)

Produto extrativo mais importante durante o século XIX, nas primeiras duas décadas do século XX e no curto período da II Guerra Mundial. O povoado de Boim, situado na margem esquerda do rio Tapajós foi o local onde Henry Alexander Wickham efetuou a coleta das 70 mil sementes em 1876, causa do declínio três décadas depois

A região do Tapajós, em Fordlândia, em 1927, que foi implantado o primeiro plantio em larga escala da seringueira no Brasil. A descoberta da presença do mal—das folhas fez com que desenvolvesse novo plantio, em 1934, em Belterra. A infra-estrutura e as seringueiras plantas tanto em Fordlândia como em Belterra foram adquiridas pelo governo brasileiro em 1945. Muitas dessas áreas de seringueiras plantadas ocorreu da vegetação secundária transformando em caso inédito de plantio domesticado voltando ao estádio primitivo.

A seringueira é uma árvore de médio porte que pode atingir 20 metros de altura, que são encontradas, em média de 0,6 árvore/hectare com DAP > 30cm. Trata de árvore de maior relevância econômica, para obtenção do látex, exsudado através da sangria do fuste. O látex coletado em um recipiente é coagulado pelo processo de defumação, existindo diversos processos. De uma árvore pode-se obter em média 3 kg de látex, durante a safra (OLIVEIRA et al., 1993).

Cumaru (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.

O principal valor da semente de cumaru se deve à presença em alta concentração de cumarina. As sementes de cumaru, devido às suas propriedades aromáticas, são vastamente utilizadas nas indústrias de perfumaria e cosméticos. Adicionalmente são empregadas à indústria de tabaco para dar aroma ao fumo

A cumarina tem valor clínico por ser precursor de medicamentos anticoagulantes como a warfarina e tem aplicações na indústria alimentícia, substituindo a baunilha. As sementes também são usadas também na fabricação de colares ornamentais e artesanato em geral. Tecnologias mais modernas podem assegurar o aumento do rendimento e, provavelmente, resultar em melhor qualidade da cumarina. Pela sua importância as pesquisas com a sua domesticação já deveriam estar mais avançadas. O Instituto Agronômico do Norte e a sua sucessora chegaram a efetuar alguns ensaios com esta planta e a distribuição de mudas, existindo um pequeno plantio abandonado nas dependências da Embrapa Amazônia Oriental.

O cumaru é uma árvore de grande porte que pode atingir cerca de 30m de altura, razão da sua derrubada para madeira. A média de árvores, considerando DAP > 30cm é de 0,2/hectare. Esta espécie é de uso muito freqüente pelos ribeirinhos da Flona do Tapajós, devido ao alto valor comercial de suas sementes no município de Santarém. Além do seu emprego industrial como aromatizante para tabaco, chocolate e bebidas, possui também propriedades terapêuticas. O óleo obtido das sementes ajuda a curar úlceras bucais, nevralgias, coqueluches, dores fortes de cabeça e das articulações, tuberculose e adenopatia (OLIVEIRA et al., 1993)

De cada árvore de cumaru são coletadas, de uma única vez, de 300 a 350 quilos de sementes. Esta espécie inicia a formação de botões florais e flores de setembro a fevereiro, e a maturação de frutos e dispersão acontece de maio a julho. Em geral as árvores iniciam a frutificação aos sete anos de idade, e com aproximadamente dez anos a produção de sementes é generalizada. Na abertura das sementes de casca lisa e dura exige a habilidade de descobrir o ponto de ruptura, caso contrário, não se consegue abrir somente com o uso da força

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Copaíba (Copaifera multijuga Hayne)

O óleo apresenta uma grande heterogeneidade de cores, sendo necessário efetuar pesquisas visando a sua qualificação e, futuramente, selecionar as plantas adequadas para a sua efetiva domesticação.

