Post on 07-Apr-2018
PO�TIFÍCIA U�IVERSIDADE CATÓLICA DE MI�AS GERAIS Programa de Pós Graduação em Letras
A VARIAÇÃO FO�ÉTICA DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ E POSTÔ�ICAS �A VARIEDADE LI�GUÍSTICA
DE MO�TES CLAROS/MG
PATRÍCIA GOULART TO�DI�ELI
Belo Horizonte 2010
PATRÍCIA GOULART TO�DI�ELI
A VARIAÇÃO FO�ÉTICA DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ E POSTÔ�ICAS �A VARIEDADE LI�GUÍSTICA
DE MO�TES CLAROS/MG
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Orientador: Marco Antônio de Oliveira
Belo Horizonte 2010
FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Tondineli, Patricia Goulart T663v A variação fonética das vogais médias pré e postônicas na variedade
linguística de Montes Claros/MG / Patrícia Goulart Tondineli. Belo Horizonte, 2010
195f.: il. Orientador: Marco Antônio de Oliveira
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Letras.
Bibliografia. 1. Mudanças linguísticas. 2. Línguas e linguagem - Variação. 3. Vogais. I.
Oliveira, Marco Antônio de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós- Graduação em Letras. III. Título.
CDU: 806.90-441
Patrícia Goulart Tondineli A variação fonética das vogais médias pré e postônicas na variedade linguística de Montes
Claros/MG
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa.
_______________________________________________ Dr. Marco Antônio de Oliveira (orientador) – PUC Minas
_______________________________________________ Dr. Seung Hwa Lee – UFMG
_______________________________________________ Dra. Arabie Bezri Hermont – PUC Minas
Belo Horizonte 24 de setembro de 2010.
Dedico este trabalho a minha família, sem a qual eu nada seria, e a Telma, a grande “culpada” de tudo.
Ao professor Marco Antônio de Oliveira, por ter me indicado, sempre, o caminho certo
e por ter partilhado comigo, de forma tão generosa, o seu saber. Shalom.
AGRADECIME�TOS
Agradeço, antes de tudo, a Deus, que me deu tantos motivos para perseverar.
Aos meus pais, Ana Lúcia e Henrique, porto seguro da minha vida, obrigada por me
fazerem o que sou, pelo esforço, pela compreensão, pelo estímulo.
Aos meus filhos, Michelle e Marcellus, agradeço por terem aguentado tantas ausências
com tanto amor.
Obrigada, Déa, minha querida irmã, por sempre ter me incitado a querer mais e a
acreditar em mim.
A minha guerreira, Vovó Aurora, pelo companheirismo, pela acolhida, pelo amor.
A minha irmã de vida, Telma Borges, por ter me feito ver que as coisas podem ser
questionadas e revertidas a nosso favor.
A Althiere, meu amigo-irmão, pela companhia e pelas discussões maravilhosas.
A Fábio, querido amigo de infância, por tantos momentos especiais.
Ao meu professor e orientador Marco Antônio de Oliveira, pela extrema atenção,
paciência e competência, meus eternos agradecimentos.
Aos professores Hugo Mari, Paulo Henrique Aguiar, Milton do Nascimento, por
sempre me fazerem buscar cada vez mais e por terem feito da PUC/Minas a minha casa.
A Vera, Berenice e Rosária, por toda a atenção e desprendimento.
A todos os entrevistados, obrigada pela valorosa contribuição.
À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio
financeiro durante a realização desta pesquisa.
[...] Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe:
pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.
(ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: /ova Fronteira,
2001, p. 24)
RESUMO
Investigou-se, nesta dissertação, o alçamento e o rebaixamento das vogais médias pretônicas e
postônicas não finais de itens lexicais no dialeto do município de Montes Claros – Minas
Gerais. Os fenômenos enfocados foram aqueles em que se eleva o traço de altura da vogal
média alta anterior /e/, em posição pretônica, para a alta anterior /i/, ou se rebaixa o traço de
altura para a baixa anterior /´/ (de b[e]zerro para b[i]zerro e de cat[e]quese para cat[´]quese)
e da vogal média alta posterior pretônica /o/ para a vogal alta posterior /u/ ou baixa posterior
/ø/ (de c[o]mércio para c[u]mércio e de fl[o]resta para fl[ø]resta). Também se investigou o
fenômeno em que se eleva o traço da altura da vogal média alta anterior /e/, em posição
postônica não final, para a vogal alta anterior /i/ (de cóc[e]ga para cóc[i]ga) e da vogal média
posterior postônica /o/, não final, para a vogal alta posterior /u/ (de Pitág[o]ras para
Pitág[u]ras). Esses fenômenos, medidos de acordo com técnicas sociolinguísticas, foram
investigados pela ótica da concepção de mudança linguística do modelo da difusão lexical. Os
resultados indicam a viabilidade da proposição.
