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LUIZ ALBERTO DE FARIAS
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
E RELAÇÕES PÚBLICAS
ESTUDO DIALÓGICO ENTRE BRASIL E MÉXICO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Programa de Pós-Graduação em
Integração da América Latina (Prolam)
São Paulo
2006
LUIZ ALBERTO DE FARIAS
Tese de Doutorado
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
E RELAÇÕES PÚBLICAS
ESTUDO DIALÓGICO ENTRE BRASIL E MÉXICO
Tese de doutorado apresentada à Banca Examinadora como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Integração da América Latina, na área de Comunicação e Cultura do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, da Universidade de São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra. Margarida M. Krohling Kunsch.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Programa de Pós-Graduação em
Integração da América Latina (Prolam)
São Paulo
2006
FICHA CATALOGRÁFICA
FARIAS, L. A. B. de. Comunicação organizacional e relações públicas:
estudo dialógico entre Brasil e México. 2006. 365 fl. Tese (Doutorado em
Integração da América Latina) – Universidade de São Paulo, Programa de
Integração da América Latina, São Paulo, 2006.
RESUMO
As diversas nuanças de Comunicação Organizacional e de Relações
Públicas moveram este trabalho a partir da hipótese de que ambas e
cada qual sejam efetivamente um campo – segundo o conceito de
campo de Bourdieu -, marcado, cada um, por suas características
identitárias e por suas construções de conceito, de teorias, de
práticas, de pesquisas e pelas personalidades que trafegaram por
eles ao longo da história. A busca do melhor conhecimento acerca
das duas áreas se deu por meio de revisão do referencial teórico dos
dois campos, pautado em autores nacionais e do Exterior,
notadamente do México e dos Estados Unidos. Além disso, foi
realizada uma pesquisa qualitativa por meio de entrevistas em
profundidade, junto aos mais representativos nomes da academia e
do mercado no Brasil e no México. Essa diversidade permitiu a
composição do cenário dos campos ora estudados. Foram
relacionados os conceitos, os autores e as escolas de Relações
Públicas e de Comunicação Organizacional que pudessem dar
suporte, conceitual e historicamente, à hipótese de que se trata de
dois campos independentes – ou interdependentes.
Palavras-chave
Comunicação Organizacional; Relações Públicas; campo científico;
Brasil; México; pós-graduação; mercado profissional.
CATALOGACIÓN EN LA FUENTE
FARIAS, L. A. B. de. Comunicação organizacional e relações públicas:
estudo dialógico entre Brasil e México. 2006. 365 fl. Tese (Doutorado em
Integração da América Latina) – Universidade de São Paulo, Programa de
Integração da América Latina, São Paulo, 2006.
RESUMEN
Los diferentes puntos de Comunicación Organizacional y de Relaciones
Públicas movieran este trabajo a partir de la hipótesis de que ambas y
cada cual sean efectivamente un sólo campo – se valiendo del
concepto de campo de Bourdieu -, marcado, cada uno, por sus
características de identidad y por sus construcciones de conceptos, de
teorías, de prácticas, de investigación y por las personalidades que
han señalado toda su historia. La búsqueda del mejor conocimiento a
respecto de los dos áreas fue hecha a través de revisión del
referencial teórico de los dos campos, basado en autores nacionales y
del Exterior, en especial de México y de los Estados Unidos. También
se realizó una investigación cualitativa por medio de entrevistas en
profundidad con los nombres más representativos de la academia y
del mercado de Brasil y de México. Esa diversidad permitió la
composición del escenario de los campos que han sido estudiados.
Conceptos fueron relacionados, así como los autores y las escuelas de
Relaciones Públicas y de Comunicación Organizacional que pudiesen
dar suporte, conceptual e históricamente, a la hipótesis de que se
trata de dos campos independientes – o interdependientes.
Palabras clave
Comunicación Organizacional; Relaciones Públicas; campo científico;
Brasil, México; postgrado; mercado profesional.
CATALOGING
FARIAS, L. A. B. de. Comunicação organizacional e relações públicas:
estudo dialógico entre Brasil e México. 2006. 365 fl. Tese (Doutorado em
Integração da América Latina) – Universidade de São Paulo, Programa de
Integração da América Latina, São Paulo, 2006.
ABSTRACT
The different points of Organizational Communication and Public
Relations moved out this work based on the hypothesis that both –
and each one – are effectively a field – considering Bordieu´s field
concept – both marked by their identity characteristics and by their
concepts, theories, practices, researches, personalities that have
been present throughout history. The search for a better knowledge
on both was done by a bibliography review of the two fields, based
on national authors and from Exterior, in special from Mexico and the
United States. It was made a qualitative research using depth
interviews with the most important names from the academy and the
market of Brazil and Mexico. This diversity allowed the composition
of the fields scenario once studied. Concepts were related, as well as
the authors and the Organizational Communication and Public
Relations schools that could be supportive, conceptual and
historically, to the hypothesis that both are independent fields or
interdependent.
Keywords
Organizational Communication; Public Relations; scientific field;
Brazil; Mexico; post graduation; professional market.
A Tese de Doutorado Comunicação organizacional e relações
públicas: estudo dialógico entre Brasil e México, realizada pelo
aluno de doutorado Luiz Alberto de Farias, no curso de Pós-
Graduação em Integração da América Latina (Prolam), na Área de
Comunicação e Cultura, da Universidade de São Paulo, foi
_____________________ no dia ____/ ____/ 2006, tendo sido
avaliada pela Banca composta pelos Professores:
Prof(a). Dr(a).
Prof(a). Dr(a).
Prof(a). Dr(a).
Prof(a). Dr(a).
Profa. Dr(a).
Esto quiere decir que apenas
Desembarcamos en la vida
Que venimos recién naciendo
Que no nos llenemos la boca
Con tantos nombres inseguros,
Con tantas etiquetas tristes,
Con tantas letras rimbombantes,
Con tanto tuyo y tanto mío,
Con tanta firma en los papeles.
Yo pienso confundir las cosas,
Unirlas y recién nacerlas,
Entreverarlas, desvestirlas,
Hasta que la luz del mundo
Tenga la unidad del océano,
Una integridad generosa,
Una fragancia crepitante.
Pablo Neruda
(Trecho de Demasiados Nombres)
A QUEM AJUDOU A CONSTRUIR CADA ETAPA, DEDICAR...
Vânia,
companheira de tantas páginas
desta vida escrita com muito amor.
Miguel, ainda bebê,
que compartilhou dias e noites comigo, nesta tese,
ensinando-me sobre o maravilhoso campo da vida que é ser pai.
Hosana,
o exemplo que me faz seguir acreditando
e lutando por uma vida sempre feliz.
Alfredo, Maria José (Tie) e Cida, meus irmãos,
pela vida que conseguimos transformar juntos.
Profa. Margarida,
incentivadora e orientadora minuciosa,
exemplo de caráter e de dedicação,
como orientadora, profissional e pessoa.
E COM OS AMIGOS QUERIDOS, COMPARTILHAR, AGRADECIDO...
Prof. Ms. Júlio Barbosa, amigo de tantas batalhas e tantas conquistas.
Prof. Dr. Ivan Santo Barbosa, amigo que nasceu de novo
para fazer-nos felizes e continuar a nos ensinar sobre a vida.
Prof. Ms. José Carlos Victorino, companheiro desta jornada chamada
doutorado e apoiador fundamental de sua realização.
Profa. Dra. Sueli Marquesi, que contribuiu para esta missão,
com sua sabedoria e compreensão.
Impagáveis e inestimáveis amigos do México,
que esta pesquisa me deu a sorte de conhecer e com quem tanto aprendi:
Rafael Casas Don, Tim Scerba, José Antonio Tamayo,
Prof. Ms. Luis Nuñes, Profa. Ms. Mônica Valle,
Prof. Dr. Raul Fuentes, Prof. Dr. Octavio Islas, Prof. Lic. Carlos Bonilla,
Prof. Ms. Juan Andrés Rincón, Prof. Ms. José de Jesús González de Almaguer.
Admiráveis e queridos
Profa. Dra. Maria Antonieta Rebeil Corella e Prof. Dr. Abraham Nosnik.
Companheiros do Brasil
que partilharam comigo suas vivências e seus conhecimentos
e que labutam fortemente pela Comunicação:
Ramiro Prudêncio, Profa Dra. Sidinéia Gomes Freitas,
Profa.Dra. Cleusa Scroferneker, Renata Monte Alegre,
Prof. Dr. Roberto Porto Simões, Prof. Dr. José Marques de Melo,
Prof. Dr. Wilson Bueno, Ronald Mincheff, Prof. Ms. Paulo Nassar.
Lulu, sua família e seus amigos,
que muito me ensinaram sobre a riqueza
do povo e da vida mexicanos.
Aline Talavera, transcritora, tradutora,
assistente de pesquisa e... querida amiga.
Profa. Elisete Duarte, amiga querida, que esteve
onde e quando foi preciso para tornar tudo possível.
Talita Câmera, apoiadora e estimuladora em todos os momentos.
Amigos do CCAN, que compartilharam comigo
o empenho e o sorriso necessários para se construir uma pesquisa:
Robson, Ronaldo, Ferreira, Evelyn, Paula, Danny, Beatriz, Fernando e Darkei.
Prof. Afrânio Catani e Profa. Graça Caldas,
que, com sabedoria e elegância tanto me ajudaram
a buscar o diálogo mais próximo entre mim e minha pesquisa.
Rosangela Zomignan, amiga e incentivadora, com palavras e ações.
André Penafieri, Prof. Josué Makoto e
Profa. Ms. Heloisa Figuerôa, pela sua valiosa colaboração.
Prof. Sérgio Andreucci, Prof. Backer Fernandes, Profa. Patrícia Leite,
Agatha Camargo, Leila Ramos, Wladimir Molinari,
por comprovarem que a ubiqüidade, às vezes,
só depende de ter bons amigos.
Prof. Ms. Waldemar Kunsch, pelas colaborações de forma e de conteúdo.
Prof. Ms. Sidnei Martins, companheiro de todas as horas.
Profa. Dra. Valéria Castro, companheira de jornada e incentivadora.
Prof. Mitusuru e Prof. Kleber, amigos e estimuladores.
Ethel, César e Pedro, amigos de todas as horas.
Alunos da Cásper Líbero, da Unicsul e da ECA-USP,
que me estimulam a buscar mais.
Sumár io Introdução ....................................................................... 16 Capítulo 1 BRASIL E MÉXICO: CENÁRIOS E REALIDADES
....................................
28
1. Indicadores do Brasil e do México .................................... 29
2. Ambiente das práticas profissionais ..................................
35
2.1 Sistema de comunicação:
a mídia nos contextos brasileiro e mexicano ............. 36
2.2. Dados comparativos
............................................. 37
2.3. Ambiente de ação da comunicação das organizações.. 41 2.3.1. Discurso e ação nas organizações ................. 42 2.4. Comunicação com visão integrada
.......................... 46
2.4.1. Comunicação e seus efeitos: integração e
resultados ...........................................................
50
2.4.2. Públicos estratégicos
................................... 60
2.5. As organizações com posicionamento de mudança ... 62 2.6. Mercado de prestação de serviço: agências/assessorias.. 63
3. México e Brasil: Comunicação Organizacional e Relações Públicas ...
66
Capítulo 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E DELIMITAÇÕES CONCEITUAIS DOS DOIS CAMPOS ..................................................
69
1. Por um entendimento do campo ...................................... 69
2. Definição dos campos
..................................................... 77
2.1. Para entender Relações Públicas
................................. 78
2.1.1. Panorama brasileiro de Relações Públicas
....... 81
2.1.2. Panorama mexicano de Relações Públicas ...... 93
3. Pela compreensão de Comunicação Organizacional .............
96
3.1. Panorama brasileiro de Comunicação Organizacional.. 99 3.2. Panorama mexicano de Comunicação
Organizacional.. 103
4. Entidades associativas
.................................................... 105
4.1. Entidades representativas no Brasil
........................ 106
4.2. Entidades representativas no México ...................... 109
Capítulo 3 A ACADEMIA E O ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E EM RELAÇÕES PBLICAS .................
112
1. Panorama brasileiro ....................................................... 114
2. Panorama mexicano .......................................................
123
3. Duas realidades frente a frente
........................................ 127
Capítulo 4 ACADEMIA, MERCADO E SUAS VOZES: PERCEPÇÕES E DIÁLOGO ................
133
1. Descrição da metodologia de pesquisa
.............................. 134
1.1. Problema
............................................................ 134
1.2. Objetivos
............................................................ 135
1.3. Tipo de pesquisa
.................................................. 136
1.4. Amostra ............................................................. 136 1.5. Técnica e instrumento de coleta de dados ............... 141
2. Análise e interpretação dos dados ....................................
143
2.1. Área acadêmica e entidades associativas ................ 143 2.1.1. Conceitos de CO e de RP ............................. 144 2.1.2. Produção acadêmica ................................... 153 2.1.3. Educação e mercado de trabalho .................. 163 2.2. Agências de Comunicação
..................................... 179
2.2.1. Conceitos de CO e de RP ............................. 179 2.2.2. Perfil profissional
........................................ 189
2.2.3. Influências de imagem e de identidade
.......... 195
3. Considerações sobre a análise
......................................... 202
4. Percepções e diálogo
...................................................... 203
Considerações finais ........................................................
217
1. Caminhos percorridos ..................................................... 217
2. Comunicação e contemporaneidade ................................. 220
3. Por um diálogo ..............................................................
222
4. Por uma proposta de entendimento
.................................. 227
5. Preocupações e proposições
............................................ 231
6. Em primeira pessoa ....................................................... 232
Bibliografia ...................................................................... 235
Anexos Anexo A Pesquisa de campo – roteiros para entrevistas em
profundidade ......................................................
254 Anexo B Transcrição de entrevistas realizadas no México ...... 256 Anexo C Transcrição de entrevistas realizadas no Brasil ........ 305
Lista de quadros, tabelas e gráficos Quadros
Q1 Cenário da desigualdade na América
.............................. 30
Q2 Escolarização superior na América ................................. 32
Q3 Comunicação integrada ................................................ 52
Q4 Pirâmide de sustentação organizacional
.......................... 61
Q5 Interfaces entre CO e RP .............................................. 229
Tabelas
T1 Dados comparativos entre Brasil e México .....................
41
T2 Histórico das linhas de investigação em RP ..................... 80
T3 Organização do pensamento sobre CO (EUA) .................. 98
T4 Programas brasileiros de pós-graduação em Comunicação ....
116
T5 Pesquisas de pós-graduação em Comunicação
desenvolvidas sobre o México (1995-2001) .....................
124
T6 IES mexicanas em que se apresentaram dissertações e
teses (1995-2001) .......................................................
125
T7 Programas mexicanos de pós-graduação em CO
................. 126
T8 IES onde se desenvolveram pesquisas sobre CO e RP (1195-
2001) ........................................................................ 127
T9 Relação de entrevistados (México e Brasil) ........................
139
T10 Roteiro para comunidade acadêmica e entidades associativas ....... 141
T11 Roteiro para agências de Comunicação
........................... 142
T12 Roteiro de análise de entrevistas (1)
.............................. 143
T13 Roteiro de análise de entrevistas (2)
.............................. 179
T14 Síntese da análise das entrevistas (academia e agências) ..... 204
Gráficos
G1 Classificação por classe econômica no México ................
39
G2 Classificação por classe econômica no Brasil
.................. 39
G3 Concentração dos cursos brasileiros de pós-graduação (por
estados) ....................................................................
118
G4 Cursos brasileiros de pós-graduação em Comunicação (por
região) .......................................................................
118
G5 Comparativo entre pesquisas em Comunicação e pesquisas
em CO e RP (México – 1995-2001) ................................ 126
INTRODUÇÃO
Se nesta tese algumas das primeiras palavras com as quais se pode
ter contato vêm de Demasiados nombres, de Pablo Neruda – poeta
que é símbolo da cultura latino-americana –, texto colocado como
abertura simbólica do trabalho, não é por acaso. O objeto de estudo
desta pesquisa – Comunicação Organizacional e Relações Públicas –
acaba muitas vezes por receber tantos nomes que a sua
compreensão, eventualmente, se torna muito difícil. Tantos nomes,
tantas definições, tantas interpretações levaram a essa pesquisa: a
crença de que uma pesquisa com vistas a procurar contribuir para o
entendimento do campo da comunicação realizada no âmbito
organizacional se faz urgente.
Após quase duas décadas de vivência em atividades ligadas a
Relações Públicas pelo autor desta tese – dez deles na pesquisa e na
docência –, pareceu necessário buscar a compreensão do objeto,
tanto para a satisfação de uma inquietação pessoal quanto para uma
demanda percebida nos espaços trafegados ao longo desse período.
Partindo da dissertação de mestrado apresentada pelo autor na
Faculdade Cásper Líbero, em que foi estudado o cenário da produção
em Relações Públicas no Brasil, pareceu que para o doutorado
caberia uma ampliação das fronteiras, tanto do objeto quanto do
país.
Desse modo optou-se por colocar em destaque uma questão que de
todo modo vem permeando a atividade de comunicação ligada às
organizações: os espaços de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional. As similitudes, as interfaces e as particularidades de
cada uma vêm, há muito, sendo objeto de discussão, e até mesmo
de confusão, quando colocadas, muitas vezes, como equivalentes,
como sinônimas, como superpostas.
A proposta da tese Comunicação Organizacional e Relações Públicas:
estudo dialógico entre Brasil e México amparou-se na possibilidade
de uma pesquisa que encampasse, além do Brasil, outro país que
apresentasse as mesmas condições de potencialidades e de
visibilidade e que pudesse contribuir para um panorama que
trouxesse à tona a discussão, mas de forma mais ampliada, e que
até pudesse colaborar para uma reflexão no âmbito da América
Latina.
Pelas condições de grande referência para o contexto latino-americano,
o México se mostrou como um país de excelentes condições para a
comparação, seja pelas características sociais, econômicas, geográficas,
demográficas e históricas, ou mesmo pelo perfil da comunicação que se
dá no universo organizacional. Ainda que nem todos os índices latino-
americanos demonstrem que Brasil e México sejam tão parecidos, há
sinais de que ambos assumem posição no cenário internacional que os
conduz para serem referência em termos de América Latina.
• Problema – As indagações
Na definição do “problema de estudo”, partiu-se do fato de que há
um vazio na interpretação de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional. As duas áreas parecem possibilitar condições de
leitura e de interpretação em ambos os países, mesmo apresentando
características peculiares em cada um deles.
As Relações Públicas completam simbolicamente um século de
existência neste ano 2006, quando se comemora a criação do
primeiro escritório destinado a essa atividade na Cidade de Nova
Iorque, nos Estados Unidos, por Ivy Lee. Ainda que em diversos
países – notadamente na América Latina – essa atividade tenha
sido conhecida somente tempos depois, ela veio se formatando de
maneira significativa, com produções práticas e teóricas.
Mesmo assim, pode-se entender que em diversas ocasiões houve grande
dificuldade em sua compreensão. Por outro lado a Comunicação
Organizacional veio pavimentando seu caminho simultaneamente. Não
obstante, em diversos momentos não há clareza dos espaços criados e
ocupados, levando-nos à idéia de que Relações Públicas e Comunicação
Organizacional pudessem ser um mesmo objeto, com terminologias que
não guardavam características essencialmente marcantes a ponto de as
qualificar como áreas independentes.
Os países da América Latina, no que se refere a essas duas
áreas, por cultura e tradição, buscam sustentação no
pensamento norte-americano para a prática profissional e para a
pesquisa científica. Mas, após tantas décadas, já se poderia
conceber que a Comunicação Organizacional e as Relações
Públicas teriam identidades de campo e, simultaneamente, já
haveria um pensamento comunicacional latino-americano quanto
a essas áreas? Seriam campos independentes e emergentes?
Brasil e México, como poderá ser visto neste trabalho, possuem
pesquisas e práticas originárias das experiências norte-americanas,
mas sem deixar de adaptá-las e transformá-las para as necessidades
de cada país, notoriamente diferentes dos padrões dos Estados
Unidos. Isso denotaria a existência ou a formação de uma identidade
latino-americana nesses campos?
• Objetivos – Destinos desejados
O trabalho é movido pela intenção de se buscar aportes
fundamentais para a compreensão dos dois campos a partir da
colocação frente a frente e do estudo das diversas conceituações de
cada um entre si e com as do outro campo. Objetiva-se entender as
configurações de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
como campos independentes, ainda que imbricados entre si.
O propósito central do trabalho é contribuir para os estudos em
Comunicação Organizacional e em Relações Públicas e para o maior
reconhecimento do pensamento comunicacional latino-americano. Além
disso, pretende-se também dar um aporte às Ciências da
Comunicação no espaço da América Latina, com vistas à proposição
de um protocolo de pesquisa que possa levar a novas comparações
entre os países componentes do cenário latino-americano.
Ainda, como objetivos secundários, propõe-se analisar a produção e o
pensamento comunicacional brasileiro e mexicano; estudar a
configuração do campo do ensino em pós-graduação nos dois países;
apresentar um panorama do mercado profissional no Brasil e no México
nas áreas de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional –
especificamente as agências de atuação concomitante nos dois países,
que foram ouvidas nas pessoas de seus gestores.
• Hipótese/Premissas – Possíveis caminhos
Como questão de pesquisa estabeleceu-se a possibilidade de que
Comunicação Organizacional e Relações Públicas tivessem, cada
qual, características – histórico, teorias, conceitos, pesquisas,
metodologias etc. – que as delimitassem como campos
independentes. Essa posição carrega consigo uma certa polêmica,
pois em diversos momentos – e isso poderá ser visto especialmente
no capítulo reservado à análise das entrevistas realizadas com
pesquisadores e profissionais do Brasil e do México – há o
entendimento de sinonímia e não de imbricação, de equivalência e
não de interdependência.
Como já foi dito, após a pesquisa realizada no espaço do mestrado pelo
autor desta tese, percebeu-se a amplitude possível para a pesquisa na
América Latina. O Brasil, lusófono, em muitos momentos se distancia
*dos demais países hispanoparlantes e se torna uma ilha, seja pela
troca de publicações, cerceadas pelo idioma, seja pelas próprias
características continentais brasileiras, o que pode dar uma equivocada
idéia de auto-suficiência. Os demais países da América Latina, por seu
tempo, podem ter em seus parceiros de origem hispânica, em grande
número, a mesma e imperfeita idéia de suficiência, isolando-os do
contato mais próximo com a produção brasileira.
O Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, da
Universidade de São Paulo, tem como propósito a contraposição a
essa possível realidade: romper barreiras latino-americanas e
ressemantizá-las, criando laços. Essa proposta veio ao encontro do
desejo de procurar conhecer mais de si a partir da comparação com
o outro. Diante de tantos países com os quais se poderia tentar
estabelecer um paralelo, a opção pelo México teve diversas razões,
como as já apontadas, além do histórico de forte hibridização
cultural, tradição no estudo e na produção em Relações Públicas e
Comunicação Organizacional etc.
O México tem mostrado produção intelectual e prática tanto em um
quanto em outro campo ao longo dos anos, conforme foi identificado
por meio dos estudos bibliográficos e das entrevistas, com a
cristalização de um panorama no qual se podem buscar dados
comparativos, além de ter um conjunto de escolas e uma formação
de mercado que também estimulam a avaliação em relação ao
cenário brasileiro. Tanto o Brasil quanto o México têm diversos
índices com relativa proximidade, o que pode identificá-los em
diversos momentos.
• Metodologia – Percurso trilhado
Mesmo tratando-se de uma realidade de certo modo tão próxima à
brasileira, para conhecer o universo mexicano ficava clara a
necessidade de uma maior proximidade física, de um efetivo
processo de imersão, por menor que fosse. O México era conhecido
pelo autor da tese somente por uma viagem realizada em meados da
década de 1990, experiência insuficiente para entender
minimamente os contornos da cultura daquele país. E as pesquisas
na internet, não seriam suficientes para dar essa idéia mais próxima.
Como parte integrante da metodologia da pesquisa, optou-se pela
realização de entrevistas em profundidade, com representantes das
universidades, das entidades associativas e de agências, amostra
escolhida de forma intencional, por julgamento, característica
peculiar a uma pesquisa qualitativa. Empregou-se a técnica
comparativa, por meio da investigação das duas categorias-objeto do
trabalho – Relações Públicas e Comunicação Organizacional –, com o
objetivo de ressaltar as diferenças e similaridades entre elas, tanto
no México quanto no Brasil, e entre as realidades dos dois países.
Mais uma vez fazia-se essencial ir ao campo.
Na viagem ao México, doze entrevistas foram realizadas, além da
experiência de ministrar quatro conferências a estudantes de
graduação em Comunicação da Universidades Anáhuac e do
Tecnológico de Monterrey1. Não bastassem as demonstrações de
receptividade do povo mexicano, o autor foi convidado a participar
com um capítulo (“Comunicación por resultados: el cambio
organizacional por la visión integrada”) da obra Transformación de
las organizaciones: estrategias de comunicación2, organizada por
María Antonieta Rebeil Corella e Abraham Nosnik Ostrowiak.
Para a efetivação das entrevistas, realizadas a partir do método dialético
– pois foram elaboradas pela formulação de perguntas e de respostas e
visavam chegar a um ponto crítico –, junto aos representantes
mexicanos, opta-se por uma viagem de imersão em janeiro de 2005,
com recursos próprios, ao longo de quase um mês. Foi possível visitar
as universidades e as suas bibliotecas, levar a efeito entrevistas com os
nomes tidos como mais significativos no cenário mexicano atual nas
duas áreas, bem como visitar as agências escolhidas como fontes para a
pesquisa – Burson Marsteller, Edelman e Hill & Knowlton, todas
presentes simultaneamente nos dois países. Além da experiência efetiva
1 Essa instituição é conhecida exatamente por esse nome. Seus sites não usam, em nenhum lugar, qualquer identificação adicional, como “instituto”, por exemplo. 2 Até o término do presente trabalho, a obra estava em sua última revisão.
de realização das pesquisas de campo, a vivência no México permitiu
conhecer algo de seu povo, e levando-se a compreender um pouco de
seus hábitos do dia-a-dia e de sua maneira de ser.
No Brasil, o processo de pesquisa se deu, igualmente, pela seleção
de nomes referenciais no cenário das duas áreas. O conhecimento do
panorama constituído facilitou a seleção, bem como o acesso aos
entrevistados, ainda que dificuldades também foram encontradas,
em razão de questões de agenda ou mesmo de distâncias.
A revisão bibliográfica foi pautada em autores sul-americanos, norte-
americanos e europeus, com especial atenção aos brasileiros e aos
mexicanos. Partiu-se fundamentalmente da bibliografia sobre
Comunicação Organizacional e sobre Relações Públicas. No México, foram
de fundamental importância os trabalhos desenvolvidos por Raul Fuentes
Navarro, que tem se dedicado ao estudo e à catalogação da pesquisa
mexicana sobre Comunicação. Diversos outros autores também tiveram
suas obras visitadas. No Brasil, os estudos de Margarida M. Krohling
Kunsch, que tem se dedicado à organização do pensamento sobre as
duas áreas, foi fundamental, além das obras de Candido Teobaldo de
Souza Andrade, dentre outros. Optou-se por autores que tivessem
trabalhado o trinômio pesquisa-publicação-orientação no nível da pós-
graduação. Trabalhos tidos como essenciais também foram perpassados,
como o The new handbook of organizational communication, organizado
por Fredric Jablin e Linda Putnam. Estudos de Jordi Xifra, da Espanha,
também puderam colaborar fundamentalmente no resgate do
pensamento histórico sobre Relações Públicas.
Essa diversidade pareceu fundamental para a composição do cenário
dos campos ora estudados. Foram relacionados os conceitos, os
autores e as escolas de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional que pudessem dar suporte, conceitual e
historicamente, à hipótese de que se trata de dois campos
independentes – ou interdependentes.
A revisão se caracterizou especialmente pela tentativa de buscar
aportes para a compreensão dos dois campos a partir da análise das
diversas conceituações e destas entre si. Para o estabelecimento do
conceito de campo, valeu-se do pensador francês Pierre Bourdieu,
objetivando restringir dentro do espectro de campo cada uma das
duas nomenclaturas, no intuito de extrapolar o conceito mais ligeiro
de que possam ser apenas terminologias.
• Resultados da Pesquisa – Contribuição aos campos
Aplicada a metodologia, que levou a um total de 21 entrevistas,
entre componentes das instituições brasileiras e mexicanas, e
realizada a revisão bibliográfica, foi-nos possível entender que de
fato há diversas semelhanças entre os dois países, mas também que
não podem ser ignoradas as peculiaridades.
Se no Brasil ambas as áreas têm desenvolvimento mais acentuado, seja
na prática profissional, seja na pesquisa, o México acentua mais a
Comunicação Organizacional ligada à academia e as Relações Públicas
vinculadas ao mercado profissional. A pesquisa e a produção científicas
em Comunicação Organizacional parecem denotar que esse país tem
força maior nesse campo, aos se depararem os dois campos.
O trabalho apresenta dois campos constituídos, mesmo que a
interpretação nesta tese leve a crer que eles tenham uma
complementaridade que não pode ser ignorada. Relações Públicas e
Comunicação Organizacional constituem campos que exercem
influência um sobre o outro, sem caráter de hierarquização, vale
ressaltar. Ambos têm, historicamente, fontes norte-americanas, com
algumas participações significativas, ao longo desse percurso, de
agentes europeus.
Na América Latina, ao menos no que se refere ao Brasil e ao México,
se as bases de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional
são mesmo norte-americanas, há a construção gradual de um
pensamento que permite identificar o modo de pensar, de pesquisar
e de produzir de seu povo.
• Estrutura do trabalho – Panorama da tese
Ao longo do trabalho podem ser encontrados quatro capítulos, com
os quais se propõe dar um panorama sobre os dois campos e suas
possibilidades de compreensão, sempre mediados pelas
características dos loci – Brasil e México.
O primeiro capítulo, “Brasil e México: cenários e realidades”, parte da
necessidade de se estabelecerem as caracterizações dos dois países
que dão espaço à pesquisa. Nele são apresentados indicadores que
possam permitir projetar uma comparação entre ambos, como os
que dizem respeito ao mercado profissional e aos sistemas de
comunicação, além de uma análise do ambiente organizacional, local
em que se dão as manifestações envolvendo as Relações Públicas e a
Comunicação Organizacional.
O segundo capítulo, “Pressupostos teóricos e delimitações conceituais
dos dois campos”, trabalha o conceito de campo com relação ao
tema proposto – reconhecidamente controverso. Nessa etapa,
buscam-se conceitos e objetiva-se apresentar os cenários brasileiro e
mexicano de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional.
O terceiro capítulo, “A academia e o ensino de pós-graduação em
Comunicação Organizacional e em Relações Públicas”, procura
colocar em destaque as duas realidades – brasileira e mexicana – no
âmbito da área acadêmica e da pós-graduação, utilizando-se para
tanto dados comparativos e análises dos cenários dos dois países.
O quarto capítulo, “Academia, mercado e suas vozes: percepções e
diálogo”, explora as mensagens contidas nas entrevistas em
profundidade realizadas no Brasil e no México ao longo de 2005. O
objetivo é dar contornos aos conceitos correntes entre os
pesquisadores e os praticantes de comunicação no que se refere à
comunicação nas organizações. Nesse mesmo capítulo, a partir de
todas as comparações feitas ao longo desta tese, se propõe um
protocolo de entendimento dos dois cenários. Incorporam-se análises
e recomendações, pois um dos princípios que norteia o trabalho ou,
mais especificamente, o objetivo central que levou à sua realização é
contribuir de algum modo para o avanço dos estudos das Ciências da
Comunicação no espaço da América Latina.
Esta iniciativa não se esgota em si, permanecendo a necessidade de
diálogo entre os países latino-americanos, em busca de um modo de
ser próprio a cada país e também um modo de ser latino-americano.
Isso é entendido como fundamental para a diminuição das fronteiras
e do crescimento do saber coletivo.
Outros países, com certeza, poderiam e poderão dar novos frutos a
tentativas como esta de configurar o perfil da pesquisa na América
Latina. Se os entraves práticos são muitos e desmotivadores, as
diversas similitudes devem ser estímulo ao crescimento de
programas como o Prolam, que colabora para descortinar as raízes
da América Latina e potencializar a integração de pesquisadores, de
praticantes, de pessoas que têm tanto em comum, mesmo que não o
saibam.
Capítulo 1
BRASIL E MÉXICO:
CENÁRIOS E REALIDADES
Entender dois países com tamanha vastidão de características não é
tarefa simples. Tanto o Brasil quanto o México têm acentuadas
peculiaridades, ao mesmo tempo em que podem apresentar diversos
elementos que se configurem próximos ou até mesmo semelhantes.
As dimensões de ambos e a sua representatividade no cenário
mundial e, especialmente, no latino-americano os colocam como
países que sempre deverão compor os planejamentos regionais e
internacionais, seja pelo caráter demográfico, seja pelo econômico,
seja pelo político e, especialmente, pelo perfil cultural.
Neste capítulo propõe-se fazer uma apresentação geral do Brasil e do
México, os dois países-alvo do estudo, situando-os em suas realidades.
Como locus da pesquisa, o cenário a ser apresentado tem por intenção
situar o leitor e a pesquisa nos dois universos. Não se trata de um
estudo aprofundado – pois esta tese não tem essa intenção –, mas uma
busca pela compreensão das similitudes e das diversidades. De qualquer
forma, o que mais se buscará acentuar será mesmo a possibilidade de
compreensão de ambos a partir de suas realidades, de seus índices e de
suas condições gerais.
Entende-se que ambos ofereçam um grande número de
características que podem ser comparadas, como integrantes dos
chamados países em fase de desenvolvimento, com determinados
aspectos bastante evoluídos, especialmente se confrontados com
alguns de seus vizinhos latino-americanos. As desigualdades,
todavia, são pontos marcantes em seus cenários.
O apontamento de suas realidades pode, de algum modo – e esta é
de fato a intenção-chave –, favorecer a compreensão do estado em
que se encontra a comunicação no tocante às organizações dos dois
países e de que modo se encaminham as configurações dos dois
campos – Comunicação Organizacional e Relações Públicas.
Esta etapa da tese Comunicação Organizacional: estudo dialógico entre
Brasil e México tratará especialmente de dois pontos. O primeiro é
sobre os indicadores que expressam as realidades mexicana e brasileira
no que se refere a sua demografia, economia, política etc. O segundo
será dividido em duas frentes. A primeira abordará o sistema de
comunicação presente nos dois países, procurando dar conta das
informações consideradas mais relevantes – e disponíveis – sobre as
condições das mídias, as quais são fundamentais para a manifestação
do segundo ponto, a comunicação nas e pelas organizações. Este
segundo item abordará as maneiras como ocorre a comunicação no
ambiente organizacional e procurará trazer alguns dados que também
possam situar essa realidade nos dois cenários.
1. Indicadores do Brasil e do México
Brasil e México são dois dos mais importantes países do continente
americano, aumentando-se a sua expressividade quando o panorama se
restringe à América Latina. A América é o segundo maior continente em
termos populacionais, ficando depois somente da África. São 841,5
milhões de pessoas, ou quase 14% do total do mundo. Compõem-na 35
países, que apresentam um PIB (Produto Interno Bruto) de U$ 14,5
trilhões – o equivalente a 32% do total global. Toda essa riqueza,
todavia, mascara uma incrível desigualdade e forte exclusão social.
Quando se fala de continente americano, países tão díspares como
Canadá e Paraguai, tão díspares, por exemplo, contribuem para os
índices e taxas. Brasil e México, ao menos, não se mostram tão distantes
assim.
A América Latina, por sua vez, contribui para os mais significativos
indicadores de pobreza do continente americano, tendo isso como
forte característica. Se um país latino-americano como a Venezuela é
notável exportador de petróleo, o que o caracterizaria como
proprietário de bens de alto valor para obtenção de divisas, ele
apresenta, por outro lado, um dos mais baixos valores no que se
refere à desigualdade de modo geral, ocupando a 30a posição entre
as nações latino-americanas (Pochmann et al., 2004).
O Brasil, todavia, não se distancia muito dessa taxa de desigualdade,
pois se encontra em 28o lugar, enquanto o México está na 16ª
posição, uma situação bem melhor que a do Brasil (cf. Quadro 1).
Tanto o Brasil quanto o México têm condições de mediana para baixa
no que tange à escolarização superior. Se os índices de exclusão
social podem mostrar certa distância entre ambos, em determinados
momentos, outras características, além do cenário da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas, os aproximam
substancialmente. Quanto ao ensino superior, ainda que ele disponha
uma estrutura sólida em determinadas regiões, esta ainda não
satisfaz plenamente as necessidades de cada um dos dois países,
estando abaixo (cf. Quadro 2) de diversos outros vizinhos cuja
solidez econômica, por exemplo, pode ser entendida como inferior.
Brasil e México exibem, entre si, características fortes que os
relacionam, tendo pontos divergentes que os tornam bastante
diferentes. A escolha de ambos, ou mais claramente a escolha do
México como espelho para o Brasil, deveu-se a fatores como força
econômica na América Latina, assim como, no caso do Brasil, uma
formação histórica fortemente assinalada pela hibridização cultural: o
Brasil foi marcado pela presença da população indígena, ainda que de
forma muito menos intensa que o próprio México, mas incisivamente
pela herança cultural africana; e o México tem até hoje a presença e a
influência da população indígena como marca dessa mistura cultural.
Como traço dessa influência, ainda hoje mais de 6 milhões de habitantes
do México falam línguas indígenas, em detrimento do idioma espanhol.
Quadro 1
Cenário da desigualdade na América
Fonte: Pochmann et al, 2004, p. 109. Quanto maior o índice, menor a desigualdade.
Quadro 2
Escolarização superior na América
Fonte: Pochmann et al., 2004, p. 111.
Dois países de grandes dimensões territoriais, o Brasil tem mais de
8,5 milhões de quilômetros quadrados e o México, quase 2 milhões
de quilômetros quadrados. Ambos são repúblicas representativas,
democráticas e federais, com presidentes, deputados e senadores.
Nos dois há três poderes, separados e independentes – executivo,
legislativo e judiciário. A gestão das duas nações parece
encaminhada para uma tendência neoliberal, ainda que os
governantes ostentem perfis diametralmente opostos. Enquanto o
Brasil tem em seu comando o ex-metalúrgico Luís Inácio Lula da
Silva, de 61 anos de idade, eleito em 2002 para um mandato de
quatro anos, o México elegeu, em 2000, o ex-executivo de
multinacionais Vicente Fox, hoje com 64 anos, integrante do Partido da
Ação Nacional, para um mandato de seis anos. Ambos os países hoje
revelam um grande potencial de desenvolvimento dentro do cenário
latino-americano, seja pela busca de credibilidade junto à comunidade
internacional, seja pela crescente representatividade diante de seus
pares no espaço regional.
O México tem uma economia muito atrelada aos Estados Unidos –
apesar de contar com fortes parceiros comerciais como Canadá,
Espanha, Chile e o próprio Brasil –, país vizinho e cuja história
demonstra diversos momentos de animosidade, ora explícita, ora
implícita. Além de uma extensão fronteiriça de grande porte entre o
México e os Estados Unidos, as relações comerciais entre ambos é
mediada pelo Nafta (North America Free Trade Agreement), tratado de
livre comércio3 que inclui, além dos dois países, também o Canadá. O
México ocupa claramente uma posição periférica no contexto do Nafta. A
influência norte-americana também pode ser notada nas maquiladoras4,
as quais ofertam quase 1,2 milhão de postos de trabalho.
3 O Tratado de Livre Comércio é uma das formas mais básicas dentre as quatro clássicas modalidades de estabelecimento de relações entre as nações com vistas à integração econômica, que se propõe a extinguir determinadas formas de discriminação entre as economias nacionais. Nesse modelo, o Livre comércio, as restrições de comércio entre os países signatários são abolidas a partir de negociações, mantendo-se a soberania e políticas independentes em relação a terceiros. O outro modelo é a União Aduaneira, que se caracteriza por uma política única dos parceiros em relação a terceiros, ou seja, regras comuns a não-membros (tarifa externa comum). Nesse modelo pode ser encontrado o Mercosul. Outra forma mais adiantada é o Mercado Comum (que predominou na Europa até o estabelecimento da União Européia), e no qual se permite o movimento de fatores (trabalho). A União Econômica, por sua vez, é a forma mais evoluída ou um estágio mais adiantado, pois parte de uma forte coordenação de políticas macro-econômicas e estabelece-se uma moeda comum. À medida que se evolui nos modelos aumenta-se a complexidade da relação entre os países, assim como os efeitos distributivos, mas diminui-se a soberania. 4 Maquiladoras são empresas que importam peças e componentes de suas matrizes estrangeiras para manufaturar (montar) os produtos (carros, computadores, aparelhos de som) e depois exportá-los para o país de origem da empresa ou outros países em que o produto seja competitivo. Elas existem no México desde 1965.
O Brasil inclui em seu portifólio de parceiros internacionais de negócios
um número substancial de países, tendo conseguido configurar um
panorama muito positivo nos últimos anos a partir de uma política
expressamente dirigida a esse fim. No âmbito regional, a sua participação
no Mercosul5 se caracteriza por uma posição explícita de liderança.
O México apresenta um PIB (Produto Interno Bruto) de cerca de US$
676,5 bilhões, para uma população de quase 105 milhões de
habitantes, perfazendo uma renda per capita de US$ 6,2 (Mídia
Dados, 2005, p. 489), ao passo que para o Brasil se estima um valor
em torno de US$ 607 bilhões, para uma população em torno de 180
milhões de pessoas, significando uma renda per capita de US$ 3,3
(Mídia Dados, 2005, p. 417).
Do ponto de vista cultural, a diversidade é bastante acentuada. Os
dois países apresentam um número significativo de expressões
culturais, bem como ícones nesses segmentos. Sua formação, a
partir de inúmeras interferências, potencializou uma hibridização
bastante proveitosa. O México tem traços explícitos do povo que o
habitava antes da chegada dos europeus, seja na língua, marcada
por influências diretas e indiretas, seja nas artes. O Brasil mostra
uma grande miscigenação em todos os aspectos, notadamente nas
questões artístico-culturais. Ainda que haja influência evidente das
culturas anteriores ao período da chegada dos portugueses, talvez a
marca mais forte seja da cultura africana, pela mistura de etnias ou
5 Criado em 1º de janeiro de 1995, o Mercosul (Mercado Comum do Sul), passou a cobrar tarifas idênticas nas suas importações. Seus países-membro são Argentina, Brasil Paraguai, Uruguai e Venezuela, além de se associarem a ele Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e México. Outras tentativas de integração já haviam sido levadas a cabo, sem êxito. Para mais informações, pode-se consultar o site www.plannersbrasil.com.br/mercosul.
de hábitos e costumes, os quais impregnaram e ainda delineiam
fortemente as expressões do povo brasileiro.
2. Ambiente das práticas profissionais
Se os campos acadêmicos de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional estimulam e potencializam a proposta desta pesquisa,
talvez seja no campo mercadológico ou da prática profissional que
repercutam a evolução e as teorias oriundas da área acadêmica. Esse
mercado, formado por agências (que ofertam tradicionalmente serviços
terceirizados, mas também formatos inovadores, como o in company6),
por consultores e por departamentos internos nas empresas (em muitos
casos com a contratação de uma agência de apoio, com contrato de
fee7, ou apenas para a realização de jobs8), cresce significativamente no
México e no Brasil9 e tenta por diversos modos estabelecer regras para a
sua operação, muitas vezes até fazendo parecer que esteja apartado do
mundo científico, pelas suas características e demandas.
Mas o que ocorre é o contrário. É exatamente nesse ponto de encontro –
e de equilíbrio – que se entende que se dê a imbricação entre
Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Não há, portanto, um
hiato entre mercado e mundo acadêmico, mas uma conexão. O mundo
corporativo influencia os objetos de pesquisa e torna-se fonte dessa
mesma pesquisa, ao tempo em que o mundo acadêmico permite às
6 O profissional da agência contratada se instala nas dependências da contratante. 7 O fee é um tipo de contrato determinado, cuja taxa de serviços é estabelecida a partir dos serviços solicitados, sob a forma de um pacote fechado, e com duração conformada para médio ou longo prazos. 8 Trabalhos contratados pontualmente, de curto prazo e sem continuidade, em princípio. 9 As dimensões dos mercados de Relações Públicas no Brasil e no México apresentam considerável diferença. De acordo com levantamentos, incluindo as pesquisas de campo, estima-se que o mercado de agências mexicano corresponda a 10% do brasileiro. Esse segmento, o de serviços terceirizados, é o que apresenta mais significativa absorção de mão-de-obra de profissionais de Comunicação nos últimos anos.
organizações uma reflexão sobre a sua maneira de ser e de atuar, além
de fornecer novas metodologias para a sua continuidade e a sua
sobrevivência.
Neste trecho do trabalho se dará destaque aos pontos que podem
colaborar na compreensão das relações entre as áreas de Relações
Públicas e de Comunicação Organizacional e as suas interfaces, a
partir de uma visão dos elementos constituintes do mercado: o
sistema de comunicação, que permite a multiplicação da informação
e a formação da opinião pública, e as organizações, ambiente no qual
se desenvolvem os campos-objeto de estudo desta tese. Quanto ao
sistema de comunicação, serão reportados dados disponíveis sobre
os veículos de comunicação nos dois países, à luz dos contextos
sócio-demográficos. No que se refere às organizações, serão feitas
reflexões sobre os modos de efetivação de sua comunicação com os
diversos públicos com os quais interagem.
2.1. Sistema de comunicação: a mídia nos contextos
brasileiro e mexicano
A Comunicação Organizacional e as Relações Públicas servem-se de um
sem-número de estratégias para efetivar os seus processos, sempre com
vistas ao equilíbrio entre os objetivos das organizações e a opinião
pública. A utilização de estratégias de comunicação dirigida, que, segundo
Waldir Ferreira (2002), acaba por ofertar mais vantagens que a
comunicação de massa – permite retorno mais rápido das mensagens
enviadas, bem como análise e reação imediatas –, é de grande
importância para a área de comunicação que estuda e atua nas
organizações.
Entretanto, a comunicação por meio das grandes mídias não pode
ser deixada de lado, pois é essencial na formação da opinião dos
públicos. E como tal é elemento de estudo e de formação do
pensamento de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.
Sabe-se que tanto o Brasil quanto o México têm uma sólida estrutura no
que se refere aos seus sistemas de comunicação. Diante disso, este item
buscará cuidar de um panorama relativo aos cenários mexicano e
brasileiro, valendo-se de informações estatísticas disponíveis sobre os dois
países.
Dentro do conceito de Comunicação Integrada, de fato a
Comunicação Mercadológica, especialmente por meio da Publicidade,
destaca-se no quesito investimento. As maiores verbas relativas à
Comunicação são destinadas às ações publicitárias. De acordo com o
Mídia Dados 2005 (p. 416), a África e o Oriente Médio ultrapassaram a
América Latina no ranking de investimento publicitário internacional, em
função de questões como as crises econômicas latino-americanas.
2.2. Dados comparativos
No Brasil o sistema de comunicação tem que atender a uma população de
cerca de 180 milhões de pessoas – 50,8% do sexo feminino e 49,2% do
sexo masculino –, distribuídas em um total de mais de 50 milhões de
domicílios (3,6 moradores/domicílio). Da população, 43% têm
automóveis; 62%, linhas telefônicas fixas e 24 milhões, acesso à internet.
No México a população é de cerca de 105 milhões de habitantes, que
compõem 25,5 milhões de domicílios (4,1 pessoas/domicílio). Dessa
população, 33% possuem automóveis; 37%, linhas telefônicas fixas;
e 10%, acesso à internet. Assim como no Brasil, há um equilíbrio no
que se refere ao gênero, pois 50,3% são mulheres e 49,7%,
homens.
Esses números denotam – ainda mais quando comparados à luz do PIB
e da renda per capita de cada um dos dois países – um certo equilíbrio,
mesmo caracterizando-se ainda como elementos de desigualdade. Os
mapas de classificações econômicas também são claras demonstrações
de desigualdade (cf. Gráficos 1 e 2).
Ainda que se pratiquem modelos de classificação diferentes em cada um
dos países, fica patente a distribuição irregular das condições de
consumo entre as duas populações. A base da pirâmide nos dois países
é ampla e povoada pela parcela da população sem condições de acesso
a bens de consumo e, por conseqüência, à informação e à possibilidade
de manifestação mais efetiva na formação da opinião pública.
Tanto no Brasil quanto no México os maiores anunciantes
caracterizam-se, majoritariamente, por empresas multinacionais,
sendo também de origem eminentemente estrangeira as maiores
agências de Publicidade (Mídia Dados, 2005). Isso talvez possa
indicar uma influência externa no modo de efetivar a Publicidade, o
que potencialmente interfere nas demais formas de comunicação
adotadas pelas organizações, seja para os públicos internos, seja
para aqueles com os quais mantêm vínculos institucionais.
Com relação aos veículos de comunicação de massa, a televisão tem
uma penetração muito forte nos dois países, estando presente em
89,8% dos domicílios no Brasil e em 86,2% no México. Os dois
países concentram maior audiência nesse meio exatamente no
horário destinado às novelas. Outro aspecto que aproxima os dois
países é a presença de redes nacionais de televisão, abrangendo os
extensos territórios de ambos (Mídia Dados, 2005).
Gráfico 1 Classificação por classe econômica no México
DE 29%D+ 33,7%C 16,5%ABC+ 20,8%
Fonte: Mídia Dados 2005 (p. 489).
Gráfico 2Classificação por classe econômica no Brasil
A1 2%A2 6%B1 12%B2 17%C 36%D 24E 2%
Fonte: Mídia Dados 2005 (p. 417).
A tevê por assinatura, cujo advento ainda pode ser considerado recente
em alguns países, apresenta penetração não muito alta no Brasil (12%)
quanto no México (25%), achando-se ocupada, majoritariamente, por
canais estrangeiros, nos dois países (Mídia Dados, 2005).
Quanto ao rádio, no Brasil 87,7% dos lares o possuem, contra uma
média bastante próxima no México, de 85,6%. No Brasil são 3.668
estações, divididas em 1.681 emissoras de AM e 1.987 de FM. No
território mexicano são 1.337 emissoras (852 de AM e 485 de FM).
Com relação aos veículos impressos, o Brasil apresenta um total de
1.738 títulos de revistas e o México, 809; quanto a jornais, os números
são de 3.004 (sendo 532 diários), contra 344, respectivamente. A mídia
impressa, como pode ser visto, apresenta uma significativa distância
entre os dois países-alvo do estudo (Mídia Dados, 2005).
De maneira geral, os dois países apresentam aspectos que podem
demonstrar uma certa maturidade nos sistemas comunicacionais de
cada um, seja pela grandiosidade dos números, seja pela penetração
que os veículos de comunicação possuem. Algumas disparidades acabam
por chamar a atenção, como a grande diferença entre o número de
jornais nos dois países ou mesmo a porcentagem de acesso à tevê por
assinatura. Isso, todavia, pode ser visto como peculiaridades que têm
explicações no contexto histórico, social e econômico das duas nações.
Pode-se inferir, assim, que os dois países têm uma rede de
comunicação capaz de absorver os impactos e as possíveis
influências oriundas dos processos de comunicação das organizações,
caracterizando-se como loci adequados para o estudo quanto ao que
se relaciona aos sistemas de comunicação (cf. Tabela 1).
Tabela 1
Dados comparativos entre Brasil e México
Dados Brasil México
População (milhões)* 180 105 Expectativa de vida (anos) 72** 75,3*** Número de domicílios (milhões) 50 25,5 Média de habitantes/domicílio 3,6 4,1 PIB (bilhões de US$)* 607 676 Renda per capita (US$) 3,3 6,2 Número de emissoras de rádio 3.668 1.337 Acesso à tevê por assinatura (%) 12 25 Títulos de jornais 3.004 344 Títulos de revistas 1.738 809
Fonte: Mídia Dados 2005 (2005) * Valores aproximados ** Fonte: www.ibge.gov.br *** Fonte: www.inegi.gob.mx
2.3. Ambiente de ação da comunicação das organizações
A construção do pensamento e da ação em Relações Públicas e em
Comunicação Organizacional parte da própria sistematização dos
processos de comunicação nas organizações, caracterizando a teoria,
momento no qual ocorre a
apropriação do saber prático pela academia, que o submete a permanente reflexão e sistematização. Através do ensino e da pesquisa, a universidade atua como formadora de recursos humanos e como produtora de conhecimentos (Marques de Melo, 2003a, p. 33).
Nesta parte do trabalho serão colocados em destaque os elementos
institucionais que alicerçam as organizações e o modo de estas se
relacionarem com o seu entorno. Um fator que cabe ressaltar é a
diáspora possivelmente percebida entre mercado e academia, que
parece desnecessária e contraproducente. Pode-se, ainda, notar que
alguns gestores entendem que a comunicação mercadológica e a
comunicação institucional não sejam faces de uma mesma moeda, cuja
articulação potencializa a eficiência das organizações. A primeira muitas
vezes é vista como tendo ligação exclusivamente com a busca de
resultados financeiros, objetivo para cuja obtenção a segunda seria
tão-somente um elemento acessório. São duas visões que podem levar
a erros estratégicos.
A relação entre mercado, área de atuação prática, e academia,
espaço de absorção das influências da sociedade e de reflexão sobre
a mesma, leva à criação de uma práxis, entendida como a
aplicação do saber acumulado pelas sociedades, e, dentro delas, pelas corporações profissionais. Sua meta é desenvolver modelos produtivos, transmitindo-os às novas gerações (Marques de Melo, 2003a, p. 33).
2.3.1. Discurso e ação nas organizações
Dentro do que se pode compreender como práxis relacionada à
Comunicação Organizacional e às Relações Públicas, uma série de
estudos já foi levada a efeito, relacionando-as a diversas
possibilidades de interação com os públicos e com as organizações.
Para Putnam e Fairhurst (2004, p. 78), a construção do discurso
organizacional determinará a comunicação das organizações, dando-
se ela a partir de oito aspectos inter-relacionados:
Códigos: os aspectos de nomeação, rótulos, jargões, vernáculo,
terminologia e signos;
Estrutura: os modelos, ordem, sintaxe, seqüência de palavras e de
frases, e regras implícitas/explícitas para o uso do discurso;
Função: as propostas para o uso da linguagem e conexão entre o
discurso e a função organizacionais;
Uso da linguagem: representação do conhecimento, expectativas,
argumento, estrutura e interpretação dos usuários;
Significado: interpretação, entendimento e redação de textos;
Texto: modelos de definição do discurso inscrito nas organizações;
Contexto: eventos organizacionais, história e parâmetros que
configuram a interpretação dos textos;
Intertextualidade: as interfaces entre discurso, texto e contextos
institucionais10.
Diversos elementos simbólicos influenciam as relações na organização e
entre esta e seu meio. Os tipos de discurso, por seu tempo, são
definidos por aspectos não necessariamente controláveis pela
organização. Alguns talvez até o sejam, todavia o discurso é claro,
permanente e fortemente influenciado pelos diversos públicos que
interagem com a organização e entre si. Entende-se que à Comunicação
Organizacional caiba entender os elementos simbólicos e às Relações
Públicas inseri-los em seu fazer, tornando-os parte integrante das
estratégias comunicacionais da organização, tanto no âmbito interno
quanto no externo.
A revisão de literatura aponta para alguns referenciais que podem
determinar a análise do discurso organizacional, como a
sociolingüística. Nesse aspecto pesquisas apontam para
características como diferenças semânticas determinadas por perfis
sociais diferentes – classe econômica, formação, nível de
escolaridade, localização geográfica. Tanto o Brasil quanto o México
têm por tradição forte desigualdade social e econômica, além de
diversidade cultural, requerendo grande esforço das organizações
para adequar o seu discurso à realidade que a circunda.
De acordo com Tompkins (apud Putnam e Fairhurst, 2004, p. 82)11
barreiras semânticas podem ser encontradas também a partir de
10 Grifos do autor da tese, para facilitar a leitura.
diferenças hierárquicas. O autor aponta ainda que as lideranças –
tanto de empresas quanto de entidades – acabam por expressar-se
de modo similar, diferenciando-se dos outros grupos de seu
ambiente de trabalho. Já entre gerentes e trabalhadores de um
mesmo departamento a linguagem é similar, como observa Tway
(1975). Variações de estrutura como cargos, subculturas grupais e
posição hierárquica também contribuem para a variação do
repertório de linguagem. Esses elementos devem fazer parte,
associados às macroestruturas culturais (extrapolando-se a cultura
da organização e encaminhando-se à busca de compreensão desta
face às culturas locais, regionais, nacionais e globais), dos diversos
instrumentos de informação e de comunicação acerca da
organização, seja pela comunicação formal, seja pela informal.
Outro ponto de partida da análise organizacional é a análise de
discurso, que foca seu trabalho na estrutura da linguagem em vez de
nos códigos. O dinamismo da linguagem utilizada no ambiente
organizacional é preferencial ao contexto estático. Para Drew &
Heritage (1992), a construção da fala nas organizações difere das
conversações nas interações do dia-a-dia, pois é permeada pela
cultura das organizações e é fortalecida pelo ambiente.
Como a cultura organizacional está presente em todas as etapas dos
relacionamentos organizacionais, ela pode ser uma fonte para perceber
as regras implícitas de identificação e de gerenciamento das impressões
acerca de uma instituição. A forma de atuação do poder e o controle de
cada organização também serão determinantes para elaborar o discurso
e para que este seja analisado. A ocorrência de técnicas de proximidade
11 Não foi possível ter acesso aos textos de Tompkins. Entendendo-as como importantes para esta análise, suas idéias foram utilizadas a partir de textos de terceiros.
e correlação de significados, como pergunta-resposta, exigência-
atendimento e pedido-aceitação, permite a manutenção do processo de
controle (Putnam e Fairhurst, 2004, p. 85).
Outras estratégias de análise, como a lingüística cognitiva, o
pragmatismo, a semiótica, a análise de retórica, os estudos críticos
de linguagem, podem ser recursos para a interpretação dos
relacionamentos da organização com os seus diversos públicos.
As maneiras de se expressar, de elaborar e manifestar o seu discurso
vão influenciar o modo de percepção pelos diversos grupos de
públicos, tanto interna quanto externamente. Essa percepção relativa
à organização influenciará todos os ambientes em que atue e
determinará os diversos resultados: institucionais, internos e
mercadológicos, estes potencialmente maiores influenciadores de
investimentos por parte das organizações.
Bordow & More (1991, p. 58), apresentando algumas formas de
analisar a Comunicação Organizacional, trazem a definição de
Bormann, segundo a qual
cultura no contexto da comunicação significa a soma das formas de vivência, organização e comunidade construída em um grupo de pessoas e transmitida às mensagens pelos significados da comunicação verbal e não-verbal. Importante componente, na cultura de uma organização incluem-se as normas compartilhadas, história, lembranças, ritos e rituais que provêem os membros com uma única e comum base simbólica.
A partir da atenção sobre a cultura, pode-se discutir a sua influência
na formação de uma identidade e como ambas repercutem sobre os
resultados de uma organização, levando-se em conta a importância
das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional, sobre a
formação do conjunto de percepções relativas às organizações.
2.4. Comunicação com visão integrada
É muito comum que discursemos sobre a importância da
comunicação para as organizações de forma geral. Todavia, cada
discurso parece falar de uma comunicação diferente, que leva a
caminhos completamente independentes uns dos outros. Parece que
isso muitas vezes acaba por levar a compreensão e a efetivação da
comunicação também para muitos caminhos, como se a organização
devesse buscar diversas alternativas, e em diversas direções, para
que se faça entender e se vincular a seus públicos.
Em princípio, talvez seja necessária uma reflexão sobre o que se
entende como sendo os objetivos principais do trabalho de
comunicação para uma determinada organização ou para qualquer
tipo de organização e em que dimensão se encontra esse trabalho.
Assim, parece ser de grande importância que se busque antes de
tudo uma compreensão pela visão do todo. Sem dúvida as diversas
áreas da organização têm suas necessidades, interesses e objetivos
operacionais diferenciados, além de momentos específicos que
pedem determinados instrumentos e atitudes com relação às
atuações administrativa e comunicacional. Cada público que interage
com a organização, por fim, tem seu momento e seu espaço
estratégicos, o que não deve ser esquecido. Entende-se que essa
visão de conjunto esteja relacionada à Comunicação Organizacional.
Todavia caberia iniciar a reflexão partindo do pressuposto de que a
comunicação de fato obterá resultados superiores a partir de uma
visão integrada, que propõe que a comunicação possa oferecer uma
proposta global para a organização, sempre levando em conta suas
características específicas. Como comunicação integrada entende-se
uma filosofia que direciona a convergência das diversas áreas, permitindo uma atuação sinérgica. Pressupõe uma junção da comunicação institucional, da comunicação mercadológica, da comunicação interna e da comunicação administrativa, que formam o mix, o composto da Comunicação Organizacional (Kunsch, 2003a, p. 150).
Entre as realidades de alguns países, todavia, encontram-se algumas
diferenças terminológicas. Há casos, como, por exemplo, no México,
em que muitas vezes o termo Comunicação Organizacional se refere
à comunicação realizada dentro da organização, com os elementos
que a compõem. No Brasil, segundo a pesquisadora Margarida M. K.
Kunsch tende-se a entender a expressão Comunicação
Organizacional como um guarda-chuva, um elemento que dá a
cobertura ao fazer comunicacional. Mesmo assim, no Brasil ainda se
confundem por vezes as terminologias, atribuindo-se sinonímia a
diversos termos.
Assim, entende-se que a comunicação integrada tem por base que se
assuma uma visão de comunicação-macro, organizacional. Em
princípio, devemos compreender que a base geral do que ocorre de
modo sistemático na organização, a comunicação que se dá em seu
interior e entre ela e seu meio ambiente, provém da comunicação de
forma mais ampla, oriunda das Ciências Sociais Aplicadas. A
reprodução do fazer, então, não deveria superar a visão de conjunto
que propicia a comunicação integrada.
A Comunicação Organizacional ou Integrada parece ser a área do
pensamento a partir da qual se podem refletir as ações mercadológicas e
que simultaneamente lhes dá base de sustentação. Nesse campo
encontramos o fazer-saber, que fundamentalmente deve ser amparado
por uma permanente busca de conceitos, de teorias, de instrumentos de
mensuração. Aí devemos encontrar um forte trabalho de pesquisa
desenvolvido pela academia e que vá ao encontro da realidade de
mercado. O campo da Comunicação, de modo geral, é
reconhecidamente complexo, como aponta Marques de Melo (2001, p.
95), citando Miège:
O pensamento comunicacional constitui-se [...] ao mesmo tempo, como contribuição de teóricos (geralmente rompendo com suas disciplinas ou escolas de origem) e como a sistematização de concepções que dependem diretamente da atividade profissional e social. É inútil procurar qual teria sido, das duas, a fonte dominante, além disso, podemos prever que tal co-produção acabará por se acentuar no futuro, mesmo contendo, às vezes, o risco de que não sejam respeitadas as exigências mínimas de qualquer trabalho intelectual que corresponda às indispensáveis regras metodológicas.
Entretanto, não se pode desconsiderar a área de ação, ou de
realização: Relações Públicas, segundo Bonilla (2001) é o conjunto
de atividades destinadas à promoção, entre a organização e seus
diversos pares na sociedade, de um relacionamento baseado em
mútua, permanente e recíproca compreensão e solidariedade, tanto
no âmbito econômico quanto no social. Todo esse processo sempre
em concordância com o objetivo maior da organização.
A Relações Públicas cabe o saber-fazer, a sistematização do processo
de aplicação da diversidade de ferramentas ou instrumentos –
tradicionais ou relacionados às novas tecnologias – que, pela
utilização de uma atividade-meio, permitem o planejamento
estratégico, entendido este como segundo
o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida péla empresa,
visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada (Rebouças de Oliveira, 2002, p. 47/8).
O objeto-fim do processo comunicacional desenvolvido pelas
organizações é a busca pela opinião pública favorável, o equilíbrio
entre os objetivos da organização e dos públicos com os quais ela
interage. De acordo com Lage (1998, p. 212),
a opinião pública resulta de interação entre os indivíduos. Logo, não pode ser explicada por suas ações ou opiniões prévias; na verdade, da troca de informações e de influências, que se acelera diante de fatos novos, resulta concepção da realidade que não existia antes.
Assim, a comunicação na organização deve ser vista, antes de tudo, como
uma ação processual e de resultados integrados. Quaisquer atividades,
sejam elas de fundo mercadológico, institucional ou interno, repercutirão
umas sobre as outras, mesmo que não exista uma intencionalidade.
Caberia aqui, então, um questionamento. Qual deles deve vir
primeiro: o planejamento estratégico geral da empresa ou o
planejamento estratégico de comunicação? Uma questão tão
complexa quanto simultânea. De acordo com o presidente da Burson-
Marsteller no Brasil, Ramiro Prudêncio, os comunicadores “deveriam
estar na mesa junto aos CEOs das empresas quando eles tomam
decisões e não ser simplesmente executores ou comunicadores de
suas decisões”. E, ainda segundo ele, aos profissionais de
comunicação cabe “ser formadores dessa decisão (...) trabalhando
junto à esfera mais alta da organização, para que os CEOs possam
considerar previamente os efeitos e os impactos comunicacionais de
qualquer decisão que tomem” (Duarte, Farias e Costa Filho, 2004, p.
114).
A resposta à pergunta formulada parece então ser mesmo de uma
não-hierarquia, de uma visão simultânea e complementar. Não deve
existir planejamento estratégico empresarial sem que se levem em
conta as características do processos comunicacionais, e o
planejamento comunicacional não se pode furtar à visão global, à
visão do todo da organização. Assim, mais do que hierarquia ou
temporalidade, parece que o fundamental seja a complementaridade.
Se existem terminologias diversas, o que se pode entender é que
está sendo pavimentado um caminho dentro de uma visão latino-
americana, com suas características muito próprias de uma
comunicação que ganha a cada dia mais personalidade e integração,
rumando para um modo de pensar que espelhe essa especificidade.
2.4.1. Comunicação e seus efeitos: integração e resultados
Nesse caminho pode-se propor a visão de um todo formado por partes
interconectadas, dialógicas, que sejam interdependentes: comunicação
interna, comunicação mercadológica e comunicação institucional (cf.
Quadro 3). As expressões comunicacionais têm, muito potencialmente,
características de atuação e instrumentos muito específicos, o que não
se deveria esquecer. Contudo, o que muitas vezes se percebe é que
trabalham em direções diferentes, sem a percepção da ação sinérgica
que deveriam ter. Esses questionamentos devem ter como ponto de
partida a idéia de que,
embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, a natureza do todo é sempre diferente da simples soma das partes. A natureza de qualquer sistema (...) deriva das relações entre seus componentes e relações do sistema com seu ambiente (Callenbach, 1993, p. 101).
E por que atuam desse modo com ações distintas? Talvez porque a
realidade organizacional seja demasiado complexa e dentro dela
existam permanentemente lutas por poder – o que está ligado às
relações sociais, pois são a sua origem e a sua forma de manifestação
–, por espaço, por conquistar aquilo que se entende como destaque.
Assim, muito se discute sobre quem deva tomar para si as ações com o
público interno, quem deva produzir os instrumentos de comunicação
com os públicos com os quais se tem relacionamento institucional etc.
Na busca por uma resposta a uma pergunta que não cala, os espaços
muitas vezes são disputados e não compartilhados.
A comunicação, desse modo, deveria ser iniciada mesmo entre os
elementos que se responsabilizam por sua realização. Se o objetivo é
uma comunicação integrada, então devemos pensar em agentes de
comunicação com atitude e planejamento integrados. Assim, mais do
que apenas uma discussão, é necessário mudar para uma visão
global, em que se entendam todas as ações e todos os agentes que
compõem a organização como elementos que dialogando, ou mesmo
que não o façam, se influenciam uns aos outros.
Enfim, a comunicação é vista e efetivada freqüentemente, ou de
maneira geral, com esforços isolados. Esse isolamento muitas vezes
pode fazer com que as ações se tornem antagônicas. Quase que
majoritariamente, mesmo em nossos dias, a comunicação
mercadológica ainda é tida por muitos como se fosse a mais
importante, a mais efetiva, a de melhores efeitos. Nesse aspecto
pode-se compreender o grande volume de esforços – e de verbas –
destinados à publicidade, por exemplo.
Quadro 3
Comunicação Integrada
Fonte: Kunsch (2003a, p. 151).
O pensamento se norteia quase sempre pela visão de que
os objetivos principais de uma campanha publicitária são aumentar a notoriedade da marca. E qual é a melhor maneira de aumentar a notoriedade [senão] fazer campanhas publicitárias que atraiam a atenção? (Ries e Ries, 2003, p. 67).
Ainda que alguns autores apontem para um possível declínio da
publicidade e que em muitos países isso, ao menos em termos de
investimento, possa acontecer, é sabido que a imensa maioria das
empresas busca destacar-se das demais por meio da exposição de
seu nome. Sem dúvida tornar-se conhecido é uma grande
possibilidade para fazer com que se opte por um ou por outro
produto. Mas será que somente isso basta? Parte-se mais uma
vez da visão do todo, de que comunicação influencia vendas,
Comunicação
OrganizacionalCOMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA
COMUNICAÇÃO ADMINISTRATIVA/INTERNA
Relações Públicas Jornalismo empresarial
Assessoria de imprensa Editoração multimídia
Imagem corporativa Propaganda institucional
Marketing social Marketing cultural
Fluxos; redes formal e informal; veículos
Marketing Propaganda Promoção de vendas Feiras e exposições Marketing direto Merchandising Venda pessoal
produção, contabilidade, publicidade, marketing, pesquisa e
desenvolvimento e todo o resto.
A relação entre os elementos da comunicação muitas vezes pode ser
vista de maneira isolada. E isso não apenas pelos que trabalham
junto ao mercado, que se encarregam das relações com esse
segmento de público, mas também pelos que detêm a
responsabilidade de criar e manter relações de comunicação entre a
organização e seus públicos internos e/ou institucionais.
É claro que não se discute aqui a importância e a necessidade de uma
marca forte e presente. No entanto, em tempos de globalização, os
tradicionais pontos de análise do composto de marketing de Jerome
McCarthy não podem ser vistos de forma tão absoluta. Até que ponto as
condições clássicas de análise de um produto ou de um serviço conseguem
de fato fazê-lo diferente entre os demais a ponto de a escolha, no
momento da aquisição, recair sobre ele? No instante em que um
consumidor detecta uma necessidade de compra, sempre deverá – ainda
que isso possa acontecer de maneira inconsciente – ter algumas
informações claras sobre o que deseja/precisa. É claro que isso pode cair
por terra total ou parcialmente no caso de uma compra por impulso ou por
conveniência.
A primeira observação diz respeito ao tipo de produto que irá atender
sua necessidade. Para cada problema pode-se apresentar um
conjunto de soluções. A resposta pode ser dada por um grande
número de produtos em nossos dias. A cada hora a quantidade de
ofertas entre produtos concorrentes aumenta. A partir do momento
em que se detecte qual (ou quais) dentre os produtos disponíveis
possa satisfazer melhor a necessidade ou o desejo, um outro item
fundamental deverá ser observado: o preço. A análise da relação
custo-benefício pode vir mesmo antes da realização da pesquisa
acerca do produto. Entretanto, mesmo se o fator primordial de
decisão for o preço, ainda assim haverá uma boa possibilidade de
escolha no rol disponível dentro da referida faixa.
O terceiro item – não se deve entender que haja necessariamente uma
condição de hierarquização, pois pode haver um processo simultâneo ou
de fato uma eventual hierarquia entre os itens aqui destacados – é a
acessibilidade ao produto. Aquilo que se faz disponível, por meio de uma
boa distribuição, ganha a força de sua presença.
Ocorre, contudo, em diversas situações, um empate técnico entre
todos esses fatores, o que direciona a responsabilidade pela decisão
para o campo externo às condições de produção, venda e
distribuição, momento em que a comunicação pode ser o fator
persuasivo determinante. A partir de estratégias de publicidade, de
propaganda, de promoção de vendas, de merchandising, é possível
diferenciar um produto de outro, agregando-se o valor de uma marca,
que pode revestir o produto e dar-lhe o diferencial competitivo
necessário para torná-lo único no momento da escolha. Cabe reforçar o
conceito de que a marca seja mesmo uma embalagem imaginária que
reveste o produto e lhe confere possíveis valores agregados.
Entretanto, nos diversos campos mercadológicos a concorrência hoje
também se dá por meio de marcas. Além de produtos altamente
desenvolvidos, marcas valiosas vêm sendo construídas, com maciços
investimentos, buscando a ampliação de share of mind para que
resulte em conquista de share of market. Se dois produtos em nível
de equivalência têm preço e condições de venda, distribuição,
embalagem e marca (a embalagem imaginária do produto) que criem
a percepção de equilíbrio aos olhos do consumidor, podemos
entender que seja necessária a criação de elementos diferenciais que
possam agregar ao discurso do produto um “algo mais”, que lhe
acrescente – ou amplie – a noção de utilidade marginal.
Nesse momento pode ser que o caminho seja acrescentar uma nova
embalagem à marca, que já reveste o produto e pode, então, ser
recoberta de maneira transparente, mas efetiva, por uma imagem
institucional sólida e coerente. Para isso o planejamento estratégico
deve se servir das mensagens institucionais vindas do
produtor/fornecedor. A imagem institucional permite a identificação
do produto e de sua marca com valores oriundos de uma
organização, dando personalidade ao discurso.
A imagem institucional, por seu tempo, não deve surgir de uma
construção isenta da realidade organizacional. Ao contrário, deve ser
fruto dela. De acordo com Costa (1995, p.45),
imagem é a resultante da identidade organizacional, expressa nos feitos e nas mensagens. Para a empresa a imagem é um instrumento estratégico, um conjunto de técnicas mentais e materiais, que têm por objetivo criar e fixar na memória do público, os ‘valores’ positivos, motivadores e duradouros. Estes valores são reforçados ao longo do tempo (reimpregnação da mente) por meio dos serviços, as atuações e comunicações. A imagem é um valor que sempre se deseja positivo – isso é, crescente e acumulativo –, e cujos resultados são o suporte favorável aos êxitos presentes e sucessivos da organização.
Se por vezes e para alguns a imagem pode não ser o mais importante,
talvez em alguns momentos possa ocorrer exatamente o contrário,
passando a ser tudo. Aqui não se prega que a forma deva informar o
conteúdo, de modo ligeiro, raso. A imagem deve exatamente ser o
conteúdo manifestado por sua imagem: um processo de ação
(conteúdo) e reação (mensagem percebida ou imagem).
O equilíbrio entre a imagem e a realidade é fundamental e cabe ao
profissional de comunicação muito mais do que a simples noção de
construí-la ou administrá-la. Muitas vezes cabe, antes de mais nada,
compreendê-la. Se a imagem é algo absolutamente relativo à
percepção, mais uma vez voltamos à compreensão do público
estratégico para a organização, de suas características, de suas
percepções, das diversas informações impregnadas em sua mente,
em sua comunidade, em sua sociedade, que serão responsáveis por
uma percepção seletiva. Segundo Nosnik (2000, p. 81),
é característico do modo de usar a informação que o receptor seja considerado, desde o ponto de vista humano, tão capaz e dinâmico como os possíveis emissores; deve-se destacar que a forma ou estilo de processar a informação do receptor; é importante tomar em conta a situação em que o receptor recebe a informação de seu emissor ou fonte.
Para determinadas categorias de pessoas, de profissões e de
empresas já existe uma imagem preestabelecida – boa ou má – e
não necessariamente sobre bases de conhecimento real. Isso pode
ser cômodo em algumas situações, mas o preço de uma cobrança
pela opinião pública sobre uma imagem que não corresponda à
realidade da organização pode se tornar alto demais. Para
determinadas organizações também a sua auto-percepção é algo já
predeterminado, já conformado. A comunicação vista como conjunto
poderá buscar em seus instrumentos a capacidade de conhecer a
verdadeira realidade, a opinião existente e levar à organização a
possibilidade de conhecer onde de fato está colocada diante dos
olhos dos públicos aos quais está ligada.
E como de fato se conhecer? As pesquisas e auditorias podem fazer com
que o autoconhecimento deixe de ser uma opinião e passe a ser uma
verificação baseada em dados coerentes, a partir de metodologias
efetivas e eficientes. Além disso, outras estratégias devem compor o
portifólio do planejamento. Afinal, os objetivos e as metas de uma
organização somente podem ser alcançados se há clareza de onde ela
vem e para onde vai, de quais são os seus princípios institucionais.
O porquê da existência de uma organização é a sua missão, de onde
veio, as razões que a fizeram existir. Para Djalma P. Rebouças de
Oliveira (2002, p. 128), missão “é a razão de ser da empresa. Nesse
ponto procura-se determinar qual o negócio da empresa, por que ela
existe, ou, ainda, em que tipos de atividades (...) deverá concentrar-se
no futuro”. Ainda segundo Rebouças, a missão também “é uma forma de
se traduzir determinado sistema de valores em termos de crenças ou
áreas básicas de atuação, considerando as tradições e filosofias da
empresa”.
Quanto à visão, trata-se das expectativas da organização, da
maneira como se articulam seus propósitos – objetivos e metas –
dentro de um pensamento macro, que possa delinear o seu futuro.
De acordo com Rebouças de Oliveira (2002, p. 88),
a visão é conceituada como os limites que os proprietários e principais executivos da empresa conseguem enxergar dentro de um período de tempo mais longo e uma abordagem mais ampla. Nesse contexto, a visão proporciona o grande delineamento do planejamento estratégico a ser desenvolvido e implementado pela empresa. A visão represente o que a empresa quer ser.
O equilíbrio entre as diversas atuações mercadológicas e a proposta
institucional, entendida por seus princípios institucionais, deve criar a
ponderação entre a imagem e a identidade, revertendo valores
positivos à marca e ao produto.
Quando a identidade é forte, claramente diferenciada e gerenciada, chega a formar parte da personalidade original da empresa e, então,
resulta em ‘estilo’. A esse estilo – dito em sentido amplo – pode-se chamar, com propriedade: imagem (Costa, 1995, p. 43).
A cada tempo cresce a necessidade de uma assinatura corporativa que dê
crédito mais amplo à marca. Se é preciso aumentar a parcela de
mercado, com acréscimo de faturamento, isso ocorre justamente em
função do fato de que a organização produtora necessita ampliar seu
patamar de satisfação de necessidades, indo além da busca da
sobrevivência. E isso se aplica a todas as organizações, tenham elas
finalidade de lucro ou não.
