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UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID
FACULTAD DE CIENCIAS DE LA INFORMACIN
TESIS DOCTORAL
Diplomacia pblica, tecnologa y religin: el impacto de las tecnologas de la informacin y de la sociedad en red en la actividad diplomtica y
la importancia de la religin en la diplomacia pblica
MEMORIA PARA OPTAR AL GRADO DE DOCTOR
PRESENTADA POR
Antnio Srgio Correia Mendona
Director
Flix Sagredo Fernndez
Madrid, 2016
Antnio Srgio Correia Mendona, 2015
UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID
INSTITUTO UNIVERSITARIO DE INVESTIGACIN
ORTEGA Y GASSET
Programa de Doctorado
PROBLEMAS CONTEMPORANEOS DE LA SOCIEDAD DE LA INFORMACIN
Ttulo de la Tesis Doctoral
DIPLOMACIA PBLICA, TECNOLOGA Y RELIGIN: EL IMPACTO DE
LAS TECNOLOGAS DE LA INFORMACIN Y DE LA SOCIEDAD EN RED EN
LA ACTIVIDAD DIPLOMTICA Y LA IMPORTANCIA DE LA RELIGIN EN LA
DIPLOMACIA PBLICA
Doctorando(a)
ANTNIO SRGIO CORREIA MENDONA
Director de la Tesis
DR. FLIX SAGREDO FERNNDEZ
UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID
Madrid, 2015
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 2
UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID
INSTITUTO UNIVERSITARIO DE INVESTIGACIN
ORTEGA Y GASSET
Programa de Doutoramento
PROBLEMAS CONTEMPORNEOS DA SOCIEDADE DA INFORMAO
Ttulo da Tese Doutoral
DIPLOMACIA PBLICA, TECNOLOGIA E RELIGIO:
O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E DA SOCIEDADE EM
REDE NA ATIVIDADE DIPLOMTICA E A IMPORTNCIA DA RELIGIO NA
DIPLOMACIA PBLICA
Doutorando
ANTNIO SRGIO CORREIA MENDONA
Orientador da Tese
DR. FLIX SAGREDO FERNNDEZ
UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID
Madrid, 2015
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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Para Maria e Sofia,
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador da dissertao, Professor Doutor
D. Flix Sagredo Fernndez por todo o apoio e incentivo. A sua energia inesgotvel e o
seu nimo e motivao foram fundamentais na superao de momentos de maior
dificuldade e na focalizao em aspetos particularmente relevantes. As suas sugestes e
crticas revelaram-se tambm fundamentais ao longo da elaborao deste trabalho.
Agradeo de forma muito especial ao Tenente-Coronel Doutor Paulo Viegas
Nunes. Foi dele o incentivo inicial para a realizao desta dissertao, e a confiana que
depositou em mim foi fundamental para fazer acontecer este projeto. O seu incentivo
permanente e a sua determinao foram muito relevantes para ultrapassar muitos dos
obstculos que se colocaram sua realizao.
Mestre Rubina Berardo agradeo o entusiasmo que me transmitiu para o
estudo de algumas das matrias analisadas na presente dissertao e pela perseverana
que incitou a ter.
Ao Mestre Rui Alves, pelo exemplo de persistncia e de conquista e pela
amizade de longa data.
Agradeo Sofia, incansvel na dedicao, abnegao e compreenso que a
elaborao desta tese tantas vezes exigiu.
Aos meus pais, uma palavra de gratido por todo o apoio e estmulo que neles
encontrei nos momentos mais difceis. minha av pelo exemplo de vida.
Agradeo ainda de forma muito expressiva a todas pessoas que me incentivaram
a dedicar-me elaborao desta dissertao e a perseverar em momentos mais difceis.
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Palavras-Chave
Diplomacia; diplomacia pblica; tecnologia; rede; informao; religio;
comunicao; Pennsula Ibrica; redes sociais; ciberespao; soft power; guerra de
informao; hacktivismo
Palabras Clave
Diplomacia; diplomacia pblica; tecnologa; red; informacin; religin;
comunicacin; Pennsula Ibrica; reds sociales; ciberespacio; poder blando; guerra de la
informacin; hacktivismo
Key Words
Diplomacy; public diplomacy; tecnology; network; information; religion;
comunication; Iberian Peninsula; social networks; cyberspace; soft power; information
warfare; hacktivism
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Resumo
No atual ambiental comunicacional caracterizado pela interconexo e
globalizao, o modo como os vrios Estados comunicam apresenta uma importncia
crescente. A facilidade com que os cidados conseguem hoje aceder informao, por
um lado, e a rapidez com que a mesma se propaga, por outro, elevam a responsabilidade
dos Estados no processo comunicativo, levando a um maior cuidado na informao
prestada e a uma maior rapidez no contexto de um mundo crescentemente interativo e
interconectado vinte e quatro horas por dia.
Por outro lado, o papel dos Estados cada vez mais afetado pela concorrncia na
atividade diplomtica de atores no estatais de alcance global e de organizaes de
carter multilateral.
Neste contexto de comunicao global, ganhou especial relevncia a
comunicao entre os Estados e as populaes de outros Estados. A imagem e as
percees formadas de um Estado apresentam hoje uma importncia acrescida na
vivncia dos Estados e dos seus agentes econmicos relativamente ao que acontecia em
contextos histricos anteriores.
Deste modo, a adoo de estratgias de diplomacia pblica merece uma ateno
cada vez mais cuidada por um nmero cada vez maior de Estados, que integram
crescentemente instrumentos habitualmente utilizados no sector privado como o
branding como forma de aumentar a sua reputao e credibilidade perante pblicos
externos.
Assume tambm uma grande importncia o papel da Internet no contexto da
diplomacia pblica, sendo pertinente verificar em que medida poder corresponder a um
meio privilegiado para o exerccio de diplomacia pblica pelos Estados face aos
desenvolvimentos proporcionados pela era da informao.
Neste contexto, partindo do conceito de informao enquanto matria-prima
fundamental da atividade diplomtica pretende-se questionar at que ponto estaremos a
assistir a um processo gradual de afirmao da diplomacia pblica enquanto atividade
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diplomtica fundamental em detrimento da atividade diplomtica tradicional no
contexto do atual ambiente comunicacional.
Para este efeito, imprescindvel um olhar sobre o impacto sobre a atividade
diplomtica de diferentes formas de organizao social, nomeadamente, da sociedade
estruturada em rede e do papel que os desenvolvimentos tecnolgicos vo assumindo
nesse particular.
Nesse contexto, e tendo em vista a caracterizao do exerccio da diplomacia no
ciberespao ser considerado um conjunto de construes tericas no que se refere a
polticas diplomticas para o ciberespao, assumindo particular importncia a
noopolitik, a cyberpolitik ou a netpolitik.
Ser ainda considerado o papel das redes sociais na atividade diplomtica em
geral, e no contexto especfico do exerccio da diplomacia pblica, o papel a
desempenhar por atores no estatais na atividade diplomtica, bem como o conceito de
comunicao de massas distinguindo a diplomacia pblica de outras aes como a
propaganda, o branding, public affairs, relaes pblicas, publicidade e outras formas
de comunicao mais predominantes no contexto militar.
Tambm relevante neste mbito, a anlise da conflitualidade social no
ciberespao e do seu impacto na atividade diplomtica, nomeadamente, no que se refere
influncia do hacktivismo e do wikileaks na ao diplomtica no ciberespao.
Optou-se ainda pela anlise de um tpico menos estudado no contexto da
diplomacia pblica, particularmente na Europa, que se refere influncia exercida pela
religio nessa atividade e que, em alguns contextos tender a ser determinante.
A partir do conjunto de dimenses consideradas relativas ao exerccio da
diplomacia pblica, procurou-se definir e apresentar um conjunto de competncias que
devero caracterizar um profissional de diplomacia pblica no contexto do atual
ambiente comunicacional.
.
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Resumen
En el entorno comunicacional actual caracterizado por la interconexin y por la
globalizacin, la forma como los varios Estados comunicn tiene una importancia
creciente. La facilidad com que los ciudadanos pueden hoy aceder a la informacin, por
un lado, y la velocidad con que se propaga, por otro, aumentan la responsabilidad de los
Estados en lo processo comunicativo, que conduce a un mayor cuidado el na
informacin proporcionada y a una mayor velocidade, en el contexto de un mundo
crecientemente interactivo y interconectado veinticuatro horas por da.
Por otro lado, el papel de los Estados est cada vez ms afectado por la
concorrncia en la actividad diplomtica de los actores no estatales com alcance global
y de organizaciones multilaterales.
En este contexto de comunicacin global, ganou una especial relevancia la
comunicacin entre los Estados y las populaciones de otros Estados. La imagn y las
percepciones formadas de un Estado presentn hoy una mayor importancia en la vida de
los Estados y sus agentes econmicos por comparacin con contextos anteriores.
