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8/19/2019 Lemos (2015) - Parte II, Capítulo I (p. 68-81)
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8/19/2019 Lemos (2015) - Parte II, Capítulo I (p. 68-81)
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© Andre Lemos, 2002
Capa :
Mari Fiorelli
Foto:
fonso
Jr
Ptojeto gnifico e editorac,:ao : Daniel Ferreira da Silva
Revisao: Caren Capaverde
Editor:
Luis ntonio Paim Gomes
Dados Intemacionais de Catalogac,:ao na Publicac,:ao ( CIP
Bibliotecaria Responsavel: Ginamara Lima Jacques Pinto CRB \0/1204
L557c Lemos, Andre
Cibercultura: tecnolog
ia
e
vi
da social na cultura contemporiinea
Andre Lemos. - 7 ed. - Porto Alegre: Sulina, 20 15
295 p
(Colel iio Cibercultura)
ISBN: 978-85-205-0577-9
I. Sociologia. 2. Cultura - Midia. 3. Cibercultura. 4. Tecnologia
da lnformal ilo. I Titul
o
Todos os direitos desta edivao reservados
a
EDJTORA M ERID IONAL LTDA.
Av
Osvaldo Aranha, 440 cj. I
01
Cep: 90035-190 PortoA1egre-RS
Tel: (051) 3311-4082
www.editorasulina.com.br
e-mail: sulina@editorasulina.com.br
{Janeiro/2015}
COD: 301.243
CDU: 3 16
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BRASILfPRl
NTED IN B RAZIL
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de virtual, multimidia, ciberespa
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ondas hertzianas
em 1900
e urn
ano
antes, o cinema. Em
1964,
primeiro satelite de comunicac;:ao, o Telstar, revoluciona nossa vi 3
de mundo e instaura urn espac;:o de informac;:ao cobrindo todas a
areas do planeta
120
•
A grande novidade do seculo
XX
sera as novas
tecnologias digitais e as redes telematicas
121
.
0
que chamamos de novas tecnologias
122
de comunicac;:ao
e informac;:ao surge a partir de 1975, com a fusao das telecomuni
car;:oes anal6gicas com a informatica, possibilitando a veiculac;:ao,
sob urn mesmo suporte - o computador - , de diversas formatac;:oes
de mensagens. Essa revoluc;:ao digital
123
implica, progressivamen
te, a passagem do mass media (cujos simbolos sao a
TV
, o radio,
a impre-ns a, o
cmema
para ormas individualizad_
as
de
prQdl r;:
_
_o,
.
difusao e
est
o_que_deinf_ormar;:ao. Aqui a circular;:ao de informac;:oes
-
nao obedece a hierarquia da arvore (um-todos), e
sima
multiplici-
dade do rizoma (todos-todos)
124
.
As novas tecnologias de inforrnac;:ao devem ser consideradas
em func;:ao da comunicac;:ao bidirecional entre grupos e individuos,
escapando da difusao centralizada da informac;:ao massiva. Yarias
tecnologias comprovam a falencia da centralidade dos
media
de
massa: os videotextos , os BBSs, a rede mundiallntemet em todas
as suas particularidades (Web, wap , chats listas, new roups
MUDs
... . m todos esses novas
media
estao embutidas nor;:oes de
interatividade e de descentralizar;:ao da informac;:ao, como veremos
a seguir
125
•
Pensar
essa
nova forma de comunicac;:ao exige esforc;:os
te6ricos consideraveis. Alguns autores contemporaneos fizeram
tentativas nesse sentido. Mas tudo comer;:ou com
McLuhan
. Para
o pensador canadense, os
media
modificam nossa vi sao do mundo.
Ele mostrou
como
a imprensa transformou o mundo da cultura oral,
da mesma forma como a eletricidade estaria modificando o que ele
chama de
media
do individualismo e do racionalismo, a imprensa
de Gutenberg.
Para McLuhan, a eletricidade faz do mundo uma aldeia glo
bal, ao mesmo tempo que estaria retribalizando a experiencia social.