Para que isso resulte em sucesso, é necessário que se ofertem
produtos e serviços que sejam revestidos por uma marca forte, como
já foi dito. Todavia, a crescente concorrência em todos os segmentos
de atuação leva a pensar que só a construção de uma comunicação
mercadológica não seja suficiente para dar destaque e prioridade a
um setor. Cada vez mais se faz necessário, então, o diferencial, o
valor extra, agregado e diretamente associado.
O posicionamento da marca passa, assim, pela imagem absorvida
por um determinado segmento de público em relação à organização
ou ao setor. Essa imagem, por assim dizer, constrói-se a partir da
identidade. A identidade, por sua vez, origina-se da cultura
organizacional, que, para Srour (1998, p. 174), é “um conjunto de
padrões que permitem a adaptação dos agentes sociais à natureza e
à sociedade à qual pertencem, e faculta o controle sobre o meio
ambiente”. Segundo Giangrande e Figueiredo (1997, p. 61), “cada
empresa tem sua própria cultura, formada por normas e
procedimentos que regem a conduta dos funcionários”.
Cabe ressaltar que a cultura é dinâmica, em permanente
transformação à medida que o seu ambiente interno e aquele em que
a organização está inserida se transformam. Em tempos de
globalização a influência sofrida e exercida por todo tipo de
organização é crescente, tanto no âmbito externo quanto no interno.
Essa dinâmica nas relações estabelecidas com o mercado, desde o
surgimento da necessidade de um produto ou serviço, até a efetiva
aquisição de um que esteja disponível no diversificado portifólio, leva
a crer que de fato há toda uma lógica entre os diversos caminhos
existentes na comunicação. Isto desde a parte interna (que responde
pelas promessas feitas pela organização e está diretamente
associada aos códigos, às estruturas, às funções e ao uso da
linguagem, aos significados, aos contextos e à intertextualidade
presentes na organização) até o mercado (que permite a sustentação
da empresa por meio da obtenção de recursos e os diferenciais que
ela apresente para as diversas categorias de público com os quais se
relaciona, independentemente das relações mercadológicas, tais como
governo, imprensa, lideranças de opinião, comunidade, entidades
representativas etc.). O composto de percepções acerca de uma
organização é que vai dar sustentação a seu crescimento e até à sua
manutenção.
Conclui-se a partir daí que produto, marca e instituição são
indissociáveis, formando uma pirâmide de sustentação para a
atuação institucional/organizacional e para a concorrência de
mercado (cf. Quadro 4). Todas as emanações comunicativas se
transformam em um conjunto de percepções, impregnadas das ações
formais e informais, verbais e não-verbais.
2.4.2. Públicos estratégicos
Se a organização precisa convencer seus diversos públicos quanto à
sua unicidade e a seus diferenciais, pode ser que nesse momento ela
também precise se convencer da unicidade e dos diferenciais desses
públicos com os quais interage. O processo, então, é contínuo,
circular, dinâmico.
Conhecer os diversos públicos pode permitir à organização a
definição de caminhos estratégicos para comunicar-se com eles. A
identificação dos grupos para os quais se enviam as mensagens é tão
importante quanto a sensibilização da organização para os temas
prioritários que orientam as discussões desses grupos.
A responsabilidade da organização quanto aos diversos assuntos que
permeiam a pauta pública pode tornar-se valor agregado à sua
mensagem, tanto do ponto de vista promocional quanto do
institucional. Para tanto conhecer os públicos, mapeando-os e
percebendo as suas características mais específicas, pode
transformar-se em diferencial competitivo.
Ao mesmo tempo em que os grupos devem ser compreendidos, a
inter-relação existente entre eles também é fundamental no
planejamento da comunicação de forma global. Quando se planeja
uma ação para a comunidade, não se pode deixar de lado a
influência disso sobre os meios de comunicação de massa; se o foco
da ação é o consumidor final, não se pode ignorar o público interno,
formado pelos profissionais responsáveis pelo cumprimento das
promessas feitas pela organização. Assim, a avaliação dos diversos
processos em que os públicos influenciam direta ou indiretamente é
de suma importância para o planejamento da organização.
Quadro 4
Pirâmide de sustentação organizacional
RREECCEEIITTAA ↓↓
PPRROODDUUTTOO ↓↓
MMAARRCCAA
↓↓
IIMMAAGGEEMM IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAALL ↓↓
IIDDEENNTTIIDDAADDEE CCOORRPPOORRAATTIIVVAA ↓↓
CCUULLTTUURRAA OORRGGAANNIIZZAACCIIOONNAALL ∴∴
((MMAARRCCAA++PPRROODDUUTTOO++IINNSSTTIITTUUIIÇÇÃÃOO)) ==
RREESSUULLTTAADDOOSS// MMEERRCCAADDOO Fonte: Farias, 2003, p. 75.
Desse modo a agenda de cada público influenciará fortemente as
demais agendas, bem como a percepção sobre o planejamento global
da própria organização, que deve se servir da comunicação como um
de seus elementos constitutivos à mesa de negociações, momento no
qual é gerado todo o planejamento e são definidos objetivos e metas.
A participação da comunicação permitirá orientar melhor os modos
como os públicos serão envolvidos no processo e como a opinião
pública poderá ser trabalhada de modo favorável.
2.5. As organizações com posicionamento de mudança
O resultado de uma política de compreensão dos públicos e de uma
visão integrada das ações e políticas de comunicação, de maneira
estratégica, é a criação de organizações em que as pessoas aprendem a
expandir continuamente a sua capacidade de criar os resultados que
verdadeiramente desejam e onde a aspiração coletiva é libertada.
O significado de hierarquia não pode vir dissociado do sentido de
aprendizagem e de evolução contínuas. A gestão dos processos
comunicacionais se dá, sem dúvida, por especialistas, que conduzirão
os processos, aplicarão os instrumentos de pesquisa, de execução e
de mensuração de resultados, mas a contribuição das diversas
lideranças poderá significar o sucesso ou o fracasso de um
determinado planejamento.
O planejamento, por sua vez, também necessita uma visão integrada
e integradora, na qual todo o tempo seja permeado pela reflexão de
cada atividade e pela consciência de que todas as atividades, de
forma intencional ou não, estarão associadas. Acredita-se, assim,
que a comunicação também pode ser um elemento fundamental na
mudança dos processos de percepção, como, por exemplo, a
mudança de paradigma do ‘poder sobre’ para a experimentação do
‘poder com’ (compartilhado).
A doutrina organizacional que considera o modelo estrutural como o
seu ponto de apoio essencial precisa passar por grandes
questionamentos. Esses questionamentos partem de líderes
reconhecidos internacionalmente pela sua capacidade de revolucionar
o mundo organizacional com pensamentos e ações vencedores.
O que esses líderes de empresa pioneiros começam a perceber é que
organizações excessivamente dependentes desse modelo não
conseguirão manter grandes expectativas. As razões mais evidentes
para isso se sustentam no fato de que essas empresas estão
habituadas a olhar para uma imagem de um líder mitificado como
Prometeu, além de negligenciar a criatividade de níveis
intermediários e de dar pouca atenção ao mercado, esquecendo-se
que a comunicação é por excelência um ato de observação que altera
o observado e se altera simultaneamente ao ser observada.
Então, o conhecimento e a transformação graduais e contínuos na
cultura das empresas é que permitirá encontrar respostas
satisfatórias para boa parte das indagações e construir um
discurso que fale para todos exatamente aquilo que se pode
reconhecer como diferencial e único de cada organização. Mais à
frente (capítulo 4) alguns indicadores poderão ser encontrados,
pois as expressões de algumas das mais importantes referências
nos campos de Comunicação Organizacional e de Relações
Públicas o constituem. É nesse capítulo que se buscará entender o
pensamento dos agentes e pesquisadores dos campos, em muitos
casos com atuação híbrida, assim como parecem ser os próprios
campos, em muitos momentos.
2.6. Mercado de prestação de serviço: agências/assessorias
O Brasil, desde a década de 1980, parte para a reabertura política
que incrementou o mercado de prestação de serviço em
Comunicação. Um país que não tenha liberdade de expressão,
como foi o caso brasileiro ao longo de boa parte da década de
1960, e ainda de parte da de 1980, não teria por que haver
incremento em Comunicação. A reabertura permitiu isso. Até
então o que se poderia ver com freqüência era mesmo
propaganda mantida pelo governo.
O forte movimento se deu por conta da criação de um sem-número
de assessorias de imprensa, em um modelo muitas vezes conturbado
pela dupla atuação de um novo agente desse segmento, o jornalista,
que muitas vezes atuava na redação e nas assessorias, em uma
atitude claramente equivocada (Duarte, 2002).
As assessorias, hoje, mantêm fortemente o produto assessoria de
imprensa, mas parecem movimentar-se para um portifólio mais
amplo, deixando de lado o pejo de serem organizações
“monoinstrumentais” e passando a trabalhar o conceito de Relações
Públicas mais adequadamente.
Nesse cenário destaca-se a Abracom (Associação Brasileira de
Agências de Comunicação)12, que tem feito um trabalho de criação
de identidade para o segmento. Enquanto a entidade conta com 211
agências associadas, o mercado, segundo estimativa dos
especialistas tem cerca de 1.000 agências no Brasil e
aproximadamente 600 somente no Estado de São Paulo.13 Quanto às
agências de Relações Públicas registradas no Conselho Federal dos
12 Para mais informações pode-se consultar o site www.abracom.org.br. 13 Os números não são oficiais, mas são estimativas oriundas de sondagens com diversos profissionais especializados no segmento de assessorias.
Profissionais de Relações Públicas (Conferp), dividido em seis
regiões, somam um total de 145, das quais 99 estão em São Paulo.14
Essas agências têm perfis bastante variados, desde o portifólio de
produtos que oferecem até mesmo o custo da prestação de serviço,
além do número e do perfil dos funcionários, da estrutura física e
material etc. Agências com sede na residência do assessor15
convivem com multinacionais altamente equipadas e alocadas em
sofisticados conjuntos comerciais.
Em 1976, chegou ao Brasil a primeira agência multinacional, a
Burson-Marsteller, mas isso não significou uma mudança significativa
no cenário, pois hoje há somente três multinacionais com filiais em
solo brasileiro16, número bastante reduzido, se levarmos em
consideração que a primeira instalação se deu há três décadas.
Na década de 1990, presenciou-se a mudança no formato do
mercado de assessorias a partir de associações e acordos
operacionais feitos entre agências brasileiras e estrangeiras,
especialmente americanas.
No México o termo Comunicação Organizacional, assim como no
Brasil, não leva à existência de agências, assessorias, empresas com
essa terminologia, ao menos de forma explícita, grafada em seus
nomes. O que se pode encontrar são mesmo agências cujos serviços
e nomenclatura remetam a Relações Públicas.
14 Dados disponíveis em www.conferp.org.br. Acesso em 7/2/2006. 15 Ainda que não existam estatísticas a respeito do número de agências com pouca estrutura e baixo nível de profissionalização, sabe-se que há muitas que, apesar de não ofertarem as mesmas condições que as agências mais estuturadas, chegam a concorrer com estas em determinados segmentos. 16 As agências de Comunicação/Relações Públicas presentes no Brasil são: Burson-Marsteller e Hill and Knowlton (ambas do grupo WPP), além da Edelman.
De acordo com o estudo exploratório realizado em solo mexicano,
é apontada a existência de cerca de cem agências em todo o país,
com base em profissionais da academia e das agências que
ouvimos. A publicação indicada por alguns profissionais como
possível ponto de encontro dessas agências, o Directorio de
Agencias y Anunciantes (2004), editado pelos Directorios
Publicitarios MPM, aponta apenas 23 agências que podem ser
enquadradas na categoria de estudo desta tese.
Sabe-se que não são todas as assessorias que participam da
publicação, por tratar-se de espaço pago, mas ainda assim pode-se
crer que seja um número substancialmente baixo para um país com
as dimensões do México. Os diversos profissionais entrevistados
foram categóricos ao informar que o mercado, nesse segmento, é de
fato pequeno, até mesmo porque as projeções em termos de número
de agências foram exatamente iguais entre todos os ouvidos.
Se o mercado de agências no Brasil e no México é tão díspar, por
outro lado percebe-se também junto às assessorias mexicanas uma
presença ainda reduzida de empresas estrangeiras, notadamente as
norte-americanas, o que seria de se esperar em função da vizinhança
entre esses dois países.
3. México e Brasil: Comunicação Organizacional e Relações
Públicas
Os dois países escolhidos como espaços de análise, como loci da
pesquisa, demonstram o seu potencial no cenário em que atuam,
simultaneamente a uma realidade interna que tem muitas
fragilidades, marcadas que são por um fio histórico que remete à
construção de dois países explorados e com momentos delicados nos
seus processos de desenvolvimento e atacados em sua democracia.
Os sistemas de comunicação, todavia, denotam países nos quais a
comunicação de massa tem espaço garantido, forma conhecida,
penetração substancial. Trata-se de um espaço mais facilmente
associado à Publicidade, mas também é uma rota essencial para a
comunicação das organizações.
Hoje a opinião pública passa a ser cada vez mais influenciadora das
ações e dos discursos organizacionais, os quais não podem ser
construídos apenas e tão-somente por ações mediadas por inserções
publicitárias, cuja credibilidade tem sempre a reboque a difícil crença de
que qualquer organização possa trazer a público as suas próprias burlas.
Na comunicação feita por meio de ações institucionais, se estas também
se servem dos espaços midiáticos de largo alcance, têm neles ao mesmo
tempo um efetivo avaliador de sua conduta, um crítico a priori.
A profissionalização do modo de produção da comunicação vem
exatamente a reboque de uma construção do campo do saber, da
possibilidade de se refletir de forma mais apurada sobre as práticas
diárias e exaustivas do mercado de trabalho. A academia, desse
modo, sustenta – ou pode sustentar – o pensamento que não tem
espaço na velocidade do mundo das práticas.
Agências e departamentos, especialmente, têm como missão buscar
equilíbrio entre organização e públicos. Têm, do mesmo modo, que
ajustar o discurso à realidade, ao entorno, à própria mídia. Esse fio
condutor entre organização – se possível a partir de políticas de ação
baseadas na comunicação integrada – e sociedade cria demandas e
resultados que podem aproximar o universo da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas ao do dia-a-dia das organizações.
Entende-se, pois, que o locus e os campos permitam comparações,
análises e, sobretudo, diálogo.
O capítulo seguinte terá como finalidade explicitar as diversas
interpretações acerca dos campos, conceituando as Relações Públicas e
a Comunicação Organizacional a partir de revisão bibliográfica e
buscando-se delimitá-las efetivamente como campos. Para isso são
utilizados autores entendidos como referenciais tanto no México quanto
no Brasil, não deixando de lado aqueles que, europeus ou americanos,
contribuíram para a pesquisa e a delimitação desses campos.
Capítulo 2
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E
DELIMITAÇÕES CONCEITUAIS
DOS DOIS CAMPOS
Relações Públicas e Comunicação Organizacional: campos
independentes ou inseridos um no outro? Os espaços muitas vezes
compartilhados tanto no universo organizacional quanto no
acadêmico suscitam recorrentemente a idéia de superposição ou
similitude, e ainda de partes integradoras de um todo. Em suma,
uma área inserida na outra; quiçá duas nomenclaturas para um
mesmo significado. Qual seria a exata dimensão de ambos os
termos?
1. Por um entendimento do campo Ainda que não exista um consenso, entende-se em princípio que se
tratem de dois campos, permeáveis entre si, dialógicos, com relação
complementar, mas com produção e conceituações próprias. Seja do
ponto de vista de produção intelectual (livros, dissertações, teses,
conceitos, teorias), seja do ponto de vista prático, ligado ao mercado
de trabalho (práticas profissionais, metodologias, instrumentos,
tecnologias), há massa crítica capaz de sustentar que ambas sejam
campos independentes, ainda que com claras interfaces e com
grande influência um sobre o outro.
Antes que se encaminhe à tentativa de entendimento dos
questionamentos expostos – com uma possível conclusão ou
proposição –, e como primeiras reflexões neste capítulo, cabe discutir
o conceito de campo, antes mesmo de buscar compreender se
Relações Públicas e Comunicação Organizacional podem ser
entendidas como campos – independentes entre si ou integradoras
de um só campo. Além da reflexão sobre a idéia de constituição de
campo, cabe refletir se o corpus resultante de cada uma das duas
áreas é complementar ou permite a interpretação de independência.
Partindo-se da idéia de campo como uma “estrutura de relações
objetivas” que pudessem “explicar a forma concreta das interações”,
manifesta por Pierre Bourdieu (2003, p. 66), permite-se indagar e
analisar os campos acadêmico e profissional – relacionados a
Relações Públicas e a Comunicação Organizacional –, que talvez
possam ser vistos como complementares e dialógicos, em primeira
análise. Tanto nas características próprias, assumidas a partir do
habitus – a interiorização de um conjunto de sistemas que peculiariza
os componentes desse campo (Bourdieu, 2004, p. 117) –, quanto na
caracterização de um corpus – de um conjunto de produções que se
relacionem a eles. Pode-se entender o campo acadêmico como a
relação de instituições de nível superior que atuam no âmbito do
estudo e do ensino em comunicação, espaço no qual se dá a
produção e a troca simbólica de conhecimento, bem como a
formação de profissionais. Logo, diretamente associada à idéia de
formação de campo profissional – espaço da prática, do fazer, do agir
e da crítica pela ação, da produção de um corpus técnico –,
relacionado à atuação no universo organizacional.
Para Bourdieu (2004, p. 186)
é necessário determinar previamente as funções de que se reveste este corpus no sistema das relações de concorrência e de conflito entre grupos situados em posições diferentes no interior de um campo intelectual que, por sua vez, também ocupa uma dada posição no campo do poder.
Talvez se possa crer que haja mesmo uma dicotomia entre o campo
profissional e o acadêmico, motivado possivelmente pelas questões
de poder, de disputa de espaços, de busca de hegemonia, podendo-
se chegar a situações de violência simbólica entre as partes. Em
acordo com isso Maria Immacolata Vassallo de Lopes declara que “o
campo científico é um campo de força, de luta e os agentes do
campo buscam seu espaço”17. Seja por questões práticas, seja por
questões simbólicas. De acordo com Graça Caldas (2003, p. 16) “o
mercado, que demanda profissionais polivalentes, com características
de formação multimídia e capacidade de atuação em diferentes
áreas, tenta muitas vezes desqualificar a universidade”.
A universidade, em alguns momentos, e por alguns de seus agentes,
pratica a reciprocidade no sentido de minimizar a importância e a
relevância do chamado mercado. Todavia entendemos que ambos,
simultaneamente, constituem parte integrante e estruturante de um
campo intelectual, e são inquestionavelmente complementares e
indissociáveis, pois ocupam partes de um todo. Para Lopes (2001, p.
72) isso se dá porque
o núcleo da práxis científica é um processo de trabalho e o produto desse trabalho é o conhecimento. Vimos que esse produto resulta de um complexo sistema de decisões que é
17 Citação feita por Lopes a partir de Bourdieu, em palestra durante o I Fórum de Pesquisadores de Relações Públicas e Comunicação Organizacional, realizado na ECA-USP, em 15/10/2005.
atualizado no processo de investigação. A estrutura de tal sistema reflete certa organização do controle do trabalho científico e, portanto, determinada configuração de relações sociais entre a comunidade científica e a realidade em que se insere.
Essa realidade nem sempre é compreendida de forma clara e
adequada. A não-compreensão estimula não apenas a diáspora como
também dificulta o aproveitamento dos conhecimentos gerados por
meio da pesquisa e também da prática, criando um hiato de
continuidade e de aproveitamento, seja das descobertas e reflexões,
seja dos problemas e seus encaminhamentos, fonte nata para a
pesquisa e novas reflexões.
O campo científico, todavia, é espaço de construção e por assim ser
torna-se também terreno potencialmente belicoso. Para Renato Ortiz
e Florestan Fernandes (1994, p. 136),
o campo científico é sempre o lugar de uma luta mais ou menos desigual, entre agentes desigualmente dotados de capital específico e, portanto, desigualmente capazes de se apropriarem do produto do trabalho científico que o conjunto dos concorrentes produz pela sua colaboração objetiva ao colocarem em ação o conjunto dos meios de produção científica disponíveis.
Em determinados espaços essa “desigualdade” torna-se ainda mais
evidente, seja pelas condições gerais ofertadas ou disponíveis, seja pela
maior separação entre as partes constitutivas do campo em questão.
De acordo com José Marques de Melo (2001, p. 91),
qualquer campo do conhecimento humano surge como conseqüência das demandas coletivas. Trata-se da resultante de um processo destinado a compreender e controlar os fenômenos sociais emergentes. Começa na base da sociedade, robustecido pelo senso comum. Amplia-se e
desenvolve-se no interior das organizações profissionais, culminando com a sua legitimação cognitiva por parte da academia.
A demanda, que pode levar à formação dos campos de conhecimento
também é a demanda que permite o estímulo às práticas profissionais
quotidianas. No entanto, há em muitos casos a tendência de que uma
ignore a outra. Isso talvez possa se dar pela falta de proximidade, de
compreensão da inter-relação entre os campos.
Tratando-se de uma pesquisa dentro das Ciências da
Comunicação, que integram as ditas Ciências Sociais Aplicadas,
fica claro que o objeto de estudo “é dinâmico e mutável porque os
problemas estudados são fenômenos históricos, instituições,
relações de poder, classes sociais, manifestações culturais”
(Lopes, 2001, p. 37). Tanto a Comunicação Organizacional quanto
as Relações Públicas estão incorporadas no interior da
Comunicação, a qual é, por excelência, uma área interdisciplinar,
e isso lhe atribui uma enorme complexidade e ao mesmo tempo
uma grande riqueza de possibilidades de exploração do
pensamento a partir da existência de diversos caminhos a serem
trafegados. Esse dinamismo e essa mutabilidade devem dar à
pesquisa contornos atuais, permitindo tentar entender os
conceitos e a evolução da Comunicação Organizacional e das
Relações Públicas nos cenários brasileiro e mexicano,
entendendo-se as peculiaridades de ambas e em relação aos dois
países.
Cabe uma ressalva, em relação ao posicionamento de Bourdieu
(2004) sobre a tendência dos pesquisadores de se concentrarem em
problemas considerados mais importantes, ou que possam capitalizar
o seu trabalho por meio de lucro simbólico. Aqui a importância é
vista sob o ponto de vista da necessidade de se constituir estudo
sobre os campos das Relações Públicas e da Comunicação
Organizacional, em seqüência a trabalhos já realizados acerca do
tema, mas cujo diálogo abrangendo os dois países, nesse recorte
específico, parece inexistir. Ainda parece haver uma carência em
relação às interpretações e às autopercepções identitárias tanto no
campo acadêmico quanto no campo profissional. Isto vulnerabiliza o
crescimento dos campos e os fragiliza diante de outros campos,
permitindo que se dêem momentos de violência simbólica, com a
penetração dos campos por outros campos acadêmicos e
profissionais – marketing, jornalismo etc. – mais bem identificados
por seu corpus e pelo habitus de seus praticantes, que, ao contrário,
não se mostram expugnáveis pelas Relações Públicas e pela
Comunicação Organizacional, tanto na reflexão e na produção
teóricas quanto na prática profissional.
Quanto à mutabilidade antes citada, ela é ainda maior por se tratar de
dois países – Brasil e México – com características de identidade muito
próprias a partir de uma formação histórica e um desenvolvimento sócio-
político e econômico marcado por grandes diferenças e fortes marcas da
hibridização de povos e culturas muito distintos. Néstor García Canclini
(2003) discute essas questões à luz dos paradoxos formadores do dia-a-
dia das populações latino-americanas, em especial, que vivem
diuturnamente influenciadas pelos adventos da modernidade e
simultaneamente pelas raízes culturais dos povos seminais da América.
Desse modo parece que falte uma identidade mais consolidada, tanto no
âmbito acadêmico quanto no profissional. Nos dois países as Relações
Públicas e a Comunicação Organizacional talvez ainda careçam de pleno
reconhecimento público como áreas do conhecimento. Mas é possível
acreditar que no Brasil as condições de ambas estejam mais consolidadas
e mais estabelecidas, seja pela imagem junto aos públicos envolvidos,
seja pelo próprio estabelecimento institucional do campo, por meio de
cursos superiores, pós-graduação, pesquisa e literatura disponível.
As origens dos campos, em ambos os países, são norte-americanas,
tanto de produção intelectual quanto de práticas e fazeres
organizacionais, gerando uma necessidade de identificação de
pensamentos e práticas nacionais para os dois países, talvez
constituindo uma forma de pensar e de fazer latino-americanas – o
que não será discutido, mas apenas pontuado, pois a amostra
escolhida não permite extrapolação para o universo latino-
americano.
Para dar início às reflexões sobre o tema e um possível aspecto de
comparação, partimos do pressuposto de que tanto Relações Públicas
quanto Comunicação Organizacional tenham, em certa medida,
independência ou interfaces. Para que se possa pontuar tanto uma,
quanto outra, entendendo-as cada uma como sendo um campo,
neste capítulo serão apresentados os principais conceitos relativos às
Relações Públicas, em um primeiro momento, e, em seguida, à
Comunicação Organizacional, buscando-se discutir a possibilidade de
aferir as duas áreas segundo padrões de entendimento próprios,
ainda que potencialmente complementares, por meio da análise de
suas percepções e da comparação destas.
A discussão a respeito dos conceitos de Comunicação Organizacional
e de Relações Públicas é o primeiro passo para que se chegue à
reflexão em torno do campo, o qual não poderá dissociar os
conhecimentos teóricos nem tampouco o conceito de práxis18. Ainda
é possível que, dentro do pensamento de um campo de
comunicação, talvez se possam entender como subcampos ou
subáreas tanto as Relações Públicas quanto a Comunicação
Organizacional, como propõem Ivone de Lourdes Oliveira e Carine F.
C de Paula (2005)19.
Os diversos olhares sobre Relações Públicas e Comunicação
Organizacional trazem a ambas percepções distintas, seja do ponto
de vista de complementaridade e interfaces, seja do de paralelismo e
independência, seja no sentido de conter e estar contida. O estudo
exploratório realizado ao longo desta pesquisa pôde contribuir para
clarificar essa posição de multiplicidade ou, em certa análise, de
confusão conceitual acerca da temática.
Talvez o que de fato fique claro é que tanto a Comunicação
Organizacional quanto as Relações Públicas estão íntima e
diretamente ligadas às organizações – de primeiro, segundo ou
terceiro setores –, definidas por Morgan (1996, p. 17) como
fenômenos complexos e paradoxais que podem ser compreendidas de muitas maneiras diferentes. Muitas das nossas idéias assumidas como certas sobre as organizações são metafóricas, mesmo que não sejam reconhecidas como tal. (...) Enquanto algumas metáforas se referem a formas habituais de pensar, outras desenvolvem descobertas e perspectivas que são bastante novas.
Pode-se ainda entender as organizações, segundo Robert H. Srour
(1998, p. 108), como “agentes coletivos, à semelhança das classes
sociais, das categorias sociais e dos públicos, [e que] são planejadas
de forma deliberada para realizar um determinado objetivo”. Nesse 18 Conjunto de atividades humanas que permite criar as necessárias condições de existência da sociedade e das atividades produtivas. 19 As autoras estendem sua reflexão ao Jornalismo e à Publicidade e Propaganda como subcampos da Comunicação.
sentido pode-se entender que o papel de Relações Públicas e da
Comunicação Organizacional seja o de promover entendimento nos
ambientes complexos e de potencializar a consumação dos objetivos
de forma harmônica, lembrando que no conceito de organização se
identificam: “(...) o ser humano, a realização de atividades, a divisão
do trabalho e/ou especialização, o intercâmbio de informação, a
hierarquização e os objetivos comuns” (Bonilla, 2001, p. 15).
A necessidade de harmonia é uma condição sine qua non para o
desenvolvimento das organizações, visto que a “relação de simbiose
entre comunicação e organização provoca que o estilo da
comunicação formal, e da informal, condicione a estrutura
organizacional” (Bonilla, 2001, p. 41) e, ainda, que “(...) a comunicação
é um fenômeno que se dá naturalmente em toda organização, qualquer
que seja seu tipo ou seu tamanho” e “não é possível imaginar uma
organização sem comunicação” (Rodríguez de San Miguel, 1996, p. 30).
Essa comunicação existente dentro dos e entre os diversos tipos de
organização constituídas na sociedade se dá, efetivamente, pela
contribuição de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional.
2. Definição dos campos
Quanto às Relações Públicas e à Comunicação Organizacional, além das
possíveis superposições em torno do entendimento e da falta de clareza
da abrangência e/ou dos limites, cabe ainda ressaltar que um sem-
número de outros termos é utilizado de forma indistinta e
indiscriminada, como se fossem todos sinônimos, seja pelo meio
empresarial seja pelo acadêmico. Expressões como comunicação
empresarial, comunicação corporativa, comunicação institucional,
marketing de relacionamento e tantos outros são utilizadas como
sinônimas, o que cria uma avalanche de incertezas quando se deseja
definir de fato o campo, a circunscrição de pensamento ou de atuação de
cada qual.
Todavia, cabe traçar uns apontamentos sobre os campos e algumas
das principais definições, relativas tanto às Relações Públicas quanto
à Comunicação Organizacional, e tentar compará-las, no intuito de se
buscar chegar a uma análise mais refinada sobre o entendimento
encontrado na bibliografia da(s) área(s).
2.1. Para entender Relações Públicas
As Relações Públicas têm em sua história alguns pontos-chave, como
ligar a sua criação, tradicionalmente, la questões de busca de apoio
da opinião pública norte-americana, no final do século XIX e início do
XX, notadamente na relação tempestuosa entre alguns empresários
notórios da época, como John D. Rockefeller e Henry Vanderbilt,
cujas empresas mantinham relações delicadas com os públicos de
maneira geral, levando a crises de grande monta.
Se nessa época se formou um status de profissão baseado em
gestão de crises a partir, prioritariamente, do relacionamento com
a mídia, a chamada assessoria de imprensa – um dos modelos de
atuação de Relações Públicas identificado por James Grunig e
Todd Hunt (1984) –, somente algumas décadas depois se
estabeleceu o início do pensamento acadêmico da área, a partir
da produção de Edward L. Bernays (Xifra, 2003).
Ao longo das décadas posteriores, passou a constituir-se em todo o
mundo um campo ambivalente para as Relações Públicas, formado por
uma produção mais significativa em torno de pesquisas e de teorias e,
simultaneamente, a evolução caminhou para novos e mais adequados
modelos de trabalho no âmbito profissional. Isso possibilitou que a área
deixasse de ter um enfoque meramente operacional e adotasse um
modelo mais atuante, de visão estratégica, utilizando as ferramentas de
maneira integrada e com vistas a objetivos mais amplos, como a
formação da imagem organizacional, sem deixar de lidar com a gestão
de crises, preocupando-se também em preveni-las.
Jordi Xifra (2003, p. 11) enuncia historicamente a evolução das
Relações Públicas e a produção de pensamento relativa a elas,
levando-se em consideração que majoritariamente os processos
ocorreram nos Estados Unidos, berço da atividade profissional e
também da produção do pensamento em Relações Públicas. Veja-se,
na seqüência, a tabela adaptada de Xifra.
Paralelamente, diversas organizações passavam a utilizar setores,
departamentos, atividades de Relações Públicas – governo e
empresas privadas –, configurando a operação da área.
Pesquisadores, em diversos países, espalhados por todos os
continentes, vêm trabalhando na reflexão sobre a área,
caracterizando-o como um campo de modo efetivo. Em que pese o
maior desenvolvimento, em alguns países, de áreas laborais, em
detrimento da pesquisa, esta vem acompanhando o fazer da
profissão, mostrando bastante pujança em alguns países.
Tabela 2
Histórico das linhas de investigação em Relações Públicas
Período Acontecimento 1923 Criação das bases para um enfoque sistemático de Relações Públicas
pela publicação do livro Crystalling public opinion, de Edward L. Bernays, criando bases para a área
1937 Publicação do periódico Public Opinion Quarterly, com artigo de Bernays – “Recent Trends in Public Relations activities”
1947 Os autores Hyman e Sheatsley esboçam as barreiras psicológicas da comunicação em “Some reasons why informations campaigns fail”
1955 Bernays publica Engineering of consent, que estabelece um enfoque sistemático das Relações Públicas e do papel da pesquisa
1965 Lucien Matrat cria a Escola de Paris, grupo sediado na Europa, e começa a estabelecer um novo pólo para as pesquisas em Relações Públicas.
1972 Pesquisa sobre o processo clássico de persuasão (“Attitude change: the information-processing paradigm”) é publicada por McGuire.
1976 Grunig publica “Communication behaviors ocurring in decision and non-decision situations”, trabalho que introduz os princípios de uma visão situacional da persuasão em Relações Públicas.
1977 Lerbinger publica “Corporate uses of research in PR”, marco metodológico para compreender a pesquisa de Relações Públicas.
1979 Broom e Smith exploram as regras e as metodologias dos profissionais de relações públicas, em “Testing practitioner’s impact on client”.
1984 Grunig identifica quatro modelos para a ação de Relações Públicas, em “Organizations environments and models of PR”.
1991 Murphy publica “The limits of symmetry: a game theory approach to symmetric and assymetric public relations”, que cria polêmica sobre a teoria de Grunig (simétrica de duas vias).
1992 Grunig organiza a publicação de Excellence in public relations and communicational management, trabalho de pesquisa mais importante já publicado, em cuja elaboração se investiram cinco anos de pesquisa.
1999 Publica-se o primeiro livro exclusivo sobre o tema Relações Públicas na internet – Public relations on the net –, escrito por Holtz.
2000 Ledingham e Bruning publicam a obra Public relations as relationship management, focada nas Relações Públicas como agentes de gestão de relacionamentos
Fonte: Adaptado de Xifra (2003, p. 11).
Mesmo entendendo que as Relações Públicas constituam um campo,
fica claro que
o que mais tem dificultado a elaboração de um corpo doutrinal homogêneo em Relações Públicas tem sido a sua diversidade conceitual não só instrumentalmente como estruturalmente, assim como oferecer uma definição que sirva de marco de referência e que aporte o
conhecimento necessário ao receptor. Esta tem sido uma das razões originais da confusão existente quando se pretende defini-la, e ainda constitui um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento de um corpo teórico sólido das Relações Públicas (Xifra, 2003, p. 10).
Ainda assim, e como apontado no quadro adaptado do próprio Xifra,
há um percurso histórico e com marcos conceituais que delimitam o
crescimento da área, que se constitui em cada país de acordo com as
características evolutivas de cada região, notadamente estimuladas
pelo desenvolvimento das atividades produtivas.
Desse modo, podemos entender que houve um percurso gradual de
formação do campo, caracterizando os seus componentes por perfis,
produção, conceituação, associação, levando à delimitação de
campo, o campo das Relações Públicas.
2.1.1. Panorama brasileiro de Relações Públicas
Inicialmente cabe lembrar que as Relações Públicas no Brasil,
historicamente, remontam à criação do departamento de Relações
Públicas da empresa canadense Light & Power (hoje Eletropaulo), em
191420. Nessa empreitada figura o nome de Eduardo Pinheiro Lobo,
tido como o patrono das Relações Públicas no Brasil. Outros fatores
fundamentais foram a criação da Associação Brasileira de Relações 20 Há trabalhos no Brasil que tratam da história dos campos de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional. Assim, não caberá a esta tese enveredar por esse percurso. Para mais detalhes sobre o tema consultar: PERUZZO, C. K. Relações públicas no modo de produção capitalista. 2a. ed. São Paulo: Summus, 1986; e KUNSCH, M. M. K. Relações públicas e modernidade: novos paradigmas na comunicação organizacional. 2a. ed. São Paulo: Summus, 1997. Fábio França também tem trabalho publicado que permite a compreensão da formação das Relações Públicas no Brasil a partir de suas origens e de seus conceitos (FRANÇA, F. Subsídios para o estudo de Relações Públicas no Brasil. In: Revista Comunicação & Sociedade. São Bernardo do Campo: PosCom-Umesp, a. 24, n. 39, 1o. sem. 2003).
Públicas (ABRP), em 1954, e a constituição do primeiro curso superior de
Relações Públicas na Escola de Comunicações Culturais (hoje Escola de
Comunicações e Artes), da Universidade de São Paulo, em 1966.
Já na década de 1960, Candido Teobaldo de Souza Andrade teve o
mérito de iniciar a construção bibliográfica em Relações Públicas no
Brasil, sendo o autor do primeiro livro nacional da área. Além de ser
pioneiro, desponta como o autor com maior número de obras na área
em nosso País. Sua obra se destaca pela compilação de dados, de
informações e dos conceitos acerca das Relações Públicas.
Outros trabalhos foram desenvolvidos por diversos pesquisadores,
especialmente a partir da década de 1980, mas pode-se entender
que somente poucos puderam fazer todo o percurso, da pesquisa à
publicação de livros como resultado de seus trabalhos, bem como o
estabelecimento de uma proposição analítica para os campos.
Nesse caso podem ser destacados nomes como Roberto Porto
Simões – precursor do pensamento segundo o qual as Relações
Públicas podem ser entendidas a partir de sua função política (1995,
2001) –, Margarida Kunsch – propugnadora da função estratégica a
partir da interação com as outras áreas e iniciadora da corrente de
pensamento baseada no conceito de comunicação integrada (1992,
1995, 1997, 1999, 2001, 2002, 2003a, 2003b) –, Cicília Peruzzo –
cujo trabalho foi pioneiro na reflexão sobre o papel das Relações
Públicas como instrumento de dominação do capitalismo (1986) –,
Fábio França – responsável por um minucioso estudo sobre a
classificação dos públicos a partir das relações contemporâneas nas
organizações (1997, 2003, 2004) –, Waldyr Gutierrez Fortes – que
associou as Relações Públicas aos conceitos de marketing, criando o
conceito de transmarketing (1999, 2003) –, dentre outros.
O crescimento do mercado, todavia, se deu de forma pujante a partir
da década de 1970, com a chegada das primeiras agências
internacionais21 e, nas décadas posteriores, com a vinda de um
grande número de indústrias multinacionais de diversos segmentos,
que fomentaram o desenvolvimento do mercado de Relações
Públicas.
Foi nesse mesmo período que foram defendidas as primeiras teses de
doutorado em Relações Públicas na Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo, onde mais tarde também surgiram as
primeiras teses de livre-docência do País, defendidas por Candido
Teobaldo de Souza Andrade e Francisco Gaudêncio Torquato do
Rego.
Quanto à produção bibliográfica, ela é tida como relativamente
grande no Brasil22 – substancialmente superior à do México. O mais
tradicional autor brasileiro de Relações Públicas, Candido Teobaldo de
Souza Andrade (1978, p. 80), resume e compila23 diversas versões
em seu Dicionário de Relações Públicas e Comunicação. São versões
originadas na década de 1960, com relação às quais, em muitos
aspectos, se devem guardar as proporções do tempo.
21 Em 1976, veio empresa Burson-Marsteller, de origem norte-americana. 22 Cabe ressalvar que, mesmo havendo produção de livros, nem todos se prestam a reflexões sobre o campo, constituindo-se, muitas vezes, apenas em manuais, receituários de como se fazer relações públicas, sem a preocupação de amparar o trabalho em pesquisas e propostas. 23 Foi o brasileiro que compilou o maior número de definições de autores os mais diversos e das mais diferentes origens.
Andrade inicia apresentando definições populares para Relações
Públicas, as quais são apresentadas com o intuito de ilustração:
(...) a) É a arte que se traduz no tratar com cortesia a todos indistintamente para que se sintam no mesmo plano de igualdade; b) a arte de fazer bem as coisas e obter crédito pelo feito; c) faça alguma coisa bem feita, diga aos outros o que fez.
Talvez se possa perceber, no que o autor chamou de definições
populares, um certo equívoco no uso do termo, relacionando-o à
arte, mais de uma vez; e, por outra, a clareza da relação
informação-opínião pública como um binômio a ser seguido pela
profissão.
Em seguida Andrade (1978, p. 80) apresenta definições européias,
iniciando com as inglesas:
a) [Relações Públicas] são o instrumento para promover esse intangível capaz de desenvolver uma filosofia propícia aos objetivos magnos de uma empresa; b) são o esforço deliberado, planificado e permanente para estabelecer e manter mútua compreensão entre uma organização e seu público [Instituto de Relações Públicas].
Na visão inglesa apresentada pelo autor, a profissão é associada a
dois pontos importantes: a relação com os princípios institucionais da
organização (missão, visão, filosofia, objetivos) e a necessidade de
continuidade dos trabalhos de Relações Públicas amparados por visão
de planejamento, criando e mantendo os relacionamentos. Isso pode
remeter à idéia de que a criação de relacionamentos depende mais
da organização que a manutenção destes.
Andrade (1978, p. 80) apresenta também conceitos franceses, entre
os quais um de Louis Salleron.
a) são aquilo que uma organização pública e privada faz e diz, tendo em vista ficar conhecida e apreciada pelo público; b) RR.PP.24 são, inicialmente, o conjunto de meios utilizados pela empresa para criar um clima de confiança junto ao seu pessoal, junto aos grupos com os quais se acham ligados e, comumente, junto ao público em geral, tendo em vista proteger sua atividade e favorecer seu desenvolvimento (Louis Salleron).
Essa definição francesa das Relações Públicas ressalta a idéia de que
elas estejam associadas ao desenvolvimento da organização, a seus
resultados por meio da opinião pública, pela sensação de confiança
manifesta pela credibilidade. Lembra ainda a necessidade de se
relacionar com diversos públicos simultaneamente.
Andrade (1978, p. 80) destaca também um conceito norueguês:
A atividade de RR.PP. é um esforço planejado e sistemático para ajudar as pessoas a compreender as possibilidades próximas e para fornecer a elas uma motivação para fazer uso sensível daquelas possibilidades (E. B. Shieldrop).
Nesse trecho é adicionado o comprometimento de Relações Públicas
com o seu entorno, com as pessoas de maneira geral e como isso
está associado a resultados que possam ser obtidos.
Andrade (1978, p. 80) segue com uma definição italiana:
RR.PP. querem conhecer, por parte do público, até que ponto um serviço ou um produto, uma idéia ou uma ação são efetivamente úteis, ao mesmo tempo em que pedem a indicação de um caminho a ser seguido, de molde a satisfazer o público permanente (Carlo Majello).
24 RR.PP.: Sigla grafada por Candido Teobaldo de Souza Andrade para designar a atividade de Relações Públicas.
No ponto de vista apresentado pelo italiano Majello mais um item
fundamental é acrescentado, ainda que de modo indireto: a pesquisa,
bem como a busca da adequação de produtos e discursos aos públicos.
Andrade (1978, p. 80) destaca então um conceito belga:
A crise de nossa civilização contemporânea é resultante da falta de equilíbrio, que é devido ao fato de que o progresso técnico da humanidade não é contrabalançado pelo progresso moral. RR.PP. são o meio para preencher esta profunda necessidade de renovação espiritual. Esta idéia tem um longo caminho a percorrer antes de ser completamente aceita, dando assim às nossas empresas a quarta dimensão que elas requerem (F. Minoresco).
A visão belga traz consigo um olhar mais holístico, não associado a
outras visões anteriores que traziam em seu bojo o conceito de
resultados, opinião pública etc.
Andrade (1978, p. 81) traz ainda algumas interpretações brasileiras,
das quais algumas são destacadas a seguir.
RR.PP., como função administrativa, é o procedimento mediante o qual determinada empresa procura deliberadamente criar em seu favor um crédito de confiança e de estima na respectiva clientela, contra a qual pode sacar em proveito, tanto de seu programa de trabalho como de seus interesses institucionais (Benedito Silva).
Aqui Silva fala de opinião pública favorável a partir de um trabalho
deliberado para tal e fala de mercado utilizando o termo clientela. Trata-
se de uma visão absolutamente pragmática e associada a resultados.
RR.PP. são os métodos de integrar na opinião pública conceitos favoráveis relativos a uma pessoa ou instituição (Walter R. Poyares); RR.PP. é o intercâmbio de informações entre uma instituição (qualquer gênero) e sua clientela ou grupo social, destinado a estabelecer bom entendimento humano (Rone Amorim); e
RR.PP. são o conjunto de atividades que têm por fim conseguir e manter em determinado público um clima de receptividade para uma pessoa, uma idéia, um produto etc. (J. R. W. Penteado)
Poyares, Amorim e Penteado apresentam uma visão de Relações
Públicas bastante consoante com algumas das visões européias e ainda
acrescentam a informação como elemento do processo de formação da
opinião pública e da busca de sua posição favorável à organização.
Por fim, Andrade (1978, p. 81) apresenta a definição da então
Federação Ibero-Americana de Relações Públicas (Fiarp) – hoje
Confederação Ibero-Americana de Relações Públicas (Confiarp) –,
também descrita por Fernández Escalante (1999, p. 39):
[Relações Públicas] são uma atividade sócio-técnico-administrativa, mediante a qual se pesquisa e avalia a opinião e a atitude do público e se empreende um programa de ação planificado, contínuo e de comunicação recíproca, baseado no interesse da comunidade e destinado a manter uma afinidade e compreensão da mesma com entidades de qualquer natureza (Definição da FIARP [Federação Ibero-americana de Relações Públicas]).
À discussão aqui desenvolvida a Confiarp agrega a “comunicação
recíproca”, o que inclui a necessidade de interpretação da realidade por
meio das diversas ferramentas as Relações Públicas utilizam, e se refere
a “entidades de qualquer natureza”, lembrando a necessidade de
relacionamento com os diversos setores constitutivos da sociedade.
Andrade (1983, p. 34) explica que
a realidade é que o termo ‘Relações Públicas’ tem diferentes significados para diferentes pessoas, estando ainda longe de se encontrar uma significação pacífica para a expressão. E as dificuldades aumentam mais quando se nota que RR.PP. ainda não se
constituem, cristalinamente, em um campo limitado, caracterizado e independente, do conhecimento humano.
Para Andrade, então, as Relações Públicas não se constituiriam em
um campo, o que poderia levar a presumir que elas estivessem
inseridas no campo da Comunicação Organizacional ou, de maneira
mais genérica, simplesmente da Comunicação. A isso caberia o
comentário de que o texto foi originado em meados da década de
1960 e reproduzido no início da década de 1980, tendo hoje talvez
menor aderência à realidade. Hoje, talvez, as percepções pudessem
ser outras, diante do cenário bastante transformado pelos diversos
fatores que afetam as Relações Públicas.
Seguindo na busca de definições relativas a Relações Públicas,
vejamos o que diz Margarida Kunsch (2003a, p. 89-90):
As Relações Públicas, como disciplina acadêmica e atividade profissional, têm como objeto as organizações e seus públicos, instâncias distintas que, no entanto, se relacionam dialeticamente. É com elas que a área trabalha, promovendo e administrando relacionamentos e, muitas vezes, mediando conflitos, valendo-se para tanto de estratégias e programas de comunicação de acordo com as diferentes situações reais do ambiente social.
Às Relações Públicas, então, caberia a gestão dos relacionamentos e
das ações comunicacionais da organização, mas a partir da visão de
conjunto e de longo prazo, pois o trabalho da autora permite a
proposição de uma participação estratégica no composto da
organização, e não uma posição operativa, de curto prazo, com
vistas à mera realização de tarefas. Assim, a gestão dos
relacionamentos deve estar próxima e atrelada à estratégia da
organização e não apartada desta. Ainda segundo Kunsch (2003a, p.
90) “a Comunicação Organizacional deve constituir-se num setor
estratégico, agregando valores e facilitando, por meio das Relações
Públicas, os processos interativos e as mediações”.
Isso pode representar dois significativos entendimentos – em
especial por se tratar de uma das mais respeitadas pesquisadoras
brasileiras em Relações Públicas e Comunicação Organizacional. A
primeira interpretação seria a de que realmente se trata de dois
campos independentes, mas complementares. A segunda é que à
Comunicação Organizacional caberia um papel estratégico, de
pensamento, enquanto as Relações Públicas seriam a figura da
efetivação, do fazer, da realização, mas sempre atreladas ao
planejamento estratégico. A participação de ambos os campos no
pensar e no fazer organizacionais estariam associados ao sucesso e
aos resultados das organizações.
Para os demais autores citados como os pesquisadores-autores que
se tornaram precursores nacionais do pensamento em Relações
Públicas – Simões, Peruzzo, Fortes –, não há necessariamente uma
relação direta entre Relações Públicas e Comunicação Organizacional,
mas entendem eles que as Relações Públicas componham de forma
direta a estratégia organizacional e sejam responsáveis pela
efetivação e eficácia dessas.
Outras percepções sobre o tema podem ser encontradas. Ainda que
venha do mundo das práticas profissionais e não do espaço
acadêmico, o atual presidente do Conselho Federal de Ralações
Públicas, João Alberto Ianhez (2002, p.155) defende que
Relações Públicas é a comunicação na administração, no que diz respeito à sua visão institucional e à adequada utilização desta em todas as áreas da estrutura organizacional. Ela deve buscar a conscientização de todos, dentro da organização, do papel e da
responsabilidade que têm pelo seu conceito. Ela apóia, orienta e assessora todas as áreas da organização no tocante à forma mais adequada de conduzir suas relações com o público.
O autor introduz a idéia de administração na discussão acerca de
Relações Públicas, ainda que isso possa distanciar-se do conceito
mais estratégico atribuído por alguns autores à Comunicação
Organizacional. Já houve quem defendesse que as Relações Públicas
deveriam compor o mix da Administração em lugar de fazer parte
das Ciências da Comunicação. Por outro lado, Ianhez toca na
necessidade de integração por meio de conscientização e retira das
Relações Públicas a idéia de limite, expandindo-a a todas as áreas
que tenham relações com os diferentes públicos.
Aliada a isso uma visão pragmática pode ser encontrada de maneira
relativamente ampla para definir Relações Públicas, como expressa
Luciane Lucas (2002, p. 21), que entende que a elas caiba
estimular e desenvolver diagnósticos empresariais mais complexos, avaliar questões múltiplas que afetam a credibilidade, gerenciar conflitos internos e participar mais ativamente da adequação de processos que influenciem a satisfação do cliente.
Reforçando essa definição pragmática, Valéria S. de Castro Lopes
(2002, p. 105) diz que,
por intermédio das Relações Públicas, a empresa leva informações a seu respeito para diversos públicos: funcionários, consumidores, fornecedores, distribuidores, acionistas, governo, comunidade, entre outros. Da mesma forma, é por meio delas que a empresa toma conhecimento do que acontece com esses públicos e o que eles esperam dela.
E mais uma vez podemos encontrar uma definição relacionada ao
fazer, na fala de Denise C. O. Siqueira (2002, p. 111):
As Relações Públicas são um conjunto de técnicas, uma ‘arte’, no sentido grego do termo – techné. São ainda um ofício, um conjunto de atividades que podem caracterizar uma profissão. No entanto, não podem ser consideradas ciência – não há respaldo conceitual para tanto. Por isso, o estudo desse campo implica a busca de fundamentação teórica em outros campos do saber.
A autora amplia o leque de discussão. Ampara-se no conceito de que
as Relações Públicas representem um campo, mas atribui a elas um
papel explicitamente operativo, mais uma vez. Propõe, contudo, que
em vista dessa possibilidade de ser um “conjunto de atividades” – o
que leva à compreensão de amplitude e possível multiplicidade,
hibridez –, elas sejam estudadas e avaliadas a partir dos diversos
saberes que a constituem simultaneamente. Uma proposição, talvez,
que deite por terra a necessidade que já se teve de tentar
reenquadrar esse conhecimento por ele ser tão interdisciplinar.
Mas, alheia às discussões sobre campo e sobre foco, a definição
legal25 diz que
a atividade e o esforço deliberado, planificado e contínuo para estabelecer e manter compreensão mútua entre uma instituição pública ou privada e os grupos e pessoas a que esteja direta ou indiretamente ligada constituem o objeto geral da profissão liberal ou assalariada de Relações Públicas.
Paralelamente à legislação26, constitui-se interpretação corrente para
Relações Públicas, também, aquela que se origina na ABRP
25 Decreto no. 63.283, de 26/09/1968, que regulamenta a Lei 5377, de 11/12/1967, da profissão de Relações Públicas. Disponível em www.conrerp-sp.org.br. 26 Vale notar que a legislação da profissão de Relações Públicas vem sendo discutida oficialmente a partir do Parlamento Nacional de Relações Públicas, realizado em 1996, que colocou em debate a continuidade da regulamentação da profissão, chegando-se, por fim, à proposta de mudança na lei, permitindo-se que pessoas que façam cursos de pós-graduação (lato ou stricto sensu) possam obter o registro profissional, quando hoje esse é um direito exclusivo de bacharéis em Comunicação com habilitação em Relações Públicas).
(Associação Brasileira de Relações Públicas)27. Entendemos que caiba
aqui a realização de uma comparação entre as definições
consideradas institucionalizadas.
[Relações Públicas são] o esforço deliberado, planificado, coeso e contínuo da alta administração, para estabelecer e manter uma compreensão mútua entre uma organização, pública ou privada, e seu pessoal, assim como entre essa organização e todos os grupos aos quais está ligada, direta ou indiretamente (Andrade, 1983, p. 45).
Somando-se às duas anteriores, vale completar a tríade com o texto
formalizado pelo Conferp (Conselho Federal dos Profissionais de
Relações Públicas)28, entidade composta pelo Sistema Conferp (que
reúne os conselhos regionais da profissão):
A atividade e o esforço deliberado, planificado e contínuo para esclarecer e manter compreensão mútua entre uma instituição pública ou privada e os grupos e pessoas a que esteja direta ou indiretamente ligada constituem o objeto geral da profissão liberal ou assalariada de Relações Públicas.
As três definições pautam alguns itens comuns, como a continuidade
e o planejamento e ainda a opinião pública e a informação como
pilares da atividade. Encontram-se outras informações ligadas à
preocupação com os públicos e uma referida vinculação à alta
administração. De maneira geral, o que se pode abstrair é que haja
uma relevância quanto à ação, à operação da comunicação por meio
de idéias-chave que materializam o trabalho de Relações Públicas.
O decreto em si acaba por ser genérico e pouco elucidativo, ao
contrário das outras duas definições, as quais, ainda que possam
apresentar certa dose de generalismo, esmiuçam um pouco mais o
trabalho, o que de certa forma reforça também uma visão de
27 Entidade criada em 4/3/1954. 28 Disponível em www.conferp.org.br. Acesso em 15/01/2006.
globalismo da atividade, dando-lhe um pouco de falta de objetividade
e criando uma certa confusão nas suas próprias atribuições.
Entendemos que as atividades de Relações Públicas se inscrevam no
cenário da comunicação de forma polivalente, ofertando um conjunto
extenso de ferramentas que são de maior grau de complexidade,
prejudicando uma visão mais objetiva da profissão, fazendo valer
conceitos muitas vezes distorcidos — atribuição de um simplismo
exagerado ou de uma generalidade desconcertante. Diante desse
paradigma, encontram-se ainda em um estágio de grande
dissonância entre o seu conceito e a sua identidade.
A percepção acerca das Relações Públicas talvez se insira no conceito de
fazer, de ação. Quiçá aí caiba o entendimento do saber-fazer, do
domínio das práticas de efetivação da comunicação para e pela
organização.
2.1.2. Panorama mexicano de Relações Públicas
No México, a atividade de Relações Públicas é entendida
genericamente por relacionamento com públicos externos e tem uma
marcação diferenciada de Comunicação Organizacional, com limites
explícitos, de acordo com os entrevistados ouvidos na pesquisa de
campo realizada com vistas a esta tese.
Em 1978, aconteceu na Cidade do México a 1a. Assembléia Mundial
de Relações Públicas, quando se referendou o chamado Acordo do
México29, com uma proposta de visão latino-americana para Relações
Públicas, a partir da seguinte definição:
O exercício profissional de Relações Públicas exige uma ação planejada, com apoio na pesquisa, na comunicação sistemática e na participação programada, para elevar o nível de entendimento, solidariedade e colaboração entre uma entidade pública ou privada e os grupos sociais a ela vinculados, em um processo de integração de interesses legítimos para promover seu desenvolvimento recíproco e o da comunidade à qual pertença (Bonilla, 2004, p. 3).
O acordo mostra mais uma vez o olhar pragmático sobre as Relações
Públicas e insere a preocupação com o entorno, trazendo, já em
1978, a preocupação com o que se convencionou chamar de
responsabilidade social.
Com esse mesmo olhar podemos ver a definição de Fernández
Escalante (1999, p. 38):
As Relações Públicas constituem um subsistema, ciência e arte, pelos quais cada organização, por meio de uma de suas diretrizes, canaliza suas vinculações com a comunidade para difundir uma imagem verdadeira, digna, promovida e compreendida pelos diversos públicos.
Fernández Escalante acaba por generalizar seu conceito e atribuir às
Relações Públicas características de difícil compatibilidade como
ciência e arte, simultaneamente, definindo-as ainda como
subsistema. Essa tendência a supervalorizar a área pode ser danoso
à compreensão daqueles que possam tentar interpretá-la. Por outro
lado, deve-se levar em conta a preocupação do autor em reforçar o
caráter ético do trabalho, cujos objetivos são claros, mas sem a
perda de vista da transparência como condição essencial.
29 Esse acordo é internacionalmente conhecido, sendo citado por muitos e destacados autores.
Para Carlos Bonilla (2001, p. 43), Relações Públicas
se descrevem como uma disciplina sócio-técnico-administrativa graças à qual se analisa e avalia a opinião e a atitude dos públicos de uma organização e se leva a cabo um programa de ação planejado, contínuo e de comunicação baseado no interesse da comunidade destinado a manter uma afinidade e solidariedade dos públicos com a organização para promover o desenvolvimento recíproco.
Bonilla faz de sua definição uma proposição didática de informar
sobre a área, sendo, simultaneamente, claro ao dizer o objetivo e a
maneira pela qual se executa ou se busca executá-lo. A preocupação
com a responsabilidade da atividade também se faz presente por
meio da interação de objetivos e de resultados recíprocos.
Ainda segundo Bonilla (2001, p. 43),
as Relações Públicas se localizam como uma das funções orgânicas para otimizar o funcionamento e o desenvolvimento da organização, promover, mediante a participação programada, sua adaptação ao meio, assim como a modificação na conduta organizacional e a resposta às exigências de mudança impostas por seu ambiente exterior.
A atividade foi implantada no México na década de 1930, por meio
da companhia Pan American Airways, que passou a operar na Cidade
do México, e Wilbur Morrison implantou o primeiro departamento de
Relações Públicas no país. Três repórteres – José F. Rojas, Manuel
Ramirez Cárdenas e Angel Viniegra – foram contratados e migraram
para a atividade, constituindo o departamento inicialmente.
Em 1949, foi criada por Federico Sánchez Fogarty a primeira
empresa especializada em Relações Públicas no México, a Agencia
Mexicana de Relaciones Públicas. No mesmo período se estabeleceu
na Cidade do México a primeira agência internacional, a RelaMex,
filial da nova-iorquina Walker & Crushaw.
As duas precursoras do movimento de Relações Públicas no México
fixaram-se em espaços independentes. A mexicana ocupou-se da
demanda vinda da iniciativa privada do país, enquanto a estrangeira
focou seu trabalho nas companhias multinacionais de origem americana.
Alguns anos depois, novas agências foram criadas, como a Romero
Sadurni Relaciones Públicas e a Agencia Periodística Mexicana. Nesse
período – início da década de 1950 – já se constituíam diversos
departamentos especializados em Relações Públicas, como foi o caso
das companhias de aviação.
Hoje, de acordo com profissionais e pesquisadores ouvidos nas
entrevistas que realizamos no México, acredita-se que existam cerca
de cem agências de Relações Públicas no país e diversos
departamentos em empresas mexicanas e multinacionais destinados
a atuar com essa atividade. Todavia, ainda se atribui ao termo
fundamentalmente um ponto de vista a partir do qual há uma
coexistência operacional com a Comunicação Organizacional.
3. Pela compreensão de Comunicação Organizacional
A mesma compreensão dada a Relações Públicas nos parece ser
possível para Comunicação Organizacional, entendendo-se que para
ela também haja um grupo definido de pessoas que se envolvem
com a sua pesquisa e o seu desenvolvimento. A isso também cabe
acrescentar o pensamento de que haja a diferença de Relações
Públicas fundamentalmente no tocante às práticas profissionais.
De acordo com Noguero (s/d, p. 28), a Comunicação Organizacional
começou a se configurar como área de conhecimento no início dos anos
1950. Seu objetivo principal talvez advenha da necessidade de se obter
um conhecimento prático e operativo no mundo da atividade empresarial.
Segundo o autor, ela se nutre de três aspectos principais:
a) A teoria da retórica tradicional, que se baseia no estudo da forma
do discurso público, fazendo lastro na persuasão;
b) Modelos informais das relações humanas e da interação
interpessoal;
c) Primeiras versões do gerenciamento organizacional (management
organizations).
Esses aspectos podem levar ao entendimento de que Comunicação
Organizacional é um conjunto de variáveis que afetam a organização
ou que são afetadas por ela (Deetz, 2004, p. 5), visto que as
relações humanas são matéria-chave para o desenvolvimento das
ações de comunicação na organização.
Ainda de acordo com Stanley Deetz (2004, p. 5), a Comunicação
Organizacional “pode ser utilizada para explicar a produção de
estruturas sociais, estados psicológicos, hierarquias, conhecimento e
tantos outros fenômenos que ocorrem nas organizações”.
O Handbook de comunicação organizacional, publicado por Deetz em
conjunto com Fredric M. Jablin e Linda L. Putnam, da Universidade do
Colorado, discorre sobre os estudos acerca da Comunicação
Organizacional e os esquemas propostos para a sua organização e o
seu pensamento. Nessa obra os autores fazem uma síntese dos
principais enfoques/conceitos trabalhados pelos autores norte-
americanos (cf. Tabela 3).
Tabela 3
Organização do pensamento sobre Comunicação Organizacional (EUA)
Pesquisador(es)/Obra Síntese do pensamento
WERT-GRAY, S., CENTER, C., BRASHERS, D. & MEYERS, R. Research topics and methodological orientations in organizational communication: a decade in review. Communication studies, 1991.
Sugestão de três áreas dominantes de trabalho: 1. fluxo de informação e canais 2. clima 3. relação entre superiores e subordinados
REDDING, C. & TOMPKINS, P. Organizational communication: past and future tenses. In: GOLDHABEr, G & BARNETT, G. (eds.). Handbook of organizational communication. Norwood, NJ: Ablex, 1988.
Dividem o trabalho em: 1. canais formais de comunicação 2. comunicação hierárquica – subordinados vs superiores 3. canais informais 4. mensuração e organização de informações
PUTNAM, L. & CHENEY, G. Organizational communication: historical development and future directions. In: BENSON, T. (ed.) Speech communicatin in the 20th century. Carbondale: Southern Illinois Unversity Press: 1985.
Indicam: 1. estudo dos canais de comunicação 2. análise de clima comunicacional 3. comunicação entre superiores e subordinados 4. análise de redes de relacionamento e de equipes de trabalho 5. veículos de comunicação e surgimento adicional de perspectivas
ALLEN, M. W., GOTCHER, J. M. & SEIBERT, J. H. A decade of organizational communication research: journal articles 1980-1991. In: DEETZ, S. A. (ed.) Communication yearbook 16. Newbury Park, CA: Sage, 1993.
Revisão de dezessete áreas de trabalho para Comunicação Organizacional: 1. relações interpessoais 2. práticas comunicacionais 3. cultura e simbolismos 4. fluxos de informação e canais 5. poder e influência 6. tomada de decisão e resolução de problemas 7. grupos de trabalho em comunicação 8. estilos de comunicação e de gerenciamento 9. interface do ambiente comunicacional 10. tecnologia 11. linguagem e mensagens 12. estrutura 13. gerenciamento de informação vs boatos 14. grupos 15. ética 16. interculturalidade 17. clima
Fonte: Adaptado de Deetz (2004, p. 7).
Os estudos listados na Tabela 3 demonstram os diversos esforços no
sentido de estruturar um campo, com propostas de compreensão dos
mais importantes aspectos relativos à área, por um conjunto de
autores e de obras que compõem um acervo significativo. Para
Adriana Casali, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná,
pode-se “compreender a comunicação organizacional como um
processo social que aciona universos objetivos e subjetivos na
criação de um ambiente ao mesmo tempo estável e mutante” (2005,
p. 116).
A influência da Comunicação Organizacional, assim, pode ser
percebida nas diferentes manifestações das e nas organizações,
empreendidas formal ou informalmente, explícita ou simbolicamente.
O ambiente deve ser estável para a potencialização do equilíbrio das
opiniões e seu reflexo positivo nos relacionamentos, mas ao mesmo
tempo capaz de absorver as transformações, sendo, desse modo,
mutante e transformador.
3.1. Panorama brasileiro de Comunicação Organizacional
No Brasil a expressão Comunicação Organizacional ainda é recente,
remontando à década de 1990. Em muitos casos autores e entidades
entendem-na como sinônima de Comunicação Empresarial, esta sim
difundida timidamente a partir da década de 1970 e alcançando o seu
apogeu nas décadas posteriores. Poucos autores efetivamente se
destacam nesse campo, que ainda pode ser considerado como
emergente. Os principais pesquisadores que nele produzem de forma
contínua são os pioneiros Francisco Gaudêncio Torquato do Rego e
Margarida M. Krohling Kunsch – esta talvez uma das primeiras a utilizar
a expressão “comunicação organizacional”30 e a estabelecer contornos
efetivos para o campo no País –, além de Wilson Bueno, que trabalha em
nível de pós-graduação e produz nessa área. Esses autores também
participarão da presente análise a partir de recortes de seus trabalhos.
A percepção é de que não há necessariamente sinonímia, pois a origem
da expressão “comunicação empresarial” vem de ações puramente
tarefeiras – baseadas em produção de peças de divulgação –,
relacionadas à produção de instrumentos, de ferramentas, o que, a
nosso ver, não representa o real significado do que vem a ser
Comunicação Organizacional. Todavia a permuta do termo “empresarial”
por “organizacional” guarda em si a abrangência deste e a limitação
daquele.
O conceito “comunicação empresarial” começou a ter seus contornos
definidos na década de 1970, com a tese de doutorado de Gaudêncio
Torquato, A comunicação da empresa e o jornalismo empresarial (ECA-
USP, 1972), seguida da obra Comunicação empresarial / Comunicação
institucional: conceitos, estratégias, sistemas, estrutura, planejamento
e técnicas (Summus, 1987), do mesmo autor. À mesma época,
Margarida Kunsch, já começava a defender o conceito de “comunicação
organizacional integrada”, desenvolvido em sua dissertação (ECA-USP,
1985) e no livro a que esta deu origem, Planejamento de Relações
Públicas na comunicação integrada (Summus, 1986, reeditado em
2003). Hoje tende a difundir-se a expressão “comunicação
organizacional”.
30 Torquato, que sempre utilizara a expressão “comunicação empresarial”, na obra Tratado de comunicação organizacional e política (2002, p. 1), declara que passava a adotar definitivamente a expressão “comunicação organizacional”, como diremos mais adiante. Wilson Bueno continua mantendo a expressão “comunicação empresarial”, presente em um de seus mais recentes livros, Comunicação empresarial: teoria e prática (2003).
Após a tentativa de interpretação de diversos olhares colocados sobre
Relações Públicas, cabe buscar outras concepções relativas à
Comunicação Organizacional, de sorte que se possa, ao fim deste
capítulo, tentar assinalar uma comparação latino-americana – dentro da
amostra escolhida, Brasil e México – e buscar uma análise sobre os
campos, retornando ao questionamento sobre a existência de dois
campos ou a existência de dois segmentos coabitando um mesmo campo.
Para Margarida Kunsch, uma das primeiras a utilizar de forma
científica a expressão “comunicação organizacional, esta é
a disciplina que estuda como se processa o fenômeno comunicacional dentro das organizações no âmbito da sociedade global. Ela analisa o sistema, o funcionamento e o processo de comunicação entre a organização e seus diversos públicos (Kunsch, 2003a, p.150).
A pesquisadora acrescenta ainda:
Fenômeno inerente aos agrupamentos de pessoas que integram uma organização ou a ela se ligam, a Comunicação Organizacional configura as diferentes modalidades comunicacionais que permeiam sua atividade. Compreende, dessa forma, a comunicação institucional, a comunicação mercadológica, a comunicação interna e a comunicação administrativa (Kunsch, 2003a, p.149-150).
A partir dessa primeira definição, já seria possível interpretar um olhar
que coloca a Comunicação Organizacional como um elemento amplo, uma
área na qual se inserem os diversos escopos de ação comunicacional,
incluindo-se aí as atividades não necessariamente ligadas ao sentido
institucional da organização. O conceito de comunicação integrada
defendido pela autora partiria, assim, de uma visão na qual a
Comunicação Organizacional tem o papel de pilar das pontes que reúnem
os diferentes pensares e fazeres comunicacionais ligados à organização.
Ainda sobre a percepção da Comunicação Organizacional como
fenômeno relacionado à informação e aos públicos, Rudimar Baldissera
(2000, p. 26)31 analisa a mão dupla no fluxo de comunicação entre as
organizações e seus públicos, apontando que “a Comunicação
Organizacional compreende todo o fluxo de mensagens que compõem a
rede de relações sob o âmbito da organização”.
Um dos primeiros brasileiros a utilizar a expressão “comunicação
empresarial”, Gaudêncio Torquato, já citado, também optou por
alterar a expressão para “comunicação organizacional”. Diz ele:
Em meus trabalhos de pesquisa, no começo da década de 1970, empregava a expressão comunicação empresarial. Com o desenvolvimento da área, a evolução dos modelos e a multiplicação das estruturas de comunicação, passei a usar (...) a terminologia comunicação organizacional. Tratava-se, afinal de contas, de reconhecer a irrefutável realidade: a comunicação resvalava para outros terrenos e espaços, ampliando o escopo e adicionando novos campos ao território da comunicação empresarial (Torquato, 2002, p. 1).
Todavia, o autor coloca o termo diretamente associado ao fazer, à
operacionalização, acrescentando: “Sindicatos, associações, federações,
confederações, agremiações, escolas, clubes e partidos políticos passaram,
de maneira intensa, a usar as ferramentas [grifo nosso] da
comunicação”.
Wilson Bueno, outro pesquisador especializado no tema, que utiliza a
expressão “comunicação empresarial”, defende exatamente o contrário:
A Comunicação Empresarial já não é tarefeira, assumiu ares de gente sabida e entrou definitivamente na universidade. Hoje ela é
31 Baldissera, pesquisador do tema Comunicação Organizacional, foi vencedor do Prêmio Intercom 2005 na categoria “doutorado em Relações Públicas”.
objeto de estudos e teses, é tema de debates acalorados, ainda que a literatura (...) seja incipiente para dar conta de suas conquistas (Bueno, 2003, p. x).
Talvez se possa perceber que o campo da Comunicação Organizacional
no Brasil apresenta um histórico de desenvolvimento marcado por uma
evolução que vai desde a própria capacidade de produção, mesmo tendo
ainda hoje poucos nomes que apresentam de fato peso, até a reflexão
sobre as terminologias utilizadas, que parecem ter evoluído ao longo das
três últimas décadas. A constituição de um espaço de pensamento se
ampliou da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo para outros centros de estudo e de pesquisa, configurando o
amadurecimento dessa linha de pensamento.
3.2. Panorama mexicano de Comunicação Organizacional
Como no Brasil, também no México a Comunicação Organizacional é
recente. Segundo Rodriguez de San Miguel (2003, p. 11), “a definição de
Comunicação Organizacional segue sendo um tema controverso, em que
se pese que esse campo conceitual e prático, ainda que seja jovem, já
não é novo”.
Quanto a seu entendimento, o mesmo autor apresenta três olhares
percebidos no México acerca da Comunicação Organizacional: “como
fenômeno, como disciplina e como conjunto de técnicas e atividades”
(Rodriguez de San Miguel, 2003, p. 12). De qualquer modo a percepção
– em qualquer um dos três sentidos – se aproxima de uma visão de
campo para a Comunicação Organizacional. Rodriguez de San Miguel
ainda complementa explicando que todas as visões “são igualmente
válidas porque correspondem a diferentes aspectos de um mesmo
campo de interesse e ação”.
Maria Antonieta Rebeil Corella aponta para uma interpretação como a
apresentada por Kunsch e descrita no Quadro 3 (Comunicação
integrada) desta tese, em que aparece a visualização da
Comunicação Organizacional como elemento de aglutinação das
comunicações mercadológica, interna e institucional. Essa percepção
permite ver a Comunicação Organizacional em seu papel articulador,
de suporte às áreas específicas de relacionamento com os públicos.
Do ponto de vista de proximidade com Relações Públicas, pode-se
entender que tanto a Comunicação Interna quanto a Comunicação
Institucional (ambas componentes da tríade proposta pelo conceito
de Comunicação Integrada) sejam diretamente ligadas àquela.
Na mesma linha adotada pela brasileira e reiterada pela mexicana, o
pesquisador Cees B. M. van Riel32 (1997, p. 1) – que utiliza a
expressão Comunicação Corporativa em lugar de Comunicação
Organizacional – acrescenta sobre a comunicação das organizações:
Inclui a comunicação de marketing, a comunicação organizacional [ou de Relações Públicas, e com os diversos segmentos de públicos, como o autor explica ao longo da obra] e a comunicação de direção. Seria uma organização em que vários especialistas em comunicação – que trabalham a partir de uma organização estratégica, mutuamente estabelecida – podem integrar seus inputs de comunicação.
Essa linha em que concordam Rebeil Corella e Kunsch, com o reforço de
Cees van Riel, pode dar contornos mais claros à expressão e ao campo,
permitindo que seja entendido como área de aglutinação e não como
32 Van Riel é um pesquisador holandês da Erasmus University, internacionalmente renomado e que já visitou o Brasil e o México proferindo palestras e publicando os seus conceitos e estudos.
terreno de produção laboral. Ao contrário: no campo da Comunicação
Organizacional se produzem sentidos e não se praticam instrumentos.
De qualquer modo, a falta de clareza é inversamente proporcional
ao crescimento da área, como apontam Tompkins e Wanca-
Thibault (2004, p. xvii):
Comunicação Organizacional é uma disciplina que cresceu tremendamente ao longo da última parte do século XX, mas acompanhando esse crescimento veio a dificuldade de estabelecer uma clara identidade para o campo.
Esse crescimento estimula a produção científica e reforça as
características do campo, dando-lhe contornos mais explícitos, mais
definidos. Um nítido exemplo desse cenário é a existência do The
new handbook of organizational communication (2004), no qual os
próprios autores trabalham a história e a evolução dos conceitos. A
reunião de estudos e a reflexão ofertada pela obra são, dentre outros
exemplos, símbolos de uma construção gradual do campo.
4. Entidades associativas
Ainda que se possa pensar que entidades associativas, mercado e
academia talvez não façam parte de um mesmo espaço de discussão,
a interseção existente entre eles é que fomenta a criação de
sentidos, seja por meio de teorias e de conceitos, seja pela prática
profissional por meio de instrumentos, seja pela mediação entre
todos os atores desse cenário. Retome-se aqui que a área em
discussão faz parte das Ciências Sociais Aplicadas.
Mesmo com performances diferentes nos dois países, deve-se avaliar
que nos dois a constituição de entidades representativas estimulou o
desenvolvimento do mercado e fortaleceu a academia, de forma direta
ou indireta. Essas entidades talvez componham o conjunto de elementos
que pontuaram a formação de um habitus para o campo. Não se fará,
por outra, um aprofundado levantamento acerca das entidades, mas
uma visão panorâmica, pontuando o seu desenvolvimento, de modo que
se possa ampliar a possibilidade de comparação.
4.1. Entidades representativas no Brasil
Pode-se entender que haja um significativo histórico associativo no
campo das Relações Públicas no território brasileiro, a começar pela
Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP)33, criada em 1954
e não descontinuada, que teve o importante papel de agregar os
profissionais de Relações Públicas antes mesmo que se configurasse
formal e oficialmente uma profissão. Os Conselhos Regionais de
Profissionais de Relações Públicas (Conrerp’s), assim como o
Conferp34 (Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas),
ao qual eles se vinculam, remontam à criação da profissão do ponto
de vista legal e de sua instituição. Seu papel é fiscalizador,
regulador, organizador. Outras iniciativas como sindicatos e
associações de empresas e agências também não podem ser
desconsideradas, mas acabam por não obter visibilidade junto à
sociedade civil e tampouco aos profissionais, esvaziando-se e
enfraquecendo-se.
33 Sobre a ABRP consulte-se www.abrpsaopaulo.com.br. Acesso em 15/01/2006. 34 Mais informações consultar o site da entidade: www.conferp.org.br. Acesso em 15/01/2006.
Nesse contexto, uma importante entidade é a Aberje35 (Associação
Brasileira de Comunicação Empresarial). Criada em 1967, ela se
dedicava originalmente a congregar editores de publicações
empresariais. Com o passar do tempo, passou a ser um difusor do
conceito de comunicação empresarial, com uma visão mais ligada a
Relações Públicas e não apenas a ferramentas de comunicação
institucional. Sua vinculação se dá com departamentos internos de
comunicação de empresas (Kunsch, 1997, p. 57-61).
Em 2002, uma nova associação foi criada – não especificamente de
Relações Públicas, mas tendo-a como ponto-chave reunir empresas
prestadoras de serviços de Comunicação –, a Abracom36 (Associação
Brasileira das Agências de Comunicação). Um de seus objetivos seria
fortalecer o mercado de agências, representado por um sem-número
de organizações dos mais diversos portes e origens.
Outra de suas propostas seria fortalecer o mercado por meio da
abertura de espaço formal para agências de Relações Públicas
(comunicação institucional, corporativa etc.) em concorrências
públicas, além de mapear o setor, criando perfis, indicadores etc., e
capacitar os seus integrantes. Em 2005, a Abracom passou a
desenvolver projeto em parceria com a Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo, com a criação do Laboratório Agência de
Comunicação, destinado a atuar internamente na ECA-USP, sob a
supervisão de professores e profissionais das associadas da Abracom.
35 Para saber mais sobre a Aberje consultar: www.aberje.com.br. Acesso em 15/01/2006. 36 Ver site da associação: www.abracom.org.br. Acesso em 15/01/2006.
