A construção do discurso na aula - Webnode · Vygotsky e a Perspectiva Sócio-cultural •...
Transcript of A construção do discurso na aula - Webnode · Vygotsky e a Perspectiva Sócio-cultural •...
A construção do discurso na aula
José Artur B. Fernandes
Junho de 2019
Vygotsky e a Perspectiva Sócio-cultural
• Aprender é um fenômeno social.
• A origem social dos signos usados na
. comunicação.
• Internalização
•Referencialidade
“O conhecimento e a comunicação são dois
processos inseparáveis com um
funcionamento interdependente e, portanto,
conhecer é construir significados
compartilhados”
Ignasi Vila
Aprender é um fenômeno social
Introdução
"As crianças não escolhem o
significado de uma palavra, já lhes vem
dado no processo de interação verbal
com os adultos. As crianças não
constroem seus próprios complexos
livremente.“
(VYGOTSKY, 1934: 133 apud WERTSCH, 1988)
Aprender é um fenômeno social.
“Os significados são construídos. É um
engano dizer, como as pessoas
freqüentemente dizem, que alguma coisa
tem significado, como se significado fosse
uma coisa inerente. Uma palavra, um
diagrama, um gesto, não têm significado.
Um significado tem que ser construído
para isso, por alguém, de acordo com um
conjunto de convenções para dar sentido a
palavras, diagramas ou gestos"
(LEMKE, 1990: 186)
Aprender é um fenômeno social.
E o que isso tem a ver com educação?
"Na perspectiva sócio-cultural, a educação
em sala de aula é um processo discursivo
sócio-histórico no qual os resultados, do
ponto de vista da aprendizagem, são
determinados conjuntamente pelos esforços
de professores e alunos.
A contextualização contínua e cumulativa
de eventos e a criação de um conhecimento
comum através do discurso são, portanto, a
própria essência da educação como
processo psicológico e cultural.”Mercer, 1998:14
Aprender é um fenômeno social.
“A aprendizagem escolar pode ser
interpretada como um processo de
construção progressiva de sistemas
de significados compartilhados em
relação a tarefas, situações ou
conteúdos em torno dos quais se
organiza a atividade conjunta dos
participantes”
Coll et al.(1992: 196)
Aprender é um fenômeno social.
Vygotsky usa um exemplo para a origem
dos gestos:
Uma criança pequena vê um copo de água ao
lado do berço e estende a mão para tentar
alcançá-lo.
Um adulto, ao seu lado, pega a água para a
criança, ao perceber o gesto.
A reação do adulto transforma a tentativa de
alcançar a água, feita pela criança, em um
gesto que será utilizado nas próximas
ocasiões.
A origem social dos signos usados na comunicação.
LEI GENÉTICA GERAL DE
DESENVOLVIMENTO CULTURAL
"Qualquer função no desenvolvimento cultural
da criança aparece duas vezes, ou em dois
planos.
Primeiro ela aparece no plano social, e depois
no plano psicológico. Primeiro ela aparece entre
pessoas como uma categoria interpsicológica, e
depois dentro da criança como uma categoria
intrapsicológica.
Isto é igualmente verdadeiro para a atenção
voluntária, memória lógica, a formação de
conceitos e o desenvolvimento da vontade"
A origem social dos signos usados na comunicação.
interpsicológico = social
A origem social dos signos usados na comunicação.
intrapsicológico = mental
No exemplo, o significado comunicativo do
comportamento não existe até que seja criado
na interação adulto-criança.
A combinação do comportamento da criança
com a resposta do adulto transforma um
comportamento não comunicativo em um
signo do plano interpsicológico.
A forma do signo se transforma de um
movimento que consistia em uma tentativa de
alcançar um objeto em um gesto de
indicação.
A origem social dos signos usados na comunicação.
Mais adiante, a criança irá adquirir controle
voluntário no plano intrapsicológico sobre o
que anteriormente só havia existido na
interação social.
Vygotsky
A origem social dos signos usados na comunicação.
Internalização:
Como ocorre a passagem das funções
psicológicas desde o plano da interação social
(interpsicológico) para o plano individual,
interno da criança (intrapsicológico)?