Estariamos entrando na era da simultaneidade e da tactilidade, numa
in
e g r a
d o s s e n b OS , s ocan 0-nos do paradlgmamecanico
ao organico. McTufiiiii-mostra como a imP _e_.§a 1 9 litic_
Q
.l.as.fQIIlli .s
de nossa ~ p e r i e p
c i a < ; i
Q 1 ) . l i Q Q assim como nossas atitudes mentais.
Sea invenr;:ao de Gutenberg ~ o r j o u o que e l ~ 9hama d e
p j t r c o _ § _
~
dos sentidos, quer dizer, a exacerbac;:ao de s6 uma sensac;:ao (a visao
69
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para a escrita e a imprensa), os novos
media
estariam favorecendo
a tactilidade, o retorno aoralidade e ~ s multaneldade. u
s l l l
se as tecnoTogtas sao- pfo
o i i g a m e n t o s
d e nosso co.rpo, pr6teses de
nossos sentidos
6
os media sao extensao do nos so sistema nervoso
central.
A tipografia e a tecnica de impressao estavam ligadas ao ra
cionalismo e
a
perspectiva, privilegiando o lado racional, esquerdo
do cerebro . A escrita, e depois a imprensa, teriam destribalizado o
homem.A eletronica e, mais tarde, o que sera chamado de multimi
dia parecem ajudar a criac;ao de novas formas de tribalizac;ao. Para
McLuhan, a retribalizac;ao engloba a grande familia humana em
uma s6 tribo
7
a aldeia global. 0 individuo destribalizado nasceu
no momento em que a instituic;ao da escrita fonetica realizou uma
cisao entre
o
mundo magico da audic;ao e o mundo indiferente da
visao
8
•
0 multimidia, entendido tanto como sua vertente
off line
(CD-ROM) como on-line (Internet), e hoje o exemplo mais claro
dessa s ~ conver encia. Com as tecnologias analogi
cas, a transmissao, o armazenamento e a recuperac;ao de informac;ao
eram completamente infl.exiveis. Com o digital, a forma de distri
buic;ao e de armazenamento sao independentes, multimodais, onde
a escolha em obter uma informac;ao sob a forma textual, imagetica
ou sonora e independente do modo pelo qual ela e transmitida.
Nesse sentido, as redes eletronicas constituem uma nova forma de
publicac;ao (a eletronica), onde os computadores podem produzir
capias tao perfeitas quanto 0 original.
,
"·
A ideia de original parece tornar-se problematica a tal pon-
to, que essa questao esta embutida em problemas de copyright de
obras eletronicas, como as imagens digitais e a musica em formato
MP3 . Podemos dizer, com Pool, que os novos media eletronicos
sao' s cno gws
da
liw aaad;'
9
• Por tecnologias da liberdade, Pool
entende aquelas que nao se pode controlar o conteudo, que colocam
em questao hierarquias, que proporcionam agregac;oes sociais e
que multiplicam o polo da emissao nao centralizada. Assim, por
exemplo, com os hipertextos, a liberdade de navegac;ao do usuario
desestabiliza distinc;oes classicas entre leitor e autor.
Diante de uma obra multimidia em CD-ROM, ou diante das
home pages
da Internet, nao nos colocamos mais como leitores de
urn livro ou espectadores das formas classicas do espetaculo. Agora,
devemos, para que haja acontecimento, ver e interagir, simultanea-
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mente, com a obra. Esse agir se da atraves da interatividade digital
( clicar em leones dos mais
di
versos ), como veremos adiante. Pode
mos, tam bern, manipular cada uma das formas mediaticas
a
vontade,
e de forma independente (som, imagens, textos). Tornamo-nos nllo
mais leitores, no sentido estrito, mas atores, exploradores, navega
dores ou
screeners
como prefere M. Rosello
130
•
A a9ao nao obedece
necessariamente a percursos determinados a priori (a linearidade),
mas pode ser feita por desvios, conexoes, adi96es
links) ,
como uma
forma de passeio pelo espa9o cibernetico, como umfllineur digital,
o
c er-fianeur.