O termo Comunicação Organizacional, no Brasil, não se faz
perceptível em entidades associativas37 – exceto na Aberje, que em
termos de nomenclatura seria a que mais se aproximaria, mas que
utiliza o termo “empresarial” em sua designação. Por outra, a Aberje,
como já foi dito, atua junto a departamentos de empresas nas quais
haja ação de práticas comunicacionais, tornando-se pólo aglutinador
dos profissionais de Comunicação Organizacional que atuam nas
diversas empresas no Brasil. A ela tem cabido um importante papel:
ser a ponta brasileira para a multiplicação dos conhecimentos
relativos a Relações Públicas e a Comunicação Organizacional por
meio da promoção de eventos com importantes nomes das duas
áreas38. Mantém também um site com informações sobre o setor e
tem publicando livros com temas voltados ao desenvolvimento
profissional, que, apesar de não terem cunho de pesquisa e reflexão,
ofertam boa colaboração para os profissionais. Além disso,
transformou o seu prêmio anual em verdadeira referência para o
mercado (Prêmio Aberje, com versões regionais e nacional).
Em termos de visibilidade para a Comunicação Organizacional e até
mesmo como proposta de vinculação desta com as Relações Públicas,
há uma recente iniciativa, a Organicom – Revista Brasileira de
Comunicação Organizacional e Relações Públicas39. Criada por
37 Mencione-se que há um movimento formado por um grupo de pesquisadores de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional que trabalha na criação de uma associação de âmbito nacional envolvendo as duas áreas. 38 A entidade promoveu nos últimos anos palestras e cursos com nomes como James Grunig (1999), Joan Costa (1999 e 2001) e Abraham Nosnik (2005). Grunig é um dos nomes mais conceituados em Relações Públicas no âmbito mundial; Costa lida com a chamada Comunicação Corporativa, dedicando-se fortemente ao estudo da imagem; e Nosnik é um conceituado pesquisador latino-americano da Comunicação Organizacional. 39 A revista está vinculada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Gestão em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA-USP. O curso, por si só, representa uma
Margarida M. Krohling Kunsch em 200440, ela se configura como a
única iniciativa formal conhecida de aproximação das duas áreas e de
divulgação técnico-científica.41 A existência da publicação pode
demonstrar que o campo possui massa crítica de pesquisadores a ponto
de configurar um periódico científico. Ainda vale ressaltar que a
Organicom traz em seu conselho editorial alguns dos maiores expoentes
dos campos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas de
várias universidades da América Latina, da Europa e dos Estados Unidos.
4.2. Entidades representativas no México
Em 1952, foi fundada por Federico Sánchez Fogarty a Asociación
Mexicana de Profesionales en Relaciones Públicas. Nas duas décadas
seguintes, outras entidades foram criadas, como Profesionales en
Relaciones Públicas de Monterrey, Asociación Juarense de
Profesionales em Relaciones Públicas, Asociación Nacional de
Ejecutivos em Relaciones Públicas e Asociación Chihuahuense de
Profesionales en Relaciones Públicas.
A Asociación Mexicana de Profesionales en Relaciones Públicas criou,
em 1967, o Colegio Mexicano de Profesionales en Relaciones
Públicas. Cinco anos mais tarde aconteceu a criação da Asociación
Mexicana de Relaciones Públicas, a partir da fusão da Asociación
iniciativa de discussão entre os campos. Foi criado em 1999, por Margarida Kunsch, que o coordena até hoje. 40 A revista, com periodicidade semestral, é editada pelo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Gestão em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA-USP. Mais informações podem ser obtidas no site www.eca.usp.br/organicom. Acesso em 15/01/2006. 41 O autor desta tese atua como editor da Organicom.
Mexicana de Profesionales en Relaciones Públicas com a Asociación
Nacional de Ejecutivos de Relaciones Públicas.
Em 1972, constituiu-se em Monterrey o Consejo Mexicano de
Profesionales en Relaciones Públicas. Criado por um grupo de
entidades oriundas das principais cidades mexicanas – México,
Guadalajara, Monterrey e Juarez –, o conselho acabou por ser extinto
após a saída de algumas das entidades que o compunham. Enquanto
operou, ele realizou diversas conferências em âmbito nacional.
Nos anos seguintes surgiram a Asociación Nacional de Relaciones
Públicas de Instituciones de Educación Superior (1980), a Asociación
Mexicana de Profesores de Relaciones Públicas e a Federación Mexicana
de Asociaciones de Relacines Públicas (1984), a Academia Nacional de
Relaciones Públicas (1982), depois transformada em Asociación
Mexicana de Estudiantes de Relaciones Públicas (1985), e a Asociación
Mexicana de Agencias Profesionales de Relaciones Públicas (1995).
Na área específica de Comunicação Organizacional, a entidade mais
representativa é a Amco42 (Asociación Mexicana de Comunicadores
Organizacionales), criada em meados da década de 1970, com a
presença mais marcante junto a esse segmento (Newman e Llano, 2000,
p. 12). Ainda que possam ser encontradas muitas entidades associativas
em Relações Públicas e o mesmo não aconteça em relação à
Comunicação Organizacional, pôde-se perceber que a Amco é bastante
representativa junto aos profissionais mexicanos ligados a esse campo.
Este capítulo teve como proposta a tentativa de construção do
conceito de campo em torno de Comunicação Organizacional e de
42 Para mais informações, ver o site www.amco.org.mx. Acesso em 15/01/2006.
Relações Públicas a partir da sumarização de cada uma, seja pelo
histórico independente, seja pelos conceitos e pelas definições
existentes para cada qual, seja pela relação de pesquisadores com
significativo trabalho de construção em torno de uma e de outra.
O capítulo que se segue procurará destacar a formação do
pensamento comunicacional nos campos de Relações Públicas e de
Comunicação Organizacional a partir do estudo da academia e dos
cursos de pós-graduação encontrados no Brasil e no México.
Capítulo 3
A ACADEMIA E O
ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
E EM RELAÇÕES PÚBLICAS
Os campos acadêmicos relacionados à Comunicação Organizacional e
às Relações Públicas estão diretamente relacionados à produção de
pesquisas nos dois temas em nível de pós-graduação. A percepção
inicial é que tanto no Brasil quanto no México já se possa encontrar
massa crítica para dar contorno ao campo e também continuidade à
reflexão teórica, caracterizando Relações Públicas e Comunicação
Organizacional como áreas independentes no que se refere à
pesquisa, mesmo que se entenda serem áreas convergentes.
Ainda que nesses países os estudos não sejam tão antigos – de maneira
substancial, ao menos –, já há pesquisadores fortemente vinculados às
temáticas e com produção significativa, o que constata vigor à pesquisa,
e que de forma direta ou indireta reverte ao mercado de trabalho – às
empresas e aos atores de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional que atuam nesse cenário empresarial/organizacional,
seja no primeiro, no segundo ou no terceiro setor.
Neste capítulo, então, coloca-se em destaque a produção científica
no Brasil e no México em alguns momentos, a partir da percepção
obtida por meio das pesquisas relativas à tese, realizadas junto aos
grupos formadores de opinião nas universidades selecionadas –
brasileiras e mexicanas –, além das sondagens feitas pelo
pesquisador e pela vivência nos campos, bem como pesquisas
anteriormente realizadas nos dois países correlatas ao tema.
Como fonte de dados relativos à produção científica brasileira e
mexicana, ressalte-se que não serão levantados dados primários,
mas apenas serão atualizados os dados secundários que sustentarão
a análise. O objetivo do trabalho não é fazer uma listagem de
instituições ou de trabalhos, apenas, mas desenvolver uma
comparação que talvez possa estimular a reflexão sobre uma
produção latino-americana. Desse modo, o resgate de dados é feito
por julgamento baseado no critério de conveniência e a partir de
autores consagrados em seus universos acadêmicos – com pesquisas
publicadas e balizadas por instituições de sólida tradição.
No Brasil destaca-se a pesquisa A Comunicação Organizacional como
um campo acadêmico de estudos: análise da situação ibero-
americana, desenvolvida por Margarida M. Krohling Kunsch (2001)43,
da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo,
pesquisadora que vem se dedicando à sistematização dos dados de
produção científica tanto de Comunicação Organizacional quanto de
Relações Públicas. A pesquisa conta com
três bases de dados sobre a produção científica (Base Uniex), a produção técnico-especializada (Base Espec) sobre Comunicação Organizacional e Relações Públicas e a Base Unites, que contém o registro de 128 teses e dissertações defendidas em cursos de pós-graduação no Brasil.44
43 A pesquisa teve o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). 44 O material relativo às bases de dados pode ser encontrado no link Repositórios Institucionais da Produção Técnico-científica Lusófona (Respocom), projeto da Rede de Informação em Comunicação dos Países de Língua Portuguesa (Portcom),
No México, pode-se apontar mais fortemente o trabalho desenvolvido
por Raúl Fuentes Navarro (2003), do Departamento de Estudos Sócio-
Culturais do Iteso, em Guadalajara, La investigación acadêmica sobre
comunicación en México: sistematización documental 1995-2001, que
teve o apoio do Coneicc (Consejo Nacional para la Enseñanza de las
Ciencias de la Comunicación). Essa obra se vê reforçada pela de Carlos
Fernández Collado (2003), diretor-geral de Rádio, Televisão e Cinema
da Secretaria do Governo do México, La comunicación en las
organizaciones, na qual se destaca a pesquisa de José de Jesús
González de Almaguer (2003), da Universidade Anáhuac.
1. Panorama brasileiro
Pesquisar o total de trabalhos relativos a uma determinada área é
sempre um esforço hercúleo frente às clássicas dificuldades
encontradas: escassez de bases de dados, indisposição de muitos
membros da comunidade científica e empresarial em efetivar a sua
colaboração por meio de respostas a pesquisas, falta de recursos para o
desenvolvimento de pesquisas, enorme extensão territorial brasileira etc.
Pode-se somar ainda a isso a possível dificuldade em agrupar os
assuntos, pois muitas vezes estes se apresentam de forma
abrangente, generalista, até mesmo interdisciplinar.
O atual estágio do conhecimento mostra que existe, nesses programas [de pós-graduação], um conjunto de estudos esparsos e cuja natureza nem sempre está clara no título. Nas áreas de concentração e nas linhas de pesquisa (...) no Brasil ainda deixam a desejar, por serem incompletos ou não sistematizados efetivamente
no portal www.portcom.intercom.org.br. O número de teses e de dissertações também será revisto e atualizado, conforme estudos da mesma pesquisadora.
os recursos de centros de documentação, bibliotecas, bancos de dados, indexações, etc., e que é bastante difícil obter informações se o pesquisador não puder entrar em contato direto com as fontes. Mencione-se, a propósito a notória dificuldade encontrada por pesquisadores que se propõem fazer índices sistemáticos abrangentes da pesquisa em comunicação (Kunsch, 2001, p. 15).
Diante dessa realidade, a fonte de referência a esta etapa do
trabalho, em que nos propomos analisar o campo acadêmico e a pós-
graduação no Brasil foi a Base Unites (Kunsch, 2001), pesquisa que
compreende um período amostral de 1970 a 2000. Mesmo não se
achando atualizada para os dias de hoje, ela pode, a nosso ver,
servir como fonte – até por se tratar da pesquisa mais densa e mais
atual que existe no momento –, permitindo lançar um olhar mais
amplo sobre o campo. Os dados foram complementados a partir das
fontes disponíveis, especialmente a Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), a qual cumpre o
papel oficial de supervisionar (avaliando, dando recomendações e
autorizações para o funcionamento) cursos e programas de pós-
graduação em nível de mestrado e de doutorado.
Pensamos que dessa maneira será possível desenvolver uma reflexão
sobre a realidade brasileira, dando fôlego a uma comparação desta
com a mexicana, podendo-se, ou ao menos pretendendo-se, traçar
alguns pontos comuns e outros destoantes entre os dois países no
tocante à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas.
Dentro do que nos propusemos chamar de “panorama brasileiro”,
sobressaem alguns elementos, como o sistema de pós-graduação – e o
número de cursos de pós-graduação em Comunicação – versus cursos
de pós-graduação focados ou com linhas de pesquisa relacionadas à
Comunicação Organizacional e às Relações Públicas, as entidades de
pesquisa mais destacadas no campo da Comunicação, número médio de
pesquisas realizadas anualmente, além da produção científica.
Tabela 4
Programas brasileiros de pós-graduação em Comunicação
Universidade Sigla Nome do Programa
1 Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
ECA-USP Ciências da Comunicação
2 Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ Comunicação
3 Universidade de Brasília UnB Comunicação
4 Universidade Metodista de São Paulo
Umesp Comunicação Social
5 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC/SP Comunicação e Semiótica
6 Universidade Estadual de Campinas Unicamp Multimeios
7 Universidade Federal da Bahia UFBA Comunicação e
Cultura Contemporânea
8 Faculdade de Comunicação Pontifícia Universidade Católica do Rio G. do Sul
Famecos-PUC/RS
Comunicação Social
9 Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Unisinos Ciências da Comunicação
10 Universidade Federal de Minas Gerais
UFMG Comunicação Social
11 Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRGS Comunicação e Informação
12 Universidade Federal Fluminense UFF Comunicação 13 Universidade Tuiuti do Paraná UTP Comunicação e Linguagens
14 Universidade Federal de Pernambuco
UFPE Comunicação
15 Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UERJ Comunicação
16 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
PUC/Rio Comunicação
17 Universidade Federal de Santa Maria
UFSM Comunicação
18 Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita
Unesp/ Bauru
Comunicação
19 Universidade de Marília Unimar Comunicação 20 Universidade Paulista Unip Comunicação
Fonte: Kunsch (2001, p. 16), atualizada a partir de www.capes.gov.br em 12/02/2006.
No Brasil, à época da pesquisa utilizada como base, havia catorze
programas de pós-graduação em Comunicação Social, tendo ocorrido
uma ampliação da ordem de 30% em cerca de cinco anos. Hoje o
número é de vinte45 programas, com as seguintes nomenclaturas,
genericamente associadas a suas linhas de pesquisa (Kunsch, 2001;
Capes, 2006): Ciências da Comunicação; Comunicação; Comunicação e
Cultura Contemporânea; Comunicação Social; Multimeios; Comunicação
e Semiótica; Comunicação e Informação; Comunicação e Linguagens.
Das atuais vinte universidades, sete estão no Estado de São Paulo, o
que parece mostrar uma significativa concentração (acima de 30%).
De todas as instituições de ensino superior que oferecem cursos de
pós-graduação em Comunicação Social, somente duas se localizam
na região Nordeste e uma na região Centro-Oeste. As demais estão
na região Sudeste (doze) e na região Sul (cinco)46.
Do universo de cursos de pós-graduação em Comunicação da Base
Unites, somente cinco tinham linhas de pesquisa nas áreas de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas: Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo; Universidade
Metodista de São Paulo; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;
Faculdade de Comunicação (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul; e Faculdade Cásper Líbero (FCL)47. Hoje, com o
descredenciamento da FCL, o número cai para apenas quatro instituições.
Esse número de cursos de pós-graduação com áreas de concentração
dedicadas a Comunicação Organizacional e a Relações Públicas –
cerca de 20% do total dos cursos de pós-graduação brasileiros –, por
seu tempo agrega um número de produções entre dissertações e
45 Disponível em www.capes.gov.br. Acesso em 12/02/2006. 46 Embora tenhamos conhecimento de mais um programa de pós-graduação stricto sensu em Comunicação (Escola Superior de Propaganda e Marketing), levou-se em consideração a informação oficial constante no site da Capes. 47 Instituição credenciada em 1999, descredenciada em 2001 e ora em processo de recredenciamento junto à Capes.
teses de doutorado e teses de livre-docência, estas últimas
encontradas somente na Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo. Se em 2001 ele era de 126 trabalhos,
hoje é de 57648. Se a média nas duas décadas estudadas era de 6,3
produtos por ano, hoje ela passa a algo em torno de 22 por ano.
Gráfico 3
Concentração dos cursos brasileiros de pós-graduação (por estados)
Outros estadosSão Paulo
Gráfico 4
Cursos brasileiros de pós-graduação em Comunicação (por região)
SESUCONE
48 Números fornecidos pela autora da pesquisa A Comunicação Organizacional como um campo acadêmico de estudos: análise da situação ibero-americana, Margarida M. Krohling Kunsch (2001), que ora se dedica à atualização dos dados.
Se compararmos as pesquisas em nível de mestrado àquelas
realizadas no âmbito do doutorado, talvez se possa apontar uma
descontinuidade: contra um total de 91 dissertações de mestrado no
período de 1970 a 2001, encontrávamos somente 28 teses de
doutorado. Em uma rápida projeção pode-se entender que somente
algo em torno de 1/3 das pessoas que concluíam o mestrado nesses
campos de conhecimento davam continuidade à sua trajetória
acadêmica no espaço da pós-graduação, encaminhando-se ao
doutorado. Hoje os mesmos dados apresentam significativo
crescimento. Já são 488 dissertações de mestrado contra 88 teses de
doutorado49, o que poderia mostrar um maior distanciamento entre
aqueles que fazem o mestrado. Todavia, percebe-se que diversos
trabalhos vêm sendo desenvolvidos em outras linhas de pesquisa,
conforme pode ser verificado no banco de teses da Capes. Cursos de
pós-graduação em Administração, por exemplo, vêm recebendo
diversas pesquisas relacionadas a esses temas.
Outro ponto a ser destacado é a posição majoritária da ECA-USP na
formação de mestres e de doutores: mais de 55% do total, o que
talvez se deva fato de seu curso de pós-graduação ter sido pioneiro
no Brasil. Depois da ECA-USP vem a Universidade Metodista de São
Paulo, instituição que apresenta forte tradição nesse segmento,
tendo formado em igual período 22% do total. Percebe-se, então,
concentração em poucas instituições de ensino superior (somente as
duas citadas somam 77% do total), as quais estão, por sua vez,
próximas geograficamente e lideram o ranking em números de pós-
graduados formados e em termos de programas. Cabe destaque à
Famecos-PUC/RS, que vem mantendo programa fortemente dirigido
49 Mesma observação da nota anterior.
à formação de mestres e de doutores nos campos de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas.
De acordo com Kunsch (2001, p. 66), comparativamente a outros
países da América Latina ou da Europa, o Brasil acaba por ter uma
produção significativa diante dos números apresentados. O que se
percebe, todavia, é que há um direcionamento de dissertações,
especialmente, e de teses que se encaminham em certa medida para
questões mais panorâmicas, deixando de lado a reflexão sobre o campo.
A descrição, em alguns casos, se sobrepõe à análise. Todavia, “os novos
trabalhos que vêm sendo desenvolvidos sinalizam uma produção mais
inovadora, com pesquisas empíricas e reflexões teóricas com mais rigor
metodológico e científico” (Kunsch, 2005, p. 58).
De acordo com Kunsch (2005, p. 57),
Relações Públicas e Comunicação Organizacional são áreas que ainda não ocupam um lugar merecido nos diversos cursos de pós-graduação em Comunicação Social no Brasil (...). Isso se dá, sobretudo, porque no quadro docente não há professor qualificado e com produção de “literatura cinzenta” sobre essas áreas de conhecimento ou porque as universidades simplesmente ignoram as possibilidades e a abrangência desse campo científico e da contribuição que ele poderia dar para a sociedade (...).
O crescimento dos pólos de saber, ainda que muito concentrados
geograficamente na região Sudeste do Brasil, estimula o
investimento em pesquisas de pós-graduação no nível stricto sensu.
Até a própria legislação vem reforçando o crescimento da existência
de mestres e de doutores a partir da determinação de número
mínimo de titulados no corpo docente das instituições. Estas,
entretanto, tendem a buscar soluções práticas para manter no menor
patamar possível a população de professores titulados, os quais, é
sabido, costumam ter remuneração superior aos não-titulados,
influenciando os orçamentos das escolas. Nas universidades públicas,
ao contrário, a realidade é a presença maciça de titulados, mas são
poucas as que oferecem cursos de pós-graduação nessas áreas.
Em Relações Públicas e em Comunicação Organizacional parece haver
um encaminhamento para que se realize uma integração efetiva entre
os campos e seus participantes, com a proposta de criação da Abpcorp
(Associação Brasileira dos Pesquisadores de Comunicação Organizacional
e Relações Públicas)50. Pesquisadores de todo o País reuniram-se no final
de 2005 na ECA-USP, com vistas à constituição da entidade, que os
representaria e poderia ser fomentadora do crescimento dos campos e
ponto de união entre os profissionais e os pesquisadores.
Dentro do campo da pós-graduação em Comunicação duas entidades
científicas se destacam: a Intercom e a Compós.
A Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação)51, criada em 1977, tem fortes vinculações com diversas
redes de pesquisa no Brasil e no mundo (SBPC - Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência; Alaic - Asociación Latinoamericana de
Investigadores de la Comunicación; IAMCR - International Association
for Media and Communication Research; IFCA - International Federation
of Mass Communication Associations), fomentando as discussões em
torno do campo da Comunicação, de forma macro. Ela desempenha um
papel de destaque e de liderança no cenário brasileiro e internacional.
50 Para mais informações sobre a entidade, consultar www.intercom.org.br ou www.cecorp.weblogger.terra.com.br. Acesso 12/02/2206. 51 Para detalhes, acessar www.intercom.org.br. Observe-se que o autor desta tese exerce o cargo de diretor administrativo da entidade no mandato de 2005 a 2008. Acesso 12/02/2206.
Paralelamente existe a Compós (Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação)52, criada em 1981, que atua com o
objetivo de qualificar o segmento, integrar os programas existentes e
trabalhar pela criação de outros. Mesmo não se tratando de uma entidade
focada em Comunicação Organizacional ou em Relações Públicas,
congrega grande número de pesquisadores, inclusive dessas áreas.
As duas entidades têm papéis próprios e complementares, atuando
tanto na forma da orquestração quanto na da produção, pois ambas
possuem sites, revistas e eventos periódicos.
Ressalte-se ainda que há pesquisas que têm demonstrado continuidade
na análise do progresso da pós-graduação em Comunicação – de forma
geral e também com relação à Comunicação Organizacional e às
Relações Públicas. Obras como Relações públicas e modernidade: novos
paradigmas na comunicação organizacional, de Margarida Kunsch
(1997), títulos publicados pela Intercom – como a publicação relativa
aos vinte anos da Intercom (Lopes M. I., 1999), que apresenta estudo
sobre o desenvolvimento dos dois campos, e a que historia os 25 anos
da entidade (Peruzzo e Moreira, 2002), além da recente obra que
apresenta panorama sobre o pensamento comunicacional no Brasil
(Lopes et al., 2005); pesquisas financiadas pelo CNPq; e artigos em
revistas científicas como Comunicação & Sociedade, editada pela
Universidade Metodista de São Paulo (o no 32 teve um extenso dossiê
sobre a Comunicação Organizacional e o no 39, outro sobre Relações
Públicas)53 e Organicom – Revista Brasileira de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas – cuja temática é integralmente
dedicada às duas áreas, além de ser ponte entre a academia e o
52 Para mais informações, consultar www.compos.org.br. Acesso 12/02/2206. 53 Para informações detalhadas, consultar www.umesp.com.br. Acesso 12/02/2206.
mercado pela proposta editorial voltada aos dois segmentos – que
incrementam a consolidação dos espaços do campo da Comunicação.
2. Panorama mexicano
México e Brasil são dois dos mais importantes países da América
Latina, o que os torna fortes influenciadores dos contornos do
panorama comunicacional latino-americano. O contexto de pesquisa
em Comunicação mexicano pode ser abordado principalmente a
partir do trabalho de Raul Fuentes Navarro, que engloba o panorama
circunscrito entre os anos de 1995 e 2001, abordando os caminhos e
as tendências de desenvolvimento nesse período. A iniciativa do
autor já vem de muitos anos, com dedicação à sistematização da
produção científica em Comunicação de todo o México. De acordo
com ele,
A pesquisa acadêmica sobre comunicação no México está distante de caracterizar-se como uma estrutura estável. Trata-se de uma área acadêmica em constante reformulação, tanto de seus objetos e métodos de estudo quanto de suas próprias bases de justificação e de legitimação, assim como os programas, os quais institucionalmente se configuram como um conjunto de projetos, ou seja, de ações e recursos orientados desde propósitos intelectuais e sociais reconhecidos como válidos, pelo menos por seus próprios praticantes. Daí a pertinência do conceito de campo acadêmico para analisar a fundo os fatores de sua estruturação (Fuentes, 2003, p. 13).
Na pesquisa de Fuentes existe a clara preocupação em manter, além
de dados acerca da pesquisa em Comunicação realizada no México, a
criação de um corpus que permita centralizar as informações, nas
quais se incluem, ainda, pesquisas desenvolvidas no Exterior com
temática ligada à realidade mexicana. Estas não serão consideradas
em nossa tese, pois não haveria termo de comparação com o cenário
brasileiro, uma vez que não se dispõe de fonte de dados de
pesquisadores brasilianistas em Comunicação Organizacional e em
Relações Públicas. Das 296 teses e dissertações configuradas no trabalho
de Fuentes, 211 foram efetivamente elaboradas e apresentadas no
México. Destas serão recortadas apenas aquelas cuja proposta esteja
relacionada à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas54.
De maneira geral, pode-se apresentar um quadro-resumo do
trabalho de catalogação de Fuentes, que mostra também uma
grande concentração de pesquisas no âmbito do mestrado (66,5%)
em confronto com o do doutorado (33,5%), conforme Tabela 6. Isto
talvez também sugira uma descontinuidade dos pesquisadores na
trajetória da pós-graduação, a exemplo do que pode estar ocorrendo
no Brasil, como dito anteriormente. Parcela significativa daqueles que
concluem o mestrado não seguem em suas pesquisas ou no stricto
sensu rumo ao doutorado nas mesmas linhas de pesquisa – pode
haver uma migração para outras áreas, é bem verdade.
Tabela 5
Pesquisas de pós-graduação em Comunicação desenvolvidas sobre o México (1995-2001)
Nível de Pós-Graduação Número % Mestrado 198 65,5 Doutorado 98 33,5 Total 296 100,0
Fonte: Adaptado de Fuentes (2003, p. 16).
Ainda de acordo com Fuentes (2003), existe, assim como acontece
no Brasil, concentração de pesquisas de mestrado e de doutorado em
poucas instituições (cf. Tabela 6).
54 A segmentação foi feita a partir de fatores como títulos e resumos dos trabalhos.
Tabela 6
Instituições de ensino superior mexicanas em que se apresentaram dissertações e teses (1995-2001)
Instituição Número
Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey (Itesm) 72 Facultad de Ciências Políticas y Sociales de la Universidad Autónoma de México (Unam)
68
Universidad Iberoamericana Santa Fé 47 Centro Universitário de Ciências Sociales y Humanidades de la Universidad de Guadalajara
10
Outras 9 instituições 14 Total 211
Fonte: Adaptado de Fuentes (2003, p. 19).
Em sua catalogação Fuentes (2003, p. 24) assinala como um tema
pesquisado a “comunicación institucional y organizacional”, mas não
indica qualquer pesquisa diretamente relacionada a Relações Públicas.
Isto talvez sugira que, na realidade mexicana, como também
percebemos nas entrevistas realizadas, se atente mais para as Relações
Públicas como área diretamente ligada ao campo de atuação
profissional, como poderá ser avaliado mais à frente, quando tratarmos
das entrevistas de campo. Ainda nos levantamentos realizados por
Fuentes, o tema opinião pública, por exemplo, encontra-se inserido no
âmbito da cultura política, sem nenhuma menção a Relações Públicas.
De acordo com a avaliação feita nesta pesquisa de doutorado –
baseada em títulos e resumos –, das 211 dissertações e teses
mexicanas arroladas por Fuentes na área de Comunicação (no
período em questão – 1995-2001), a nosso ver, somente 15 podem
ser consideradas relacionadas à Comunicação Organizacional e às
Relações Públicas, ou seja, 7,1% do total (cf. Gráfico 5).
Gráfico 5
Comparativo entre pesquisas em comunicação e pesquisas em CO e RP
(México – 1995-2001)
0
50
100
150
200
250
Pesq.ComunicaçãoPesquisas CO eRP
Um ponto que se deve ressaltar é que as produções identificadas como
sendo relativas à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas se
enquadram somente no nível de mestrado, pois não há programas de
doutorado na área de Comunicação Organizacional ou de Relações
Públicas. Efetivamente são quatro instituições de ensino que têm
programas definidos de pós-graduação – em nível de mestrado –,
dedicados a estudos de Comunicação Organizacional (cf. Tabela 7).
Tabela 7
Programas mexicanos de Pós-Graduação em Comunicação Organizacional
Instituição Linha de Pesquisa Início Universidad Anáhuac Comunicaciones Corporativas 1997 Centro Avanzado de Estudios de la Comunicación
Comunicación Institucional -
Universidad Latinoamericana Comunicación Empresarial 1999 Universidad Panamericana Comunicación Institucional -
Fonte: González de Almaguer (2005, p. 234).
Outro fator a ser apontado é que das 15 dissertações uma média anual
pouco superior a 2,1), a nosso ver, somente duas poderiam ser
enquadradas como sendo de Relações Públicas, estando as demais
ligadas a estudos associados à Comunicação Organizacional.
As dissertações vistas por nós como ligadas aos campos de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas foram
desenvolvidas em apenas quatro universidades, com significativa
concentração na Universidad Iberoamericana Santa Fé, instituição
particular de ensino localizada na Cidade do México, capital do país.
Como resultado da comparação entre as Tabelas 8 e 9, pode-se
perceber que o estudo de Fuentes não menciona trabalhos
desenvolvidos nas instituições cujos programas de pós-graduação em
áreas ligadas a Comunicação Organizacional e a Relações Públicas
são formalmente constituídos. Os 15 trabalhos foram realizados
somente em instituições nas quais, oficialmente, não há programas
relacionados a essas áreas estabelecidos, o que parece um paradoxo.
Tabela 8
Instituições de Ensino Superior onde se desenvolveram pesquisas sobre CO e RP (1995-2001)
Temática
Instituições CO RP
Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey (Itesm)
2 -
Facultad de Ciências Políticas y Sociales de la Universidad Autónoma de México (Unam)
1 -
Universidad Iberoamericana Santa Fé 9 2 Centro Universitário de Ciências Sociales y Humanidades de la Universidad de Guadalajara
1 -
Fonte: González de Almaguer (2003, p. 234).
3. Duas realidades frente a frente
Diante dos números é quase impossível não concluir que a massa crítica
– em números e em diversidade – é maior no Brasil que no México,
tanto em Comunicação Organizacional quanto em Relações Públicas. Se
os números não são relativos ao mesmo período, a média recente
brasileira é superior à mexicana, o que não pode ser desconsiderado.
Elementos como antiguidade – criação dos primeiros cursos de pós-
graduação no Brasil já na década de 1970 –, número de teses,
dissertações e orientadores mostram, de forma bastante significativa,
um diferencial na evolução dos dois campos acadêmicos nos dois países.
O campo acadêmico em Relações Públicas, no Brasil, é configurado
por um conjunto expressivo de pesquisadores, tanto em dissertações
quanto em teses, entre as quais podem ser incluídas as teses de
livre-docência. No México, ao contrário, o campo se restringe a
algumas dissertações, notadamente de Comunicação Organizacional,
o que pode mais uma vez sugerir a interpretação de que Relações
Públicas esteja mais associada ao campo de atuação profissional,
isolando-se do campo acadêmico, o que não é percebido no Brasil55.
Se no Brasil se dá uma grande mescla entre as diversas terminologias
atribuídas indistintamente a Comunicação Organizacional e a Relações
Públicas, há, a nosso ver, uma maior aproximação entre mercado e
academia. Isso pode ser notado por iniciativas como os prêmios, que
têm ganhado espaço e destaque. Como exemplo pode-se citar o Prêmio
USP de Comunicação Corporativa, uma iniciativa do Laboratório
Integrado de Marketing e Cultura, da Escola de Comunicações e Artes,
que teve sua quinta edição em 2005, laureando empresas a partir da
análise de suas ações de comunicação – os chamados cases; ou o
Prêmio Aberje, da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação
Empresarial), em suas versões regionais e nacional, no qual as
55 Vale relembrar o projeto da Abpcorp, que demonstra a proximidade entre os integrantes das áreas de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional.
campanhas e as peças de comunicação são avaliadas por equipes de
jurados compostas por profissionais de mercado e professores.
Mesmo podendo-se perceber que no Brasil haja uma certa confusão entre
as denominações, parece haver uma profusão de produção técnica, o que
é demonstrado pela própria existência dos prêmios, e que é atribuída
genericamente a Relações Públicas. Ocorrem também, em ambos os
campos, alguns pólos de excelência, que podem ser identificados pelo
crescimento da produção (livros; revistas – havendo uma exclusiva aos
campos em questão: Organicom; dissertações; teses).
No México, contudo, como também pudemos perceber a partir das
entrevistas em profundidade, há uma lacuna significativa entre a
Comunicação Organizacional e as Relações Públicas, atribuindo-se a
elas uma separação e não uma complementaridade ou um diálogo. A
constituição de espaços institucionais que privilegiem a pesquisa em
Comunicação existe nos dois países, sendo claros, segundo González
Almaguer (2003, p. 232), o crescimento e o estímulo à comunicação
tanto no campo do ensino e da pesquisa quanto no profissional.
No México acha-se configurada uma associação ligada com o ensino e a
pesquisa de comunicação, o Coneicc (Consejo Nacional para la
Enseñanza y Investigación de las Ciencias de la Comunicación)56, criado
em 1976, que reúne escolas de Comunicação e premia teses. Existe
também a Amic (Associación Mexicana de Investigadores de
Comumicación)57, equivalente à Intercom (Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação)58. Esta, criada em 1977,
acolhe anualmente pesquisadores nacionais e internacionais no
56 Para mais detalhes, ver www.coneicc.org.mx. Acesso em 12/02/2006. 57 Para mais informações, consultar http://hyperlab.politicas.unam.mx/amic. Acesso em 12/02/2006. 58 Ver www.intercom.org.br. Acesso em 12/02/2006.
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, que inclui os trabalhos
de um de seus muitos núcleos de pesquisa, o de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas. O congresso da Intercom, realizado
anualmente, já com 28 edições consecutivas, é um dos maiores eventos
de Comunicação do mundo, reunindo em geral mais de quatro mil
pessoas. A entidade também edita uma publicação semestral de amplo
reconhecimento, a Revista Brasileira de Ciências da Comunicação.
Há, ainda, no âmbito latino-americano, a presença da Felafacs
(Federación Latinoamericana de Facultades de Comunicación)59,
criada em 1981, com representantes dos dois países marcando
presença. Além da Felafac, não pode deixar de ser citada a Alaic
(Asociación Latinoamericana de Investigadores de la
Comunicación)60, com forte presença no Brasil e no México. Nas duas
últimas gestões a presidência da Alaic foi ocupada por uma
pesquisadora brasileira, Margarida M. Krohling Kunsch; o pesquisador
mexicano Octavio Islas compõe a atual diretoria, presidida pelo
boliviano Erick Torrico. A Alaic pode ser destacada ainda pelo fato de
ter uma revista de grande representatividade, a Revista
Latinoamericana de Ciências de la Comunicación, criada em 2004,
por Margarida Kunsch, sua atual diretora-responsável, e por ter
criado espaço para discussão da Comunicação, em seus congressos
bienais e, notadamente, por meio de grupos de trabalho (GTs) que
se reúnem periodicamente, entre os quais o de Relações Públicas e
Comunicação Organizacional tem presença assegurada.
Talvez se possa apontar como um diferencial a existência da Amco
(Asociación Mexicana de Comunicadores Organizacionales)61. Ainda
59 Para mais informações, consultar www.felafacs.org. Acesso em 12/02/2006. 60 Detalhes em www.alaic.net. Acesso em 12/02/2006. 61 Ver mais informações em www.amco.com.mx. Acesso em 12/02/2006.
que não haja atualmente, de forma marcante, a presença de uma
entidade de relações Públicas no México, tendo as sondagens junto
aos pesquisadores desse país indicado certo declínio das associações,
os mexicanos se fazem representar em uma das mais importantes
entidades de Relações Públicas das Américas, a Confiarp
(Confederação Interamericana de Relações Públicas)62, por meio de
Jaime Augusto Villalobos Díaz, atual presidente da organização.
No Brasil, em contrapartida, a situação é um pouco diversa. Existe uma
associação criada em 1954, que reúne os profissionais de Relações
Públicas, a ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas) – que nos
últimos anos não tem conseguido manter boa representatividade junto
aos agentes do mercado e da academia –, além do Conferp (Conselho
Federal de Profissionais de Relações Públicas).
Quanto à área de Comunicação Organizacional, esta tem tido como
espaço para discussão o Núcleo de Pesquisa em Comunicação
Organizacional e Relações Públicas da Intercom, criado em 2000,
como continuidade e junção dos Grupos de Trabalho de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas anteriormente existentes.
No final de 2005, reuniu-se um grande grupo de pesquisadores de
todo o Brasil ligados à temática de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas, no Fórum de Pesquisadores de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas, realizado pela ECA-USP. Foi
então proposta e discutida a criação de uma associação de âmbito
nacional para a área de pesquisa de Comunicação Organizacional e
Relações Públicas, a Abpcorp (Associação Brasileira de Pesquisadores
de Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Além disso,
62 Para mais informações, consultar www.confiarp.org. Acesso em 12/02/2006.
existe a Aberje, que, se não é um espaço destinado à pesquisa
científica, tem sido palco de discussões das temáticas do campo da
Comunicação, incluindo a Comunicação Organizacional e as Relações
Públicas.
Acredita-se que a criação de uma associação específica não excluiria
o já referencial núcleo de pesquisa da Intercom. Ao contrário,
consolidaria a pesquisa em torno das temáticas, notadamente em um
momento no qual se discutem as áreas do conhecimento no País.
Os campos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
ainda não estão totalmente configurados, mas denotam a busca de
maturidade, com histórias diferentes, em termos de produção,
pesquisadores e cronologia, tanto no Brasil quanto no México. Os
momentos e as trajetórias são particulares, mas se encaminham
para um panorama que indica evolução.
O capítulo seguinte dará ênfase às relações estabelecidas com o e pelo
mercado, espaço no qual se dão as práticas profissionais, oriundas ou
não de reflexão teórica acadêmica. Como estratégia metodológica, foram
ouvidos profissionais identificados como os mais representativos nos
campos da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas, a fim
de permitir o esboço de um ambiente no qual a história, os conceitos e
as ações práticas se efetivam e ganham novos contornos.
Capítulo 4
ACADEMIA, MERCADO E SUAS VOZES:
PERCEPÇÕES E DIÁLOGO
Este capítulo parte do propósito de registrar e de interpretar os
discursos dos agentes envolvidos na construção dos campos
acadêmico e profissional de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional no Brasil e no México. Para tanto foi realizada
pesquisa junto a especialistas (do mercado e da academia)63. A
primeira etapa deste capítulo se presta a colocar em destaque, em
um primeiro momento, a metodologia utilizada para a efetivação do
estudo de campo e, em um segundo turno, esclarecer o método de
análise e, por fim, a efetiva análise dos quadrantes que compuseram
o estudo: academia, mercado, Brasil, México.
O intuito não é simplesmente fazer um estudo comparativo64, mas,
como explicitado no título desta tese, apresentar um diálogo sobre os
campos e seus agentes, a fim de permitir uma percepção sobre o
entendimento de cada um e, simultaneamente, projetar um cenário a
respeito eles.
63 O projeto, a realização e a análise da pesquisa qualitativa contaram com a consultoria das professoras e profissionais de pesquisa Vânia Penafieri e Heloisa Figuerôa, ambas com vasta experiência acadêmica e de mercado. 64 A comparação daria como certa a adjetivação a uma ou a ambas as partes. Comparativo exprime a superioridade, a inferioridade ou a igualdade. Não se acredita que qualquer um desses elementos poderia ser atribuído ao México e ao Brasil, pois não há hierarquização e, simultaneamente, cada qual mantém tantas peculiaridades que os torna únicos. Acreditamos, ainda, que não se possam indexar Comunicação Organizacional ou Relações Públicas pelo mesmo critério, pois pensamos que ambas constituam campos independentes e com características próprias.
Em diversos momentos, ao longo da análise, foram utilizados verbatins65
extraídos das falas dos entrevistados, os quais, acreditamos, podem vir
a subsidiar mais fortemente a compreensão acerca do pensamento
corrente dos responsáveis pelo fazer e pelo saber dos dois campos.
1. Descrição da metodologia de pesquisa
1.1. Problema
Tanto Relações Públicas quanto Comunicação Organizacional
apresentam diversas compreensões a respeito de sua natureza
conceitual e de seus campos de atuação. Por outro lado, essa
diversidade de compreensões pode levar, em muitos casos, a
percepções muito parecidas do que seja cada um dos campos,
podendo gerar fusão de conceitos, e, nesse caso, ao entendimento
dos campos de forma equivalente, ou até sinônima, mesmo que haja
pesquisas, publicações e agentes praticantes de seus conceitos –
separadamente. Entende-se, ainda, que ambas tenham as suas
fundamentações oriundas principalmente dos estudos e práticas
norte-americanos, seus efetivos criadores e difusores.
A busca por compreender as formas como esses dois campos são
abordados nos dois países em questão foi a real motivação para a
realização da pesquisa qualitativa, considerando-se que todo projeto
de pesquisa de campo “deve partir de uma real necessidade de
65 Termo corrente em pesquisa, que se refere a textos oriundos das falas dos entrevistados, reproduzidos literalmente ou adaptados de forma a dar-lhes maior clareza para a análise das pesquisas.
informação, de uma situação em que haja indagações e de dúvidas a
serem respondidas” (Samara e Barros, 2002, p. 12).
Cabe indagar se Comunicação Organizacional e Relações Públicas são
claramente percebidos por parte dos atores desses campos – e
mesmo se eles compreendem as diferenças e as semelhanças entre
ambas – e se existe uma identidade latino-americana, ao menos no
discurso, que possa ser verificada no recorte Brasil e México.
Os conceitos multiplicados por meio de publicações acabam por ser
referência para os agentes de um segmento, mas ao mesmo tempo esses
agentes são elementos essenciais para a construção desses conceitos.
Essa relação dinâmica compõe o sistema de informação, o qual é
municiado por academia, mercado e sociedade. Teriam eles uma clareza
sobre os campos? Como está o cenário e a construção dos campos – de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – nesses dois países?
1.2. Objetivos
A realização de uma pesquisa de campo tem para esta tese de doutorado
a clara intenção de buscar em dados ainda não disponíveis – ou
primários, “aqueles que não foram antes coletados (...) e que são
coletados com o propósito de atender Às necessidades específicas de uma
pesquisa” (Mattar, 1999, p. 134) – orientação para efetivar a comparação
entre os dois países e os dois campos. Os objetivos desta pesquisa
partem da “indagação básica que o pesquisador deve fazer para a
elaboração correta dos objetivos de pesquisa” (Samara e Barros, 2002, p.
12).
A partir da pesquisa de campo se estima, como objetivo geral,
possibilitar a avaliação e a confrontação com os conceitos até aqui
apresentados – oriundos da revisão bibliográfica, além da própria
história dos campos, também fruto de pesquisa bibliográfica –,
colocados diante da percepção dos pesquisadores e dos praticantes
de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional.
Como objetivos específicos pretende-se destacar a percepção sobre a
identidade dos campos – se eles são identificados como tal – e se
existe uma possibilidade de comparação entre estes no Brasil e no
México, a partir da compreensão/interpretação/conceituação dos
referidos campos pelos entrevistados.
1.3. Tipo de pesquisa
Como tipo de pesquisa foi adotado o método qualitativo, pois, a
nosso ver, este seria mais ajustado às necessidades do estudo, visto
que a abordagem qualitativa poderia ser “(...) uma forma mais
adequada para poder entender a relação de causa e efeito do
fenômeno e conseqüentemente chegar à sua verdade e razão”
(Oliveira, 2002, p. 116). Além disso, a abordagem qualitativa premia
a busca de informações quando a intenção é mais de procurar
caminhos do que medi-los.
1.4. Amostra
Partindo-se de um universo binacional e que envolvia dois campos, a
técnica amostral escolhida foi por julgamento. Para nós, não seria
adequada uma amostra – que é “uma parte de um universo, ou
população, com as mesmas características destes” (Samara e Barros,
2002, p. 91) – aleatória para os fins desta tese, pois a busca de apoio
em fatores probabilísticos não iria ao encontro, necessariamente, da
profundidade desejada. Isso descartou a possibilidade de aleatoriedade,
o que seria de se esperar em função da abordagem de pesquisa
adotada. A escolha dos entrevistados partiu de informações prévias,
baseadas em estudos exploratórios anteriormente realizados, e buscou
assegurar que os entrevistados fossem líderes de opinião reconhecidos e
profundos conhecedores do tema dentro do segmento.
Ainda que se tenha optado por entrevistas em profundidade, houve três
casos em que a utilização do correio eletrônico foi a única alternativa
ante a impossibilidade de agendamento e/ou deslocamento, o que
poderia levar a uma interpretação de que a pesquisa qualitativa poderia
ter se tornado um estudo exploratório. Todavia, por ter sido uma
pequena parcela da amostra, e por ter sido dirigida a profundos
conhecedores do universo relativo à pesquisa, o estudo qualitativo, a
nosso ver, mantém as suas características seminais e pode ser
interpretado de maneira plena, ainda que ele não se proponha uma
extrapolação ao universo, o que não se daria de qualquer outro modo,
por não ser um estudo com critérios probabilísticos.
Dentro dos critérios de seleção da amostra, a etapa mexicana é
composta por doze entrevistas, todas realizadas pessoalmente66 pelo
autor da tese, formando um conjunto composto por pesquisadores e
representantes do mercado e de entidades representativas. Em
alguns casos os entrevistados exerciam ou exerceram mais de um
papel dentre os aqui listados, concomitantemente.
66 As entrevistas foram realizadas ao longo do mês de janeiro de 2005, na Cidade do México, em Guadalajara e em Atizapán.
No caso brasileiro, a amostra foi de nove pessoas, composta também
por pesquisadores, profissionais e representantes de entidades.
Somente no Brasil houve entrevistas por correio eletrônico em
função das dificuldades de acesso aos entrevistados, em razão,
notadamente, das distâncias e das agendas pessoais.
Os critérios de seleção da amostra se basearam em entrevistar os
representantes de agências ligadas a Relações Públicas que
estivessem simultaneamente nos dois países – um total de três –, o
que resultou em ouvir somente multinacionais de origem americana.
Quanto aos profissionais brasileiros envolvidos com a academia,
foram selecionados professores que tivessem vinculação com
programas de pós-graduação em cujas linhas de pesquisa fossem
contemplados os campos (ECA-USP, Metodista e PUC-RS). No México
os professores selecionados foram aqueles que tivessem vinculação
com a pesquisa no campo da Comunicação Organizacional ou no das
Relações Públicas. Além disso, as entidades representativas tiveram
voz por meio de seus representantes diretos ou daqueles que tenham
tido relação direta com as mesmas, por meio de cargos
representativos, em ambos os países (cf. Tabela 10).
A amostra, desse modo, esteve composta por grandes especialistas.
Alguns claramente envolvidos com uma ou com outra área –
Relações Públicas e Comunicação Organizacional –, outros com
trânsito em ambas. Da amostra, quinze são professores, seis são
responsáveis pela gestão de agências de Relações Públicas, ao
menos seis estão ou estiveram envolvidos diretamente com
entidades representativas, compondo a sua diretoria. Oito deles
estão diretamente envolvidos – seja pelo caminho das Relações
Públicas, seja pela Comunicação Organizacional – na formação de
pesquisadores para as duas áreas.
Essa multiplicidade de perfis foi escolhida intencionalmente, buscando-se
o entendimento das nuanças das duas áreas e tentando-se compreender
se havia representações efetivas de ambas nos diversos grupos da
sociedade. Desse modo, seguem as transcrições das entrevistas (cf.
Anexos B e C), que não seguem um modelo rígido, pois foram realizadas
de acordo com as potencialidades percebidas no estudo dos perfis dos
entrevistados e à medida que se desenrolava a entrevista. No Anexo B
estão aquelas relativas ao México, realizadas durante o mês de janeiro
de 2005, e no Anexo C, as que foram levadas a efeito com os
pesquisadores brasileiros, ao longo de 200567.
Tabela 9
Relação de entrevistados (México e Brasil)
Anexo País Entrevistado(a)o Caracterização
B-5 México Abraham Nosnik Diretor de Pesquisa na Universidade Anáhuac
B-9 México Carlos Bonilla Diretor de Comunicação Corporativa e Relações Públicas da AeroMéxico; professor e autor de livros sobre Relações Públicas
C-3 Brasil Cleusa Maria Andrade Scroferneker
Professora-titular da PUC-RS; coordenadora do GT Comunicação Organizacional no Seminário Internacional de Comunicação – organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-RS
B-2 México José Antônio Tamayo Diretor-presidente da agência Hill and Knowlton no México
B-4 México José de Jesús González de Almaguer
Professor da Universidade Anáhuac; ex-presidente da Amco
67 Os anexos estão ordenados de acordo com a realização, transcrição e, quando necessária, tradução das entrevistas.
C-1 Brasil José Marques de Melo Professor-titular emérito da Universidade de São Paulo; diretor titular da Cátedra Unesco de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo; presidente de honra e presidente-executivo da Intercom
B-6 México Juan Andrés Rincón Representante latino-americano da IABC (International Association for Business Communicators); diretor de Comunicação da Universidade Anáhuac; membro da IABC
B-1 México Luis Nuñes Ex-presidente da Felafacs; diretor de Cooperação Acadêmica da Universidade Ibero-Americana
B-3 México Maria Antonieta Rebeil Corella
Diretora do Centro de Investigação Aplicada da Universidade Anáhuac
B-11 México Mônica Vale Professora de Estudos Tecnológicos do Instituto Superior de Monterrey; doutoranda em Estudos Científicos e Sociais no Iteso, em Guadalajara
B-12 México Octavio Islas Diretor de Comunicação Estratégica e Cibercultura do Instituto Tecnológico de Estudos Superiores de Monterrey; editor da revista eletrônica Razón y Palabra
C-9 Brasil Paulo Nassar Professor da ECA-USP; presidente-executivo da Aberje
B-7 México Rafael Casas Don Diretor-presidente da agência Burson-Marsteller no México
C-7 Brasil Ramiro Prudêncio Presidete e CEO da Burson Marsteller no Brasil; membro-fundador da Abracom
B-10 México Raul Fuentes Navarro Diretor de pesquisa do Instituto Tecnológico de Estudos Interculturais Superiores do Ocidente (Iteso), em Guadalajara
C-6 Brasil Renata Monte Alegre Gerente-geral da Hill & Knowlton Brasil C-8 Brasil Roberto Porto Simões Professor-titular da PUC-RS e professor
de pós-graduação em Relações Públicas 3-D Brasil Ronald Mincheff Presidente da Edelman no Brasil C-5 Brasil Sidinéia Gomes
Freitas Professora-titular da Universidade de São Paulo; ex-presidente do Conferp
B-8 México Tim Scerba Presidente da agência Edelman no México
C-2 Brasil Wilson da Costa Bueno
Diretor da Editora Comtexto; professor da ECA-USP e da Metodista; docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo
1.5. Técnica e instrumento de coleta de dados
A técnica de coleta de dados que nos pareceu a mais adequada para
esse caso foi a entrevista em profundidade68. Lehmann (1993)
esclarece que entrevistas em profundidade têm como metodologia o
direcionamento de perguntas a um só sujeito, por um só
entrevistador. As entrevistas costumam ter duração superior a uma
hora e exigem um entrevistador altamente treinado e familiarizado
com a temática discutida. O objetivo principal desse tipo de
entrevista é esmiuçar possíveis respostas superficiais e direcionar a
compreensão da pesquisa a partir do conhecimento amplo do
selecionado para a entrevista
Tabela 10
Roteiro para comunidade acadêmica/entidades associativas
Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
Como podem ser definidas a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas no âmbito acadêmico. De que maneira essas duas áreas (Comunicação Organizacional e as Relações Públicas) dialogam no âmbito acadêmico. Em termos de trajetória, quais foram as mudanças conceituais significativas alcançadas pela Comunicação Organizacional e pelas Relações Públicas nos últimos anos. Quais podem ser as origens, as bases de fundamentação do pensamento comunicacional do país em questão. De que modo a globalização estimulou ou estimula o intercâmbio dos conceitos.
Produção acadêmica
Influência norte-americana no pensamento e nos processos acerca da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas. Como essa influência pode ser percebida na produção bibliográfica e científica do país. Panorama cronológico de produção de pesquisas nas duas áreas (Comunicação Organizacional e Relações Públicas) e possíveis influências norte-americanas. Principais pesquisadores.
Educação e mercado de trabalho
Como é vista a atuação das entidades de classe (profissionais e acadêmicas) e do mercado de trabalho com relação à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas. De que forma a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas são abordadas nos cursos de Comunicação Social. Estuda-se o mercado para, de algum modo ajustar a teoria à práxis? A percepção sobre a influência de imagem e de identidade sobre a ação da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas.
68 Realizadas pessoalmente, gravadas pelo entrevistador, transcritas e traduzidas por profissional especializado.
Para a realização das entrevistas foi utilizado como instrumento de
coleta de dados um roteiro (cf. Tabelas 10 e 11) previamente elaborado
– e não-estruturado, como característica das pesquisas qualitativas –, de
modo a dar sustentação à condução da entrevista, e calcado nos
objetivos, nas hipóteses e na metodologia do trabalho. De acordo com
Trujillo (2001, p. 37), o roteiro é uma lista de tópicos organizados em
uma seqüência lógica que será seguida pelo entrevistador. O roteiro
garante que a entrevista percorra um determinado caminho e que os
assuntos sejam discutidos na ordem predefinida.
Tabela 11
Roteiro para agências de comunicação
Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
Como podem ser definidas a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas no âmbito mercadológico. De que maneira essas duas áreas (Comunicação Organizacional e as Relações Públicas) dialogam no âmbito mercadológico. No que se refere à trajetória, quais foram as mudanças conceituais significativas alcançadas pela Comunicação Organizacional e pelas Relações Públicas nos últimos anos. De que modo a globalização estimulou ou estimula o intercâmbio dos conceitos. Como é o fluxo de comunicação entre as filiais de sua empresa localizadas no Brasil/no México.
Perfil do profissional
Influência norte-americana na formação e atuação do profissional de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas. Se há influência, como esta pode ser percebida no dia-a-dia das organizações. Panorama cronológico e comparativo de oportunidades de trabalho nas duas áreas (Comunicação Organizacional e Relações Públicas). Análise do perfil do profissional de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – tanto em termos de demanda, quanto em termos de formação. Obras referenciais para o profissional de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.
Influências sobre o mercado de trabalho
Como é vista a atuação das entidades de classe (profissionais e acadêmicas) e da comunidade acadêmica com relação à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas. De que forma a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas são abordadas nas organizações. A percepção sobre a influência de imagem e de identidade sobre a ação da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas.
2. Análise e interpretação dos dados A análise qualitativa teve como base as 21 entrevistas realizadas
entre Brasil e México, num total de mais de 30 horas gravadas e que
resultaram mais de 150 páginas de transcrição. Podem ser
encontrados dois grandes blocos de análise: um formado por “Área
acadêmica e entidades associativas” e outro por “Agências de
comunicação”, segmentados em diversos tópicos de análise,
buscando minuciar cada informação resultante das entrevistas.
O referencial de análise se deu a partir de roteiros (cf. Tabelas 12 e 13 –
esta mais adiante), protocolos originais das pesquisas, e teve como
objetivo buscar um melhor entendimento sobre as questões de pesquisa
da tese, que parte do pressuposto de que haja a existência de dois
campos. Tanto mexicanos quanto brasileiros mostram não haver uma
uniformidade nas posições sobre Comunicação Organizacional e Relações
Públicas, como será possível avaliar mais à frente. Os blocos serão
divididos entre Brasil e México, com o objetivo de facilitar a análise.
2.1. Área acadêmica e entidades associativas
Tabela 12
Roteiro de análise de entrevistas (1)
Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
Definições e possibilidade de diálogo entre as áreas. Mudanças conceituais nos últimos anos. Bases de fundamentação do pensamento comunicacional e influência da globalização.
Produção acadêmica
Influência norte-americana. Pesquisas nas áreas e obras referenciais. Principais pesquisadores.
Educação e mercado de trabalho
Atuação das entidades de classe e do mercado de trabalho com relação às duas áreas. Abordagem dos conceitos nos cursos de Comunicação Social. Influências do mercado para os cursos de Comunicação (Comunicação Organizacional e Relações Públicas). Influências de imagem e de identidade.
2.1.1. Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações
Públicas
a) Definições e possibilidade de diálogo entre as áreas
As percepções das entidades associativas e da área acadêmica sobre
os conceitos que envolvem as definições de Relações Públicas e de
Comunicação Organizacional são bastante diversas entre os
profissionais entrevistados, mas ao mesmo tempo convergentes.
Essas interpretações variam desde a questão dos papéis de uma ou
outra na comunicação da organização como um todo, ou seja,
considerando onde cada uma se insere ou tem seus limites nos
vários públicos com os quais a organização deve se comunicar, até a
abrangência de significados de cada uma.
Enquanto uns consideram a Comunicação Organizacional uma
evolução das Relações Públicas, no sentido de passar a abranger
outros tipos de público, outros consideram-na apenas uma junção do
que já existia de comunicação interna com a externa, institucional e
mercadológica. Há ainda a percepção de que as Relações Públicas
são um dos instrumentos ou o mais importante deles para a
Comunicação Organizacional – esta considerada mais completa, pois
extrapolaria o âmbito de atuação de Relações Públicas. Ou, ainda,
que a Comunicação Organizacional é que permite a viabilização das
Relações Públicas, tendo sido sempre esta, e não a Comunicação
Organizacional, a mais abrangente das duas, à medida que sempre
propiciou conhecimentos mais aprofundados sobre os públicos e a
cultura da empresa, formando profissionais com uma bagagem mais
consistente para desenvolver uma visão mais estratégica sobre a
comunicação. Contudo, não tinham a oportunidade de implementar
esse conceito mais amplo devido à incompreensão do seu papel pelas
empresas, que tinham uma percepção muito restrita sobre as
competências dos profissionais de Relações Públicas e até das suas
próprias necessidades de comunicação.
Nesse sentido há também a defesa de que a Comunicação
Organizacional teria começado no sentido de comunicação da
organização com o seu público interno, enquanto as Relações
Públicas se dirigiam ao público externo. E, à medida que a
Comunicação passa a ser vista como uma área estratégica da
empresa, percebe-se a necessidade de convergência de objetivos de
todos os tipos de comunicação da empresa.
Outro aspecto abordado foi a adoção do termo Comunicação
Organizacional como titulação pelos profissionais de Relações
Públicas, a fim de neutralizar possíveis preconceitos e a imagem
negativa e equivocada que teria se formado a respeito dessa função
no mercado de trabalho e também em certas universidades nas quais
o curso de Relações Públicas até mesmo chegou a ser extinto, ainda
que em alguns casos possivelmente pela baixa procura.
Os preconceitos contra Relações Públicas foram relatados no âmbito
ideológico, por se considerar que Relações Públicas têm como
objetivo defender os interesses de imagem da empresa sem o senso
crítico. Isso também no âmbito da abrangência da atividade, que
teria ficado com a imagem de ser apenas organizador de eventos ou
assessor de imprensa devido ao próprio desconhecimento dessa
atividade e preconceito por parte da academia e do mercado.
Outra argumentação utilizada para defender a abrangência maior
de Comunicação Organizacional é que ela incorporaria conceitos
de Administração, Marketing e Jornalismo, os quais Relações
Públicas não incorpora.
Por outro lado, é impossível negar a proximidade, correlação e
dependência que Comunicação Organizacional e Relações Públicas
têm para continuar existindo e evoluindo a fim de atender tanto as
necessidades acadêmicas como as necessidades do mercado. Pode-
se perceber que de forma geral os entrevistados vêem Relações
Públicas e Comunicação Organizacional como áreas próprias, campos
delimitados, independentes, ainda que entrelaçados.
Importante também é destacar a influência política observada na
evolução de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas,
principalmente no âmbito acadêmico. Há o relato de que os
pesquisadores mais reconhecidos e titulados de Comunicação
Organizacional, cuja assinatura seria imprescindível para o
reconhecimento de Comunicação Organizacional como uma
disciplina independente junto ao CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), no caso brasileiro, não
teriam assinado o documento que permitiria o desenvolvimento
de um Grupo de Estudos de Comunicação Organizacional. A
impressão é que esses profissionais, advindos de Relações
Públicas, não teriam interesse nessa independência. Isso pode
significar uma certa confusão entre os próprios praticantes ou
mesmo um conflito de interesses ou de idéias.
A conclusão é que as percepções sobre as delimitações dessas áreas
não estão claras nem no Brasil nem no México, o que dificulta
profundamente sua evolução como campos distintos tanto junto à
academia como junto ao mercado, mesmo que se entenda serem
campos com propriedades e características independentes. Isso pode
ser conseqüência da falta de um corpus teórico amplamente aceito
pela comunidade científica e profissional.
Conseqüentemente, ainda é difícil falar em possibilidade de
diálogo entre as áreas na medida em que ainda não está
completamente, plenamente e nitidamente estabelecido e
esclarecido, na percepção da academia e do mercado, que
sejam realmente duas áreas.
b) Mudanças conceituais nos últimos anos
No México, as mudanças estão muito vinculadas à grande quantidade
de empresas americanas que ingressaram no país na década de
1950, trazendo os conceitos de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional, e que se expandiram ainda mais com a criação do
Nafta (North America Free Trade Agreement).
Embora seja difícil separar claramente os limites entre a
Comunicação Organizacional e as Relações Públicas a partir das
definições dos acadêmicos e das entidades associativas, nos últimos
anos a Comunicação Organizacional tem evoluído mais, em termos
de teoria propriamente dita, do que as Relações Públicas, devido à
própria demanda de profissionais pelo mercado e ao conseqüente
estímulo por pesquisas a que isso leva.
Entretanto, à medida que Comunicação Organizacional evolui,
também avançam as Relações Públicas, uma vez que não é possível
desvincular as duas áreas, tanto no âmbito do diagnóstico dos
diferentes tipos de comunicação da organização com seus vários
públicos, quanto no desenvolvimento das estratégias e na
implementação dos planos de comunicação das organizações.
No Brasil, verifica-se a tendência ao reconhecimento e à valorização da
Comunicação Organizacional, até pela maior abrangência que o termo
envolve, mesmo havendo, em alguns momentos, certa confusão entre o
termo e o campo. Por ser um termo em princípio e aparentemente mais
generalista, isso pode levar também a uma maior demanda das
organizações pelo desenvolvimento desse tipo de conhecimento.
Mesmo assim a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas
não têm espaço nas universidades federais. Isso talvez se deva ao
fato de serem vistas como comunicação voltada para o mercado.
Essa falta de espaço, de certo modo, pode prejudicar o ritmo da
evolução teórica das duas áreas.
Outra razão apontada para a falta de um desenvolvimento mais rápido
da Comunicação Organizacional e de uma atuação mais abrangente e
completa de Relações Públicas é a questão cultural: o cidadão brasileiro
não luta pelos próprios direitos, exigindo pouco esforço e investimento
das empresas no relacionamento com seus públicos.
O aumento de abrangência das Relações Públicas a partir da
incorporação das abordagens psicológicas e políticas nos
relacionamentos das organizações com a sociedade e seus públicos,
ocasionada pelos trabalhos de Bernays, Lippman, Canfield, Cutlip, Lesly
e Grunig entre outros, foi considerada uma mudança conceitual
significativa.
A incorporação de inúmeros campos das Ciências Humanas ao campo
das Relações Públicas é vista não só como um divisor claro de águas
entre Relações Públicas, Jornalismo, Publicidade e Assessoria de
Imprensa69, como uma extensão do campo de Relações Públicas para
o pensador e operador de políticas que viabilizem ações com o
objetivo de legitimar as organizações em ambientes complexos.
c) Bases de fundamentação do pensamento comunicacional
e influência da globalização
As percepções sobre as bases de fundamentação do pensamento
comunicacional são diferentes entre o México e o Brasil.
No México, nota-se nessa fundamentação uma grande influência do
pensamento norte-americano posteriormente retomado para dar origem a
uma disciplina que resultou em um pensamento próprio dos mexicanos.
As Relações Públicas são vistas como uma área mais influenciada
pelos americanos do que a Comunicação Organizacional, o que deu
origem a uma nova corrente de trabalho que tem crescido muito no
México, as Relações Internacionais. Enquanto isso, a Comunicação
Organizacional originária da Comunicação Interna teria mantido seu
caráter distinto e resultado em um pensamento próprio dos
mexicanos, apesar da globalização, enriquecendo-se por meio das
Relações Internacionais.
69 Em alguns momentos alguns entrevistados confundem a “ferramenta” assessoria de imprensa com um campo do saber.
A influência da globalização é observada em dois sentidos: no maior
contato com profissionais de outros países, gerando maior intercâmbio
profissional, e na saída dos americanos do isolamento em busca de
maior maturidade profissional pelo reconhecimento do conteúdo que
vem sendo desenvolvido pelos latino-americanos e europeus.
Foi possível notar ainda no México outras leituras sobre as bases do
pensamento comunicacional, tais como: a visão de que não há uma
linha de pensamento de Relações Públicas e Comunicação
Organizacional, mas sim uma corrente, mais sociológica,
antropológica e psicológica, que se posiciona contra a visão
estruturalista da organização; ou que as escolas estão divididas em
dois grupos, um com uma visão mais humanista: uma, influenciada
pelo pensamento europeu; e outra, mais tecnológica e pragmática,
sob a influência dos Estados Unidos.
Há ainda a percepção de que os fundamentos básicos da todo
comunicador seriam as Relações Públicas e o Jornalismo e de que a
década de 1990 trouxe uma revolução nos conceitos de Comunicação
quando se começou a falar sobre imagem, identidade corporativa e
reputação institucional.
Comparada ao México, a visão sobre as bases do pensamento
comunicacional no Brasil são mais polêmicas, sendo encaradas ora
como oscilantes entre as influências européias e americanas, ora
como predominantemente americanas, porque as matrizes européias
seriam consideradas recentes e muito dependentes da americana,
embora inovadoras em alguns casos.
À globalização atribui-se o mérito de impactar a visão que as
universidades brasileiras mais resistentes têm em relação à
Comunicação Organizacional, na medida em que essa área conquista
sua legitimação internacionalmente, no que se refere a grupos de
pesquisa, metodologias e teorias estabelecidas, forçando o seu
reconhecimento como um campo específico de conhecimento.
Por outro lado, percebe-se também a Comunicação Organizacional
como uma das áreas mais penalizadas pelo preconceito acadêmico
com respeito a tudo que se envolve diretamente com o mercado.
(...) a idéia de que, quando passa a assessorar organizações, você abstrai o seu espírito crítico e tal...
Apesar disso, o fato de haver pessoas da Economia, da Antropologia e
da Psicologia trabalhando com as organizações faz com que a
Comunicação acabe sendo inserida nesses estudos e nessas reflexões,
passando a ter mais visibilidade mesmo no Brasil, e a resistência tenda a
diminuir.
Outro fator que reforça o reconhecimento desse campo no Brasil é o
fato de a Universidade de São Paulo ter formado, nessa área, um
número de doutores e mestres importantes, que se dedicam a
pesquisar o tema e seus entornos.
Quanto aos possíveis fatores prejudiciais ao reconhecimento da
relevância de Relações Públicas para as organizações no Brasil, foram
citados, entre outros, a falta de conhecimento e os equívocos
provocados por sua vinculação com a Ditadura Militar do período 1964-
1985.
Já a Comunicação Organizacional é percebida como tendo uma
trajetória completamente oposta, graças à atuação da Aberje
(Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), que teria
favorecido seu reconhecimento como área70.
É importante salientar, quanto às bases de fundamentação do
pensamento comunicacional brasileiro, a percepção de que o Brasil
conseguiu percorrer seu próprio caminho e desenvolveu seu próprio
campo, já reconhecido na área de Comunicação Organizacional.
Existe uma tentativa de criar uma discussão brasileira que não seja refém das idéias norte-americanas. A cultura é diferente, as próprias organizações são diferentes, nosso jeito de administrar é diferente, nossa inserção é diferente.
A característica questionadora atribuída aos intelectuais da América
Latina, no sentido de não aceitar e adotar cegamente os conceitos
teóricos desenvolvidos nos outros países e, sim, submetê-los à
reflexão diante dos nossos valores éticos, teria sido responsável em
grande parte pelo fato de esses dois campos de conhecimento terem
evoluído e adquirido significado próprio nos dois países.
A discussão é de que é pra aprofundar mesmo a relação capital-trabalho presente, ou talvez a democratização da comunicação interna. E essa discussão é crítica mesmo. (...) Isso tende a crescer na América Latina em função das relações de trabalho, da relação muito próxima entre as organizações e o poder público.
* Num primeiro momento o brasileiro macaqueia, copia tudo. No começo a gente aceita tudo e bate palmas, mas depois começa a descobrir o que é que tem de podre por trás, o que teria de errado
70 Ainda que tenha havido o desenvolvimento de pesquisas e de teses de pós-graduação, os entrevistados têm associação direta à Aberje, seja pelo desconhecimento das pesquisas, seja pela lembrança imediata proporcionada pela entidade motivada pelas diversas ações que esta promove.
por trás, e faz esse tipo de trabalho. Acho que isso aconteceu na Comunicação Organizacional: a gente também importou essa teoria toda das multinacionais; elas foram realmente pioneiras nisso – as montadoras etc. E de uma hora pra outra a gente tem as ONGs, e tem grupos. E aí você começa a ter comunidades mobilizadas como o pessoal na área ambiental, que começa a questionar a comunicação das empresas poluidoras etc. Então você começa a ter um aspecto crítico com respeito à comunicação das organizações, que eu acho que ela, a que veio pro Brasil, nos livros importados, ela não tem essa perspectiva crítica, ela em geral é tarefeira, operacional, é badalação, é Relações Públicas no mau sentido. Que é aquilo que o pessoal acha que é a essência da Relações Públicas: é puxar o saco do patrão, o que não tem nada a ver.
* A idéia de que: então vamos formar gente em Comunicação Organizacional que seja crítica, que diga ao chefe: – O senhor não pode fazer isso. Eu não estou aqui só pra fazer o que o senhor quer e depois me contrata pra ver se eu quebro o seu galho.
2.1.2. Produção acadêmica
a) Influência norte-americana
A influência norte americana é muito reconhecida no México,
principalmente no âmbito de Relações Públicas e nos primeiros
estudos de Comunicação Organizacional.
Entretanto, há também a percepção de que posteriormente houve
um desenvolvimento de uma nova área de Comunicação
Organizacional, que diz respeito à área de projetos voltados ao
serviço à sociedade, que tem sido efetivamente latino-americano.
É também atribuída ao fato de muitos mexicanos fazerem a pós-
graduação em Madri a idéia de que a influência norte-americana é
predominante pela relevância dada à necessidade de cortar custos, à
relação com a comunidade, à reputação da organização. Apesar de
atribuir uma grande influência dos Estados Unidos, principalmente no
campo profissional, a reflexão e busca teórica são vistas pelos
mexicanos como um pensamento original.
Outras razões apontadas para que a influência norte-americana
venha sendo total, no México, seriam o surgimento da Comunicação
a partir da Publicidade e das multinacionais.
No Brasil, a influência norte-americana é vista como a origem das
Relações Públicas e da Comunicação Organizacional, tendo-se
exigido, entretanto, uma dose de criticismo devido ao fato de essas
teorias não terem se aderido a nós do ponto de vista político,
ideológico, por apresentarem uma visão muito cordial que chegou
pelos livros importados e pelas empresas multinacionais, mas que
começou a ser discutida a partir do momento em que saiu das
empresas privadas e multinacionais para o terceiro setor.
Não é aceitar a Comunicação Organizacional como se fosse essa tentativa de mascarar a opinião pública.
* (...) é legal Comunicação Organizacional, mas não vamos despolitizar, não vamos tirar discussões sobre estrutura de classes (...).
Apesar do reconhecimento de que no Brasil tanto as universidades
como as empresas ainda reproduzem, na maioria das vezes, o que
vem de fora, aparece também entre nós a visão de que, a partir do
momento em que os estudos forem aprofundados, isso não mais será
possível, porque vamos nos deparar com outros problemas para
serem solucionados, que vêm da nossa realidade.
Para comprovar que a influência do pensamento americano na
Comunicação Organizacional como nas Relações Públicas foi e ainda
é relevante no Brasil, foram citados estudos realizados recentemente
sobre a trajetória desses campos no Brasil por autores reconhecidos.
Em texto recente sobre “Metáforas na Comunicação Organizacional” (Handbook de estudos organizacionais, 2003 v. 3), Linda Putnam, Nelson Phillips e Pamela Chapman fazem um resgate da trajetória da Comunicação Organizacional onde fica evidente essa influência americana. Da mesma forma, Maria Aparecida Ferrari também questiona, em um texto publicado na revista “Estudos de Jornalismo e Relações Públicas” (Fajorp-Umesp, junho de 2003), a predominância de autores e modelos norte-americanos na área de Relações Públicas.
* Os americanos continuam apontando vários “cases” e princípios, os paradigmas; sem dúvida, até na própria área, se mantêm no mundo todo. Só que, evidentemente, a aplicabilidade disso, até por fatores culturais, foi se dando de forma diferente, com discussões diferentes. Então eu acho que o Brasil já tem hoje, sua própria história.
b) Pesquisas nas áreas e obras referenciais
No México as pesquisas – tanto sobre relações Públicas como sobre
Comunicação Organizacional – são vistas como sendo poucas e
superficiais, voltadas mais para a prática do que para a teoria. Essa
avaliação parece ser corroborada pelo pequeno número de cursos de
pós-graduação oferecidos nessas áreas e pelo baixo interesse de
pesquisa teórica desses campos pelos alunos, que demonstrariam
interesse maior pelo conhecimento prático.
No caso do doutorado, entretanto, nota-se mais interesse do que
oferta para a Comunicação Organizacional, além de uma tendência à
diversificação dos temas, que passam a se especializar por setores,
empresas, governos e ONGs.
Mesmo assim, a visão é de que as Relações Públicas se
institucionalizaram muito mais como disciplina de pesquisa do que a
Comunicação Organizacional.
Sinto que as pós-graduações em Comunicação Organizacional estão muito mais voltadas para a prática do que para a reflexão. Por exemplo, qual o impacto da Comunicação Organizacional na liderança? Ela está tornando as empresas mais competitivas?
De acordo com uma pesquisadora mexicana, ainda não há tradição
de determinados tipos de pós-graduação, seja por sua criação ainda
recente, seja pela demanda por certos cursos.
A pós-graduação em Comunicação Corporativa não deve ter mais que doze anos. É bastante recente e onde temos menos pessoas interessadas.
O número de publicações acadêmicas também é considerado escasso e os
artigos sobre Comunicação Organizacional são atribuídos mais às revistas
de negócios e de administração do que às publicações de comunicação.
As avaliações da bibliografia e da produção, tanto de Relações
Públicas como de Comunicação Organizacional, são muito polêmicas
quanto o assunto é qualidade.
Creio que há qualidade, mas nos falta quantidade. Fizemos uma pesquisa há três anos e descobrimos que muitos acadêmicos são mestres em tempo integral e outros dão aulas e escrevem seus livros. Aí é que sinto que há o pensamento original.
* Não fazemos muitas pesquisas e as universidades têm sido tímidas em desenvolver programas de Comunicação Organizacional. Não acredito que o número de mestrados passe de dez no país.
*
Os livros são muito poucos. Quanto à qualidade, as pessoas que escrevem sobre Comunicação Organizacional muitas vezes trazem dicas de como realizá-la e não há uma sustentação teórica.
* A produção bibliográfica no México está muito atrasada, porque há pouco material. Fala-se muito de Maria Antonieta (Rebeil Corella) e Abraham Nosnik. Maria Antonieta publicou somente um livro. Na verdade, ela era a organizadora, a compiladora desse livro.
*
Infelizmente, não há muita pesquisa no que se refere aos mestrados e aos doutorados.
*
A formação é mais profissionalizante do que voltada à pesquisa. Na licenciatura há um pouco mais de pesquisa, mas faltam as teorias e o que se vê são muitos diagnósticos de como podem ser feitas estratégias para uma determinada organização.
A produção bibliográfica brasileira é vista como muito influenciada pela
bibliografia recente americana, considerando-se como base tanto a
análise das fontes bibliográficas como uma análise de conteúdo dos
textos.
O panorama cronológico de produção de pesquisas nas duas áreas,
Comunicação Organizacional e Relações Públicas, apresenta como ponto
de partida a pesquisa sobre Relações Públicas datada dos anos 1970,
quando a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
iniciou seu programa de doutorado. São consideradas como referências
iniciais as teses de Francisco Gaudêncio Torquato do Rego, em 1972, e
de Candido Teobaldo de Souza Andrade, em 1973.
O segmento da Comunicação Organizacional é considerado mais
recente que o de Relações Públicas e tendo mais espaço nas escolas
de Administração do que nas de Comunicação, sendo considerada
exceção a ECA-USP, em função do trabalho de Margarida M. Krohling
Kunsch. A ambas as áreas se atribui uma explicita influência norte-
americana, desde os pioneiros Bernay ou Canfield, até o atual
Grunig.
No campo das Relações Públicas, as obras citadas como referenciais
históricos são aquelas produzidas, em São Paulo (décadas de 1940 e
1950), pelo Idort (Instituto de Organização Racional do Trabalho)71,
pelo Instituto de Administração da Universidade de São Paulo e, no
Rio de Janeiro (anos 1950/1960), pela Fundação Getúlio Vargas.
Candido Teobaldo é considerado o autor da bibliografia hegemônica
na academia. Seus herdeiros intelectuais, tanto os seguidores fiéis
como os inovadores (Margarida Krohling Kunsch, por exemplo), são
vistos hoje como as principais referências. Além disso, há que se
levar em conta pesquisadores que, não tendo sido discípulos de
Teobaldo, trouxeram contribuições originais, como Roberto Porto
Simões e Cicília Krohling Peruzzo, dentre outros.
Nossas linhas de pesquisa específicas de pós-graduação em
Comunicação Organizacional ainda são consideradas insuficientes e
muito concentradas em termos de instituições. Mas há uma tendência de
abertura de novas frentes por outras instituições, além de uma avaliação
muito otimista quanto às tendências de crescimento da produção para os
próximos anos, não só pelo impulso ocorrido na produção nos últimos
dez anos, mas também pela própria demanda do mercado.