Palavras-chave: Difusão Lexical. Alçamento. Rebaixamento. Vogais Pretônicas. Vogais
Postônicas não finais.
ABSTRACT
This dissertation is an investigation of the raising and the lowering of the pretonic and
postonic mid non-final vowels of lexical items in the Montes Claros - Minas Gerais dialect.
The focused phenomena were those in which the height trace of the previous mid-front vowel
/e/ is raised in pretonic position to high-front /i/ or lowers to low-front /´/ (as in b[e]zerro to
b[i]zerro and cat[e]quese to cat[´]quese) and of the mid-back pretonic /o/ to the high-back
vowel /u/ or to mid-back /ø/ (as in c[o]mércio to c[u]mércio of fl[o]resta to fl[ø]resta).
Another investigated phenomenon was the one where the trace of the height of the mid-high
front vowel /e/ is raised in non-final postonic position to front-high /i/ (as in cóc[e]ga to
cóc[i]ga), and of the non-final mid-back postonic /o/, to high-back /u/ (as in Pitág[o]ras to
Pitág[u]ras). These phenomena, measured in accordance with sociolinguistic techniques,
were investigated through the conception of linguistic change optics from the Lexical
Diffusion model. The results indicate the viability of the proposal.
Key-words: Lexical Diffusion. Raising. Lowering. Pretonic vowels. Non-final postonic
vowels.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Microrregião de Montes Claros ............................................................................. 61
FIGURA 2 Casa da sede da Fazenda dos Montes Claros ........................................................ 63
FIGURA 3 Ligações rodoviárias no Norte de Minas ............................................................... 66
FIGURA 4 Subcentros de Montes Claros ................................................................................ 68
FIGURA 5 Isófona de [´] e de [ø] em Minas Gerais ................................................................ 73
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 Percentual de ocorrência das variantes da variável (e) ....................................... 96
GRÁFICO 2 Percentual de ocorrência das variantes da variável (o) ..................................... 111
GRÁFICO 3 O alçamento da variável (e) em posição postônica não final ............................ 125
GRÁFICO 4 O alçamento da variável (o) em posição postônica não final ........................... 129
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Comparativo de estudos: Bisol, Silva e Viegas ................................................... 26
QUADRO 2 Comparativo de estudos: Silva, Mota e venecianos ............................................ 26
QUADRO 3 Comportamento das pretônicas no PB ................................................................ 38
QUADRO 4 Vogais postônicas mediais .................................................................................. 42
QUADRO 5 Novo quadro de vogais postônicas mediais......................................................... 42
QUADRO 6 Contextos específicos e variação linguística ....................................................... 54
QUADRO 7 Grupos de fatores sociais ..................................................................................... 75
QUADRO 8 Resumo dos fatores favorecedores do alçamento e rebaixamento das médias (e, o) em posição pré e postônica não final ................................................................................. 138
LISTA DE TABELAS TABELA 1 O comportamento da vogal média em posição pretônica no Pará ........................ 28
TABELA 2 O alçamento em Breves/PA .................................................................................. 29
TABELA 3 O comportamento das vogais médias pretônicas na fala de Formosa/GO ........... 31
TABELA 4 Distribuição das médias pretônicas no falar culto carioca .................................... 36
TABELA 5 Ocorrência das variantes [u, ô, ò, i, ê, è] em Salvador/BA ................................... 37
TABELA 6 Valores totais de ocorrência em Pará de Minas .................................................... 39
TABELA 7 Estatística do alçamento das vogais médias postônicas não finais em Belo Horizonte/MG ........................................................................................................................... 44
TABELA 8 Renda mensal do chefe de família de Montes Claros ........................................... 69
TABELA 9 População residente no bairro Centro (Região Administrativa) ........................... 76
TABELA 10 População residente por faixa etária - Centro ..................................................... 76
TABELA 11 Pessoas residentes alfabetizadas por faixa etária - Centro .................................. 77
TABELA 12 População residente no bairro Amazonas (Região Administrativa) ................... 79
TABELA 13 População residente por faixa etária - Amazonas ............................................... 79
TABELA 14 Pessoas residentes alfabetizadas por faixa etária - Amazonas ............................ 80
TABELA 15 População residente no bairro Maracanã (Região Administrativa) .................... 81
TABELA 16 População residente por faixa etária - Maracanã ................................................ 81
TABELA 17 Pessoas residentes alfabetizadas por faixa etária - Maracanã ............................. 81
TABELA 18 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (e) ....................................... 97
TABELA 19 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável (e) ................................... 98
TABELA 20 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (e) ............................... 99
TABELA 21 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (e) ......................... 100
TABELA 22 Status da tonicidade no alçamento da variável (e) ............................................ 101
TABELA 23 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (e) ................................... 101
TABELA 24 Nasalidade no alçamento da variável (e) .......................................................... 102
TABELA 25 Classe morfológica no alçamento da variável (e) ............................................. 102
TABELA 26 Grau de formalidade no alçamento da variável (e) ........................................... 103
TABELA 27 Indivíduo no alçamento da variável (e) ............................................................ 103
TABELA 28 Faixa etária no alçamento da variável (e) ......................................................... 105
TABELA 29 Classe social no alçamento da variável (e) ....................................................... 105