Voltaremos mais tarde a essa discussao.
Como diziamos, para McLuhan, a cultura do impressa e co
erente
como
processo de racionaliza9ao da modernidade, tipico do
seculo
XV,
resultando na organiza9ao do espa9o e do tempo sabre
uma base filos6fica de tipo moderna. Como vimos, a modernidade
afasta a tradi9ao, investindo numa visao ut6pica e racionalista do
futuro. Essa tendencia foi impulsionada pela imprensa, com a padro
niza9ao de caracteres que poderiam ser reprodutiveis ao infinito, e
pela perspectiva, que coloca o olho humano como centro, ou ponto
privilegiado da visao.
A cultura do impressa, que vinga do seculo XV ate fins do
seculo XX, separou a visualidade (a leitura silenciosa) da oralidade
(a leitura em voz alta), como a separa9ao do texto da musica. Os
caracteres de repetitibilidade, de continuidade e de l6gica, presentes
na cultura do impressa, sao derivados dos mesmos caracteres presen
tes nas ciencias matematicas e na fisica classica. Isso caracteriza a
pr6_Eri
_a
t t
£nolo
j ~
da_m
_QqernJcl<
de:
m o g e n e j ~ 5 9 ~ ~ a 9 a o
e narcose (urn s6 ponto de vista, como na perspectiva renascentista .
Como explica McLuhan, a homogeneiza9ao dos homens e dos
o ~ b j e t o s
vai se tornar o _grande objetivo da
era
de Gutenberg, como
fonte de uma riqueza e de urn poder que nao conheceram nenhu
ma outra epoca e nenhuma outra tecnologia
3
•
A tipografia sera,
por sua vez, o instrumento do individualismo dentro da sociedade
moderna. im resso e a tecnolo ia de
i n d i v i d u ~ g p . £ _ s e le
(s6 ems · · i
132
.
Os com utadores
e ~ r e c e m
ir na dire o osta
a
y_eJa
da_cultura do impressa, esta ' . os..do..tribalismo.antetipr
aescrita e a m rensa. Podemos dizer que a dinamica social atual do
ciberespa9o nada mais e que esse desejo de conexao se realizando de
forma planetaria. Ele e a transforma9ao do PC Personal Computer) ,
o computador individual, desconectado, austero, feito para urn
7
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individuo racional e objetivo, em urn CC (Computador Coletivo),
os computadores em rede. Assim, a conjunyao de uma tecnologia
retribalizante ( o ciberespayo) com a socialidade contemponinea
vai produzir a cibercultura profetizada por McLuhan. Parece que
a homogeneidade eo individualismo da cultura do impresso cede,
pouco a pouco, Iugar
a
onectividade e
a
etribalizayao da sociedade.
Como mostraremos, a estrutura piramidal do poder media
tico massivo torna-se dis ncwnal na emergent
e c
iherc.uJ.tyr_a. Nao
e a oa que ssistimos a fusoes das mais diversas entre OS gigantes
da telecomunicayao e os provedores de conteudo, como a recente
compra da Times-Warner pelo provedor de acesso americano AOL
(American Online). Os gigantes buscam se recolocar
n
nova
con:figurayao tecnossocial, percebendo que a cibercultura (digital,
imediata, multimodal, rizomatica) requer a transversalidade, a des
~ ~ a interativid de. Como afirn1a Levy, ela ·e univer;;I
sem ser total itaria , tratando de fluxos de informayao bidirecionais,
imediatos e planetarios, sem uma homogenizayao dos sentidos,
potencializando vozes e visoes diferenciadas.
Com a contrayao do planeta pelos novas media digitais,
transformamo-nos nao numa (mica aldeia global , mas em varias e
idiossincraticas l
eias globais
devido principalmente
a
mplosao
do mundo ocidental pelo efeito das tecnologias microeletronicas.
Nao se trata de bens materiais, materias-primas e energia retiradas
da natureza, mas de informayoes traduzidas sob a forma de bits
imateriais, abstratas, lidas por uma metamaquina ( o computador, o
ciberespayo
.