Na verdade, o que se faz é na USP e na Metodista, se você considerar número de teses, linha de pesquisa, grupo de pesquisa e tal. Eu diria que a USP aparece até de forma pioneira. E temos a Cásper Líbero, temos algumas universidades chegando e abrindo espaço para essas linhas de pesquisa.
71 Empresa pioneira em treinamento corporativo do Brasil, fundada em 1931, foi responsável por disseminar o planejamento e a pesquisa somente vistos, à época, nos países desenvolvidos.
*
Eu acho que essa massa crítica ainda está aquém do desejável, do ponto de vista de metodologia, reflexões e tal. Mas, se a gente olhar pra trás, vai perceber que quase tudo foi produzido nos últimos anos. O que significa que dá pra esperar que a gente crescerá rapidamente. É pouco, mas era zero há dez anos, tirando os casos emblemáticos – Margarida Kunsch e Cicília Peruzzo, por exemplo – quase toda a produção é muito recente.
Há ainda a expectativa de que essas teorias se desenvolvam, por
meio de reflexões mais consistentes, de uma visão mais crítica, com
novas metodologias de aferição de eficácia em comunicação, sem
perder, contudo, a aproximação do mercado de trabalho, o que
permitirá desenvolver uma identidade verdadeiramente brasileira
desse campo de conhecimento.
Indicar empresas que têm uma visão de comunicação muito pouco crítica, muito pouco planejada, para um aluno fazer TCC e buscar os melhores exemplos, eu acho que acaba reforçando a idéia de que pra ser um bom profissional de comunicação basta ser criativo. E aí se abre mão de todo o trabalho vasto de levantamento, de pesquisa, de metodologia, de reflexão, de estudo. Se a Comunicação é estratégica, então exige esse tipo de trabalho um pouco mais pesado do que simplesmente alguém ter uma boa idéia e fazer uma bela campanha. Envolve custo, envolve planejamento, envolve estratégia. Acho que não vendemos ainda essa idéia nem pro mercado, nem pros alunos que estão se formando, mas não vai demorar muito, não.
* Os erros e os sucessos, os “cases brasileiros” vão mostrar que nós temos que buscar a nossa forma de ser, que é uma pluralidade, essa cultura absolutamente miscigenada. Nós somos muitos diferentes. Então temos que ter formas de gestão diferentes, que dependem de cada segmento. Pouco a pouco a gente vai percebendo que não funciona e que nós temos que trabalhar mesmo! Que os americanos não criaram tudo pronto pra gente.
Outro aspecto atribuído à má avaliação da situação atual da
produção bibliográfica e das obras referenciais brasileiras é a
escassez de artigos e de revistas acadêmicas de Comunicação
Organizacional e a correlata falta de espaço para publicar trabalhos,
sendo a revista Organicom (ECA-USP) praticamente uma exceção.
Se você for pinçar a literatura de Comunicação Organizacional, as revistas especializadas e científicas brasileiras, vai encontrar um espaço muito pequeno, e em alguns lugares nem há espaço pra esse tipo de contribuição. Se quiser mandar um trabalho sobre Comunicação Organizacional, em boa parte das revistas especializadas do Brasil você não vai conseguir espaço.
* Existe uma massa crítica, mas que está muito localizada na ECA-USP. Não existe um grupo de pesquisa, são pessoas que a gente vem formando ao longo do tempo.
* Em alguns lugares tem gente trabalhando com isso, às vezes até com uma visão muito mais de mercado do que acadêmica mesmo. Mas é o começo. Essa aproximação acaba gerando uma reflexão que não seja necessariamente só acadêmica, desvinculada do mercado. Seria realmente um problema sério se a Comunicação Organizacional corresse esse risco de ficar longe do que está acontecendo no mercado, porque ela não seria apropriada pelo mercado, seria negada pela academia e pelo mercado.
Um aspecto importante a considerar é, ainda, a necessidade de criar
uma distinção clara em relação a uma outra visão de comunicação
empresarial dada nos cursos de Secretariado, voltada para uma
abordagem muito operacional.
Na Livraria Cultura, por exemplo, no lugar reservado pra Comunicação Organizacional, empresarial, você tem duas prateleiras. Uma prateleira que é basicamente, por assim dizer, de “Vamos preparar reuniões”. Aí você vai encontrar o cara que ensina a gente a falar em público. É uma coisa muito operacional, misturada com a discussão mais estratégica da comunicação, de gestão em comunicação, da discussão do próprio processo e tal. Por sorte, as organizações estão precisando mesmo de gestores de comunicação, e aí elas próprias demandam esse tipo de trabalho e estão se capacitando em entidades corporativas.
As referências bibliográficas mais citadas são atualmente, para os
cursos de graduação em Comunicação com habilitação em Relações
Públicas: o livro Planejamento de relações públicas na comunicação
integrada, de Margarida M. Krohling Kunsch (2003a) – visto como
referência tanto para Relações Públicas como para Comunicação
Organizacional; houve uma citação da obra Tratado de comunicação
organizacional, de Gaudêncio Torquato (2002); e Comunicação
empresarial: teoria e pesquisa, de Wilson da Costa Bueno (2003).
Essas obras se destacam por apresentarem e discutirem a
Comunicação Organizacional também do ponto de vista do mercado.
Como contraponto observa-se também uma avaliação mais positiva
sobre a comunicação, tanto em termos da importância de Relações
Públicas pelo número de profissionais na carreira acadêmica e de
titulações, como também em termos de qualidade, em muitos casos.
Apesar de algumas produções ainda serem consideradas superficiais,
fracas, “festivas”, há a percepção de maior solidez, mais crítica, mais
discussão, de que na verdade o que falta é mais visibilidade e não
crescimento dos profissionais de Relações Públicas.
Nossa qualidade é boa. Dentro da linha de pesquisa em que eu me insiro aqui, mesmo não sendo perfeitos, no geral é mais para, minimamente, de regular a boa, fazendo um julgamento crítico mesmo. Algumas coisas são excelentes, até modificam paradigmas, dão até outros rumos para as coisas. Creio também que os dois grandes programas são o que nós temos (ECA-USP) e o semelhante ao nosso, da Metodista, que não tem necessariamente as mesmas linhas de pesquisa. Nós temos algumas produções interessantes na PUC de São Paulo, mas ainda é muito pouco, não tem muitos temas.
Outros fatores considerados limitantes para o desenvolvimento das
pesquisas e da produção bibliográfica, além do número reduzidíssimo
de programas de pós-graduação, seriam a falta de investimentos por
parte da iniciativa privada e a percepção de corrupção no
estabelecimento das notas, o que estaria prejudicando as
universidades públicas responsáveis pela formação de pesquisadores
para o Brasil inteiro, para favorecer as instituições particulares que
contam com pouquíssimos programas.
Temos aí programas que até estão recebendo nota acima da nossa. E nós sabemos muito bem que não têm qualidade nem quantidade, mas estão tendo boa avaliação e tal. Eu acho que é preciso um investimento muito maior por parte da iniciativa privada para essa produção. Não é só papel do Estado, não.
c) Principais pesquisadores
Os entrevistados do México citaram como principais pesquisadores da
Comunicação Organizacional e nos estudos de Relações Públicas:
Margarida Kunsch72, Mariluz Restrepo73, Carlos Bonilla, Maria Rota,
Carlos Andrade, Aralizo Perez, Oscar Sanches, Juan Andrés Rincón,
Ignacio Campillo, Carlos Yugaba, Maria Antonieta Rebeil Corella,
Bonacia Andrade, Salvador Sanchez, Carlos Fernández, José Jesús
González de Almaguer, Mauricio Guerreiro, Abraham Nosnik,
Guilherme Perez e Horacio Quidapa.
No Brasil, foram citados como principais pesquisadores de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional: Margarida Kunsch, Wilson da
Costa Bueno, Gaudêncio Torquato, Roberto Porto Simões, Waldir
Fortes, João José Curvello, Luiz Iasbeck, Rudimar Baldissera, Maria
do Carmo Reis e Marlene Marchiori74.
72 Pesquisadora brasileira. 73 Pesquisadora colombiana. 74 Os pesquisadores Gaudêncio Torquato, Margarida Kunsch, João José Curvello, Luiz Iasbeck, Rudimar Baldissera, Maria do Carmo Reis e Marlene Marchiori defenderam teses relacionadas com a Comunicação Organizacional.
Foram citados ainda como pensadores e profissionais renomados que
escreveram artigos ou foram entrevistados pela Revista Comunicação
Empresarial, da Aberje: Harold Burson (fundador da Burson-
Marsteller), Joan Costa, Al Golin, Richard Wolf, Javier Puig, Vítor
Baltasar, Thom Gillespie, James Grunig, Paul Thompson, Elen Ryan
Mardiks e Howard Paster.
2.1.3. Educação e mercado de trabalho
a) Atuação das entidades de classe e do mercado com relação
à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas
As entidades de classe citadas no México foram:
• Coneicc
O Consejo Nacional para la Enseñanza y la Investigación de las
Ciências de la Comunicación é apontado como a associação das
escolas de Comunicação mais antiga da América Latina, com um
trabalho muito sério e que publicou ao longo de sua existência não
somente livros de Comunicação, mas também artigos que reúnem o
mais importante da academia mexicana.
Há bons artigos sobre Comunicação Organizacional que se publicam em revistas como o Anuário do Coneicc (que é a associação nacional para as escolas de Comunicação no México). Estas publicam um anuário de investigação, que geralmente tem artigos distintos sobre Comunicação Organizacional.
• Amic
A Amic (Associação Mexicana de Investigadores da Comunicação) se
volta para a Comunicação Social e as novas tecnologias. Tida como
um equivalente da Intercom brasileira, a Amic é vista como uma
associação que não conseguiu consolidar um de seus objetivos tidos
como principais, que era de integrar as produções e pesquisas dos
campos profissional e acadêmico.
Sempre há uma tensão entre as necessidades do mercado e as associações e a academia. Esta pode ser criativa ou não, justificando dessa forma a ‘incomunicação’. O mundo real das empresas interessa-se pela utilidade. A academia procura ver se o que estamos fazendo é verdadeiro. Então, são valores que podem ser compatíveis, mas muitas vezes são incompatíveis, porque o tempo da verdade é de médio e longo prazo. O da utilidade e eficiência é de curto prazo.
• Amco
A Amco (Associação Mexicana de Comunicadores Organizacionais) foi
avaliada como muito ativa e mais fortemente vinculada ao setor
empresarial, mas também com uma proximidade muito grande das
universidades, tendo realizado congressos e assessorias em conjunto
com elas, nos últimos anos, com a preocupação de aproximar os dois
mundos, academia e mercado de trabalho.
A associação (Amco) mantém uma boa relação com a academia e o mercado. As empresas, quando precisam de um plano de comunicação, procuram um consultor, utilizam o benchmarking, procuram até soluções no exterior. Não temos na academia, em Comunicação Organizacional, por exemplo, as incubadoras de negócios que deveriam existir.
No México, a relação do mercado de trabalho com Relações Públicas
e Comunicação Organizacional é vista sob várias perspectivas. Uma
das percepções das entidades é que o mercado contrata menos
comunicadores organizacionais do que precisa, porque na verdade
não capta a necessidade de ter um comunicador organizacional.
Defende-se, então, a necessidade de uma forte campanha para
divulgar a importância e a abrangência das atividades do
comunicador organizacional e demonstrar que ele é necessário. Há a
visão de que o mercado é suficientemente grande para contratar mais
comunicadores organizacionais e de que, em parte, a não-contratação se
deve aos próprios comunicadores, que não se fizeram presentes em
outros âmbitos, como o público e o filantrópico, por exemplo.
A dificuldade em unir os esforços da universidade às necessidades
das empresas estaria, entre outras coisas, em atender às
expectativas das empresas quanto ao tempo de resposta.
O problema é que a empresa quer uma solução rápida, uma receita, mas a universidade não pode fabricar receitas, soluções de um caso. Claro, aprendemos com os casos, mas não podemos generalizá-los. Os acadêmicos precisam de mais tempo para pensar e refletir.
* Os profissionais pensam que os acadêmicos não conhecem a realidade e os acadêmicos pensam que os profissionais não têm uma prática fundamentada. Na maioria das vezes, há uma guerra entre eles.
Outra percepção interessante é de que há uma preocupação da
academia em propor teorias mais próximas do mercado, para
acompanhar a lógica da competência no mercado global, que é ficar
com os melhores alunos e professores.
Isso é muito importante, porque os empregadores podem se relacionar com a universidade para procurar os melhores candidatos. Vejo uma relação sempre maior o entre universidade e empresa. Atualmente, isso acontece cada vez mais quando se trata de capacitação e treinamento, mas gostaria de ver mais esse relacionamento em termos de pesquisa.
Há a queixa sobre o fato de o setor privado investir apenas em informações
confidenciais e não em pesquisas que interessem à sociedade.
Tenho a impressão que há pelo menos três gerações que trabalham com a comunicação nas empresas e que seguem trabalhando sem conceitos formais. Muitas vezes porque negam a possibilidade de usar a teoria. Isso porque, quando não se conhece a teoria, fica mais fácil negar a sua utilidade, e no México se faz muito pouca pesquisa, o que dificulta a elaboração de teorias de caráter nacional.
As associações se ressentem da falta de apoio das universidades e das
empresas quando querem atuar na união entre academia e mercado.
O desenvolvimento das duas áreas, Comunicação Organizacional e Relações Públicas, depende do estabelecimento de redes e de contatos entre os interessados. É muito difícil fazê-lo, não se pode contar com o apoio nem das universidades nem das empresas, porque em muitos casos a sua prioridade não é a pesquisa.
* Quando se trata de estudar com maior profundidade, com maior amplitude, com maior participação um projeto que almeje melhorar as vinculações entre academia, mercado e sociedade, não há apoios.
Outro problema apontado para uma eficiência maior das entidades
associativas é a falta de comunicação e de união de esforços devido à
competição entre elas.
A Amco e a Amic são as que eu mais conheço, e falta comunicação entre elas. São muito separadas, cada uma fazendo suas coisinhas com seus associados. Não se vê uma pesquisa realizada, uma comunicação entre elas mesmas. Sinto que o que acontece muito aqui no México é o “protagonismo”. Para manter-se como protagonista, não se busca muito alinhamento com os outros, porque se crê que se vai perder terreno.
As associações percebem notam nas empresas uma visão não muito
clara da atividade do comunicólogo, ainda menos da do especialista
em Relações Públicas ou Comunicação Organizacional. Consideram
ainda que a divulgação do trabalho do comunicólogo ao mercado
poderia ser feita pelos estudantes.
O mercado de trabalho representado pelas principais agências de
Relações Públicas do México demonstrou, em uma pesquisa sobre as
expectativas quanto ao perfil dos egressos da faculdade, que há
maior interesse pelos formados em universidades particulares e que
a habilitação em Relações Públicas não era aspecto relevante para a
escolha do profissional.
Perguntamos aos diretores também qual era o perfil do egresso da faculdade que lhes interessava. Primeiro, que fosse de universidades particulares e não de públicas. Segundo, que, se há uma carreira de Relações Públicas, que bom! Se não, não lhes importa. Os egressos de Ciências Políticas, de Sociologia, de Administração e de Economia já competem com o comunicólogo.
No Brasil a não-regulamentação da Comunicação Organizacional é
vista como tendo sido um grande incentivo à sua origem, na medida
em medida que abriu espaço para a atuação de qualquer pessoa,
independentemente do diploma. É o contrário das entidades de
classe no campo das Relações Públicas, que, até mesmo em face da
regulamentação da profissão, teriam representado um fator de fuga
e de limitação da atividade, por terem ficado distantes das demandas
profissionais ao assumirem um perfil eminentemente corporativo.
Penso que as entidades de classe necessitariam ser mais dinâmicas e proativas na sua atuação, promovendo atividades que aproximassem os seus filiados e estreitando as relações com o mercado.
A visão sobre as associações brasileiras é de que estão
desatualizadas em relação às necessidades do mundo globalizado,
que exige maior abertura e flexibilidade.
A sociedade tem, hoje, problemas que eram inimagináveis. Você tem hoje uma forma diferente de acesso à informação, uma questão de emprego diferente. Então, eu vejo tudo isso no mundo todo, não só Brasil, como um momento de grande fragilidade do repensar, do reunir, do fundir, do associar; eu acho que um novo mundo vai se estabelecer nesse campo. Como está não vai ficar, porque ou elas vão se ampliar, reunir-se, discutir, colocar um outro papel pra tudo isso.
* Com relação à grande quantidade de entidades que surgem na nossa área e em outras, isso é devido aos rachas que vão ocorrendo. Então se abre mais uma e mais outra.
Os entrevistados brasileiros questionaram também se a adequação
de Relações Públicas não seria maior nos cursos de pós-graduação,
devido à complexidade e à abrangência de conhecimentos que a
gestão dessa área envolve em uma organização.
Eu acho que a nossa área, o limite dela ultrapassa a graduação. E me questiono: pra que graduação em Relações Públicas? Tem que ter pós-graduação em Relações Públicas. Quantos jornalistas, publicitários, administradores, engenheiros, advogados já vieram me dizer: Nossa! Relações Públicas é maravilhosa. Eu fiz a área errada. Por que é que eu não descobri antes? Minha alma é de Relações Públicas. Tudo isso eu já ouvi de gente oriunda de várias outras áreas. É porque em nível de graduação, às vezes, até por imaturidade, falta de vivência, não se percebe a extensão desta área, na qual, até pela sua própria grandiosidade, é difícil, sim, colocar, demonstrar claramente, vamos dizer, resultados.
A questão da mensuração também é defendida no Brasil, pois é vista
como um instrumento de credibilidade do trabalho, de compromisso
com os resultados, que exige uma postura mais proativa das
empresas e dos gestores de comunicação.
Eu acho que para a organização que tem uma postura proativa, independentemente de a gente discutir métodos, mensurar, avaliar faz parte do processo. E a gente tem que viver assim, avaliando e se auto-avaliando.
* Avaliar deve fazer parte do planejamento. O problema é que as empresas não querem investir e nunca quiseram. Imagine o que elas entendem como investimento em comunicação interna. Sabe o quê? Põem lá um profissional recém-formado, quando muito, põem mais um auxiliar e falam assim: você vai cuidar da nossa comunicação interna. Você acha que quem age assim quer investir e mensurar alguma coisa? Mas não quer mesmo! É perder tempo. Eu acho que a grande questão que a comunicação vive hoje não é a questão da mensuração, é a questão da mentalidade dos gestores. Isso é muito mais grave.
A violência simbólica sentida pelos profissionais de Relações Públicas
brasileiros, pelo fato de terem, de certa forma, o seu espaço invadido
por jornalistas, é percebida no Brasil como uma reação das empresas
provocada pela própria postura excludente das associações de Relações
Públicas em relação a outros profissionais atuantes nessa área, assim
como pela falta de habilidade dessas associações ao não aproveitarem a
chance de incluir as atividades desses profissionais e expandir a
compreensão da abrangência de Relações Públicas junto às empresas.
O que nós conquistamos foi pelo trabalho, e a regulamentação, para mim, poderia ser feita através de concurso público ou algo assim. Outra idéia histórica se deve à pressão que foi feita pelas associações em cima dos que não tinham o registro, depois que a profissão foi regulamentada. O que as organizações fizeram? Mudaram o nome para Comunicação e todas as suas variantes. Ou seja, nos apartamos e, ao invés de desenvolvermos um projeto para incluirmos quem já estava muito bem posicionado, nós os marginalizamos. O que eu quero dizer é que há muitas pessoas com diversos títulos (relações com a imprensa, relações com o acionista etc.) e o que todos fazem é Relações Públicas.
A única avaliação em defesa das associações partiu de um representante
de uma delas sobre a sua própria associação. Na sua visão, essa
associação cumpriria todas as expectativas não atendidas pelas demais
entidades citadas e criticadas pelos outros entrevistados.
b) Abordagem dos conceitos nos cursos de Comunicação Social
No México, as poucas escolas que ensinam Comunicação Organizacional
dedicam de quatro a cinco semestres para Comunicação Organizacional
e para Relações Públicas. Há, entretanto, a percepção de que os
comunicadores organizacionais mesmo assim não têm todas os
instrumentais, como comunicólogos, e sim visões pouco realistas, sem
muita habilidade quanto ao processo de entrar na organização e
entendê-la. Sua habilidade estaria muito concentrada no
desenvolvimento de projetos de comunicação.
Embora haja a percepção de que os mestrados em Comunicação
Institucional e Relações Públicas tenham crescido no México, com
uma boa oferta em qualidade e quantidade, há também a idéia de
uma dissonância entre a oferta e o público interessado. São
geralmente pessoas com experiência no mercado de trabalho, como
diretores e gerentes, que depois de quatro ou cinco anos de
experiência profissional estão em um momento de reflexão sobre seu
curso, porém não têm condições financeiras para poder fazê-lo se
não contarem com o apoio de suas empresas.
As universidades estariam preparando de forma adequada os alunos
no que diz respeito à forma analítica, mas estaria faltando a abertura
para o pensamento europeu e latino-americano no que diz respeito
ao relato de casos dos alunos, o que seria considerado uma
experiência muito boa. Há também a crítica sobre o uso abusivo dos
casos estrangeiros nas faculdades de Negócios e o reconhecimento
da necessidade de publicar muito mais em revistas acadêmicas.
Também é sentida a falta de reflexão das universidades sobre as
necessidades do mercado, devido ao distanciamento dos dois, e a
obsolescência do curso em termos das disciplinas que são ministradas.
Assessorei alguns programas de comunicação e percebi que eles não se dão conta das mudanças do mercado. As universidades continuam oferecendo as mesmas matérias de quando foi iniciado o curso.
*
Há alguns programas de mestrado em Comunicação Organizacional, mas esses estudos são, na maioria dos casos, muito débeis e ilhados e deveriam se comunicar mais com a Economia e a Sociologia, por exemplo.
*
O desenvolvimento no campo profissional é tão evidente que muitas vezes não passa pela academia. Muitos diretores não possuem mestrado ou doutorado. Creio que essa dimensão da institucionalização dos estudos comunicacionais é muito flutuante e muito pouco clara.
A percepção brasileira é mais fragmentada. Enquanto uns defendem
que as Relações Públicas são assunto para a graduação e a
Comunicação Organizacional, para a pós-graduação, há os que
consideram a Comunicação Organizacional como uma disciplina que
vem ganhando espaço nos cursos de Relações Públicas, percebidos
como obsoletos diante das necessidades do mercado.
Pelo que conheço, a Comunicação Organizacional tem espaço na pós-graduação, enquanto as Relações Públicas ocupam integralmente o espaço da graduação. No caso da graduação, venho apontando há algum tempo lacunas de identidade profissional (a partir dos padrões internacionais), o que talvez seja a raiz da grande evasão dos cursos da área, muitos dos quais foram ou estão sendo desativados.
* Já é possível afirmar que a Comunicação Organizacional vem ganhando espaço nos cursos de graduação em Relações Públicas, até mesmo como denominação de disciplina. Posso testemunhar sobre o interesse que a Comunicação Organizacional desperta nos alunos (especialmente da graduação), ao possibilitar melhor entendimento e compreensão da atividade de Relações Públicas.
O currículo de Relações Públicas é visto como incompleto ou mal
desenvolvido pelas escolas, na medida em que não se dá a devida
importância ao desenvolvimento do pensamento estratégico dos
alunos, capacitando-os para a elaboração de planos de comunicação
alinhados a planejamentos estratégicos, que se fundamentem na
análise de informações e diagnósticos.
Primeiro, a influência da análise de conjuntura e a descrição de cenário são duas coisas que nós temos que por no currículo. Temos que colocar também Teoria da Informação. No momento em que fizermos isso, o pessoal vai parar de pensar que nós somos meros organizadores de eventos.
A abordagem desatualizada do currículo também é vista como um dos
fatores que confundem a compreensão do que sejam as Relações Públicas.
É necessário esclarecer o que se propõe com a Gestão de Relações Públicas. É necessário compreender a linguagem científica, definir operacionalmente as Relações Públicas.
c) Influências do mercado para os cursos de Comunicação
(Comunicação Organizacional e Relações Públicas)
No México, a influência da prática profissional sobre a estruturação
dos cursos na academia aparece, por parte dos entrevistados, mais
como uma reivindicação ou um reconhecimento da necessidade do
que como uma realidade.
Eu creio que a Comunicação Organizacional deve entender outros processos além da comunicação, para fazer um bom profissional. Este deve entender de planejamento estratégico. É importante que ele participe do planejamento de sua empresa; daí virá o seu planejamento estratégico de comunicação. Outra questão que não podemos separar da Comunicação Organizacional é a cultura
organizacional. Todo plano de comunicação deve acompanhar um plano cultural, porque tratará da mudança de comportamento, da cultura das pessoas, da organização.
Outra visão é de que as universidades utilizam uma estratégia
funcional na determinação do currículo.
Há uma investigação docente sobre o que os diretores esperam dos comunicólogos. Afinal, não esperamos uma pessoa que só dê aulas, mas que acompanhe os processos de capacitação, que mantenha um relacionamento com os mais diversos meios, que maneje públicos internos.
Assim como no México, no Brasil a aproximação entre o mercado de
trabalho e a academia é vista mais como uma necessidade a ser
conquistada do que uma realidade presente, até para assegurar a
continuidade dessas áreas na universidade, dando uma idéia de que a
universidade hoje, para sobreviver, precisa acompanhar mais de perto
as práticas do mercado, pois esta é a maior razão da procura por ela.
Os estudos sobre o mercado, para se ajustar a teoria à prática, inexistem no Brasil e são altamente necessários, justamente para neutralizar a tendência demolidora do campo na universidade.
* O estudo do mercado é salutar e necessário no processo de ajuste da teoria à prática.
Por outro lado, há também a preocupação de não se deixar que a
prática exista sem a teoria.
É preciso ter cuidado para não “pensar” o mercado descolado da teoria. Teoria e prática necessitam estar em constante diálogo, evitando-se a fragmentação e/ou a banalização do conhecimento das áreas de Comunicação Organizacional e Relações Públicas.
d) Influências de imagem e de identidade
A percepção, no México, é de que as empresas têm uma imagem
distorcida ou banalizada da Comunicação, não permitindo que essa
área assuma a sua verdadeira importância.
Em tempos de crise geralmente os primeiros projetos que se cortam são os que têm a ver com a Comunicação. Isso é uma constante não somente no México, mas, creio, em toda a América Latina. É lamentável.
*
Evidentemente, a Comunicação, em qualquer organização, instituição ou empresa, tem um papel muito importante e pode ser um fator de êxito ou de fracasso.
A imagem atribuída pela academia aos profissionais de Comunicação
é de uma formação que permite o seu aproveitamento para diversas
áreas da organização, mas que ao mesmo tempo sofre uma grande
concorrência, não só de outras áreas de comunicação, como também
de áreas e habilidades completamente diferentes.
Ao longo do tempo, se formos observar quem tem maior permanência, nas agências, nas empresas ou nos governos, são egressos de Comunicação. Creio que a formação que damos aos estudantes de Comunicação permite que eles se adaptem às diferentes situações.
*
O campo é muito aberto, mas muito competitivo. Ainda mais que há a competição de outros que possuem outras habilitações ouvem de outras áreas.
* De alguma maneira devemos ajudar os estudantes a ler, a não ficarem simplesmente com o que se vê, mas com aquilo também que não se vê e temos que descobrir. Dessa maneira, evidentemente, ter uma perspectiva completa, ter diversas formas de solucionar problemas e procurar descobrir qual é a mais adequada à circunstância.
Há também, por outro lado, os que questionam a capacidade das
universidades de criarem uma identidade própria, que deixe claro para o
mercado as diferenças de formação e competências entre Relações
Públicas, Comunicação Organizacional e outras áreas da Comunicação.
O campo é muito aberto, mas muito competitivo com outras habilitações ou áreas. Isso nos faz refletir se as universidades estão fazendo tudo que deve ser feito para formar os jornalistas ou os comunicadores organizacionais ou os profissionais de qualquer outra área da Comunicação.
Outra visão é a de que a Comunicação Organizacional, no México,
precisa se desenvolver e se expandir, com vistas ao atendimento de
organizações públicas, filantrópicas ou médias e pequenas empresas,
mas que para isso terá que quebrar ainda grandes barreiras.
Estamos no processo de coordenação e ampliação do espectro de ação da Comunicação Organizacional perante as instituições públicas ou de governo e perante as organizações filantrópicas ou as pequenas e médias empresas, que concorrem com mais de 97% do que é produzido.
*
Nas instituições públicas há uma forma de atuação burocrática, a prepotência e a lentidão com que operam é do século passado. A Comunicação tem muito a fazer por essas instituições. Devemos juntar esforços para dinamizar o setor público através do conhecimento que temos em Comunicação Organizacional.
Há ainda para Relações Públicas a imagem de uma atividade que
viabiliza a Comunicação Organizacional, podendo estar ou não
adequadamente diferenciada de Comunicação nas organizações.
Para haver um trabalho de Relações Públicas, deve haver um de Comunicação Organizacional. Creio que nas organizações estão muito claras as diferenças, apesar de que na prática elas se misturam muito.
*
Creio que para um jornalista não fica tão claro para que servem a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas. Somente para o jornalista que é especializado.
A percepção de que os meios e as organizações enxergam a
comunicação de forma muito distorcida é vista como uma influência
muito negativa tanto para Relações Públicas como para a
Comunicação Organizacional.
O mundo empresarial, as revistas e os jornais especializados se interessam muito pelo negócio, ou seja, pela parte econômico-financeira e pelo o mercado. As outras partes – fator humano, gestão do conhecimento, gestão da comunicação – são temas elaborados muito timidamente.
Por outro lado, há os que defendem que o interesse pela
comunicação é cada vez mais compartilhado entre profissionais-
acadêmicos e profissionais das organizações.
Creio que o nicho da Comunicação se abre cada vez mais. Há mais presença de dois tipos de autores: os que trabalham em período completo fora da universidade e aqueles que, além da academia, trabalham no governo ou em associações civis.
Apesar dos problemas para consolidar a sua imagem e a sua
identidade, a Comunicação Organizacional é vista como uma área
com boas perspectivas no mercado de trabalho, mas que por isso
mesmo demanda maior empenho no desenvolvimento de estudos
sobre as habilidades técnicas requeridas.
Embora tenham avançado muito no México em termos de
reconhecimento, Comunicação Organizacional e Relações Públicas são
tidas como áreas cujo reconhecimento e prestígio ainda se apresentam
menores do que deveriam junto à sociedade, ao governo e à imprensa.
Tenho a impressão de que há pelo menos três gerações que trabalham com a comunicação nas empresas e que seguem trabalhando sem conceitos formais. Muitas vezes por negarem a possibilidade de usar a teoria. Isso porque, quando não se conhece a teoria, fica mais fácil negar a sua utilidade. E no México se faz muito pouca pesquisa, o que dificulta a elaboração de teorias de caráter nacional. No entanto, em termos gerais, a profissão está sustentada na teoria situacional. Na prática, o objetivo é trazer resultados e agregar valor.
* Há muito que fazer para consolidar a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas.
* Quando chega alguém de Comunicação Organizacional e diz o que faz, irão perguntar o que ele faz exatamente.
* Acredito que o respeito e a credibilidade no mercado têm avançado muito. Os contratantes e os clientes sabem o que esperar e exigir. Por outro lado, há a falta de credibilidade da profissão. Meu ponto de vista é que o profissional de comunicação deve mudar, senão a comunicação não será respeitada.
No Brasil, a percepção declarada sobre a imagem de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional é de que há, por parte das
empresas, um desconhecimento muito grande das competências
específicas de cada uma dessas áreas, colocando as Relações
Públicas sempre em um nível inferior ao da Comunicação
Organizacional.
Apesar disso, as tendências previstas são de que as novas
necessidades de relacionamento das organizações com os seus vários
públicos deverão impulsionar a expansão e a valorização das áreas
de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional, tanto na
academia como nas organizações.
Existe uma tendência emergente no sentido de glorificar ou legitimar a Comunicação Organizacional em detrimento das
Relações Públicas, consideradas como atividade subalterna. A meu ver, isso constitui um grande equívoco.
* Esses impasses sobre as competências de cada área inexistem ou são residuais em outras sociedades, onde os relações-públicas têm orgulho da profissão, ocupando ou não cargos diretivos, acessíveis a qualquer profissional que tenha competência gerencial.
* Acredito que ainda há um desconhecimento de parte de gestores sobre a relevância da Comunicação nas suas organizações. No primeiro semestre de 2005, desenvolvi módulos sobre Comunicação Organizacional em três cursos de pós-graduação.Chamou-me a atenção o interesse pela área e a constatação que as organizações não investem em Comunicação Organizacional ou, se investem, o fazem de forma desarticulada, sem políticas norteadoras.
* No caso das Relações Públicas, o desconhecimento é ainda mais significativo. Talvez fosse necessário, e especialmente no caso das Relações Públicas, enfatizar a relação direta dessa atividade com a Comunicação Organizacional, o que poderia tornar mais fácil aos alunos (e também aos profissionais) explicarem, quando indagados, o que são afinal Relações Públicas e para que servem.
*
Tenho convicção de que a imagem e a identidade das duas áreas, apesar dos impasses conceituais e das disputas de poder, está sendo construída em terrenos mais sólidos. As novas exigências do mercado e da própria sociedade tendem a valorizar cada vez mais aquelas áreas que aproximam pessoas, que favoreçam relacionamentos, que estimulem transparência e ética nas relações. Relações Públicas e Comunicação Organizacional são áreas que podem “fazer acontecer”, ao viabilizar e materializar essas expectativas.
2.2. Agências de Comunicação
Tabela 13 Roteiro de análise de entrevistas (2)
Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
Definições e possibilidade de diálogo entre as áreas. Conquista de mercado pelas áreas. Bases de fundamentação do pensamento comunicacional e influência da globalização. Fluxos de comunicação entre agências.
Perfil do profissional
Influência norte-americana. Oportunidades de trabalho nas duas áreas. Perfil do profissional: demanda versus formação. Obras referenciais.
Influências de imagem e de identidade
Atuação das entidades de classe e da comunidade acadêmica em relação às duas áreas. Abordagem dos conceitos nas organizações. Influências de imagem e de identidade.
2.2.1. Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações
Públicas
a) Definições e possibilidade de diálogo entre as áreas
Não há uma percepção comum entre as agências do México sobre a
equivalência ou não entre Relações Públicas e Comunicação
Organizacional, sendo elas vistas tanto como iguais quanto como
complementares, com semelhanças e diferenças, ou simplesmente
como campos com funções diferentes, mas inseparáveis.
Sendo assim, é redundante tentar explorar o diálogo entre as áreas,
uma vez que nem estão estabelecidos os seus limites.
Creio que Comunicação Organizacional e Relações Públicas são a mesma coisa. Sinto que uma organização, uma empresa não deve pretender emitir uma mensagem ao exterior sem que suas pessoas, seus empregados entendam essa mensagem internamente. Eles têm que crer, ser os porta-vozes do que queremos fazer. Creio que as Relações Públicas devem mexer com as duas coisas.
* Por Comunicação Organizacional entendemos a comunicação feita dentro da organização. As Relações Públicas são a maneira de se relacionar com o público externo.
* Muitos tratam a Comunicação Organizacional como se ela fosse algo novo, mas não é. As Relações Públicas são o outro lado da mesma moeda da Comunicação Organizacional. Por isso, as duas são indissociáveis.
*
Creio que é uma diferença basicamente semântica. Pode-se entender a Comunicação Organizacional como fenômeno que se dá dentro da organização ou o esforço sistemático que se dá para otimizar o processo comunicativo endógeno e exógeno da organização. Agora, as Relações Públicas são entendidas como o esforço sistemático para melhorar o vínculo entre a organização e o seu entorno, tanto com o seu público interno quanto com o externo.
*
Comunicação empresarial não é apenas Relações Públicas. Pode ser Publicidade também, pode ser uma série de ferramentas de comunicação que chegam e não chegam em Relações Públicas. Primeiramente, porque não existe uma linha muito clara: até onde vão as Relações Públicas, onde começa a Publicidade, onde começa a Promoção.
No Brasil, o entendimento da Comunicação Organizacional varia,
envolvendo desde o completo desconhecimento e a confusão com
comunicação voltada para o público interno, passando pela
complementaridade, até a idéia de identidade total entre elas.
Nós entendemos a Comunicação Organizacional, genericamente, como sendo o equivalente à chamada Comunicação Empresarial, só que de uma maneira muito mais ampla. Porque, quando se fala de empresa,
pensa-se no segundo setor. A Comunicação Organizacional se refere ao primeiro, ao segundo, ao terceiro, a quantos setores houver.
* Vemos a Comunicação Organizacional como sendo um campo de pensamento e as Relações Públicas, como um campo de atuação.
* Pelo que entendo, é exatamente o contrário. Relações Públicas são as disciplinas, as ferramentas que você tem para conversar com os públicos.
* A Comunicação Organizacional estaria dentro do guarda-chuva de Relações Públicas de que uma organização lança mão. Então, a Comunicação Organizacional é mais a área de atuação.
* Comunicação Organizacional não é um termo que eu ouça com muita freqüência. Talvez seja algo parecido com o que chamamos de Comunicação Corporativa ou Comunicação Institucional, mas a Comunicação Organizacional não me é familiar.
* Na verdade, não distingo entre as duas. Tendo a ver a comunicação mais vinculada ao propósito que ela tem, as audiências na mídia.
* Sou pouco apegado à nomenclatura de Relações Públicas. Vejo mais a diferença na função de cada tipo de comunicação, dos seus objetivos e das audiências e não necessariamente Relações Públicas ou Comunicação Organizacional.
* Na minha opinião, as duas deviam ser como gêmeos. É um dos propósitos quando trabalhamos com um cliente: deve haver sinergia nesses dois esforços. Infelizmente, nem sempre isso ocorre.
* O mercado da comunicação e seu entendimento estão mudando.
*
Não gostaria que Relações Públicas e Comunicação Organizacional fossem campos independentes. Elas possuem características particulares, mas seria impossível sua separação. O mínimo deveria ser que houvesse uma coerência entre as duas e o ideal é que houvesse uma fusão.
b) Conquista de mercado pelas áreas
No México, a conquista do mercado pelas áreas de Relações Públicas
e de Comunicação Organizacional é percebida como notória.
Principalmente para as Relações Públicas. Primeiro, devido à
influência das multinacionais americanas, que passaram a demandar
as atividades de Relações Públicas nos moldes em que elas são
desenvolvidas nos Estados Unidos; e, segundo, pelo reforço trazido
via globalização. A Comunicação Organizacional é tida mais como
uma evolução de Relações Públicas do que como uma área
totalmente nova ou independente dela.
Creio que houve um crescimento, sinto que está crescendo cada vez mais a área de Comunicação. Há problemas de entendimento do que a Comunicação possa ou deva fazer dentro de muitas empresas. O México, como você sabe, é um país que tem muita influência de multinacionais. Estas são todas americanas, foram eles que inventaram as Relações Públicas.
* Atualmente está bem melhor, porque quando cheguei ao México, em 1995, muitos não entendiam as Relações Públicas e a Comunicação Organizacional. O entendimento referente às duas áreas melhorou perante o mercado. Antigamente, as Relações Públicas eram um serviço de simples relação com os meios de comunicação.
* Tem havido um crescimento expressivo tanto em número de agências de Relações Públicas como em número de áreas de Relações Públicas nas empresas. Eu diria que há um fator importante
nesse processo que se chama globalização. A Comunicação Organizacional e as Relações Públicas tiveram esse detonador.
* A cultura corporativa das empresas internacionais fez com que elas esperassem encontrar no país agências de Relações Públicas. As agências de Relações Públicas se expandiram devido a isso. Há o entendimento de que a atividade de Relações Públicas não é acessória, mas uma estratégia que ajuda a atingir os objetivos das empresas.
No Brasil, também há a percepção de evolução das duas áreas, mas
vista sempre como atrelada à demanda das multinacionais e também ao
esforço das próprias agências em demonstrar que Relações Públicas
abarcam um espectro abrangente de soluções para as várias atividades
de comunicação da empresa. É importante, ainda, destacar que essa
evolução foi possibilitada a partir da procura por atividades específicas
de Relações Públicas, sobretudo a assessoria de imprensa.
Era difícil abrir a visão do cliente. Hoje a maioria dos clientes chega pela porta da assessoria de imprensa, porque a demanda que ela tem é maior. Mas também eles já sabem que existem empresas que atuam em outras áreas e, em alguns casos, até falam que querem a assessoria de imprensa, mas que também têm interesse nos outros “expertises” de Relações Públicas.
* A assessoria tem um “budget” limitado, mas você precisa de alguma coisa maior. Isso em termos de planejamento é muito mais fácil. Essa é uma frente que demonstra amadurecimento. A outra frente eu acho que é o perfil de empresa que começa a nos procurar em termos de prospecção, de seleção de agências.
* Hoje há grandes grupos nacionais que começam a entender a importância dessa abordagem mais ampla, não só a assessoria de imprensa, até por questões internacionais.
* E neste processo eles precisam de uma comunicação mais sofisticada, uma visão mais ampla. Porque a assessoria de imprensa em outros
países demanda posicionamento da empresa, o que ela faz na área social. Ela precisa ter um discurso um pouco diferente.
*
Estamos com um trabalho grande feito com a Vale do Rio Doce, um exemplo de empresa cem por cento nacional, que começa a se internacionalizar e que precisa ter Relações Públicas. Outro exemplo perfeito é a Petrobras, com a qual trabalhamos dois anos e meio fazendo só Relações Públicas, não fazendo assessoria de imprensa.
* Outro aspecto a ser destacado nessa evolução é a mudança do perfil
profissional, antes dominado pelos jornalistas e que começa a se
modificar, contando não só com a maior oferta dos profissionais
formados em Relações Públicas, como também de maior procura
desses profissionais por parte das empresas.
No início nossa equipe era formada cem por cento por jornalistas e, quando você fazia uma seleção, todos eram jornalistas. Havia pouco movimento de Relações Públicas, não sei por quê, pois já existia uma faculdade de Relações Públicas. Os profissionais talvez não estavam entendendo os caminhos para se chegar à agência ou até mesmo não estavam no mercado; faziam o curso, mas ficavam em outras áreas. Agora temos uma demanda de currículo, temos muitos estudantes e profissionais de Relações Públicas. Então, sinto uma presença muito maior na formação dos quadros das empresas. Há um maior amadurecimento acadêmico e técnico, mas que certamente é um reflexo do que acontece no mercado. Acredito que estejamos indo por um caminho muito positivo.
Com relação à mensuração dos resultados, o sentimento é de que
ainda há uma necessidade muito grande de educar os clientes, pois
são poucas as empresas que já entendem o valor e a utilidade
dessas estratégias e desses instrumentos.
Aparecem empresas que querem fazer auditoria de opinião de seis em seis meses, porque elas começam a entender melhor a importância de ter um planejamento em Relações Públicas e de fazer a mensuração para o planejamento.
*
Como complemento do resultado do “clipping”, você já começa a mostrar uma análise qualitativa do que são os resultados daquele plano de comunicação do período, apresentando “slides”, mostrando o que o jornalista pensava seis meses atrás e o que ele pensa agora.
* É um processo de amadurecimento e, no futuro, talvez você consiga estimular pela porta da imprensa, que é onde a demanda existe. Ao mesmo tempo, você talvez consiga replicar esses modelos que hoje não são tão prioritários. E é o que está acontecendo. É um processo lento e gradual.
* Nós também temos o compromisso de formar a opinião a respeito do que são as Relações Públicas, de formar o mercado, até para podermos desenvolver cem por cento da nossa capacidade.
Em diversos momentos se percebe que as atividades de Relações
Públicas são vistas como sendo limitadas exclusivamente ou de
forma preponderante à assessoria de imprensa, fato
repetidamente reportado pelas agências.
A visão sobre as agências é de que há vários perfis, desde aquelas
que se propõem orientar o cliente e expandir a sua visão a respeito
do que abrangem as Relações Públicas, até as que se voltam para
um trabalho limitado, apenas para não perder uma oportunidade de
trabalho, prejudicando assim o desenvolvimento desse mercado.
Se for um cliente consciente da sua necessidade, ele vai ter uma série de boas opções para suas necessidades.
* Há no mercado desde empresas que oferecem serviços especializados, até aquelas com visão ampla de Relações Públicas.
*
Um desserviço ao incentivo desse amadurecimento são as empresas que estão no nicho e se dizem atuando no todo. Quando isso acontece, todo o mercado de Relações Públicas perde, o cliente acaba tendo uma visão errada do serviço. Você está voltando um passo para trás.
* O mercado sempre opera assim, um puxa o outro, clientes exigem mais e as agências respondem, estabelece-se uma relação de simbiose entre o fornecedor e o comprador de serviços.
* Uma evolução acho que é a Abracom, que tem sido um marco para a indústria, no sentido de que é a primeira vez que as agências conseguem se consolidar como uma associação de peso.
c) Bases de fundamentação do pensamento comunicacional
e influência da globalização
No México, o pensamento comunicacional é visto como uma combinação
única, da origem e da influência norte-americanas com as oportunidades
de trocas de conhecimento e experiência trazidas pela globalização. A
isso ainda se somam as necessidades das empresas mexicanas, que já
começam a demandar soluções de comunicação diferenciadas, pelo
reconhecimento de que as Relações Públicas não são uma forma de se
relacionar com os meios, mas uma estratégia para desenvolver o
relacionamento com os vários públicos da empresa.
Creio que a principal influência para as Relações Públicas é americana. No entanto, à medida que foram sendo feitos esforços sérios para as Relações Públicas, começaram a ser permeados conceitos autênticos dessa atividade.
*
Nós somos prova da realidade da globalização. O que implementamos para um cliente na Índia, por exemplo, eu avalio, podendo ser eficaz ou não para o México, depois, é claro, de localizá-lo e de adaptá-lo. É uma realidade inescapável.
*
A mudança na visão das Relações Públicas é que elas não são uma forma de relacionamento com os meios. Essa mudança de mentalidade traz a necessidade de sermos mais estratégicos, de termos mais conhecimento das empresas.
*
As Relações Públicas “à la americana” são mais propriamente marketing e suas atividades se voltam para as autoridades e os jornalistas dos Estados Unidos, o que não se aplica ao México.
*
Creio que o México foi o pioneiro na organização do “relacionismo” latino-americano. O que já não é mais marketing, porque se consideram os interesses dos diversos públicos para haver uma verdadeira relação.
No Brasil, a influência da globalização é reconhecida como a propulsora
de uma nova mentalidade, que permitiu melhor compreensão do papel e
da abrangência das atividades de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional, por meio das demandas de multinacionais, e que se
estende hoje também para as empresas brasileiras.
Como aspecto negativo da globalização aparece a dificuldade de as
agências mais completas competirem em preço com as agências que
oferecem um nível inferior de soluções, mas são escolhidas devido ao
desconhecimento da abrangência desses campos pelos clientes.
A globalização tem trazido uma certa sofisticação, tem feito com que o mercado evolua de uma forma profissional, com clientes mais exigentes e mais objetivos. Eles têm uma cobrança da matriz para implementar uma série de atividades, e isso eles só podem fazer através de uma agência. Então, o cliente começa a pedir mais profissionalização.
*
A globalização tem trazido vários avanços: em metodologias, em tecnologias, em maneiras de apresentar e em maneiras de reportar. E, dentre as coisas chatas, quando um grande cliente está só pensando em custo, é muito possível que eu não seja escolhido porque o meu preço não foi entendido e foi maior.
*
Antigamente era mais fácil vender serviço para uma multinacional que entendia a necessidade da comunicação corporativa, que tinha dentro dos organogramas, da estrutura, uma posição para essa função, enquanto as empresas nacionais nem tinham essa função ou a função era de assessor de imprensa.
* Hoje as estruturas das empresas nacionais são muito semelhantes às das internacionais, o cargo da comunicação corporativa tem cada vez mais importância e não é simplesmente um apêndice.
c) Fluxos de comunicação entre agências
As agências pesquisadas mostraram dois tipos de prática quanto ao
fluxo de comunicação entre as filiais de diferentes países.
No primeiro caso, o fluxo de comunicação é intenso entre as filiais
localizadas em países diferentes e considerado muito produtivo não
só pela soma de experiências que propicia às várias equipes, como
por aumentar as chances de oportunidades de negócios, na medida
em que permite aos clientes liberdade de escolha do atendimento.
No segundo, há apenas o compartilhamento na definição de práticas
geradas, a partir de conhecimento especializado, pelos próprios
funcionários designados para essas atividades.
Há uma grande amizade e grande troca de informações entre os setores, entre as duas agências e entre os dois diretores. A gente tem uma série de clientes em conjunto, e está se falando o tempo inteiro. Há times dos dois países trabalhando juntos. Então a troca de informações e experiências, dificuldades, momentos delicados com o cliente é contínuo, o contato via e-mail é contínuo entre as equipes.
*
O que fizemos foi determinar quais são os mercados e as funcionalidades mais importantes para a empresa e decidimos que existiam dois grandes setores: saúde e tecnologia e telecomunicação. Esses dois setores passaram a ter práticas especializadas. Todo funcionário foi destinado a
uma prática e para as práticas foram dadas as tarefas de gerar conhecimento especializado e profundo dentro dele. A empresa opera dessa maneira em todo o mundo. No entanto, se a empresa quiser gerar uma outra prática própria pode fazer, há essa liberdade.
2.2.2. Perfil profissional
a) Influência norte-americana
Tanto no México como no Brasil, a influência norte-americana é vista
como uma conseqüência natural da presença maior de multinacionais
americanas nesses dois países, aliada ao pioneirismo e à
predominância americana na utilização e no desenvolvimento das
Relações Públicas.
Por outro lado, também é apontada a influência da diferença cultural,
que dá principalmente ao Brasil um tom próprio na maneira de o
mercado lidar com Relações Públicas, tanto pelo fato de ser
considerada historicamente apenas como assessoria de imprensa,
cuja função seria falar sempre a favor da empresa, como pela
participação mais ativa em soluções de responsabilidade social.
O que acontece é que recebemos contas muito fortes dos Estados Unidos. Mais ou menos 10% a 25% dos negócios são contas que vêm dos Estados Unidos para o México.
*
Bom, vamos estabelecer primeiro que a indústria das Relações Públicas surgiu nos Estados Unidos, tornando-se um mercado muito evoluído ao longo de muitos anos. A influência só poderia ser assim, principalmente ou dominantemente americana. Aí você tem as grandes múltis que chegaram, também as americanas. Então você tem uma visão de comunicação corporativa bem americana aqui no México.
*
No Brasil, eu acredito que, dentro do Jornalismo, eles torcem o nariz pros relações-públicas, porque acreditam que estes não sabem
comunicar, que estão aí para só mostrar o lado bom da história. As Relações Públicas são entendidas como assessoria de imprensa, e assessoria de imprensa é apenas um elemento do “mix”, do que compõe as Relações Públicas. Já na Europa e nos Estados Unidos, esse relacionamento é muito mais de respeito e de troca.
*
Acho que as Relações Públicas estão avançando, evoluindo no Brasil, longe de ser a prática que são em mercados maduros, mas muito diferentes do que eram há dez anos.
* Eu vejo a cultura brasileira tendo uma grande capacidade de adaptar e incorporar ferramentas que vêm de fora do País. Nesse sentido, Brasil e Estados Unidos são muito semelhantes. Sem dúvida o tom da comunicação brasileira é próprio, não vejo que as empresas tentam se adaptar a um estilo de discurso ou a uma funcionalidade da comunicação que não seja própria.
* O Brasil é muito mais sensível ao discurso de responsabilidade social corporativa. As empresas que conhecem a necessidade da sociedade brasileira incorporam isso de maneira muito mais plausível que as americanas. Em compensação, as empresas americanas são mais competitivas, porque focam seus recursos somente na geração de valor dentro dos seus serviços, gerando mais riqueza.
*
Vejo uma atuação distinta entre essas empresas, e isso também se reflete nas suas funções de comunicação.
b) Oportunidades de trabalho nas duas áreas
No México, a percepção das agências é de que ainda haja mais
oportunidades de trabalho para comunicação externa ou Relações
Públicas do que para a comunicação interna.
Já nas agências brasileiras, as oportunidades de trabalho estariam se
diversificando entre várias especialidades profissionais, devido à própria
evolução da demanda pelas empresas por serviços diferenciados.
No México creio que se buscam a Comunicação Externa e Interna, mas de maneiras diferentes, com gradações e intensidades diferentes. O que em minha opinião é uma falta de visão.
*
No Brasil a rixa entre os relações-públicas e os jornalistas está sendo resolvida pela necessidade do mercado. Os clientes impõem uma necessidade ao mercado, ou uma solução puramente jornalística ou de Relações Públicas e as agências hoje exigem um leque de serviços mais amplos. As agências têm um perfil mais diversificado que no passado. Acho que as agências hoje vão ter um “mix” de pessoas entre jornalistas e relações-públicas.
* O próximo passo a ser dado será quando as agências começarem a incorporar especialistas de setores específicos. A tendência é cada vez mais as agências irem se especializando em certos nichos de mercado e recrutando pessoal não só de comunicação, mas pessoas que tenham um conhecimento profundo sobre setores específicos.
c) Perfil do profissional: demanda versus formação
As agências demonstram insatisfação com a formação oferecida
pela academia. Ela se dá muito mais no nível de formação
intelectual geral e na capacidade de reflexão e pensamento
estratégico do que no de conhecimentos específicos, sendo mais
observada no México do que no Brasil.
As percepções de menor insatisfação com a formação dos brasileiros
são atribuídas ao maior empenho e ao maior interesse dos próprios
alunos, que possibilitam um desenvolvimento profissional melhor e
mais rápido, até quando comparados aos profissionais americanos.
Há também o reconhecimento claro da evolução das oportunidades de
trabalho nas duas áreas, embora a grande referência sejam as Relações
Públicas, mesmo quando abordem atividades que possivelmente
pudessem estar associadas à Comunicação Organizacional.
O enxugamento e a transformação resultantes do mercado de
trabalho para os jornalistas são vistos mais como aspectos positivos
do que negativos para o exercício de Relações Públicas.
Creio que no México a academia não está oferecendo o profissional de que necessitamos, pois preciso de pessoas com mais atitude.
* O nosso recrutamento não necessariamente seleciona pessoas da academia e, sim, uma combinação de diversas pessoas, algumas com uns pontos fortes que outras não têm. É uma combinação de talentos. As pessoas têm que ser informadas, ler jornais, assistir televisão, para serem consultoras em comunicação.
* Há certas coisas que são básicas em um comunicólogo. Por exemplo, uma pessoa que não sabe escrever, que não sinta o desejo de compartilhar uma idéia, terá muita dificuldade para entrar no mercado das comunicações.
*
O que eu busco em uma pessoa é que ela saiba pensar, que tenha paixão pela comunicação, que seja curiosa e que saiba discutir para chegar a uma melhor solução para o cliente. Por isso defendo que a melhor formação é aquela generalista e não a especifica. Um aluno que estuda Filosofia, Ciências Sociais ou Literatura saberá desenvolver o seu pensamento. É necessário ter ferramentas, mas não só isso. As pessoas que estudaram essas matérias têm um universo mais amplo.
*
Não há clareza sobre o perfil adequado: o licenciado em Jornalismo, em Relações Públicas ou em Publicidade.
*
Eu acho que as universidades vêm se empenhando de uma forma muito dedicada, muito comprometida, aqui no Brasil. Tem Cásper Líbero, USP, PUC do Rio Grande do Sul. Vejo uma certa seriedade no que elas têm dado à nossa indústria.
*
A minha experiência é de que os jovens brasileiros têm “fogo” pela aprendizagem. Não só vão estudar, mas querem falar com profissionais, buscam livros, vão ver palestras. Eles têm uma busca eterna por fontes de informação, por aprender o que é novo, por absorver.
*
Eu acho que há uma dedicação importante. Os alunos brasileiros saem da faculdade com conceitos muito mais teóricos do que práticos, mas com um “fogo” de aprender e implementar que é muito gostoso de ver.
*
Eu acho que a carreira dos relações-públicas brasileiros evolui muito mais rápido porque há uma abertura; nos Estados Unidos, se você não tem uma certa idade, um certo perfil, você não vai estar na frente do cliente por muito tempo. E aqui no Brasil você tem executivos juniores ou executivos plenos que já estão fazendo reuniões com diretor de Marketing, expostos a situações muito mais de alto nível do que lá.
*
Há dez anos a minha melhor experiência foi com alunos da USP. Qualquer um que eu colocasse aqui que era da USP ia cumprir direitinho. Ao longo do tempo está chegando gente de outras faculdades: Cásper Líbero, por exemplo. Hoje em dia eu tenho profissionais de uma série de faculdades.
*
O profissional ideal de Relações Públicas hoje é muitas coisas. É uma pessoa muito curiosa, alguém que acorda pela manhã, sabe o que tem que fazer e faz acontecer. É alguém que é corajoso, não tem medo de testar ou acertar ou errar, é alguém informado, é alguém que gosta de ler jornal e internet, alguém que, preferencialmente, fale línguas. Inglês é fundamental, porque muitos dos clientes que estão começando querem material de fora que você tem que adaptar, o conceito que vem de fora você tem que adaptar. E espanhol é essencial, porque o brasileiro já é o candidato natural para ter aquele cargo regional, mas, se ele não consegue conversar com seus pares, então, de repente, um argentino ou peruano vai pegar a vaga, porque está mais qualificado para poder se comunicar com a matriz. É alguém que sempre quer mais, que não quer
ficar aqui, quer aprender, quer fazer, quer se projetar, que é muito curioso, que tem uma postura correta e profissional.
*
O enxugamento havido com a crise dos jornais tem sido positivo para a evolução de Relações Públicas, para o trabalho do dia-a-dia, porque hoje se tem um jornalista muito mais necessitado de ajuda, que precisa de uma estrutura que facilite as coisas para ele. Então, é muito mais fácil ele perceber os benefícios de uma assessoria de imprensa bem feita.
*
Acho que do ponto de vista de formação as Relações Públicas vêm amadurecendo. O conteúdo dos cursos é muito mais próximo do que é lá fora. Mas lá fora ele ainda é muito mais ligada ao “business”, ao marketing, do que ao jornalismo. É outra disciplina. Acho que deveria se aproximar mais de Administração de Empresas, desse nível, dessa área.
d) Obras referenciais
No México não há poucas obras referenciais citadas pelas agências. A
atualização de conhecimento se dá por meio de cursos ou de
treinamentos, ou mesmo pela disponibilização do aprendizado prático
para leitura aos funcionários da própria agência ou pelos livros didáticos,
praticamente sem contato com os estudos desenvolvidos na academia.
Há uma série de cursos, de treinamentos que devemos passar, mais a parte prática na Comunicação Corporativa (Marketing Communications) onde você encontra uma série de documentos, de estudos, de “cases”, de “checklists” para auxiliar na resolução de problemas, para fazer uma proposta de comunicação. Há muita informação que permite essa troca de tecnologia, de conhecimentos.
*
Creio que uma pessoa muito importante para o desenvolvimento das Relações Públicas foi o pioneiro Frederico Sánchez, que era mais um empírico, um apaixonado pelas Relações Públicas e defensor da profissão. Outra pessoa também nesse perfil foi Carlos Navarete, já falecido. Escreveu um livro de Relações Públicas, era editor de uma revista de Relações Públicas e promovia as revistas. Manuel Alonzo também é um personagem que se destaca.
*
Os estudos desenvolvidos na pós-graduação só chegam até nós através dos nossos próprios estudantes, ou de alguém que quis compartilhar. Mas quando chegam é através dos nossos funcionários ou, de repente, de um amigo de alguém, mas não das faculdades. Muitas vezes a gente participa, dando entrevistas ou indo à banca ou prestando depoimento.
*
O livro, sim. O livro que está no mercado e o que sai, vira e mexe. Quer dizer, a gente tem uma biblioteca corporativa, que é sobre coisas de comunicação, até coisas gerais que alguém quer saber, tipo o livro “Chiq”, da Glória Calil.
2.2.3. Influências de imagem e de identidade
a) Atuação das entidades associativas e da academia
em relação às duas áreas
A atuação das entidades de classe, no México, é percebida como
incipiente, principalmente no que diz respeito a Relações Públicas,
sendo atualmente um pouco mais bem considerada a atuação da
associação que representa a Comunicação Organizacional. O contato
com a academia é considerado mais satisfatório.
Temos contato com a academia através das associações. Abrimos as portas para que nos ajudem, para que estejamos preparados para o futuro.
* No México, do pouco que vi, muitos se queixam de que a indústria de Relações Públicas deveria se organizar mais, pois não está tão organizada como a de Publicidade. A impressão que tenho é que aqui no México as associações têm um longo caminho a percorrer.
* Nossa prioridade tem sido aproximar as universidades e o mercado. Porque elas trazem grandes talentos.
*
Quanto à indústria, creio que ela fica muito distante. Quanto ao governo, há mais participação. Comparando com outros países, não estamos no mesmo nível.
* Só conheço uma associação, que é a Associação de Relações Públicas no México.
* Desde que começaram as licenciaturas de Comunicação Organizacional, a academia e o mercado entraram em um acordo. O produto que advém da licenciatura de Relações Públicas não é o que o mercado necessita e espera. Eu tenho uma agência de Relações Públicas, e há a expectativa de que certas coisas fossem ensinadas, mas não são. Creio que é um esforço que se está fazendo, mas ainda falta muito.
*
Se falarmos especificamente de uma associação de comunicadores internos, existia a chamada Amic, que coexistia com outra associação de Relações Públicas. A divisão entre os comunicadores internos e os relações-públicas era evidente. Esse erro conceitual de restringir as Relações Públicas levou à Associação de Comunicação Organizacional.
* A Associação de Relações Públicas desapareceu, e os esforços para reativá-la não deram muito certo.
*
A academia de Relações Públicas, que não é verdadeiramente uma academia, possui boas intenções. Chegou a editar um livro, que na primeira edição era medianamente sério.
*
Em Guadalajara há uma chamada Associação de Profissionais de Relações Públicas do Ocidente, que agrupa os profissionais e que tem uma boa gestão.
No Brasil, as agências demonstram mais participação em associações
voltadas para a Comunicação Organizacional do que nas associações
de Relações Públicas. As opiniões sobre as associações diferem entre
as agências, no que se refere à sua atuação, não só em termos do
direcionamento e da organização das atividades, mas também de
atividades desenvolvidas junto ao mercado de trabalho e à academia.
O mesmo sentimento ocorre em relação à comunidade acadêmica por
esta não se aproximar espontaneamente do mercado de trabalho e nem
das associações. Apesar disso, nota-se uma tendência de evolução desse
relacionamento, reforçada pela preocupação das agências em participar
mais junto à comunidade acadêmica na formação dos profissionais.
A gente participa muito da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), nos cursos. Acreditamos que é uma boa escola, também mais para teoria, mas muito boa. Participávamos, no comecinho, da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação), mas a agenda desta se tornou uma coisa muito ampla. Se você quer uma associação, que esta tenha uma agenda viável. Não para atacar o mundo e ter sucesso com tudo.
*
Vejo a Aberje como uma entidade que representa mais os departamentos de comunicação das empresas do que propriamente as agências em si. Ela tem feito um bom trabalho de apontar as novas necessidades que as empresas têm, e isso para as agências é importante.
* Pelo perfil, a Aberje tem sido pioneira no estudo do impacto da comunicação interna. As empresas deveriam fazer menos comunicação externa e mais interna. No entanto, isso significaria menos dinheiro para as agências.
*
Temos um relacionamento muito estreito com a Aba (Associação Brasileira de Anunciantes). Ela faz um trabalho muito sério,de muito alto nível. Sempre nos convida para dar palestras e participar em seus fóruns deles. Achamos isso importante.
*
Nós fazemos parte da ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas). Não fazemos parte da Abracom, porque, na verdade, não vejo nenhum tipo de vantagem nisso, não é um setor que é
mobilizado. Não vejo as bandeiras que são defendidas serem defendidas profissionalmente.
* A Abracom, quando foi criada, tinha como objetivo aumentar as possibilidades de haver licitações no governo com foco cem por cento em Relações Públicas. A primeira licitação que aconteceu nesse sentido, quem ganhou foi um dos dirigentes da Abracom. Várias empresas saíram da Abracom, por entenderem que a entidade advogou em causa própria.
* O que foi positivo na Abracom, por ter nascido das agências, foi o olhar sempre prático e também a tendência de trabalhar os assuntos que realmente são importantes para as agências. Ela tem promovido, para as agências pequenas e médias, seminários sobre como gerir uma empresa, calcular sua pasta de recursos e coisas fundamentais para arrumar o mercado, pois este está profundamente desarrumado e isso se reflete nos preços que são repassados para os clientes. Para as empresas grandes, a Abracom tem promovido atividades como tentar abrir, no governo federal e nos governos estaduais e municipais, licitações específicas para a área de Relações Públicas ou Comunicação Corporativa. Ela tem atuado em distintas frentes e de uma maneira bastante diversificada.
*
Nós somos procurados pela ABRP e pelo Conrerp mais em ações pontuais, como, por exemplo, quando ocorre o Prêmio Eco. E mesmo as demais abordagens são muito tímidas, via e-mail ou cartinha. Não é uma coisa estruturada e bem feita. Eles não conseguem vender nem um peixe.
* Eu esperava que existisse uma proatividade muito maior por parte do meio acadêmico em relação ao mercado. Tudo que fazemos é proatividade nossa. Buscamos abrir com nossos clientes parênteses para cuidar da nossa própria comunicação, do nosso próprio marketing.
* O profissional acaba ficando com uma visão teórica. Quando chega a prática, cai da cadeira. Tem que haver uma proximidade maior nesse sentido. As agências não fazem um favor em participar. Você quer um bom profissional, mesmo que seja um “trainee”, alguém com pouca experiência que já tenha algum tipo de visão. Mas que visão? Como ele vai conseguir esse tipo de visão dentro da sala de aula? Então, você também tem que participar disso, se quiser que no fim da linha saia uma pessoa de visão.
*
As atividades do universo acadêmico em geral não chegam a nós. Deveriam chegar com muito mais freqüência e não só na hora em que estão acontecendo, mas na hora em que estão sendo elaborados. Assim haveria uma participação ativa no mercado, inclusive nessa discussão do que fazer ou não, do que é importante e do que não é. Mas tenho pouca informação do que acontece e menos ainda do que está sendo planejado.
* Não posso dizer que vejo claramente uma evolução da produção acadêmica. Mas imagino que exista uma evolução importante, porque meu contato tem sido mais intenso, o que significa que está sendo produzido mais. Nos últimos anos, a aproximação entre o mercado e a academia é uma coisa muito positiva, porque provavelmente faz com que a ciência e a pesquisa sejam voltadas às necessidades do mercado.
*
Também existe uma discussão mais sofisticada nos encontros entre as agências e o meio acadêmico. Os assuntos discutidos são cada vez mais complexos e próximos das necessidades de negócio das empresas. Uma relação próxima entre as faculdades de Comunicação Social e de Administração é fundamental. Tanto que hoje a comunicação não é só ensinada em cursos de Comunicação.
b) Abordagem dos conceitos nas organizações
Na percepção das agências mexicanas como na das brasileiras, as
empresas continuam tendo uma visão muito restrita das atividades
de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional, fazendo com
que na maioria das vezes as agências utilizem as funções mais
específicas – o relacionamento com a imprensa, por exemplo – como
porta de entrada nas empresas, para posteriormente oferecerem
soluções mais integradas de Comunicação, aproveitando as várias
competências desses dois campos.
Outra estratégia adotada pelas agências é mostrar a possibilidade de
medição dos resultados, a fim de aumentar a credibilidade das
soluções apresentadas.
Aqui no México se pensa que somos uma agência de relacionamento com a mídia. Oferecemos uma espécie de auditoria de percepção. O que o governo pensa de você? Do seu produto? O que os seus fornecedores pensam? O que pensam os distribuidores? Então vamos mostrando essas partes enroladas e mostrando por que eles precisam de nós.
* Muitos dos nossos clientes ainda não entenderam que essas duas disciplinas são essenciais para a sobrevivência da organização. Isso porque uma falta de coerência entre as duas pode trazer uma crise de credibilidade tanto interna como externa. Uma organização, quando se preocupa em divulgar uma posição externa sem se preocupar com a coerência da mensagem, lembra o provérbio “em casa de ferreiro, espeto é de pau”.
O que me parece é que trabalhar com as ferramentas para atingir os meios é muito mais poderoso e o mais reconhecido. Muitas vezes o cliente nos chama porque quer estar nos meios de comunicação. Às vezes temos que explicar ao cliente que aquilo pode não ser o melhor para o seu negócio. O que fazemos é um planejamento de Comunicação Integrada.
* Quanto à medição dos resultados, temos sérios problemas com isso, porque muitas vezes fazemos a mensuração qualitativa, mas a quantitativa é muito difícil. Podemos medir através da equivalência publicitária, mas o que estamos trabalhando com os clientes é chegar a um outro nível mais qualitativo. Por exemplo: a quanto chega a sua audiência? Ela tem alguma relação com seus “targets”? Qual a relação entre o número de pessoas e de clientes? Isso depende do cliente e do que estamos fazendo com ele.
* O problema é que medir bem é difícil e custa dinheiro, e as verbas da comunicação corporativa no Brasil ainda são pequenas em relação ao mercado. A medição consome entre 15% e 20 % de uma verba, é muito. Em geral se procura uma maneira mais barata, através de
“clipping” e uma leitura qualitativa. Mas são coisas que não são suficientemente abrangentes para demonstrar o valor que a comunicação está gerando na empresa e justificar um “budget” maior. Isso não é um problema só do Brasil, mas de todo mundo, porque o mesmo discurso que temos nesse mercado é repetido nos mercados europeus e norte-americanos. A queixa dos clientes é a da dificuldade de mensuração.
c) Influências de imagem e de identidade
Na visão das agências, apesar de a imagem e a identidade de
Relações Públicas e de Comunicação Organizacional ainda serem
inadequadamente percebidas, elas estão melhorando, devido ao
reconhecimento que essas áreas vêm conquistando e à diminuição do
preconceito em relação a seus profissionais. Isto leva a que os traços
negativos de imagem e de identidade prejudiquem cada vez menos
as ações de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional,
impulsionadas pela própria necessidade do mercado.
A percepção dos meios sobre as Relações Públicas tem mudado de modo positivo e engrandecendo-se, porque as Relações Públicas estão sendo percebidas como algo além de eventos ou relacionamento com os meios.
* Hoje também a imprensa se acha mais amadurecida quanto à interpretação do o papel do assessor. Conversando com jornalistas, eles diziam que existia um preconceito geral. E em alguns casos um preconceito que não é fundamentado em alguma coisa é só um pré-conceito.
* Preconceito existe. Nós precisamos trabalhar para, aos poucos, ir resolvendo essa barreira. Mas no nosso dia-a-dia ele é imperceptível. Não temos problemas em contatar um jornalista, em lhe passar informação ou que ele nos procure. Porque, por outro lado, o perfil dos nossos clientes é um perfil que faz com que o jornalista tenha que superar essa coisa. Sentimos que no dia-a-dia não sofremos essas conseqüências.
3. Considerações sobre a análise
Mesmo que apareçam controvérsias na análise das entrevistas realizadas
com pesquisadores, professores, agentes do mercado e representantes
de entidades associativas – algo que se podia esperar diante do universo
e das amostras que, ainda que representativas dentro dos critérios
estabelecidos, são efetivamente resultantes de muitas diferenças –,
alguns fatores podem ser generalizados (não extrapolados, devido ao
caráter qualitativo e não-estatístico da pesquisa).
Pode-se entender que, de maneira geral, há uma sutil e tênue
posição da academia e do mercado – mais presente neste último –
sobre a maior relevância de cada qual, apesar de que “a academia
tem buscado sistematizar suas reflexões a partir do fazer cotidiano
das organizações”, como aponta Kunsch (2005, p. 58). Se os
representantes da academia parecem ver uma certa distância do
mercado, propiciada por diversos fatores, os que respondem pelo
mercado, as agências, entendem uma certa precedência deste, seja
pelas manifestações que dizem respeito à avaliação de quais seriam
as melhores práticas de formação profissional que as universidades
deveriam adotar – como se houvesse um receituário de formação –,
seja pela sua sutil posição de destaque – como se a academia nem
sempre estivesse à altura da forma de atuação das agências.
As entidades associativas não são unanimidade nem no México nem
o Brasil, o mesmo acontecendo quanto ao binômio agências-
academia. Outro fator que cabe destacar é que, ainda não havendo
unanimidade em relação à existência de dois campos independentes –
Comunicação Organizacional e Relações Públicas –, tanto na academia
quanto no mercado, nos dois países, isso parece prevalecer nos
discursos, potencializando a hipótese originalmente apresentada nesta
tese.
Mesmo havendo um tom diferencial nos discursos dos diversos
representantes ouvidos, não há uma falta de sintonia que possa dar
sustentação a uma não-identidade dos campos. Há uma sensação de
que não haja uma ação sinérgica, processual e consensual em torno
dos objetivos, mas as diversas atitudes exercitadas não demonstram
contrariedade entre si, mas ao contrário.
4. Percepções e diálogo
Cabe aqui enunciar alguns dos principais pontos que foram destaque
ao longo da análise da pesquisa, buscando facilitar o entendimento
sobre as realidades, a fim de que se estabeleça um diálogo entre os
elementos componentes deste estudo quadripartite.
O diálogo talvez possa colaborar parar o apontamento de
caminhos a serem pavimentados entre mercado e academia,
diminuindo os intervalos percebidos e compreendidos como
negativos para o crescimento da pesquisa e da produção baseada
em suporte metodológico. Além disso, o reconhecimento dos
campos – imbricados entre si, como já apontado – permitiria o
estabelecimento de limites conceituais que poderiam levar a um
trabalho conjunto pelos membros de cada área.
Do ponto de vista mercadológico, a compreensão de cada espaço
potencializaria a absorção de profissionais especializados e
capacitados a solucionar os casos de forma mais dirigida, mais
elaborada, espaçando erros de seleção de instrumentos e de
técnicas.
No que se refere ao conceito latino-americano, Brasil e México
parecem possuir qualidades essenciais para que o debate sobre a
Comunicação passe obrigatoriamente por eles, estimulando a
manutenção e a ampliação de fóruns de discussão com os demais
países da América Latina. Isso não deixaria de lado a construção dos
espaços internos de discussão – que tanto no Brasil quanto no
México já se mostram estruturados – e reforçaria a possibilidade de
participar dos demais espaços de discussão no âmbito mundial.
Com a finalidade de apresentar um panorama e facilitar a síntese,
elaboramos um quadro com algumas considerações significativas
originadas nas entrevistas em profundidade, dando conta da confrontação
de posições entre os representantes dos dois países ouvidos.
Tabela 14
Síntese da análise das entrevistas (academia e agências)
Pontos-chave
Brasil México
Defini-ções e
possibi-lidades
de diálogo
• Tendência a se preocupar muito
com os instrumentos, ignorando, por vezes, o conceito de campo (acadêmico, profissional etc).
• Relações Públicas muitas vezes
associadas a instrumentos como eventos e assessoria de imprensa.
• Alguns acreditam que a
expressão Comunicação Organizacional é “embalagem”
• Tendência a se preocupar
muito com os instrumentos, ignorando, por vezes, o conceito de campo (acadêmico, profissional etc.).
• Há parcialmente a associação
de Comunicação Organizacional a ações de comunicação com o público interno.
• Entende-se que Relações
protetora para Relações Públicas diante das crises de imagem desta junto à comunidade científica e à empresarial.
• Destaca-se a possibilidade de a
Comunicação Organizacional absorver conceitos de Administração, Marketing, Jornalismo etc.
• Entende-se que Relações
Públicas e Comunicação Organizacional são campos independentes – não necessariamente sob o ponto de vista da definição de campo de Bourdieu – e que têm relação direta entre si. É como se a manutenção de ambas estivesse relacionada, ainda que cada uma tivesse seus próprios caminhos.
• Nas agências o entendimento
da Comunicação Organizacional varia do completo desconhecimento à confusão com comunicação voltada para o público interno, passando pela complementaridade, até a idéia de identidade total entre elas.
Públicas e Comunicação Organizacional são campos independentes – não necessariamente sob o ponto de vista da definição de campo de Bourdieu – e que têm relação direta entre si. É como se a manutenção de ambas estivesse relacionada, ainda que cada uma tivesse seus próprios caminhos.
• Se para os representantes de
agências a definição do que cada área venha a ser parece mais abstrata, no México isso pareceu mais acentuado, ainda que tenha sido recorrente a idéia de associação de Relações Públicas ao ato de comunicação com os públicos externos e Comunicação Organizacional às relações com os públicos internos. Quanto aos acadêmicos isso não ficou tão claro. Houve a defesa de possibilidade de ação concomitante, estimando-se técnicas e teorias diferentes e próprias.
• As agências não têm clareza
sobre a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas. Vêem-nas como: iguais ou complementares, com semelhanças e diferenças, ou simplesmente como campos com funções diferentes, mas inseparáveis - não há limites estabelecidos.
Mudanças
concei- tuais
• Tendência ao reconhecimento e
à valorização de Comunicação Organizacional - maior abrangência do termo.
• Há confusão entre o termo e o
campo. Comunicação Organizacional, por ser um termo em princípio e
• Vinculadas ao ingresso de
empresas norte-americanas no país na década de 1950, trazendo os conceitos de Relações Públicas e Comunicação Organizacional, que se expandiram ainda mais com a criação do Nafta.
aparentemente mais generalista, pode levar também à maior demanda das organizações pelo desenvolvimento desse tipo de conhecimento.
• A Comunicação Organizacional
e as Relações Públicas não têm espaço nas universidades federais. Isso pode prejudicar o ritmo da sua evolução teórica.
• Os públicos exigem pouco das
empresas e do governo. Não fosse isso, se incrementariam a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas.
• Aumento de abrangência das
Relações Públicas a partir da incorporação das abordagens psicológicas e políticas nos relacionamentos das organizações com a sociedade e seus públicos, trazidas por Bernays, Lippman, Canfield, Cutlip, Lesly, Grunig.
• A Comunicação Organizacional tem evoluído mais do que Relações Públicas, em termos de teoria.
• À medida que a Comunicação
Organizacional evolui, também evoluem as Relações Públicas, uma vez que não é possível desvincular as duas áreas.
• Aumento de abrangência das Relações Públicas a partir da incorporação das abordagens psicológicas e políticas nos relacionamentos das organizações com a sociedade e seus públicos, trazidas por Bernays, Lippman, Canfield, Cutlip, Lesly, Grunig.