TABELA 30 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (e) ............................... 106
TABELA 31 Vogal da sílaba precedente no rebaixamento da variável (e) ........................... 107
TABELA 32 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (e) ................... 108
TABELA 33 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (e) ....................... 109
TABELA 34 Classe morfológica no rebaixamento da variável (e)........................................ 109
TABELA 35 Grau de escolaridade no rebaixamento da variável (e) ..................................... 110
TABELA 36 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (o) .................................... 112
TABELA 37 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (o) ........................ 114
TABELA 38 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (o) ............................ 115
TABELA 39 Status da tonicidade no alçamento da variável (o) ........................................... 116
TABELA 40 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (o) ................................... 116
TABELA 41 Classe morfológica no alçamento da variável (o) ............................................. 117
TABELA 42 Posição da pretônica no alçamento da variável (o)........................................... 117
TABELA 43 Indivíduo no alçamento da variável (o) ............................................................ 118
TABELA 44 Grau de escolaridade no alçamento da variável (o) .......................................... 119
TABELA 45 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (o) ............................... 120
TABELA 46 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (o) ................... 121
TABELA 47 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (o) ....................... 122
TABELA 48 Status da tonicidade no rebaixamento da variável (o) ...................................... 123
TABELA 49 Posição da pretônica no rebaixamento da variável (o) ..................................... 123
TABELA 50 Faixa etária no rebaixamento da variável (o).................................................... 124
TABELA 51 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (e) .................... 126
TABELA 52 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (e) ................ 127
TABELA 53 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (e) ........ 127
TABELA 54 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (e) ............ 128
TABELA 55 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (o) .................... 130
TABELA 56 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (o) ................ 131
TABELA 57 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (o) ........ 131
TABELA 58 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (o) ............ 131
TABELA 59 Indivíduo no alçamento da variável postônica (o) ............................................ 132
TABELA 60 Itens lexicais da variável (o) em posição postônica não final .......................... 134
TABELA 61 Itens lexicais da variável (e) em posição postônica não final ........................... 136
LISTA DE SIGLAS
APFB – Atlas prévio dos falares baianos
DNIT – Departamento Nacional de infraestrutura de transportes
EALMG – Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de desenvolvimento humano
PIB – Produto Interno Bruto
RCE – Regra Categórica de Elevação
RVE – Regra Variável de Elevação
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SUMÁRIO
1 I�TRODUÇÃO ................................................................................................................... 18
2 O COMPORTAME�TO DAS VOGAIS MÉDIAS (E, O) �O PORTUGUÊS DO BRASIL ................................................................................................................................... 21
2.1 As vogais médias pretônicas ............................................................................................ 22
2.2 As vogais médias postônicas ............................................................................................ 40
3 MODELOS DE MUDA�ÇA SO�ORA ............................................................................ 48
3.1 O Modelo �eogramático .................................................................................................. 48
3.2 O Modelo de Difusão Lexical ........................................................................................... 52
3.2.1 Evidências de Difusão Lexical ....................................................................................... 57
4 CO�TEXTO SOCIAL E METODOLOGIA .................................................................... 61
4.1 Montes Claros de ontem .................................................................................................. 62
4.2 Montes Claros de hoje ...................................................................................................... 65
4.3 Um perfil econômico de Montes Claros e do �orte de Minas ...................................... 68
4.4 A linguagem em Montes Claros ...................................................................................... 72
4.5 A pesquisa: procedimentos metodológicos ..................................................................... 74
4.6 Caracterização dos bairros – variável classe social ....................................................... 75
4.6.1 Bairro Centro .................................................................................................................. 76
4.6.2 Bairro Todos os Santos ................................................................................................... 78
4.6.3 Bairro Amazonas ............................................................................................................ 79
4.6.4 Bairro Maracanã ............................................................................................................ 80
5 PROCESSAME�TO DOS DADOS .................................................................................. 83
5.1 Variáveis dependentes ...................................................................................................... 84
5.2 Variáveis independentes .................................................................................................. 84
5.2.1 Vogal da sílaba seguinte e vogal da sílaba precedente .................................................. 84
5.2.2 Status da tonicidade ........................................................................................................ 85
5.2.3 Contexto fonológico precedente ..................................................................................... 85