Internalização:
Processo em que certos aspectos da
estrutura da atividade que se realiza no
plano externo passam a ser executados
em um plano interno
Internalização é um processo implicado na
transformação dos fenômenos sociais em
fenômenos psicológicos.
Portanto, Vygotsky concebia a realidade
social como determinante fundamental da
natureza do funcionamento
intrapsicológico"
(WERTSCH, 1998: 80)
Internalização:
(1) as funções psicológicas externas
não são simplesmente copiadas
transformando-se em processos
internos, mas re-trabalhadas pela
criança que irá adquirir controle
sobre estes;
(2) tal controle depende da capacidade
da criança de manejar as formas de
comunicação que estão envolvidas
na interação social.
Internalização:
Referencialidade:
"Educação é melhor entendida como um
processo comunicativo que consiste
largamente no desenvolvimento de
contextos mentais e termos de referência
compartilhados, por meio dos quais os
vários discursos da educação (os vários
'conteúdos' e suas habilidades acadêmicas
associadas) se tornam inteligíveis para
aqueles que deles se utilizam"
(EDWARDS; MERCER, 1993: 63).
A construção social do conhecimento
Como criamos esses contextos
referenciais?
Na sala de aula, o professor terá que criar
uma contextualização entre signos que só
existem no plano abstrato, conectando os
sentidos que ele atribui a uma palavra,
por exemplo, aos sentidos que sua
audiência poderá atribuir-lhe.
Para criar essa intersubjetividade, poderá
utilizar diferentes formas de
referencialidade:
A construção social do conhecimento
O marco referencial específico inclui
referências a conteúdos que o professor
dá por suposto que seus interlocutores já
os compartilham porque foram
trabalhados em momentos anteriores
COLL et al., 1992
O marco de referência específico se refere a
intersubjetividades que já foram construídas
em momentos anteriores, se refere a itens
temáticos da interação que já têm seus
significados compartilhados.
A construção social do conhecimento
O marco referencial social inclui referências
ao mundo extra-escolar. A hipótese aqui é de
que professor e alunos compartilham
vivências e aprendizagens prévias não por
terem passado por elas juntos, mas por
viverem em um mesmo grupo social e que,
por isso, devem ter referências parecidas.
COLL et al., 1992
O marco de referência social diz respeito aos
significados compartilhados porque os caras são
do mesmo grupo social; não se refere diretamente
a um conteúdo já presente na atividade conjunta
(item temático) mas atua como ferramenta para
criar intersubjetividades.
A construção social do conhecimento
O marco referencial empírico é construído ao
dirigir a atenção dos alunos para observar
determinados aspectos na interpretação de
uma imagem, objeto ou situação em que o
professor está estabelecendo um ponto de
vista inicial mais ou menos comum para a
observação.
Com base na observação controlada de aspectos
dos fenômenos apresentados/representados no
material didático, o professor cria referenciais
compartilhados dentro do marco referencial
empírico, controlando os itens temáticos que serão
trazidos para o discurso público. (TRIVELATO;
FERNADES, 2012)
A construção social do conhecimento
COLL, C. et al. Actividad conjunta y habla: una aproxinación a los mecanismos de
influência educativa. Infancia y Aprendizaje vol. 59-60, p.189-232, 1992.
EDWARDS, D.; MERCER, N. Common Knowledge: The development of understanding
in classroom. London: Routledge, 1993.193p.
TRIVELATO, S. F.; FERNANDES, J. A. B. O papel da observação na produção de
sentido em aulas expositivas de ciências. In: CASTELLAR, S. V.; MUNHOZ, G. B.
(Org.). Conhecimentos escolares e caminhos metodológicos. São Paulo: Xamã Editora,
2012, p. 185-200.
LEMKE, J. Talking science: language, learning and values. London: Ablex. 1990.
VILA, I. El espacio social en la construcción compartida del conocimiento. Educar, n.22-
23, p. 57-98, 1998.
WERTSCH, J. V. Vygotsky y la formación social de la mente. Barcelona: Paidós, 1988.
264 p.
Referências