• Campo de Relações Públicas
para pensador e operador de políticas que viabilizem ações com o objetivo de legitimar as organizações em ambientes complexos.
Bases de funda-
mentação do pensa-
mento comuni-cacional e influ-ência da globali-zação
• Entende-se que haja certa
distinção entre as origens das Relações Públicas (claramente provenientes dos Estados Unidos) e da Comunicação Organizacional.
• A globalização é vista
naturalmente na formação dos pensamentos nacionais – exposição a profissionais de diversas culturas e amplitude que o cenário mundial ganha com o reconhecimento de novas formas de produção de conhecimento.
• Discurso sobre imagem e
identidade foi revolucionário na década de 1990.
• Origens da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas são tidas como sendo norte-americanas, ainda que se acredite que hoje já haja um pensamento comunicacional mexicano.
• A globalização é vista
naturalmente na formação dos pensamentos nacionais – exposição a profissionais de diversas culturas e amplitude que o cenário mundial ganha com o reconhecimento de novas formas de produção de conhecimento.
• Clareza das influências
sobre a Comunicação e suas origens – corrente humanista
• Base do pensamento comunicacional: polêmicas, vistas como oscilantes entre as influências européias e americanas ou predominantemente americanas; as matrizes européias são consideradas recentes e dependentes da americana, embora inovadoras.
• A globalização impacta a visão
que as universidades brasileiras mais conservadoras têm em relação à Comunicação Organizacional, penalizada pelo preconceito acadêmico relacionado ao mercado.
• Há estudos sobre Comunicação
sendo desenvolvidos em áreas como Administração, Antropologia Economia etc., o que potencializa a diminuição de preconceitos.
• Há massa crítica de
pesquisadores que se dedicam a esse tema.
• Ainda se associam as Relações
Públicas à Ditadura Militar (1964-1985);
vem da Europa; corrente tecnológica é norte-americana.
• Empresas já demandam
soluções de comunicação sob medida para a realidade mexicana.
• Discurso sobre imagem e
identidade foi revolucionário na década de 1990.
Influên-
cia norte-ameri-cana
• Influência norte-americana é
vista como origem das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional, mas com dose de crítica por não terem se aderido aos brasileiros do ponto de vista político, ideológico - apresentavam visão cordial vinda nos livros importados e das empresas multinacionais (começou a ser discutida ao ir para o Terceiro Setor).
• Crítica à tendência de se
acreditar na “construção” da opinião pública.
• Base de influência continua
• Reconhecida principalmente
no âmbito de Relações Públicas e nos primeiros estudos de Comunicação Organizacional.
• Há o entendimento de que
posteriormente houve o redesenho de uma área de Comunicação Organizacional, ligada a projetos voltados ao serviço à sociedade - efetivamente de perfil latino-americano.
• Atribuição de grande
influência dos Estados Unidos ao campo profissional; a
norte-americana, mas a realidade traz novos problemas que são estudados por um novo perfil de pesquisa (baseado na identidade brasileira).
• As obras que apresentam a
trajetória de Relações Públicas e Comunicação Orgfanizacional confirmam a influência.
• Há uma maneira própria de
lidar com as questões de Relações Públicas, amparada na cultura nacional.
reflexão e busca teóricas são vistas como um pensamento original.
• Influência norte-americana
vem fortemente da Publicidade e das multinacionais.
• Boa parte dos clientes das
agências vem dos Estados Unidos.
Pesquisas nas áreas e obras referen-
ciais
• Produção bibliográfica é
influenciada pela produção recente norte-americana - fontes e conteúdo.
• O programa de pós-graduação da
ECA-USP é o ponto de partida das pesquisas em Relações Públicas (Candido Teobaldo) e Comunicação Organizacional (Gaudêncio Torquato).
• Comunicação Organizacional é
mais recente que Relações Públicas e está mais presente nas escolas de Administração. A ECA-USP é exceção na área de Comunicação, em função do trabalho de Margarida Kunsch.
• Comunicação Organizacional e
Relações Públicas são influenciadas pelos americanos Bernays, Canfield e, mais recentemente, Grunig.
• Teobaldo é o autor referencial
em Relações Públicas e Margarida Kunsch em Comunicação Organizacional e em Relações Públicas.
• O número de pós-graduações
em Comunicação Organizacional ainda é insuficiente.
• Pesquisas – sobre Relações
Públicas e Comunicação Organizacional – são poucas e superficiais, voltadas para a prática.
• Poucos cursos de pós-
graduação nesses campos. • Na pós-graduação em
Comunicação Organizacional há mais interesse do que oferta.
• As Relações Públicas se
institucionalizaram muito mais como disciplina de pesquisa do que a Comunicação Organizacional.
• Publicações acadêmicas
sobre Comunicação Organizacional e Relações Públicas são escassas e artigos podem ser encontrados mais em revistas de negócios.
• Qualidade da produção
bibliográfica é polêmica - alega-se falta de quantidade, mas também se critica a qualidade.
• Agências não se amparam
em obras e pesquisas
• A Organicom – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas desponta como diferencial no cenário brasileiro, em que há poucas alternativas para publicação de artigos desses campos.
• Ainda se associa Comunicação
Organizacional à visão operacional - redação técnica, apresentações orais etc.
• Referências bibliográficas mais
citadas: Planejamento de relações públicas na comunicação integrada, de Margarida Kunsch (2003a); Tratado de comunicação organizacional e política, de Gaudêncio Torquato (2002); Comunicação empresarial: teoria e pesquisa, de Wilson da Costa Bueno (2003).
• Grande desenvolvimento de
Relações Públicas: número de profissionais, entidades representativas, cursos superiores.
• Agências não se amparam em
obras e pesquisas acadêmicas: põem o foco em cursos e treinamentos.
acadêmicas: põem o foco em cursos e treinamentos.
Principais pesquisa-
dores (ordem alfabé-tica)
• Gaudêncio Torquato, João José
Curvello, Luiz Iasbeck, Margarida Kunsch, Maria do Carmo Reis, Marlene Marchiori, Roberto Porto Simões, Rudimar Baldissera, Waldir Fortes, Wilson Costa Bueno.
• Citados ainda: Al Golin, Elen
Ryan Mardiks, Harold Burson, Howard Paster, James Grunig, Javier Puig, Joan Costa, Paul Thompson, Richard Wolf, Thom Gillespie, Vítor Baltasar.
• Abraham Nosnik, Aralizo
Perez, Bonacia Andrade, Carlos Andrade, Carlos Bonilla, Carlos Fernández, Carlos Yugaba, Guilherme Perez, Horácio Quidapa, Ignácio Campillo, José Jesús Gonzáles de Almaguer, Juan Andrés Rincón, Margarida Kunsch, Maria Antonieta Rebeil Corella, Maria Rota, Mariluz Restrepo, Mauricio Guerreiro, Oscar Sanches, Salvador Sanchez.
Atuação
das entidades de classe
e do mercado
de trabalho
• Não há consenso sobre as
entidades, até porque são muitas - percepção das universidades e das agências.
• Citadas: Aberje, Abracom,
ABRP, Conrerp. • Tem havido encontros entre
agências e universidades, por vezes mediados por entidades, por vezes direcionadores para essas entidades.
• Ação incipiente - percepção
das universidades e das agências.
• Contato com a academia é
satisfatório. • Citadas: Amco, Amic,
Associação de Relações Públicas do México.
Aborda-gem de
conceitos nos
cursos de Comuni-
cação Social, perfil e
formação
• Há os que defendem que as
Relações Públicas sejam associadas à graduação e a Comunicação Organizacional à pós-graduação - e ainda Comunicação Organizacional como disciplina de Relações Públicas.
• Currículo de Relações Públicas
desalinhado com a realidade, o que dificulta a compreensão da área.
• Perfil do estudante potencializa
desenvolvimento mais rápido.
• As poucas escolas que
ensinam Comunicação Organizacional dedicam de 4 a 5 semestres para Comunicação Organizacional e Relações Públicas.
• Cresce a oferta de mestrados
em Comunicação Organizacional e Relações Públicas.
• Interessados geralmente são
executivos de nível médio. • Boa formação de estudantes,
mas sem abertura para os pensamentos europeu e latino-americano.
• Distância entre academia e
mercado. • Insatisfação no nível de
formação de cultura geral dos egressos de bancos universitários para o mercado - requisita-se, também, mais atitude pessoal.
Influên-cias do
mercado para os
cursos de Comuni-
• A proximidade ainda deve ser
efetivada; inexistem estudos para essa adequação.
• O mercado valoriza a essência
da teoria.
• A academia não ouve o
mercado, segundo este; há profissionais especializados nas escolas para manter a ponte entre mercado e academia, segundo esta.
cação e oportuni-dades de trabalho
• Diversificação de
oportunidades: demandas variadas e forte especialização - mais oportunidades associadas a Relações Públicas.
• Muitos jornalistas migraram e
migram para a área de Relações Públicas.
• Nas organizações ainda pouco
se conhece sobre os campos; apenas algumas de suas técnicas.
• Há mais oportunidade de
trabalho em Relações Públicas (vistas como comunicação externa).
• Para a contratação não se
leva em conta, necessariamente, formação.
• Nas organizações ainda
pouco se conhece sobre os campos; apenas algumas de suas técnicas.
Influên-cias de
imagem e de identi-
dade
• Grande desconhecimento pelas
empresas sobre as competências específicas de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, colocando as Relações Públicas sempre em um nível inferior ao da Comunicação Organizacional.
• Necessidades de
relacionamento das organizações com os seus públicos impulsionarão Comunicação Organizacional e Relações Públicas, na academia e nas organizações.
• Imagens ainda em construção,
mas com percepções melhoradas - ampliação da informação e diminuição do preconceito.
• Empresas banalizam
comunicação, restringindo-a a papéis secundários.
• Academia “!embala” os
profissionais como tendo habilidades múltiplas.
• Falta clareza nas diferenças
entre Comunicação Organizacional e Relações Públicas e as demais áreas da Comunicação.
• Comunicação Organizacional
no México ainda não extrapolou o segundo setor.
• Imagens de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas estão atreladas.
• Meios e organizações vêem a
Comunicação de forma distorcida.
• Áreas cujo reconhecimento e
prestígio talvez ainda sejam menores do que deveriam ser, junto à sociedade, ao governo e à imprensa.
Conquista de
mercado pelas
• Evolução das duas áreas,
atreladas às multinacionais - a assessoria de imprensa foi propulsora do crescimento.
• A conquista de mercado é
maior para as Relações Públicas - demanda de multinacionais norte-
áreas • A assessoria de imprensa,
todavia, muitas vezes é confundida com a área de Relações Públicas.
• Oferta de mão-de-obra, antes
majoritariamente de jornalistas, passa a contar com profissionais de Relações Públicas.
• A mensuração de resultados
ainda não é valorizada pelos clientes, o que desestimula o investimento em sua pesquisa.
• O mercado é bastante amplo e
dinâmico, com todos os tipos de agências e de clientes.
americanas e reforço da globalização.
• Cenário do mercado para a
Comunicação Organizacional é visto como conseqüência do mercado de Relações Públicas.
• O mercado ainda é pequeno,
com poucas agências, e estas são de Relações Públicas.
Fluxos de comuni-cação entre
agências
• Dois tipos de fluxo:
1. Intenso e produtivo (troca de experiências, mais chances de negócios) entre filiais de países diferentes. 2. Apenas compartilhamento na definição de práticas a partir de conhecimento especializado geradas pelos próprios funcionários.
• Dois tipos de fluxo:
1. Intenso e produtivo (troca de experiências, mais chances de negócios) entre filiais de países diferentes. 2. Apenas compartilhamento na definição de práticas a partir de conhecimento especializado geradas pelos próprios funcionários.
A confrontação de percepções permite gerar o diálogo entre os dois
países e estabelecer algumas considerações acerca dos dois campos75.
• Definições e conceitos
Tanto no México quanto no Brasil há uma série de conflitos relativos
ao entendimento dos campos, vistos como tais, mas de difícil
75 As considerações aqui colocadas não têm intenção de extrapolação, como esclarecido no projeto de pesquisa de campo, pois a amostra não se caracteriza dessa maneira.
definição. Pode-se perceber que nas agências isso se agrava um
tanto, mas de modo geral o que mais se acentua como diferença
entre os países é mesmo a associação freqüente de Relações Públicas
e Comunicação Organizacional a Comunicação Externa e
Comunicação Interna, respectivamente, no México e, no Brasil, a
identificação dada a Relações Públicas como se ela própria fosse
algum de seus instrumentos.
• Mudanças conceituais
Novas abordagens de estudo permitiram, em ambos os países,
fortalecer os conceitos das duas áreas. Agregue-se a isso o poder
influenciador das multinacionais, que nos dois países estimularam o
crescimento da demanda e a profissionalização dos campos.
• Bases de fundamentação e influência norte-americana
Tanto o Brasil quanto o México tiveram como teorias e técnicas de
fundação da Comunicação Organizacional e de Relações Públicas,
aquelas vindas dos Estados Unidos. Pôde-se perceber mais
nitidamente no discurso mexicano a crença na formação de uma
identidade própria. No Brasil, entretanto, os levantamentos mostram
que isso já vem sendo formatado, mesmo não se desligando as
fortes e permanentes ligações com os pesquisadores norte-
americanos.
Boa parte dos clientes de agências mexicanos são empresas norte-
americanas, o que explicita a relação atual. No Brasil, por seu tempo,
pode-se perceber uma forte crítica aos conceitos originais,
associados à formação da opinião pública por meio de estratégias de
dominação.
• Pesquisas e obras de referência e entidades de classe
Enquanto no Brasil já se pode delinear claramente a evolução da pós-
graduação, que tomou corpo ainda na década de 1970, esse processo
ainda se mostra em formação. Some-se a isso o fato de no Brasil já
haver massa crítica no que se refere a obras associadas a pesquisas.
Alguns livros de brasileiros já se apresentam como referência, com
produção de pesquisa localizada na própria realidade. Além disso existe
uma revista brasileira destinada exclusivamente aos dois campos.
No Brasil também pode ser percebido um grande número de
profissionais, além de entidades representativas em Relações
Públicas e em Comunicação Organizacional. No México, de forma
menos ampla, pode-se destacar a presença de entidades
relacionadas à Comunicação Organizacional.
Tanto no Brasil quanto no México parece existir uma certa insatisfação
da academia e do mercado em relação às entidades. Pôde-se notar,
entretanto, uma maior proximidade com essas no Brasil.
• Principais pesquisadores
Ainda que talvez não haja o pleno reconhecimento de um corpus
teórico em Relações Públicas e em Comunicação Organizacional nos
países estudados, há uma lista considerável de pesquisadores
reconhecidos como referência nos dois países, o que pode
demonstrar maturidade ou dinamismo na condução das pesquisas.
• Abordagem dos conceitos nos cursos de Comunicação
e proximidade com o mercado
No Brasil há uma idéia de que se associe as Relações Públicas à
graduação e a Comunicação Organizacional à pós-graduação. No
México isso não é identificado. Nos dois países, contudo, aparece
como distante a formação das necessidades do mercado.
Conhece-se pouco sobre os campos nas organizações, o que pode ser
resultado de uma não-proximidade entre academia e mercado. No
Brasil esse estreitamento parece ser percebido.
• Imagem e identidade
A falta de clareza sobre as competências – alardeadas, muitas
vezes, como demasiado amplas – restringe a comunicação a papéis
secundários, nos dois países.
O desconhecimento e o preconceito (por parte da própria academia,
da mídia e de parte das organizações) podem ser fomentadores de
desgaste da imagem, enquanto a identidade dos campos não está
totalmente clara para todos os envolvidos.
• Cenário do mercado e agências
Os instrumentos, freqüentes fontes de confusão nas interpretações das
áreas (por vezes identificados como se fossem eles próprios as áreas),
acabam por ser fonte de oportunidades, abrindo as portas das
organizações para um primeiro contato com os conceitos de comunicação.
A mensuração de resultados aparece mais fortemente no Brasil, mas
ainda carece de investimentos, pois seu custo hoje é alto para as
organizações que optam por fazê-la.
A configuração do mercado é bastante diferente nos dois países. O
mercado de agências brasileiro é muito maior que o mexicano,
mesmo sendo este tão atrelado à economia norte-americana.
A comunicação entre as agências ouvidas é muito boa e entendida
com diferencial competitivo, além de agregar valor conceitual a elas.
Diante desses elementos, pode-se entender que Relações Públicas e
Comunicação Organizacional, no entendimento dos agentes que as
moldam diariamente, têm diversas similitudes tanto no Brasil quanto
no México. Alguns pontos denotam claramente a maior evolução
brasileira, não deixando, contudo, de mostrar a forte identidade
mexicana, em crescente processo de evolução.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. Caminhos percorridos
Cumpre-nos agora confrontar e avaliar as etapas e os caminhos
percorridos. A partir deste momento, estimamos que talvez se possa
dar vazão a propostas relativas a melhorias e ao incremento de uma
ampliação da área de Comunicação Organizacional e de Relações
Públicas no Brasil e no México, o que, parece, poderá repercutir em
outras regiões, na medida em que se busque a divulgação do
trabalho, objetivando difundir a contribuição. Talvez com novas
pesquisas, realizadas em outros países, e fazendo-se até mesmo
outros cruzamentos, por este ou por outros pesquisadores, se tenha
mais argumentos e orientações sobre o estado da arte de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional no cenário latino-americano.
Pode-se entender que isso venha ao encontro do objetivo geral proposto
na pesquisa. Acreditamos que possam ter sido delineados alguns
contornos capazes de contribuir, de algum modo e em alguma medida,
para a compreensão dos dois campos, seja pelas conceituações, seja
pela audição daqueles que estão diariamente no processo de formação
das áreas. O trabalho, desse modo, parece ter trazido aportes para que
os estudos em Comunicação, no que diz respeito ao espaço
organizacional – mediado pela Comunicação Organizacional e pelas
Relações Públicas –, tenham mais um fórum de reflexão. Isso enseja
crer que a tese possa, assim, ter também dado uma contribuição ao
reconhecimento do pensamento comunicacional latino-americano.
O protocolo utilizado para a efetivação da pesquisa qualitativa parece
ter sido eficiente no descortinamento dos conceitos praticados e
percebidos pelos agentes da Comunicação Organizacional, levando a
crer que possa ser ampliado para outros países, na intenção de criar
um quadro ainda mais amplo, que permita aproximar esses países
em um diálogo mais amplo.
Dentro do que se definiu como objetivos específicos, pôde-se analisar
a produção e o pensamento comunicacional brasileiro e mexicano à
luz da produção científica, recorrendo-se a dados primários e a seus
efeitos multiplicadores. Os campos de ensino de pós-graduação, nos
dois países, também puderam ser estudados, tendo sido possível
perceber que no Brasil o cenário está mais configurado do que no
México, em função do maior número de cursos e da tradição já
efetivada na pesquisa e na publicação desta.
Além do universo representado pelas universidades e pelas pesquisas
oriundas destas, o próprio mercado profissional, representado pelas
agências, pôde dar indícios da amplitude brasileira, se colocada
frente a frente com a mexicana. Os números apresentados podem
dar uma breve idéia de quão maior é o mercado brasileiro – em que
pese a menor nitidez de utilização dos termos, pois no México as
agências são notadamente autodenominadas “de Relações Públicas”,
enquanto no Brasil a migração de assessorias de imprensa para o
conceito de agências de comunicação ainda está em curso, além de
muitas vezes poder tratar-se somente de mudança de termos e não
de conceitos. O conceito de Comunicação Organizacional (utilizado
como sinônimo de Comunicação Empresarial) também ainda passa
por um processo de busca de equilíbrio, funcionando por vezes como
campo, por vezes como atividade e até mesmo como instrumento.
Ouvir o mundo acadêmico e o mundo das agências permitiu traçar
um panorama e, a partir da divulgação desta pesquisa, propor a seus
componentes uma maior discussão sobre pontos que podem ser de
interesse comum e de extrema importância para os campos.
Se partimos da premissa de que se tratava de dois campos –
Comunicação Organizacional e Relações Públicas –, em função de
características como históricos próprios, teorias e conceitos
particulares – elaborados ao longo dos anos, nos Estados Unidos, na
Europa ou na América Latina –, pesquisas efetivadas em linhas
próprias e metodologias de pesquisa e de produção profissional, o
desenvolvimento da tese parece ter levado a essa constatação. Não
da afirmação de campos cristalinamente delineados, mas de que há
espaços próprios de pensamento e de práticas.
O que talvez se tenha podido perceber é a existência de campos
próprios, porém imbricados entre si. A interdependência parece
ter ficado patente. O que, todavia, não parece caber é a sua
identificação como sinônimos. A hipótese de dois campos, então,
apresentada desde o ponto de partida, desde o momento da
qualificação da tese, por mais difícil que seja comprová-lo de
forma plena, parece ser apontada nos dois momentos de busca.
Inicialmente pela pesquisa de dados secundários, por meio de
revisão bibliográfica, a qual apontou diversos aspectos, já
enunciados nestas considerações finais, que demonstram a
existência histórica e processual de um campo. Por outro lado e
de forma mais controvertida, os dados primários, obtidos por
intermédio de entrevistas em profundidade, puderam levar a um
panorama no qual os multiplicadores não têm um discurso
homogêneo ou mesmo alinhado. Todavia, também apontaram
para o entendimento de dois campos. A hipótese, então, parece
se comprovar, amparada pelo cruzamento de duas metodologias
de pesquisa trabalhadas de forma convergente.
2. Comunicação e contemporaneidade
O mundo contemporâneo guia a produção do conhecimento para
uma maior amplitude, especialmente em função das novas
tecnologias. As ciências modernas são uma permanente sucessão de
paradigmas. Cada um destes traz consigo a sua própria teoria e
métodos de pesquisa, direcionando-se e direcionando comunidades
no transcorrer de um determinado período. Tanto no Brasil quanto no
México há pesquisadores e praticantes efetivos para os campos de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.
Como podemos entender a Comunicação Organizacional e as
Relações Públicas na América Latina? Talvez possamos partir do
referencial dos Estados Unidos e concluirmos que ainda se trate de
um campo que permita ampliação dos estudos. Talvez possamos
entender que na América Latina, em especial no Brasil e no México, a
Comunicação Organizacional e as Relações Públicas sejam campos
emergentes. Mas ao mesmo tempo pode-se ver que a produção
brasileira é maior que a do México, tendo em vista o número de
teses e de livros; o México parece buscar clara e decididamente a
consolidação dos campos, tendo pesquisas em andamento e
pesquisadores de excelente nível a conduzi-las.
Os dois países têm notável influência dos modos e dos costumes
norte-americanos, em especial aqueles ligados à produção e ao
consumo, ao próprio desenvolvimento industrial. Seria também
natural que ambos buscassem nos Estados Unidos o desenvolvimento
relativo à comunicação nas organizações?
As organizações – com suas transformações nas últimas décadas –
vivem em constante mutação e à procura de seu aperfeiçoamento
em um cenário empresarial de maior competitividade no dia-a-dia. É
nelas que se encontra o maior foco de postos de trabalho, objeto de
aspiração da chamada População Economicamente Ativa (PEA).
A forma de comunicar, dentro desse contexto – a Comunicação
Organizacional, por meio das Relações Públicas –, parece ser
fundamental, pois está diretamente ligada ao modo de vida das
sociedades. O crescimento da importância de certos países no
cenário mundial estabelece para eles uma maior responsabilidade no
seu comunicar. Por isso acreditamos na necessidade desta pesquisa,
que se moveu exatamente em torno dos modos de comunicação – a
teoria e a efetivação – em países com tamanha perspectiva de
crescimento em termos mundiais.
Assim, a Comunicação Organizacional é moldada por impulsos
externos e causa efeitos na vida das comunidades com as quais as
organizações se relacionam, em especial a comunidade interna. De
acordo com Chanlat (1999), a dinâmica e o tipo de sociedade em
construção têm suas formas estimuladas substancialmente pela
hegemonia do econômico, pelo culto da empresa e pela influência
crescente do pensamento empresarial sobre as pessoas.
Todavia, esses inputs percebidos pela organização são devolvidos na
forma de uma cultura que se materializa na identidade corporativa e
que reverbera, de maneira correta ou distorcida, sobre o modelo
mental atribuído à organização pela imagem institucional.
Dessa relação podem advir pontos positivos ou negativos para organização
e, por conseqüência, para a população interna, circunvizinha (comunidade)
e consumidora, dependente em maior ou menor grau da vida da
organização. O próprio país em que se situe cada organização será, desse
modo, influenciado pela comunicação que se dá nela e por meio dela.
Por esses fatores, pelos reflexos que o microcosmo organizacional leva
para a sociedade, esta pesquisa se debruçou sobre algumas possíveis
causas e alguns possíveis efeitos dessa inter-relação. O foco foi posto,
especialmente, em conhecer melhor as vias pavimentadas por esse
processo em dois países-chave da América Latina. Estes são potenciais
formadores da opinião pública internacional sobre os conceitos em
relação a nosso continente, cujas diferenças e peculiaridades não deixam
de interessar às grandes potências como grandes consumidores e fonte
de riquezas ao longo dos últimos séculos.
3. Por um diálogo
Olhar um cenário pode depender de diversos fatores. O texto, o contexto
e o não-contexto. Buscar foco ao olhar a Comunicação Organizacional e
as Relações Públicas é também procurar pensar como se dão ambas e
em que condições. A análise proposta nesta tese teve ao mesmo tempo
a intenção de colaborar tanto com os estudos de cada um dos dois
campos – aqui assim entendidos –, quanto com os estudos acerca da
comunicação nas organizações no âmbito latino-americano.
Simultânea à intenção caminhou a pretensão de se trabalhar com dois
temas tão densos quanto os países que dariam guarida à pesquisa. Se
para alguns a Comunicação Organizacional não tem nenhum significado,
para outros as Relações Públicas têm, mesmo sem nenhuma base. O
inverso também acontece e em diversos momentos busca-se a posição
cômoda da generalização, da uniformização. Da superposição, até.
Isso pode levar ao entendimento de que áreas que têm vida e
trajetória próprias, produção e pesquisadores são uma mesma e
pouco conhecida coisa. Mas, se ambas podem ser mais bem
compreendidas à luz da revisão bibliográfica, o que no campo
acadêmico pode significar um isolamento e uma individualidade
maiores, no espaço da prática profissional parece haver uma
intersecção bastante significativa. A maneira de a academia entender
não é, necessariamente, a maneira de o mercado ver, o que pode
causar tensões semânticas mais que efetivos problemas nas práticas.
Quanto aos países, Brasil e México, a sua distância geográfica
mostra-se inversamente proporcional às características que
permeiam a formação de sua cultura social e de sua cultura
organizacional, esta, de algum modo, resultante daquela. De acordo
com Irene Machado (2003, p. 28), “toda cultura vive uma grande
temporalidade por ser uma unidade aberta, mas a identidade de uma
cultura se constitui a partir do olhar do outro”.
Essa unidade aberta está ainda mais receptiva às influências em período
marcado pela globalização, especialmente em países cujo modelo
neoliberal e cuja sujeição econômica se refletem na formação dos hábitos
do povo e dos modos empresariais. A globalização influencia o
desenvolvimento – benéfica ou negativamente – e a própria interpretação
que possa ser dada aos campos, estes muito e explicitamente
influenciados pelos Estados Unidos, se berço e celeiro, ainda hoje.
Se de alguma maneira se pode perceber até claramente a dicotomia
entre Relações Públicas e Comunicação Organizacional, levando à
compreensão de dois campos independentes – ainda que imbricados –,
em outros turnos há a presença de palavras cuja obra é o revestimento.
Não o espelhamento do conteúdo, mas o envolvimento do objeto, que se
traduz não pelo seu significado, mas pela mensagem que lhe dá o
pacote. Nesse momento talvez haja a maior tensão.
Não se trata, todavia, de uma tensão explícita, de enfrentamento,
mas de cerceamento da discussão. Em muitos momentos se deu e se
dá a utilização de palavras como meros rótulos, conforme apontado
por alguns dos entrevistados na pesquisa de campo realizada. Seja
para designar técnicas, profissionais, empresas etc. como o que não
são, seja para ajustar o produto às “tendências de mercado”. Nisso
pode ser percebido o uso de rebatismos para as Relações Públicas,
em busca de um dourar de pílula, de um maquiar que possa produzir
uma interpretação mais favorável por parte da audiência.
Não só esse rebatismo pode ser percebido nesse processo de
renomeação. A confusão entre os instrumentos e o campo também
se dá com freqüência, seja por mero desconhecimento, seja para dar
a esses instrumentos status de campo, majorá-lo. A tensão,
entretanto, pode ser mais percebida nas relações que Bourdieu
(2003) nomearia como violência simbólica. No caso brasileiro pode-
se exemplificar isso a partir do seguinte contexto. A área de Relações
Públicas tem regulamentação, o que exige o registro profissional para
o seu exercício, obtido por meio de diploma de nível superior; mas a
legislação não funciona de forme efetiva, pois não é devidamente
respeitada. A Comunicação Organizacional – utilizada de forma
aleatória, sem a preocupação de entendimento do campo – não é
regulamentada, criando um espaço de conflito pela ocupação dos
postos de trabalho e de representação profissional. A prática
profissional, desse modo, muitas vezes se confunde com o campo,
criando interpretações que podem ser elementos de distorção entre
os próprios praticantes e até mesmo os estudiosos.
No México, ao contrário, existe efetivamente a não-regulamentação, o
que leva a um exercício mais democrático, no entendimento de que os
espaços possam ser disputados a partir do mérito. Ou seja, tanto em um
quanto em outro caso – Comunicação Organizacional e Relações Públicas
– há a disposição de absorver profissionais egressos de outras formações
ou oriundos de outras áreas. Nem todas as áreas, contudo, têm essa
aptidão a receber os profissionais historicamente vinculados a Relações
Públicas ou a Comunicação Organizacional.
Mesmo com realidades marcadas por características muito próprias,
muito peculiares e com acentos históricos particulares, México e
Brasil parecem fornecer condições para uma análise mediada pelo
diálogo desvanecedor das diferenças apriorísticas. De acordo com
Bakhtin (1982, p. 352), “no encontro dialógico as duas culturas não
se fundem nem se mesclam, cada uma conserva sua unidade, sua
totalidade aberta, porém ambas se enriquecem mutuamente”.
É clara, por outro lado, a grande dificuldade em entender a tradução
da tradição, o que se buscou fazer por meio da audição de
personagens de efetiva representatividade nos dois cenários.
Professores, pesquisadores, atores do mundo das práticas
profissionais, representantes de entidades associativas foram
ouvidos, tendo suas falas composto um cenário indicativo de busca
pela compreensão do universo visado pelo estudo desta pesquisa.
Os mundos das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional
seguem os seus cursos. Não se desencantoaram. México e Brasil
continuam em busca da construção diária de suas realidades políticas,
econômicas e sociais. As desigualdades desses dois estados se
perpetuam e não dão indícios de alcance de equilíbrio. Ao contrário, ao
menos por ora. Os respectivos cantos foram objeto de estudo e, a nosso
ver, se há muitas interpretações para cada questão colocada, alguns
vezos, alguns hábitos, se não transformados, puderam ser visitados e a
tentativa de conhecê-los talvez tenha logrado êxito.
Objetivava-se contribuir, prioritariamente, para a compreensão de dois
cenários: a relação entre Comunicação Organizacional e Relações
Públicas; e a posição destas no ambiente latino-americano a partir da
observação de dois países entendidos como chaves para a construção
dessa identidade. Os levantamentos histórico-bibliográficos parecem ter
levado a entender que existem dois campos: o de Comunicação
Organizacional, com seus conceitos, seus pesquisadores, sua história e
sua produção; e o de Relações Públicas, mais associado a instrumentos,
mas também com uma linha do tempo que enseja à compreensão de
uma história própria – que de alguma maneira, se não diretamente, até
pela estratégia qualitativa de buscar essa percepção, recebeu reforço por
parte dos agentes acadêmicos e mercadológicos.
Ainda que tenha ficado clara a ascendência e a influência seminal
dos Estados Unidos e, com menor força, da Europa, sobre a
formação do pensamento comunicacional nas organizações no
espaço latino-americano, pode-se entender que há um cenário
que conduz à efetiva busca de uma identidade latino-americana.
Se o Brasil é lusófono e o México, hispanoparlante, sendo isso
uma efetiva barreira, sob outro aspecto ambos demonstram a
necessidade assumida de posicionar-se em um novo cenário,
fomentado pela globalização, que é a integração regional.
4. Por uma proposta de entendimento
Este trabalho não poderia esgotar o assunto, mesmo sendo, talvez, um
tanto pretensioso com a complexa proposta sobre a qual foi construído.
Ainda restam e restarão questões sobre o campo de Relações Públicas e
de Comunicação Organizacional – pressupondo-se que sejam dados como
campos independentes. Na literatura, mesmo encontrando definições e
propostas em alguns autores, parece que ainda há a necessidade de se
encaminhar uma leitura mais clara para as áreas e, especialmente, para o
encontro delas, notadamente no que tange a seus espaços.
A dificuldade parece residir na compreensão do nível de aproximação
de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional, seja por se
poder entender que uma contenha a outra ou por estarem
independentes entre si ou mesmo por estarem imbricadas.
A idéia de imbricação parece ser a mais adequada, em um primeiro olhar,
visto que não se dissociam, nem tampouco têm um mesmo percurso.
Isso pode ser comprovado pelos quadros de desenvolvimento dos
estudos, das teorias e dos conceitos relativos às duas áreas. Evoluções
independentes, ainda que ligadas ao mesmo ambiente: a organização.
Cabe também colocar em destaque as diversas interfaces e inter-
relações existentes entre Comunicação Organizacional, Relações
Públicas e outras áreas do fazer e do pensar organizacionais, como a
Publicidade – que responde pelo discurso ligado a questões
mercadológicas –, o Jornalismo – que faz a interface do discurso
institucional com a sociedade –, os Recursos Humanos – que
interagem com uma parcela (a interna) importante dos públicos
ligados às duas áreas –, o Marketing – que responde pelas
estratégias de criação e de vinculação de produtos e de marcas da
organização – e a Administração – que tem em suas bases teóricas
fonte essencial para o trabalho e a pesquisa nos dois campos. A
imbricação, de algum modo, vai além dos dois campos e passa a
contemplar outros setores, outras áreas, outros campos.
Além do quadro que apresenta o conceito de Comunicação Integrada
proposto pela pesquisadora brasileira Margarida M. Krohling Kunsch e
defendido também pela professora mexicana Maria Antonieta Rebeil
Corella, duas significativas representantes das áreas em questão,
parece ainda haver a necessidade de mais explicações para o tema,
demonstrando a referida imbricação, sem deixar, simultaneamente,
de expor a independência de ambos os campos. Até onde há a
independência? Até que ponto as duas áreas podem dialogar sem haver
superposição? O seguinte quadro busca sistematizar esse enredo.
O quadro que segue busca expressar uma interdependência entre as
áreas, tendo cada qual um papel na reflexão e na ação
comunicacionais das organizações. Não há a intenção de
hierarquização, ao contrário. Nem tampouco de fluxograma, como se
houvesse um modus faciendi ou um cronograma, uma seqüência a
serem seguidos.
Quadro 5
Interfaces entre Comunicação Organizacional e Relações Públicas
Grande área: Ciências Sociais Aplicadas – Ciências da Comunicação
Área do pensamento Comunicação Organizacional Interfaces
Área de atuação Relações Públicas Fazer . Publicidade Saber . Marketing Instrumentos Assessoria de imprensa, eventos, . Jornalismo lobby, publicações empresariais, Saber . Recursos Apoio a Responsabilidade Social etc. Fazer Humanos . Administração Atividade-meio Planejamento estratégico
Objetivo Apoio da opinião pública
P Ú B L I C O S E S T R A T É G I C O S
Quadro proposto pelo autor desta tese.
Entende-se, desse modo, como Comunicação Organizacional a
área do pensamento responsável pela permanente busca de teorias e
pela transformação dessas teorias em modos interpretáveis pelos
agentes da comunicação, representados pela área de Relações
Públicas. Relações Públicas, por sua vez, são as teorias, as
estratégias e os conjuntos de técnicas e de instrumentos – estes
utilizados de modo articulado entre si – que buscam a opinião pública
favorável a um determinado objetivo.
Um problema recorrente na interpretação das áreas é também a
permanente confusão que se faz na utilização dos termos Comunicação
Organizacional e Relações Públicas entre si e com os instrumentos que
derivam deles, dando-se, muitas vezes, caráter de área a estes.
Entende-se, portanto, que a Comunicação Organizacional seja um
campo ligado ao fazer-saber, enquanto as Relações Públicas estejam
ligadas ao saber-fazer, operando por meio de instrumentos os mais
diversos, amparando-se sempre no planejamento estratégico, tendo
por finalidade a busca de conceito favorável junto à opinião pública.
Não se trata, assim, como pode ser sugerido por alguns, de fazer uma
repartição de terreno, em termos de atuação, restringindo a
Comunicação Organizacional à Comunicação Interna e reservando às
Relações Públicas a Comunicação Externa com os públicos das
organizações, por meio de assessoria de imprensa ou de outros
instrumentos. Ambas trafegam em um mesmo espaço comunicacional,
tendo cada qual uma finalidade própria para desenvolver suas teorias.
De algum modo pôde-se visualizar essa esquematização tanto no
Brasil quanto no México. De fato fica mais nítida no pensamento dos
integrantes da academia. Para os agentes do mercado a visão acaba
por tornar-se extremamente pragmática, o que talvez permita
superestimar o instrumento em detrimento do conceito.
A idéia de conjunto, na qual, além da própria Comunicação
Organizacional e também das Relações Públicas, outras áreas de
pensamento e de produção participem do sistema comunicacional
das organizações, de forma direta e indireta, permite idealizar um
cenário de comunicação excelente. James Grunig (1984) já defendeu
o conceito de “Relações Públicas excelentes” e aqui se propõe um
sistema de “Comunicação Organizacional excelente”, no qual a
interação de cada um dos segmentos que compõem a criação de
informações, a gestão dessas e a sua multiplicação possam trabalhar
de forma integrada, voltando ao conceito de Kunsch (2003a).
A utilização dos instrumentais adequados vai ao encontro da
capacidade de a organização ouvir seus diversos públicos,
notadamente aqueles identificados como estratégicos para a sua
manutenção e crescimento. A formação da opinião pública pode ser
mediada à medida que as mensagens da organização – formais e
informais – possam ser transmitidas com base nas mensagens que
os diversos agentes enviam para as organizações diariamente.
Comunicação Organizacional e Relações Públicas, então, atuam em
um mesmo espaço, com conceitos particulares, mas com fins
semelhantes: a criação e a manutenção de um sistema de
comunicação excelente para as organizações.
5. Preocupações e proposições
Na construção da tese Comunicação Organizacional e Relações Públicas:
um estudo dialógico entre Brasil e México, entende-se que o ponto que
deva ser ressaltado é o fato de o seu autor ter mantido contato com
alguns dos mais renomados representantes dos dois campos.
A técnica de pesquisa utilizada mostrou-se eficiente na medida em
que propiciou o contato, via entrevistador, entre aqueles que
professam a Comunicação Organizacional e os que advogam a causa
das Relações Públicas. Pôde-se a partir daí perceber que os
interesses são muito próximos e que as ações para que se efetivem tais
desejos vêm sendo consumadas. O instrumento de pesquisa levou a
considerações que, mais do que comparações, permitiu fusões,
interpretações, compreensão. Isso mostrou sua eficiência e seu acerto.
Ficou clara, por outro lado, uma necessidade de integração, tanto
para o Brasil quanto para o México. A rotina – de pesquisa, de aulas,
do mercado – acaba por absorver os esforços e leva à continuidade,
à repetição de padrões. Os dois países têm, no que se pode
entender, grandes contribuições a serem dadas. Se no Brasil se pode
perceber uma maior evolução nos campos, o México demonstra
grande avidez por receber informações, efetivar trocas.
O intercâmbio é preciso. A iniciativa da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo, por meio de Margarida M.
Krohling Kunsch, de trazer ao Brasil Abraham Nosnik, um dos
mais respeitados pesquisadores em Comunicação Organizacional
do México, mostrou-se muito positiva. A comunidade científica
brasileira – identificada com a Comunicação Organizacional e com
as Relações Públicas – participou do evento sem hesitação.
Vale repetir que a integração se faz necessária e que o intercâmbio é
preciso. A ida do autor desta tese ao México comprovou também a
grande receptividade que os pesquisadores brasileiros têm no
México, tendo ele sido convidado a apresentar o seu trabalho (à
época ainda em curso) em mais de uma universidade.
A proposta do Programa de Pós-Graduação em Integração da
América Latina (Prolam) parece vir ao encontro do que se deseja nos
campos acadêmicos: a interação entre os países latino-americanos e
o compartilhamento de saberes e de experiências.
6. Em primeira pessoa
Após diversas dezenas de páginas procurando manter o distanciamento
necessário aos padrões esperados de uma tese de doutorado, talvez se
possa permitir a utilização das últimas linhas para uma manifestação
mais pessoal, sem que isso se mostre inadequado.
Visitar o México com os olhos de quem procura algo que já conhece
foi uma experiência única. Um efetivo amadurecimento como
pesquisador. Ia em busca de uma realidade já conhecida no Brasil,
mas pude perceber as diversas nuanças que as áreas que trilhei ao
longo de tantos anos só tinham mesmo em seu respectivo lugar.
Ao voltar ao Brasil, deparei-me novamente com a mesma realidade
que deixara e já percebi como a via de forma diferente. Era a
madureza que passava por meus olhos. Pude conversar de perto com
algumas das mais importantes personalidades (como fizera no
México) sobre as preocupações e angústias que me tocavam quanto
à Comunicação Organizacional e às Relações Públicas.
Não sei se ouvi o que queria, mas ouvi muito e pude refletir ainda
mais. Poder fazer uma tese talvez seja isso. Mais do que concluir,
é preciso poder acreditar que ainda há mais por ser visto. Mais de
uma vez falei sobre a urgência da integração. Citei a possibilidade
de uso do protocolo de pesquisa em outros países, por outros
pesquisadores, caso lhes pareça interessante.
Creio que seja isso que mais tenha valido: a certeza de que o
trabalho ainda há de continuar. A pesquisa com o México foi a porta
de entrada para esse universo latino-americano, tão amplo e
promissor. Novas pesquisas serão levadas adiante por mim.
A pesquisa é um ambiente que não precisa ser solitário. Nela cabe a
conjugação de interesses, de objetivos. Tanto o México quanto o
Brasil, nas pessoas de seus pesquisadores, podem transformar esses
objetivos particulares em razões comuns de pesquisa.
A produção do conhecimento passa por decodificar informações
complexas, sejam de ordem científica, ideológica ou técnica, e
transformá-las em resultados de um trabalho. É nesse momento que
o pesquisador efetiva a sua intervenção intelectual sobre os objetos
simbólicos. Mesmo que isso não leve, necessariamente, à
transformação da realidade observada, a sua participação poderá ser
percebida, bem como a influência da realidade sobre o pesquisador.
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www.conrerp-sp.org.br
www.eca.usp.br
www.eca.usp.br/organicom
www.felafacs.org
www.intercom.org.br
www.umesp.com.br
ANEXO A
Pesquisa de Campo – Roteiros para Entrevistas em profundidade
A ) R o t e i r o C o m u n i d a d e A c a d ê m i c a e E n t i d a d e s
A s s o c i a t i v a s
Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas:
o como podem ser definidas a Comunicação Organizacional e as Relações
Públicas no âmbito acadêmico;
o de que maneira essas duas áreas (Comunicação Organizacional e as
Relações Públicas) dialogam no âmbito acadêmico;
o em termos de trajetória, quais foram as mudanças conceituais
significativas alcançadas pela Comunicação Organizacional e pelas
Relações Públicas nos últimos anos;
o quais podem ser as origens, as bases de fundamentação do pensamento
comunicacional do país em questão;
o de que modo a globalização estimulou ou estimula o intercâmbio dos
conceitos.
Produção Acadêmica:
o influência norte-americana no pensamento e nos processos acerca da
Comunicação Organizacional e das Relações Públicas;
o como essa influência pode ser percebida na produção bibliográfica e
científica do país;
o panorama cronológico de produção de pesquisas nas duas áreas
(Comunicação Organizacional e Relações Públicas) e possíveis influências
norte-americanas;
o principais pesquisadores;
o obras referenciais para o campo de CO e RP.
Educação e Mercado de Trabalho:
o como é vista a atuação das entidades de classe (profissionais e
acadêmicas) e do mercado de trabalho com relação à Comunicação
Organizacional e às Relações Públicas ;
o de que forma a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas são
abordadas nos cursos de Comunicação Social;
o estuda-se o mercado para, de algum modo ajustar a teoria à práxis;
o a percepção sobre a influência de imagem e de identidade sobre a ação
da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas.
B ) R o t e i r o A g ê n c i a s d e C o m u n i c a ç ã o
Conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas
o como podem ser definidas a Comunicação Organizacional e as Relações
Públicas no âmbito mercadológico;
o de que maneira essas duas áreas (Comunicação Organizacional e
Relações Públicas) dialogam no âmbito mercadológico;
o no que se refere à trajetória, qual foi o espaço conquistado, em termos de
mercado, pela Comunicação Organizacional e pelas Relações Públicas nos
últimos anos;
o de que modo a globalização estimulou ou estimula o intercâmbio dos
conceitos e das práticas.
o como é o fluxo de comunicação entre as filiais de sua empresa localizadas
no Brasil/México.
Perfil do Profissional
o influência norte-americana na formação e atuação do profissional de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas;
o se há influência, como esta pode ser percebida no dia-a-dia das
organizações;
o panorama cronológico e comparativo de oportunidades de trabalho nas
duas áreas (Comunicação Organizacional e Relações Públicas);
o análise do perfil do profissional de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – tanto em termos de demanda, quanto em termos de
formação;
o obras referenciais para o profissional de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas.
Influências sobre o Mercado de Trabalho
o como é vista a atuação das entidades de classe (profissionais e
acadêmicas) e da comunidade acadêmica com relação à Comunicação
Organizacional e às Relações Públicas ;
o de que forma a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas são
abordadas nas organizações;
o a percepção sobre a influência de imagem e de identidade sobre a ação
da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas.
ANEXO B
Transcrição de entrevistas realizadas no México (em janeiro de 2005)76
Anexo B-1
Entrevistado: Prof. Ms. Luis Nuñes – ex-presidente da Felafacs e diretor de
Cooperação Acadêmica da Universidade Ibero Americana, no campus
Santa Fé, Cidade do México, em 17/01/2005
- Como definiria a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas no
México? São a mesma coisa ou são áreas diferentes?
- Faz 35 anos que se começou a falar sobre Comunicação Organizacional no
México. As Relações Públicas têm sido vistas até agora como algo muito, muito
específico e se tratava fundamentalmente da relação com outras empresas, com
outras instituições, com outros públicos tanto internos como externos. Eu não vejo
assim como muitos outros que as Relações Públicas são somente um instrumento
da Comunicação Organizacional. Entendi que elas tratam da capacidade de relação
com os diversos públicos e meios de comunicação.
- Essa era a compreensão que as pessoas possuíam das Relações Públicas?
- Não eram todas as pessoas, mas nas universidades se fala mais em Comunicação
Organizacional do que Relações Públicas. No entanto, as instituições que mantêm a
especialidade possuem estudos com essa denominação. Contudo, a tendência
teórica é a de se tratar mais da Comunicação Organizacional. E é claro que ainda
existem instituições que seguem vendo as Relações Públicas com o seu antigo
conceito.
- E a globalização influenciou essa mudança de visão?
- Creio que são coisas paralelas. Evidentemente o fenômeno da globalização trouxe
mudanças em várias áreas, não somente na de Comunicação. Fundamentalmente
a globalização é um fenômeno econômico e se relaciona com organismos públicos
e privados. Há uma mobilidade maior de profissionais de comunicação que
participam do fenômeno da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
não só em nível local, mas na relação com outros países e culturas.
- E como se dá a influência na Comunicação Organizacional e nas Relações
Públicas no México pelos Estados Unidos? A influência é muito grande? Há
uma conexão?
76 Entrevistas traduzidas para a Língua Portuguesa por Aline Talavera.
- Bem, há uma relação do ponto de vista econômico muito importante entre México
e Estados Unidos. Consideramos que um dos principais ingressos, ou que um dos
principais elementos que conforme o PNB (Produto Nacional Bruto) do México são
de mais de 8 milhões de mexicanos que trabalham nos Estados Unidos e que
mandam seu dinheiro para apoiar as suas famílias ou para negócios que têm aqui
no México. Evidentemente, a partir do tal livre comércio com os Estados Unidos se
implementou uma relação que tem a ver com os negócios, relação que de alguma
maneira já existia em toda a fronteira entre o México e os Estados Unidos. Nós
temos uma dependência mútua e que é histórica, de muitos anos e tanto as
cidades, as localidades da fronteira sul dos Estados Unidos em grande medida
vivem do comércio que fazem com os mexicanos que cruzam a divisa. O setor
turístico sempre foi um fenômeno muito importante nas relações entre México e
Estados Unidos. O México é um dos principais destinos de férias, de viagem dos
Estados Unidos e vice-e-versa. Então, há uma relação geográfica e política que não
podemos negar e que evidentemente se incrementou a partir do fenômeno da
globalização e mais particularmente a partir do tratado de comércio com os
Estados Unidos.
- Quanto à produção bibliográfica, à literatura: há uma influência na
literatura mexicana em Relações Públicas e Comunicação Organizacional
pela literatura norte-americana?
- Sim, isso é evidente. Nos primeiros estudos de Comunicação Organizacional, os
primeiros manuais de Relações Públicas e etc. Os princípios vinham da literatura
dos Estados Unidos, de traduções ou de influência de acadêmicos dos Estados
Unidos que refletiram sobre o tema. Posteriormente, foi criado outro tipo de
literatura que tem a ver mais com questões sociais ou com o que se chama
também de “mercado técnico- social” que também eu vejo como uma das tantas
formas de Comunicação Organizacional. E que tem a ver com a promoção
fundamentalmente de projetos de tipo social, mas eu não gosto do nome “técnica
social” porque tem a ver com questões econômicas. Não existindo outro termo
neste momento que possa ser utilizado analogicamente, se utiliza para tudo que se
relacionar com organismos de tipo social de serviço. E isso tem sido mais um
desenvolvimento latino-americano do que de outros países como os Estados Unidos
onde tem havido uma produção importante.
- Continuando a falar sobre a literatura, como ela é hoje em Relações
Públicas e Comunicação Organizacional?
- Estou revisando constantemente a literatura que existia sobre Relações Públicas e
Comunicação Organizacional e creio que o que vem prevalecendo em grande
medida são manuais muito simplistas ou manuais muito vastos, que vêm repetindo
o que foi dito durante muitos anos. Há poucos estudos sérios que vão mais longe
no caso específico das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional.
Entretanto, no caso específico da Comunicação Organizacional e nos estudos de
Relações Públicas há algo que tenho utilizado nos meus cursos: é a literatura
brasileira, fundamentalmente da professora Margarida Kunsch, literatura
colombiana fundamentalmente de Mariluz (Restrepo) que tem uma reflexão muito
séria, muito acadêmica No México também há alguns acadêmicos como Carlos
Bonilla, por exemplo, que se iniciou há muitos anos no trabalho dos relações-
públicas, em refletir sobres as Relações Públicas e tem publicado muitos livros. E o
seu enfoque é muito similar, digamos, ao que podemos encontrar no caso da
professora Kunsch ou de Mariluz. Eu creio que há acadêmicos sérios no México e
na América Latina que têm uma produção importante. E como disse, a maior parte
dos chamados manuais de Relações Públicas são de uma simplicidade... Há mais
quantidade que qualidade que não valem a pena pagar, são repetições de estudos
muito velhos.
- Como é a evolução das pesquisas em nível de pós-graduação no México?
- Estudar pós-graduação no México tem tido, creio eu, um certo impasse em
relação à Comunicação. Faz poucos anos que começou a haver programas
específicos de doutorado. E a maior parte dos doutorados que existe atualmente na
área da comunicação está nos estudos das Ciências Sociais. Mas estudos de
doutorado específicos em Comunicação são muito poucos e há grande diferença do
desenvolvimento que o doutorado e a pós-graduação têm tido no Brasil. Vou dar
um exemplo: no México creio ter havido um desenvolvimento muito mais lento.
Não sei se isso é bom ou mau, mas de alguma maneira também depende da
perspectiva. Para mim, a Comunicação como vejo analogamente o caso da
Administração são ferramentas que podem servir de apoio para qualquer outra
profissão. Então, nesse sentido, tanto a Administração quanto a Comunicação em
qualquer uma de suas áreas podem ser um complemento idôneo, ideal para cargos
universitários. No caso da Comunicação igualmente tem havido um
desenvolvimento das tecnologias da Comunicação. De alguma maneira podem
haver muitas especificidades no campo da Comunicação. Compararia a
Comunicação, o que de alguma maneira tem desenvolvimento da Medicina.
Quando alguém estuda Medicina, estuda Medicina em geral e se quer se
especializar em uma área especifica vai requerer muitos anos mais de estudo e de
trabalho, prática, para poder se dedicar a um campo específico. É provável que
com a Comunicação isso também aconteça. E também comparado com o que eram
os estudos de Sociologia até os anos 70. A Sociologia - pelo menos no México - era
uma disciplina, uma carreira universitária, uma licenciatura que tinha uma grande
demanda. No momento que começaram a surgir outras áreas como carreiras
universitárias, a Sociologia começou a diminuir. Em poucas universidades do país
estuda-se especificamente Sociologia, estudos de licenciatura de Sociologia,
porque não tem demanda. Em muitos casos, isso talvez explique o fenômeno da
grande demanda que têm os estudos de Comunicação. Ou por outras áreas que
têm mais a ver com grande parte dos empregados, dos investigadores que faziam
estudos de mercado vinham da carreira de Sociologia. Agora vêm de carreiras de
Marketing, de Comunicação, de outros tipos de carreiras. Mas agora, de Sociologia
já são muito fracos, muito escassos os sociólogos como licenciatura.
- Qual é a sua licenciatura?
- Tenho duas licenciaturas. Uma em Filosofia e a outra em Comunicação. Meu
mestrado é em educação.
- Aqui há pós-graduação em Comunicação?
- Sim, fiz a carreira de Comunicação. A primeira licenciatura em comunicação que
houve no México foi na Universidade Ibero-Americana. Os antecedentes foram em
três Universidades: Universidade Nacional, Escola de Jornalismo Local García,
Universidade Cruzana que tinham licenciatura em Jornalismo e que pouco a pouco
começaram a mudar a licenciatura em comunicação com diferentes especialidades,
além do jornalismo. Mas a primeira carreira universitária que havia licenciatura no
México com o conceito específico de Comunicação era na Universidade Ibero-
Americana, desde 1960. E também a primeira pós-graduação que existiu no
México, o primeiro mestrado em Comunicação no México é da Universidade Ibero-
Americana.
- Interessante. Poderia citar alguns pensadores mexicanos que tratem
desse tema: Comunicação Organizacional e Relações Públicas?
- Claro, Maria Rota, que no final dos anos 60 publicou um livro muito interessante
sobre Comunicação Organizacional. No caso específico de Relações Públicas Carlos
Bonilla, que desde o final dos anos 60 começou a publicar diferentes obras sobre
Relações Públicas. Há muitos outros mais que não posso citar os nomes, mas que
de alguma maneira também como vêm sendo um pouco repetitivos, em ambos os
casos. Creio que no caso específico de Relações Públicas recentemente e
constantemente é Carlos Bonilla.
- Há revistas no México que tratam do tema?
- Especifico de Relações Públicas ou de Comunicação Organizacional, não há. No
entanto, havia uma revista da Associação Nacional das Relações Públicas, mas foi
uma Associação que andou declinando, no entanto não sei se continuam editando
essa revista e sei que há bons artigos sobre Comunicação Organizacional que se
publicam em outras revistas como o Anuário do Coneicc que é a associação
nacional para as escolas de comunicação no México que publicam um anuário de
investigação e que geralmente tem artigos distintos sobre Comunicação
Organizacional. É claro que a revista “Diálogo” eventualmente publica artigos sobre
Comunicação Organizacional de acadêmicos mexicanos.
- Aproveitando que falamos de associações: como são as suas atuações?
Quais são as principais? Qual é o papel? Há uma integração entre o
mercado e a academia?
- Sim, eu já falei das duas principais associações mexicanas no campo da
Comunicação. São o Coneicc que reúne as escolas, a associação das escolas de
Comunicação mais antiga da América Latina que tem um trabalho muito sério e
que se vê durante os anos e que publicou ao longo de sua existência não somente
livros de Comunicação, mas também artigos que reúnem o mais importante da
academia mexicana. Há também a Associação Mexicana de Investigadores da
Comunicação (Amic), que reúne pessoas, quase um equivalente à Intercom no
Brasil. Me deixou maravilhado a forma de organização do Intercom e o êxito que
tem tanto entre estudantes como professores. Os congressos do Intercom são de
uma qualidade extraordinária que reúne o mais importante. A Amic teve momentos
melhores. Não consolidaram o projeto que deveria integrar mais tudo o que os
pesquisadores têm feito tanto nos campos profissional e acadêmico. E nesse
sentido de alguma maneira o Coneicc tem suprido isso também. Dá vida inclusive a
artigos de acadêmicos que não necessariamente estejam em universidades ou
instituições que pertençam ao Coneicc
- E quanto à percepção das áreas de Comunicação Organizacional e
Relações Públicas pelas empresas, pelas pessoas, pela sociedade no
México.
- Isso é muito simples: há governos que dão importância à comunicação, outros
que não dão. No caso das empresas é igual. Depende muito de quem está acima e
o papel que se dá à comunicação. E, em tempos de crise geralmente os primeiros
projetos que se cortam são os que têm a ver com a Comunicação. Isso é uma
constante não somente no México, mas creio em toda a América Latina. É
lamentável. Evidentemente a Comunicação em qualquer organização, instituição ou
empresa tem um papel muito importante, e pode ser um fator de êxito ou de
fracasso.
- E quanto à absorção dos egressos das universidades pelas agências e
pelas empresas? Há mais empregos nas agências ou nas empresas?
- Creio que o campo é muito aberto, mas muito competitivo. Ainda mais que há a
competição de outros que possuem outras habilitações ou áreas. Um problema que
sempre vi na área, no campo da Comunicação é que não sendo uma profissão
regulada e sendo algo nato e próprio de qualquer ser humano, todos se sentem
capacitados para faz e levar a cabo programas de comunicação. Então, nesse
sentido o campo está muito cheio e competitivo. Por exemplo, no caso do
Jornalismo. Há jornais ou agências de notícias que têm como política não contratar
egressos de jornalismo. Têm um perfil determinado e profissional. Eles acabam
capacitando-o assim para o Jornalismo. E isso nos faz refletir se as universidades
estão fazendo tudo para formar os jornalistas ou os comunicadores organizacionais
ou qualquer outra área da Comunicação. Ao longo do tempo, se formos observar
quem tem maior permanência nas agências, nas empresas ou nos governos são
egressos de Comunicação. Creio que a formação que damos aos estudantes de
Comunicação permite que eles se adaptem às diferentes situações.
- Talvez ter uma forma de pensar, de agir, de ser comunicador?
- Evidentemente. Eu muitas vezes reflito com meus alunos que é difícil, que ao
final de um semestre ou um ano acadêmico o que aprendemos como conhecimento
específico. Não sabemos, porém, verbalizar aquilo que aprendemos. O mais
importante é que saibamos ver as coisas de maneiras diferentes. Analisar situações
específicas que nos permitam buscar soluções. De alguma maneira devemos ajudar
os estudantes a ler, não ficarem simplesmente com o que se vê, mas com aquilo
também que não se vê e temos que descobrir. Dessa maneira, evidentemente, ter
uma perspectiva completa, ter diversas formas de solucionar problemas e buscar
qual é a mais adequada à circunstância.
Anexo B-1
Entrevista com José Antônio Tamayo, diretor-presidente da Hill and
Knowlton no México, na sede da empresa, em 07/01/2005
- Poderia dizer sua formação?
- Sim, claro. Tenho uma licenciatura turismo. Estudei na Universidade de Los
Angeles, Estados Unidos, estagiei em uma agência de publicidade e depois voltei
ao México e continuei com a parte hoteleira e aí surgiu a oportunidade de abrir
algo no México. Um dia que me perguntaram porque um hoteleiro acaba sendo
relações-públicas: porque eu as utilizava. Curiosamente, a empresa me recruta e
quer que eu faça comentários de outras pessoas. Em minha agência eu era a
referência de como as Relações Públicas funcionavam e viam em mim como uma
pessoa que poderia vender as Relações Públicas como uma ferramenta de
Comunicação altamente efetiva. A empresa no México t:êm 10 anos.
- Dez anos? Muito bem, para começar vou falar de Relações Públicas e
Comunicação Organizacional. Há diferenças ou são a mesma coisa, no seu
entender?
- Creio que é a mesma coisa. Estou convencido que as Relações Públicas fazem
parte da Comunicação Organizacional, em geral, da qual se depreendem a
Comunicação Interna, a Comunicação Corporativa. Sinto que o termo Relações
Públicas possui percepções diferentes em cada um dos países. No México nos
autodenominamos Relações Públicas, consultores em Comunicação, somos
“communication consultants”. A denominação desse termo em inglês demonstra a
influência americana. Sinto que uma organização, uma empresa não deve
pretender emitir uma mensagem do exterior sem que suas pessoas, que seus
empregados entendam essa mensagem internamente. Eles têm que crer, ser os
porta-vozes, informar de qualquer maneira o que queremos fazer. Sinto que há
certas empresas nas quais, por muitos anos, a CO ou a comunicação foram feitas
por Recursos Humanos. E a Comunicação Externa era feita por outra pessoa. Creio
que isso é errado, creio que as Relações Públicas devem mexer com as duas
coisas.
- Nesses dez anos que você atua em Relações Públicas no México, como vê
a trajetória, o crescimento, a posição no mercado?
- Creio que houve um crescimento, sinto que está crescendo cada vez mais a parte
de Comunicação. Há problemas de entendimento do que a Comunicação possa ou
deva fazer dentro de muitas empresas. O México, como você sabe, é um país que
tem muita influência de multinacionais. Estas são todas americanas, foram eles
que inventaram as Relações Públicas. A Comunicação no seu país é muito grande,
é muito corrente. Um exemplo: fizemos um estudo de gasto publicitário per capita
nos Estados Unidos para pessoas acima de 12 anos. Você pode imaginar a
quantidade de dinheiro, porque os comerciais americanos são muito grandes. Cada
subúrbio possui um jornal local ou uma estação de rádio. No caso do México, falta
entre os “relacionistas”, entre os comunicólogos, afirmar o que já fizemos na
Comunicação. Isso é um problema porque é um costume propagado. Uma empresa
muito importante usa “Mackenzie” (uma das maiores empresas e mais discreta
consultora do mundo) para ajudar a comunicar. Devemos então comunicar as
vantagens da Comunicação e não há muitos (parece mentira) profissionais que
exerçam a profissão de comunicólogo que escolheram. Há muitos jornalistas que
não se dedicam ao Jornalismo. São comunicólogos, mas estão fora, agarram o que
o seu patrão os motiva a ter. Então, o fato de não haver muita gente profissional
causa desencanto na gente que não pensava que era assim. Há muito
paternalismo, as empresas em que todos os funcionários são da mesma família vão
ter que se institucionalizar para poderem trabalhar com outras grandes empresas,
para tentarem entrar na carreira produtiva do negócio. Você deve estar próximo à
empresa pública. Isso não vai acontecer se você não for transparente, como eles já
estão acostumados a ser. Outro comentário: sinto que como não há muitos
profissionais, tem havido muitos erros nos serviços que oferecemos. Eles esperam
“A”, você dá “B”, o que resulta um desencanto. Por outro lado, o que aconteceu?
No momento em que ocorre o desencanto, há uma mudança no nosso negócio.
Quando eu elimino pessoas elas fazem o quê? Acontece muito na América Latina
da pessoa ler um manual e se oferecer para ser consultor de uma empresa. Creio
que se a pessoa não tem o “expertise” de um profissional – o “expertise” é o
conhecimento de alguém que já o fez, que já o provou – isso resulta uma
recomendação de comunicação localizada do mercado, mas com um grande
respaldo. Isso é que um profissional independente deixa de ter do que aquele
associado a uma empresa. E o independente acaba baixando seu preço. Então se
em uma empresa algo sai por 1000 dólares, o independente cobra 100, mas é o
seu negócio. Vamos fazer uma conta, você sabe que há aproximadamente 60 ou
70 clientes que utilizam as Relações Públicas. Então eles podem ter dentro de suas
empresas a função de Relações Públicas em um departamento de mais ou menos
oito pessoas de Relações Públicas. Mas normalmente eles não precisam de um
departamento próprio de Relações Públicas, como os bancos, as instituições
financeiras. Certamente são poucas dessas empresas que têm seu próprio
departamento de Relações Públicas, porque se querem sobreviver devem reduzir
seus empregados. Isso é importante, e devem buscar mais negócios, porque se
quisermos crescer no negócio há as condições de mercado e devemos ser muito
profissionais no que fazemos. Em cada oportunidade de negócio devemos ser
profissionais para mostrar que aquilo que fazemos funciona. E não devemos ter
medo.
- A Hill and Knowlton está em 34 países?
- Sim, estamos em 35 países e temos 71 escritórios.
- Perfeito. Então, há uma troca boa entre os escritórios? Os escritórios dos
Estados Unidos têm mais influência sobre as demais?
- Não. O do México existe há 10 anos, o que acontece é que recebemos contas
muito fortes dos Estados Unidos. Mais ou menos 10 a 25% dos negócios são contas
que vêm dos Estados Unidos para o México. Realmente no México as contas mais
fortes são dos Estados Unidos, da Argentina e do Chile também, apesar de que no
Chile não há muitas empresas multinacionais.
- Quanto à literatura de Relações Públicas, o mercado recebe as
informações? Tem contato com o que é produzido no México?
- Sim, a Comunicação ocorre. Há uma série de cursos (12), de treinamento que
devemos passar. Mas a parte prática na Comunicação Corporativa, “Marketing
communications” você encontra uma série de documentos, de estudos, de “cases”,
de “checklists” para auxiliar na resolução de problemas, para fazer uma proposta
de comunicação. Há muita informação que permite essa troca de tecnologia, de
conhecimentos.
- Há algum contato direto com academia?
- Com a academia, claro que sim, através das associações. Abrimos as portas para
que nos ajudem, para que estejamos preparados para o futuro.
- E enquanto às entidades de classe: há proximidade?
- Há uma de Relações Públicas que não nos damos muito bem porque sofremos um
pouco. Formou-se um grupo de agências profissionais de Relações Públicas.
- Como vê a percepção da atuação dos jornalistas no campo das Relações
Publicas?
- Esse é um tema muito interessante e complicado. Os colunistas nos vêem como
mumificadores das informações de uma instituição. Eles sabem que nós somos um
mal necessário. Quando vêem que a agência é pequena, duvidam das informações.
De oito boletins de empresas, em média se tira sete. Então se conseguimos
entrevistas, informações, aí a empresa nos ajuda mais, porém.creio que fizemos
muito, que temos um valor grande, somos muito queridos nesse ponto de vista. Se
o editor precisa de ajuda, eu vou ajudá-lo, não necessariamente pedindo que ele
imprima meu boletim de imprensa. Muitas vezes há uma falta de comunicação, de
entendimento entre o que a imprensa precisa e o que os relações-públicas podem
trazer. Tento ajudá-los nesse sentido. Creio que precisamos também fazer um
trabalho com a imprensa. Para poder vender uma imagem corporativa.
- No Brasil, é comum as empresas buscarem ajuda para melhorarem seu
relacionamento com a imprensa e se esquecem todas as outras
ferramentas, as outras atividades de Relações Públicas. Aqui também?
- Sim, você não sabe o quanto sofremos. Eles pensam que somos “media
relations”, uma agência de relacionamento com a mídia. Se nós não defendermos
as Relações Públicas através de uma análise que propomos, os “stakeholders”,
oferecemos uma espécie de auditoria de percepção: o que o governo pensa de
você? Do seu produto? O que os seus fornecedores pensam? O que pensam os
distribuidores? Então vamos mostrando essas partes enroladas e mostrando o
porquê eles precisam de nós. Cada vez que fazemos um trabalho de comunicação,
sentamos com o cliente e perguntamos como vamos falar isso para a imprensa.
Quando sai uma nota na imprensa fazemos um cálculo do equivalente em mídia
publicitária, que é o método mais antigo. Está bem, batalhamos qual é a forma e
as palavras que queremos que sejam publicadas e, em quais meios. Então a
mensagem foi bem-sucedida, prezamos pela qualidade da informação. O
importante é ter uma boa nota em um periódico importante. Vamos analisar o que
eles pensam de você. Creio que para o nosso próprio bem-estar, das Relações
Públicas, devemos buscar outros meios de medição.
- Uma última pergunta: como é o profissional ideal? É aquele que vem da
academia ou do mercado?
- Creio que a academia não está oferecendo o profissional que necessitamos.
Preciso de pessoas com mais atitude. No México há seis ou sete universidades, três
estão preparando com mais qualidade os profissionais. O nosso recrutamento não
necessariamente seleciona pessoas da academia. O que fazemos aqui é ter
pessoas de talento, as quais não podemos vender. Fazemos uma combinação de
diversas pessoas, algumas têm uns pontos fortes que outras não têm. Portanto, é
uma combinação de talentos. As pessoas têm que ser informadas, ler jornais,
assistir a TV para ser um consultor em comunicação.
Anexo B-3
Entrevista feita com Maria Antonieta Rebeil Corella, diretora do Centro de
Investigação Aplicada da Universidade de Anáhuac, no campus da
universidade, em 10/01/2005
- Para começar, gostaria de falar sobre as proximidades e as diferenças
entre Comunicação Organizacional e Relações Públicas para você? Como
as vê? Como a mesma coisa? Como coisas diferentes? Poderia dizer algo
sobre elas?
- Para mim, tudo está na Comunicação Organizacional. Entendo a Comunicação
Mercadológica, Corporativa e a Interna que muitos chamam de Comunicação
Organizacional. Nós partimos do pressuposto que a Comunicação Organizacional
deva englobar as três, senão não temos um bom projeto de comunicação. Para
mim, as Relações Públicas estão na Comunicação Corporativa. São os que têm a
ver com a imagem da empresa, com a dinâmica interna das empresas. Para mim,
isso são as Relações Públicas, marcando as diferenças entre a Comunicação
Organizacional.
- O que você acha do diálogo entre essas duas áreas? No México, na
academia, qual é a compreensão entre as diferenças? Como fica o ensino?
- Creio que há uma grande confusão mesmo entre os professores de Relações
Públicas. Dizem às vezes estão ensinando Relações Públicas, mas estão ensinando
Comunicação Interna. Creio que elas não estão totalmente delimitadas. As
empresas de Relações Públicas têm em boa medida a Comunicação Interna.
- E quanto ao caminho das duas nos últimos dez anos?
- Nos últimos dez anos elas têm crescido. No nosso país obviamente têm crescido
para as empresas internacionais que absorveram os consultores e empresas
nacionais que fizeram alianças com estas. Houve um crescimento de importância
da Comunicação Organizacional e da necessidade das Relações Públicas. Creio que
a Comunicação Organizacional como disciplina se mostra desde 1950, e a partir de
uns 15 anos pra cá tem crescido muito mais.
- As bases de fundamento vieram dos anos 50 ou dos 15 anos pra cá? Dos
Estados Unidos ou dos próprios mexicanos?
- Creio que estamos grandemente influenciados pelo pensamento americano. Eles
começaram muito antes, fato que remonta ao começo do século. Começaram a
trabalhar e se uniram entre eles. Aqui no México retomamos o seu pensamento,
criamos uma disciplina e podemos ver ultimamente um desenvolvimento em seu
próprio pensamento.
- O que você acha da influência da globalização? Qual das duas áreas foi
mais influenciada?
- A mais influenciada foram as Relações Públicas. Há uma corrente de trabalho
chamada de Relações Públicas Internacionais, que tem crescido muitíssimo.
Enquanto a Comunicação Organizacional ou comunicação interna apesar da
globalização manteve o seu próprio caráter, se enriquecendo através dela.
- E quanto a produção bibliográfica sobre Comunicação Organizacional?
Como lhe parece a quantidade, a qualidade, a situação e a influência?
- Apesar da prática, há muito pouco, infelizmente. Um pouco mais nas
universidades que entre os profissionais de Relações Públicas e de Comunicação
Organizacional. Dentro do país tem se produzido mais sobre a Comunicação
Organizacional do que sobre as Relações Públicas. As Relações Públicas se
apoiaram muito na literatura norte-americana ou latina, como a colombiana ou
brasileira. Porém, não têm uma produção mais sistemática. Estamos tratando de
fazer um texto, um vídeo, uma antologia para que se dêem conta que a produção
latina é tão boa como a norte-americana.
- E sobre a produção de pesquisas na pós-graduação?
- Somos mais pobres em programas de pesquisa do que de prática. Sinto que as
pós-graduações em Comunicação Organizacional estão muito voltadas para a
prática do que refletir, por exemplo, qual o impacto da Comunicação
Organizacional na liderança, se está tornando as empresas mais competitivas.
- Vocês têm uma pós-graduação em mestrado. Isso faz quantos anos?
- Não estou muito interada, mas em Comunicação Corporativa, não deve ser maior
que 12 anos. É bastante recente e onde temos menos pessoas interessadas. Temos
pós-graduação em mercado técnico e em Relações Públicas.
- Vocês têm revistas, jornais sobre a situação da Comunicação
Organizacional no México?
- Há revistas sobre management, revistas que falam sobre Comunicação
Organizacional. Às vezes pode haver um artigo sobre Comunicação Organizacional,
mas na realidade são revistas mais competitivas sobre administração, negócio etc.
- Poderia citar pesquisadores mais conhecidos no México nas duas áreas?
- Carlos Andrade e Aralizo, não me lembro do primeiro nome. Ele fala sobre
Relações Públicas. Perez, em Guadalajara, e os que você vai entrevistar aqui,
Oscar Sanches, André Rincón, Ignácio Campillo.
- Quanto às obras referenciais nas duas áreas: vocês se baseiam na
literatura mexicana ou estrangeira, principalmente na pós-graduação? A
literatura de suporte vem de onde?
- Bem, no meu caso pessoal eu diria que uso uns 50% de obras de referência
mexicana e outras 50% do estrangeiro.
- E quanto às entidades de classe, como elas são para você? Fazem um
trabalho pró-ativo junto à universidade e ao mercado ou não têm
importância?
Por exemplo, a Associação Mexicana de Comunicadores Organizacionais (Amco)
tem sido muito ativa e a sua vinculação está mais com o setor empresarial. De
1995 a 2000, esteve muito próxima à universidade, fizemos congressos e
assessorias juntos.
- Para fazer os cursos de pós-graduação ou de licenciatura você acha que
deve haver um diálogo com o que se pratica e como se aprende na
universidade? Ou há uma ruptura, uma distância?
- É uma pergunta muito interessante porque trata de uma das preocupações que
temos nos últimos anos: como aproximar os dois mundos. Porque a riqueza está
no diálogo e não cada um trabalhar isolado. As universidades têm muito a dar para
o mercado e vice-e-versa. Mas em termos gerais, no meu país, tem acontecido de
formas muito separadas.
- Em Relações Públicas nós falamos muito de imagem, de identidade. O
que acha da imagem das duas áreas para a sociedade e para o governo?
- Bem, estamos no processo de coordenar a ampliação e o espectro de ação da
Comunicação Organizacional. Precisamente perante as instituições públicas ou de
governo e perante as organizações filantrópicas ou as pequenas e médias
empresas. A Comunicação Organizacional tradicionalmente tem pensado sobre as
médias empresas e deixaram as demais de lado. No México, as médias, pequenas
e micro empresas concorrem com mais de 97% do que é produzido. Não podemos
deixá-las de lado, devemos encontrar formas criativas de aproximar essas
pequenas empresas,.pois sabemos que não têm dinheiro para pagar um “expert”
em Comunicação Organizacional e sua equipe. Mas talvez agrupando os problemas
entre diversas empresas assim se poderiam contratar seus serviços. Nas
instituições públicas há uma forma de atuação burocrática, a prepotência e a
lentidão com que operam é do século passado. A Comunicação tem muito a fazer
por essas instituições. Devemos juntar esforços para dinamizar o setor público
através do conhecimento que temos em Comunicação Organizacional. Começando
a dialogar com as empresas filantrópicas ou com as do terceiro setor para o
desenvolvimento dessas áreas, a pública e a filantrópica. Há empresas de
assessoria e de consultoria que estão se especializando nesse tipo de organização.
Ainda que no México a concentração desse tipo de atividade esteja nas médias
empresas privadas.
- Se entendermos que há dois campos: um de Relações Públicas e outro de
Comunicação Organizacional, podemos entender que no México são dois
campos que têm própria identidade, discurso e espaço, ou não?
- Bem, ou eu me dedico à Comunicação Organizacional ou às Relações Públicas.
Para haver um trabalho de Relações Públicas deve ter um de Comunicação
Organizacional. Creio que nas organizações estão muito claras as diferenças apesar
de que na prática elas se misturam muito.
- Eu falei sobre a imagem. Como é o relacionamento, a imagem das duas
áreas frente à imprensa?
- Creio que para um jornalista não fica tão claro para que servem a Comunicação
Organizacional e as Relações Públicas. Somente para o jornalista que é
especializado. Devemos pensar em um jornalismo que é especializado, que é
reduzido no país, mas existente. Há jornais que possuem seções para as empresas
e os negócios. Dentro dessas seções, o tratamento que se dá à Comunicação
Organizacional ou às Relações Públicas é mínimo, não é algo que lhes interessa de
maneira fundamental. Há uma página de um jornal, “Reforma”, que se chama
“Empresas e Negócios”. Essa página tem uma seção sobre comunicação e cultura,
organizada e escrita por Andrade e é ele quem trata com maior freqüência de
Comunicação Organizacional.
- É muito comum haver uma relação entre os jornalistas com o campo na
Comunicação Organizacional no Brasil, pois as empresas de jornalismo
não estão muito bem, têm muitos problemas financeiros. Como acontece
aqui? No Brasil é comum a migração do jornalista para outra área de
comunicação, mas um relações-públicas, um profissional que não seja da
área não é bem visto migrando para o Jornalismo. Como é essa relação no
México?