5.2.4 Contexto fonológico seguinte ......................................................................................... 86
5.2.5 Distância da sílaba tônica .............................................................................................. 86
5.2.6 2asalidade ....................................................................................................................... 87
5.2.7 Classe morfológica ......................................................................................................... 87
5.2.8 Grau de formalidade ....................................................................................................... 87
5.2.9 Posição da pretônica ....................................................................................................... 88
5.2.10 Item léxico ..................................................................................................................... 89
5.2.11 Indivíduo ....................................................................................................................... 89
5.2.12 Sexo ............................................................................................................................... 90
5.2.13 Faixa etária ................................................................................................................... 91
5.2.14 Grau de escolaridade .................................................................................................... 92
5.2.15 Classe social .................................................................................................................. 92
5.3 Aspectos da quantificação dos dados .............................................................................. 93
6 A�ÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................... 95
6.1 O comportamento da variável pretônica (e) .................................................................. 95
6.1.1 Alçamento do (e) pretônico ............................................................................................ 97
6.1.2 Rebaixamento do (e) pretônico .................................................................................... 106
6.2 O comportamento da variável pretônica (o) ................................................................ 111
6.2.1 Alçamento do (o) pretônico .......................................................................................... 112
6.2.2 Rebaixamento do (o) pretônico .................................................................................... 119
6.3 O comportamento da variável postônica (e) em posição não final ............................ 125
6.4 O comportamento da variável postônica (o) em posição não final ............................ 129
6.5 Os itens lexicais ............................................................................................................... 133
7 CO�CLUSÃO .................................................................................................................... 142
REFER�CIAS ................................................................................................................... 145
AP�DICES ......................................................................................................................... 150
A�EXOS ............................................................................................................................... 192
18
1 I�TRODUÇÃO
Diversos fenômenos fonológicos do Português do Brasil (doravante PB) têm suscitado
grande número de indagações e, por conseguinte, uma produção científica crescente. Um
destes fenômenos, objeto deste estudo, é o comportamento das vogais médias (e) e (o) em
posição pretônica e postônica (não final).
Tendo em vista que, no Brasil, o quadro dessas vogais não é fixo, dependendo da
região geográfica em que estão inseridas, este trabalho objetivou investigar os aspectos que
envolvem a variação nas vogais médias (o) e (e), em posição pretônica e postônica (não final)
no português falado em Montes Claros/MG.
Para tanto, verificar-se-á o papel dos contextos fonológicos no comportamento das
mesmas, bem como os aspectos extralinguísticos que influem, ou não, na variação dessas
vogais, além da sua repercussão no nível lexical, quando em posição postônica não final.
A cidade de Montes Claros, situada na região Norte do estado de Minas Gerais, a 417
km de Belo Horizonte, possui 352.384 habitantes1 e, diante de seus 173 anos de história2,
destaca-se como polo cultural na região norte mineira e regional na rede de ensino, pois, além
de uma Universidade Federal e uma Estadual, comporta mais de 9 instituições de ensino
superior particulares3. Além disso, é polo regional econômico e de saúde, sendo referência às
demais cidades da região e, até mesmo, ao extremo sul da Bahia.
Para Antenor Nascentes, em seu Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do
Brasil, Montes Claros encontra-se na zona do subfalar baiano, o qual teria como uma de suas
características a “predominância das vogais pretônicas baixas, como [ɔh’vaʎu], [sεrẽnu]”
(MARTINS, 2006, p. 03-4).
Conforme nossa amostra, o que encontramos, entretanto, em Montes Claros, é um
sistema complexo no que diz respeito ao comportamento das vogais médias (e, o) em posição
pretônica e postônica não final, o que nos dá, pois, um quadro diferente daquele postulado por
Antenor Nascentes.
Além disso, encontramos, em nossa pesquisa, realizações indicativas de um fenômeno
de natureza difusionista, sendo que a variação das vogais médias, seja em posição pretônica
1 Fonte IBGE, 2007. 2 Considerando-se a emancipação da cidade e do município de Montes Claros através da Lei no 802, de 03 de julho de 1837. 3 Conforme dados do IBGE e da Prefeitura de Montes Claros, existiam 03 (três) instituições de ensino superior no ano de 1997, sendo que, este número, em 2006, é 11 (onze), o que indica um crescimento de 183,34%.
19
ou postônica não final, é, pois, um processo controverso, afinal, ocorre em determinados
contextos em um item lexical e, em outro item, sob os mesmos contextos, não ocorre, ou seja,
a variação não é uniforme (conf. CRISTÓFARO-SILVA, 2001; OLIVEIRA, 1992; LEE &
OLIVEIRA, 2003, 2006; RIBEIRO, 2007; VIEGAS, 2001; entre outros).
Assim sendo, utilizou-se, neste trabalho, a pesquisa variacionista como base
metodológica e, como suporte teórico, o modelo difusionista. Assim, tomaremos a variação
como um processo heterogêneo que possui o léxico como o seu lócus, estando, também,
intimamente relacionada ao status social de um determinado item (VIEGAS, 2001).