A copaíba é uma árvore de grande porte que pode atingir até 30 metros de altura, estando sua ocorrência em torno de 0,2 árvore/hectare, com DAP> 30cm. As populações ribeirinhas utilizam devido ao óleo extraído do seu tronco com freqüência de forma predatória largamente empregado para fins medicinais como anti-séptico das vias urinárias, contra blenorragia, leucorréia, doenças sifilíticas, tosses e bronquites, diarréia, urticária e doenças da pele. O óleo é obtido do fuste com auxílio de trado, inserindo a uma altura aproximadamente de um metro acima do solo. A média de óleo exudado de cada árvore é eqüivalente a 80 litros. Os extrativistas do Estado do Acre são os mais evoluídos no processo de extração, manejo e comercialização do óleo de Copaíba

Amapá-doce (Brosimum parinarioides Ducke)

O amapá-doce é uma árvore com tronco volumoso podendo atingir cerca de 30 metros de altura, com densidade de 0,30 árvore/hectare com DAP > 30 cm. Da árvore se extrai principalmente o leite que é muito empregado pelos ribeirinhos na medicina caseira. O leite abundante que escorre da casca do fuste ao ser cortado é utilizado como valioso remédio contra fraqueza, em geral a tuberculose e doenças intestinais. De uma árvore adulta pode-se obter em média 15 litros de leite vegetal (OLIVEIRA et al., 1993)

Freitas e Fernandes (2006) comentam que os moradores afirmam que para conservar o leite do Amapá-doce deve-se fervê-lo com água e depois coado, ou, então, deve ser ingerido puro ou misturado com leite condensado. De acordo com os informantes, “não se pode consumir o leite do amapá-doce quando a árvore ainda estiver dando fruto, pois é venenoso”. Como o leite de maçaranduba há necessidade de avaliar a conservação do leite do amapá-doce através do estudo de suas características após extração, com avaliações físico-químicas, enzimáticas e microbiológicas que proporcionem uma melhor condição para otimizar o processo de conservação do produto;

Fava-barbatimão (Stryphnodendron pulcherrimum (Wild.) Hoch

É uma árvore de pequeno porte, com densidade de 0,3 árvore/hectare com DAP > 30 cm. A árvore possui pouca folhagem e na maioria das vezes com fuste tortuoso. Apresenta casca rugosa que serve tanto para produzir tinta de escrever e também tem uso na medicina caseira. É empregada pelos ribeirinhos como anti-diarréico, hemostático, hemorragias uterinas, afecções escorbísticas e hérnias. De uma árvore pode-se obter em média 12 kg de casca, sem comprometimento a uma coleta contínua (OLIVEIRA et al., 1993).

Jatobá (Hymenaea courbaril L.)

O jutaí-açu ou jatobá é uma árvore bastante desenvolvida podendo atingir 30 ou 40 metros de altura com quase 2 metros de diâmetro. Sua ocorrência varia em média de 0,6 árvore/hectare, com DAP> 45cm. Do jatobá são aproveitadas todas as partes (resina, casca, raízes, polpa dos frutos e seiva), seu principal uso é medicinal, sendo utilizadas contra afecções pulmonares de modo geral, dores e cólicas estomacais, como vermífugo e anti-diarréico, antioxidante, diurético, expectorante, hepatoprotetor e estimulante e energético. A seiva do jatobá apresenta as mesmas propriedades que o chá elaborado a partir da casca, que além de fortalecedor do sistema imunológico, é estimulante e utilizado pelos indígenas para melhorar o desempenho sexual.

A principal importância desta espécie para os ribeirinhos está na sua resina que após a retirada do fuste é dessecada e, em forma cristalina, é utilizada na indústria de vernizes e calafetagem de barcos no município de Santarém

A produção média anual de resina por árvore varia de 8,3 a 18,2 litros/árvore, chegando a atingir em alguns casos, cerca de 52 litros

Maçaranduba (Manilkara huberi (Ducke) Stand

Os viajantes antigos da Amazônia comentam o uso do leite de maçaranduba misturado com o café. A maçaranduba é uma árvore de fuste cilíndrico, de grande porte que pode atingir 50 metros de

altura. Sua freqüência, considerando árvores com DAP > 30 cm é de 2,2 árvores/hectare. Os ribeirinhos costumam utilizar esta espécie para obtenção de látex que é exudado através de sangria do fuste que após

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dessecado ao sol resulta na balata, num produto plástico, material que difere da borracha por ser duro (OLIVEIRA et al., 1993)

A produção por árvore, a intervalos de dois anos, é de aproximadamente 1 kg a cada sangria/ano. Esta produção pode ser aumentada desde que seja derrubada a árvore para o aproveitamento total do seu fuste na extração do látex