- Bem, na década de (19)50 as primeiras práticas de Relações Públicas e
Comunicação Organizacional eram feitas pelos jornalistas para que eles
escrevessem bem sobre as empresas. É uma prática que se deu bem até metade
do século, do meio para a empresa. Creio que é a mesma situação do Brasil. A
área de Jornalismo é muito fechada, não o aceitam se você não é formado na área
desde jovem.
- Quanto aos profissionais que saem da universidade, eles incorporam as
características da profissão? O mercado vê não-somente a formação, mas
a incorporação das características, dos princípios de Relações Públicas ou
da Comunicação Organizacional? Como seria um bom profissional? Quais
seriam suas características?
- Creio que sim, pois as Escolas de Comunicação que ensinam Comunicação
Organizacional (não são muitas) dedicam de 4 a 5 semestres para a Comunicação
Organizacional e as Relações Públicas. Então os profissionais não se dedicam
somente ao campo acadêmico e seus alunos acabam sendo seus assistentes e o
mercado os absorve de uma maneira bem suave. Os alunos devem fazer trabalhos
práticos com seus mestres. Sinto que os comunicadores organizacionais não têm
todas as ferramentas, para dizer, por exemplo, como comunicólogos, temos visões
pouco realistas nesse sentido. Nesse processo de entrar na organização e entendê-
la não somos muito hábeis. Porém para projetos de comunicação somos muito
hábeis.
- Como é o mercado de trabalho? A demanda? A absorção?
- Creio que o mercado precisa de mais comunicadores organizacionais do que
contrata. Em outras palavras: creio que o mercado não percebe a necessidade que
tem de um comunicador organizacional. Devemos ter uma forte campanha para
divulgar o nosso produto e criar uma necessidade do mesmo. O mercado é
suficientemente grande para contratar mais comunicadores organizacionais, mas
no momento não o faz. Em parte se deve aos comunicadores que não se fizeram
presentes nesses outros âmbitos: o público e o filantrópico, por exemplo. Nos
hospitais, nas escolas, nas universidades todos precisam de Comunicação
Organizacional e não estamos pensando mais em empresas de negócio, por
exemplo, a IBM.
- A Sra. deseja acrescentar alguma coisa sobre a sua missão em
Comunicação Organizacional no México?
- Bem, eu creio que a Comunicação Organizacional deve entender outros
processos, além da comunicação para fazer um bom profissional. Para ser um bom
profissional deve entender sobre planejamento estratégico. É importante que ele
participe do planejamento de sua empresa, daí virá o seu planejamento estratégico
de comunicação. É muito comum as pessoas fazerem um planejamento estratégico
de comunicação depois de ter sido feito o planejamento estratégico da
organização. Para mim me parece que eles devem ser feitos ao mesmo tempo.
Senão eu preciso de uma ação de comunicação e não será possível. Outra questão:
as crises, quando elas ocorrem internamente ou quando ocorrem no ambiente. É
vital nesses casos a Comunicação. Vejo que os executivos deixam de lado muitas
vezes a Comunicação como algo dos mais importantes, não é verdade? Outra
questão que não podemos separar da Comunicação Organizacional é a cultura
organizacional. Todo o plano de comunicação deve acompanhar um plano cultural
porque tratará da mudança de comportamento. A cultura das pessoas, da
organização.
Anexo B-4
Entrevista com Prof. Ms. José de Jesús González de Almaguer, da
Universidade Anáhuac, ex-presidente da Amco,
no campus da universidade, em 10/01/2005
- Poderia me dizer a sua formação?
- Sim, aqui na Universidade de Anáhuac sou coordenador de Desenvolvimento
Curricular. De formação, tenho licenciatura em Jornalismo em Comunicação
Coletiva. Escrevi uma tese de mestrado em Comunicação Institucional, depois
outra tese de mestrado em educação e estou terminando um outro mestrado em
educação através de valores, algo mais pedagógico. Estou fazendo um doutorado
em educação e outro a distância sobre o mesmo tema. Minha formação inicial foi
um pouco diferente, trabalhei na editoria de muitos jornais. Em 1985, colaborei
com um livro sobre terremotos no México. Ao terminar minha licenciatura trabalhei
para a companhia mais importante do país, a que mais fatura, mas na área de
Relações Públicas. Fiquei lá durante oito anos e comecei a dar aulas. A
Universidade de Monterrey me ofereceu um mestrado. Foi aí que começaram meus
estudos de Comunicação Institucional. Na Universidade de Anáhuac, faz 12 anos
que estou e como queria desenvolver a educação, fiz o segundo e o terceiro
mestrados, e agora os dois doutorados, afinal essa área é algo muito específico.
(...) Trabalhei em diversos lugares e publiquei diversos livros. Fui consultor de
comunicação aqui na Universidade de Anáhuac e aqui no México fui o presidente da
Associación Mexicana de Comunicadores Organizacionales, em 2000, e faço parte
dos conselhos consultivo e diretivo. Bem, quando falamos de empresas, devemos
falar sobre as maiores porque são as mais conhecidas. Televisa, por exemplo.
Trabalhei tanto no setor privado quanto no público. Faço muitas coisas ao mesmo
tempo, então não consigo me concentrar, por exemplo, nas publicações. Tive um
chefe que me disse um dia que no México não se fazem pesquisas em
Comunicação Organizacional. Eu digo e sustento que as grandes empresas fazem
pesquisas, por exemplo, quanto ao clima, ao público, aos meios. Contudo, muitas
vezes essas informações não estão quase nunca disponíveis de maneira pública.
Por exemplo: eu mesmo realizei um projeto de pesquisa em grandes empresas,
porém não posso publicá-los porque as empresas não permitem.
- Para começar gostaria que desse a sua opinião sobre as Relações
Públicas e a Comunicação Organizacional. Para você, são dois campos
ligados ou isolados?
- São complementares. Hoje, no México, há duas tendências fortes nas empresas:
a área comercial (publicidade, promoção e vendas), e a área institucional ou
Relações Públicas (imagem coorporativa, tratamento do público especial, relações
com a comunidade, com os meios de comunicação, com a universidade). Temos
também a Comunicação Interna que muitas vezes serve de sinônimo para
Comunicação Organizacional que deve abarcar as três, a Comunicação
Organizacional deve ajudar o RH aumentando a produtividade e diminuindo os
custos. A função da Publicidade é incrementar participações de mercado, aumentar
as vendas, anunciar o lançamento de novos produtos. E as Relações Públicas
buscam manter ou desenvolver uma reputação coorporativa para ter o apoio de
seu público. As Relações Públicas nesse caso deixam de ser algo aleatório,
casuístico para ser um instrumento que gera confiança nessas instituições. Nesse
ponto não há diferenças entre o setor publico e o privado. Dessa forma, as
Relações Públicas e a comunicação interna são complementares. A tendência que
eu vejo é a instituição da Comunicação Corporativa nas empresas, unificando as
duas áreas. Haverá um gerente de Relações Públicas e um gerente de
Comunicação Interna.
- Na academia, como dialogam os dois? Há uma interação na graduação
tanto quanto na pós-graduação?
- No México temos mais de quinze denominações para a carreira de comunicação.
Já especificamente no campo da Comunicação Organizacional temos um mestrado
em Comunicação Corporativa, em Comunicação Institucional, em Relações
Públicas. Mas cada vez mais creio que as Relações Públicas têm atendido às
escolas de comunicação e menos às escolas de economia ou administração. Temos
no México uma grande confusão entre essas duas áreas separadas, mas estamos
nos esforçando para unificá-las.
- Quais são as bases de fundamentação para as duas áreas? Há muita
influência dos Estados Unidos ou algum outro país? No México há uma
fundamentação para a pesquisa própria?
- Veja, o México está muito veiculado a questões econômicas e os Estados Unidos
são uma potência. Em 1994, tivemos o Tratado de Livre Comércio (Nafta – North
América Free Trade Agreement), o que permitiu que várias empresas estrangeiras
se instalassem no México, as quais já trazem uma cultura de comunicação, de
Relações Públicas. Esse fato marcou a pauta. Em 1973, foi a Associação Mexicana
de Comunicação Organizacional que deu a origem a essa instituição que está muito
próxima às universidades. A maioria dos profissionais trabalha no setor bancário.
Nos últimos anos – 1994 e 1995 – houve uma crise terrível, há muitos problemas
econômicos no país, o que fez com que muitos saíssem da associação. Salvador
Sanches me disse que nos anos (19)80 havia o dobro de pessoas trabalhando em
Comunicação. Hoje, não haveria pessoas suficientes para trabalhar na área.
Contudo, no México há pouca publicações acadêmicas, algo como cinco livros. Em
2000, fizemos um estudo e perguntamos quantos postos de comunicação haveria,
e eles duplicaram desde 1997. Esse estudo feito pela Associação de Comunicação
Organizacional se repetiu nesse ano e novamente os postos dobraram.
- Ele está disponível?
- Não, não está. Uma parte é publicada, a outra não. Não sei se respondi a sua
pergunta, ela é muito ampla. Muitos fazem a pós-graduação em Madri. A influência
norte-americana é muito forte: a necessidade de cortar custos, a relação com a
comunidade, a reputação.
- Bem, quais são os pesquisadores no México nos últimos dez anos?
- Há o compilador de livros sobre organização, Carlos Yugaba e a doutora Maria
Antonieta.
- O que você pensa sobre a pós-graduação em geral, em qualidade e em
quantidade?
- Crescemos muito. Por exemplo: o Centro Avançado de Estudos da Comunicação
(Cadec) foi o primeiro nessa área, foram os pioneiros em criar mestrados em
Comunicação Institucional. Posteriormente na Universidade Panamericana surgiu
um mestrado em Comunicação Institucional, em seguida um mestrado em
Relações Públicas. Em quantidade e em qualidade há uma boa oferta. Há outros
mestrados e doutorados que estão surgindo. O problema é que no México temos
diversos profissionais, por exemplo: diretores, gerentes, que depois de quatro ou
cinco anos de experiência profissional estão em um momento de reflexão sobre seu
curso. Conheço muitas pessoas nesse nível que desejam fazer um mestrado,
porém não têm condições financeiras para poder fazê-lo. Se não contarem com o
apoio de suas empresas não terão como fazer.
- E quanto à absorção dos recém-licenciados? Do primeiro emprego?
- No México devemos ter números: uma licenciatura em comunicação ao mês custa
700 ou 800 dólares. O ensino da universidade pública é mais baixo do que a
privada, mas a absorção desse profissional é boa, a minha preocupação é que a
universidade forma os profissionais voltando-os para o mercado. Fato que é muito
preocupante, porque esse profissional no mercado não questiona esse mercado e
quiçá pode superá-lo. Na prática, os talentos da área de comunicação são tomados
pelas empresas e são postos em outro setor, como controle de qualidade, vendas,
mercado. Por isso se perdem as pessoas mais talentosas, o que é muito
preocupante. O primeiro contato profissional é mais difícil, depois de alguma
experiência fica mais fácil. Depois de entrar no círculo do mercado fica mais fácil
movê-lo.
- E quanto ao relacionamento entre mercado, academia e as associações,
Como os vê?
- Na Universidade Anáhuac, com os cursos de pós-graduação, foi constatado que
após dois anos melhoraram as oportunidades de emprego, um posto melhor. A
associação (Amco) mantém uma boa relação com a academia e o mercado. As
empresas quando precisam de um plano de comunicação procuram um consultor,
utilizam-se do benchmarking, procuram até soluções no exterior. Não temos na
academia, por exemplo, em Comunicação Organizacional, incubadoras de negócios
fator que deveria existir.
- E as associações, fazem esse intermédio entre os dois? Há outras
associações que fazem isso?
- Bem, não há mais associações. O problema é que a empresa precisa de uma
solução rápida, de uma receita, e a universidade não pode fabricar receitas,
soluções de um caso. Claro, aprendemos com os casos, mas não podemos
generalizá-los. Os acadêmicos precisam de mais tempo para pensar e refletir.
- No Brasil é muito comum haver disputas entre as áreas de Comunicação,
Por exemplo: os Relações Públicas e os jornalistas, e às vezes os
publicitários. Como é no México?
- No México essa disputa existe, afinal disputam-se os recursos das empresas. Na
região de Monterrey, uma região industrializada, muito americanizada, criaram as
Relações Públicas dessa maneira: um jornalista profissional se aproximava das
indústrias e reportava todos os desastres. Em um dado momento, a indústria
contratava um jornalista para resolver seu problema, e ele que era esperto era
mandado pelo primeiro. Há muitos jornalistas que fazem Relações Públicas dessa
maneira. Eu digo para os meus alunos que se esqueçam dessa disputa.
-Qual a visão que mídia tem da área?
- Bem, é uma visão muito fragmentada. Temos uma área chamada imagem pública
que é muito forte por atender também a área de Propaganda. Nossa presidência,
por exemplo, faz uma péssima política de Comunicação Social porque não ganham
nenhuma corrente de opinião sobre suas propostas.
- Como você poderia definir os hábitos dos relações-públicas e dos
comunicadores organizacionais?
- O profissional deve carregar uma câmera ao ombro, entrevistar profissionais
famosos, fazer pesquisas. O profissional de Relações Públicas deve se preocupar
com os trajes, com a recepção de pessoas com o atendimento de dez chamadas ao
mesmo tempo, com o piso, se está polido ou não. Ele deve se preocupar com a
aparência de tudo e não com a sua presença. Deve estar sempre a par da
tecnologia: ter um celular, um computador, uma câmara fotográfica. A área de
Comunicação Organizacional é uma área muito interdisciplinar. É um pouco do que
eu esperaria de um profissional de Relações Públicas. Ele deve estar muito sensível
à moda, em ser educado, às novas tecnologias. Deve resolver os problemas para
os empresários, senão ele próprio seria outro problema.
Anexo B-5
Entrevista com Abraham Nosnik77, direto de Pesquisa na Universidade
Anáhuac, em 10/01/2005, na sede da universidade.
- Para começar gostaria de falar um pouco das diferenças e semelhanças
entre a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas. Para o senhor
são áreas dependentes, independentes, complementares ou distintas?
- Bem, primeiro devo dizer obrigado pela entrevista. Devo dizer que não conheço
muito as Relações Públicas. Estudei Comunicação e tive matérias de Relações
Públicas, mas nunca as exerci profissionalmente. Se são áreas complementares,
rivais ou excludentes? Creio que são complementares. Historicamente as RP
surgiram, pelo menos no México, primeiro como a Comunicação Interna, que
eventualmente se tornou Comunicação Organizacional. As Relações Públicas
sempre têm sido uma ferramenta de geração de imagem, principalmente para as
grandes corporações. E a Comunicação Interna nesse país não tem mais de 30
anos. Creio que as Relações Públicas antecederam a Comunicação Interna. O
Banco Nacional do México, por exemplo, tem reforçado seu lado social levando a
cultura e a arte com projetos sociais. Bem, isso também é uma ferramenta de
geração de imagem. Penso que nós na universidade teríamos que separar as
disciplinas acadêmicas do que chamamos disciplinas profissionalizantes, aquelas
que tratam do mundo real. Então Relações Públicas para mim é muito mais
profissionalizante do que Comunicação Organizacional. Por exemplo, na
Universidade Latinoamericana a licenciatura é em Comunicação e em Relações
Públicas. Há uma tendência forte que é de Comunicação, Relações Públicas e
Relações Institucionais. Primeiro, creio que as Relações Públicas antecederam a
Comunicação Organizacional neste país. Segundo, como a Comunicação
Organizacional é um estudo muito maior sobre estratégias, o que acontece e vai
acontecer é que a Comunicação Organizacional será usada para planejar e as
Relações Públicas serão usadas como ferramenta. As Relações Públicas, pelo
menos no México, têm sua própria tradição.
- Para você onde estão as origens da Comunicação Organizacional?
- No México a Comunicação Organizacional originou-se da Comunicação Interna. A
Associação Mexicana de Comunicação Organizacional teve três nomes: Associação
Mexicana de Comunicação Interna, Associação Mexicana de Comunicadores
77 O Prof. Nosnik esteve no Brasil ministrando, em outubro de 2005, o curso “Comunicação Organizacional: teoria e prática – a perspectiva mexicana”, na ECA-USP e também na Aberje, do qual o doutorando Luiz Alberto de Farias participou.
Organizacionais e Associação Mexicana de Comunicação Organizacional. Por muitos
anos o que revelava a sua maturidade era a revista interna.
- Para o senhor, como a globalização influenciou a trajetória e o
posicionamento que temos hoje?
- Creio que de duas maneiras: uma é que agora temos mais contato com
diferentes profissionais de outros paises. Por exemplo, recebo petições de diversos
países. Quando estive na Colômbia, há dois anos, conheci a Margarida (Kunsch).
Creio que a globalização alterou a Comunicação Organizacional porque há um
maior intercâmbio profissional do que estava sendo feito. A associação norte-
americana mais internacional que existe no mundo (a International Association of
Business Communicators) está se abrindo a latino-americanos e europeus, pessoas
de países onde não havia tradicionalmente iniciativas de Comunicação Social. Não
é que o México não possua uma tradição profissional, ela existe, mas é muito
localizada em aspectos de relações exteriores. Agora que o mundo está muito mais
cosmopolita, por exemplo, um colega de comunicação que pode estar interessado
no que está sendo feito nos doutorados em outros países. Essa situação de
intercâmbio está se tornando mais freqüente. Essas duas tendências mostram que
durante um tempo os Estados Unidos ficaram de certa forma ilhados. Mas agora
eles estão buscando também uma maturidade profissional. Creio que isso nos
influencia muito.
- E sobre os Estados Unidos: como é a influência que eles têm sobre o
México?
-Somos muito influenciados. Há dois anos fizemos um livro sobre o que os
mexicanos têm escrito sobre a Comunicação Organizacional. Há uma grande
influência dos Estados Unidos, principalmente no campo profissional, mas na parte
de reflexão e busca teórica creio que há um pensamento original.
- E quanto à bibliografia e à produção de Relações Públicas e de
Comunicação Organizacional? O que pensa sobre a quantidade e a
qualidade?
- Creio que há qualidade, mas nos falta quantidade. Fizemos uma pesquisa há três
anos e a dividimos em três partes: o que os acadêmicos fazem e como pensam; a
investigação empírica – sistemática – quem a fez e como a fez e, por último, os
serviços e contratos para a pesquisa de comunicação. O que encontramos é que
muitos acadêmicos são mestres em tempo integral e outros dão suas aulas e
escrevem livros ou são colaboradores. Aí é que sinto que há o pensamento original.
Quem faz a pesquisa empírica sobre esses temas na maioria das vezes são os
alunos de licenciatura, mestrado e doutorado. Não há uma tradição de pesquisa
constante e permanente sobre processos organizacionais que têm a ver com a
comunicação. Temos pensamento original e não temos uma tradição de pesquisa
empírica, sistemática. Depois há a parte de investigação contratada que tem a ver
com a pesquisa de mercado técnico e de opinião pública e menos de cultura
organizacional. O problema com essas pesquisas contratadas é que muitas vezes
não temos o acesso a elas porque são confidenciais.
- E quanto às pesquisas e aos cursos de graduação? Sei que há alguns de
Relações Públicas, de Comunicação Corporativa. Como eles são? Em
termos de quantidade, de qualidade e de acesso.
- Bem, sempre afirmo que não fazemos muitas pesquisas e que as universidades
têm sido tímidas em desenvolver programas de Comunicação Organizacional. Sinto
que há um grande interesse, mas a oferta é pífia. Cada vez há mais mestrados em
Comunicação. Aqui na Anáhuac há mestrado em Comunicação Corporativa e
mestrado em comunicação na Ibero. Fora da Cidade do México, há em
Guadalajara, Guajaca e Vera Cruz. Não acredito que o número de mestrados
passem de dez no país. Para o doutorado há mais interesse do que oferta, mas
esta vem crescendo. Acredito que os temas começam a se especializar por setores,
empresas, governos e ONG’s. A Comunicação Organizacional começa a se
diversificar. As Relações Públicas se institucionalizaram muito mais como disciplina
de pesquisa. Há uma associação chamada Pró-RP que possui uns esforços
interessantes.
- Como se abre e se mantém um curso de mestrado no México? Precisa-se
de alguma autorização do governo?
- O ministério correspondente chama-se Secretaria de Educação Pública. Há uma
permissão com as iniciais REBOE que os cursos mais prestigiados possuem. Mas há
outros que não o possuem. A Comunicação no México não está regulamentada e
legislada em termos do seu exercício profissional. Cursos que têm essa permissão
são vistos com maior seriedade, apesar de haver cursos sem esta permissão e que
também são sérios. As iniciativas vão mais além, por isso várias universidades
mexicanas estão vinculando-se a americanas, canadenses e até latinas. Assim, há
intercâmbio e pesquisas conjuntas. Isso é muito atrativo, principalmente para o
aluno de licenciatura, pois pode ficar seis meses em outro país. Creio que em
Comunicação Organizacional e Relações Públicas estamos despertando para essa
realidade.
- De maneira geral, quais os principais pesquisadores das duas áreas na
atualidade?
- Bonacia Andrade, Salvador Sanchez, Carlos Fernández, Juan Andrés, Jesus
Gonzáles, Mauricio Guerreiro, Maria Antonieta. São estes os principais.
- Quais são as entidades e associações que atuam na área de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas?
- Eu sempre fui um pouco distante em relação a essas associações. Quando era
aluno participei da AMIC (Associação Mexicana dos Investigadores da
Comunicação) que se volta para a Comunicação Social e novas tecnologias. Não há
quase nada sobre Comunicação Organizacional. Em geral, dediquei-me mais à
academia, à consultoria e a escrever sobre Comunicação e a participar de grêmios.
- E quanto às relações do mercado, da academia e das associações?
- Sempre há uma tensão. Esta pode ser criativa ou não, justificando dessa forma a
“incomunicação”. O mundo real das empresas interessa-se pela utilidade. A
academia busca se o que estamos fazendo é verdadeiro. Então são valores que
podem ser compatíveis, mas muitas vezes são incompatíveis, porque o tempo da
verdade é de médio e longo prazo. O da utilidade e eficiência é de curto prazo.
Então, sempre estamos em algum tipo de tensão, pois há um esnobismo e
arrogância dos dois lados. A partir da sociedade do conhecimento, pode-se ter uma
maior proximidade entre os dois. Creio que ambas as partes precisam ser muito
criativas. Há um livro que se chama “Consumo, logo existo” que demonstra a nova
realidade globalizada.
- Para você há uma preocupação da academia em propor teorias mais
próximas ao mercado?
- Creio que sim, e retorno à pergunta sobre globalização. Uma das conseqüências
da nova ordem mundial é a competência. Atualmente as universidades mexicanas
estão na lógica do mercado, principalmente as privadas. A lógica da competência
no mercado global é quem fica com os melhores alunos e professores. Isso é muito
importante porque os empregadores podem se relacionar com a universidade para
procurar os melhores candidatos. Cada vez vejo mais relação entre universidade e
empresa. Atualmente, cada vez mais no que se trata de capacitação e
treinamento, mas gostaria de ver mais essa relação com a pesquisa. As principais
organizações que investem em pesquisa nas universidades são multinacionais ou
governamentais. O setor privado investe, às vezes, em pesquisa, mas muitas
vezes é informação confidencial. O setor privado deveria ser mais agressivo em
investir em pesquisas que interessem à sociedade.
- Parece-me que as profissões de Publicidade e Jornalismo já estão
consolidadas, mas há ainda muito a fazer em relação à Comunicação
Organizacional e às Relações Públicas, correto?
- Sim, uma vez alguém me disse que se você tem que explicar o que faz, é porque
a sociedade não compreende a sua profissão. Se um jornalista diz que é jornalista
poucas pessoas perguntarão o que ele faz. O mesmo acontece com o publicitário.
Agora, quando chega alguém de Comunicação Organizacional e diz o que faz, irão
perguntar o que ele faz exatamente.
- Quanto a esses campos, há algum tipo de busca pela Comunicação
Organizacional ou outros tipos de profissionais de Comunicação? Porque
no Brasil há certa disputa entre os profissionais de Relações Públicas e de
Jornalismo. Isso porque o meio editorial está muito fraco. Como é no
México?
- Foi feito um estudo sobre o mercado de trabalho e foi observado que quando a
economia não vai bem, a área de Comunicação Organizacional fica em baixa. Em
primeiro lugar, não sou dogmático. Não sou contra que alguém que não tenha
estudado Comunicação a faça. O que me interessa é que façam corretamente.
Agora, o que me preocupa é que a Comunicação seja feita com criatividade e
solidez técnica. Uma vez li um estudo comparativo entre a publicidade no México e
no Brasil. A conclusão foi a de que os profissionais brasileiros sofriam menos
prejuízo social e por isso eram mais criativos. Essa é uma boa observação, dizendo
que precisamos ter mais imaginação.
- Você acredita que as universidades estão preparando adequadamente os
alunos?
- De forma analítica, sim. Mas ainda nos falta abrir o pensamento europeu e latino-
americano, principalmente nas faculdades e nos negócios. Por exemplo, utilizo
autores argentinos nas minhas aulas e a receptividade é boa. Nos faz falta
conhecer um pouco mais a América Latina, relatar casos dos alunos seria uma
experiência muito boa. Algumas faculdades de negócio abusaram muito dos
estudos de caso. Creio que devemos publicar muito mais. Revistas como as que
vocês fazem na USP, há muito poucas.
- E quanto à percepção da imprensa sobre a Comunicação Organizacional?
-É muito incipiente. Tenho um colega que é diretor de uma seção de RH em um
jornal que aborda bastante a Comunicação Organizacional. O mundo empresarial,
as revistas e os jornais especializados se interessam muito pela parte de negócio,
ou seja, sobre a parte econômico-financeira e sobre o mercado. As outras partes:
fator humano, gestão do conhecimento, gestão da comunicação, são temas
elaborados muito timidamente. Devo reconhecer que cada vez mais os jornais
estão se abrindo para as universidades. Aqui, nós publicamos em um jornal
chamado “O Economista”.
- Como é a absorção dos egressos da universidade pelo mercado, e como é
a formação de um profissional que busca uma especialização no mestrado
ou em um doutorado?
- Como já disse, não sou uma pessoa tão dogmática. Eu comecei Comunicação
porque queria ser jornalista. Logo me dediquei à pesquisa, à epistemologia, à
metodologia, à ciência e à organização, e hoje estou na economia e nos negócios.
Creio que meus melhores mestres não eram dogmáticos, o que acho muito bom já
que o mundo é multidisciplinar. No entanto, sou dogmático no que diz respeito à
seriedade técnica. Acho que as pessoas que tomam decisões devem ter uma
preparação técnica. E isso inclui uma formação em Filosofia, para aprender a
pensar. Creio que cada vez mais o nicho da Comunicação se abre, há mais a
presença de dois tipos de autores: os que trabalham em período completo fora da
universidade e, aqueles que além da academia trabalham no governo ou
associações civis. O importante é dominar a técnica para que possamos ajudar o
outro a resolver seus problemas. Quando fiz minha licenciatura, para quem se
interessa por cultura em geral as aulas de Filosofia, Literatura, História e até
Ciências Contábeis eram boas. Porém, muitos alunos se perderam nesse meio. A
absorção dos alunos não é e nem poderia ser plena, porque a área de
Comunicação é extremamente demandada. O mercado não tem capacidade de
absorver tanta gente.
- Como você vê as perspectivas para a Comunicação Organizacional?
- São muito boas, o mercado de trabalho tem crescido, mas devemos fazer mais
pesquisas, desenvolver nossas habilidades tecnicamente, trabalhar
permanentemente. Nunca esperar o entendimento do mercado, mas oferecer o
profissional de comunicação que tem a generosidade e a tenacidade para explicar o
mercado.
Anexo B-6
Entrevista com Juan Andrés Rincón, representante latino-americano do
IABC (International Association for Business Communicators) e diretor de
Comunicação da Universidade Anáhuac, em 10/01/2005, na universidade.
- Gostaria de começar pelas similaridades, diferenças,
complementaridades entre Relações Públicas e Comunicação
Organizacional.
- Como campos disciplinares no nível acadêmico, são independentes. A
Comunicação Organizacional começa a ser estudada mais ou menos em 1950, nos
EUA, de maneira regular que tinha como objetivo estudar como se dá a
comunicação entre os superiores e subordinados e vice-e-versa. Em termos
acadêmicos, as Relações Públicas começam a ser estudadas na mesma época, é o
desenvolvimento de uma comunicação voltada para o público externo. Existe uma
terceira corrente que não é formalizada, ela se volta para os estudos dos
funcionários. Como um alvo das Relações Públicas, o que me parece é que ela é
uma adaptação da profissão, a gerência considerando que os funcionários são um
público para as Relações Públicas internas. Na atividade prática essas três áreas
distintas têm a ver com a Comunicação Organizacional.
- Como é a situação de produção e percepção do mercado em relação à
Comunicação Organizacional e às Relações Públicas?
- Acredito que o respeito e a credibilidade têm avançado muito. Os contratantes e
os clientes sabem o que esperar e exigir. Por outro lado, há a falta de credibilidade
da profissão. Meu ponto de vista é que o profissional de comunicação deve mudar,
senão a comunicação não será respeitada.
- A comunicação que se faz no México possui sua fundamentação advinda
de onde?
- Tenho a impressão que há pelo menos três gerações que trabalham com a
comunicação nas empresas e que seguem trabalhando sem conceitos formais.
Muitas vezes porque negam a possibilidade de usar a teoria. Isso porque quando
não se conhece a teoria fica mais fácil negar a sua utilidade e no México se faz
muito pouca pesquisa, o que dificulta a elaboração de teorias de caráter nacional.
No entanto, em termos gerais, a profissão está sustentada na teoria situacional. Na
prática, o objetivo é trazer resultados e agregar valor.
- Quanto à produção bibliográfica, como ela é em termos de quantidade e
qualidade?
- Os livros são muito poucos. Quanto à qualidade, as pessoas que escrevem sobre
Comunicação Organizacional muitas vezes trazem dicas de como realizá-las e não
há uma sustentação teórica.
- Para você, quais seriam os principais pesquisadores no México?
- É difícil porque poucos se denominam pesquisadores de comunicação. Há Juan
Pérez, de Guadalajara, Jesús González, mas não muitos outros.
- E quanto à pós-graduação?
- Temos muito poucas. Há o mestrado em Comunicação Corporativa, e tem sido
uma luta para mantê-lo vivo. Isso porque não há um mercado tão grande como o
da Publicidade. No norte do país, na Universidade Autônoma, está se
desenvolvendo um mestrado sobre Comunicação Organizacional. A Universidade
Emérita, a Universidade Popular Autônoma estão desenvolvendo um programa de
mestrado. O Instituto de Estudos Avançados do Século XXI também está. Os três
estão desenvolvendo seus programas há mais ou menos cinco anos.
- E quanto às associações?
- Essa é uma pergunta muito interessante para um acadêmico. Fui membro da
Associação Mexicana de Comunicação Organizacional por muitos anos e lutei muito
pela união entre os profissionais e os acadêmicos. Os primeiros pensam que os
acadêmicos não conhecem a realidade e estes pensam que os profissionais não
têm uma prática fundamentada. Na maioria das vezes, há uma guerra entre eles.
Algo que a academia poderia ajudar os profissionais de comunicação é na
mensuração de resultados. O fato de alguns professores de Comunicação
Organizacional não possuírem especialização na área prejudica seus alunos e a
visão que o mercado tem da academia. Há professores que dão aula porque não
têm outro emprego.
- Você crê que a academia tenta refletir sobre as necessidades do
mercado?
- Nem todas as universidades, pelo distanciamento dos dois. Assessorei alguns
programas de comunicação e percebi que eles não se dão conta das mudanças do
mercado. As universidades continuam oferecendo as mesmas matérias de quando
foi iniciado o curso. E às vezes com mestres sem experiência profissional. Um
exemplo nas universidades que auxiliei: sugeri que mudassem a nomeação de uma
matéria chamada “Imagem corporativa” para “Reputação Corporativa”. Não
aceitaram mesmo eu explicando que reputação englobava muito mais coisas,
acharam reputação uma palavra muito feia.
- Como você vê as perspectivas do mercado de comunicação?
-Vai crescer, sou fiel a nossa especialidade. Lutei muito para defendê-la. Vejo com
bons olhos o futuro, as multinacionais afetam muito mais a percepção da profissão
por todo mundo.
- Poderia me falar sobre sua formação?
- Sou licenciado em Comunicação pela Universidade Autônoma, Mestre em
Comunicação e Educação pelo Tecnológico de Monterrey. Ttenho muitos anos de
experiência profissional como docente.
Anexo B-7
Entrevista com Rafael Casas Don, diretor-presidente da Burson-Marsteller
no México, na sede da empresa, em 11/01/2005
- Gostaria que me dissesse o que pensa sobre Relações Públicas e
Comunicação Organizacional. São coisas que se estranham ou trabalham
juntas?
- Bem, vamos começar por defini-las: Comunicação Organizacional refere-se à
Comunicação Interna e Externa, a toda a organização.
- No Brasil, a Comunicação Organizacional é entendida como um todo, e
pelo que tenho visto aqui no México, a Comunicação Organizacional volta-
se ao interno e as Relações Públicas ao externo.
- Exatamente. Por Comunicação Organizacional entendemos a comunicação feita
dentro da organização. As Relações Públicas são a maneira de se relacionar com o
público externo.
- E no âmbito mercadológico, ambas caminham juntas?
- Na minha opinião, as duas deviam ser como gêmeos. É um dos propósitos
quando trabalhamos com um cliente, deve haver sinergia nesses dois esforços.
Infelizmente nem sempre isso ocorre. O mercado da comunicação e seu
entendimento estão mudando. Muitos dos nossos clientes ainda não entenderam
que essas duas disciplinas são essenciais para a sobrevivência da organização. Isso
porque uma falta de coerência entre as duas pode trazer uma crise de credibilidade
tanto interna como externa. Uma organização quando se preocupa em divulgar
uma posição externa sem se preocupar com a coerência da mensagem é como o
dito do “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.
- No México podemos perceber que a comunicação externa é mais
procurada que a interna. Poderíamos dizer que as Relações Públicas são
mais solicitadas?
- Creio que se buscam as duas, mas de maneiras diferentes, com gradações e
intensidades diferentes. O que em minha opinião é uma falta de visão.
- E quanto à globalização? Este fato interfere no México? E sobre as outras
agências e formações profissionais?
- É uma realidade que se intensificou há três anos. O trabalho que fazemos está
sendo sempre influenciado pelo conglomerado competitivo. Nós somos prova da
realidade da globalização. O que implementamos para um cliente na Índia, por
exemplo, eu avalio as coisas que podem ou não ser eficazes para o México,.depois,
é claro, de localizá-los e de adaptá-los. É uma realidade inescapável.
- Ainda que esteja somente há seis meses no México, você crê que há uma
forma particular de se fazer a comunicação ou há uma grande influência
dos Estados Unidos?
- Creio que o México é um mercado fluido, em movimento e que está
revolucionando. Em termos de Relações Públicas, penso que o México possui uma
magnitude de mercado devido à proximidade com os EUA e está sofrendo uma
mudança porque os clientes no México estão reconhecendo as Relações Públicas
como uma ferramenta com muito potencial. Creio que é um momento de
oportunidade e responsabilidade. Existe uma maneira única de se fazer Relações
Públicas no México, assim como nos EUA, na Espanha, etc.
- Há alguma diferença de exercício de profissão de Comunicação no
México?
- Diria que a mudança na visão das Relações Públicas de que ela não é uma forma
de relacionamento com os meios. Essa mudança de mentalidade traz a
necessidade de sermos mais estratégicos, de termos mais conhecimento das
empresas. Faz três dias que estava conversando com um cliente que passou uma
semana muito intensa de comunicação, e ele me disse o seguinte: “Estamos em
guerra. E em guerra precisamos que nossas agências se tornem os nossos
generais”. Ou seja, pessoas que se integrem de tal maneira na organização, que
saibam mais que nós mesmos, em termos de conselho, estratégia, de pessoas que
podem dizer “isso está bom, isso não” e que tenham peso na tomada de decisões
estratégicas das empresas. O perfil do comunicólogo é aquele que revoluciona.
- Como são as participações das associações?
- Esse é um tema que gostaria de pesquisar mais. No México, do pouco que vi,
muitos se queixam que a indústria de Relações Públicas deveria se organizar mais,
pois não está tão organizada como a de Publicidade. A impressão que tenho é que
aqui no México as associações têm um longo caminho a percorrer.
- E quanto às universidades?
- Isso é algo que tem sido nossa prioridade: aproximar universidade e mercado.
Porque elas trazem grandes talentos.
- Como os meios percebem as Relações Públicas?
- É uma percepção que tem mudado de modo positivo e engrandecendo-se porque
as Relações Públicas estão sendo percebidas como algo além de eventos ou
relacionamento os meios.
- Você crê que a Comunicação Organizacional e a Relações Públicas
possuem teoria e ferramentas próprias? As duas podem ser campos
independentes?
- Não gostaria que isso acontecesse. Elas possuem características particulares, mas
seria impossível sua separação. O mínimo deveria ser que houvesse uma coerência
entre as duas e o ideal é que houvesse uma fusão.
- Há necessidades fundamentais para ser um profissional de Relações
Públicas ou Comunicação Organizacional, ou são coisas que se aprendem
no mercado?
- Creio que como qualquer outra profissão as Relações Públicas necessitem de
personalidades. Os seres humanos sempre aprendem, mas há certas coisas que
são básicas em um comunicólogo. Por exemplo, uma pessoa que não sabe
escrever, que não sinta o desejo de compartilhar uma idéia, será muito difícil
entrar no mercado das comunicações.
- Gostaria de saber sua formação.
- Não entrei diretamente no campo da comunicação. Em Porto Rico graduei-me na
“High School” em 1983. Fui para os EUA estudar Artes com concentração em
Ciências Políticas. Fui para Washington D.C. estudar Direito e me formei em 1993.
Atuei durante um tempo como advogado, trabalhei em uma multinacional e
descobri o mundo das comunicações corporativas. O Direito tem muito a ver com a
comunicação. Trabalhei para o governo federal norte-americano, depois na Procter
& Gamble da América Latina.
Anexo B-8
Entrevista com Tim Scerba, presidente da Edelman no México, no Starbuck
Café, Cidade do México, em 12/01/2005
- Para começar gostaria que dissesse o que são para você a Comunicação
Organizacional e as Relações Públicas.
- Para mim a Comunicação Organizacional engloba a comunicação de câmbio, a
comunicação do mercado, comunicação do governo. Muitos tratam a Comunicação
Organizacional como se fosse algo novo, mas não é. As Relações Públicas são o
outro lado da mesma moeda da Comunicação Organizacional, por isso são
indissociáveis.
- A Edelman trabalha com os dois?
- Sim, cuidamos de vários clientes e usamos os dois para tornar as empresas mais
competitivas. Há muitas companhias latino-americanas que o chefe só se sentava
em sua cadeira e ficava mandando, agora através da Comunicação estamos
mudando essa postura.
- Como está o mercado hoje de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas no México?
- Bem melhor, porque quando cheguei ao México, em 1995, muitos não entediam
as Relações Públicas e a Comunicação Organizacional. O entendimento referente às
duas áreas melhorou perante o mercado. Antigamente, as Relações Públicas eram
um serviço de simples relação com os meios de comunicação. Hoje pensamos o
que podemos como relacionamento com o governo. E com os funcionários? É claro
que ainda não estamos no nível dos Estados Unidos ou da Europa.
- Para você, a maneira de serem feitas é influência dos EUA?
- Eu diria que sim ou não, depende de onde você está. O México é um país muito
grande. Se você está ao norte, em Monterrey, você vai receber mais influência do
mercado técnico dos EUA. Se você vai para estados ao sul, a influência é menor. É
difícil fazer generalizações no México. Estamos tropicalizando as mensagens,
adaptando-as a nós.
- E quanto à globalização? Qual a sua influência no México? Em especial
para sua empresa que fica em vários países.
- Creio que há um valor que podemos dividir por todo o mundo. Não importa, por
exemplo, o que aconteceu na França ou na Espanha. Estamos sempre
compartilhando e trocando idéias, mas o que pode me interessar àquela facção se
eu vivo em um lugar que não se integra a ela?
- Você está há dez anos em duas grandes empresas: Hill and Knowlton e
Edelman. Você acha que o que se faz em Comunicação se insere essas
grandes companhia ou elas realizam um trabalho à parte?
- Creio que todas as agências fazem sua própria comunicação ou não estariam no
negócio. Se não soubessem o que estão fazendo não teriam clientes. Há uma
interação dinâmica entre o mercado e o que estamos fazendo. Estamos a favor do
mercado e ele nos busca porque o satisfazemos. Há um intercâmbio, estamos
andando de mãos dadas. A indústria e a prática estão se industrializando.
- A relação com a universidade é como com um cliente?
- Bem, tenho alguma experiência de trabalho com eles. É uma relação muito
importante. O que eu busco em uma pessoa é que saiba pensar, que tenha paixão
pela comunicação, que seja curiosa e que saiba discutir para chegar a uma melhor
solução para o cliente. E as universidades têm um papel importante na formação
dessas pessoas. Se uma pessoa vai para a aula e o professor diz “2+2=4” e o
aluno não pergunta o porquê, ele está memorizando, ele não saberá o que oferecer
a um cliente. Provavelmente ele perguntará para o cliente: o que você quer que eu
faça? Eu faço. Por isso defendo que a melhor formação é aquela generalista, e não
a especifica. Um aluno que estuda Filosofia, Ciências Sociais ou Literatura saberá
desenvolver o seu pensamento. É necessário ter ferramentas, mas não só isso. As
pessoas que estudaram essas matérias têm um universo mais amplo.
- As universidades preparam bem os alunos?
- É difícil porque a universidade pode ser mais ou menos e seus alunos
impressionantes. Isso vai depender do aproveitamento que os alunos fazem da
universidade. Faz alguns anos, em Los Angeles, tive uma experiência com uma
funcionária de Nova Iorque. Ela me disse que não estudou quatro anos para tirar
cópias e abastecer o banco de dados. E ela foi embora. Tivemos um jovem
chamado Juan, de Chicago, na mesma função, que me disse o quanto estávamos
ajudando e ensinando. E as duas pessoas faziam a mesma coisa: uma estava
frustrada e a outra agradecida.
- Já que faz muito tempo que você está no México o que você acha das
associações de classe?
- Eu creio que quanto à indústria elas ficam muito distantes, mas quanto ao
governo elas são mais participantes. Comparando com outros países não estamos
no mesmo nível.
- Em Relações Públicas no Brasil falamos muito da imagem para os
clientes. Como é a imagem das Relações Públicas para o mercado?
- Bem, se perguntarmos para dez pessoas qual a sua impressão sobre a profissão
de comunicação haverá tanto respostas excelentes como ruins. O mesmo
acontece, por exemplo, com os advogados.
- Quais associações você conhece?
- Só conheço uma que é a Associação de Relações Públicas no México.
- Como é a relação dos profissionais de Relações Públicas e a imprensa?
- Depende, pois como trabalhamos com eles... O valor do trabalho com os meios é
saber o que eles precisam. A minha experiência tem sido boa com os jornalistas.
Se eu apresentar algo que não tem valor de notícia eles não vão publicá-lo
somente porque somos amigos. E se eu os chamo cinco vezes com algo sem valor,
na sexta eles não irão me escutar.
- E quanto às ferramentas mexicanas de Comunicação? Além de assessoria
de imprensa e dos eventos como é vista a Comunicação Estratégica? E
como está a avaliação e a mensuração de resultados?
- O que me parece é que trabalhar com as ferramentas para atingir os meios é
muito mais poderoso e o mais reconhecido. Muitas vezes o cliente nos chama
porque ele quer estar nos meios de comunicação. Às vezes temos que explicar ao
cliente que aquilo pode não ser o melhor para o seu negócio. O que fazemos é um
planejamento de Comunicação Integrada. Quanto à medição dos resultados, temos
sérios problemas com isso porque muitas vezes fazemos a qualitativa e a
quantitativa é muito difícil. Podemos medir através da equivalência publicitária,
mas o que estamos trabalhando com os clientes é chegar a um outro nível mais
qualitativo. Por exemplo: a quanto chega a sua audiência? Ela tem alguma relação
com seus “targets”? Qual a relação entre o número de pessoas e de clientes? Isso
depende do cliente e do que estamos fazendo com ele. Temos alguns clientes que
exigem pessoas com dedicação total. A idéia é flexibilizar o pessoal para chegar à
excelência com o cliente.
- Para encerrar, qual é a sua formação?
- Me formei em Psicologia em Yale, a pós-graduação eu fiz na New York University,
em Comunicação de Gerência. Durante cinco anos trabalhei em uma companhia de
seguros em Nova Iorque in house, fui para Los Angeles e trabalhei com tecnologia
durante dez anos. Vim para o México para trabalhar em outra agência, fui para
Miami ser editor de uma revista e agora voltei ao México.
Anexo B-9
Entrevista com Carlos Bonilla, na sede da AeroMéxico, empresa da qual é
diretor de Comunicação Corporativa e Relações Públicas, em 12/01/2005
- Primeiramente obrigado por me receber. Bem, quais são as diferenças
entre a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas? Falei com
muitas pessoas sobre esse assunto.
- Obrigado pelo seu interesse. Creio que é uma diferença basicamente semântica.
Pode-se entender a Comunicação Organizacional como fenômeno que se dá dentro
da organização ou o esforço sistemático que se dá para otimizar o processo
comunicativo endógeno e exógeno da organização. Agora as Relações Públicas são
entendidas como o esforço sistemático para melhorar o vínculo entre a organização
e o seu entorno tanto com o seu público interno quanto o externo.
- Qual é a situação das Relações Públicas e da Comunicação
Organizacional nas agências, nas empresas e nas universidades?
- Tem havido um crescimento expressivo tanto em número de agências de
Relações Públicas como em número de áreas de Relações Públicas nas empresas.
Eu diria que há um fator importante nesse processo que se chama globalização. A
Comunicação Organizacional e as Relações Públicas tiveram esse detonador. As
empresas locais começaram a ter as competências das empresas internacionais. O
México sofreu 50 anos de proteção comercial, fomento de oligopólios e monopólios.
As empresas monopólicas não possuem competência para buscar vantagens em
relação aos seus concorrentes, pois não possuíam a necessidade. A competição
entre empresas locais e as internacionais que já possuíam uma história de
Relações Públicas faz com que essa atividade seja cada vez mais requerida a partir
da abertura econômica. Por outro lado, a cultura corporativa das empresas
internacionais fazia com que elas esperassem encontrar no país agências de
Relações Públicas. As agências de Relações Públicas se expandem devido a isso. O
entendimento da atividade de Relações Públicas não como acessória, mas como
estratégia que ajuda a atingir os objetivos das empresas.
- Voltando à globalização, quais são as bases teóricas de Relações
Públicas? Poderia ser dito que há uma identidade própria no México?
- Creio que a principal influência é americana para as Relações Públicas. No
entanto, à medida que foram sendo feitos esforços sérios para as Relações Públicas
começaram a ser permeados conceitos autênticos dessa atividade. As Relações
Públicas “a la americana” é propriamente marketing e suas atividades operam-se
para as autoridades e jornalistas dos EUA, o que não se aplica ao México. Creio que
o México foi o pioneiro na organização do “relacionismo” latino-americano. O que já
não é mais marketing, porque considera os interesses dos diversos públicos para
haver uma verdadeira relação. A corrente de Relações Públicas na América Latina é
muito diferente.
- Quais são os pesquisadores mexicanos de maior importância?
- Creio que uma pessoa muito importante para o desenvolvimento das Relações
Públicas foi o pioneiro Frederico Sanchez, que era mais um empírico, um
apaixonado pelas Relações Públicas e defensor da profissão. Outra pessoa também
nesse perfil foi Carlos Navarete, já falecido. Escreveu um livro de Relações
Públicas, era editor de uma revista de Relações Públicas e as promovia. Manuel
Alonzo também é um personagem que se destaca.
- Qual a relação entre a academia e o mercado?
- Desde que começaram as licenciaturas de Comunicação Organizacional, a
academia e o mercado entraram em um acordo. O produto que advém da
licenciatura de Relações Públicas não é o que necessita e espera o mercado. Eu
tenho uma agência de Relações Públicas e há a expectativa de que certas coisas
fossem ensinadas, mas não são. Creio que é um esforço que se está fazendo, mas
que ainda falta muito.
- E quanto às associações?
- Ai está. Se falarmos especificamente se uma associação de comunicadores
internos, chamada Amic, coexistia com outra associação de Relações Públicas. A
divisão entre os comunicadores internos e os relações-públicas era evidente. Esse
erro conceitual de restringir as Relações Públicas levou à Associação de
Comunicação Organizacional. Apesar de tudo é uma boa associação, que possui um
bom prestígio. A Associação de Relações Públicas desapareceu e os esforços para
reativá-la não deram muito certo. A academia de Relações Públicas, que não é
verdadeiramente uma academia, possui boas intenções, chegou a editar um livro
que na primeira edição era medianamente sério. Em Guadalajara há uma chamada
Associação de Profissionais de Relações Públicas do Ocidente – que agrupa os
profissionais e que possui uma boa gestão.
- E quanto à absorção dos egressos nas universidades?
- Creio que há uma distorção, pois no campo profissional não se sabe o que é bom.
Não há uma claridade para quem tem o perfil adequado: o licenciado em
Jornalismo, em Relações Públicas ou Publicidade. Há agora certa diretriz de
rentabilidade nas empresas e que provoca a necessidade de mostrar que o
profissional sabe de algo. Devemos escrever mais sobre as Relações Públicas para
que não somente os profissionais dessa área os leiam, mas também os diretores.
Por exemplo, este livro que vou te dar “Relações Públicas: fator de
competitividade” mostra que sentimos as Relações Públicas como vantagem
competitiva das empresas e se dirigem para todos aqueles que realizam a
atividade mesmo sem saber, mesmo não tendo a licenciatura. Afinal, o diretor será
o primeiro para quem você venderá o seu trabalho.
Anexo B-10
Entrevista com o Prof. Dr. Raul Fuentes Navarro, diretor de pesquisa do
Instituto Tecnológico de Estudos Interculturais Superiores do Ocidente
(Iteso), em Guadalajara, em 14/01/2005
- Gostaria de começar com os conceitos de Comunicação Organizacional e
Relações Públicas. O sr. poderia falar sobre as percepções de Relações
Públicas e de Comunicação Organizacional? Venho do Brasil e percebi nas
diversas entrevistas que fiz aqui no México que há muitas percepções
diferentes sobre os dois.
- Os dois termos, Relações Públicas e Comunicação Organizacional já possuem uma
larga história nos campos profissional e acadêmico no México. Usou-se durante a
década de (19)60 o termo Relações Públicas como algo que deveria ser
desenvolvido nos âmbitos empresariais e governamentais. Eu creio que o termo
Relações Públicas soa mal em aspectos governamentais, mas nas empresas já há
uma boa aceitação porque as Relações Públicas estavam relacionadas com a
Publicidade. O termo Comunicação Social também começou a se relacionar ao
âmbito governamental, mas era muito confundido com Jornalismo, com o manejo
da imagem organizacional. Nas universidades, a carreira sempre teve uma só
versão: a das ciências da comunicação, ou seja, não é possível distinguir uma ou
outra, e tudo está no mesmo programa. Então, a maneira mais formal de unificá-
las foi nomeando-as de Comunicação Organizacional, pois as Relações Públicas
soavam mal. Nos anos (19)70 e (19)80, o governo era um empregador enorme,
ele gerava muitos empregos. Creio que esse fator é interessante de ser retomado.
No caso da Comunicação Organizacional, houve, assim como em outros países, a
ambivalência entre ela e a Comunicação Institucional. A eleição do uso do termo
Comunicação Organizacional se deve principalmente aos comunicadores. Isso teve
muito peso para a fundação da Associação Mexicana dos Comunicadores
Organizacionais, a Amco, que tem uma história muito grande e é uma das poucas
associações profissionais no México. No entanto, epistemologicamente, dos anos
(19)60 para cá é muito difícil determinar a diferença entre Comunicação
Organizacional e Relações Públicas.
- E quanto à trajetória da conceituação propriamente mexicana de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas? Há influência norte-
americana e das correntes latino-americanas?
- Bem, sem dúvida sofremos a influência dos EUA e ela é cada vez mais forte
devido às empresas multinacionais. Por mais japonesa, coreana ou chinesa que
seja determinada empresa, ela sofre influência dos modelos de organização norte-
americana e inglesa. A combinação de influência e de resistência entre o México e
os EUA se dá em muitos aspectos e que não haja nesses dois países organizações
semelhantes. Mas não há muita influência latino-americana. Porém, percebo que
em outros países latino-americanos como a Colômbia, quiçá o Peru, uma situação
parecida com a mexicana. O Brasil é muito diferente, ele possui sua própria
tradição, seus próprios modos de se organizar, com muito intercâmbio
internacional, com uma posição mais auto-suficiente, por razões como distância,
tamanho, idioma.
- Quanto à produção científica e aos cursos de pós-graduação, qual a
situação atual do México?
- Em geral, no campo da comunicação temos um desenvolvimento muito forte em
termos institucionais e universitários. Nos últimos anos, o número de programas de
pós-graduação tem se consolidado. Em poucas universidades podem ser
desenvolvidas pós-graduações em termos específicos. A tendência mais fácil é
estudar a comunicação dentro de um conceito mais amplo como o das Ciências
Sociais. Em comunicação é muito mais difícil reconhecer as distintas
especialidades. Há alguns programas de mestrado para Comunicação
Organizacional, porém esses estudos estão na maioria dos casos muito débeis e
ilhados e deveriam se comunicar mais com a Economia e a Sociologia, por
exemplo. Ademais dessa relação com a academia, o desenvolvimento no campo
profissional tão evidente que muitas vezes não passam pela academia. Muitos
diretores não possuem mestrado ou doutorado. Creio que essa dimensão da
institucionalização dos estudos comunicacionais é muito flutuante e muito pouco
clara.
- E quanto aos programas de pós-graduação?
- Bem, o mestrado em comunicação tratou dessas ambas veiculações com o
campo, com uma pós-graduação mais aberta, mas com uma especificidade que se
desenvolveu, a relação da ciência e da cultura. Vamos dizer que os campos
institucionais reconheceram as funções científica e cultural, que no México são
duas coisas completamente distintas. Tentamos implantá-las como duas
perspectivas dentro da comunicação. Nesse sentido foi uma boa experiência e um
desenvolvimento interessante. Supõe-se que estudar a comunicação é tratá-la em
uma perspectiva sócio-cultural. Não desejamos fechar o campo da comunicação na
sua perspectiva disciplinar científica, mas sim abri-la. Então, a Comunicação
Organizacional tem que ver com a estruturação institucional que as atividades de
difusão cultural promovem, porém não temos contato direto com esses estudos.
No nível de licenciatura, há mais trabalho nessa direção, é um bom âmbito
inaugural para os egressos, o que não acontece muitas vezes na pós-graduação. O
programa de doutorado é um pouco mais aberto, contudo, por exemplo, temos seis
estudantes na área de comunicação, cultura e sociedade no doutorado e há uma
aluna cujo projeto está mais próximo da área da construção das representações
dos trabalhadores na sua empresa, é um estudo de um caráter mais sócio-
antropológico, de clima laboral. Está para começar nesse ano outro projeto com
essa característica: a construção das identidades dos trabalhadores perante a
empresa. O fato de não possuirmos um colega no doutorado em Comunicação
Organizacional nos causa alguns problemas no desenvolvimento desses projetos
porque nos apoiamos em outras experiências de colegas que pesquisaram mais a
área sócio-econômica onde colateralmente o tema da Comunicação Organizacional
é trabalhado.
- E sobre a produção de livros dessas duas áreas, parece que há
quantidade e qualidade suficientes?
- Não, claramente não. Creio que a quantidade é muito baixa. Não entendo porque
há tão poucos, não entendo.
- No México a edição de livros é algo fácil ou muito difícil?
- É bastante difícil, mas o volume comparado com o do Brasil é baixíssimo nessas
áreas. Há um domínio hegemônico das editoras espanholas que distribuem muito
bem pela América Latina, apesar dos livros serem muito caros. A produção editorial
no México é baixa, apesar de possuir obras de muito boa qualidade. Bem, eu vejo
que a quantidade é reduzida e a qualidade é desigual. Circulam materiais muito
ruins e circulam poucos materiais muito bons. Há muitos fatores complicados para
que isso aconteça. É difícil encontrar obras de peso fora da região Sul do país, fora
da Cidade do México e mesmo em Guadalajara, que é a segunda cidade mais
importante do país. Creio que poderia haver uma produção maior e melhor com os
recursos que temos porque é muito difícil conseguir livros e a pobreza de ofertas é
notável, mas as dificuldades têm sido muitas.
- Quais são os principais pesquisadores das duas áreas?
- Sinto a importância central que Abraham Nosnik tem tido para sistematizar a
Comunicação Organizacional há 20 anos. Vejo-o como uma pessoa indispensável.
Reconheço também Salvador Sanchez, um sujeito muito importante e inteligente.
Vi ao longo dos anos surgirem propostas de publicações importantes, mas que não
tinham condições de se consolidar em termos acadêmicos, mas que se voltaram
aos campos empresariais onde têm um âmbito de atuação muito maior. Quando
me refiro às universidades, me refiro àquelas que desenvolvem projetos com
responsabilidade e qualidade. Em Guadalajara é importante reconhecer o esforço
de Guilherme Perez que esteve em várias universidades, na Amco, em muitos
projetos e possui uma capacidade profissional muito clara, mas com pouco apoio
universitário para ir além disso. E em termos estritamente profissionais há
novamente Carlos Bonilla. Eu o conheci há 25 anos, quando éramos muito jovens e
ele era um professor universitário. Esses são os nomes que me vêm à cabeça.
- Agora passando para outro grupo, falando das associações de maneira
geral, você acredita que elas atuem na união entre academia e mercado no
México?
- O diálogo entre os dois é muito difícil porque sempre dependeu e depende da boa
vontade e do esforço de alguns militantes de um projeto. O desenvolvimento das
duas áreas depende do estabelecimento de redes e de contatos entre os
interessados. É muito difícil fazê-lo, não se pode contar com o apoio nem das
universidades nem das empresas porque em muitos casos a sua prioridade não é a
pesquisa. Quando se trata de estudar com maior profundidade, com maior
amplitude, com maior participação um projeto que almeje melhorar as vinculações
entre academia, mercado e sociedade não há apoios. Há esforços heróicos de
pessoas que utilizam recursos próprios: tempo, dinheiro, local, qualquer coisa
necessária. A estrutura de pesquisa é muito débil. O caso da Amco é muito
parecido com o da Amic (Associación Mexicana de Investigadores de la
Comunicación). Ambas possuem 25 anos de existência, mas uma existência muito
precária.
- A respeito da percepção da Comunicação Organizacional e das Relações
Públicas pela sociedade, pelo governo e pela imprensa.
- Eu creio que o reconhecimento e o prestígio são menores do que deveriam ser,
mas eu não vejo retrocesso ou desprestígio. Avançou-se muito em termos de
reconhecimento. Não percebo social ou academicamente desprestígio em outras
áreas onde se perderam os valores profissional, social e acadêmico.
- O que pode dizer sobre a absorção dos estudantes tanto de licenciatura
como de mestrado?
- Estamos em uma fase muito contraditória, mas isso se deve a problemas
estruturais e econômicos. Há problemas severos de desemprego e subemprego
que se agravam para uma situação ainda mais crítica dentro de dez anos. Por
outro lado, há em outros âmbitos muito progresso. Não existe em geral capacidade
de absorção nacional de egressos da universidade em quaisquer áreas. O seu
destino é o subemprego. Isso se dá em países com o México e o Brasil, que
possuem estruturas sociais tão desiguais. Faz 30 ou 40 anos que quando alguém
entrava na universidade estava com a vida garantida. Agora é uma garantia de
sofrimento e de insegurança por toda a vida. É muito mais difícil conseguir um
emprego para um universitário do que para um não-universitário. Não acabamos
de assimilar esse problema estrutural ainda. Em termos de economia flexível, eu
vejo o desenvolvimento e pessoas com projetos estratégicos com demonstração de
resultados, mas isso requer um perfil muito ágil, muito flexível.
- Muito obrigado professor, para finalizar gostaria de perguntar sobre sua
formação.
- Claro, minha licenciatura é em Ciências da Comunicação. Fui uma das primeiras
gerações que a fez, entre 70 e 75, e minha orientação profissional se voltou para o
audiovisual. Mas essa vocação se voltou para a área acadêmica. Com 25 anos, virei
professor de Teoria da Comunicação. Então, desde aí, fiz um mestrado em
Comunicação e um doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de
Guadalajara.
Anexo B-11
Entrevista com Mônica Vale, professora de Estudos Tecnológicos do
Instituto Superior de Monterrey e doutoranda em Estudos Científicos e
Sociais na Iteso, no campus do Iteso, em Guadalajara, em 14/01/2005
- Qual é a sua percepção sobre a Comunicação Organizacional e as
Relações Públicas?
- Falarei da minha experiência como acadêmica e como profissional. Nós as
tratamos conjuntamente em uma organização e há uma parte mais específica que
se chama Relações Públicas, que lida com os diferentes públicos, mas faz parte de
um todo. E na área acadêmica também se trata da Comunicação Organizacional
como a parte administrativa e que abrange diferentes formas de comunicação. As
licenciaturas em comunicação possuem três semestres de Relações Públicas. Então
não são campos separados, são campos unificados. Nas pesquisas realizadas, se
divide um pouco mais as duas.
- Você poderia dar as suas definições de uma ou outra?
- Para mim, a Comunicação Organizacional é como o estudo integrado de uma
organização, os sujeitos, as estruturas administrativas, as estratégias. As Relações
Públicas são uma ferramenta de trabalho para a Comunicação Organizacional. Por
isso não se separam, apesar de muitas vezes as Relações Públicas serem tratadas
somente como a relação que se mantém com os públicos específicos.
- Diga-me, então, outras ferramentas de Comunicação Organizacional.
- Há outras ferramentas como os meios de comunicação usados dentro da
organização para lidar com a comunicação. Em relação à gerência, outras ações de
comunicação visualizam espaços de comunicação, de integração, onde aparecem a
liderança e maneira de como se lida com as crises. Outro aspecto da Comunicação
Organizacional é a pesquisa, ela é outra ferramenta para a melhoria dos processos
comunicacionais. Outra é o treinamento.
- Podemos compreender que há uma linha de pensamento de Relações
Públicas e de Comunicação Organizacional no México? De onde vem esse
pensamento?
- Aqui no México não há; na Colômbia e no Equador há um pouco, mas não é tão
distinto, diferentemente do que há no Brasil. Nesse momento, há uma corrente
mais sociológica, antropológica e psicológica contra a visão estruturalista da
organização. Essas inovações dependem das inquietudes dos profissionais de
comunicação, afinal estamos trabalhando com a comunicação para quê? Para que o
gerente ganhe mais? Em um congresso no Equador foi apresentada uma linha que
está se posicionando que trata da tecnologia na comunicação.
- Quanto à influência da globalização nos processos de pensamento e nas
ações das duas áreas aqui no México.
- Aqui no México há uma visão mais humanista (européia) como na Ibero e na
Anáhuac; as mais tecnológicas estão sob a influência dos Estados Unidos. A partir
da globalização há uma série de questões: se critica a Comunicação
Organizacional. A abertura das Ciências Sociais permitiu um interesse maior por
esse campo que está em crescimento; se necessita dentro das organizações desse
tipo de profissional que tem contatos com outras disciplinas, como Relações
Internacionais.
- E no que se refere à influência dos Estados Unidos?
- A influência tem sido total. No México e na Colômbia a Comunicação surgiu a
partir da Publicidade, a partir das multinacionais. Eram requeridas pessoas que
eram free lancers. Trabalhavam por contrato devido à demanda de trabalho. Fui
comunicadora por muito tempo na Colômbia e quem tratava das relações com os
públicos, por exemplo a comunidade, era o sociólogo ou o psicólogo. Dessa forma
o comunicólogo tratava somente dos meios.
- Interessante. E quanto à produção bibliográfica no México?
- Estamos muito atrasados porque há pouco material. Fala-se muito de Maria
Antonieta (Rebeil Corella) e Abraham Nosnik. Ela publicou somente um livro. Na
verdade, ela era a organizadora, a compiladora desse livro. Infelizmente, não há
muita pesquisa no que se refere aos mestrados e aos doutorados. A formação é
mais profissionalizante do que voltada à pesquisa. Na licenciatura há um pouco
mais de pesquisa, mas faltam as teorias e o que se vê são muitos diagnósticos,
como podem ser feitas estratégias para uma determinada organização.
- Além dos dois já citados, quais outros pesquisadores de importância?
- Há o Salvador Sanchez, consultor e professor da Ibero que se dedica à estratégia
profissional. Há também Horácio Quidapa. Há também outra pesquisadora
conhecida chamada Maria Antonieta, mas ela não é comunicadora organizacional.
Fez pesquisas de processos de capacitação em escolas. É interessante porque ela
vê a escola como uma organização, isso que ela faz não é exatamente
Comunicação Organizacional, é mais pesquisa de processos de capacitação.
Abraham (Nosnik) sim é mais voltado ao processo de liderança, mudança
organizacional, melhoramento contínuo, qualidade total. Abraham utilizou seus
estudos de Filosofia e os aplicou em questões muito práticas. Esse Salvador é
muito mais estratégico, digamos em fazer campanhas necessárias para a Coca-
Cola, por exemplo, tudo que se relaciona com Publicidade e Relações Públicas na
imprensa. E Horácio se dedica muito à cultura organizacional.
- E você que está completamente envolvida nos processos de pós-
graduação, como são os programas de mestrado e doutorado?
- Bem, que eu saiba não existe nenhum mestrado ou doutorado específicos em
Comunicação Organizacional na América Latina. O que há são diplomados em
educação contínua. O mestrado que há na Ibero é um mestrado com várias linhas
se tratando de organizações. Com Abraham e Salvador eu vi um mestrado em
Comunicação Estratégica, bem, no meu caso eu escolhi matérias de Administração,
essa era a minha linha. Doutorados em comunicação propriamente dita não há
tampouco. Meu enfoque é interdisciplinar, a minha linha é comunicação, cultura e
sociedade.
- Gostaria de falar agora das associações, a Amco, a Amic. Como são o
desenvolvimento, o papel e a atuação de cada uma?
- Essas são as que eu mais conheço e falta comunicação entre elas. São muito
separadas, cada uma fazendo suas coisinhas com seus associados. Não se vê uma
pesquisa realizada, uma comunicação entre elas mesmas. Há um prêmio por
pertencer a determinada associação; a participação é passiva. Há uma ou outra
conferência, mas deveria haver mais presença, mais liderança, pois se tratando da
Comunicação Organizacional deve haver mais publicidade e mais pesquisa. Sinto
que o que acontece muito aqui no México é o “protagonismo”. Para manter-se
como protagonista não se alinha muito com os outros porque se crê que vai perder
terreno.
- E quanto ao diálogo do mercado com a academia? Você vê que há a
preocupação por parte da academia de procurar as necessidades do
mercado e adaptar suas teorias a uma práxis do mercado?
- Bem, nesse sentido a estratégia de determinada universidade será mostrada
porque os estudantes podem ou não se adequar ao perfil da empresa. É uma
estratégia funcional nesse sentido. Há uma investigação docente sobre o que os
diretores esperam dos comunicólogos. Afinal, não esperamos uma pessoa que só
dê aulas, mas que acompanhe os processos de capacitação, que mantenha um
relacionamento com os mais diversos meios, que maneje públicos internos. A
tendência de haver um gerente de comunicação e diversos assistentes é bem
americana e específica aos meios devido à necessidade da empresa porque
obviamente uma só pessoa não conseguiria administrar todo o processo. Fiz uma
especialização em Gerência de Comunicação e é como elevar a Comunicação para
uma atividade diretiva. Utilizo muitos exemplos da Colômbia, pois há muita
semelhança entre essa realidade e a realidade colombiana. Uma colega minha
trabalhava como relações-públicas na Colômbia e o trabalho continua sendo uma
atividade muito funcional, algo mal-visto, com poucas expectativas salariais. Não é
uma área muito desenvolvida dentro das empresas.
Anexo B-12
Entrevista com Octavio Islas, diretor de Comunicação Estratégica e
Cibercultura do Instituto Tecnológico de Estudos Superiores de Monterrey,
no campus da universidade no Estado do México, em 16/01/2005
- Para começar, gostaria de falar sobre as Relações Públicas e a
Comunicação Organizacional. Eu gostaria que o senhor discorresse sobre
as duas, se de fato são duas.
- Creio que dois dos fundamentos básicos de todo o comunicador são as Relações
Públicas e o Jornalismo. As Relações Públicas são mais antigas e se iniciaram nos
EUA. Os dois formaram duas áreas distintas desde o começo do século XX. Pouco a
pouco se estende ao continente igual ao Jornalismo na Universidade de Columbia.
Quiçá o Jornalismo possui um status mais crível do que as Relações Públicas. A
criação desse “Frankenstein” na licenciatura em Ciências da Comunicação até
1960, na universidade americana. As escolas de licenciatura em Relações Públicas
e Jornalismo têm uma boa aceitação em relação a que tinha antes. Começa aí a
carreira de Comunicação Organizacional. Isso é muito interessante porque houve
uma revolução. Na década de (19)90, começa a ser falar de imagem, de identidade
corporativa, reputação institucional. Um termo que estamos recuperando é o
conceito de Comunicação Estratégica, Comunicologia Aplicada. Parece que ao longo
do tempo o objeto de estudo muda, a amplitude das Relações Públicas, da
Comunicação Organizacional, da identidade e da imagem corporativa. A ênfase que
se dá hoje é para os estudos públicos. Finalmente, há uma continuidade, há uma
certa lógica. Não podemos afirmar que a Comunicação Estratégica resultará nas
Relações Públicas. Muitas vezes consideraram os comunicadores organizacionais
como relacionistas, como Carlos Bonilla ou Carlos Fernando. No final da década de
80, o enfoque é a Comunicação Interna e isso se converteu na Associação
Mexicana de Comunicadores Organizacionais. Há em certo ponto algumas
diferenças entre acadêmicos interessados em Relações Públicas e os interessados
em Comunicação Organizacional. Em outras palavras, o grupo de Carlos Bonilla e o
grupo de Carlos Fernández. Mas não há uma discussão acadêmica argumentativa,
há mais interesses políticos. Parece-me que vamos a uma empresa e ela não tem
muito clara a atividade do comunicólogo ainda menos a do especialista em
Relações Públicas ou Comunicação Organizacional. É algo que o estudante deve
fazer: anunciar ao mercado o trabalho do comunicólogo. Não é como nos Estados
Unidos ou quiçá em alguns países da Europa, cada empresa pequena possui uma
área de comunicação realizando a comunicação estratégica. Por exemplo, podemos
pensar como outra função dos relações-públicas o “lobby” e há um caso
interessante. No México devido à perda das eleições presidenciais para um novo
partido político interrompe 70 anos de governo e pessoas influentes que têm
muitas relações ficam desempregadas, aquelas pessoas que promovem empregos
de cabide. Eles não fazem trabalho de Relações Públicas porque não as conhecem,
mas fazem um lobby instantâneo muito forte e representaram a fratura de um
sistema político. A imagem pública é uma outra área potencial. Ela parecia um
assunto não sério no início dos anos 90 e final dos 80. A família mais importante
na área da Comunicação é a família Vargas. Eles possuem estações de rádio e TV e
sempre se especializaram no tema de imagem pública, mas ninguém fez nenhuma
licenciatura, mas eles possuem muitos contatos. Mesmo assim, eles publicaram
uma série de livros sobre imagem. Faz alguns anos que um comentarista de TV
chamado Victor Bordon realizou uma série de estudos em universidades norte-
americanas e européias e abriu espaço para a imagem pública, comprando por
incrível que pareça os direitos da expressão “imagem pública”. O órgão que lhe deu
os direitos não existe mais, então Victor não possui mais o controle dos direitos da
expressão. Juan Costa é um venezuelano que trabalhou também o conceito de
imagem pública e abriu um colégio para formar consultores em imagem pública.
Em algum momento chegou a ter um grande mercado porque muitos políticos
desencantados com o trabalho e com os resultados que suas agências de imprensa
e de Relações Públicas traziam. Algo muito forte antigamente era a propina dada
aos jornalistas por parte do governo para que eles não questionassem nada. Uma
empresa não quis se vender de forma alguma e foi muito importante para a
democracia dos meios. Como trabalhar com esse veículo então? Bem, a resposta
de muitos políticos foi “imagem pública”, “media training”, aparência pessoal e
comunicação em crises com o propósito de manter uma melhor relação de
comunicação. O trabalho de alguns consultores de imagem pública foi muito
importante na campanha presidencial de 2000. Não creio que a imagem pública
resolva os problemas de uma instituição ou de uma pessoa. É uma mistura muito
ampla de comunicação estratégica.
No México há duas coisas. No ano passado fizemos uma pesquisa e o questionário
foi um dos instrumentos que utilizamos e entrevistas em profundidade com os
principais diretores das principais agências de Relações Públicas no México. O que
encontramos foi que as agências multinacionais a partir do contrato comercial
entre México, Canadá e EUA começam a colocar as suas filiais no México.
Chegavam, compravam uma agência já existente e ficavam com o portifólio de
clientes. São pelo menos 100 agências de Relações Públicas no México e possuem
um faturamento bem mais alta que a média nacional. Perguntamos aos diretores
também qual era o perfil do egresso da faculdade que lhes interessava. Primeiro,
que fosse de universidades particulares e não de públicas. Segundo, que se há
uma carreira de Relações Públicas que bom, se não, não lhes importa. Os egressos
de Ciências Políticas, de Sociologia, de Administração e de Economia já competem
com o comunicólogo. Uma outra percepção é que as agências mexicanas trabalham
melhor do que as agências multinacionais, pois estas não conhecem o México, um
país complexo, muitas vezes com uma realidade oculta, de difícil entendimento e
que bate de frente com o simplismo e pragmatismo norte-americanos. Por
exemplo, há o caso de uma agência de RP muito forte que se chama Edelman e o
diretor-geral é mexicano78, uma amostra que está quebrando a tradição.
- Creio que ele é americano, faz umas 3 ou 4 semanas que ele está no
cargo. A Edelman fica bem perto daqui, em Santa Margarita, e eu falei com
eles. Conversei com Tim Scerba, o novo presidente, que trabalhou na Hill
and Knowlton.
- Bem, a tendência é essa de ter um diretor do próprio país. Outra tendência é a
que as Relações Públicas reparem a imagem deteriorada que alguns setores
possuem.
78 O Prof. Islas não tinha a informação de que havia ocorrido uma mudança na gestão da Edelman há alguns meses.
Anexo C
Transcrição de entrevistas realizadas no Brasil (de fev. a out./2005)
Anexo C-1
Entrevista com José Marques de Melo, Professor Emérito e Titular da
Universidade de São Paulo, Diretor Titular da Cátedra Unesco de
Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo e presidente da
Intercom
- Sobre conceitos de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.
- A Comunicação Organizacional corresponde a uma área abrangente, no interior
das organizações complexas (públicas, privadas ou terceiro setor) instituída com a
finalidade de otimizar e coordenar as ações comunicacionais, antes dispersas e
atomizadas em departamentos nem sempre convergentes ou cooperantes
(jornalismo, propaganda, RP, audiovisual). Este é o conceito que percebo como
hegemônico na arena internacional.
- Definição de Comunicação Organizacional e Relações Públicas no âmbito
acadêmico.
- Predomina, no plano mundial, a concepção acima descrita. Comunicação
Organizacional é um território amplo, segmentado por equipes ou serviços de RP,
PP, Jornalismo (mais comumente chamado de Imprensa) etc. Assim sendo,
Comunicação Organizacional é gênero e RP espécie. Contudo, percebo na América
Latina uma grande confusão. A Comunicação Organizacional aparece como
sinônimo de Relações Públicas, o que, no meu entender, traduz um certo
preconceito com as RP na sua configuração histórica, mais sintonizada com as
empresas privadas.
- De que modo essas duas áreas (Comunicação Organizacional e as
Relações Públicas) dialogam no âmbito acadêmico.
- No caso brasileiro, não percebo diálogo, mas uma grande confusão, onde não
sabe quem é quem.
- Em termos de trajetória, quais foram as mudanças conceituais
significativas alcançadas pela Comunicação Organizacional e pelas
Relações Públicas nos últimos anos? - As RP são mais antigas. Conceitualmente elas são filhas de Ivy Lee, o pioneiro
norte-americano, desde a experiência seminal da Light (l914). No pós-guerra
tomaram corpo duas correntes (uma ancorada nas multinacionais; outra
respaldada pelos órgãos militares), mas ambas legatárias das experiências norte-
americanas.
- Quanto às origens, bases de fundamentação do pensamento
comunicacional do país.
- O nosso pensamento comunicacional tem um perfil mestiço, advindo da
confluência entre as matrizes européias e norte-americanas. Ele é, contudo,
pendular. Ora inclina-se pela autonomia em relação às fontes seminais. Ora
regride, mostrando-se dócil à reprodução dos paradigmas forâneos.
- De que modo a globalização estimulou ou estimula o intercâmbio dos
conceitos? - Infelizmente a globalização ainda não se projetou suficientemente na sociedade
brasileira. Herdeiros de uma tradição autárquica, proveniente do regime
monárquico e reciclada pelos ciclos militares, cultivamos um nacionalismo
conjunturalmente exacerbado. Nossas elites se comportam como fotocópias
metropolitanas, inclusive os intelectuais. Mas no plano discursivo rejeitamos a idéia
de globalização, demonizada como aderência aos valores do “imperialismo” da
potência hegemônica.
- Sobre a produção acadêmica, qual a influência norte-americana no
pensamento e nos processos acerca da Comunicação Organizacional e das
Relações Públicas? - Trata-se da matriz predominante, até mesmo porque as matrizes européias são
recentes e muito dependentes daquela, embora inovativas em alguns casos.
- Como essa influência pode ser percebida na produção bibliográfica e
científica do país? - Basta fazer uma análise das fontes bibliográficas ou uma análise de conteúdo dos
textos para perceber.
- Sobre o panorama cronológico de produção de pesquisas nas duas áreas
(Comunicação Organizacional e Relações Públicas) e possíveis influências
norte-americanas.