Atualiza-se, como ciberespayo, o grande sonho enci
clopedico de, em urn linico media armazenar todo o conhecimento
da humanidade, disponivel a todos.
pela interatividade digital que possibilidades descentrali
zadoras do poder podem se estabelecer. Para McLuhan, a interati
vidade (embora ele nao utilize essa palavra) situa-se em termos de
media quentes ou frios. Os media quentes sao aqueles que permitem
pouca ou nenhuma interayao do espectador. Sao media de alta defi
niyao onde nao existe possibilidade de intervenyao. Nesse sentido,
os media quentes sao o radio, o cinema, a fotografia, o teatro e o
alfabeto fonetico. Por outro ado, os
media
frios sao aqueles em que
a interatividade e permitida, deixando urn espayo onde os usuarios
podem preencher. Sao media frios a palavra, a televisao, o telefone
e os alfabetos pictograficos. Nesse sentido, as tecnologias de ci
bercultura sao media frios, interativos e retribalizantes. Nao e por
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acaso que o tribalismo da socialidade contemporanea (Maffeso li)
alimenta-se da potencia reliante das tecnologias da cibercultura.
~
i > ~ r c u t } . l r a sera uma
c o n f i g 1 J r a
< ; U
Q
~ . i 9 . t ~ c q j _ 9 ~
vera modelos tribais associados as tecnologias
di
gitais, o ondo-se
ao l ndividuaiis
moda llitur
do
n _ i P . r
e
s s o
m o d e r
n a e c
n o c r a t i
c a .
Comacioercu
tuia, estamos .dlante -de .um processo .de-aCel
erac;ao,
realizando a abolic;ao do espac;o homogeneo e delimitado por fron
teiras geopoliticas e do tempo cronologico e linear, dois pilares da
modemidade ocidental. No en tanto, essa conectividade generalizada
nao
e
senta de criticas .
Jean Baudrillard, por
exemplo
, tern uma visao muito menos
encantadora que McLuhan e, de forma bastante pessimista, vai
propor que , com as novas tecnologias di gitais de comunicac;ao,
estariamos diante nao de uma retribalizac;ao, mas de uma me.ra
circulac;ao de informa 5es. Esta nos faz individuos terminai s que
comutam entre Sl, sem nenhuma interac;ao. Para Baudrillard, 0
ciberespayO
SO
ermite
Sil}ljlla
Q _ ~
u . t e r . a y a
o : e = n a
. o . . \.::e.
a
de.ir_ai_
intera96es
:Para
o polem ico
pensador
frances, os novos
media
au
mentam a espiral destruidora e autista da comunic
ac;ao,
proximo,
como veremos, das posic;oes de Lucien Sfez e Paul Virilio.
0 pensamento baudrillardiano
e
aquele d ~ ( ; e S S q ~ _ a l } t O
mais o c a
m
L n : f 2 ~ { q _ e s m e n
~
f ~ s t i i f t l o
~ c . . 9 1 : . 1 : ~ 1
~ a 9 ~ o .
rocamos
0
real pelo
hi e r r e a l ~
\ferdadeira comunica
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esteja o homem, mais, ao seu redor, cres9a o deserto do mundo.
Para Virilio, o pensamento coletivo imposto pelos diversos media
visava aniquilar a originalidade das sensa96es [ ..
],urn
estoque de
informa96es destinado a programar suas mem6rias
136
.
Virilio afirma que o tempo real e a velocidade mudaram a
rela9lio do homem com o ambiente urbano, social e cultural.
0
usuario contemponlneo das teletecnologias tomou-se urn reeeptor
passivo, tendo que responder a estimulos imediatos. Isso causaria
uma compreensao parcial das situa96es as quais ele esta exposto
(imagens televisivas, informa96es do ciberespa9o). Ele entra no
cibermundo com sua politica do pior
3
7
, on de o tempo real conduz
[ .] nossa vontade a zero
138
trazendo a baila o desaparecimento
da consciencia como percep9lio direta dos fenomenos que nos
informaram sobre nossa propria existencia
39
.