O trabalho que ora se apresenta pretendeu, portanto, além de estudar o comportamento
das vogais médias pretônicas e postônicas, em posição não final, em Montes Claros, norte do
estado de Minas Gerais, investigar o uso dos itens lexicais com o intuito de contribuir para os
projetos que buscam entender as escolhas léxico-fonológicas dos falantes.
Para que possamos realizar essa discussão, tomaremos como base os resultados das
pesquisas de Campos (2008), em Mocajuba/PA; Castro (1990), em Juiz de Fora/MG; Célia
(2004), em Nova Venécia/ES; Dias, Cassique e Cruz (2007), em Breves/PA; Freitas (2001),
em Belém/PA; Guimarães (2006), na região norte de Minas Gerais; Graebin (2008), em
Formosa/GO; Ribeiro (2007), em Belo Horizonte/MG; Rodrigues (2005), em Cametá/PA;
Silva (1989), em Salvador/BA; Viana (2008), em Pará de Minas/MG e Viegas (2001), em
Belo Horizonte/MG.
Além disso, nos utilizamos, para investigar o caráter difusionista em relação ao
comportamento das vogais médias (e, o) em posição pretônica e postônica não final, dos
trabalhos de Bisol (1981), Bybee (2002), Chen & Wang (1975), Cristófaro-Silva (2001,
2006), Fidelholtz (1975), Khrishnamurti (1976), Labov (1981, 2008), Oliveira (1991, 1995,
2008), Lee & Oliveira (2003) Oliveira & Lee (2006) e Wang (1969).
Os capítulos que compõem esta dissertação apresentam-se, quanto a sua distribuição,
da seguinte maneira: o primeiro capítulo - O comportamento das vogais médias (e, o) no
português do Brasil - se dedica à apresentação das vogais médias (e, o) em posição pretônica
e postônica não final, de acordo com a caracterização das mesmas dentro do português
brasileiro realizada por diferentes pesquisadores. Ainda nesse capítulo, apresentamos alguns
resultados, principalmente aqueles concernentes aos estudos de localidades que façam parte
do “subfalar baiano”, sobre o comportamento dessas vogais.
No segundo capítulo - Modelos de mudança sonora -, promovemos uma discussão
sobre a visão neogramática de mudança linguística e a difusionista, base desta dissertação.
20
Além disso, apresentamos algumas pesquisas sobre o comportamento das médias (e, o) que
possuem, em suas análises, evidências de difusão lexical.
É no terceiro capítulo - Contexto social e metodologia - que realizamos a apresentação
da nossa comunidade de fala, Montes Claros, através de dados históricos e atuais em relação à
mesma, além de discorrer, também, sobre os procedimentos metodológicos da pesquisa.
O quarto capítulo - Processamento dos dados - é dedicado à descrição do
processamento dos dados colhidos e, no quinto capítulo – Análise dos dados -, trato, com base
nos índices percentuais e probabilísticos, do comportamento das vogais médias (e, o) em
posição pretônica e postônica não final na cidade de Montes Claros/MG.
Ainda no quinto capítulo, é feita uma retomada dos pontos mais salientes discutidos
anteriormente, correlacionando-os com os pressupostos teóricos pertinentes. A seguir,
apresentamos a Conclusão do trabalho, as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.
21
2 O COMPORTAME�TO DAS VOGAIS MÉDIAS (E, O) �O PORTUGUÊS DO BRASIL
A questão da variação e mudança linguística sempre foi alvo de grande controvérsia e,
portanto, de grandes discussões. Dentre as unidades de uma língua que estão sujeitas à
variação, temos o componente sonoro, o qual é objeto desta pesquisa.
Conforme Aquino (1997, p. 33), “uma língua tem ambientes potencialmente
hipoarticuláveis que se definem desde o léxico [...], fazendo com que a força dos gestos
articulatórios associados às estruturas silábica e acentual varie sistematicamente.” Para a
autora, é justamente por este motivo que as vogais são extremamente afetadas pela prosódia,
diferentemente das consoantes, das quais apenas algumas são afetadas drasticamente:
as vogais não se alteram apenas dependendo da estrutura silábica, mas, também, dependendo da estrutura acentual (stress, acento lexical e accent, acento frasal). A acentuação sempre afeta a vogal e varia conforme a posição na palavra, no sintagma e no enunciado [...], assim como do registro e estilo usados pelo falante. (AQUINO, 1997, p. 35).