De esta manera, la adopcin de estrategias de diplomacia pblica merece una
atencin cada vez ms cuidadosa por un nmero cada vez mayor de Estados, que
integrn cada vez ms instrumentos utilizados en el sector privado como el branding, a
fin de aumentar su reputacin y credibilidad ante los pblicos externos.
Tambin es muy importante el papel de Internet en el contexto de la diplomacia
pblica, siendo importante comprovar cmo Internet puede ser un medio objetivo para
el ejerccio de la diplomacia pblica de los Estados en el contexto del desarrollo
resultante de era de la informacin.
En este contexto, a partir del concepto de informacin como materia prima
fundamental de la actividad diplomtica se pretende cuestionar en qu medida estamos
presenciando a un proceso gradual de afirmacin de la diplomacia pblica como
actividad diplomtica fundamental encima de la actividad diplomtica tradicional en el
contexto del entorno comunicacional actual.
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Para este propsito, es indispensable verificar el impacto de diferentes formas de
organizacin social, a saber, de la sociedad estructurada en red y del papel del desarrollo
tecnolgico.
En este contexto, en vista de la caracterizacin de la actividad diplomtica en el
ciberespacio, ser considerado un conjunto de construcciones tericas en lo que respecta
a polticas diplomticas para el ciberespacio, teniendo importancia especial la
noopolitik, la cyberpolitik o la netpolitik.
Sigue siendo considerado el papel de las redes sociales en la actividad
diplomtica, a saber en el contexto especfico de la diplomacia pblica, y el papel que
deben desempear los actores no estatales en la actividad diplomtica, y el concepto de
comunicacin de masas hacendo la distincin entre la diplomacia pblica y otras
acciones como la propaganda, el branding, los public affairs, las relaciones pblicas, la
publicidade y otras formas de comunicacin ms predominantes en el contexto militar.
Tambin es muy importante en este mbito la anlisis de la conflictualidad
social en el ciberespacio e su impacto en la actividad diplomtica, a saber, en lo que se
refiere a la influencia de lo hacktivismo y de la wikileaks en la accin diplomtica en el
ciberespacio.
Se h optado tambin por un anlisis de un tpico menos estudado en el contexto
de la diplomacia pblica, sobretodo en Europa, que se refiere a la influencia ejercida por
la religin en esa actividad, que en algunos contextos tender a ser decisivo.
A partir del conjunto de dimensiones consideradas com relacin al ejercicio de
la diplomacia pblica, se h intentado definir y presentar un conjunto de habilidades que
debern caracterizar un profissional de diplomacia pblica en el contexto del entorno
comunicacional actual.
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Abstract
At the current comunicational environment characterized by na interconection
and the globalization, the way how the States communicate has become increasingly
importante. The ease with which citizens can access information, on one hand, and the
rapidity with which it spreads, on the other hand, increase the responsibility of the
States in the communicational process, leading to a greater care in the information
provided and to a greater speed in the contyext of na increasingly interactive world and
interconnected 24 hours a day.
On the other hand, States are increasingly affected by the competition in the
diplomatic activity of non-state actors of global reach and of multilateral organizations.
In this context of global communication, the communication between States and
foreign populations has become inceasingly importante. The image of a State and the
way in which it is perceived have today a bigger relevance in States living ando f their
economic actors comparing to other historical contexts.
This way, the adoption of public diplomacy strategies desserves an increasingly
bigger attention by a greater number of States, that integrate more and more instruments
normally used in the private sector, such as branding, as a way to improve their
reputation and credibility against external audiences.
It is also very important the influence of the Internet in the context of public
diplomacy, being relevant to check the relevance of the Internet in States public
diplomacy against the developments of the information era.
In this context, starting from the concept of information as the fundamental
element of the diplomatic activity, it is intended to question to what extent are we
witnessing to process of gradual affirmation of the public diplomacy as main diplomatic
activity over the traditional diplomatic activity in the context of the current
communicational environment.
For this purpose, it is essential to analyze the impact of diferente forms of social
organization in the diplomatic activity, namely, the network society and the role
assumed by diferent technological developments in that context.
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In that contexto, in order to characterize the diplomatic activity in the
cyberspace, a number of theoretical constructs regarding to diplomatic policies in the
cyberspace will be considered, namely, the noopolitik, the cyberpolitik or the netpolitik
It will also be considered the role that social networks have in the diplomatic
acivity, mainly in the specific contexto of public diplomacy, as well as the role played
by non-state actors in the diplomatic activity, and the concept of mass communication
distinguishing public diplomacy from other actions suchs as propaganda, branding,
public affairs, public relations, publicity and other forms of communication more
predominant in the militar context.
It is also relevant under this scope, the analysis of social conflicts in the
cyberspace and its impact in the diplomatic activity, namely, the influence of hacktivism
and of the wikileaks in the diplomatic action in the cyberspace.
We have also opted for the analysis of a topic less studied in the context of
public diplomacy, particularly in Europe, that refers to the influence played by the
religion in that activity, that, in some contexts tends to be determinant.
From the set of dimensions considered, relative to the public diplomacy, we tried
to define and presente a set of skills that should characterize a professional of public
diplomacy in the contexto of the current communicational environment.
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ndice Geral
Dedicatria ....................................................................................................................... 6
Agradecimentos ............................................................................................................... 8
Palavras-Chave ................................................................................................................ 9
Palavras-Clave ................................................................................................................. 9
Key Words ........................................................................................................................ 9
Resumo ........................................................................................................................... 11
Resumen ......................................................................................................................... 13
Abstract .......................................................................................................................... 15
ndice Geral .................................................................................................................... 17
ndice de Figuras ........................................................................................................... 22
Siglas Utilizadas ............................................................................................................. 24
1. Introduo .......................................................................................................... 28
1.1. Enquadramento ................................................................................................... 28
1.2. Objeto e justificao do estudo ............................................................................ 33
1.3. Motivao ............................................................................................................ 35
1.4. Hipteses de trabalho e objetivos ........................................................................ 36
1.5. Metodologia ......................................................................................................... 37
1.6. Estrutura do trabalho ............................................................................................ 38
2. Diplomacia e Informao .................................................................................. 40
2.1. Diplomacia ........................................................................................................... 41
2.2. Informao ........................................................................................................... 45
2.2.1. Conceito de informao ........................................................................... 45
2.2.2. Processo de informacionalizao ............................................................. 56
2.2.3. Sociedade da informao ......................................................................... 58
2.3. Conhecimento ...................................................................................................... 69
2.3.1. Tipologias do conhecimento .................................................................... 77
2.3.2. Capital intelectual .................................................................................... 82
2.3.3. Sociedade e economia do conhecimento ................................................. 87
2.3.4. Gesto do conhecimento .......................................................................... 90
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2.4. Estratgia e Informao ....................................................................................... 92
2.5. Comunicao ....................................................................................................... 95
2.5.1. Definio .................................................................................................. 95
2.5.2. Comunicao poltica ............................................................................. 113
2.5.3. Perspetiva histrica ................................................................................ 128
2.5.4. Noo moderna de comunicao ........................................................... 138
2.5.5. Conceito de aldeia global de Marshall McLuhan .................................. 141
2.5.6. Internet ................................................................................................... 144
2.5.7. Sociedade em rede ................................................................................. 155
2.6. Ativismo e hacktivismo: Anonymous, Wikileaks e Edward Snowden ............... 162
2.6.1. Acesso s redes de operaes informticas, o hacktivismo e
infraestruturas crticas ............................................................................................ 180
3. Diplomacia, redes e tecnologia ........................................................................ 182
3.1. Tecnologia ......................................................................................................... 182
3.1.1. Tecnologia e informao ........................................................................ 184
3.1.2. Redes ...................................................................................................... 187
3.2. A computao em rede ...................................................................................... 204
3.2.1. A Web 2.0, o poder dos cidados e desafios tecnolgicos e
organizacionais ....................................................................................................... 210
3.2.2. Tecnologia, diplomacia e governao .................................................... 217
3.2.3. Os Estados face s redes globais de comunicao ................................. 221
3.3. Diplomacia e noosfera ....................................................................................... 223
3.3.1. Realpolitik .............................................................................................. 226
3.3.2. Noopolitik ou polticas para uma conscincia planetria global ............ 227
3.3.3. Cyberpolitik ............................................................................................ 243
3.3.4. Netpolitik ................................................................................................ 244
3.3.5. Infopolitik ............................................................................................... 245
3.3.6. Kinpolitik ................................................................................................ 245
3.4. Sociedade em rede e competitive intelligence ................................................... 248
3.4.1. Redes sociais .......................................................................................... 261
3.4.2. Redes sociais face a um mundo globalizado .......................................... 265
3.4.3. Diplomacia digital e em tempo real ....................................................... 270
4. Diplomacia pblica .......................................................................................... 280
4.1. O conceito de diplomacia pblica ...................................................................... 280
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4.1.1. Tipologia da diplomacia pblica ............................................................ 306
4.1.2. A nova diplomacia pblica .................................................................... 307
4.1.3. Perspetiva histrica da diplomacia pblica ............................................ 324
4.1.4. Diplomacia pblica da Unio Europeia ................................................. 336
4.1.5. O caso japons ....................................................................................... 343
4.2. O soft power ....................................................................................................... 345