- A pesquisa sobre RP data dos anos 60, quando a ECA inicia seu programa de
doutorado. O pioneiro Candido Teobaldo, antes um legitimado ensaísta, começa a
fazer pesquisa sistemática, começando pela tese de doutorado defendida em 1973.
Nesse momento, começam as pesquisas dos jovens pesquisadores (mestrandos e
doutorandos). O segmento da Comunicação Organizacional é mais recente. Tem
mais espaço nas Escolas de Administração do que nas Escolas de Comunicação. A
ECA, pelo trabalho de Margarida Kunsch, talvez seja exceção. Em ambos há uma
explicita influência norte-americana, desde os pioneiros Bernays ou Canfield até o
pós-moderno Grunig.
- Em sua opinião os principais pesquisadores.
- Os principais pesquisadores de RP foram formados pela ECA ou por seus
discípulos em outros Estados. Nesse panorama, há poucos outsiders, geralmente
oriundos de disciplinas conexas, como é o caso de Roberto Simões (PUCRS). A
principal liderança da área é sem dúvida Margarida Kunsch, embora seja
perceptível uma certa vacilação em torno do campo das RP, procurando driblar
suas “heranças malditas” através do uso do rótulo Comunicação Organizacional.
- Obras referenciais para o campo de CO e RP.
- No campo das RP as obras referenciais históricas são aquelas produzidas em São
Paulo (décadas de 40/50) pelo Idort, pela Instituto de Administração da USP e no
Rio de Janeiro (anos 50/60) pela FGV. Na seqüência, Candido Teobaldo tornou-se
autor da bibliografia hegemônica na academia. Seus herdeiros intelectuais,
seguidores fiéis ou inovadores, constituem hoje as principais referências. Nesse
panorama, Cicília Peruzzo trouxe uma contribuição original, pensando criticamente
as RP. Lamentavelmente ela se desgarrou da área e aderiu ao segmento da
Comunicação Comunitária. No caso da CO, confesso não ter conhecimento
suficiente.
- Sobre o campo: há uma identidade brasileira ou latino-americana?
- Trata-se de uma hipótese a ser demonstrada no campo das RP. Mirtes Torres
dedica sua tese de doutorado (Umesp) a este objeto. Mas somente terminada sua
pesquisa será possível reconhecer a identidade ou admitir que persistimos
dependentes dos paradigmas forâneos.
- Como vê a atuação das entidades de classe (profissionais e acadêmicas)
e do mercado de trabalho com relação à Comunicação Organizacional e às
Relações Públicas?
- As entidades de classe atuam no campo das RP, até mesmo em face da
regulamentação da profissão. Assumindo perfil eminentemente corporativo, tais
entidades se distanciaram das demandas profissionais. Talvez esta seja a origem
da Comunicação Organizacional, espaço não regulamentado, aberto à atuação de
qualquer pessoa, independentemente do diploma.
- Como se dá a abordagem de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas nos cursos de Comunicação Social?
- Pelo que conheço, a Comunicação Organizacional tem espaço na pós-graduação,
enquanto as RP ocupam integralmente o espaço da graduação. No caso da
graduação, venho apontando há algum tempo lacunas de identidade profissional (a
partir dos padrões internacionais), o que talvez seja a raiz da grande evasão dos
cursos da área, muitos dos quais foram ou estão sendo desativados.
- Em seu entendimento há estudos sobre o mercado para se ajustar a
teoria à prática?
- Tais estudos inexistem no Brasil e são altamente necessários, justamente para
neutralizar a tendência demolidora do campo na universidade.
- A sua percepção sobre a influência de imagem e de identidade sobre a
ação da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas.
- Como venho argumentando, existe uma tendência emergente no sentido de
glorificar ou legitimar a Comunicação Organizacional em detrimento das Relações
Públicas, consideradas como atividades subalternas. A meu ver, isso constitui um
grande equívoco. A CO corresponde a um instrumental de gestão comunicacional
(otimizando os recursos disponíveis pela organização, avaliando resultados e
planejando ações corretivas ou alternativas), englobando todas os serviços
profissionais. Por isso mesmo, os cargos de gerência geralmente são ocupados por
Engenheiros ou Administradores, entre outros. No caso das RP temos um conjunto
de atividades de produção de mensagens destinadas a construir ou preservar a boa
imagem das organizações e assegurar um clima de relacionamento civilizado entre
equipes, públicos ou mercados. Da mesma forma, atuam os publicitários,
produzindo anúncios (persuasivos) e os jornalistas, produzindo notícias (jornais,
boletins etc.). Os profissionais de RP situam-se no mesmo patamar, realizando
tarefas híbridas, fortemente comprometidas a divulgar informações fidedignas
(curto prazo), embora sua meta seja criar um conceito positivo (longo prazo) da
organização. Estou naturalmente simplificando ou reduzindo a abrangência das
atividades, mas creio que se torna indispensável enfrentar esses impasses, que
inexistem ou são residuais em outras sociedades, onde os RP têm orgulho da
profissão, ocupando ou não cargos diretivos (Comunicação Organizacional),
accessíveis a qualquer profissional que tenham competência gerencial.
Anexo C-2
Entrevista com o Profº Dr. Wilson da Costa Bueno, no dia 25 de julho de
2004, na sede da Editora Comtexto, da qual é diretor e também é
coordenador do Programa de Pós-Graduação em comunicação da
Universidade Metodista de São Paulo
- Uma das primeiras questões que eu gostaria de colocar: podemos
entender que haja uma diferenciação entre Comunicação Organizacional e
Relações Públicas?
- Olha, eu nunca pensei nessa possibilidade, embora ela esteja sempre presente,
sempre. Evidentemente, no meu ponto de vista, Relações Públicas, no ponto de
vista de abrangência, é menor do que a Comunicação Organizacional ou
Empresarial. Quando eu estou pensando em Comunicação Organizacional ou
Empresarial, eu estou sempre imaginando que ali tem um grupo de categorias
profissionais e atividades que incluem Relações Públicas, Jornalismo, Marketing,
Propaganda e Publicidade. Eu trabalho com essa especificação de amplitude que é
a comunicação empresarial, organizacional: é a convergência de todas essas
atividades, categorias profissionais, reflexões, teorias, conceitos etc.
Então há uma diferença nesse sentido. A diferença é basicamente de abrangência,
de amplitude. A Relações Públicas, ela não, necessariamente na sua definição, no
se corpo, ela não incorpora a uma série de outros conceitos e outras teorias que
são da Administração, são do Marketing, são do Jornalismo etc. que do meu ponto
de vista acho que essa discussão está presente no mercado e está presente na
Comunicação Organizacional.
Relações Públicas, por mais que seja a mais identificada com a visão da
Comunicação Organizacional, não se confunde com a Comunicação Organizacional.
Posso dizer que talvez seja a parte nobre, a parte mais próxima, a parte mais
identificada, a primeira das áreas de comunicação, a primeira que eu poderia
pensar quando imagino Comunicação Organizacional, é Relações Públicas. Mas ela
não se resume a Relações Públicas. E veja bem, eu sou jornalista.
Muitos colegas de Relações Públicas tentam fazer a sobreposição: Relações
Públicas e Comunicação Organizacional. Do meu ponto de vista é equivocado
porque a Comunicação Organizacional incorpora, inclusive, algumas outras teorias,
alguns conceitos, algumas áreas que, necessariamente, nem são de comunicação,
como administração que é da área estratégica etc. São coisas que nós puxamos
pra cá mas são conceitos, são teorias, são fundamentos que estão, inclusive, em
outras áreas que não de comunicação. Eu estava lá fazendo algumas referências
de literatura pra Revista Digital: meios de Comunicação Organizacional e estava
indicando nível de planejamento de cenário etc, que não tem nada, em princípio, a
ver com aquilo que está na grade ou no foco principal das Relações Públicas. É
muito da área de planejamento estratégico, comunicação estratégica etc, Embora
nós tenhamos incorporado a idéia de comunicação estratégica e tal. Talvez porque
até não tenha esses fundamentos, o pessoal de Relações Públicas ou de
Comunicação Organizacional acaba até atropelando um pouco os conceitos. Usam
o termo: comunicação estratégica sem nem levar em conta realmente o que
significa a estratégia, o que significa o planejamento. Não estou dizendo todos os
colegas, por exemplo, não estou incluindo a Margarida Kunsch; ela trabalha bem
isso. Mas não é comum no mercado. O mercado usa essas coisas da boca pra fora.
Não leva a fundo esse conceito, porque eles são de outra área, como a sociologia.
Inclusive nós buscamos um pouco de cada uma dessas coisas na área de
comunicação.
Eu não trabalho com Comunicação Organizacional. Enquanto professor, atuo em
uma área de jornalismo especializado, jornalismo científico, jornalismo comparado,
jornalismo ambiental. Mas as Relações Públicas têm então essa visibilidade maior
do ponto de vista da identificação com a Comunicação Organizacional. Mas não se
resume a ela. Esse é um ponto muito importante: não se resume a ela.
- Como é que você vê essas duas coisas convivendo dentro do ambiente
acadêmico? Dentro do ambiente de mercado há uma confusão maior
ainda, há um certo...
- Patrulhamento
- É, patrulhamento. E como é que é dentro do ambiente acadêmico?
- Em geral, embora essas coisas estejam pouco a pouco se diluindo, há alguns
redutos, alguns nichos nas universidades, sobretudo nas universidades federais,
universidades estaduais, no sentido de manter esse preconceito com respeito às
Relações Públicas. Por exemplo, isso, ele é absolutamente expressivo, contundente
na Universidade Federal de Santa Catarina...nem se pode falar em Relações
Públicas, nem tem o curso, nem querem o curso. O pessoal acha que isso não tem
nada a ver, que é um “peleguismo”. Que seria ruim para a cultura da universidade
essa convivência com Relações Públicas, porque essa idéia de fazer as leis do
cliente, essas coisas de não ter espírito crítico, tem uma visão preconceituosa e
equivocada das Relações Públicas. Então existe nas universidades federais,
estaduais um preconceito. Mas alguns nichos como a USP, Universidade Federal de
Santa Catarina e outras, certamente vão manter esse foco de resistência com
respeito à Comunicação Organizacional.
Então a impressão que dá é que, ou por uma questão de mercado ou por uma
questão ideológica, as pessoas não se apercebem ainda de que a Comunicação
Organizacional, ela é, do ponto de visão do conceito, da teoria, do estudo e
reflexão, tão importante quanto o jornalismo em particular. Você vê agora na
própria Compôs: tentam excluir a Comunicação Organizacional como um campo da
área de comunicação. Foi uma luta inglória, continua sendo, para manter aquele
campo de comunicação na tabela do CNPQ etc. A Comunicação Organizacional não
tem sido contemplada, não como se dissesse: isso não tem nada a ver com
comunicação. E aliás, tentam fazer isso até com o Jornalismo. Foi mais fácil
convencê-los de que deveria manter o Jornalismo, que já é uma área, um campo
tal, do que a Comunicação Organizacional. Eu não sei nem se na Compós a gente
vai conseguir porque a exigência é que houvesse professores ligados a cursos onde
essa linha de mestrado e doutorado estivessem explícitas. E havia dificuldades de
encontrar pessoas com mestrado e doutorado em Comunicação Organizacional,
tivesse ministrando disciplinas específicas. Há muito poucos, embora existam.
Cursos de especialização, mestrado e doutorado com foco específico em linha de
pesquisa em comunicação empresarial é raríssimo no Brasil. Eu não sei nem se a
Compós vai aceitar que a gente possa montar um grupo de trabalho lá, porque
embora tenha vários professores, é o grupo de trabalho que mais professores
assinaram pedindo, propondo apenas. Até ficou todo mundo junto, porque na
verdade precisava de dois ou três professores proponentes que entregassem
programas reconhecidos de mestrado e doutorado em comunicação. Me parece que
eles não conseguiram encontrar. Aí quiseram, tentaram justificar, colocou todo
mundo junto pra fazer um volume, mas se for examinar caso a caso, pode ser até
que eles vetem por causa disso. Eu sei, que eu que ajudei a propor, então eu faço
parte do programa de pós, reconhecido. E eu trabalho especificamente na linha de
pesquisa, meu grupo de pesquisa cadastrado no CNPQ é de comunicação
empresarial, quer dizer, eu não sei se havia outro. Tem um monte de gente lá,
agora, eu não sei se eles vão aceitar. Porque você pega os outros grupos lá, tem
proponentes, aí tem dois professores que são reconhecidamente da área, daquele
campo, que eu tenho certeza que os grupos não vão questionar. Mas no caso de
Comunicação Organizacional, eu acho que a Margarida (Kunsch) não assinou,
algumas pessoas não assinaram. E aí ficou difícil pra eles arrumarem duas
pessoas, tem que ter pelo menos duas pessoas que trabalhem com linha de
pesquisa em Comunicação Organizacional. Que aí tem um problema muito sério da
nossa área de Comunicação Organizacional, muito da sua área de Relações
Públicas, tem os grupos formados, né? Então se foi alguém que propôs não sei de
onde, alguém do lado de cá não assina. Daí enfraquece o campo, e isso é um
inferno. E isso acontece não só em Relações Públicas, mas em Relações Públicas
acontece muito isso. Nesse caso, penaliza a Comunicação Organizacional. Porque
se o pessoal que propôs é do Rio Grande do Sul ou não sei da onde; e a iniciativa
não foi da ECA, provavelmente o pessoal da ECA não reforça isso. Aí o que
acontece: já somos poucos, se houver esse tipo de ruptura, nós não temos massa
crítica pra justificar na Compós um grupo de Comunicação Organizacional. O que
significa: isso é uma perda imensa, do ponto de vista da visibilidade da área
porque você tem revista digital, você tem as reuniões anuais do Compós, e se não
existe o GT especificamente, para onde as pessoas de Comunicação Organizacional
encaminhariam seus trabalhos, estudos e pesquisas? Não vai ter visibilidade, pelo
menos num ambiente de pós-graduação. Do grupo de programas de pós-
graduação acaba a Comunicação Organizacional. Há um risco enorme de ser
rejeitado por causa disso porque é temeroso. E não sou eu que tomei a iniciativa,
não...não sou eu o patrono disso não. Mas eu assinei na hora, falei: fundamental
que tenha, só que aí a pessoa depois fala: – “Olha, está sendo difícil a gente
conseguir pessoas com programas de mestrado e doutorado reconhecido, que
realmente tenham como identificação no Currículo Lattes a linha de pesquisa em
Comunicação Organizacional”. Daí eu lembrei: “Mas na ECA tem um monte:
Sidnéia (Gomes Freitas), Heloísa (Matos), Margarida (Kunsch), um monte. Eu falei:
mas então por que não assinaram? Aí eu lembrei das questões básicas que são as
brigas internas. Nossa área tem, às vezes, um problema um pouco sério com
respeito a isso, porque motivo eu não sei, não quero entrar no mérito, eu também
não sei.
- Como enxerga o atual cenário de formação da academia no país:
- É complicado. Quando a gente fala em comunicação organizacoinal divide em
grupos. Mas é uma área ainda em formação, do ponto de vista acadêmico, mas ela
tende a crescer. Se você perceber o número de colegas titulados, com
especialização, cursos de pós nessa área, você percebe que faltará pouco para que
em breve ela tenha status como existe em outras áreas na área de comunicação,
do ponto de vista dessa visibilidade em termos de pesquisas, estudos etc. A Cásper
Líbero enfrentou grande problema de preconceito, que era uma comunicação
voltada para o mercado, reconhecimentos dos cursos etc. Aquela briga toda surgiu
por aí: do preconceito do pessoal que avalia, que é de universidades federais, todo
tipo de comunicação que seja voltada para o mercado.
É, então. O problema surgiu aí: é o preconceito. A Cásper Líbero pode ter
encaminhado alguma coisa de maneira equivocada, pode ter alguma coisa, isso
aconteceu com todos, inclusive com a USP. Quer dizer, problema de avaliação. Mas
o problema todo é que a Cásper Líbero propondo uma pós muito próxima do
mercado, certamente esse preconceito iria existir. Como se dissesse: é um pessoal
que está aí voltado para o mercado, como se fosse um crime, como se fosse
possível num país como o nosso, alguém trabalhar na universidade sem se voltar
para o mercado. Então a gente vai estar trabalhando pra quem? Pra nós mesmos.
Essa mesquinharia, esse egoísmo da universidade, é terrível isso, né?
Então você vê: todas esses indicadores mostram que nós temos um problema aí,
mas que isso está caminhando. Nós já podemos elencar muita gente que está
nisso, grupos de pesquisa. Só que como são poucos, e ainda tem essas disputas
internas, é muito difícil, às vezes, ter essa visibilidade maior, como existe em
outros cursos, outros grupos na área de comunicação e cultura, cibercultura que
chegou mais recentemente, já tem um status, uma visibilidade, uma adesão maior
do que a da Comunicação Organizacional. O pessoal olha assim como se dissesse:
esse pessoal aí não é muito certo.
- E em relação a essa possível evolução ou esse movimento que vem
acontecendo. Como é que as influências internacionais, a globalização vem
mexendo com isso...
- Eu acho que sim. Isso é um dado importante. À medida que você,
internacionalmente, tem uma legitimação dessa área enquanto grupo de pesquisa,
enquanto metodologias, enquanto teorias estabelecidas etc; a tendência é isso, de
alguma forma impactar a visão que os colegas da universidade têm da área de
Comunicação Organizacional.
Então acho que é positivo. Você tem lá fora, e é sempre assim, né? Nós temos um
status já reconhecido da área de Comunicação Organizacional, isso já não é de
pouco tempo, é de muito tempo.
Portanto, à medida que pouco a pouco os colegas que estão aqui vão tomando
contato com essas pessoas e com esse trabalhos e estudos, acabam até
subjetivando aos nossos aqui mesmo. Como se dissesse: vocês estão numa área
inventada aqui, de pessoas que estão próximas do mercado. Isso é uma área de
estudos, de reflexão, de pesquisa séria, que está sendo desenvolvida
internacionalmente. Nós temos essa área aí, forte em muitos lugares. Eu vou dizer
que certamente os Estados Unidos é o lugar onde essa visibilidade é maior. Mas
mesmo no Brasil essa aproximação da gente com a área de Administração,
Psicologia, Sociologia, das organizações etc, acaba de alguma forma nos
legitimando a médio prazo. A gente não conseguiu ainda, por conta própria, só
enquanto comunicadores, essa visibilidade. Mas na medida que essas áreas estão
muito próximas, se você tem gente da Economia, gente da Antropologia etc,
trabalhando com as organizações, a Comunicação acaba fazendo parte desses
estudos e reflexões todas. Mas esse equivoco, esse preconceito com respeito a
tudo aquilo que se debruça diretamente ao mercado, a Comunicação
Organizacional foi uma das áreas mais penalizadas. Sempre nos viram como
alguém que está querendo se preocupar unicamente com o mercado profissional,
quase como se fosse uma prática profissional. Não admitiram ainda essa discussão
teórica. Os organismos internacionais na área de comunicação analítica etc, essa
área, até pela atuação de Margarida (Kunsch) etc, essa área vai ficando cada vez
mais forte, vai ter cada vez mais visibilidade e essa resistência tende a diminuir,
está diminuindo. Até porque as universidades, mesmo as universidades públicas,
em função do mercado, em função até de possibilidade de recursos etc, acabam
perdendo essa frescura. Mas tem sido difícil. Sobretudo em alguns nichos que por
sorte, no caso específico da USP, ela era um núcleo importante na área de
Comunicação Organizacional. Então essa resistência é menor. Imagina se não
fosse? Mas a USP é um reduto importante nessa área de Comunicação
Organizacional, tem essas coisas e isso facilitou um pouco. A gente queira ou não
queira, por mais que a USP tenha passado por essas crises todas, o fato da USP se
preocupar com isso, ter uma massa crítica importante, um número de doutores e
mestres importantes nessa área, isso não dá pra ignorar.
Há uma tendência. Também se descobriu isso há muito pouco tempo. Há 15, 20
anos isso era nada. Se você voltar para trás, a literatura brasileira em
Comunicação Organizacional, não encontra quase nada. Encontra o pessoal muito
mais de jornalismo empresarial e há alguns colegas de Relações Públicas como a
própria Margarida (Kunsch), Cicília Peruzzo etc.
Ela (Cicília) foi praticamente uma pioneira, uma das primeiras na Metodista
(Umesp). Então você vê: isso foi crescendo recentemente, só que explodiu, a
economia mexe com isso, está todo mundo mexendo com isso. Isso tende a
quebrar essa resistência.
- E a gente sempre teve uma influência muito forte em tudo dos Estados
Unidos. Na área de Relações Públicas e Comunicação Organizacional
também tem efeito. Dá para sentir que isso ainda hoje é muito
preponderante ou já se pode sentir que tem uma influência também da
América Latina, ou talvez já se comece a ter uma identidade própria?
- Eu acho que existe. Existe ainda, menos do que eu gostaria. Uma tentativa de
criar uma discussão brasileira que não seja refém das idéias norte-americanas.
Cultura diferente, as próprias organizações diferentes, nosso jeito de administrar é
diferente, nossa inserção é diferente.
Então assim como aconteceu na Comunicação como um todo, aconteceu na
Sociologia como um todo, nós tendemos a ter uma posição diferente. Que é uma
visão crítica, subdesenvolvimentalista, emergente de Comunicação Organizacional.
A discussão é de que é pra aprofundar mesmo a relação capital-trabalho, presente
ou talvez a democratização da comunicação interna. É essa discussão crítica
mesmo. Acho que isso tende a crescer na América Latina em função das relações
de trabalho, da relação muito próxima entre as organizações e o poder público.
Por isso o preconceito de achar que a comunicação empresarial é essa coisa light,
de puxação de saco, de badalação, aquele estereótipo do relações- públicas a
serviço do patrão, carregando a malinha. A idéia que quando você passa a
assessorar organizações, você abstrai o teu espírito crítico e tal. Isso é o que está
mudando. A idéia de que: então vamos formar gente em Comunicação
Organizacional que seja crítica, que diga ao chefe: - “O senhor não pode fazer isso.
Eu não estou aqui só pra fazer o que o senhor quer e depois me contrata pra ver
se eu quebro o teu galho”.
Então eu acho que essa é uma discussão que eu percebo que está crescendo. Isso
tem a ver com todos os movimentos que houve na comunicação latino-americana
do ponto de vista, na importação dessas teorias, não aderirem a ela do ponto de
vista político, ideológico, tem que questionar isso: não, não é essa a função, não é
essa a função do RP, não é essa a função do jornalista da empresa, não é essa a
função do gestor em comunicação: trabalhar é outra coisa. É uma discussão que,
necessariamente, a gente não lê nos livros de Comunicação Organizacional dos que
são traduzidos e dos que são lidos por aqui que vêm de fora. Geralmente uma
visão absolutamente cordial, que é essa que de alguma forma, chegou num
primeiro momento aqui pelas empresas multinacionais. Pouco a pouco a gente vai
se dando conta de que tem uma fraude aí, tem um problema e gordo aí. E aí a
grande contribuição é na medida em que a Comunicação Organizacional deixa de
ficar restrita só às empresas privadas, às grandes empresas multinacionais, e
começam a discutir terceiro setor, aí você incorpora essa visão política, essa visão
de questionamento e tal. Então uma Comunicação Organizacional à medida que ela
incorpora também essa área, ela trouxe também essa discussão De todas as
grandes instituições que de alguma forma questionam o poder. Mas o que nós
importamos num primeiro momento, do que ainda vejo nas universidades, tenho
visto nas universidades professores indicarem a alunos para fazerem TCC dos seus
clientes. O cara vai e faz o TCC para puxar o saco de um cliente e depois o
professor que tem uma empresa de assessoria, acaba até faturando em cima
disso. E tem muito disso. É um problema ético, é um problema que precisa ser
questionado. Eu tenho visto coisas desse tipo e tenho ficado horrorizado. Às vezes
tem alunos que às vezes mandam: “Ah..será que dá prá você dar uma olhada?”.
Eu dou uma olhada, a fonte do sujeito foi a própria empresa. Para dizer se a
empresa é socialmente responsável, o cara ouviu o gerente de comunicação, ouviu
um sujeito de lá, copiou um folheto. Eu falo: mas não pode, isso não pode, você
está reproduzindo um discurso que é marcado, até poder ser, mas questione,
discuta o conceito.
Você não vai discutir comunicação interna e perguntar pro cara que faz, porque
certamente ele vai dizer que a comunicação é boa. Pergunta pro funcionário.
Então ainda existe esse problema. Mas pouco a pouco eu percebo que haverá uma
tendência a isso até pelo movimento das organizações não-governamentais, pela
politização do debate. Vai ficar, às vezes, um debate um pouco mais ideologizado
do que deveria. Mas é melhor esse debate asséptico, de achar que todas as
organizações são ótimas: comunicação estratégica, comunicação integrada, e a
gente perceber que são conceitos vazios, que não servem pra nada. O próprio
Instituto Ethon, de quem eu sou sócio, a empresa é sócia, contribui pra isso. E ao
mesmo tempo que ele vincula o conceito, ele abriga todo mundo lá dentro. Só
tenho uma visão de sócio, aí tudo é positivo, né? Tudo é positivo. Aí vale Souza
Cruz, vale Monsanto, quer dizer, qualquer negócio. Aí todo mundo é ético, não tem
ninguém que não é socialmente responsável, até traficante, né? Que é bem visto
pela comunidade. Se for por aí, todo mundo é.
Tudo, tudo, né? A própria Daslu se julga socialmente responsável porque gera
emprego, mas o traficante ou o tráfico de drogas emprega muito mais gente. Não
é esse o motivo, não é esse o critério. Mas as coisas foram avacalhando de tal
modo, e essa visão pouco crítica, que a comunicação empresarial agora começa a
incorporar. E eu tenho feito um esforço terrível pra dizer: não! Eu tava comentando
hoje a campanha do Itaú, não sei se você viu a campanha do Itaú que está no ar.
Você olha a peça publicitária e imprime do plano C que tem um asiático, um negro,
tem um monte de gente; o negro tá em primeiro lugar pra dar a impressão da
diversidade corporativa. Aí você pega a matéria que saiu na folha ontem, foi uma
pesquisa feita pelo Ministério Público do Distrito Federal, sobre diversidade
corporativa, sobre tudo em instituições financeiras. A folha conseguiu ter acesso
pra descobrir os bancos que são os quatro maiores bancos privados brasileiros. O
número de pessoas de cor negra ou de minorias que participa com funcionário ou
então chefia é quase nulo.
Há uma disparidade entre o que se quer vender na propaganda colocando o negro
em primeiro lugar quando aparece em primeiro plano, aparece um japonês etc. E é
o que realmente acontece nas organizações, quando o branco prevalece, querem
mais salário. A mulher negra ocupa menos de 1% dos cargos de chefia nos bancos,
mas quando você faz uma propaganda, você coloca em primeiro plano. Pra uma
idéia de que você ali é uma empresa legal. E essa hipocrisia que vai ficando cada
vez mais...
E a gente precisa questionar isso, e parece que essa é a identidade nossa. Não é
aceitar a Comunicação Organizacional como se fosse essa tentativa de mascarar a
opinião pública. Isso aconteceu em outras áreas. Comunicação Rural também era
comunicação pro desenvolvimento, aquela detenção rural, americana de tentar
fazer com que a gente recebesse assistência das entidades internacionais,
incorporasse um modelo desenvolvimentista americano. Depois houve uma reação
violenta na América Latina com respeito a essa visão funcionalista e tal.
Acho que na Comunicação Organizacional a tendência é essa identidade caminhar
por aí. Calma aí: é legal Comunicação Organizacional, mas não vamos despolitizar,
não vamos tirar discussões sobre estrutura de classes que tá claro pra um país
como esse que tem 45 mil cadastrados na Daslu e milhões de pessoas miseráveis,
né? Não se pode abrir mão disso.
Então eu acho que isso é a tendência que eu vejo, ainda é pequena, mas é a
tendência que nós temos. E também do estudo, não necessariamente, de modelos
brasileiros de organização não são iguais aos americanos, nacionalização é outra,
nossa cultura é outra. A tendência, na medida em que houver replicação de mais
estudos, a gente também trabalhar essas questões. Daí com certeza vão aparecer
esses problemas, né? O problema de democracia interna, às vezes, tão autoritária,
da não-participação, dos tabus dos jornais de empresas. Tudo isso vai aparecer na
medida que a gente aprofunda isso. Enquanto a gente só tá reproduzindo o que
vem de fora, o que está se importando, é aqueles conselhos pra fazer legal, faça
isso, faça aquilo, como é que você faz uma boa apresentação, como é que você faz
um jornalzinho, como é que você faz a intranet; e no fim das contas, não tá
discutindo a essência do problema. Isso é muito coisa de guru. Isso vale tanto para
a área de comunicação que é o da Aids e tentando subvencionar o problema do
laboratório pra convencer a opinião pública brasileira de que é um erro a quebra da
patente de remédios contra a Aids e tal, quer dizer, está certamente falando com a
boca do laboratório. Isso não aconteceu por acaso, ele não veio aqui por acaso pra
dar esse recado agora. Ele certamente foi financiado por empresas multinacionais e
com o apoio da revista Isto É. Acho que pouco a pouco a gente vai percebendo um
pouco isso.
- Um pouco sobre a pós-graduação: gostaria que falasse um pouco sobre a
sua percepção sobre a produção, a bibliografia, as teses, os cursos em
termos de número, de qualidade?
- Nós temos na verdade, como linhas de pesquisa específica de pós em
Comunicação Organizacional, poucas. Na verdade o que se faz é na USP e na
Metodista, se você considerar o número de teses, se você considerar a linha de
pesquisa, grupo de pesquisa e tal. Eu diria que a USP até de forma pioneira. A
Metodista foi constituída a partir da USP. E nós temos muitos professores que são
ex-USP? E nós temos a Cásper Líbero, tem algumas universidades chegando e
abrindo espaço para essas linhas de pesquisa.
Eu acho que ainda temos alguns problemas, né? Por ser uma área recente, por se
ter uma literatura brasileira ainda pequena. Eu acho que ainda essa massa crítica,
ainda está aquém do desejável, do ponto de dista de metodologia, de reflexões e
tal. Mas se a gente olhar pra trás, vai perceber que quase tudo que foi produzido,
foi produzido nos últimos anos. O que significa que dá pra esperar que a gente
crescerá rapidamente. É pouca, mas era zero há dez anos, você pode pegar um ou
outro caso específico da Margarida (Kunsch), da Cicília (Peruzzo), ou de qualquer
outro; tirando esses casos emblemáticos, essas pessoas, quase toda a produção é
muito recente. Então, se nós tivemos um número de trabalhos importantes nos
últimos anos e a gente for projetar isso prá frente, evidentemente, essa massa
crítica tende a crescer. E também o número de programas ou de cursos nessa área
tende a crescer, já está crescendo. Alguns por um modismo, alguns porque
existem pessoas interessadas nisso, o mercado de Comunicação Organizacional é
grande, tem muita gente preocupada com isso, o número de agências e
assessorias cresceu muito. Mas a universidade tenderá a acompanhar isso. Eu
diria: onde estão as lacunas maiores? São talvez, reflexões maiores, mais
consistentes, são essa visão mais crítica, são metodologias novas de aferição da
eficácia em comunicação, nós temos muitas lacunas ainda que já foram separadas
em outros núcleos de estudos em comunicação no Brasil. Mas é normal que isso
aconteça porque é uma área recente de liberdade. Como a gente tava
conversando, a gente não vai reunir muitos grupos de pesquisa cadastradas no
CNPq voltadas para a área de Comunicação Organizacional. Talvez você encontre
Relações Públicas, encontre Jornalismo, encontre Propaganda e Publicidade, mas
Comunicação Organizacional com essa perspectiva abrangente, você encontra
muito pouca gente dedicada, voltada a esse tipo de trabalho, produzindo, né?
Quantas revistas de Comunicação Organizacional nós temos? Por causa da USP,
que começou ano passado com a Organicom. Quer dizer, isso é um sinal. Se você
for olhar lá fora você vai encontrar uma multiplicidade, conforme os países que isso
é importante. Nós não temos nada. Isso acontece, tem artigos escassos e revistas
acadêmicas. Se você for pinçar a literatura de Comunicação Organizacional, as
revistas especializadas, científicas brasileiras, você vai encontrar um espaço muito
pequeno, muito pequeno e em alguns lugares nem há espaço pra esse tipo de
contribuição. Se quiser mandar um trabalho sobre Comunicação Organizacional em
boa parte das revistas especializadas do Brasil, você não vai conseguir espaço. Há
ainda esse preconceito, há essa identidade. Então eu acho que a Organicom, a
USP, também foi novamente pioneira nesse sentido, você tem um espaço em que
isso é legitimado. Existe uma massa crítica, mas é que está muito localizada na
USP. Mesmo na Metodista a gente é meio andorinha lá, né? Uma andorinha só não
fazendo muito verão, porque não existe um grupo de pesquisa, são pessoas que a
gente vem reformando ao longo do tempo. Isso começou com (Gaudêncio)
Torquato. Depois ele abandonou. Eu assumi há muito pouco tempo, quando eu
acumulava essa área com outras áreas, aí a Metodista me propôs criar uma área
em que eu fiquei especificamente dedicado a isso. Acaba formando alguns, no
mercado tem algumas pessoas, em alguns lugares tem gente trabalhando com
isso, às vezes, até com uma visão muito mais de mercado, do que acadêmico
mesmo. Mas é o começo. É assim que funciona, né? essa aproximação acaba
gerando uma reflexão que não seja, necessariamente, só acadêmica, desvinculada
do mercado, que seria realmente um problema sério se a Comunicação
Organizacional corresse esse risco de ficar longe do que está acontecendo no
mercado, porque ela não seria apropriada pelo mercado, seria negada pela
academia e pelo mercado.
Eu acho que essa é a nossa salvação. Dentro dessa visão moderna de
universidade, em que as universidades vão pouco a pouco se adaptando ao
mercado, inovação, patente etc e essa reflexão que tem que ser feita junto com a
realidade. Há uma hora em que a gente vai manter o equilíbrio, a gente vai
conseguir ter mais consistência na reflexão e tal, mas já é um passo andado, ela já
aparece. Ela já está brigando para fazer parte dos grupos de trabalho da Compós.
Se você considerar outras áreas, são muito mais maduras e de muito mais vivência
do que a nossa. Então a gente está preocupado e buscando esse espaço. E acho
que isso é uma questão de tempo. Mas se você perguntar: existe muito espaço? Aí
é menor. Se a gente fizer um levantamento nas revistas de comunicação, as
chamadas de científicas, as de academia, você vai encontrar uma porcentagem
muito pequena de trabalhos que a gente podia identificar como sendo trabalhos
cujo foco tem uma palavrinha-chave lá, e vai ter Comunicação Organizacional, é
muito pouco, muito pouco.
Ainda é uma área crescendo. Mas se você for observar também nas demandas
presentes e futuras dos candidatos, futuros pós-graduandos da Metodista,
chegamos a ter ano que tinha uma vaga e tinha vinte e cinco candidatos, e não
eram só pessoas do mercado, pessoas da universidade interessadas nessa área.
Então acho que há uma tendência a isso. Quer dizer, que haja mais massa crítica,
que haja mais literatura, a tendência é aumentar a intensidade também dos
estudos ou das reflexões, as metodologias. Outro critério de avaliar é mensurar os
trabalhos de comunicação, como é que nós estamos nessa área de tentar
realmente incorporar pesquisas com uma prática da área. Eu tenho batalhado
muito essa idéia de inteligência, porque a área não pode ficar baseada na intuição
dos profissionais, tem que ter uma perspectiva mais estratégico no sentido de
desenvolver metodologias pra aferir coisas, pra avaliar coisas. É uma área que,
embora conviva com a publicidade, a publicidade está à frente da gente do ponto
de vista da pesquisa, da discussão sobre essas coisas. Eu acho que é uma questão
de tempo, e na medida em que houver mais gente, e na medida que Alaic,
Intercom, Compós tiverem grupos de trabalho e seus núcleos puderem disseminar
essa cultura de pesquisa, de reflexão etc, de espírito crítico, acho que a tendência
é ela crescer e rapidamente. Porque ela de qualquer forma, existe uma demanda,
existe o mercado, e uma série de profissionais identificados com isso.
Provavelmente muitos colegas da área de Relações Públicas tenderão a pensar a
área assim: de maneira mais abrangente do que a própria Relações Públicas. A
pessoa de jornalismo, ela tem vários colegas: ela tem colegas de Administração,
tem colegas de Marketing, tem até colegas de Contabilidade por causa dos
balanços sociais da vida, tentando participar desse processo. Isso é uma espécie
de questão que está passando pelos segmentos empresarias. O pessoal da área de
saúde, né? A discussão sobre gestão e comunicação no mercado. Eu acho que o
público é muito mais eclético do que em outras áreas. E a tendência é, com essa
contribuição, a gente de alguma forma, superar essa fase meio que “Frankenstein”
e começar a ter coisas mais consistentes, a própria área criar alguma coisa dela.
Hoje em dia a disciplina de comunicação é dada pelos sociólogos, antropólogos,
filósofos, lingüistas etc, depois a gente passou a ter um pessoal da área de
comunicação. Portanto a área de Comunicação Organizacional, embora existam
pessoas da área de Comunicação Organizacional, ela não é suficiente pra trabalhar
isso. Nós temos visões de comunicação empresarial ainda complicadas. Nós temos
uma visão de comunicação empresarial que é dada nos cursos de secretariado e é
diferente da nossa, absolutamente diferente da nossa. E alguns lugares até
prevalece essa visão: comunicação de preparar reunião, de não sei o que,
comunicação burocrática.
- E em alguns meios até de comunicação mesmo, uma visão muito
operacional, muito tarefeira.
- É isso. E essa importação acaba gerando esse tipo de coisa. Você vai à Livraria
Cultura, por exemplo, no Shopping Vila-lobos, aí você vai no lugar onde é
reservado pra Comunicação Organizacional, empresarial, você tem duas
prateleiras. Uma prateleira que é basicamente assim de: “Vamos preparar
reuniões”. Aí você vai encontrar o cara que ensina a gente a falar em público, aí
tudo é misturado...tudo é misturado. É uma coisa muito tarefeira, muito
operacional com a discussão mais estratégica da comunicação, de gestão em
comunicação, da discussão do próprio processo e tal. Não, é coisa assim: de como
fazer apresentação, como fazer reunião, como administrar seu tempo. Eu recebi
outro dia um e-mail de um cara que queria divulgar o livro dele. Ele pôs o título de
Comunicação Organizacional e era esse tipo de coisas também. Nada contra, mas é
uma visão restrita, estreita, e tumultua. Eu acho que Relações Públicas passaram
por esse problema do mercado fazer uma leitura de Relações Públicas como se
fosse uma organização de evento.
Ai começa a criar um problema: a leitura acaba ficando complicada. Então, por
sorte, as organizações estão precisando mesmo de gestores de comunicação, e aí
ela própria demanda esse tipo de trabalho, estão se capacitando em entidades
corporativas, tem muita gente fazendo isso, né? Não necessariamente nas escolas
de comunicação. Tem muita gente procurando isso: cultura e comunicação e tal,
mas é organizacional, mas é uma área que ainda tem alguns desafios importantes
no ponto de legitimação. Mas eu não duvido que isso vai ser conseguido em muito
pouco tempo. Porque muitos colegas, de alguma forma, estão se aproximando da
área e muita gente jovem, boa, eu acho que isso vai dar uma oxigenada na área,
muito grande, acho inclusive importante pro pessoal do mercado. Porque a gente
passa a não ficar teorizando no caminho vazio que eu acho terrível pra área.
Tem de ter uma aplicação, que daí a gente traduz pro mercado, e falando sobre
coisas que na verdade não existem por aí E é aí que dá a identidade brasileira,
porque à medida que você se preocupa com o caso, com o caso brasileiro, você vai
encontrar situações que estão absolutamente singulares em relação às corporações
multinacionais. Nós temos uma organização específica, nós temos uma cultura
específica, e isso vai dar uma dimensão no trabalho pra essa perspectiva terceiro-
mundista mesmo, porque do ponto de vista de Comunicação Organizacional, nós
somos muito atrasados. Mas no ponto de vista dessa visão de comunicação, acho
que nós estamos atrasados ainda, ainda é operacional demais, ainda pouco
profissionalizada. As pessoas estão fazendo tudo por intuição, já deveria ter
passado desse estágio há muito tempo. O pessoal faz as coisas sem definir público,
sem verificar se as coisas estão funcionando, não investe em pesquisa, acham que
isso é desnecessário, é um investimento desnecessário. Eu não consigo imaginar
como alguém ver o trabalho que investe, às vezes, milhões e sem esse tipo de
aferição, sem esse tipo de questionamento, sem esse planejamento. E isso ainda é
uma cultura da área, no ponto de vista do profissional. A academia é que não pode
incorporar isso. Quando eu vejo colega indicando aluno pra fazer TCC e buscando
os melhores exemplos em empresas que na verdade têm uma visão de
comunicação muito pobre, muito pouco crítica, muito pouco planejada. Eu acho
que acaba reforçando essa idéia de que pra ser um bom profissional de
comunicação, como a gente sempre achou em Publicidade, basta ser criativo, basta
o cara ter jeito pra coisa, e aí abre mão de todo o trabalho vasto de levantamento,
de pesquisa, de metodologia, reflexão, de estudo; ela não assume. Se é
estratégica, não exige esse tipo de trabalho um pouco mais pesado do que
simplesmente alguém ter uma boa idéia e fazer uma bela campanha, um belo
trabalho e tal. É complicado. Envolve custo, envolve planejamento, envolve
estratégia. E acho que não vendemos ainda nem pro mercado, nem para os alunos
que estão se formando, essa idéia, mas não vai demorar muito, não. As pessoas
batem lá e descobrem que não é bem assim, não funciona, quer dizer, muita gente
do mercado: - “Wilson, como é que eu faço, tem um negócio...”, certamente
porque a pessoa passou por cima dessas etapas. A pessoa fazer sem questionar:
“pra que que eu estou fazendo? Qual é o público que eu vou atingir? O que eu
quero fazer? Como é que eu vou aferir isso? Como é que eu analiso isso?”. Quer
dizer, a pressão pra fazer é tão grande que quando você percebe, já era, você não
sabe onde está, de uma hora pra outra, você se perde no caminho: – “Onde eu
estou? O que eu fiz? Como é que eu saio dessa?”. Porque as pessoas estão
pensando pouco sobre isso. Não estão conseguindo cenário, não estão vendo pra
frente. Talvez até estejam copiando coisas que foram feitas em outros lugares,
outras empresas, às vezes, estruturas completamente diferentes, realidades
completamente diferentes: o cara pega um exemplo do livro sobre como que a
Shell resolveu um problema não sei onde, e querem fazer a mesma coisa aqui. Só
que aqui nós temos outra cultura, outra forma de resolver as coisas, nosso tipo de
relação entre as pessoas é diferente do americano, essa corrupção terrível, essa
realização frouxa, essa promiscuidade, essa gestão do jeitinho, são coisas que são
tipicamente brasileiras. O nosso sangue latino, valorizar a comunicação
interpessoal, querer falar sempre com o chefe: “eu resolvo de alguma forma ou
passo por cima de você”. Tem toda uma discussão sobre liderança, sobre
autoridade, isso é típico de uma cultura latina. E isso afeta profundamente a
comunicação. Eu dei muito tempo, assessoria pra Bosch, uma empresa alemã, e ali
eu fui um problema. Porque imaginava que nós fôssemos separar rigidamente:
chefia e subordinado. Tinha uma fábrica na Bahia, você imagina se quando tem as
festas, que são o ano inteiro, atrás do trio elétrico, não estão o chefe e o
subordinado, de braços dados. Não dá para separar, não dá para criar essa idéia
de “não contaminar a chefia” porque ali tem o Antonio Carlos Magalhães que era o
governador, junto com todo mundo, todo mundo envolvido, quer dizer, é uma
comunidade. Nessa hora não adianta se é rico, se é pobre; tudo se mistura e vai
todo mundo suar lá. Então é uma cultura diferente, não há uma cultura rígida de
separar os chefes dos subordinados, dessa comunicação absolutamente formal,
não funciona numa cultura baiana. Pode funcionar na curitibana, mas na baiana
não funciona. Eles são muito mais descontraídos e a comunicação não pode ser tão
truncada aí é complicado.
Os erros e os sucessos, os cases brasileiros vão mostrar que nós temos que buscar
a nossa forma de ser, que é uma pluralidade, essa cultura absolutamente
miscigenada, é diferente do gaúcho, o pantaneiro, o baiano, o manauara; nós
somos muitos diferentes, então tem que ter formas de gestão diferentes, depende
de cada segmento, depende se você trabalha voltado pra conceito geral, não tem
que problematizar mais isso. A impressão que eu tenho é que a gente tem uma
teoria que se aplica em qualquer caso, tem cara fazendo software para decidir
coisas que vale em qualquer situação, isso é uma aberração. Mas pouco a pouco a
gente vai percebendo. Como não funciona, a gente já começa: “Bom, então nós
temos que trabalhar mesmo. O americano não criou tudo pra gente. A gente vai
ter que desenvolver mesmo. Um jeito próprio de fazer uma comunicação interna, a
incorporar a intranet e achar que está sendo ouvido porque a internet é bem feita,
mas não funciona. Nós temos uma forma de relacionamento muito mais afetiva,
gostamos de conversar com as pessoas, beijar, abraçar, essas coisas mais formais
funcionam em outras culturas, mas na nossa cultura é complicado. Eu quero ir ao
Banco, eu quero estar lá com o gerente, eu quero ouvir o cara. Isso é uma
sociedade diferente, é uma cultura diferente, e nós somos latinos, falamos,
gostamos de relacionamento e talvez alguns modelos não vão funcionar aqui do
mesmo jeito que funcionam lá. Mas há uma massa crítica crescendo, e está
crescendo rapidamente.
- Potencialidade.
- Ah, sim. Eu não duvido que os próximos dez anos será um cenário
completamente diferente, até porque essas poucas resistências que existem hoje,
até são grandes, elas tendem a se romper, elas vão ser engolidas pela realidade,
pelo mercado, pelos trabalhos bem feitos, pelas pesquisas, por muitos outros
encontros que vêm por aí. Não é uma área avessa aos estudos e à pesquisa, não é
um secretariado-executivo, não. É uma área complicada, de trabalho e estudo,
exige uma especialização, não é pra qualquer um não.
Isso é o que eu vejo daqui a dez anos, já estamos nessa fase de transição, mas
longe disso, se a gente olhar pra dez anos atrás, não tinha nada e hoje temos
alguma coisa e provavelmente vamos ter mais coisa. Com o jornalismo científico
era assim também: hoje em dia tem N cursos, a Fapesp tem um monte de gente
fazendo um trabalho de divulgação científica, criando políticas, o governo criando
política pública de legislação científica e tal, mas hã vinte anos atrás não tinha
nada. À medida que houve a necessidade, à medida que isso cresceu, porque
houve mais cursos, a massa crítica cresceu, muita gente segmentada; o pessoal:
“Bom, então precisa, primeiramente, resolver esse problema”; e aí as fundações de
amparo começam a patrocinar, então é lógico que você tenha um número
crescente de trabalhos e uma reflexão. Eu acho também que tem a visão
completamente brasileira. É muito mais politizada que a americana. Americano
está preocupado com a excelência da divulgação, brasileiro está preocupada com
grandes interesses que rondam a divulgação e tal. Eu acho que há uma forma
diferente. Porque afinal de contas, empresas que divulgam não são as nossas, são
os laboratórios querendo vender coisas, a industria agro-química querendo vender
coisas. Daí a gente como não é dono dela, mas sofre impacto, acaba criando um
jornalismo científico muito mais político do que isso. A visão política forte no
sentido brasileiro. Nós estamos bebendo ainda desses livros de como fazer, daqui a
pouco não precisa não, mas a estratégia é complicada, a cultura é muito mais
complicada, não da pra importar, não da pra fazer, não da pra traduzir alguns. O
pessoal de Relações Públicas traduz muito alguns teóricos americanos e olham
com certa desconfiança, porque é pouco provável que se possa fazer essa
importação, tem que se questionar. Algumas coisas extrapolam qualquer coisa, as
outras são vinculadas, têm relação grande com a cultura.
- Por sorte eu escolhi os mexicanos que são um dos pouco cautelosos, né?
- Exatamente. Portugal tem uma preocupação com isso, mas eu vejo que a
Comunicação Organizacional portuguesa é muito mais pobre que a nossa. Reflexão
brasileira está muito mais avançada do que a portuguesa na área de Comunicação
Organizacional. Trabalhamos muito mais nessa questão da estratégia do que os
portugueses, por exemplo. Tanto é que eles têm buscado no Brasil informações,
parcerias com a Aberje. Eu percebo que eles estão mais pobres nesse sentido.
Talvez eles sofreram mais influência dessa Comunicação Organizacional do que
nós. Até porque o brasileiro é assim mesmo, de questionar e tal. Faz parte da
cultura da gente. Num primeiro momento a gente macaqueia, copia tudo. No
começo a gente aceita tudo e bate palma, mas depois a gente começa a descobrir
o que é que tem de podre por trás, o que teria de errado por trás, e faz esse tipo
de trabalho. Acho que isso aconteceu na Comunicação Organizacional, também a
gente importou essa teoria toda das multinacionais; foram realmente pioneiras
nisso, as montadoras etc, e de uma hora pra outra a gente tem as ONGs, e tem
grupos: E aí você começa a ter comunidades mobilizadas como o pessoal na área
ambiental que começa a questionar a comunicação das empresas poluidoras etc.
Então você começa a ter um aspecto crítico com respeito à comunicação das
organizações, que eu acho que ela, a que veio pro Brasil, nos livros importados, ela
não tem essa perspectiva crítica, ela em geral é tarefeira, operacional, é
badalação, é Relações Públicas no mau sentido. Que é aquilo que o pessoal acha
que é a essência da Relações Públicas: é puxar o saco do patrão, que não tem
nada a ver. Mas é essa visão que se tem, porque na verdade esses caras vieram
trazendo pouco crédito às Relações Públicas e aí que virou problema, porque a
leitura nossa de Relações Públicas é muito mais restrita do que o americano, por
exemplo, tem. E quando você importa esse nível de pesos, importâncias; e você
sabe que aqui são bandidas, aí você fala: “Espera aí, tem alguma coisa errada,
alguém ta querendo me passar a perna”.
- Contamina tudo.
- Contamina. Quando você pega o Vioxx e o caso da Merck (Sharp&Dohme) eu
fiquei horrorizado, eu falei: Nossa estão querendo me convencer. Eu no mesmo dia
que saiu aquela notícia daquela estratégia toda de tentar justificar a suspensão do
Vioxx como uma responsabilidade da Merck com os pacientes, eu fiquei
horrorizado. Na mesma hora falei: Olha, eu não sei, porque se realmente for
verdade, eu vou saudar, mas não faz parte da indústria da saúde fazer isso, eles
não jogam bilhões de dólares fora, você vai criar um problema terrível pra Merck.
Certamente por trás têm coisas, escrevi no mesmo dia, no dia seguinte o mercado
já tinha desmentido: que eles faziam isso há muito tempo, que eles já tinham
tentado impedir a divulgação dessas coisas e tal. Quer dizer, tinham matado muita
gente antes de restaurar o produto no mercado, como fez a indústria tabagista.
Então a estratégia é a mesma: sempre: tem uma empresa grande de Relações
Públicas ou de Comunicação por trás pra tentar limpar a imagem, fazer o jogo.
Isso é uma coisa que me irrita profundamente, todo dia tão metendo a boca aí.
Não é a função da área de Comunicação Organizacional nem de Relações Públicas,
ficar limpando a imagem, tentando mascarar a opinião pública: para resolver o teu
problema eu vou tentar mentir pra você. A agência de propaganda do Itaú
tentando vender uma imagem de presença da minoria, quando na prática não
funciona assim. Eu acho isso ruim. Alguém vendendo pro cliente e fazendo
exatamente o contrário. Se manca, porque se alguém for investigar, se alguém for
analisar, vai perceber, vai entrar numa agência do banco e vai olhar e não vai ver
negro nenhum ou não vai ver nenhuma porcentagem pra encontrar algum negro. a
propaganda, parece que é meio a meio, parece que é 40%.
- Que seria muito representativo.
- É, não representativo. A gente ta em primeiro plano, quando você focaliza um
funcionário, é sempre um japonês, é sempre um negro, quando tem aquele monte
de gente, o negro está em primeiro plano pra poder ocupar espaço e tal. Isso que
é coisa ruim, porque chama a atenção, e aí depois você olha e fala: gozado, né?
Eu lembro de uma empresária americana que tinha num folheto um negro e depois
houve um processo porque ela não tinha nenhum negro lá dentro, mas ela fazia
questão de colocar um negro também no folheto, aí o cara falou: “Esse cara não é
aluno daqui, não tem nenhum negro aqui”. Então é esse tipo de coisa que é
complicado.
Anexo C-3
Entrevista realizada em 26/08/2005nte, com a Profª Drª Cleusa Maria
Andrade Scroferneker, Professora Titular da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul e Coordenadora do GT Comunicação
Organizacional no Seminário Internacional de Comunicação – organizado
pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-RS
- Definição de Comunicação Organizacional e Relações Públicas no âmbito
acadêmico:
- Comunicação Organizacional compreende todas as formas (modalidades) de
comunicação de uma organização.
Relações Públicas é a atividade responsável pela gestão da comunicação de uma
organização.
- Modo de essas duas áreas (Comunicação Organizacional e as Relações
Públicas) dialogarem no âmbito acadêmico:
- As duas áreas são complementares e necessitam estar em permanente diálogo,
na medida que Comunicação Organizacional trata do fenômeno comunicacional nas
organizações e as Relações Públicas envolvem a gestão desse fenômeno.
- Em termos de trajetória, quais foram as mudanças conceituais
significativas alcançadas pela Comunicação Organizacional e pelas
Relações Públ icas nos últimos anos? - Acredito que a mudança conceitual mais significativa envolveu as Relações
Públicas. Tal afirmação deve-se à tentativa da Resolução nº43 do Conferp em
estabelecer bases mais consistentes para o entendimento de Relações Públicas,
assumindo-a como função administrativa e buscando definir as áreas de atuação.
Em relação à Comunicação Organizacional, a própria denominação identifica a sua
área de atuação e sua área de abrangência..
- Sobre origens, bases de fundamentação do pensamento comunicacional
do Brasil.
- As duas áreas são recentes com origens relacionadas ao desenvolvimento
industrial do país. A vinculação das Relações Públicas à Ditadura Militar (a
regulamentação profissional data dessa época) pode, em parte, ser
responsabilizada pelos equívocos e/ou desconhecimento sobre a sua relevância
para as organizações. A Comunicação Organizacional, por sua vez, teve na Aberje
uma base mais consistente, favorecendo o seu reconhecimento como área.
- Modo como a globalização estimulou ou estimula o intercâmbio dos
conceitos.
- O fenômeno da globalização aliado ao impacto das novas tecnologias favorece o
intercâmbio de conceitos, na medida que novas exigências são colocadas nos
relacionamentos das organizações com seus diferentes segmentos de públicos.
- Sobre a influência norte-americana no pensamento e nos processos
acerca da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas:
- A Comunicação Organizacional e as Relações Públicas foram influenciadas pelo
pensamento norte-americano. Em texto recente sobre Metáforas na Comunicação
Organizacional (Handbook de Estudos Organizacionais, 2003 v.3) Linda Putnam,
Nelson Phillips e Pamela Chapman fazem um resgate da trajetória da Comunicação
Organizacional onde fica evidente essa influência. Da mesma forma Maria
Aparecida Ferrari questiona, também em um texto publicado na revista Estudos de
Jornalismo e Relações Públicas (UMESP, junho de 2003), a predominância de
autores e modelos norte-americanos na área de Relações Públicas.
- Como essa influência pode ser percebida na produção bibliográfica e
científica do país? - Acredito que essa influência possa ser percebida pelos autores, a maioria norte-
americanos, citados em dissertações e teses, bem como nas indicações
bibliográficas nas disciplinas que compõem os currículos de Relações Públicas.
- Panorama cronológico de produção de pesquisas nas duas áreas
(Comunicação Organizacional e Relações Públicas) e possíveis influências
norte-americanas.
- A produção de pesquisas nas duas áreas é recente, tendo como referência inicial
a tese do Profº Dr. Gaudêncio Torquato em 1972. A produção se ampliou com a
criação de Cursos de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado), embora aquém da
necessidade das duas áreas. A influência norte-americana ainda se faz presente de
forma significativa, com a menção de autores como por exemplo, Lesly, Grunig,
dentre outros.
- Principais pesquisadores.
- Acredito que há um importante espaço a ser ocupado por novos pesquisadores.
No Brasil destacam-se como pesquisadores renomados, a Profª Drª Margarida M.
K. Kunsch, o Prof. Dr. Wilson Costa Bueno , o Prof. Dr. Gaudêncio Torquato. No
caso específico das Relações Públicas ainda se destacam o Prof. Dr. Roberto Porto
Simões e o Prof. Dr. Waldir Fortes. Caberia ainda destacar um grupo de jovens
pesquisadores cuja produção já pode ser considerada significativa especialmente,
para a área de Comunicação Organizacional como: Prof. Dr. João José Curvello,
Prof.Dr. Luiz Iasbeck, Prof. Dr. Rudimar Baldissera, Profª Drª Maria do Carmo Reis,
dentre outros.
- Obras referenciais para o campo de CO e RP.
- Como já destacado, considero a produção bibliográfica nas áreas estudadas ainda
incipiente. Atualmente para os cursos de graduação em Comunicação com
habilitação em Relações Públicas, considero o livro Planejamento de Relações
Públicas na Comunicação Integrada de Margarida M. K. Kunsch (2003) como
referência, quer para Relações Públicas como para a Comunicação Organizacional.
A obra Tratado de Comunicação Organizacional de Gaudêncio Torquato (2002)
juntamente com Comunicação Empresarial: teoria e pesquisa de Wilson Costa
Bueno (2003) se destacam por apresentarem e discutirem também, com o ‘olhar’
do mercado, a Comunicação Organizacional.
- Sobre o campo: há uma identidade brasileira ou latino-americana?
- Acredito que não temos ainda uma identidade brasileira ou mesmo latino-
americana. É possível observar tentativas na construção de uma identidade
brasileira. Essa discussão se faz presente nos Eventos que envolvem as duas
áreas, mas temos um caminho a percorrer, que necessita inicialmente vencer
divergências internas, especialmente do ponto de vista conceitual.
- Atuação das entidades de classe (profissionais e acadêmicas) e do
mercado de trabalho com relação à Comunicação Organizacional e às
Relações Públicas.
- Penso que as entidades de classe necessitariam ser mais dinâmicas e proativas
na sua atuação, promovendo atividades que aproximassem os seus filiados e
estreitando as relações com o mercado.
- Abordagem de Comunicação Organizacional e Relações Públicas nos
cursos de Comunicação Social.
- Já é possível afirmar que a Comunicação Organizacional vem ganhando espaço
nos cursos de Graduação em Relações Públicas, inclusive como denominação de
disciplina. Como sou titular da disciplina na Faculdade de Comunicação Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no curso de Graduação e no
Programa de Pós-Graduação, posso testemunhar sobre o interesse que a
Comunicação Organizacional desperta nos alunos (especialmente da Graduação),
ao possibilitar o melhor entendimento e compreensão sobre a atividade de
Relações Públicas.
- Estudo do mercado para ajustar a teoria à prática.
- O estudo do mercado é salutar e necessária no processo de ajuste da teoria à
prática. Contudo, é preciso ter cuidado para não ‘pensar’ o mercado descolado da
teoria. Teoria e prática necessitam estar em constante diálogo, evitando-se a
fragmentação e/ou banalização do conhecimento das áreas de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas.
- Percepção sobre a influência de imagem e de identidade sobre a ação da
Comunicação Organizacional e das Relações Públicas.
- Acredito que ainda há um desconhecimento de parte de gestores sobre a
relevância da Comunicação nas suas organizações. No 1º semestre de 2005
desenvolvi módulos sobre Comunicação Organizacional em três cursos de pós-
graduação: Especialização em Comunicação, Gestão e Marketing Turístico,
Especialização para Gestores Universitários e em um MBA sobre Gestão de
Pessoas. O que desde logo chamou a atenção foi o interesse pela área e a
constatação que as organizações não investem em Comunicação Organizacional,
ou se investem o fazem de forma desarticulada, sem políticas norteadoras. E no
caso das Relações Públicas o desconhecimento é ainda mais significativo. Talvez
fosse necessário, e especialmente no caso das Relações Públicas, enfatizar a
relação direta dessa atividade com a Comunicação Organizacional, o que poderia
tornar mais fácil aos alunos (e também aos profissionais) explicarem, quando
indagados, o que é afinal Relações Públicas e para que serve.
É possível perceber entre alguns colegas um certo ‘desconforto’ quando as duas
áreas são abordadas, pois acreditam que Comunicação Organizacional está
‘acabando’ com as Relações Públicas. Como será isso possível, na medida que cabe
a essa atividade o planejamento e a gestão da Comunicação Organizacional?
Tenho convicção que a imagem e a identidade das duas áreas está sendo
construída (apesar, dos impasses conceituais e disputas de poder) em terrenos
mais sólidos. As novas exigências do mercado e da própria sociedade tendem a
valorizar cada vez mais aquelas áreas que aproximam pessoas, que favoreçam
relacionamentos, que estimulam transparência e ética nas relações. Relações
Públicas e Comunicação Organizacional são áreas que podem ‘fazer acontecer’, ao
viabilizar e materializar essas expectativas.
Anexo C-4
Entrevista com Ronald Mincheff, Presidente da agência de Relações Públicas
Edelman, na sede na empresa, em 29/07/2005
- Entende que haja um conceito, para o senhor e para a Edelman de
Relações Públicas e um de Comunicação Organizacional? Entendem que há
duas áreas diferentes ou que há uma fusão, uma dependência, uma
interdependência. Como é que vocês enxergam esses dois conceitos?
- Então, explica pra mim a diferença entre RP, se a gente entende a diferença, que
haja uma diferença entre RP e...?
- Comunicação Organizacional.
- Dentro das empresas, você diz?
- No trabalho de vocês, esse termo é reconhecido por vocês: Comunicação
Organizacional ou Comunicação Empresarial?
- Sim, lógico. Mas quando você fala, assim: existe a comunicação empresarial
tanto do lado do cliente quanto do lado da agência. Então o cliente tem uma...a
Comunicação Organizacional que eles estão projetando lá de dentro que não,
necessariamente, ligam uma agência. A agência tem comunicação empresarial,
que na verdade é parte de um serviço ou conceito que a gente está oferecendo pra
clientes ao mesmo tempo. Então eu sei se você está vendo isso como duas coisas
distintas: no cliente e na agência, ou como um tema...
- Como um todo.
- Ou como um tema...
- Abrangente.
- Abrangente. Eu acho que sim, existe o termo, mas não é um termo que nós
estamos usando no dia-a-dia, não é uma coisa que a gente está colocando dentro
das nossas propostas, porém em outras terminologias, sim. A gente cobre isso
para os nossos clientes e a gente vende isso para os nossos clientes. Veja bem:
comunicação empresarial não é apenas a RP, pode ser Publicidade também, pode
ser uma série de ferramentas de comunicação que chegam e não chegam em RP.
Primeiramente porque comunicação, não existe uma linha muito clara: a onde vai
RP, onde começa publicidade, onde começa a promoção. Eu também faço alguns
tipos de publicidade. Mas dentro do que a gente acredita que a comunicação
empresarial ou organizacional...sim, a gente entende que há distinções e há
sinergias, mas é o campo onde a gente atua.
- Perfeito. E como é que no Brasil, no mercado brasileiro, a globalização
tem influenciado esse processo?
- Olha, agindo das maneiras mais distintas, quer dizer: para o melhor e pra o pior.
Então para o melhor, tem trazido uma certa sofisticação, tem feito com que o
mercado evolua de uma forma profissional, tem sido que os clientes dentro de
grandes corporações sejam mais exigentes, mais objetivos, ele tem uma cobrança
da Matriz para implementar uma séries de atividades, isso eles só podem fazer
através de uma agência. Então o cliente começa a pedir mais profissionalização. E
por outro lado, quando você tem esses clientes que você atende em vários países,
que nem essa mulher que eu liguei agora em Miami, é uma mulher que está com a
gente em cinco mercados, um cliente que está com a gente em cinco mercados da
América Latina, tem certas formas de comunicações que vão ser feitas em três ou
cinco mercados porque faz sentido. Comunicação que vai ser feita nos cinco
mercados, reportagem alinhada. Então isso tem se sofisticado e até com
tecnologias, quer dizer, quando eu cheguei ao Brasil em 1994, não se usava
PowerPoint. Então quando for lá fora e fizer a tua apresentação, estará
representando o Brasil. Ele não quer ler, ele quer ver, porque ele está acostumado
a ver isso lá. Então tem trazido vários avanços: em metodologias, em tecnologias,
em maneiras de apresentar e em maneiras de reportar, e dentro das coisas chatas,
que dizer, quando um grande cliente te chama e diz: - “Eu vou fechar com vocês,
eu vou pagar X, mas eu quero um desconto e ta-rá-rá”. Ou quando compras é
quem está procurando uma agência de RP. Então você recebe uma ligação de
alguém que não tem a menor idéia, que não tem o menor conhecimento do que é
uma agência de comunicação: como ela pode ajudar, o que ela está propondo? Por
que é que o treinamento de porta-voz com os jornalistas internos versus gente
conhecida do mercado pra fazer simulação, seria mais vantagem? Não esta nem aí
se a pessoa é registrada ou não é registrada, não estão olhando currículos para
entender, qualitativamente, o que é que eu estou selecionando para a minha
empresa, ele ta procurando custo. Então, quer dizer, é muito possível que um
concorrente (diga:) eu sou a melhor agência, eu tenho a melhor sinergia, melhor
conhecimento daquele mercado e eu não vou ser escolhido porque o meu preço
não foi entendido e foi maior. Então, a globalização tem trazido, de uma certa
forma, investimentos estrangeiros, enquanto há dez anos atrás você tinha três
agências multinacionais, hoje você tem essas mesmas três multinacionais e uma
série de agências que estão afiliadas com grandes...quer dizer, com os top ten no
mundo. Você tem, hoje em dia, eu diria 8 a 10 agências que ou são multinacionais
ou com essas afiliações, que têm um acesso a bancos de dados e know how,
assim, de todo e qualquer tipo de situação delicada ou situação inédita no Brasil,
em que você vai ver os acertos e erros do companheiro lá na Alemanha, e
implementar e tropicalizar para o Brasil. Então de uma certa forma, essa
globalização trouxe um enriquecimento pra indústria como um todo, trouxe muitas
possibilidades, trouxe uma visão internacional, trouxe avanços na
profissionalização da indústria; e por outro lado trouxe coisas muito chatas.
- E como é o relacionamento, o fluxo de informações entre as diversas
agências da Edelman, especificamente Brasil e México?
- Não poderia ser melhor. Há grande sinergia entre os diretores gerais. Inclusive
fui eu quem apresentei Tim Scerba (presidente da Edelman no México) para a
organização. Ele foi meu colega em Miami primeiro, depois foi transferido. Todo
mundo conhece todo mundo. Eu já trabalhei com o Ramiro (Prudêncio, presidente
da Burson no Brasil). Eu trabalhava na Burson no Brasil, ele trabalhava na Burson
no Chile. Eu fazia projetos pra ele no Brasil vice-e-versa. Hoje nós somos
concorrentes, mas assim, com uma certa amizade.
Mas voltando à tua pergunta: 1) tem grande amizade e grande troca de
informações entre os setores, entre as duas agências e entre os dois diretores; 2)
a gente tem uma série de clientes em conjunto, inclusive a gente está se falando o
tempo inteiro se é pra UPS, se é pra Boeing, e uma série de clientes que a gente
tem em conjunto. A gente tem times trabalhando juntos. Então se você for aqui na
redação e começar a falar: com quem você fala no México? Ele vai falar: - Eu falo
com o Miguel, eu falo com a Astrid, eu falo com Rosa; e a gente tem essa filosofia.
Ela mantém uma distinção muito importante: que ela não é pública. Então a gente
se considera dentro do mundo, a Edelman, uma extensão de uma grande família.
Todo mundo é realmente assim, tipo se gosta e se conhece há anos e anos e anos.
Então a troca de informações e experiências, dificuldades, momentos delicados
com o cliente é contínuo, o contato via e-mail é contínuo. Quando um cliente
procura, muitas vezes, ele tá procurando...tem um cliente que chega, que quer
Brasil, daí disse que tem um cliente que quer regional. Regional implica sempre
Brasil e México, sem dúvida alguma, num segundo nível sempre vem Argentina e,
de repente, Chile. Antigamente Venezuela estava nesse mesmo grupo e a partir
daí, os outros mercados. Mas Brasil, então, sempre que existe uma oportunidade
de negócios que a gente está concorrendo, é sempre os dois mercados juntos,
então às vezes ele está liderando, às vezes eu estou liderando, e a nossa
reportagem é única, nós temos o mesmo chefe que cuida da mesma região, então
não poderia ser melhor.
- As Relações Públicas no Brasil, a comunicação do Brasil foi muito
influenciada pelos Estados Unidos, o caso inclusive, das próprias agências
que estão aqui, das multinacionais, todas elas norte-americanas. Você
acha que hoje já existe um perfil de Relações Públicas e comunicação
brasileiro, latino-americano ou ainda estamos fundamentalmente
baseados no que vem dos Estados Unidos?
- Bom, vamos estabelecer primeiro que a indústria das Relações Públicas surgiu
nos Estados Unidos. Então foi um mercado muito evoluído ao longo de muitos
anos. Então a influência só poderia ser assim, principalmente ou dominantemente
americana. Aí você tem as grandes multis que chegaram, também as americanas.
Então você tem uma visão de comunicação corporativa bem americana. E aí eu
diria pra você: das grandes empresas multinacionais que estão comunicando e que
tem uma dedicação a RP, tanto com tempo e profissionais quanto com verba, as
multinacionais americanas, realmente estão numa categoria, eu diria superior,
salvo exceções. Aí eu diria pra você que Relações Públicas, no Brasil, não poderia
ser o que são as Relações Públicas nos Estados Unidos por uma série de motivos.
Mas eu diria que a grande diferença é a cultural e está na imprensa. Porque a
imprensa é a verdadeira polícia neste país. Então a imprensa usufrui de uma
credibilidade assim, eu acho que nem mais perde pra igreja. Eu acho que assim,
tipo depois da igreja vem a imprensa. Hoje eu acho que a imprensa, de certa
forma, tem mais credibilidade, porque a imprensa tem a obrigação de trazer justiça
nesse país, porque a polícia não funciona. Então o que acontece: dentro de cada
jornalista, ele sente no coração dele, assim tipo: a missão dele é de achar o
culpado, achar o que é errado, reportar em cima; e é uma credibilidade não
questionada. Em mercados maduros, que nem nos Estados Unidos e que nem na
Europa, RP e Jornalismo são duas indústrias que assim: não vivem uma sem o
outra. Mas por outro lado, em nenhum lugar no mundo eles morrem de amores um
pelo outro. Porém, na Europa e nos Estados Unidos, esse relacionamento é muito
mais de respeito e de troca. No Brasil eu acredito que dentro do Jornalismo, eles
torcem o nariz pros RPs, acreditam que os RPs não sabem comunicar, acreditam
que os RPs estão aí para só mostrar o lado bom da história. Então eu acredito que
pelo mercado, Relações Públicas é entendido como assessoria de imprensa, e
assessoria de imprensa é apenas um elemento do mix do que compõe as Relações
Públicas. O trato dos jornalistas com a Imprensa, que é uma audiência, um
stakeholder importantíssimo pra nós, já não parte do mesmo pé de igualdade e
respeito, enfim, mas essa é a minha visão.
Então eu acho que as Relações Públicas estão avançando, evoluindo no Brasil, mas
longe de ser a prática que é em mercados maduros, mas também outra coisa do
que era há dez anos. Então, mostra avanços, mostra esperança senão eu não
estaria aqui.
- Em um gráfico crescente?
- É, e senão as faculdades não estariam investindo e colocando matrícula de RP e
cursos de RP e especialistas, então eu estou confiante que nós chegaremos lá.
- E com relação aos cursos, às faculdades, às universidades; como é que
você percebe esses cursos hoje no Brasil? Bom, você está no Brasil há
mais de 10 anos e tem uma vinculação bastante forte com o Brasil, é filho
de brasileira, inclusive. Como é que você interpreta o trabalho das
universidades? Você acha que elas vêm formando melhor os profissionais,
porque a gente também entende o seguinte: sempre tem muito isso, de
que a universidade tem certo preconceito com o mercado, e o mercado
tem certo preconceito com a universidade. Acho que ainda tem um pouco
disso aí, por mais sem sentido que seja.
- Eu acho que as universidades vêm se empenhando de uma forma muito
dedicada, muito comprometida, de um grande compromisso com os jovens
talentos e tem dado, eu acredito, uma boa dedicação pra cursos de RP aqui no
Brasil. E tem Cásper Líbero, USP, PUC do Rio Grande do Sul. Encaro de uma certa
seriedade que eles tem dado à nossa indústria. Por outro lado, o estudante, o
aluno brasileiro, e isso é cultural, indiscutível, muito diferente do que o americano,
eu não sei quantificar isso com o mexicano, mas a minha experiência é que os
jovens brasileiros, têm um “fogo” pela aprendizagem, eles têm um assim tipo: não
só vão estudar, mas como querem falar com profissionais, como buscam livros,
como vão ver palestras, tipo ele tem uma busca eterna por fontes de informação,
de aprender o que é novo, de absorver; e isso é tão gratificante, isso é tão gostoso
de ver assim, como um profissional que você quer sair pra rua e abrir quantas
possibilidades e oportunidades junto a clientes para colocar esses profissionais
para trabalhar. Por outro lado, a minha sensação é que as faculdades ensinam de
uma forma muito teórica. Então, lógico, alguém que saiu da faculdade está cru;
tem que ser treinado, de qualquer forma. Mas ele tem um monte de teoria na
cabeça e nada de prática. Mas sempre dizem em todas as indústrias que a prática
você aprende no trabalho, então se é isso, é isso. Eu acho que tem uma dedicação
importante, acredito que os alunos saem da faculdade com conceitos muito mais
teóricos do que práticos, mas com um “fogo” de aprender e implementar que é
muito gostoso de ver. E eles são muitos diferentes do que nos Estados Unidos. Uns
chegam a ser muito bobões no trabalho, eu acho que a carreira dos brasileiros RPs
evoluem muito mais rápido porque há uma abertura; nos Estados Unidos se você
não tem certa idade, um certo perfil, você não vai estar na frente do cliente por
muito tempo. E aqui Brasil você tem executivos júnio ou executivos plenos que já
estão fazendo reunião com diretor de marketing, expostos a situações muito mais
de alto nível, do que lá. Essa é a minha visão.
- E acha que tem evoluído esse perfil? Dos 10 anos que você está aqui no
Brasil, tem melhorado a qualidade desse aluno?
- Certamente. Há 10 anos a minha melhor experiência foi com alunos da USP. USP
realmente estava formando. Qualquer um que eu colocasse aqui que era da USP, ia
cumprir direitinho. Ao longo do tempo está chegando gente de faculdades outras:
Cásper Líbero, por exemplo, assim também tão bem quanto, senão melhor. Eu
acho assim: quando eu cheguei ao Brasil, USP realmente. Talvez eles tinham o
programa primeiro, não sei, mas hoje em dia eu tenho uma série de faculdades...
- Nivelou por cima?
- Nivelou. Eu acho que estou esperando, que eu queria ver nesse sentido, era mais
um pulo qualitativo, mas tem evoluído bem.
- E em relação à produção acadêmica: teses, livros e coisas do gênero.
Isso chega aqui dentro da agência ou é um universo que acaba não
dialogando com vocês?
- Mas...teses como...
- Pesquisas de maneira geral, feitas em pós-graduação, isso é informado
pra vocês? Tem algum nível de contato?
- Dos nossos próprios estudantes, sim, ou alguém que quis compartilhar. Porque
pelo programa de estágios, por exemplo, ontem eu sentei com o Marcelo da Cásper
(Líbero). Estava fazendo a tese dele sobre: como as religiões auxiliam os seus fiéis
em momento de perda, ele falou com o rabino Henry Soebbel, com líderes da
comunidade cristã, islâmica e budista; ele estava me contando, muito interessante,
até gostaria de compartilhar, mas isso é caso típico de alguém que está fazendo
uma tese aqui dentro. E muitas vezes a gente participa, no sentido de.dar
entrevistas..ou a indo na banca ou prestando depoimento; mas sim, chega quando
são dos nossos funcinários ou de repente um amigo de alguém, mas não é uma
forma que está chegando das faculdades para nós.
- Não tem ainda uma rede de compartilhamento.
- Não, não. Seria interessante, eu gostaria. Assim, os temas mais variados, mais
importantes, mas o livro sim. Livro, o que está no mercado e o que sai, vira e
mexe, quer dizer, a gente tem uma biblioteca corporativa que é sobre coisas de
comunicação; até coisas gerais que alguém quer saber, tipo um livro chique da
Glória Calil. Você tem jovens executivos que querem dar essa boa primeira
impressão e não sabem qual meia vai com que cor de sapato. Então a gente tem
uma livraria corporativa aqui que cada um pode pegar o que quiser, que a gente
gostaria muito de incrementar, e essas coisas. Mas como sempre, exatamente
como os cursos, interesses, é fogo saber mais.
- Em relação às entidades de classes, às associações, a Edelman tem
proximidade com alguma? Sente necessidade disso? Como é que funciona?
- As associações, assim, para a indústria de...
- Relações Públicas.
- De Relações Públicas. Então, a gente participa muito da Aberje (Associação
Brasileira de Comunicação Empresarial), nos cursos. A gente acredita que é uma
boa escola, também mais para teoria, mas muito boa; a gente participava no
comecinho da Abracom (Associação Brasileira da Agências de Comunicação), mas
daí a agenda foi uma coisa muito ampla, não dá. Se você quer uma associação,
cria uma agenda então que dá, não para atacar o mundo e ter sucesso com tudo.
Então a gente sentiu que a agenda da Abracom estava ampla demais. Ainda
recebemos material deles, vira e mexe participamos em alguma coisa que eles
estejam fazendo. Temos um relacionamento muito estreito com a Aba (Associação
Brasileira de Anunciantes), eles fazem um trabalho muito sério, muito alto nível,
sempre nos convidam para dar palestras e participar em fóruns deles, a gente acha
que é importante; faculdades também a gente tem muito boa relação, sempre
estamos dispostos quando querem alguma coisa, como essa entrevista. Mas fora
esses, não me vem mais outros à cabeça, não sei se você tem uma pergunta
específica de alguma.