Para o Português do Brasil (doravante PB), conforme nos diz Câmara Jr. (2007, p. 40),
é essa intensidade sonora (tonicidade) que constitui a “posição ótima” para a caracterização
das vogais. Tomando, então, a questão da tonicidade como parâmetro, conforme Mattoso
Câmara Jr. (2007, p. 44), podemos verificar, no PB, três quadros de vogais átonas:
1º quadro (vogais pretônicas):
altas /u/ /i/
médias /o/ /e/
baixa /a/
2º quadro (primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas
átonas):
altas /u/ /i/
médias /../ /e/
baixa /a/
22
3º quadro (vogais átonas finais, diante ou não de /s/ no mesmo vocábulo):
altas /u/ /i/
baixa /a/
Entretanto, para este estudo, interessa-nos apenas os dois primeiros quadros - vogais
pretônicas, e postônicas dos proparoxítonos -, sobre os quais discorremos a seguir, tendo
como enfoque principal o comportamento das vogais médias (e) e (o).
2.1 As vogais médias pretônicas
As vogais médias pretônicas são responsáveis por situações de variação em todos os
dialetos do PB.
No Brasil, diferentemente de Portugal4, “a posição pretônica apenas neutraliza, ou
suprime, a oposição de dois graus nas vogais médias5.” (CÂMARA JR, 2002, p. 24). A
oposição entre /e, i/ e /o, u/ pretônicos, no Brasil, é, comparativamente com o português
europeu, “funcionalmente pobre, porque a vogal alta se substituiu à vogal média
correspondente, na pronúncia usual, para a maior parte dos vocábulos que têm vogal alta na
sílaba tônica” (CÂMARA JR, 2002, p. 24), como em comprido, homófono de cumprido, ou
c[u]ruja, m[i]nino.
Entretanto, nos alerta que há certa “flutuação dentro do sistema, que atrofia ou
hipertrofia elementos dele” (CÂMARA JR, 2007, p.45).
O quadro das pretônicas proposto pelo autor nos dá conta, então, da redução do
sistema vocálico de 7 para 5 vogais em posição pretônica, onde o traço distintivo que separa
em duas unidades /e/ e /ε/, assim como /o/ e /ɔ/, é perdido; sendo assim, chama este processo
de neutralização e nos diz, em relação ao quadro das vogais médias pretônicas no Brasil, que
“é relativamente fácil fazer uma descrição rigorosa dessa situação, levando-se em conta as
diversidades de registros e as partes do vocabulário de uso frequente ou de uso restritivamente
‘culto’[...].” (CÂMARA JR, 2007, p.45).
4 Em Portugal, /e/ e /o/ são decorrentes de processos diacrônicos (crase entre /e/ e /o/ contíguos no período arcaico ou entre /e/ e/ou /o/ que eram, inicialmente, seguidos por uma consoante oclusiva na mesma sílaba) e, portanto, só ocorrem em uma parcela muito pequena do vocabulário tornando-se, assim, um quadro extremamente complexo (CÂMARA JR, 2002). 5 Vide o 1º quadro (vogais pretônicas) da página 21 deste Capítulo.
23
Thaís Cristófaro Silva (2005) nos fala que a ocorrência das vogais pretônicas [´, ø] é
sujeita a certas categorias específicas, que ocasiona marca de variação dialetal, em termos
geográficos, ou mesmo de idioleto, e nos lista as particularidades dialetais – ou de idioleto –
concernentes à ocorrência, no PB, das pretônicas [´, ø]:
(1) “em formas derivadas com os sufixos: -mente, -inh, -zinh ou –íssim quando o
radical do substantivo/adjetivo apresenta /ε, ɔ/ em posição tônica” (CRISTÓFARO-SILVA,
2005, p.82), como as palavras derivadas de séria e mole (s[ε]riamente, s[ε]rinha, s[ε]riazinha,
s[ε]riíssima; m[ɔ]lemente, m[ɔ]linho, m[ɔ]lezinho, m[ɔ]líssimo), parecendo, tal
comportamento, ser uniforme para o português de um modo geral;
(2) “quando a vogal tônica da palavra é uma vogal média-baixa: ‘perereca’ [pεɾε’ɾεkə],
‘pororoca’ [pɔɾɔ’ɾɔkə], ‘precoce’ [pɾε’kɔsI], ‘colega’ [kɔ’lεgə]”, sendo que, para os falantes
que possuem essa pronúncia, “a vogal pretônica será média baixa quando a vogal tônica for
também uma vogal média-baixa” (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 83);
(3) sem a presença de qualquer outra média baixa na palavra, como em [gøs’toz¨];
(4) quando em posição tônica ocorrer uma vogal nasal em/en ou om/on, tal como em
s[ε]tembro, r[ε]dondo, n[ɔ]venta, c[ɔ]lombo;
(5) “quando seguida por consoante que ocorre na mesma sílaba”: (a) s: d[ε]stino,
c[ɔ]stume; (b) r: v[ε]rtical, c[ɔ]rdeiro; (c) l: s[ε]lvagem, s[ɔ]ldado (CRISTÓFARO-SILVA,
2005, p. 84).