4.3. Diplomacia pblica e soft power ....................................................................... 360
4.4. Crticas ao conceito de soft power ..................................................................... 364
4.5. Diplomacia pblica e relaes pblicas ............................................................. 366
4.6. Diplomacia pblica face diplomacia tradicional ............................................. 369
4.6.1. Da era da informao era da comunicao global: a diplomacia pblica
estratgica de Rhonda Zaharna .............................................................................. 374
4.7. A operacionalizao da diplomacia pblica ...................................................... 380
4.8. Credibilidade e tica .......................................................................................... 396
4.9. Diplomacia pblica e propaganda ..................................................................... 399
4.9.1. Tipos de propaganda .............................................................................. 409
4.10. Nation branding a marca pas ........................................................................ 410
4.11. Privatizao da diplomacia pblica? ................................................................. 420
4.12. Diplomacia pblica no contexto militar ............................................................ 435
4.12.1. A diplomacia pblica no contexto militar e diferentes formas de
comunicao militar ............................................................................................... 443
4.12.2. Comunicao estratgica ....................................................................... 444
4.12.3. Operaes de Informao ...................................................................... 451
4.12.4. Diplomacia pblica e public affairs ....................................................... 452
4.12.5. Diplomacia pblica e guerra de informao .......................................... 454
4.12.6. Defense support to public diplomacy .................................................... 455
4.12.7. As PSYOP militares (MISO) e a diplomacia pblica ............................ 456
4.12.8. Diplomacia pblica da NATO ............................................................... 460
5. Que perspetivas futuras para a diplomacia? ................................................. 461
5.1. O diplomata pblico .......................................................................................... 465
5.2. Novas diplomacias .......................................................................................... 470
5.2.1. Diplomacia do conhecimento ................................................................ 471
5.3. Diplomacia pblica, globalizao e desenvolvimento ....................................... 475
5.3.1. Globalizao e informao .................................................................... 489
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5.4. Diplomacia de guerrilha .................................................................................... 491
6. Diplomacia cultural......................................................................................... 497
6.1. Diplomacia pblica e religio ............................................................................ 511
6.1.1. Razes para uma diplomacia religiosa ................................................... 512
6.1.2. O conceito de secularizao ................................................................... 514
6.1.3. O impacto global da religio .................................................................. 524
6.1.4. O papel dos lderes religiosos ................................................................ 539
6.1.5. A religio no contexto das relaes internacionais ................................ 539
6.1.6. Diplomacia baseada na f ...................................................................... 544
6.1.7. A religio e os trs paradigmas das relaes internacionais .................. 549
6.1.8. O choque de civilizaes ....................................................................... 557
6.1.9. Diplomacia pblica e religio: casos concretos ..................................... 560
7. Diplomacia pblica e a Pennsula Ibrica ..................................................... 565
7.1. O contexto da Pennsula Ibrica ........................................................................ 565
7.2. Diplomacia pblica a uma escala global ........................................................... 576
7.2.1. A expanso das naes ibricas ............................................................. 580
7.2.2. A presena portuguesa no mundo .......................................................... 582
7.3. Bases para uma diplomacia pblica cultural na Pennsula Ibrica .................... 589
7.3.1. Diplomacia pblica religiosa portuguesa e espanhola: pioneiras a uma
escala global? ......................................................................................................... 592
8. Elementos para a definio de uma estratgia de diplomacia pblica ....... 604
8.1. Caractersticas especficas de Portugal .............................................................. 606
8.2. Instituies portuguesas que podero ser includas numa estratgia de
diplomacia pblica ..................................................................................................... 608
8.3. O exemplo de Espanha ...................................................................................... 610
8.3.1. Possibilidades de cooperao ibrica ..................................................... 611
8.4. Diplomacia pblica religiosa ............................................................................. 612
8.5. Diplomacia cultural ........................................................................................... 614
8.6. Institucionalizao da cooperao cientfica o exemplo do Japo ................. 618
8.7. Criao de mecanismos de diplomacia pblica no mbito militar .................... 619
8.8. Criao de programas de formao permanente para profissionais da diplomacia
pblica ........................................................................................................................ 621
8.9. Criao de mecanismos para a integrao de privados nas atividades de
diplomacia pblica ..................................................................................................... 622
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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8.10. Cooperao e desenvolvimento ........................................................................ 624
9. Concluso .......................................................................................................... 626
10. Bibliografia ....................................................................................................... 640
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ndice de Figuras
Figura 1 Relao entre factos e conhecimento ......................................................... 72
Figura 2 Comparao entre conhecimento tcito e conhecimento explcito ......... 79
Figura 3 Modelo base do ciclo de converso de conhecimento de Nonaka e
Takeuchi (1995) ............................................................................................................. 80
Figura 4 Comparao de esquemas de classificao do capital intelectual........... 86
Figura 5 Gesto do capital intelectual e gesto do conhecimento .......................... 91
Figura 6 Cadeia de valor da gesto do conhecimento ............................................. 92
Figura 7 Conceitos-chave associados comunicao ............................................ 100
Figura 8 Influncias sobre a opinio pblica internacional ................................. 121
Figura 9 Formas de organizao econmica e social: hierarquia vs. rede .......... 190
Figura 10.1 Indivduos no associados em rede ..................................................... 193
Figura 10.2 Rede em cadeia ..................................................................................... 194
Figura 10.3 Rede em estrela..................................................................................... 195
Figura 10.4 Rede em todos os canais ...................................................................... 196
Figura 10.5 O fluxo de informao mass media .................................................... 197
Figura 10.6 Combinao dos mass media e da rede em todos os canais da
audincia ....................................................................................................................... 198
Figura 10.7 Mensagem distorcida por filtro cultural ............................................ 199
Figura 11 Realpolitik vs novas abordagens ............................................................ 225
Figura 12 A noosfera ................................................................................................ 235
Figura 13 Comparao realpolitik/noopolitik ......................................................... 241
Figura 14 O ciclo de intelligence .............................................................................. 250
Figura 15.1 Implantao global de algumas das principais redes sociais ano de
2007 ............................................................................................................................... 262
Figura 15.2 Implantao global de algumas das principais redes sociais ano de
2014 ............................................................................................................................... 263
Figura 15.3 Penetrao da Internet a nvel global ................................................. 264
Figura 16 Diplomacia pblica ................................................................................. 283
Figura 17 Diplomacia pblica tradicional e diplomacia pblica para o sculo XXI
....................................................................................................................................... 293
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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Figura 18 Horizonte temporal da diplomacia pblica .......................................... 301
Figura 19 Velha diplomacia pblica/nova diplomacia pblica ............................ 316
Figura 20 Comparao hard/soft power .................................................................. 347
Figura 21 Hard power vs soft power ......................................................................... 355
Figura 22 Tipos de diplomacia ................................................................................ 372
Figura 23 Atividades da diplomacia pblica .......................................................... 381
Figura 24.1 Distino entre imprio e globalizao quanto gnese .................. 476
Figura 24.2 Distino entre imprio e globalizao quanto natureza .............. 476
Figura 24.3 Distino entre imprio e globalizao quanto aos efeitos ............... 477
Figura 25 Religiosidade no mundo ......................................................................... 524
Figura 26 Distribuio global das guerras civis religiosas .................................... 526
Figura 27 Distribuio de guerras civis com a religio como fator central ou
perifrico....................................................................................................................... 527
Figura 28 Distribuio de guerras civis religiosas por Estados ........................... 528
Figura 29 Distribuio por religio dominante ..................................................... 530
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 24
Siglas Utilizadas
ADN cido Desoxirribonucleico
AECI Agencia Espaola de Cooperacin Internacional
AICEP Agncia para o Investimento e Comrcio Externo Portugus
AOL America Online
ARPA Advanced Research Projects Agency
AT&T American Telephone & Telegraph
BBC British Broadcasting Company
BBG Broadcasting Board of Governors
Bit Binary Digit
BHMS - Black Hole Management Style
C4ISR Command, Control, Communications, Computers, Intelligence,
Surveillence and Reconnaissance
CCTV - China Central Television
CD Compact Disc
CEE - Comunidade Econmica Europeia
CERN Conseil Europen pour la Recherche Nuclaire
CNN CableNews Network
CRI - China Radio International
DOD - Department of Defense
DoS Denial of Service
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Antnio Srgio Mendona Pgina 25
DDoS Distributed Denial of Service
DVD Digital Video Disk
E-mail Electronic Mail
EUA Estados Unidos da Amrica
FAO Food and Agriculture Organization
FIS Foreign Information Service
FMI Fundo Monetrio Internacional
G7 Grupo dos Sete
IMDb Internet Movie Database
INFOOP Information Operations
IP Internet Protocol
IPAD Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento
JAMCO - Japanese Media Communication Center
MISO Military Information Support Operations
MLMS - Maginot Line Management Style
MOFA Ministry of Foreign Affairs of Japan
NATO North Atlantic Treaty Organization
NHK Nippon Hoso Kyokai
NSA National Security Agency
OMC Organizao Mundial do Comrcio
ONG Organizaes No-Governamentais
ONU Organizao das Naes Unidas
PALOP Pases Africanos de Lngua Oficial Portuguesa
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Antnio Srgio Mendona Pgina 26
PC Personal Computer
PME Pequenas e Mdias Empresas
PSYOP Psychological Operations
RTP Rdio e Televiso de Portugal
RTVE Radio Televisin Espaola
SAP Systems Applications and Products
SEACEX Sociedad Estatal para la Accin Cultural en el Exterior
SECC Sociedad Estatal de Conmemoraciones Estatales
SMS Short Message Service
SPMS - Snail Pace Management Style
TIC Tecnologias de Informao e Comunicao
TV - Televiso
UE Unio Europeia
UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
URSS Unio das Repblicas Socialistas Soviticas
USAID United States Agency for International Development
USIA United States Information Agency
VOA Voice of America
WIP World Internet Project
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1. Introduo
1.1 Enquadramento
No mundo atual, extensamente globalizado e interconectado, cada vez mais
relevante o modo como os Estados comunicam. Existe hoje um acesso muito mais fcil
informao, que est mais facilmente acessvel a uma escala global, e que, por outro
lado, muito mais perene, muito dificilmente poder ser eliminada depois de
transmitida.