Sob a batuta do tempo real , a sociedade contemporanea
estaria imersa na pura circula9lio de informaylio, gerando urn pro
cesso de mera comuta9lio
4
.
No
entanto, a circula9lio da informa
vlio processa-se de forma entr6pica e vir6tica e, talvez, seja essa
virose digital o que possa impedir a destrui9lio total, como afirma
Baudrillard.
Para Baudrillard e Virilio, a existencia contemponlnea esta
imersa em uma espiral autodestrutiva. Quanto mais meios de comuni
cavlio temos ao nosso dispor, menos comunicamos. A informatizavlio
da sociedade seria a encamavlio da racionalidade modema, onde o
panopticom do
ig
rother se insere na cultura contemporanea
1
.
0 real torna-se a vitima de urn crime quase perfeito
1
2
.
Essa sociedade de comunicaylio generalizada e vi vida sob o
signo das obscenidades e da radicalizavlio da sociedade do espe
taculo1
43
A obscenidade come9a mais precisamente
como
tim da
sociedade do espetaculo, onde nao existe mais nada para ver, onde
nao ha mais ilusao, pois tudo tomou-se transparente e visivel. Essa
seria a maior de todas as obscenidades, tudo ver, quando nao ha
mais nada para ser visto. Como mostra Baudrillard, nao estamos
mais no drama da alienaylio, mas no extase da comunica9liO. E
este extase e obsceno
14
. Ainda segundo Baudrillard, caminha
mos para urn mundo inteiramente funcional, operat6rio, racional ,
positivo, sem o minimo buraco, de uma transparencia total, logo,
extremamente mortal
4
5
.
No entanto, a crftica contra a desumanizavlio devida a racio
nalizavlio tecnica do social, tipica de Baudrillard e Virilio, e vista por
74
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Murphy como obsoleta,
ja
que os jogos de linguagem nao autorizam
uma interpreta9ao definitiva do fenomeno tecnico. Segundo Mur
phy, e atraves dos jogos de linguagem que existe a possibilidade de
escapar ao mundo tecnico, unidimensional, pintado por Baudrillard
e Virilio. Para Murphy "o que Baudrillard visivelmente esqueceu
e
que a tecnica [ ..] nao afeta os indivfduos de maneira causal. Dito
de outra forma, urn fenomeno nao tern nunca urn impacto direto
sobre OS indivfduos, e isso porque a imaginayaO e indissociavel da
realidad
e.
[
..
] a realidade e apenas uma interpreta9ao que dura"
146
•
A comunicac;:ao mediatizada
J ' _ o ~ ~ l i s col lo_
a Internet, por exemp o, cna
na
para Baudrillard urn deserto social,
assim conio a velocidade cria para Virilio o deserto no
espac;:o
14 7
•
Para Baudrillard, os modelos de simula9ao se degradam na forma
modema, tecnica e esteril, que ele chama de comuta9ao. Contudo,
a atual efervescencia das redes de computadores nao pode, sob o
risco de uma simplificac;:ao grosseira, ser reduzida asimples comu
tac;:ao
entre os usuarios.
Na
fria infraestrutura tecnol6gica, parece
infiltrar-se toda a dinamica da vida social contemporanea. Mas nao
existe a circula9ao pura, ja que o imprevisto, o excessivo, o ca6tico
sempre podem aparecer e trazer resultados inesperados. 0 caos
eo
carrasco do determinismo.
Hoje, o ciberespa9o parece ser a consequencia mais 6bvia
desta ausencia de pura circulac;:ao. Como veremos, o ciberespa9o
nao e s6 urn espac;:o de comutac;:ao. Exemplos pululam nesse senti
do:
chats MUDs
f6runs,
newsgroups.
Todos de conteudos os mais
diversos (academico, er6tico, revolucionario, marginal, politico ou
de lazer). 0 ciberespa o nao
eo
deserto do reaL assim
.£2 2 n
e
o fim da comunicac;:ao ou do social.