Assim sendo, em relação ao comportamento das vogais médias em posição pretônica,
podemos dizer que há quatro fenômenos fonológicos que dizem respeito às mesmas:
manutenção da vogal média fechada, neutralização, rebaixamento e alçamento.
Diz-nos Lee (2009) que, em posição pretônica e postônica não final, “as vogais médias
podem flutuar em relação ao traço [ATR] e ao traço [High] na sua produção – {a, ´~e~i, i,
o~ø~u, u}.” (LEE, 2009, p. 30).
Já para Yacovenco (1993), as pretônicas se neutralizam quando advindas de crase e,
nas regiões Centro e Sul do Brasil, há preferência para a realização das pretônicas com timbre
fechado, fato adverso do português de Portugal, o qual tende a pronunciá-las abertas.
Para Mattoso Câmara Jr.,
basta a ausência de tonicidade para anular as oposições distintivas entre /è/ e /e/, de um lado, e, de outro lado, entre /ò/ e /o/, com a fixação do segundo elemento de cada par na pronúncia do Rio de Janeiro. O fechamento de um /è/ ou um /ò/ é a consequência mecânica da perda da sua tonicidade por motivo de derivação vocabular ou próclise sintática [...] Em condições átonas particulares, a neutralização é (sic) em toda a série (seja a anterior, seja a posterior), e temos,
24
então, a série anterior representada pelo arquifonema /i/ e a serie posterior pelo arquifonema /u/. (CÂMARA JR, 2008, p. 58).
Por outro lado, o autor nos diz que, pela tendência de harmonização da altura da vogal
média em posição pretônica com a vogal tônica, as oposições /e/ e /i/ e /o/ e /u/ sofrem
prejuízos, havendo, então, o que se denomina fenômeno da harmonização vocálica.
Entretanto, esse fenômeno não resulta no funcionamento do triângulo reduzido de três vogais,
a saber:
altas /u/ /i/
baixa /a/
devido ao fato de que /e/ e /o/, diante de /a/ tônico, possuem contrastes significativos com /i/ e
/u/, respectivamente, “como em pesar-pisar, corar-curar. Podemos falar antes num
‘debordamento’ do /i/ sobre o /e/ e do /u/ sobre o /o/ nessas condições” (CÂMARA JR, 2008,
p. 60). Para o autor, na pronúncia coloquial tensa, /e/ e /o/ conservam uma autonomia
fonêmica em relação a /i/ e /u/, havendo, pois, uma resistência à harmonização e,
consequentemente, um resgate de /e/ e /o/ em muitos vocábulos nos quais o fenômeno em
questão os reduziria a [i] e [u], como no caso de menino e feliz, por exemplo.
Não é só neste autor que há uma tendência a caracterizar o alçamento das vogais
médias (e) e (o) como um processo de harmonização vocálica. Tomando a harmonização
vocálica como sua variável dependente, Bisol (1981) nos fala que há dois tipos de
harmonização: um que diz respeito ao modo e outro ao ponto de articulação, sendo este o que
ocorre no PB, estando, o mesmo, em constante interação com a regra de acentuação. Para a
autora, a atonicidade terciária condiciona a aplicação da regra de harmonização vocálica, e
ainda:
Parece que é a preservação do acento secundário que intercepta a regra que torna [-bx] as vogais baixas, ou seja, usando termos da fonologia clássica, a neutralização [...] É também a preservação do acento secundário que intercepta a regra da harmonização vocálica em casos como os seguintes: lento, lentíssimo, mas não lintíssimo; bobo, bobinho, mas não bubinho. Ao que tudo indica, a classe dos formadores de grau e a terminação –mente têm características sintáticas e fonológicas que tendem a interceptar o enfraquecimento do acento e consequentemente a redução vocálica. Por conseguinte, é a átona permanente, a que nunca recebe o acento principal, a vogal que se supõe como ambiente por excelência da regra de harmonização [...]. (BISOL, 1981, p. 100-1).
25
Além disso, diz que a regra de harmonização vocálica que age na esfera da estrutura
do vocábulo (menino ~ minino) e extrapola, às vezes, “junturas morfêmicas (sofria ~ sufria)”,
não atinge prefixos (predizer ~ *pridizer) “ou qualquer formação vocabular que se assente no
processo de composição (sempre-viva ~ *simpri-viva), isto é, não funciona por cima do limite
/#/ nem ultrapassa o limite de derivado especial /=/.” (BISOL, 1981, p. 108).
Klunck (2007, p. 77), em seus estudos sobre o alçamento das vogais médias pretônicas
em Porto Alegre/RS, nos diz que, devido aos índices extremamente baixos de alçamento da
pretônica sem motivação aparente, não existe a regra de elevação no sistema linguístico do
sul, “diferentemente do que ocorre com a regra de harmonização vocálica”.