Mururé (Brosimopsis acutifolia)

O mururé caracteriza-se por ser uma árvore de médio porte atingindo 15 a 20 metros de altura, com ocorrência de 0,9 árvore/hectare com DAP > 30cm

Da árvore, através do fuste, os ribeirinhos extraem principalmente o leite que “in natura”, mistura-se com chás para tratamento de reumatismos, dores musculares ou ósseas. Sua ação depurativa deve-se ao alcalóide muserina. A produção por árvores a intervalos de seis meses é de cerca de seis litros

Pau-d’arco-roxo (Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standley

O pau-d’arco-roxo é uma árvore que pode atingir até 25 metros de altura com fuste normalmente reto. Sua distribuição, considerando árvores com DAP > 30 cm é de 0,3 árvore/hectare. Da árvore extraída a casca que é muito empregada pelos ribeirinhos no tratamento contra as inflamações da mucosa bucal, úlceras da garganta, estomatite e angina, feridas e úlceras (OLIVEIRA et al., 1993)

De uma árvore dependendo do seu porte, pode-se obter em média 35 kg de casca, sem comprometimento, a uma coleta contínua

Piquiá (Caryocar villosum (Aubl.)

As árvores de piquiazeiro foram muito utilizadas na construção naval, o mesmo ocorrendo com bacurizeiros (Platonia insignis) no Nordeste Paraense e na ilha de Marajó. Atualmente há um interesse muito grande pela sua fruta, o que levando os agricultores nipo-brasileiros de Tomé-Açu a desenvolverem técnicas de enxertia e a produção de mudas visando a difusão dessa cultura.

O piquiá é uma árvore de grande porte que pode atingir cerca de 35 metros de altura, cuja ocorrência é de 0,2 árvore/hectare com DAP >45cm. Esta espécie possui grande aceitação pelos ribeirinhos devido ao amplo uso de seus frutos quer para alimento como também, para o fabrico de óleo, principalmente para fins medicinais (inflamações, baques traumáticos, etc.) (OLIVEIRA et al., 1993)

A obtenção do óleo é semelhante ao processo utilizado para a andiroba. O rendimento de óleo a nível artesanal é de 3% a 5% do peso do fruto. As árvores de piquiá tem a sua inflorescência de agosto a abril e os frutos maduros de abril a maio. A disseminação de sementes ocorre de abril a maio

Preciosa (Aniba canellila H.B.K.- Mez)

A preciosa é uma árvore de médio porte que pode atingir de 20 a 25 metros de altura, com ocorrência de 0,2 árvore/hectare. Os ribeirinhos utilizam as folhas e principalmente a casca para uso medicinal popular contra artritismo, esgotamento nervoso, excitante e aromático. Foi observado o emprego de chá da casca de preciosa em substituição ao café matinal. De uma árvore, dependendo de seu porte, pode-se obter em média 10 kg de casca, sem comprometimento, a uma coleta contínua (OLIVEIRA et al., 1993).

Quinarana (Geissospermum sericeum Benth.)

A quinarana é uma árvore pequena ou mediana que ocorre com incidência de 1,30 árvore/hectare com DAP > 30 cm. A casca é o principal produto extraído da árvore de quinarana pelos ribeirinhos que as utilizam como febrífugo, tônico digestivo, tratamento do estômago e vesícula. De uma árvore dependendo do seu porte, pode-se obter em média de 10kg de casca, sem comprometimento a uma coleta contínua (OLIVEIRA et al., 1993)

Sucuba (Hymatanthus sucuba Spruce)

A sucuba é uma árvore latescente de porte médio que pode atingir de 20 a 30 metros de altura, cuja ocorrência com DAP > 30 cm eqüivale a 1,0 árvore/hectare, podendo obter em média onze litros de leite vegetal. Da árvore se extrai principalmente o leite que escorre da casca do fuste ao ser cortado é muito empregado na medicina popular como antitumoral, antifúngica, vermífuga e anti-anêmica. Segundo a farmacopéia popular, a casca da sucuba, por exemplo, só devem ser empregadas bem secas, senão “fazem

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mal” (FREITAS & FERNANDES, 2006).

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