Da
mesma forma, os virus de
c o
p ~ t a d o r , como tani6 masptra tarias dos hackers sao expressoes
fortes dessa improvisac;:ao tecnossocial.
Baudrillard percebe esses fenomenos como possibilidade
de escapar ao desastre total , ao crime perfeito. Os virus, como os
hackers
e suas invasoes espetaculares, seriam a expressao mais
mortffera (e assim, vital) dessa transparencia e circulac;:ao pura da
informa9ao. A assepsia poderia nos conduzir, de acordo com Bau
drillard, em direc;:ao a uma purifica9ao tecno16gica de nossos corpos
e subjetividades. Essa assepsia pode tomar-se mesmo mortal, pois
e,justamente como nos organismos vivos, pela supressao da hetero
geneidade dos sistemas que eles sao conduzidos
a
morte. Os virus,
como as a96es dos hackers sao desastres efemeros e infecciosos
75
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que vao tentar evitar o grande desastre. Para Baudrillard,
o
virtual
e o viral caminham juntos
148
[ •. . ] a ~ _ e c e n t irrup
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Lucien Sfez
152
vai acompanhar o pensamento de Yirilio
Baudrillard. Para Sfez, estariamos vivendo o apice da cultura fau -
tiana, que ele prefere chamar de
Sociedade Frankenstein.
A questao
da critica da comunica
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e,
no fundo, urn sonho totalitario. A transparencia elimina o jogo de
dualidades . Hoje, o mito da neutralidade tecnica e transformado pela
aproprias;ao diaria e a dimlmica da sociedade contemporanea. Esta
nao nos permite falar de uma sociedade homogenea ou transparente,
tautista ou Frankenstein.
Leo Scheer, analisando o que ele chama de civilizas;ao do
virtual, explica que entramos na crise da nos;ao de historia com a
queda do muro de Berlim. Assim, se nao ha uma historia, o sujeito
historico desaparece, assim como a nos;ao de Estado Nas;ao, afetando
a dimensao politica, traduzindo-se numa desconexao entre esta eo
quotidiano. Para Scheer, os telecitoyens sao o sfmbolo mesmo do
fim das grandes narrativas da modemidade
eo
comes;o das pequenas
historias, sustentando-se sob tres pi lares principais: a informatica, a
comutas;ao e a comunicas;ao, substituindo os pilares da modemidade
representados pelo exercito, pela famflia/produs;ao e pela religiao.
A sociedade virtual seria a sociedade de comunicas;ao (fun
dada na redundancia da difusao da mensagem); a sociedade da
informas;ao (fundada no estereotipo do terminal) e a sociedade de
comutas;ao (de equivalencia entre o emissor
eo
receptor na rede).
Para Scheer, a sociedade virtual e a sociedade em que a inteligen
cia do central coloca o usuario no desafio de produzir seu proprio
espetaculo, seu proprio imaginario, seu proprio desafio. Assim, este
modo reconstitui urn tecido comunitario"
7
•
, A
Civilizar; iio
do
Virtual
para Leo Scheer, marca a cibercul
. tura, criando ainda tres excessos que colocam as visoes dos seus
.conterraneos franceses em desafio: urn excesso de informas;ao, urn
excesso de tecnologia e urn ~ § § O § . Q f l l ~ A o e s m a t e n a 1zas;ao
d
or em na
iafaascolsasp
ela numerizas;ao generalizada pode ser
vista como uma transgressao da realidade pela liberas;ao do exces
so potencial ou virtual da informas;ao, havendo urn descolamento
dos constrangimentos materiais (imagens de sfntese, simulas;ao,
realidade virtual). A abundancia de informas;oes e de tecnologias
informacionais, criadas e geradas constantemente no ciberespas;o,
faz entrar em
jogo
a
depense
(Bataille
.