Neste contexto, o modo como efetuada a comunicao entre os Estados e as
populaes de outros Estados ganhou uma relevncia muito acrescida. As
consequncias da informao que transmitida e a forma como se processa essa
comunicao, bem como da imagem e das percees formadas de um Estado podem ser
hoje muito mais srias que em contextos anteriores.
Deste modo, a adoo de estratgias de diplomacia pblica tem merecido uma
ateno crescente de cada vez mais Estados, que vm recorrendo a tcnicas
habitualmente usadas no sector privado como o branding (por exemplo na promoo da
marca-pas) como forma de aumentar a sua reputao e credibilidade perante pblicos
externos.
Como veremos no decurso deste trabalho, alguns autores referem como
objetivos da diplomacia pblica, a influncia sobre o curso poltico interno de outros
Estados em consonncia com os seus prprios interesses. Esses autores relevam que a
opinio e o comportamento dos cidados dos outros Estados, pode ter um efeito muito
relevante, pela presso estabelecida diretamente sobre os governos locais atravs de
posies polticas ou, indiretamente, mediante escolhas e comportamentos individuais.
Esta uma definio de diplomacia pblica hard que no a privilegiada neste
trabalho. Trata-se de uma abordagem diplomacia pblica mais negativa e menos
associada cooperao e livre comunicao com cidados externos e que tende a
aproximar o conceito de diplomacia pblica ao de propaganda e ao exerccio de prticas
enganosas relativamente a cidados no nacionais.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 29
A este propsito, refira-se que alguns autores, como Nio & Montero (2012),
tendem mesmo a considerar a diplomacia pblica como o exerccio da propaganda de
forma dissimulada, dada a conotao negativa que o termo propaganda havia conhecido.
No entanto, como veremos mais frente existem outras abordagens a esta
atividade, que analisaremos mais em detalhe.
Em termos gerais, este estudo enquadra-se ainda na anlise do impacto das
tecnologias de informao e comunicao e da sociedade em rede no exerccio da
atividade diplomtica, mais concretamente no contexto especfico da diplomacia
pblica.
Ao contrrio da diplomacia tradicional, a diplomacia pblica dirige-se aos
cidados de outros Estados e no especificamente aos governos, sendo hoje encarada
como muito relevante para a segurana dos pases, especialmente a partir do 11 de
setembro, podendo traduzir-se numa ferramenta fundamental na preveno de conflitos,
na gerao de condies para o estabelecimento de parcerias, a nvel poltico e cultural.
Pelo que, convir analisar esta temtica tendo em considerao a sua vertente
instrumental para a segurana e defesa de um Estado, e o modo como tem vindo a
ganhar importncia, num contexto de desenvolvimento de infraestruturas tecnolgicas
propcias sua afirmao como a Internet e as redes de comunicao de alcance global.
No existe ainda uma ideia consensual do que significa exatamente diplomacia
pblica. De um modo geral, podemos dizer que se refere a atos de comunicao, no
havendo consenso quanto ao mbito e atores desses atos. Iremos aceitar que a
diplomacia pblica como o prprio nome indica e como acontece com qualquer
atividade diplomtica, refere-se a relaes internacionais, pelo que tem a ver
necessariamente com a relao entre atores de Estados diferentes. No caso concreto da
diplomacia pblica, iremos aceitar que se refere a definio de que se refere relao
entre o Estado (ou outros em representao deste) e cidados de outros pases. A
aceitao desta definio dever, no entanto, ter em conta o facto de haver cada vez
maior dificuldade na segmentao de pblicos na era da informao. Embora no seja
esse o entendimento de todos os autores, assume-se por isso que as relaes entre um
Estado e os seus prprios cidados so designadas por outro termo que no este.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 30
As diferentes perspetivas relativamente diplomacia pblica revelam-se tambm
geograficamente. Nos EUA, esta disciplina refere-se predominantemente facilitao
ou comunicao de uma mensagem para influenciar, enquanto que na China refere-se
manuteno de uma imagem global e gesto de fluxos de informao e no Japo ao
estebelecimento de conexes que do as bases para uma maior apreciao do Japo, as
suas polticas e indstrias criativas (Hayden, 2012, p. 287).
Para uma melhor avaliao do impacto e dos objetivos da diplomacia pblica,
optmos tambm por efetuar uma anlise evolutiva do conceito de diplomacia pblica
ao longo da histria e ao contexto tecnolgico que moldou o ambiente comunicacional
em que a atividade se foi desenrolando.
Para entender o impacto da diplomacia pblica no contexto atual, torna-se
relevante compreender os desenvolvimentos associados ao incio da denominada era da
informao e, mais tarde, ao que alguns autores, como Rhonda Zaharna, denominam era
da comunicao global.
A era da informao caracteriza-se por um esbatimento das fronteiras e uma
grande mobilidade de pessoas e bens, grande interdependncia e globalizao, grande
fragmentao, uma eroso do poder, com a ascenso de atores no estatais, novas
identidades, lealdades e comunidades virtuais, revoluo da informao e revoluo
democrtica, turbulncia, caos e complexidade (Arquilla & Ronfeldt, 1996, p. 17),
tratando-se de um contexto em que a afirmao das redes enquanto estrutura
organizacional prevalecente, em detrimento das hierarquias, leva a uma transformao
profunda da sociedade.
Pelo que uma anlise era da informao pressupe que se estude o conceito de
rede, e a estruturao da sociedade em rede. Entre outros autores, incontornvel o
trabalho de Manuel Castells neste domnio. aqui pertinente verificar qual o papel da
atividade diplomtica numa sociedade estruturada em rede, nomeadamente, quanto
influncia da sociedade em rede no relacionamento direto entre os Estados e com os
atores diversos de outros Estados, e em que medida se assiste a uma diminuio da
importncia relativa da relao direta entre os Estados e ao reforo da importncia da
diplomacia pblica.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 31
Tal exerccio pressupe tambm obrigatoriamente um olhar ao papel que a
tecnologia tem neste domnio, e sua influncia na preponderncia que a diplomacia
pblica assume no atual ambiente comunicacional.
Neste contexto, particularmente importante o surgimento de novas construes
tericas no que se refere a polticas diplomticas para o ciberespao. Apresenta aqui
especial importncia a noopolitik de John Arquilla e David Ronfeldt, a cyberpolitik de
David Rothkopf ou a netpolitik de David Bollier. A comparao das suas caractersticas
com as da realpolitik permite-nos compreender alguns dos principais desafios que se
colocam ao exerccio da diplomacia pblica no contexto atual.
