Post on 09-Jul-2015
VILA RICAO ou/ro /ful/vo/ do o/ca/so as/ ve/lhas/ ca/sas/ co/bre; A Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição BNa torturada entranha abriu da terra nobre: AE /ca/da/ ci/ca/triz/ bri/lha/ co/mo um/ bra/são./ B
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre, AO último ouro de sol morre na cerração. BE, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, AO crepúsculo cai como uma extrema-unção. B
A/go/ra,/ pa/ra a/lém/ do/ cer/ro, o/ céu/ pa/re/ce CFeito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu... DA neblina, roçando o chão, cicia, em prece, C
Como uma procissão espectral que se move... EDobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... DSobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. E
Um poema essencialmente descritivo. O EU lírico posiciona-se fora da descrição. Função referencial e poética em destaque. A função emotiva da linguagem contida ao extremo. Predominância de vocabulário seleto. Sintaxe eminentemente lusitana. Versos encadeados, através da coesão sintática e de
enjambemant. Temática centrada na descrição da paisagem natural sem
interferência do Eu poético. A descrição fotográfica da cidade de Vila Rica e a referência ao
pastor Dirceu dão o toque parnasiano ao texto poético. Soneto clássico, com versos decassílabos perfeitos e rimas
dispostas regularmente em dois quartetos e dois tercetos.
SUPREMO DESEJOEternas, imortais origens vivas ADa/ Luz,/ do A/ro/ma,/ se/gre/dan/tes/ vo/zes BDo mar e luares de contemplativas, AVagas visões volúpicas, velozes... B
Aladas alegrias sugestivas ADe asa radiante e branca de albornozes, BTribos gloriosas, fulgidas, altivas, ADe condores e de águias e albatrozes... B
Es/pi/ri/tua/li/zai/ nos/ As/tros/ lou/ros, CDo sol entre os clarões imorredouros CToda esta dor que na minh'alma clama... D
Que/ro/ vê/-la/ su/bir,/ fi/car/ can/tan/do ENa chama das Estrelas, dardejando ENas luminosas sensações da chama. C
A presença do Eu poético expressando desejos numadimensão irracional, sem lógica semântica aparente.
A função expressiva da linguagem predominando ao lado dapoética.
Uso intermitente de um vocabulário abstrato esemanticamente ininteligível.
Metáforas construídas em torno de uma linguagem abstrata,mística e alegorizante.
Temática centrada na expressão transcendental do EU embusca de um mundo sideral, espiritual e imponderável.
Linguagem lusitana, estruturada em torno de encadeamentossintáticos e semânticos.
Soneto clássico, com versos decassílabos perfeitos e rimasdispostas regularmente em dois quartetos e dois tercetos.
Poema essencialmente subjetivo, mas com estrutura clássica,o que revela nítida influência parnasiana.
SONETOA/go/ra é/ tar/de/ pa/ra/ no/vo/ ru/mo ADar ao sequioso espírito; outra via BNão terei de mostrar-lhe e à fantasia BAlém desta em que peno e me consumo. A
Aí,/ de/ sol/ nas/cen/te/ a/ sol/ a/ pru/mo, ADes/te ao/ de/clí/nio e ao/ des/mai/ar/ do/ di/a, BTenho ido em pró do ideal que me alumia, AA lidar com o que é vão, é sonho, é fumo. B
Aí me hei de ficar até cansado CCair, inda abençoando o doce e amigo DIns/tru/men/to em /que/ can/to e a al/ma/ me em/cer/ra; E
Abençoando-o por sempre andar comigo DE bem ou mal, aos versos me haver dado CUm raio do esplendor de minha terra. E
A presença do Eu poético, expressando seus sentimentos dapredominância à função expressiva da linguagem.
O sofrimento do Eu diante da realidade e a atmosfera desonho, de fantasia e descrença tornam o poemaessencialmente subjetivo.
A fuga do Eu para a poesia torna evidente o caráter temáticodos românticos encontrar na poesia o alento para osofrimento existencial.
É evidente no texto a integração de alma do Eu com anatureza expressa através de elementos comparativos.
Linguagem plenamente subjetiva com a presença deinterjeições e de vocabulário revelador dos sentimentos edesejos do Eu lírico.
Do ponto de vista formal, o poema é clássico, estruturadoem torno do soneto, com versos decassílabos e rimasregularmente dispostas.
O ACENDEDOR DE LAMPIÕESLá vem o acendedor de lampiões da rua! AEste mesmo que vem infatigavelmente, BParodiar o sol e associar-se à lua AQuando a sombra da noite enegrece o poente! B
Um,/ dois,/ três/ lam/pi/ões,/ a/cen/de e/ com/ti/nu/a AOutros mais a acender imperturbavelmente, BÀ medida que a noite aos poucos se acentua AE a palidez da lua apenas se pressente. B
Triste ironia atroz que o senso humano irrita: - CE/le/ que/ doi/ra a/ noi/te ei/lu/mi/na a/ ci/da/de, DTalvez não tenha luz na choupana em que habita. C
Tanta gente também nos outros insinua E Crenças, religiões, amor, felicidade, DComo este acendedor de lampiões da rua! E
O distanciamento do Eu lírico em relação ao tema abordado torna opoema objetivamente reflexivo.
O caráter filosófico do poema é estruturado na reflexão que o Eurealiza da situação paradoxal em que se situa o acendedor delampiões.
O poema revela uma inquietante preocupação social e existencial emque se percebe o homem em situação de desconforto diante darealidade.
A temática não se limita apenas em refletir a situação existencial, masjá denuncia a violência com que a sociedade moderna se impõe aohomem.
Estruturalmente o poema possui uma herança clássica, estruturadonum soneto, com versos decassílabos e rimas dispostas de maneiraclássica e tradicional.
Por não ser essencialmente descritivo e não se limitar em expressar ainterioridade do Eu poético, o poema afasta-se, respectivamente, doParnasianismo, do Romantismo e do Simbolismo.
O Caráter modernista do soneto se revela na denúncia que se faz darealidade social brutal que coisifica e reifica o homem.
O reconhecimento das características de um texto passaobrigatoriamente pelo conhecimento dos preceitos da estéticaa que ele pertence.
É fundamental não somente conhecer o plano da enunciação,ou seja, da estrutura da linguagem do texto, mas também aposição do Eu lírico, porque dela emana o enunciado do poema.
As características formais de um poema não são rígidas,podendo aparecer e se repetir frequentemente em estéticasdiferentes, conforme acontece com as rimas e a metrificação.
Em cada época e em cada estética, determinados assuntos sãoabordados em perspectivas diferentes e este aspecto éfundamental para se reconhecer a que escola literária o poemapertence.
O soneto é uma forma clássica e secular, podemos ser preferidode qualquer autor e de qualquer estética, mas devemosreconhecer que será no Parnasianismo que essa forma vai sermais usada.