Post on 29-Sep-2020
PAPÉIS DE GÊNERO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Luciana Grandini Cabreira - UNESPAR Apucarana Marina Fernanda Dallaqua - Patronato Apucarana
Mariana Precinoto Marchetti - Patronato Apucarana
E-mail: lcgrandini@gmail.com
Resumo
A violência contra a mulher tem sido alvo de inúmeros estudos que atentam para a complexidade que a relação de gêneros abarca. O Patronato desenvolve ações multidisciplinares com uma equipe que conta com uma equipe formada pela área de administração, direito, serviço social, psicologia e pedagogia visando a recuperação, reinserção de assistidos pelo Sistema Judiciário. No Patronato de Apucarana desenvolvemos atendimentos e encontros que visam combater a violência de gênero contra a mulher. Dessa forma, selecionamos alguns temas que pudessem subsidiar os atendimentos e encontros para atender homens que receberam medidas restritivas por praticarem violência contra a mulher. Assim, desenvolvemos a análise de temas que pudessem desnaturalizar a violência contra a mulher, desconstruindo preconceitos e papéis sociais que, muitas vezes, estão presentes nas situações de enfrentamento de casais. Palavras-chave: Violência de gênero, Responsabilização na Violência Doméstica, Combate à violência doméstica. Introdução
O Patronato de Apucarana é um projeto multidisciplinar que conta com
atendimentos nas áreas: jurídica, serviço social, pedagogia, psicologia, com auxílio
da administração. Nosso objetivo com este estudo foi avaliar a desconstrução dos
papéis de gênero no combate à violência doméstica.
Nos atendimentos da área de psicologia foram identificadas as necessidades
e potencialidades de cada momento para propiciar um espaço de responsabilização
e reflexão acerca dos padrões de masculinidade. Os temas levantados foram “A Lei
Maria da Penha”, “Os tipos de violência”, “Representações Sociais do Papel de
Homem e de Mulher”, “Relações de dominação (sujeito e objeto)” e “Feminismo x
Machismo”.
Os temas selecionados subsidiaram discussões na área da Psicologia para
promover transformações nas representações dos assistidos do projeto a fim de
prevenir e combater a reincidência dos casos de violência contra a mulher.
Os encontros foram desenvolvidos com atividades e dinâmicas contemplando
os temas propostos nos atendimentos e encontros com os assistidos do Patronato
de Apucarana.
Violência doméstica e relações de gênero
Para compreender melhor o caráter histórico das relações adotamos as
representações sociais como norte para identificar padrões que levam a um
enfrentamento e, muitas vezes, violência contra a mulher.
Então, em vez de negar as convenções e preconceitos, esta estratégia nos possibilitará reconhecer que as representações constituem, para nós, um tipo de realidade. Procuraremos isolar quais representações são inerentes nas pessoas e objetos que nós encontramos e descobrir o que representam exatamente (MOSCOVICI,, 2012, p.36).
Moscovici (2012) chama atenção para o risco de se negar as marcas que as
representações produzem, gerando consequências no dia-a-dia das pessoas.
Examinamos inúmeras situações e preconceitos que apóiam a violência contra a
mulher.
[...] as representações sustentadas pelas influências sociais da comunicação constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros” (MOSCOVICI, 2012, p. 8).
Refletir sobre a cultura e os valores que as representações carregam pode
ajudar na desconstrução de uma série de preconceitos e estereótipos na relação de
gêneros (LOURO, 1997).
Assim, por meio da análise e reflexão das representações sociais estima se
que muitos preconceitos construídos historicamente podem ser revistos e
superados.
Análise e Discussão
Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos pressentir ou adivinhar aquilo que estamos vivendo. Só mais tarde, quando a venda é retirada e examinamos o passado, percebemos o que foi vivido, compreendendo o sentido do que se passou (KUNDERA, 2001, 43).
Nos atendimentos e encontros notamos que a reflexão proposta nos
encontros foram importantes para subsidiar uma nova representação dos papéis
socialmente construídos possibilitando uma mudança necessária no modo de ver o
outro.
Observamos que os participantes não tinham, no início, um bom repertório
para lidar com as questões e problemas que enfrentavam no dia-a-dia com suas
companheiras, a falta de argumentos acabava sempre provocando algum tipo de
violência.
Assim, a queixa inicial da maioria dos assistidos que era de achar que a
mulher também deveria participar de um grupo para discutir sua responsabilidade no
relacionamento conjugal, aos poucos foi sendo abandonada, em face dos temas que
fizeram surgir histórias familiares, em que testemunharam outras mulheres sendo
vítimas de relacionamentos abusivos.
Os modelos que tiveram em casa e na sociedade entre os amigos passaram
a ser questionados e aos poucos conseguiram se sentir responsáveis pelos
acontecimentos, refletindo sobre os padrões de masculinidade adotados durante
seus relacionamentos.
Considerações Finais
Observamos que os assistidos não tiveram modelos de conduta positiva com
respeito à mulher, aos poucos nos encontros os modelos que tiveram em casa e na
sociedade entre os amigos passaram a ser questionados e aos poucos conseguiram
se sentir responsáveis pelos acontecimentos, refletindo sobre os padrões de
masculinidade adotados durante seus relacionamentos.
Para alcançar uma sociedade mais igualitária em que todos se respeitem e
cooperem é necessário, antes romper com certos estereótipos, que enraízam
preconceitos e difundem a ideia de um papel ou modo de ser feminino e de certo
papel masculino na sociedade, em prol de uma convivência mais harmônica e
pacífica.
Referências
BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e Discurso. São Paulo: Ática, 1995.
BOGDAN, Robert C.; Biklen, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação: Uma Introdução à Teoria e aos Métodos. Porto, Pt: 1994.
KUNDERA, Milan. Risíveis Amores. Trad. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista/ Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.