Assumem tambm um papel crescentemente importante as redes sociais, sendo
relevante analisar a sua influncia na atividade diplomtica e a sua associao mais
particular ao conceito de diplomacia pblica. Pretende-se verificar at que ponto a
rpida expanso de redes sociais online vai de encontro aos interesses dos Estados ao
nvel da diplomacia pblica.
Mais concretamente, relevante determinar em que medida podero as redes
sociais corresponder a um instrumento objetivo de diplomacia pblica dos Estados face
aos desenvolvimentos proporcionados pela era da informao.
Esta anlise dever ter presente que a diplomacia pblica refere-se
fundamentalmente ao processo de comunicao estabelecido com cidados estrangeiros,
sendo particularmente relevante o estudo da comunicao de massas e a distino da
diplomacia pblica dos conceitos de propaganda e publicidade.
Outra questo cada vez mais focada por alguns autores refere-se propriedade
da diplomacia pblica. Autores como Peter Peterson vm reclamando a privatizao de
domnios associados diplomacia pblica. Ser relevante analisar em que medida estas
atividades devero ser exercidas por agentes pblicos ou privados, e quais as
implicaes para a atividade diplomtica e para os interesses dos Estados que podero
advir da sada da esfera estatal destas atividades. Diretamente associada questo da
propriedade, est a da credibilidade no exerccio da diplomacia pblica, que iremos
analisar neste trabalho.
Outro domnio relevante refere-se s implicaes do aumento da conflitualidade
social no ciberespao para a atividade diplomtica. De outro modo, at que ponto o
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 32
novo paradigma de conflitualidade social no ciberespao ditou a necessidade de agir
diplomaticamente em rede, reforando a importncia da diplomacia pblica na era da
informao. Neste domnio tambm relevante a anlise de conceitos especificamente
militares como as INFOOP, as MISO e a deceo e a sua relao com a diplomacia
pblica.
A diplomacia cultural uma dimenso preponderante e central da diplomacia
pblica. Dentro da diplomacia cultural, tem um papel fundamental a diplomacia
religiosa. No contexto de um mundo muito claramente cada vez mais religioso (com a
exceo da Europa) esta uma questo cada vez mais relevante, e uma dimenso que
cada vez mais deve ser incorporada nas estratgias de diplomacia pblica, incluindo a
formao de profissionais nesta rea e o recurso a a especialistas religiosos, quando os
contextos especficos o justifiquem.
Na segunda parte deste trabalho, e tendo por base em parte a anlise efetuada
nos captulos anteriores pretende-se identificar tendncias que caraterizem o futuro da
diplomacia pblica, e as competncias que dever dominar um diplomata pblico para o
exerccio futuro desta atividade. Um diplomata pblico da era da informao dever
adquirir competncias funcionais e tcnicas de interao no ciberespao, embora
tambm deva dominar competncias da diplomacia tradicional.
Procura-se tambm focalizar no exerccio da diplomacia pblica no contexto da
Pennsula Ibrica, enfatizando as suas razes histricas, procurando identificar, ao longo
da histria, o modo como os dois pases da Pennsula exerceram a diplomacia pblica,
as semelhanas na sua atuao e as perspetivas futuras que a mesma poder ter.
Neste sentido, esta dissertao situa-se na confluncia de diversos campos como
a informao, comunicao ou relaes internacionais, mas tambm sociologia, gesto,
economia. Pretende-se com este estudo contribuir para uma clarificao quanto ao
exerccio da diplomacia pblica numa era de comunicao global e quanto s
potencialidades dos pases da Pennsula Ibrica, com particular incidncia em Portugal,
em que esta disciplina se encontra muito menos estudada.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 33
1.2. Objeto e justificao do estudo
Procura-se neste estudo verificar, no mbito do exerccio da atividade
diplomtica na era da informao ou no contexto de uma era de comunicao global, at
que ponto estaremos a assistir a um processo gradual de afirmao da diplomacia
pblica enquanto atividade diplomtica fundamental em detrimento da atividade
diplomtica tradicional.
Pelo que a questo central especificamente a seguinte: Na era da informao
ou numa era de comunicao global, onde se assiste a um aumento da interatividade e
da conflitualidade social no ciberespao, estaremos a assistir a um processo gradual de
afirmao da diplomacia pblica enquanto atividade diplomtica dominante?
A partir desta questo central, considerou-se um conjunto adicional de questes
derivadas, que contriburam para a orientao e desenvolvimento do presente estudo:
Qual o impacto na atividade diplomtica de uma sociedade estruturada em
rede?
De que forma o papel dos Estados afetado pela concorrncia na atividade
diplomtica de atores no estatais de alcance global e de organizaes de carcter
multilateral?
Em que medida poder-se- afirmar que a rpida expanso de redes sociais
online vai de encontro aos interesses dos Estados ao nvel da diplomacia pblica?
Quais as implicaes do aumento da conflitualidade social no ciberespao para
a actividade diplomtica?
Qual o impacto do ciberespao no sistema poltico internacional (ex: Wikileaks
e do hacktivismo social) na actividade diplomtica?
Que competncias dever dominar um profissional da diplomacia pblica na
era da informao ou numa era de comunicao global?
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
Antnio Srgio Mendona Pgina 34
Ao longo dos captulos deste estudo considerou-se um conjunto de abordagens
distintas procurando encadear e demonstrar os principais aspetos da diplomacia pblica
desde a sua origem, estruturando este exerccio a partir do conceito da prpria
diplomacia pblica e dos conceitos de informao, comunicao e diplomacia.
Procuraremos tambm analisar de que forma o papel dos Estados afetado pela
concorrncia na atividade diplomtica de atores no estatais de alcance global e de
organizaes de carter multilateral, nomeadamente, at que ponto a resoluo dos
problemas gerados pela era da informao requer a participao de entidades no
estatais e de organizaes multilaterais, pelo que algumas das funes tipicamente
estatais passariam a ser desempenhadas por estas entidades, reduzindo a importncia
relativa dos Estados.
Pretende-se analisar tambm a importncia que as instituies militares tm na
implementao prtica de uma estratgia de diplomacia pblica, abordando o papel do
Military support to public diplomacy.
Outro aspeto a analisar relaciona-se com o impacto do ciberespao no sistema
poltico internacional, nomeadamente, quanto ao impacto dos fenmenos associados ao
wikileaks e do hacktivismo social, na atividade diplomtica.
Neste contexto, relevante a forma como fenmenos tais como o hacktivismo
nas suas formas distintas e como o wikileaks revelam a emergncia de um novo tipo de
atores no sistema poltico internacional e a uma nova forma de comunicao traduzindo-
se em novos desafios para a diplomacia pblica.
Existe um conjunto extenso de literatura em lngua inglesa relativa diplomacia
pblica como Philip Taylor, Nancy Snow, Philip Seib, Kishan Rana, Darryl Copeland
ou, de alguma forma, John Arquilla e David Ronfeldt, que se debruam um conjunto
vasto de tpicos relacionados com a informao. Em lngua espanhola podem ser
referidos os nomes de Javier Noya e Javier Hernndez.
Na rea das relaes internacionais autores como Robert Cooper, Robert Kaplan
ou Adriano Moreira apresentam contribuies importantes para a temtica deste estudo.
Na rea da diplomacia pblica religiosa, autores com Douglas Johnston, Jack
Snyder, Madeleine Albright so dos principais a relevar a sua importncia.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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1.3. Motivao
A ideia de realizar este projeto surgiu na sequncia da realizao de um estudo
anterior que se referiu ao exerccio da diplomacia no contexto da era da informao
conducente ao grau de mestre na Universidade do Minho com orientao da Professora
Doutora Isabel Ramos em 2009, para o qual contribuiram decisivamente os
conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Ps-Graduao em Guerra de
Informao/Competitive Intelligence na Academia Militar.
O estudo em causa analisou o exerccio da diplomacia na era da informao,
procurando caracterizar o caso concreto de Portugal. Procurou-se verificar at que ponto
as instituies portuguesas se estavam a adaptar ao exerccio da diplomacia na era da
informao
Do mesmo estudo veio a resultar um outro trabalho apresentado no I Congresso
Nacional de Segurana e Defesa, em Lisboa, no ano de 2010 e que sintetizava as
principais concluses do primeiro estudo.
Ao longo da realizao dos estudos em causa, foi possvel identificar sinais que
apontavam para uma mudana na forma como a atividade diplomtica se estava a
exercer no mbito de um novo ambiente comunicacional em que participavam
ativamente diversos conjuntos diversificados de atores. Nesse contexto, foi possvel
identificar que uma forma especfica de diplomacia, a diplomacia pblica, parecia estar
a ganhar uma preponderncia clara.
Deste modo, colocou-se a questo da forma como essa preponderncia poderia
alterar decisivamente o modo de exercer a atividade diplomtica, ao ponto de a
diplomacia pblica poder substituir a diplomacia tradicional enquanto atividade
diplomtica dominante num novo ambiente comunicacional.