- Não, então...é que existem algumas associações de Relações Públicas,
mas elas também não procuram vocês, como a ABRP (Associação
Brasileira de Relações Públicas).
- Pouco, pouco.
- E só pra gente fechar: como é que você interpreta que seja hoje o perfil
ideal de um profissional de Relações Públicas? A gente tem esses egressos
que, como você disse, têm esse perfil de gana, de busca, de...
- É, eu escrevi aqui (mostrando a Revista Ação, um periódico do Curso dce
Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero), aqui eu não sei se você viu isso.
- Vi, sim.
- Eu respondo essa pergunta na entrevista, você pode dar uma olhada, se você
quiser. Mas ele é muitas coisas, é uma pessoa muito curiosa, alguém que acorda
pela manhã, sabe o que tem que fazer e faz acontecer. É alguém que é corajoso,
não tem medo de testar ou acertar ou errar, é alguém informado, é alguém que
gosta de ler jornal e internet, alguém que, preferencialmente, fale línguas. Entre
elas inglês e espanhol. Inglês é fundamental porque muitos dos clientes que estão
começando querem material tudo de fora que você tem que adaptar, o conceito
que vem de fora você tem que adaptar. E espanhol é essencial porque está
rodeado de...
- Hispanoparlantes.
- Hispanoparlantes. Agora, a oportunidade aí é que assim: se o Brasil vai ter um
papel de liderança, então tem que falar a língua, porque o brasileiro já é o
candidato natural para ter aquele cargo regional, mas se eles não conseguem
conversar com seus pares então, de repente, um argentino ou peruano vai pegar a
vaga porque está mais qualificado para poder comunicar com a matriz. É alguém
que sempre quer mais, que não quer ficar aqui, quer aprender, quer fazer, quer se
projetar, que é muito curioso, que tem uma postura correta e profissional.
Anexo C-5
Entrevista com a Profa. Dra. Sidinéia Gomes Freitas, professora Titular da
Universidade de São Paulo e ex-presidente do Conselho Federal de Profissionais
de Relações Públicas, em 13/07/2005, no Departamento de Relações Públicas,
Propaganda e Turismo da ECA-USP
- Se você puder, dê o panorama do que entende por Comunicação
Organizacional e por Relações Públicas.
- Na minha visão, a Comunicação Organizacional ela não se restringe às Relações
Públicas. Se trata de uma área mais abrangente, que a meu ver, se refere a todos
os meios de comunicação: a publicidade, propaganda, a própria assessoria de
imprensa, enfim, a tudo aquilo que efetivamente caracteriza aquela visão da
organização via comunicação. Enquanto um organismo vivo que se comunica.
Portanto envolve também a comunicação interna, porque se nós fomos pensar
bem, uma organização – como que ela vai existir sem a comunicação? Inclusive a
comunicação digital, por que não?
Então, eu acho que o tema em si é extremamente abrangente, e Relações Públicas
está nesse contexto. É essa a visão que nós temos de Comunicação
Organizacional, que se materializa aqui, sem dúvida, como uma linha de pesquisa
ampla.
- E no âmbito acadêmico? Você acabou de dizer que aqui se materializa a
Comunicação Organizacional. Como é que você entende o diálogo da
Comunicação Organizacional e das Relações Públicas no âmbito
acadêmico?
- No âmbito acadêmico, eu te diria que em que pese a posição de uma profissional
de Relações Públicas, sem dúvida, que a visão ampla de todas as ferramentas das
quais uma organização pode se utilizar para buscar eficiência e eficácia da sua
própria comunicação, sem dúvida que Relações Públicas caminha nesse sentido.
Ela é uma área de formação ampla, genérica, que passa pela leitura dessas várias
visões. Então eu creio que a Comunicação Organizacional, do ponto de vista da
política estratégica da organização, sem dúvida, depende sim da participação de
profissionais em Relações Públicas. Principalmente profissionais com experiência,
com laços, cultura geral, enfim, eu vejo desta forma. Eu creio que nós fomos, sem
dúvida, um eixo importante nessa discussão.
- E com relação às bases conceituais que nós temos hoje,
fundamentalmente, elas vieram dos Estados Unidos, vieram da influência
Norte-americana. Você entende que hoje a gente já tenha uma identidade
dessas duas áreas ou de cada uma dessas áreas no Brasil?
- Olha, interessante que alguns anos atrás, pra mim foi uma novidade, mais ou
menos 7 ou 8 anos atrás, onde nós tivemos oportunidade de percorrer alguns
países da América do Sul e até de uma forma, um pouco antes do que o Brasil, o
termo utilizado já era Comunicação Organizacional. O Brasil estava iniciando na
época esse tipo, vamos dizer, de uso de terminologia. E ao contrário, eu acho que
a tendência é essa mesma. Hoje você tem quais limites entre as áreas do
conhecimento? Se você tem uma visão trans, multi, interdisciplinar, obviamente
termos mais abrangentes vão aparecer como demanda da sociedade globalizada.
Então eu acho que é até natural o termo: Comunicação Organizacional. Tanto eu
penso assim, que preocupada com a questão acadêmica, eu particularmente,
considero que já há algum tempo, não sei precisar exatamente quando, mas que
acaba sendo errado, na medida que ela forma por habilitação. Porque se nós
formos pensar no futuro, ou se formos simplesmente comparar com o mercado,
essas habilitações já desapareceram faz tempo. Existem novas habilitações. É
como...até nesta minha forma de pensar, eu já coloquei isso em artigos publicados
e tudo mais, então eu acho que não tem nada a ver com a besteira que diziam
daqueles....lembra-se da formação que era polivalente? Ao contrário! Hoje em dia
a gente tem mesmo que ser polivalente, na minha visão....não é voltar ao
polivalente, porque na época não existia Comunicação Organizacional, não se
falava nisso...hoje existe produção, visão...então eu acho engraçado esse contexto
todo, nós ainda estarmos formando da forma como a universidade forma. E acho
que ela está dissociada da realidade.
- Na verdade, talvez ela esteja formando com habilidades que talvez não
sejam suficientes. Precisa de mais habilidade...
- Pois é, cada vez mais. As demandas são por mais habilidades, os perfis
profissionais...
- Percebemos isso na pós-graduação.
- Exatamente. Quais são os limites? Por exemplo, se for pegar o que de
interessante de propaganda institucional e Relações Públicas. Quais são os limites
de certas atuações da área de Jornalismo? Que esta, muitas vezes, se diferencia de
uma forma muito clara, não é isso? Eu vou pegar, por exemplo, uma boa
assessoria de imprensa feita por um profissional ou outro que não necessariamente
rotulado como jornalista e relações-públicas. E aí é bom que se diga que a questão
da formação ampla, da generalidade, sempre foi uma característica dos RPs, ou
não? A própria legislação diz isso.
- Sidnéia, em relação a essa influência norte-americana que a gente teve e
essa percepção que você teve aí de América Latina que de alguma maneira
também é uma das minhas preocupações, como é que você percebe a
influência desse processo na produção bibliográfica e científica do Brasil?
- Bem, eu acho que nós, por incrível que pareça, pelas andanças aí; ao contrário, o
Brasil começou a percorrer seu próprio caminho. Ainda que pesem as discussões
acerca da cientificidade da área, ainda que a produção esteja longe do desejável,
em termos, eu diria: muito mais quantitativo, de visibilidade e tudo mais; eu acho
que não, eu acho que nós temos o nosso próprio campo. Nós temos a nossa
própria maneira de ver, e vou mais longe: é necessário também um repensar mais
amplo na medida , você veja, a quebra de fronteiras, formações diferentes, se eu
for comparar Brasil-Colômbia, Brasil-Chile, Brasil...enfim.
- México...
- México, né? Você vai perceber que além de tudo, os estados-nação que hoje se
reúnem e discutem, reciprocidades, inclusive de legislação trabalhista, estão a
exigir, percebe? Discussões muito mais sérias, que ai quando se fala: Ah! Tem a
questão da lei, contra ou a favor da lei...só que tem um detalhe: o que é exclusivo
daqui deverá ser exclusivo de lá e a recíproca é verdadeira. Então os mercados
também hoje são globais. E se os mercados são globais, eu penso muito mais no
mercado latino do que de qualquer outra forma. Porque se nós formos analisar
bem, o que interfere aí são os comportamentos, as culturas, aquilo que é história
de cada país, em que tem coisas em comum.
Eu acho que a influência hoje, se comparado com a formação da minha época, que
eu sou da década de (19)70...pra cá? Nossa...mudou muito. Os americanos, eles
continuam, tecnicamente eu acho, que apontando vários cases e princípios, os
paradigmas; sem dúvida, até na própria área, se mantém no mundo todo. Só que
evidentemente a aplicabilidade disso, até por fatores culturais, foi se dando de
forma diferente, com discussões diferentes. Então eu acho que o Brasil já tem
hoje, sua própria história.
- E falando de história, como é que você percebe a evolução cronológica
em termos de produção científica nessas duas áreas? CO a RP começaram
a ter alguma produção mais científica...
- Olha, a minha vivência no Ministério da Educação e Cultura, onde nós vimos o
país na área de comunicação, a visão não era só RP, eu te digo claramente: nós
somos, dentro do campo da comunicação, só em termos, por exemplo, de carreira
acadêmica, vamos pegar só carreira acadêmica, eu não estou falando ainda de
mercado, que esse se transformou mais ainda. Só em termos de titulação, nós
somos o segundo. Jornalismo nos bate, mas nós estamos na frente, por exemplo,
de outras habilitações do campo da comunicação.
- Publicidade, por exemplo?
- Estamos na frente de publicidade. Nós temos mais doutores, mais mestres. Eu te
falo isso com dados que eu analisei durante 8, 9 anos lá em Brasília. Então, ao
contrário, eu vejo também que há substância, eu vejo qualidade em muitos casos.
E vejo também, sem dúvida, algumas produções ainda superficiais, fracas,
festivas...sim, ainda existe. Mas eu vejo mais solidez, mais crítica, mais discussão.
Eu acho que intelectualmente, os profissionais de Relações Públicos vêm crescendo
sim. Acho mais: o grande mal é a falta de visibilidade. Verifique aqui na biblioteca
da ECA, quantos são oriundos de RP? Que carreira fizeram? Uma vantagem:
passou do nível de graduação, houve uma abertura dos profissionais que foram
para outras áreas, e eu acho que isso é uma coisa saudável.
Então eu acho que, ao contrário, eu acho que RP não está, agora, isso no campo
acadêmico. No campo do mercado de trabalho, a guerra é pelo emprego, é pelo
espaço de trabalho. Aí eu acho que os RPs precisam aprender um pouco mais a
convivência com o poder, ainda que seja esse poder que a gente esteja vendo hoje
na mídia. Com toda essa parafernália aí que a gente vê de corrupção, mas eu acho
que os profissionais em Relações Públicas, nesse campo, eles...eu acho que se
comprometeram menos, o que eu acho extremamente saudável. Veja bem: não se
sabe na história de um RP que tenha sido porta-voz do Presidente da República,
não é? Então eu tinha certeza que nós não iríamos perder em não fazer esse tipo
de coisa. E há questões éticas. Eu já fui inclusive refutada por colegas que eu
respeito, que eu adoro, de que a ética não é exclusiva de uma profissão...não é
exclusiva de uma profissão...óbvio que não é. Esse dever me parece estar
colocando o óbvio em questão. Mas sempre houve uma ética, isso não quer dizer
que todo RP é santo...não é isso. Mas nós discutimos até que ponto o colega, por
conta de um emprego, de um status, de bom salário, não estava fazendo o jogo do
capitalismo selvagem. Isso era discutido já na minha época e ainda surge nas
discussões dos RPs que têm um código de ética como outras profissões têm
também.
- Bom, você acha que hoje já dá para se destacar pesquisadores em uma
ou outra área? Ou ainda esses pesquisadores transitam, trafegam.
- Ah… quando a gente fala em pesquisa, eu acho que isso nos remete à linha de
pesquisa...eu acho...ainda mais no mundo de hoje. Você tem as macro linhas de
pesquisa e dentro disso começa a ser independente se o indivíduo é formado nessa
ou naquela habilitação. O que vale aí é a qualidade do profissional.
- Você acha que há representantes...
- Há...sem dúvida, sem dúvida.
- Quem você citaria? Sem se preocupar em, eventualmente, esquecer
alguém, não tem problema.
- Olha, eu acho que nós já temos bons pesquisadores. Alguns independentes da
formação em RP. No meu campo, que é mais voltado para a cultura, nós temos
Marlene Marchiori, nós temos o Curvelo. Nós já temos bons pesquisadores, até
sérios na área de Relações Públicas; por exemplo, cultura e Comunicação
Organizacional, a Marlene Marchiori que, sem dúvida, fez boas produções no
campo, eu diria. Do pioneirismo da questão da Comunicação Organizacional, sem
dúvida, a Margarida (Kunsch). As pessoas, por exemplo, às vezes não se dão conta
mais da questão da comunicação interna. Quem sempre se preocupou com
relações humanas no trabalho, fui eu. Basta analisar os textos minha produção: é
voltada pra isso. Então é óbvio que eu trabalharia comunicação interna. Me parece
óbvio...cultura...é uma trajetória, quer dizer, que leva a essa comunicação e
cultura. Porque eu procurei saber também qual era a correlação teórica. A gente
pesquisou pra se localizar. Porque eu nunca acreditei em qualquer trabalho de
comunicação que não começasse com o público ex-chamado, denominado: público
interno, agora público não-essencial, segundo as novas classificações. Não-
essencial...e outra coisa: mas é constitutivo do negócio na medida que ele está ali
com tal, senão ele não é constitutivo. Porque eu continuo achando que a
comunicação é saudável, eficiente, eficaz e boa. Comunicação da organizacional
começa e termina com o público interno...eu já escrevi isso...ou com o pública
não-essencial: colaboradores, empregados, servidores, funcionários, como você
quiser denominar. Isso já ta escrito, eu já havia dito isso faz tempo.
- Sidnéia, você tem algumas obras que você acha que são referenciais para
a construção desse campo no Brasil? Desses campos no Brasil?
- Da Comunicação Organizacional?
- E Relações Públicas.
- Sem dúvida, sem dúvida. Eu acho que uma das coisas que poderia acontecer,
que seria muito saudável, é que alguma editora se interessasse em publicar tudo
que nós temos aqui nessa biblioteca da ECA, porque eu sei que tem muita coisa
aqui. E tem coisas que eu acho que valem a pena. Quem é que começa, a partir do
campo da Comunicação Organizacional? Sem dúvida, eu acho que nós temos
acadêmicos, pesquisadores que não necessariamente sejam oriundos da área de
Relações Públicas, e que já vêm falando de Comunicação Organizacional...são
vários. Eu acredito mais: esse caminho é um caminho inevitável. Assim como vai
ser inevitável você deixar de olhar pro que ta acontecendo no mundo do trabalho,
e adaptar essas coisas aos sonhos acadêmicos. Eu não vejo diferente.
Eu acho que nós temos já, acho que condição intelectual de começar a reunir
muita coisa. E sem dúvida, que isso perpassa pela comunicação interna, isso
perpassa não só pela comunicação interna, mas perpassa pelo campo da
publicidade, da propaganda, do marketing, do jornalismo, aqueles que se
dedicarem a esta visão, que é completamente diferente dos estudos voltados pra
mídia, pro veículo, né? Porque a visão da Comunicação Organizacional é a mesma
que os RPs sempre tiveram. A nossa visão é de que as mídias, os veículos, eles são
meios e não fins da comunicação da própria organização, com seus diferentes
segmentos de público.
- Com relação aos cursos de pós-graduação, você atua já há muitos anos.
- Muitos anos.
- No principal curso, no referencial, no ponto de partida. Como é que você
vê em termos de quantidade e qualidade dos cursos que abarcam esses
campos? Independente das linhas de pesquisa.
- Olha…
- Não são muitos, não é?
- Eu considero uma pobreza enorme dos gestores, da iniciativa privada. E acredito
que uma hora isso deverá ser mensurado, medido, avaliado o não-investimento em
pesquisa no campo da comunicação. Nós temos um número limitadíssimo de
programas de pós-graduação com uma produção razoável, há corrupção até
mesmo no estabelecimento das notas, das avaliações, nós sabemos. Acho que isso
é uma coisa que tem que ser colocada. Não dá pra esconder. E tenho certeza
absoluta que apesar de nós estarmos, hoje aqui na ECA, com uma nota, eu diria,
não tão louvável, nós simplesmente formamos já pesquisadores pro Brasil inteiro.
É lamentável que isso ocorra. Nós temos uma demanda violenta, uma média de
dez candidatos pra uma vaga. Gente muito boa que não tem espaço. O que vai ter
que pagar na iniciativa privada os poucos programas que tem. Pra mim não dá pra
entender a universidade.
- São poucos os programas, sem dúvida nenhuma. E você crê que a qualidade
desses programas que existem, é uma qualidade alta, média ou não é muito...
- É claro que eu sou suspeita, mas eu acho que a nossa qualidade não é baixa não,
nossa qualidade é boa, dentro da linha de pesquisa em que eu me insiro aqui, eu
não acho que nós tenhamos, mesmo não senso perfeitos, mas no geral é mais pra
minimamente de regular a boa, fazendo um julgamento crítico mesmo. Algumas
coisas são excelentes, até modificam paradigmas, dão até outros rumos para as
coisas. Creio também que os dois grandes programas são o que nós temos (ECA-
USP), e o semelhante seria o da Metodista, que não tem necessariamente as
mesmas linhas de pesquisa. Nós temos algumas produções interessantesi na PUC
(SP), mas é muito pouco ainda, não tem muitos temas. E temos aí programas que
até estão recebendo nota acima da nossa. E nós sabemos muito bem que não tem
qualidade nem quantidade, mas está tendo, está tendo boa avaliação e tal. Eu
acho que precisa é um investimento muito maior da parte da iniciativa privada pra
que essa produção... não adianta também outros espaços, nós temos como dar
conta. Essa demanda enorme, nacional e em alguns casos até internacional. O fato
é desumano...chega a ser desumano o nosso caso. Mas eu acho que não, eu acho
que tem produção sim...e não tem jeito. Eu acho que isso requer investimento.
Não é só papel do Estado não.
- Com relação às entidades de classe, qual é a sua visão sobre o momento
que nós vivemos? Temos a ABRP que, teoricamente, teria uma relação de
divulgação da profissão, tem o Conrerp, de fiscalização, tem a Abracom
que é uma associação nova das agências, a Aberje, que não exatamente
trabalha com a profissão, mas trabalha com os profissionais. Como você vê
a atuação deles em termos de atendimento e de demanda? Em termos de
eficiência?
- Olha, eu penso o seguinte: eu já participei de tudo isso, né? Bastante, durante
muitos anos da minha vida eu me dediquei a isso, até por uma questão de ser uma
profissional consciente da colaboração que nós devemos dar a todas essas
associações. A gente deve sim participar, colaborar até como cidadão. Acho
importante que participe, que faça, que não pense de forma egoísta, entendeu? –
“Só eu, a minha carreira, a minha...”, não! Nós somos identificados com a nossa
formação, com a nossa profissão. Então eu considero, em primeiro lugar, louvável
todo aquele profissional que contribui de alguma forma pra que uma porção, seja
ela qual for, que se viabilize mais, se amplie. Mas tem isso também: que o mundo
globalizado, a sociedade que nós vivemos hoje, ela está exigindo novas atuações,
novas performances em todas essas entidades, né? Que ela tem que se abrir muito
mais. Acho que a tendência delas é se mesclar, se reunir, fundir, se adaptar, que é
o próprio papel, né? Do corporativismo, do sindicalismo, vem se modificando
claramente. Numa sociedade que tem hoje, problemas que eram inimagináveis.
Você tem hoje uma forma de acesso à informação diferente. Você tem hoje uma
questão de emprego diferente. Então eu vejo tudo isso no mundo todo, não só
Brasil, como um momento de grande fragilidade do repensar, do reunir, do fundir,
do associar; eu acho que um novo mundo vai se estabelecer nesse campo. Não
ficar como está, se é que está. Fazendo um exercício aqui de futurologia. Como
está não vai ficar, porque ou elas vão se ampliar, reunir-se, discutir, colocar um
outro papel pra tudo isso. Na sociedade vai desaparecer mesmo. Essa é a minha,
vamos dizer, a minha análise. Não sei se estou certa, mas...
- Bem sutil.
- É, é...
- Como você acha que a mídia interpreta esses campos de Relações
Públicas e de Comunicação Organizacional? Você acha que a mídia já
entende?
- Não! A mídia já entende, e hoje, até o contrário, pra não ficar em discussões
inócuas, baratas, impertinentes e idiotas, eles até preferem os campos mais
amplos e tal. Até porque pode juntar profissionais de várias formações e
colorações, ela fez bem isso aí. Até porque pára com brigas menores, mas é mister
dessa posição, eu continuo te dizendo, eu reafirmo: a área de Relações Públicas já
tinha essa visão ampla. Desde a época que eu me bacharelei, em 1971.
- Seria da primeira turma?
- Segunda turma do Brasil. Nós já tínhamos essa visão mais ampla. Nós não
achávamos que comunicação se restringia a Relações Públicas, não...de jeito
nenhum. E já havia uma diferença. Porque a gente tá do lado diferente, por
exemplo, estou falando daquela época, onde o jornalista era a mídia, era o veículo,
nós não éramos. Nós já vimos essa clareza, essa necessidade de até ter,
obrigatoriamente, visão abrangente. A grande questão é que a gente...você já viu
um profissional com uma visão macro, com 21 anos de idade, ter lá, condição de
assessorar presidente de onde quer que seja, de uma grande multinacional? Isso aí
é uma piada, que continua sendo, aliás...continua sendo.
Eu acho que a nossa área, o limite dela ultrapassa a graduação. E me questiono:
pra que graduação em RP? Tem que ter pós-graduação em RP. A visão ampla que
nós temos que ter num...
- É, que também, há uma demanda, como você já disse, é muito grande de
outros profissionais que migram pra...
- Sim, quantos jornalistas, quantos publicitários, quantos administradores, já vi
engenheiro, quanto advogado, quantos? –“Nossa! Relações Públicas é
maravilhosa”. Já vieram me dizer: - “Olha, eu fiz a área errada. Por que é que eu
não descobri. Minha alma é de RP”. Tudo isso eu já ouvi de gente oriunda de várias
outras áreas. É porque em nível de graduação, às vezes, até a imaturidade, a falta
de vivência, não percebe a extensão desta área, que até pela sua própria
grandiosidade, é difícil sim, se colocar, de demonstrar claramente, vamos dizer,
resultados. Hoje há até mecanismos, modelos de avaliação e tal. Isso já existia nos
Estados Unidos, no passado e tal. Mas eles continuam pesquisando.
- Aliás, é um bom gancho, porque eu também quero falar com você sobre
isso, sobre mensuração.
- Mensurar o intangível, né?
- É...algumas agências estão trabalhando nesse aspecto. A CDN trabalha a
mensuração de assessoria de imprensa. A LVBA trabalha com a
mensuração do planejamento. Como é que você percebe isso no mercado?
O que algumas pessoas dizem é o seguinte: para o cliente não interessa
tanto mensurar porque é caro pra ele. E para as agências também fica
muito caro fazer investimento dessa ordem. E como você mesma disse: é
mensurar o intangível. Veja, ainda há quem faça centimetragem.
- Não, isso é bobagem.
- E algumas ainda usam o discurso qualitativo que também é uma coisa
completamente vaga. Então como é que você vê isso em termos de
mercado?
- Eu vejo isso de uma forma muito interessante, sabe por quê? Porque quem é
leigo não se preocupa nunca em mesurar e a postura é sempre reativa e nunca
pró-ativa e nunca quer investir, vai chamar, como a VASP chamou quando já
estava estourada, um profissional para resolver as coisas, vai pagar mais e não vai
resolver nada mesmo...como não resolve...a postura reativa, ela é reativa, como o
próprio nome já diz.
Eu acho, se a organização tem uma postura proativa, independente da gente
discutir métodos, eu acho que mensurar, avaliar faz parte do processo. E a gente
tem que viver assim, avaliando e se auto-avaliando.
O profissional que também cumpre com a carreira acadêmica, entende bem isso.
Ele passa a vida inteira sendo avaliado, qual é o problema? Ele avaliar
também...isso faz parte...faz parte do planejamento. Não querem investir e nunca
quiseram investir. Imagine o que eles entendem como investimento em
comunicação interna, sabe o quê? Põe lá um profissional recém-formado, quando
muito, põe mais um auxiliar e fala assim: você vai cuidar da nossa comunicação
interna. Ora! Me poupe.
- Jornalzinho, hein!
- Não! Sinceramente, me poupe. Você acha que quem age assim, lá quer investir e
mensurar alguma coisa? Mas não quer mesmo. Perder tempo. Eu acho que a
grande questão que a comunicação vive hoje não é a questão da mensuração, é a
questão da mentalidade dos gestores. Isso é muito mais grave.
- Só pra encerrar: diante de muitos anos de vivência, muitos anos de
experiência, tendo percebido a criação da estrutura acadêmica de
Relações Públicas, esse surgimento do conceito de Comunicação
Organizacional. Você entende que hoje, os dois constituem cada um, um
campo?
- Você fala o acadêmico e do mercado de trabalho?
- Não, academicamente: de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas, você acha que são campos independentes?
- Não, eu acho que vai ser impossível seguir a Comunicação Organizacional sem
RP. É claro, eles podem continuar dando o nome que quiser, inventando nome:
comunicação isso, aquilo, aquilo outro, corporativa, institucional, não sei o
que...blá blá blá...não adianta. E acho mais, acho que qualquer área, independente
de ser RP. Veja: como é que a própria comunicação ela vai se estabelecer, vamos
mais longe: como é que ela vai se estabelecer sem o conhecimento de visão
administrativa? Como é que ela vai se estabelecer sem recorrer aos estudos da
sociologia das organizações, da psicologia das organizações, da antropologia
cultural. Portanto da ruptura que já é recorde metodológico, cultura
organizacional...já é um recorde. Já um recorde dos próprios estudos relativos à
cultura.
Então veja bem: da própria cultura de uma sociedade...como é possível a
Comunicação Organizacional se estabelecer sem uma visão mercadológica? Porque
todo negócio é negócio. E o negócio, primeiro precisa existir, até que para que a
Comunicação Organizacional ou que qualquer outra tipologia, criarem, venha a ter.
A gente tem que fazer o negócio existir, não tem que fazer o negócio se manter?
Não tem que fazer o negócio crescer? Claro que tem. Me parece que é óbvio.
Então além de tudo, eu considero muito pequena...certas discussões que se
colocam e aí eu parabenizo alguns colegas meus da área de RP. Eu tenho orgulho
de colegas meus de RP que têm essa visão macro, que não ficam por aí
preocupados com besteiras, picuinhas. Eu sou duma época onde, por exemplo,
Jornalismo e RP se rivalizavam tanto, que nós não podíamos passar nem de um
departamento pro outro. Fechar as portas. Algumas coisas tão ridículas, tão
pequenas...não cabe mais...não cabe mais. Continuo reafirmando: eu acho que vai
chegar o tempo em que a academia vai precisar mudar a mentalidade, a parte de
certos acadêmicos também não é diferente. É humano, eu diria. Sabe, a mudança
é necessidade do homem. Só que ele precisa estar pronto, né? Para aceitar a
mudança e não entender que quando você fala nessa necessidade, você quer ser
mais um “cacique” no campo da comunicação ou que você quer se sobressair ou
que você quer fazer marketing pessoal. Não, é simplesmente uma questão de bom
senso, você tá olhando, analisando, lendo e tal e sintonizando com o que você
percebe, lê, vê, vivencia, observa ou simplesmente um olhar diário sobre a própria
vida no mundo profissional. É assim que eu vejo.
Anexo C-6
Entrevista com Renata Monte Alegre, gerente-geral da Hill & Knowlton
Brasil, na sede da empresa no dia 8/7/2005
- Você tem uma interpretação do que seja Relações Públicas versus
Comunicação Organizacional? Para você são áreas independentes? Como
você as enxerga? A Comunicação Organizacional seria a comunicação
corporativa? A demanda de uma empresa em relação à comunicação com o
todo?
- Você poderia conceituar RP e CO para mim, para eu me posicionar?
- No México algumas pessoas entendem Comunicação Organizacional
como comunicação interna e Relações Públicas como externa. Aqui no
Brasil ainda há uma certa conturbação, nós a entendemos genericamente
como sendo o equivalente à chamada Comunicação Empresarial só que de
uma maneira muito mais ampla. Porque quando você fala de uma empresa
pressupomos segundo setor, e Comunicação Organizacional primeiro,
segundo, terceiro, quantos setores houver. A Comunicação Organizacional
sendo um campo de pensamento e as Relações Públicas sendo um campo
de atuação. Não sei se essa é sua visão.
- Pelo que entendo é exatamente o contrário. Relações Públicas são as disciplinas,
as ferramentas que você tem para conversar com os públicos. Mas seriam todas as
disciplinas que esse players teriam para lançar mão da comunicação com seu
público. A Comunicação Organizacional estaria dentro do guarda-chuva de
Relações Públicas que seria lançado mão por uma organização de uma empresa,
por exemplo. Então é mais a área de atuação, a Comunicação Organizacional, a
organização. Mas as Relações Públicas, não consigo colocar no mesmo parâmetro.
São as ferramentas, as metodologias.
- Então podemos entender que a Comunicação Organizacional esta contida
nas Relações Públicas?
- Certamente, se você estiver falando de uma empresa. Então por exemplo:
Comunicação interna é uma coisa e Relações Públicas é outra, não concordo.
Porque o público interno está dentro do público de Relações Públicas. Não é tão
simples, a Comunicação Organizacional não é um termo que eu ouça com muita
freqüência talvez seja algo parecido como o que chamamos comunicação
corporativa ou institucional, mas a Organizacional não é familiar.
- Esse é um dos motivos de eu estar pesquisando, pela confusão.
- Claro, as nomenclaturas são absurdas o que percebemos é que na verdade
adaptamos o que é o padrão internacional de Relações Públicas.
- Independente da terminologia, como você entende hoje o caminho
dessas diversas áreas no Brasil? Você percebe a evolução desse processo?
- Vem amadurecendo, nós que atuamos numa multinacional temos as duas visões.
Do que a sua organização faz lá fora e do que seus clientes estão demandando.
Essa diferença já foi maior. Eu estou na Hill & Knowlton há 8 anos, e ela sempre
teve o posicionamento de Relações Públicas. Há 8 anos isso era mais critico,
observo mudanças importantes: demandas de mercados, antigamente os clientes
vinham e queriam assessoria de imprensa, e se surpreendiam quando na verdade
o potencial que eles tinham de notícia, de lançamento era muito maior, e que
outras áreas também podiam ser desenvolvidas além do relacionamento com a
imprensa. Isso era uma coisa desconhecida e às vezes dispersa. Era difícil abrir a
visão do cliente. Hoje a maioria dos clientes chega pela porta da imprensa porque
a demanda que elas têm é maior, mas também eles já sabem que existem
empresas que atuam em outras áreas, e eles em alguns casos até falam que
querem a assessoria de imprensa, mas que também têm interesse nos outros
expertises de Relações Públicas. Hoje estão mais abertos a entender esse lado. E
tem empresa que chega falando eu já tenho assessoria e quero entender como
vocês podem fazer para que a minha comunicação se amplie e que vocês
trabalhem junto da minha assessoria de imprensa. Isso mostra que as empresas
entendem que você pode ter um fornecedor paralelo. A assessoria tem um budget
limitado, mas você precisa de alguma coisa maior, isso em termos de
planejamento é muito mais fácil. Essa é uma frente que demonstra
amadurecimento. A outra frente eu acho que é o perfil de empresa que começa a
nos procurar em termos de prospecção de seleção de agências. Hoje há grandes
grupos nacionais que começam a entender a importância dessa abordagem mais
ampla, não só a assessoria de imprensa até por questões internacionais. E neste
processo eles precisam de uma comunicação mais sofisticada, uma visão mais
ampla. Porque a assessoria de imprensa em outros países demanda
posicionamento da empresa, o que elas fazem na área social, elas precisam ter um
discurso um pouco diferente. Estamos com um trabalho grande, feito com a Vale
do Rio Doce, um exemplo de empresa 100% nacional, que começa a se
internacionalizar e que precisa ter Relações Públicas. Outro exemplo perfeito é a
Petrobras, com a qual trabalhamos dois anos e meio fazendo só Relações Públicas,
não fazendo assessoria de imprensa. Assessoria de imprensa era uma outra área,
outra estrutura, ela entrava como ferramenta das Relações Públicas. Com isso
percebemos esse movimento em termos do empresariado brasileiro entendendo
melhor o que ela significa. E uma terceira frente é com relação a ir à mão-de-obra.
A profissionalização, no início nossa equipe era formada 100% por jornalistas e
quando você fazia uma seleção, todos eram jornalistas. Havia pouco movimento e
não sei por que, pois já existia uma faculdade de Relações Públicas, mas os
profissionais não estavam talvez entendendo os caminhos para se chegar à
agência, ou até não estavam no mercado, faziam o curso mas ficavam em outras
áreas. Agora temos uma demanda de currículo, temos muitos estudantes e
profissionais de Relações Públicas, então sinto uma presença muito maior na
formação dos quadros das empresas. Há um maior amadurecimento acadêmico,
técnico, mas que certamente é um reflexo do que acontece no mercado. Acredito
que estejamos indo por um caminho muito positivo.
- Em relação a toda essa profissionalização tem um campo um pouco
delicado que é a questão da mensuração de resultados. Como é que ela é
feita?
- Veja, essa não é uma questão só de Relações Públicas e sim inerentes ao negócio
seja de qualquer área. Talvez no nosso caso seja mais complicado porque lidamos
com um setor de resultados intangíveis, não sei se um dia isso será resolvido, acho
que não temos que aprender a conviver. E contribuir para que haja um maior
conhecimento por parte dos nossos clientes a respeito dessa ferramenta para que
esse gap diminua, que seja mais fácil de ser absorvido. Mas sempre vai existir.
- E como é o diálogo hoje com os clientes em relação a isso?
- Ele acompanha esse amadurecimento, hoje as empresas já entendem a
quantidade de clipping, a visibilidade que você consegue. É uma das maneiras de
se medir, mas existem outras. Talvez essa seja mais fácil de ser entendida porque
você tem os números ali e resolve uma demanda, paguei tanto e recebi tanto em
troca. Só que esse recebi em troca não é real, verdadeiro no sentido de que se
você tem uma matéria de capa não poderia ter comprado, aquela capa não tem
valor, porém é uma maneira simplista. Acho que as empresas que acompanham
esse amadurecimento conseguem entender que existem outras formas de se medir
o trabalho, nenhuma dessas fórmulas vai substituir o trabalho de você fazer no fim
do mês uma avaliação quantitativa do que foi publicado na imprensa. As empresas
começam a perceber que existem outras fórmulas de você complementar aquela
mensuração que é dada pela análise do clipping. Então aparecem empresas que
querem fazer auditoria de opinião de 6 em 6 meses porque essas empresas
começam a entender melhor a importância de ter um planejamento em Relações
Públicas e se têm planejamento o ideal é iniciar qual é a percepção que existe hoje,
onde você está e o que você precisa fazer para chegar onde quer. As empresas se
propõem então a fazer a mensuração para o planejamento. Quando a empresa
está bancando uma única situação para duas coisas, planejamento e mensuração,
fica muito mais confortável em fazer esse investimento. Com isso estamos
conseguindo fazer periodicamente mensurações de opinião que são apresentadas
em complemento ao resultado do clipping, mas que você já começa a mostrar uma
análise qualitativa do que são os resultados daquele plano de comunicação do
período, acrescentando em slides mostrando o que o jornalista pensava seis meses
atrás e o que ele pensa agora. É um processo de amadurecimento e então no
futuro talvez você consiga estimular pela porta da imprensa, que é onde a
demanda existe. Ao mesmo tempo você talvez consiga replicar esses modelos que
hoje não são tão prioritários. E é o que está acontecendo. É um processo lento e
gradual. Não podemos dizer de modo algum que o mercado não está entendendo o
que é, ele entende só que é lento. E nós temos que ter essa sensibilidade para
acompanhar e para promover e incentivar. Nos também temos o compromisso de
formar a opinião a respeito do que são as Relações Públicas, porque nós temos que
formar o mercado até para podermos desenvolver 100% da nossa capacidade. O
resultado do nosso trabalho não é só o clipping ou até a evolução da visão da
imprensa, também é a cultura de comunicação que vamos deixar na empresa. Esse
patrimônio, esse retorno, as empresas deveriam exigir de qualquer agência
contratada. Frisamos esse aspecto educacional do nosso trabalho e este é o
patrimônio que deixamos para os nossos clientes com certeza. Temos muitos
workshops de comunicação que fazemos internamente para os nosso clientes, os
nosso media training são amplos, não falamos só de relacionamento com a
imprensa para que possamos trabalhar nossa plenitude. Porque se não for assim,
nos igualamos
à assessoria de imprensa e o nosso posicionamento é completamente outro.
- Em relação ao mercado você já deixou bastante claro qual é a sua
percepção sobre seu desenvolvimento, que há um processo de migração
para uma evolução. Em relação às agências, ao mercado especificamente
de Relações Públicas, como você entende os diversos players que estão
hoje no mercado, as agências internacionais e nacionais. Você acha que
elas já têm um processo de maturação?
- Justamente, temos hoje perfis de agências de fornecedores para os vários
clientes. É nisso que vejo uma grande diferenciação. Quando falam que o mercado
de Relações Públicas é muito grande com agências, a competição é grande. De
jeito nenhum, isso é a visão do cliente que pode fazer a seleção desde o jornalista
que trabalha em casa até a Hill & Knowlton porque você está falando com “bichos”
diferentes. Se for um cliente consciente da sua necessidade ele vai ter uma série
de boas opções para suas necessidades. Há no mercado empresas que oferecem
serviços especializados até aquelas com visão ampla de Relações Públicas. O que
eu acho errado, um desserviço para incentivar esse amadurecimento são empresas
que estão no nicho e se dizem atuando no todo, porque aí do outro lado você tem
um cliente que é educado, formado, ele não tem essa visão do que é ou não é.
Quando isso acontece todo o mercado de Relações Públicas perde, você acaba
tendo uma visão errada do serviço. Por que é um desserviço? Porque naquele caso
especifico você está voltando um passo para trás, se aquela pessoa estava em
processo de amadurecimento e teve uma experiência traumática que o faz voltar
vários passos. Uns puxam para cima e outros para baixo, a questão é saber quem
vai ganhar. Enquanto for a questão do custo, isso vai ser muito complicado porque
temos uma série de situações nas indústrias e no mercado que fazem a destruição
do valor são empresas que atuam numa faixa muito baixa de preço porque não
pagam impostos e destroem o valor de todo mercado. Tentamos ter desde o início
o discurso muito claro do que é o nosso trabalho.
- Com relação às universidades você já deu um patamar panorâmico de
que houve uma evolução principalmente na área de Relações Públicas.
Qual a relação da Hill & Knowlton com as Universidades? Qual a recepção
e o retorno?
- Eu esperava que existisse uma proatividade muito maior do meio acadêmico para
com o mercado. Tudo que fazemos é proatividade nossa. Buscamos abrir com
nossos clientes parênteses para cuidar da nossa própria comunicação, do nosso
próprio marketing, então temos uma estrutura da própria equipe de atendimento,
mas são pessoas que têm outros chapéus e que na medida do possível fazem
projetos e com a ajuda do resto da equipe estamos implementando.
Acaba ficando com uma visão teórica. Quando chega a prática, cai da cadeira. Tem
que haver uma proximidade maior nesse sentido. As agências não fazem um favor
em participar, faz parte. Se você quer um bom profissional, mesmo que seja um
trainee, alguém com pouca experiência que já tenha algum tipo de visão. Mas que
visão? Como ele vai conseguir esse tipo de visão, dentro da sala de aula? Então,
você também tem que participar disso se quer que no fim da linha saia uma pessoa
de visão. Nós temos uma pessoa assim, abrimos uma frente de trabalho. Também
não vamos dizer que nos aproximamos da universidade. Não é isso, na verdade
existe um motivo, um interesse legítimo de contribuir por isso acho que deveria ser
muito maior. Porque é bom para todo mundo.
- E com relação às entidades de classe? Associações e essas coisas do
gênero?
- Nós fazemos parte da ABRP, não fazemos parte da Abracom. Na verdade, porque
não vejo nenhum tipo de vantagem nisso, não é um setor que é mobilizado. Não
vejo as bandeiras que são defendidas serem defendidas profissionalmente. Nem sei
quais seriam essas bandeiras, sei que a Abracom, quando foi criada, tinha como
objetivo aumentar as possibilidades de haver licitações no governo com foco 100%
em Relações Públicas. Dizendo que RP estava dentro dos editais de propaganda. A
primeira licitação que aconteceu nesse sentido, quem ganhou foi um dos dirigentes
da Abracom que nem sei o nome, mas houve muitas discussões, várias empresas
saíram da Abracom porque teve essa questão porque meio como a entidade
advogou em causa própria. Isso já faz alguns anos, mas enfim, por essas e por
outras acho que o setor é muito desmobilizado, nós não conseguimos nos
posicionar, acho que há um problema de comunicação muito grande nesse
mercado.
- Vocês são procurados por ABRP, Conrerp?
- Sim, somos. Porém mais em ações pontuais, por exemplo, quando tem o prêmio
Eco e mesmo as demais abordagens são tão tímidas, via e-mail, cartinha. Não é
uma coisa estruturada e bem feita. Elas não conseguem vender nem um peixe.
- E as atividades de uma maneira geral dentro do universo acadêmico, os
eventos de uma maneira geral, isso chega a vocês? Como vocês percebem
isso?
- Não chegam, deveriam chegar com muito mais freqüência, e não só chegar na
hora em que estão acontecendo, chegar na hora em que estão sendo elaborados.
Para que houvesse uma participação ativa no mercado, inclusive nessa discussão
do que fazer, ou não, do que é importante e o que não é. Mas tenho pouca
informação do que acontece e menos ainda do que está sendo planejado.
- Como os jornalistas vêem as agências de Relações Públicas, como fonte
de informação?
- É uma situação com a qual vamos aprender a conviver porque não vai sumir. Mas
de novo, assim com a questão da mensuração de resultados, ela é uma situação
que vem evoluindo também. Hoje também a imprensa é mais amadurecida do que
significa o papel do assessor. Nós conversamos com jornalistas, eles diziam que
existia um preconceito geral, e em alguns casos um preconceito que não é
fundamentado em alguma coisa é só um pré-conceito. Mas em função de
experiências que esses profissionais acabam vivendo, acabam tendo uma opinião
própria bem diferente daquele pré-conceito. Em outras situações, o cara nem é tão
preconceituoso, mas teve uma experiência traumática e acaba também
concordando. Tudo depende do histórico de cada um. Preconceito existe, nós
precisamos trabalhar para aos poucos ir resolvendo essa barreira. Mas no nosso
dia-a-dia ele é imperceptível. Não temos problemas em contatar um jornalista, em
lhe passar informação ou que ele nos procure. Porque por outro lado o perfil dos
nossos clientes é um perfil que faz com que o jornalista tenha que superar essa
coisa. Sentimos que no dia-a-dia não sofremos essas conseqüências.
- E nesses últimos oito anos que você está nessa área, você acha que
essas mudanças que houve no mercado, esse enxugamento, essa
transformação fundamental pela crise dos jornais, isso tem sido positivo
ou negativo para a evolução dão Relações Públicas, para o trabalho do dia-
a-dia ou não?
- Claro, sem dúvida. Hoje você tem um jornalista muito mais necessitado de ajuda,
ele precisa de uma estrutura que facilite as coisas para ele. Então é muito mais
fácil dele perceber os benefícios de uma assessoria de imprensa bem feita. Como
lhe falei, você tem um assessor que o relacionamento e ele não vai dar a fonte dele
nunca, ele vai ficar ali no meio. Isso complica, mas sem dúvida nenhuma é uma
situação que favorece essas barreiras a serem resolvidas.
- Como você vê a demanda por um perfil mais adequado de profissional
para trabalhar na área de Relações Públicas?
- É importantíssimo. Vejo pela minha experiência. Formei-me em jornalismo, não
sabia que existia Relações Públicas. Foi na faculdade que descobri, e mesmo assim
não ficou claro o que era. Pelo destino acabei fazendo comunicação empresarial já
no segundo ano de jornalismo, foi uma coisa importante. À noite eu via rádio e TV
e de dia descobri um mundo paralelo. Mas ainda nessa época não fazia uma
relação direta entre as Relações Públicas e o trabalho que eu fazia com o mundo
empresarial. Foi depois de formada que comecei a relacionar. Trabalhava em uma
multinacional e num contato maior com a matriz comecei a ver que o
departamento era Public Relations e então percebi que era uma visão muito
business da comunicação, a aplicação pro negócio, muito próxima do resultado
para o negócio, e não tinha muita a ver com o conceito de comunicação em massa
que aprendemos no jornalismo. Interessei-me, fiz uma especialização em Relações
Publicas nos EUA, porque achei que não adiantava fazer aqui, já que aqui era
aquela visão que não me chamou atenção quando eu estava na faculdade. E então
acho que do ponto de vista de formação vem amadurecendo, o conteúdo dos
cursos é muito mais próximo do que é lá fora. Mas ainda lá fora é muito mais
ligada ao business, ao marketing do que ao jornalismo. É outra disciplina. Acho que
deveria se aproximar mais de administração de empresa, desse nível, dessa área.
Ao criarem essa resistência interna no nascer da disciplina, o cara faz jornalismo e
outro trabalha na assessoria de imprensa. Então ali já começa a haver uma coisa
que tende a mudar conforme o mercado.
- Só queria comentar que muitas vezes você tem que investir um pouquinho nesse
diagnóstico, então não vou dizer bancar uma pesquisa. Não é isso. É fazer uma
sondagem, investir um pouco mais de tempo nessa questão. Como esta é a visão
dos empresários nesses investimentos em comunicação, nesse momento que tem
que gastar um pouquinho mais? Nem sempre você consegue sensibilizar isso de
inicio, então para ele investir num diagnóstico isso não é fácil. Mas aí é você como
profissional, então é fazer um sistema híbrido usar uma outra ferramenta de
sondagem às vezes até eletrônica que me permita ter algum dado.
Anexo C-7
Entrevista com Ramiro Prudêncio, Presidente e CEO da agência Burson
Marsteller e membro fundador da Abracom, em 30/06;2005, na sede da
empresa, em São Paulo.
- Para você, Comunicação Organizacional e Relações Públicas são a mesma
coisa? São coisas diferentes? O que você entende por cada uma das duas?
- Na verdade, não distingo entre as duas. Tendo a ver a comunicação mais dividida
ao propósito que ela tem, as audiências na mídia. Em geral divido a comunicação
com uma funcionalidade que é para apoiar na venda e aceitação de produtos e
serviços, a comunicação de posicionamento corporativo, que tem por finalidade
valorizar uma empresa. Uma terceira categoria seria a Comunicação Organizacional
no sentido interno, como você pode gerar uma cultura consistente com os fins da
empresa entre seus colaboradores e a última categoria eu diria que é a
comunicação no âmbito, político no âmbito da discussão pública de políticas
públicas para o país ou uma sociedade. Então a empresa teria uma finalidade de
promover um marco regulador que seja consistente com os objetivos de negócio
dela. Sou pouco apegado à nomenclatura de Relações Públicas, vejo mais uma
diferença na função de cada tipo de comunicação, dos objetivos e das audiências
que ela enxerga que necessariamente Relações Públicas ou Comunicação
Organizacional.
- Como você vê a evolução do mercado e das discussões em torno dessa
área sem que denominemos uma coisa ou outra, esse campo de
comunicação?
- As evoluções têm sido primeiro; olho as agências concorrentes. Enquanto a
demanda do cliente assistir uma evolução em vez de nos trazer ferramentas da
assessoria de imprensa puramente, ferramentas que possam resolver problemas
de negócio e não uma funcionalidade pontual de produzir cobertura de mídia
positiva. Isso tem puxado uma reação do mercado, onde as agências começam a
oferecer serviços mais diversos e possivelmente a mais clara é que antigamente
agências que se referiam a elas como assessorias de imprensa, hoje são
assessorias de comunicação. Outra evolução são os clientes mais sofisticados em
pedir uma resposta das agências. O mercado sempre opera assim, um puxa o
outro, clientes exigem mais e as agências respondem, estabelece-se uma relação
simbiótica entre o fornecedor e o comprador de serviços, e nesse sentido nenhuma
das duas marcas podem evoluir rapidamente porque não consegue afirmar sua
oferta; se for uma agência, ou não consegue que o mercado responda a uma
demanda por parte do cliente. Uma evolução quanto à indústria acho que é a
Abracom, que tem sido um marco para indústria, no sentido que é a primeira vez
que as agências conseguem se consolidar como uma associação de peso isso
contra muito ceticismo e menos bem-sucedida Associação Brasileira de Relações
Públicas e outras. A Abracom parece ter gerado um peso maior que qualquer outro.
Ainda acho que a agenda de trabalho da Abracom é dispersa demais. Essas são as
maiores evoluções e também no mercado começam a gerar grandes empresas,
entre as quais a Burson não se inclui, acho que é uma empresa média. Essas são
as grandes evoluções.
- Você acha que essas evoluções são em decorrência de um
amadurecimento do mercado ou muita influência das questões de
globalização?
- Acho que a globalização tem contribuído sim, as empresas brasileiras hoje
entendem a necessidade da comunicação corporativa muito mais pelo mesmo
processo de incorporação dos mercados internacionais, pelas mesmas exigências
que o mercado nacional faz delas. Antigamente era mais fácil vender serviço para
uma multinacional que entendia a necessidade da comunicação corporativa que
tinha dentro dos cronogramas uma posição, uma estrutura global para essa
função. E as empresas nacionais nem tinham essa função ou a função era assessor
de imprensa. Hoje as estruturas das empresas nacionais são muito semelhantes às
das internacionais, o cargo da comunicação corporativa é cada vez mais de
importância e não simplesmente um apêndice. Uma amostra de como o Brasil
resiste é o fato de só haver três multinacionais no mercado. Nesse sentido acho
que o Brasil foge da normalidade, o Brasil tem um mercado suficientemente
sofisticado e avançado e grande para merecer mais atenção das multinacionais.
- Em relação a um relacionamento que você tem com as demais Burson,
como isso influencia na ação da Burson no Brasil?
- O sucesso da Burson, primeiro a internacional vemos isso através do
faturamento, qual é a porcentagem de faturamento que provém de mercados fora
dos EUA? É de quase 50% do faturamento na empresa vem de fora dos EUA, não
tem outra empresa no setor com um perfil semelhante. E depois quantas
operações de capital próprio a empresa tem fora dos EUA e nesses dois pontos a
Burson é a mais internacional da empresas. O modelo de sucesso tem sido:
primeiro, valorizar a comunicação como uma ferramenta de negócios, pois
desenvolver metodologia na base de perguntas abertas e não na base de receitas,
quando fazemos o treinamento dos funcionários emprega-se uma metodologia em
que se faz uma série de perguntas e não se dá a resposta e cada consultor chega à
resposta e isso permite que você desenvolva aplicação consistente de metodologia
inteligente, mas que não liga a uma solução padrão. É um erro uma empresa achar
que o que funciona num mercado vai funcionar em outro. Nesse sentido, a
genialidade da metodologia da Burson é que não faz uma receita, mas para um
problema como esse, faça esta ou aquela pergunta, você segue e a trilha que é
construída a base das perguntas. Acho que é uma coisa consistente na Burson,
mas também que é aplicada de forma consistente conforme a necessidade de cada
mercado. Outra coisa em relação à decisão da empresa em 1995, de operar a base
de práticas que visa gerar conhecimento especializado dentro da empresa. O que
fizemos foi determinar quais são os mercados e as funcionalidades mais
importantes para a empresa e decidimos que existiam dois grandes setores: saúde
e tecnologia e telecomunicação. Esses dois setores passaram a ter práticas
especializadas. E depois olhamos as funções, vimos assuntos públicos e
corporativos. A empresa se dividiu nessas unidades, todo funcionário foi destinado
a uma prática e para as práticas foram dadas as tarefas de gerar conhecimento
especializado e profundo dentro dele, seja seu setor industrial ou só
funcionalidade. A empresa opera dessa maneira em todo mundo. No entanto, se a
empresa quiser gerar uma outra prática própria pode fazer, há essa liberdade.
- Sendo americano e estando no Brasil há algum tempo, como você
percebe a influência norte-americana nesse campo no dia-a-dia? Acha que
conseguimos ter uma identidade própria? Um fazer próprio? Ou a
influência americana é muito forte?
- Eu vejo a cultura brasileira tendo uma grande capacidade de adaptar e incorporar
ferramentas que vêm de fora do país. Nesse sentido, Brasil e EUA são muito
semelhantes. Sem dúvida o tom da comunicação brasileira é próprio, não vejo que
as empresas tentam se adaptar a um estilo de discurso ou a uma funcionalidade da
comunicação que não seja própria. Possivelmente isso é mais fácil de apontar na
área publicitária onde as pessoas têm uma coisa muito fácil de medir que é o spot,
na TV é de 10 segundos, por exemplo. Na nossa área, se tem alguns exemplos,
mais possivelmente porque ela produz diferentes de ferramentas de comunicação.
A comunicação corporativa no Brasil está tendo esse começo, alguns exemplos, o
Brasil é muito mais sensível ao discurso de responsabilidade social corporativa,
apesar de ser uma coisa incipiente, as empresas que conhecem a necessidade da
sociedade brasileira, as empresas incorporam isso de maneira muito mais plausível
que as americanas, e nesse sentido as empresas européias também estão mais
avançadas que as americanas. E tudo tem seus prós e contras, as empresas
americanas são mais competitivas porque focam seus recursos somente na
geração de valor dentro dos seus serviços, gerando mais riqueza. Tento não
valorizar as coisas como positivo ou negativo, melhor ou pior, mas vejo uma
atuação distinta entre essas empresas e isso se reflete nas suas funções de
comunicação também.
- Você falou como é complicado medir, como está hoje o cenário do
mercado algumas empresas buscam usar instrumento de mensuração,
ainda que questionáveis. Como você percebe esse processo de
mensuração de resultados, como o mercado cobra de vocês? O que vocês
tem feito nesse sentido?
- O problema é que medir bem é difícil e custa dinheiro, e as verbas da
comunicação corporativa no Brasil ainda são pequenas em relação ao mercado. A
medição consome entre 15 e 20 % de uma verba, é muito. Em geral procuram
uma maneira mais barata e através de clipping e uma leitura qualitativa. Mas são
coisas que não são suficientemente abrangentes para demonstrar o valor que a
comunicação está gerando na empresa e justificar maior budget. isso não é um
problema só do Brasil, mas de todo mundo, porque o mesmo discurso que temos
nesse mercado é repetido nos mercados europeus e norte-americanos. A queixa
dos clientes é a da dificuldade de mensuração. Não imagino que uma ferramenta
será inventada, as ferramentas já existem e são suficientes, o problema é que são
caras. Talvez os meios interativos nos dêem mais ferramentas. É impressionante
observar como a comunicação interativa está mudando, não só a comunicação,
mas a maneira como as empresas funcionam. Isso se deu de modo muito rápido. E
também o poder de influência do consumidor hoje sobre uma empresa é
exponencialmente maior que no passado. Porque ele pode usar a internet para
saber da divulgação de um produto e junto com outras pessoas que tiveram essa
experiência positiva ou negativa geraram comunidades e elas vão se posicionar em
favor ou contra uma empresa. Existem exemplos extremos: a Apple que tem
comunidades com uma fidelidade enorme e tem empresas que são atacadas
continuamente. É a ferramenta que faltava para os ativistas e o cidadão.
- E em relação ao perfil das pessoas que trabalham nesse campo? Como
você percebe a evolução desse profissional?
- A rixa entre os RP e os jornalistas está sendo resolvida pela necessidade do
mercado. Os clientes impõem uma necessidade ao mercado, ou uma solução
puramente jornalística ou de RP e as agências hoje exigem um leque de serviços
mais amplos, as agências têm um perfil mais diverso que no passado. Acho que as
agências hoje vão ter um mix de pessoas entre jornalistas e RPs. O próximo passo
a ser dado é quando as agências começarem a incorporar especialistas de setores
específicos. A tendência é cada vez mais as agências irem se especializando em
certos nichos de mercado e recrutando pessoal não só de comunicação, mas
pessoas que tenham um conhecimento profundo sobre setores específicos.
- Como você percebe a atuação da Abracom e outras associações de
bandeira hoje no Brasil? Você acha que elas fazem com que o mercado
busque esse processo de evolução. A Abracom saiu do próprio mercado; as
outras não saíram do mercado. Você acha que elas trabalham de maneira
integrada?
- Não conheço as associações brasileiras muito bem. O que foi positivo da
Abracom, por nascer das agências, e por estas serem muito práticas por
necessidade eu vejo o olhar da Abracom sempre prático e que também tende a
trabalhar os assuntos que realmente são importantes para as agências. Ela tem
promovido para as agências pequenas e médias seminários sobre gestão como
gerir uma empresa, calcular sua pasta de recursos e coisas fundamentais para
arrumar o mercado, pois este está profundamente desarrumado e isso se reflete
nos preços que são repassados para os clientes. Para as empresas grandes tem
promovido atividades como tentar abrir do governo federal, e dos Estaduais e
Municipais licitações específicas para a área de RP ou comunicação corporativa. Ela
tem atuado em distintas frentes e de uma maneira bastante diversificada.
- Temos uma outra Associação, não especificamente de RP, que é a Aberje.
Como você vê essa atuação?
- Vejo a Aberje como uma entidade que representa mais os departamentos de
comunicação da empresas que necessariamente as agências em si. Ela tem feito
um bom trabalho de apontar as novas necessidades que as empresas têm, e isso
para as agências é importante. Pelo perfil tem sido pioneira pelo estudo do impacto
da comunicação interna, as empresas deveriam fazer menos comunicação externa
e mais interna. No entanto, isso significaria menos dinheiro para as agências. As
empresas precisam mais do que nunca gerar culturas vencedoras. Uma
complementaridade entre o trabalho da Aberje e da Abracom.
- Em relação às posições cientificas, os livros e as pesquisas. Você sente
uma maturação?
- Não sigo isso muito de perto, sigo através de vocês das universidades, com
almoços com pessoas do meio acadêmico. Não posso dizer que vejo claramente
uma evolução. Mas imagino que exista uma evolução importante porque meu
contato tem sido mais intenso, isso significa que está sendo produzido mais. Nos
últimos anos tanto com a aproximação entre o mercado e a academia é uma coisa
muito positiva porque provavelmente faz que a ciência e a pesquisa sejam voltadas
às necessidades do mercado. Também tem uma discussão mais sofisticada entre
os encontros das agências e o meio acadêmico. Os assuntos discutidos são cada
vez mais complexos e próximos das necessidades de negócio das empresas. Uma
relação próxima entre a faculdade de comunicação social e administração é
fundamental. Tanto que hoje a comunicação não é só ensinada em cursos de
comunicação.
Anexo C-8
Entrevista com o Prof. Dr. Roberto Porto Simões, Professor Titular da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e professor de pós-
graduação em Relações Públicas, realizada na UniFiam, em 19/05/2005
- Como o senhor identifica essas duas posições, Relações Públicas e
Comunicação Organizacional?
- Tudo depende da teoria que está na cabeça da gente. Fiz Psicologia
Organizacional, então tive de conhecer a organização e vi que dentro desta existe a
tal de Comunicação Organizacional, mas é uma disciplina ou até um capítulo
dentro da teoria da Organização. Eu vejo mais localizado dentro das organizações.
Vejo a Comunicação Organizacional como uma escapada que muitos colegas
fizeram e até argumentavam que estavam usando o título de Comunicação
Organizacional porque o título de Relações Públicas estava prostituído, ou seja, que
tinha andado por más companhias e que não vendia. Eu vejo que há uma parte
teórica e uma prática, mas se compararmos as duas são semelhantes. As agências
de publicidade há vinte anos por influência dos EUA verificaram que se mantinham
só publicidade, que estavam perdendo uma fatia de mercado do marketing. Então
começaram a se instituir como agências de comunicação. Parece-me que isso foi
mais um escape. A Colômbia não fazia um congresso de Relações Públicas e sim de
Comunicação Social. Vejo a Comunicação Social como teoria da Teoria das
Organizações. Temos que ver as várias escolas da Teoria das Organizações e ver
como se insere em Comunicação Organizacional. Como prática, vejo que o pessoal
se institucionaliza para pegar o mercado, eu não acredito nessa briga, que acredito
ser inclusive prejudicial à atividade de Relações Públicas, porque é um desgaste de
energia na Comunicação Organizacional.
- Relações Públicas já constituem um campo dentro do pensamento e da
área de Comunicação Social?
- No Brasil não saberia lhe dizer, estou fechado dentro da universidade fazendo
minha pesquisa e criando disciplinas que facilitem a compreensão dos alunos. Tem
uma colega que trabalha com organização pública e a tese de doutorado dela foi
para verificar as Relações Públicas nas Instituições Públicas, e ela chegou à
conclusão que o setor Público do Rio Grande do Sul está sedimentado. O que
temos de fazer para definir se há ou não há, é passar a definição operacional. O
que faz Relações Públicas? O que faz Comunicação Organizacional? O que temos
feito? Temos definido conceitualmente Relações Públicas e Comunicação
Organizacional. Atualmente não sei o que faz Comunicação Organizacional, se ela
estiver fazendo pesquisa para verificar como vai a relação da organização com seus
públicos e estiver sintetizando isso num diagnóstico, elaborando um prognóstico,
assessorando as políticas organizacionais, implementando programas de
comunicação, avaliação e controle, isso é Relações Públicas. Se duas entidades são
iguais, são uma coisa única. Depende da cultura, de uma série de coisas do
passado, da história.
- Como o senhor enxerga a evolução das Relações Públicas inclusive com a
influência da globalização e das empresas multinacionais vindo para o
Brasil?
- Não vejo sob essa óptica. Vejo sob o desenvolvimento das pessoas em cidadãos.
O latino-americano devido às ditaduras não aprendeu a ser cidadão, a lutar pelos
seus interesses. Não é que a atividade de Relações Públicas não seja valorizada,
ela não avança mais porque não lutamos por nossos direitos. Estamos começando
a lutar. Quanto mais conflito houver, mais trabalho para as Relações Públicas.
Existem pessoas que dizem que Relações Públicas não é apagar incêndio, uma
crise dentro de uma empresa é uma oportunidade de uma agência ir atrás, e as
crises e os conflitos são poucos. Temos que mudar essa idéia de que não somos
bombeiros, não é curativa e sim preventiva. Nós existimos em uma razão que é a
necessidade da comunidade. Vou dar um exemplo: quando estava mais motivado,
tentei em Porto Alegre formar um grupo para que um conhecesse o outro e não
para criticá-lo, porque dentro da nossa atividade é comum. A crítica deve ser feita
à teoria da pessoa e não à pessoa. O grupo existe até hoje. Outra coisa, quantos
artistas a nossa comunidade coloca nos jornais e revistas? Nós não contamos
nossos feitos heróicos para a comunidade, o jornalista e o publicitário sim. E deste
modo criam-se os mitos, através dos relatos, só que nós não fazemos relatos.
Então, como vejo Relações Públicas? O ideal para mim seria que nem a OAB, há
um fato político e o Conselho de Relações Públicas se posiciona em relação.
- Dentro do que temos de Relações Públicas no Brasil, qual foi a influência
norte-americana na implementação e como ela é hoje?
- Hoje, não saberia lhe dizer, escrevi um artigo que dizia que e influência norte-
americana não foi só no Brasil e sim em toda América Latina. Isso porque quando
as empresas chegaram aqui elas tinham como bagagem os problemas que elas
passavam nos EUA, então eles vieram com o espírito do profissional de Relações
Públicos na coordenação.
- E em relação à publicação científica?
- Bem, eles publicam que é uma barbaridade. Eles foram os responsáveis por
trazer as Relações Públicas para a América Latina com certeza. Em relação à
pesquisa, devemos nos questionar o porquê fazemos pesquisa. Bem, para
descobrirmos algo, certo? Temos um problema teórico ou prático e resolvemos
pesquisar. A questão é que o conhecimento atual que nós temos não resolve os
nossos problemas. Por exemplo, eu trabalho com essa pesquisa para descobrir o
que são as Relações Públicas para tentar defini-las, criando uma rede teórica indo
até a estética, pois dizer que elas cuidam da imagem não ajuda em nada. Hoje eu
só aceito orientando que aceite criticar ou desenvolver a minha teoria, aí é um
terceiro nível de abstração, teoria pura. Para o prático é diferente, por exemplo,
essa moda de Relações Públicas e Responsabilidade Social, que é o que acaba
predominando. Tenho visto muitas pesquisas que são pesquisas de campo, não
que não seja válido, mas para mim, a ciência é a abstração, a construção da rede
teórica, a colocação de uma outra teoria. Eu estou com uma tese muito boa que
trata da influência do Demônio de Maxwell para as Relações Públicas. O Demônio
de Maxwell foi formulada por um físico que é o tal problema de entropia de um
sistema: em uma caixa são postos dois gatos, um corre mais rápido que o outro, aí
ele põe luz e calor dentro da caixa. O que as Relações Públicas fazem? Ela entra
em um sistema para tentar evitar a sua entropia. Até o Morin que eu não gosto
muito, não é que eu não gosto, é que eu não tenho tempo de ler, pois é pura
filosofia, no seu método um ele desenvolve sobre entropia, organização que se
organiza, que busca força para se manter viva.
- Você acredita que há hoje obras literárias que apóiam a idéia da política
como papel dos Relações Públicas?
- Não, eu acho que não. Eu dentro da minha ignorância não li, pode ser que tenha.
E mesmo sobre produção bibliográfica sobre as Relações Públicas, o que nós
efetivamente temos? Exceto os norte-americanos que possuem diversos manuais e
tal. É o que falta colocarmos na mentalidade dos nossos pós [graduandos].
- Na PUC, qual o seu olhar sobre a pós-graduação?
- Bem, a PUC tem dois enfoques: um mais filosófico, mais para a turma do
jornalismo, com muita influência da Espanha. Tem um cara inclusive que é norte-
americano, mas que lê muito livros espanhóis, o Jacques que é responsável pela
matéria Relações Públicas Internacionais. De Relações Públicas somos eu, a
Cláudia (pesquisa) e a Cleusa (Comunicação Organizacional).
- Como você vê as entidades de classe?
- Eu vejo a Associação de Relações Públicas desaparecida, não tem mais nada, não
trabalha como disseminadora cultural. Eu desisti da vida associativa não por não
querer colaborar, eu participei durante muitos anos da Associação, fui presidente
durante muitos anos do Comitê de Educação da ABRP, fui do Conselho, aí eu
abandonei. No Rio Grande do Sul a Associação não existe mais, o que existe é o
Conselho. Bem, tem o Sindicato do Rio Grande do Sul que foi criado, que não tem
muita representatividade.
- Em São Paulo há um movimento muito grande das agências na
Abracom...
- Bem, essa quantidade de entidades que surgem na nossa área e em outras é
devido aos rachas que vão ocorrendo, então abre-se mais uma e mais outra.
- E o que o senhor pensa sobre essa violência simbólica que os
profissionais de Relações Públicas recebem tendo o espaço invadido pelos
jornalistas e por ser uma profissão ainda em regulamentação – devido às
discussões de 1996, ainda não finalizadas?
- O que nós conquistamos é pelo trabalho e a regulamentação para mim poderia
ser feita através de concurso público ou algo assim. Outra idéia histórica se deve à
pressão que foi feita pelas associações em cima dos que não tinham o registro
depois que a profissão foi regulamentada. O que as organizações fizeram?
Mudaram o nome para Comunicação e todas as suas variantes. Ou seja, nos
apartamos, pois deveria ter sido feito um projeto para essas pessoas que estavam
muito bem posicionadas, mas que foram por nós mesmos marginalizadas. O que
eu quero dizer é que há muitas pessoas com diversos títulos (relações com a
imprensa, relações com o acionista etc) e o que todos fazem são Relações Públicas.
- Por exemplo, o caso mais emblemático é o do jornalista que pode migrar
pra nossa área, mas que nós não podemos migrar para a dele. Qual sua
opinião sobre essa oposição entre o jornalista e o Relações Públicas?
- O que eu tenho dito para os meus alunos é o seguinte: se o seu chefe disser que
vamos fazer comunicação de marketing, entra e faz. Com o tempo, você vai
ganhando espaço, vai informando o que é essa atividade de Relações Públicas, vai
ocupando o seu espaço. Sabe uma coisa interessante: Relações Públicas é algo
que atrai as pessoas. Quanta gente se identifica como Relações Públicas, mesmo
não sendo?
- É o que o Fábio [França] dizia que o plágio é o melhor elogio que uma
pessoa pode receber. Já que nós falamos de imagem, como as Relações
Públicas são vistas pela mídia?
- O que eu tenho visto na minha faculdade é que os relações-públicas, os
jornalistas e os “marketeiros” estão se entendendo, há uma boa cooperação, cada
um na sua.
- Na graduação e na pós-graduação o senhor acha que estão sendo
formados profissionais adequados?
- Acho que não, não me pergunte o porquê, mas é feeling. Eu criei uma disciplina
chamada Gestão de Relações Públicas porque era dito em várias reuniões que os
alunos de 1º e 2º semestre estavam desmotivados. Nós temos que encantá-los.
Outra colega dizia que tínhamos que trazer mais Marketing para os alunos de
Relações Públicas.
- Como são os seus orientandos lá na PUC?
- Bem, eu tenho de tudo. Hoje em dia eu procuro pessoas que saibam abstrair, que
saibam conversar comigo em outro nível de abstração. Na 2ª feira mesmo, veio
uma moça dizendo que queria ser a minha orientanda, que o negócio dela era
Relações Públicas e Responsabilidade Social. Eu disse pra ela que se ela quisesse
criticar a minha teoria, tudo bem, mas que esse assunto é pro mercado. Eu tenho
gente que é profissional e tenho gente que não é profissional, que é professor.
Aqueles que vieram da área de consultoria têm problemas de abstrair. Na pós-
graduação pedíamos um trabalho e o cara fazia um trabalho com os termos de
consultoria, assim perdemos uns seis alunos. Então agora, o aluno faz uma
disciplina e quando terminá-la, aí ele se candidata. Assim, vemos quem é bom e
quem é ruim.
- Quais as temáticas que você já recebeu para o doutorado?
- Primeiro, a influência da análise de conjuntura e descrição de cenário são duas
coisas que nós temos que pôr no currículo. No momento que nós colocarmos, o
pessoal vai parar de pensar que nós somos evento somente. Temos que colocar
também Teoria da Informação e o que a Gestão de Relações Públicas se propõe. É
necessário compreender a linguagem científica, definir operacionalmente as
Relações Públicas. Aqui a primeira etapa é a pesquisa. O que está ocorrendo é que
o professor que dá Planejamento fala um semestre inteiro sobre o que são as
Relações Públicas, o outro professor de Pesquisa faz a mesma coisa. Então, os
alunos ficam impacientes com tanta reflexão. Depois da pesquisa vem o
diagnóstico, prognóstico, descrição de cenário, assessoria. E é aquela velha história
entre os termos assessoria e consultoria. Consultor é aquele que não tem vínculo
empregatício, mas ambos fazem as mesmas coisas: podem dar pareceres ou
aplicar projetos de comunicação. Aí vem o planejamento, o controle, a avaliação e
o círculo se fecha. Desta forma os alunos começam a entender o que são as
Relações Públicas. Voltando aos orientandos: há uma guria fazendo um mestrado
sobre análise de conjuntura, tem outra desenvolvendo os termos de qualificação
dos públicos, outra trabalha sobre as teorias de Relações Públicas nas faculdades
brasileiras. Afinal, oficialmente não há nenhuma teoria nem aqui nem no mundo.
Nos EUA, eles são muito práticos.
Anexo C-9
Depoimento de Paulo Nassar, professor da ECA-USP e Presidente-
Executivo da Aberje, por e-mail, em 30/10/2005
- Percepção sobre Relações Públicas e Comunicação Organizacional.
- A Comunicação Organizacional vista como campo teórico pensa - contextualizada
principalmente pelos ambientes administrativo, político, econômico, histórico,
tecnológico, social, psicológico e arquitetônico, entre outros - os processos
comunicacionais entre as empresas/instituições e seus inúmeros públicos. As
Relações Públicas têm na Comunicação Organizacional um de seus principais
viabilizadores.
- Evolução histórica do campo.
- Na trajetória seguida durante o século XX pelas Relações Públicas, destaco como
mudança conceitual significativa o aumento da abrangência desse campo a partir
dos trabalhos de Bernays, Lippmann, Canfield, Cutlip, Center, Lesley, Grunig, entre
outros, que se dá a partir da incorporação das abordagens sócio-psicológicas e
políticas nos relacionamentos das organizações com a sociedade e seus públicos,
fundamentais para a compreensão da formação da opinião pública.
A abordagem que incorpora ao campo das Relações Públicas as contribuições de
inúmeros campos das ciências humanas contribui para a sua diferenciação de áreas
como a Publicidade (Barnun), Jornalismo e a Assessoria de Imprensa (Lee), as
quais as Relações Públicas está ligada em seus primórdios. As Relações Públicas
evoluem assim para pensar e operar políticas que viabilizem planejamentos e
ações com o objetivo de legitimar as organizações em ambientes complexos.
- Influências da globalização.
- A globalização, que tem nas tecnologias de informação, entre elas a Internet, deu
conveniência e permanência à difusão do pensamento de Relações Públicas,
libertando-o das distâncias geográficas e das barreiras culturais e econômicas que
separavam os seus pesquisadores. Por outro lado, a globalização incrementou a
presença física no Brasil de personalidades importantes das Relações Públicas e da
Comunicação Organizacional, com grande presença nas produções dos
pesquisadores nacionais, entre eles, James Grunig (1999), Joan Costa (1999 e
2001) e Abraham Nosnik (2005), que estiveram em nosso país a convite da Aberje.
Esse intercâmbio com o pensamento de Relações Públicas e Comunicação
Organizacional está fielmente registrado na coleção da Revista Comunicação
Empresarial da Aberje, publicação com mais de 15 anos de existência. Destaco
entre os inúmeros pensadores e profissionais renomados que escreveram artigos
ou foram entrevistados pela Revista as figuras de Harold Burson (no. 34, p.13,
2000), Joan Costa (no. 33, p.8, 1999; no. 37, p.28, 2000 e no. 38, p.14, 2001),
Al Golin (no. 39, p.10), Richard Wolf (no. 40, p.12, 2001), Javier Puig (no. 40, p.6,
2001), Vítor Baltasar (no.16, p.22, 1995 e no. 30, p.8 e 9, 1999), Thom Gillespie
(no. 32, p.38, 1999), James Grunig (no. 33, p.21, 1999), Paul Thompson (no. 36,
p.8, 2000), Elen Ryan Mardiks (no. 43, p.6, 2002) e Howard Paster (no. 28, p.5,
1998). A contribuição da Aberje não pára por aí. Já em 1996, pioneiramente cria o
primeiro site (www.aberje.com.br) da América Latina voltado para a difusão da
Comunicação Organizacional. E além da revista e de seu site pioneiro vem
editando, desde o início da década de 1990, livros com trabalhos de professores do
campo como a Profa. Margarida Kunsch e o Prof. Gaudêncio Torquato, entre
outros. É memorável também a atividade educacional da Aberje. Desde a sua
fundação, em 8 de outubro de 1967, tem promovido de forma permanente
centenas de seminários, congressos, eventos e cursos com o objetivo de discutir e
analisar os inúmeros temas dos campos das Relações Públicas e da Comunicação
Empresarial. Ainda como vitrine do que acontece no campo profissional, a Aberje
tem promovido há mais de 30 anos o Prêmio Aberje, que destaca os trabalhos
excelentes nos inúmeros relacionamentos públicos organizacionais (empregados,
imprensa, comunidade, acionistas, entre outros). Nos últimos quatro anos, a
Aberje tem estruturado o seu Instituto de Pesquisas, o DataAberje, que tem
produzido pesquisas nacionais com o objetivo de mapear aspectos importantes das
Relações Públicas e da Comunicação Organizacional, tais como principais processos
de trabalho, perfis dos profissionais etc. No campo da integração associativa
internacional, a Aberje investiu na criação da Associação de Comunicação
Empresarial de Língua Portuguesa (Acelp) e na Associação de Comunicação
Empresarial do Mercosul (Amerco). No campo acadêmico, a Aberje foi apoiadora de
primeira hora do Curso de Gestão em Relações Públicas e Comunicação
Organizacional (GESTCORP) e tem promovido a vinda de palestrantes convidados
para esse curso tais como James Grunig, Joan Costa e Abraham Nosnik.
Destaco também a evolução da Aberje, que foi fundada como uma entidade
voltada a dignificar junto ao comando das organizações as mídias e os profissionais
editores de jornais e revistas e ampliou a sua missão e visão, o que alterou a sua
identidade institucional. Desde do final dos anos 1970, a Aberje vem incorporando
novos valores, crenças, tecnologias e profissionais que trabalham e interagem no
campo da Comunicação Organizacional, entre eles os relações-públicas, jornalistas,
publicitários, administradores, historiadores, arquitetos, fonoaudiólogos,
psicólogos, sociólogos, advogados e antropólogos. Isso dentro de uma visão que
mostra que as demandas de relacionamento e principalmente as comunicacionais
que são enfrentadas no cotidiano da organização estão impondo um profissional
com perfil mestiço (interdisciplinar) para a área enquanto atividade. A mestiçagem
não suprime as origens e identidades profissionais, ela sinaliza que é preciso
trabalhar além dessas origens e identidades, impondo a necessidade de integrar as
comunicações de diferentes funções organizacionais e as contribuições dos
conhecimentos das inúmeras ciências humanas que trabalham também com as
questões da comunicação e do relacionamento. A mestiçagem profissional no
campo da Comunicação Organizacional não cria “estrangeiros”. Se os conselhos e
entidades profissionais se digladiam pelo domínio do campo da Comunicação
Organizacional excluindo a contribuição e a figura do outro, a mestiçagem é
inclusiva e democrática.