Por mais paradoxa que seja, a tecnologia microeletronica co
loca a civilizas;ao contemporanea no excesso, na despesa improduti
va, na orgia de codigos
•
Nesse sentido, a sociedade da informas;ao
nao se interessa mais pelo politico, havendo uma separas;ao entre o
contrato modemo e o tribalismo organico e grupal das sociedades
contemporaneas. Estas sao refratarias as promessas ideologicas, aos
78
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programas e partidos politicos tradicionais. Elas se aproximam
mai
da tribo, ligada
_ _or
mitologllis., e
nao
por ideologfas:-Estamos aqui
no que Scheer chama de excesso do social, nao morte do social.
o
imagin
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reapropria9ao mais ou menos consciente das tecnicas que o publico
nem concebeu, nem explicitamente desejou
159
•
• • •
Os novas
media
(digitais) aparecem com a revolu9ao
da
microeletronica, na segunda metade da decada de 1970, atraves de
convergencias e fusoes, principalmente no que se refere a infor
matica e as telecomunica96es
1
6
• Os media di itais vao a . em
duas frentes: ou prolongando e multiplicando a
ca
acidade dos
tradicionais (como satelites,cabos, tffiras opticas); ou criando novas
tecnologias: na maioria das vezes hibridas (computadores, Minitel ,
celu ares,pagers, TV Digital, PDAs etc.).
Podemos dizer que o termo
m
ultimidia interativa expressa
bern 0 espirito tecnol6gico da epoca, caracterizando-se par uma
hibrida
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16/16
confundem mais
com
as coisas, e a racionalidade assume
ova
l r
do discurso. A eficacia nao se da mais no plano religioso , mas
na
dinamica operat6ria, na ayao objetiva e eficiente que desencadeia.
A comunicayao de massa nao constitui uma comunidade, antes
dirige-se as diversas comunidades do espayo pt1blico (a massa). 0
paradigma aqui e
0
da televisao
162
.
0 modelo informatizado, cujo exemplo
eo
ciberespayo, e aquele
onde a forma do rizoma (redes digitais) se constitui numa estrutura
comunicativa de livre
circulayao de mensagens, agora nao mais editada
por urn centro, mas disseminada de forma transversal e vertical, alea
t6ria e associativa. A nova racionalidade dos sistemas informatizados
age sobre urn homem que nao mais
rec
ebemformay6 es homogeneas
de urn centro editor-coletor-distribuidor , mas de forma ca6tica,
1Uiti5firecional, entr6pica, coletiva e, ao mesmo tempo, personalizada.
Diante de uma sociedade massificada (pouca informayao
com redundancia), passa-se a uma sociedade informacional, preva
lecendo o fluxo de uma quantidade gigantesca de informayoes para
os interagentes (Castells
163
)
que terao o poder de escolher, triar e
buscar o que lhes interessa. 0 que esta em jogo nesse processo de
digitalizayao do mundo e, segundo Adriano Rodrigues, o desapa
recimento da instancia legitimadora classica do discurso: emissor
e receptor fundem-se na danya de
ts
64
•
Vamos tentar mostrar, nas paginas que seguem, que a cibercul
tura e - mais que o simples deserto do real, tautismo ou industria do
esquecimento - vitalista, tribal e presenteista. Mais do que deserto e
reflexo, o tempo real da velocidade imediata de trocas de informayoes
binarias e uma maneira de retorno ao
Ka"iros
dos sofistas. 0 conhe
cimento por simulayao e interconexao em tempo real valorizam o
momento oportuno, a ocasiao, as circunstancias relativas, opostas ao
sentido mo lar da hist6ria ou a verdade fora do tempo e fora do Iugar,
que eram, talvez, apenas efeitos de escritura
165
.
Mais do que deserto do real, a cibercultura esta sincronizada
com a dinamica da sociedade contemporanea, podendo mesmo ser
caracterizada
como
uma cibersocialidade.
cibersocialidade
contemponine
Parler de technoIogie de
Ia
vie quotidienne, prise comme processus
global de socialisation et un systeme d 'actions, fait d abord referen
ce, par consequent,
a
maniere dont I individu pen;:oit son monde
8