Pelo que nos pareceu relevante a realizao de um estudo mais aprofundado do
exerccio da diplomacia pblica, da sua evoluo a nvel global, mas tambm no
contexto ibrico, procurando identificar especificidades do seu exerccio no contexto
dos pases da Pennsula Ibrica e de perspetivas futuras, tendo sempre em mente a
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verificao da hiptese de que a mesma se est a traduzir crescentemente na atividade
diplomtica dominante.
1.4. Hipteses de trabalho e objetivos
As hipteses construdas visaram orientar a obteno de respostas s questes
formuladas neste estudo, a partir da questo central que pretende verificar de que forma
a era da informao, o desenvolvimento da sociedade em rede, das redes sociais esto a
ditar a afirmao da diplomacia pblica enquanto atividade diplomtica dominante em
detrimento da diplomacia tradicional.
Pretende-se a partir de uma viso global sobre os diversos instrumentos
disponveis para a implementao de uma estratgia de diplomacia pblica, adequada a
um novo ambiente comunicacional e a uma nova era de redes de informao globais,
potenci-los tendo em conta a concretizao de objetivos estratgicos nacionais
previamente definidos.
Deste modo, foi considerado um conjunto de hipteses de trabalho que orientou
o presente estudo:
Hipteses: A sociedade em rede potenciou o contacto directo entre os Estados e
actores diversos de outros Estados, diminuindo a importncia relativa da relao
directa entre Estados e reforando a importncia da diplomacia pblica.
A resoluo dos problemas gerados pela era da informao requer a
participao de entidades no estatais e de organizaes multilaterais, pelo que
algumas das funes tipicamente estatais passam a ser desempenhadas por estas
entidades, reduzindo a importncia relativa dos Estados.
As redes sociais correspondem a um instrumento objectivo de diplomacia
pblica dos Estados face aos desenvolvimentos proporcionados pela era da
informao.
O novo paradigma de conflitualidade social no ciberespao ditou a necessidade
de agir diplomaticamente em rede, reforando a importncia da diplomacia pblica na
era da informao.
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O 11 de Setembro reflectiu a existncia de netwars, e evidenciou a necessidade
de uma actuao eficaz ao nvel da diplomacia pblica contra o terrorismo,
potenciando, decisivamente, o seu desenvolvimento, sendo de sublinhar o envolvimento
das instituies militares.
Um diplomata pblico da era da informao dever adquirir competncias
funcionais e tcnicas de interao no ciberespao, embora tambm deva dominar as
competncias da diplomacia tradicional.
Para a validao destas hipteses procedeu-se a um extenso estudo bibliogrfico
e anlise de casos especficos.
1.5. Metodologia
Referindo-se a questo central deste estudo anlise do exerccio da atividade
diplomtica, e da diplomacia pblica em particular, optou-se por um extenso
levantamento bibliogrfico que permitisse uma caracterizao abrangente da sua prtica
no contexto de uma era de comunicao global, tendo em conta os seguintes aspetos:
Pesquisa e seleo de um conjunto de bibliografia adequada sobre
informao, comunicao e diplomacia pblica nas suas diversas vertentes;
Pesquisa de pginas na web sobre diplomacia pblica;
Elaborao de uma questo central e de um conjunto de hipteses que
serviram de orientao para o estudo a realizar;
Seleo da informao mais adequada e das modalidades de diplomacia
pblica mais relevantes para o estudo em causa;
Seleo de bibliografia de autores com opinies contrrias tendo em vista a
obteno de uma viso global quanto ao exerccio da diplomacia pblica.
Refira-se ainda que muitos dos exemplos indicados e das anlises conceptuais
elaboradas acabam por se basear em aspetos especficos dos EUA, dado que muitos
conceitos que servem de base a este estudo l tm origem.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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Em termos geogrficos, optou-se tambm por uma ateno mais particular ao
mbito geogrfico dos pases da Pennsula Ibrica.
1.6. Estrutura do trabalho
O presente estudo encontra-se organizado em sete captulos.
O captulo dois refere-se a conceitos bsicos, centrando-se no conceito de
diplomacia nas suas diferentes perspetivas e vises. So tambm analisados os
conceitos de informao, comunicao.
A introduo a esta temtica parte do conceito de informao enquanto matria-
prima fundamental da atividade diplomtica e do conceito de comunicao inerente ao
exerccio da diplomacia pblica.
A anlise diplomacia pblica requer tambm, no atual ambiente
comunicacional, o estudo aprofundado do conceito de soft power e de diversas
ferramentas utilizadas pelos Estados na comunicao com os cidados de outros pases
como a propaganda, as relaes pblicas, distinguindo-as da diplomacia pblica.
Tal anlise requer uma ateno vertente tecnolgica, sendo fundamental um
olhar sobre as tecnologias de informao e comunicao e da interatividade que
proporcionam no contacto entre os Estados e os cidados, efetuada no captulo trs.
Neste captulo tambm analisado o conceito de rede enquanto forma de organizao
prevalecente na sociedade.
No captulo quatro feita uma anlise aprofundada ao conceito de diplomacia
pblica, sublinhando-se o facto de no existir ainda uma definio consensual e precisa.
feita uma distino da diplomacia pblica face diplomacia tradicional.
No captulo cinco analisam-se perspetivas futuras para o exerccio da atividade
diplomtica centrando a anlise na diplomacia pblica, e no processo de globalizao e
desenvolvimento.
O captulo seis refere-se anlise da diplomacia cultural, dimenso fundamental
fundamental do exerccio da diplomacia pblica na atualidade, no mbito da qual
assume um papel fundamental a diplomacia pblica religiosa.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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O captulo sete refere-se anlise da diplomacia pblica no contexto da
Pennsula Ibrica, enquadrando-a historicamente e projetando possveis
desenvolvimentos futuros, sendo propostas possveis linhas de ao para uma estratgia
de diplomacia pblica ibrica, a partir de uma comparao internacional de diversos
casos.
Este captulo refere-se a uma anlise mais objetiva dos contextos portugus e
espanhol, com uma anlise das semelhanas existentes entre os dois pases da Pennsula
Ibrica, e as diferenas entre estes. Tendo em conta os conceitos anteriormente
analisados, que assumiram o papel de orientadores do trabalho de pesquisa efetuado
partiu-se para a identificao de situaes prticas e a anlise de situaes de natureza
mais prtica.
No captulo oito pretendem estabelecer-se linhas gerais tendentes adoo de
estratgias de diplomacia pblica pelos dois pases da Pennsula Ibrica.
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A diplomacia uma arte, no uma cincia (Cooper, 2003, p. 85)
2. Diplomacia e Informao
O conceito de diplomacia est diretamente associado ao conceito de informao,
que constitui a sua matria-prima base. fundamentalmente na recolha e anlise dessa
informao que incide a essncia da atividade diplomtica. Por outro lado, podemos
constatar que o prprio conceito de diplomacia evoluiu ao longo do tempo
acompanhando o desenvolvimento das Tecnologias de Informao e Comunicao
(TIC), nomeadamente ao nvel do tratamento da informao disponvel, e do modo
como as redes eletrnicas afetam hoje o exerccio da atividade.
De facto, ao longo do tempo, novos conceitos que derivam do termo diplomacia
foram surgindo, procurando adaptar esta atividade s mudanas polticas e sociais que
se foram verificando. A ttulo exemplificativo note-se o conceito de diplomacia virtual,
que se refere ao exerccio da atividade diplomtica adaptada a um novo ambiente
comunicacional e a um novo contexto tecnolgico, ou o conceito de diplomacia pblica,
entendido por muitos autores como a modalidade diplomtica melhor adaptada a um
contexto de comunicao global, em que o Estado j no detm o monoplio da
informao nem controla os fluxos de informao, conceito esse que analisaremos de
forma detalhada mais adiante neste trabalho.
Neste contexto, dois conceitos-chave so os de informao e comunicao,
fundamentais na caracterizao da era da informao. Estes dois termos apresentam
uma grande interdependncia pois a informao s existe quando comunicada e a
comunicao no existe sem a informao (Stumpf & Weber, 2003, p. 122).
Analisaremos estes conceitos separadamente ao longo deste captulo.
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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2.1. Diplomacia
A atividade diplomtica remete-nos para a relao entre Estados diferentes e
para processos de negociao entre eles, tendo por base interesses nacionais que podem
ser distintos, sendo desempenhada tradicionalmente por embaixadores e enviados.
Como referido em Mendona (2009, p. 18) a partir da definio de diplomacia
de Smith (1999) para ilustrar a importncia da influncia sobre a ao de outros grupos
nos fundamentos da atividade diplomtica, a diplomacia pode ser entendida como a
arte de defender os interesses nacionais atravs da troca de informao sustentada entre
governos, naes e outros grupos. O seu objetivo o de () atingir acordos e resolver
problemas. a prtica da persuaso. Moreira (2005), define-a como uma arte da
negociao ou o conjunto das tcnicas e processos de conduzir as relaes entre os
Estados (pp. 74-75).
Outro aspeto importante da diplomacia refere-se ao facto de a diplomacia, por
definio, dedicar-se soluo de problemas e resoluo de diferendos sem o uso da
fora, conseguindo-o atravs da negociao e do compromisso, da promoo da
cooperao para ganhos mtuos e da recolha de informao relacionada com a defesa
dos interesses nacionais (Copeland, 2009, p. 2).
Outra viso tradicional da diplomacia a de que se refere a um instrumento da
poltica externa para o estabelecimento e desenvolvimento de contactos pacficos entre
os governos dos diferentes Estados pelo emprego de intermedirios mutuamente
reconhecidos pelas partes (Magalhes, 1995, p. 90).
Mas como referido anteriormente, a atividade diplomtica encontra-se muito
associada ao conceito da informao. Os conceitos de diplomacia e informao
entrelaam-se cada vez mais. A opinio pblica internacional encontra-se mais
informada, o seu poder est aumentando; e a diplomacia mais pblica, mais
transparente e universal (Hernndez, 2012, p. 2).
Pelo que, sustenta que a matria-prima da diplomacia a informao: a forma
como obtida, acedida e tratada para o benefcio de outros (Schultz, 1997).
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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Numa perspetiva semelhante, Schmitz (1997) defende que a obteno de
informao a razo de ser da diplomacia, enquanto que Smith (1999) refere que a
informao, pblica ou privada o sangue da actividade diplomtica.
De um modo geral, as definies de diplomacia encontram-se centradas na
noo de Estado, no entanto, alguns autores, como os acima referidos, relevam mais a
informao enquanto fundamento da atividade diplomtica (Mendona, 2009, p. 20).
Outra dimenso muito relevante da diplomacia a comunicativa. Javier
Hernndez (2012) olha para a atividade diplomtica muito por esta tica e sublinha que
a diplomacia um processo comunicativo, a que se associam o carcter negociador,
relacional e simblico da atividade diplomtica (p. 77).
Nesta tica, Hernndez (2012, pp. 78-80) apresenta seis modalidades distintas da
atividade diplomtica contempornea:
Diplomacia direta, que supera os canais ordinrios estabelecidos
de encontro e negociao e vai mais alm, no sentido em que so os prprios
Chefes de Estado, Chefes de Governo ou Ministros titulares quem estabelece
esses contactos no lugar das representaes diplomticas oficiais em vez dos
canais ordinrios. No entanto, a necessidade de tomar decises muito
rapidamente um dos pontos fracos da diplomacia direta que no permite
margem de manobra e reflexo;
Diplomacia multilateral ou por conferncia, cujo precedente mais
direto est nas conferncias internacionais do sculo XIX. So encontros fixados
antecipadamente, organizados de antemo, com o objetivo de celebrar acordos
atravs do debate para consolidar linhas de atuao poltica partilhada;
Diplomacia parlamentar constitui uma evoluo da diplomacia
multilateral no sentido em que se d amparo a uma organizao internacional
permanente que pode ser a Unio Europeia ou a ONU, tendo um carcter
complementar diplomacia governamental;
Diplomacia ad hoc - a modalidade mais clssica e tradicional,
onde o diplomtico tem um papel maior. Corresponde a misses especiais,
negociaes ou encontros para questes concretas;
Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio
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Diplomacia Pblica tem o objetivo de influir na opinio dos
pases estrangeiros. Dirige-se a novos atores, busca novas opes de
relacionamento e encontram na comunicao e nas novas tecnologias um refgio
sobre o que assentar as suas estratgias;
Entidades subestatais que esto ganhando mais importncia no
cenrio internacional, como o caso das regies, que desenvolvem atividades de
representao, sociais, culturais e econmicas, o que apelida de paradiplomacia.
Por exemplo, no caso da Unio Europeia, muitas regies esto representadas
diretamente em Bruxelas.
Por outro lado, outro autor espanhol Javier Noya (2007, p. 107) apresenta uma
distino entre quatro tipos de diplomacia, a partir de uma matriz elaborada por Mark
Leonard:
Diplomacia tradicional que se refere relao de governo para
governo;
Diplomacia pessoal relativa relao de diplomata para
diplomata;
Diplomacia civil (ONG) e diplomacia de dispora (emigrao)
que se referem a relaes de pessoas para pessoas;
Diplomacia pblica relativa relao entre governo e pessoas;
Um outro conjunto de autores olha para a diplomacia de um modo mais
abrangente, incluindo-a dentro do conceito um conjunto mais amplo de aes. White
(1999, p. 250) considera que o termo diplomacia sintetiza genericamente todo o
conjunto de aes associadas a relaes internacionais, poltica mundial ou poltica
externa. Esta uma perspetiva da diplomacia como um processo global que se traduz
em mltiplas aes no mbito internacional. Como citado anteriormente em Mendona
(2009) nesta perspetiva a diplomacia pode ser encarada numa perspetiva macro (estudo
da poltica mundial como um todo) ou numa perspetiva micro (comportamento de
Estados e outros atores na poltica internacional). Numa perspetiva macro, White
considera estarmos perante um processo de comunicaes central a nvel global,
abrangendo a resoluo de conflitos pela negociao e dilogo. Numa perspetiva micro,
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a diplomacia mais olhada como um mtodo ou ferramenta para atingir um objetivo ou
meta, e menos como processo global (p. 19).
Por seu turno, Copeland (2009, p. 165) considera a diplomacia como algo
amplo, mas de uma perspetiva muito prtica. Sublinha que a diplomacia tradicional
envolve o contacto direto entre Estados distinguindo-a de outras aes. De modo
diferente, as relaes pblicas procuram tambm informar como a diplomacia mas no
tm um elemento de persuaso. As relaes culturais enriquecem a experincia e
aumentam a compreenso mtua, mas se no enquadradas numa estratgia diplomtica,
podem carecer de objetividade. Por outro lado, a propaganda um fluxo de informao,
ao contrrio da diplomacia, num s sentido, e muitas vezes caracterizado por
enviesamento ou falta de rigor.
Copeland (idem) considera ainda que os envolvidos na guerra da informao e
PSYOP (hoje MISO) aspiram a dominar as comunicaes e afetar os processos em
situaes de conflito, o que os difere dos atores diplomticos. No entanto, como
veremos mais frente, podero fazer parte de um quadro de uma estratgia diplomtica.
Para o mbito deste estudo, interessa-nos sobretudo reter a associao entre a
diplomacia e os conceitos de informao e comunicao, bem como a sua relao com
dimenses distintas como a cultural, a das relaes pblicas, a dimenso militar ou a
religiosa.
No mbito do presente estudo, interessa-nos, sobretudo, a anlise do conceito de
diplomacia pblica, que iremos analisar mais frente enquanto modalidade diplomtica
dirigida aos cidados externos e que tem vindo a ganhar relevncia no atual ambiente
comunicacional. Neste sentido, tambm fundamental a anlise do processo
comunicacional entre os Estados e os cidados estrangeiros, num contexto cada vez
mais interativo e dinmico.
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2.2. Informao
2.2.1. Conceito de informao
Comearemos pela anlise ao conceito de informao e de que forma a sua
evoluo veio a exercer influncia na forma e relacionamento entre atores de diferentes
Estados.
No atual ambiente comunicacional, a atividade diplomtica, em qualquer uma
das suas modalidades, est diretamente associada ao conceito de informao, mas
tambm aos conceitos de conhecimento ou de comunicao. Pelo que til olhar para
estes conceitos e para a sua abrangncia associando-os ao exerccio da diplomacia.
Na sociedade atual, caraterizada por um volume e fluxo de informao sem
precedentes e crescentes, a informao desempenha um papel cada vez mais central a
diversos nveis como o social, econmico, poltico ou cultural, nos quais as redes
globais de informao, como a Internet, adquirem uma importncia crescente.
Existem vrias abordagens ao conceito de informao, nem sempre compatveis
umas com as outras.
Sagredo Fernndez e Izquierdo Arroyo (1983, p. 179) remetem a origem do
termo informao para a raiz inform a partir da qual se formam os termos
informao, e tambm informar ou informado.
Informar resulta de IN+FORMARE, referindo-se transmisso de uma notcia,
dar a conhecer o desconhecido (para o destinatrio) (idem, pp. 180-181).
Outra perspetiva quanto origem da palavra informao, a de que, no seu
sentido original, a palavra informao exprime essencialmente a ideia de em-formao
(enformao). Tendo da derivado o sentido atual de informao sendo a enformao
feita com vista a uma informao (Monteiro et al, 2008, p. 233).
Podemos definir genericamente informao como o significado atribudo por um
indivduo a um dado conjunto de sinais, dando o nome de mensagem a esse conjunto de
sinais (Ferreira do Amaral, 2009, p. 13).
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A mensagem pode ser definida como a manifestao fsica da informao
produzida por uma fonte, distinguindo informao analgica, referente quantidade
fsica de informao que varia com o tempo de uma forma suave e contnua e
informao digital construda a partir de uma sequncia de smbolos discretos (Nunes,
1995, p. 17).
Esse conjunto de sinais corresponde a dados que podem ser definidos como
conjuntos de factos discretos e objetivos sobre eventos recebidos por intermdio dos
sentidos (Amaral & Pedro, 2004, p. 31).
A informao poder referir-se tambm organizao de dados com o objetivo
de explicar uma situao especfica ou particular. Pelo que poderemos tambm definir
informao como o resultado da agregao e composio desses dados elementares,
realizada de acordo com determinados objetivos. a informao que fornece sentido
aos dados de forma a obter descries de acontecimentos, objetos ou situaes (Santos
& Ramos, 2006, p. 8).
Deste modo, os dados para se transformarem em informao, devero conter um
significado capaz de cativar o destinatrio, correspondendo a um conjunto de factos
discretos e objetivos que caracterizam um determinado acontecimento (Cabrita, 2009,
p. 46).
Amaral e Pedro (2004) referem que o conceito de informao sobressai desta
forma como o esforo de contextualizao para extrair da realidade dos dados os
detalhes essenciais para a nossa sobrevivncia (p. 32). Neste sentido, a informao
provm dos dados mas dever ter significado para o destinatrio para ser considerada
como tal, devendo:
Possuir contexto, atribuindo objetivo aos dados;
Ser categorizada, a partir de uma abstrao da realidade
constituda por categorias;
Ser valorizada no contexto das categorias;
Permitir o controlo de erro induzido pela categorizao;
Ter coerncia percebida com outros dados relativos mesma
realidade.
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Deste modo, existe uma diferena muito relevante entre dados e informao. A
pouca relevncia de que os dados so acusados advm da ausncia de: contextualizao;
atribuio de sentido, de interpretao e de avaliao, porque descrevem apenas uma
parte dos acontecimentos (Cabrita, 2009, p. 46). Esta autora defende ainda que:
Desprovidos de contexto temporal e espacial, os dados apresentam-se sob a
forma de nmeros, palavras, sons e imagens podendo ser criados, adquiridos,
armazenados, recuperados distribudos, nomeadamente atravs de sistemas
tecnolgicos existentes nas organizaes. Embora pouco relevantes, os dados
so importantes, porque so a matria-prima essencial para a construo da
informao (ibidem).
De modo diferente a informao constitui a leitura que uma pessoa faz dos dados
ou a relao efetuada entre dados. So dados interpretados, dotados de relevncia e
propsito. A informao compreende factos e dados organizados e implica um ato de
transferncia ou partilha entre, pelo menos, duas pessoas, o emissor e o recetor
(Cabrita, 2009, p. 46).
Deste modo, existe no processo informativo o nascimento de algo novo. O
principal atributo da informao moldar ou alterar a viso ou perspetiva de quem a
recebe. o recetor que, luz do seu julgamento, crenas, valores e verdades, acaba por
selecionar, interpretar e dar sentido informao (ibidem).
Numa perspetiva distinta, menos subjetiva, Sagredo Fernndez e Izquierdo
Arroyo (1983, p. 181) referem duas acees comuns da palavra informao:
Ao e efeito de informar-se;
Notcia ou conjunto de notcias resultantes dessa ao/efeito.
A partir destas duas acees, estes autores citando Lpez Yepes (1978)
sublinham a polissemia do termo informao que se pode referir ao contedo de uma
mensagem e ao processo da sua transmisso, indicando simultaneamente o processo e o
objeto da informao.
A informao tanto pode ser contedo (notcia) como pode ser o modo como
esse contedo transmitido (mass media). Ela designa tanto as empresas de difuso
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como a exigncia social de informar e de estar informado, facto fundamentalmente de
transformao coletiva (Monteiro et al, 2008, p. 233).
Tal como referem Sagredo Fernndez & Izquierdo Arroyo (1983, p. 254) e
tambm Monteiro et al (2008, p. 233) em termos do seu uso prtico, a palavra
informao, acaba por no distinguir-se muitas vezes dos outros termos muitas vezes
utilizados para designar realidades empriricamente semelhantes como comunicao de
massa e mass media.
Benito, citado por Sagredo Fernndez & Izquierdo Arroyo (1983), referia-se
informao defendendo que todo o estudo da informao deve partir do seu primeiro
sentido verbal de dar notcia de uma coisa: a informao como ao e efeito de informar
ou informar-se (p. 253).
Lecrerc (2000) define informao como todo o enunciado que se refere a um
qualquer estado da realidade, tal como o que d a distncia da Terra Lua, o nmero da
populao francesa em 1995, a presena de um livro numa biblioteca pblica (p. 37).
Nesta tica, uma informao um enunciado que trata de um qualquer estado da
realidade, quer esse estado seja estvel, duradouro, ou, pelo contrrio, transitrio e
passageiro. Como refere Lecrerc (2000) Quando o estado sobre o qual se refere a
informao estvel (estado orgnico), a informao possui um valor durvel (p. 37).
Pelo contrrio, quando este estado transitrio, ento a informao s possui validade
de valor de verdade apenas durante o perodo de tempo ao qual se refere (p. 38).
A noo de cdigo tambm relevante neste contexto, sendo necessrio
descodificar um cdigo para que haja informao. A pgina de um livro s por si no
constitui qualquer informao para todos os que no souberem descodificar o cdigo em
que essa pgina est escrita (Freixo, 2011, p. 377). A pgina, tal como o papel ou a
tinta permanecem no plano emprico ao nvel da materialidade das coisas e no das
palavras, que j pertencem ao domnio do simblico (idem, p. 378).
Wiener afirmava que informao um termo que designa o contedo daquilo
que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que o nosso
ajustamento seja nele percebido (citado por Freixo, 2011, p. 379). Freixo considera
que:
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O processo de receber e utilizar informao o processo do nosso ajustamento
s contingncias do meio ambiente. Neste sentido, podemos ento afirmar que
informar dar forma a uma informao destinada a outra ou a vrias pessoas. A
informao , pois, uma noo que abrange simultaneamente um contedo e a
sua forma, bem como o ato de o transmitir. Pode ser compreendida como a
notcia, no sentido corrente: primeiro sinal que se d ou se recebe de um
acontecimento que acaba de se produzir ou de ser conhecido. Pode estender o
seu significado a todo o processo que vai da investigao difuso. Na sua
aceo mais vulgar, a informao cobre o conjunto dos factos de atualidade
levados pelos mdia ao conhecimento do pblico (ibidem).
A caracterizao da informao remete-nos tambm para a sua disponibilidade.
A crescente facilidade no acesso informao potenciada pelo desenvolvimento de
novas tecnologias de informao e comunicao levou definio de uma era da
informao a partir dos anos 1970s.
Como refere Wik (1999) antigamente toda a informao estava escondida, com
a exceo da que estava disponvel. Hoje toda a informao est disponvel, com a
exceo da que est escondida.
Outra dimenso relevante da informao a de que se trata de algo varivel no
tempo, relacional e no absoluto (Borer, 2007, pp. 236-237). Este aspeto leva a que a
informao seja difcil de medir, categorizar e entender, sendo que o que o que boa
informao numa semana poder representar desinformao na semana seguinte.
Outros autores referem-se mais a uma dimenso poltica da informao, como
o caso de Seib (2012) que sublinha que cada vez mais a informao chegar s pessoas
e quando chegar, ir em muitos casos provar ser libertadora (p. 16).
Taylor (2009, p. 14) aborda tambm o conceito de informao e a era da
informao numa dimenso mais poltica. Este autor atribui uma relao era da
informao e ao terrorismo dado que considera que os terroristas sem a sociedade da
informao no passariam de anarquistas ou criminosos comuns, correspondendo a sua
ao efetiva a 90% de publicidade e apenas 10% a violncia.
Outros autores olham para a informao como basilar da prpria existncia.
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Jiri Zeman (citado por Sagredo Fernndez & Izquierdo Arroyo, 1983) considera
que:
a informao significa a disposio de alguns elementos e partes materiais ou
imateriais em alguma forma, em algum sistema classificado. Isso significa a
classificao de algo. Nessa forma geral, a informao tanto a classificao de
smbolos e das suas relaes numa conexo, como a organizao dos rgos e
das funes do ser vivo, ou a organizao de um sistema social qualquer ou de