Gianni F. Célia (2004), baseando-se na caracterização feita por S. R. Anderson (1980)
para o processo de harmonização vocálica6, verifica que o processo que ocorre com as vogais
médias no PB não é condizente com a visão categórica que caracterizaria a harmonização,
sendo, pois, variável. Assim, opta por desconsiderar a variação das médias pretônicas como
harmonização vocálica e por nomear este processo como assimilação regressiva, tendo em
vista que a altura da vogal que segue a pretônica é o traço que desencadeia o processo de
assimilação e, consequentemente, o alçamento de /e/ e /o/. Entretanto, observa que nem todos
os casos por ela registrados se encaixam nessa descrição, tendo em vista que as vogais
pretônicas também sofrem assimilações decorrentes das consoantes a elas subjacentes e nos
relata que, “por vezes, os fatores que favorecem o alteamento de E não favorecem o de O, e
vice-versa. É possível que realmente haja algum tipo de condicionamento lexical, mas isso
não foi averiguado neste trabalho.” (CÉLIA, 2004, p. 84).
De acordo com Célia (2004, p. 40-1), podem-se sintetizar os fatores favorecedores de
alçamento da vogal pretônica, de acordo com as pesquisas por ela consultadas, através de
quadros comparativos, a saber:
6 Segundo a autora, há duas características para a harmonização: (1) o caráter categórico do processo; (2) “a necessidade de se aplicar a todas as vogais do vocábulo”. (CELIA, 2004, p. 83).
26
BISOL SILVA VIEGAS Fatores E O E O E O Nasalidade nasal oral - - - - Tônica i i, u I i, u i, u i, u Pretônica seguinte
i i, u I i, u i, u i, u
Distância - - - - - - Atonicidade Átona
permanente e variável
Átona permanente e casual variável
Casual média e variável
Átona permanente e casual variável
Casual com Alternância
Átona permanente e casual s/ alternância
Consoante precedente
velar velar e labial Labial, velar e alveolar não lateral
Velar, palatal e labial
-
Obstruinte
Consoante seguinte
Velar e palatal Palatal e labial Palatal e velar
Palatal, labial e Alveolar
Sonorante Nasal e Obstruinte (modo) Palatal (ponto)
Sílaba -
-
-
-
Travada por fricativa
CVC e CV
Faixa etária + velhos + velhos + velhos + velhos - - Sexo - - homens homens - - Grupo social - - - - Baixo - Etnia Metropolitanos
e italianos Metropolitanos e italianos
- - - -
Quadro 1: Comparativo de estudos: Bisol, Silva e Viegas Fonte: CÉLIA, 2004.
SILVA MOTA VE�ECIA�OS Fatores E O E O E O Nasalidade i,u i nasal - Tônica i, i~, u, u~ i, i~, u, u~ i i,u Pretônica seguinte
i, i~, u, u~, e~ i, i~, u, u~ i U
Distância - - - - - - Atonicidade Átona
permanente Átona Permanente e formas verbais
Atona permanente
Átona permanente e casual variável
Atona permanente e casual baixa
Átona permanente
Consoante precedente
palatal Velar Velar, labial Palatal e Bilabial
Palatal e Velar
Consoante seguinte
labial velar Velar labial velar Palatal, bilabial e Labiodental
Sílaba - - - - aberta Aberta Faixa etária + velhos
Quadro 2: Comparativo de estudos: Silva, Mota e venecianos Fonte: CÉLIA, 2004.
Gianni Fontes Célia (2004, p. 61), em suas observações a partir da fala de moradores
do município de Nova Venécia, localizado na região noroeste do estado do Espírito Santo, nos
27
diz que o comportamento da vogal média anterior (e) é diferente da vogal média posterior (o),
sendo esta mais suscetível à variação.
Em relação ao rebaixamento das médias pretônicas, diz a autora que o mesmo parece
ser também um fenômeno de assimilação regressiva. Entretanto, este parece ser, em Nova
Venécia, mais regular do que o alçamento. Sendo, pois, o processo de rebaixamento em Nova
Venécia não tão escasso como no Rio de Janeiro, e menos frequente do que o da Bahia, a
autora conclui que o “Espírito Santo é uma região de transição, no que diz respeito à
realização das vogais médias em posição pretônica.” (CÉLIA, 2004, p.106).
Em estudos sobre o falar capixaba, Célia (2004, p. 61) observa que a vogal média
posterior (o) é mais suscetível à variação do que a média anterior (e), além da predominância
das médias [e, o] sobre as altas [i, u] e baixas [ε, ɔ]. Entretanto, apesar dos percentuais de rebaixamento serem baixos (4,7%) em Nova Venécia, município da pesquisa, são mais
elevados que o do alçamento da vogal média pretônica, parecendo, assim, que este é menos
regular do que aquele, apesar de ser, na opinião da autora, dissemelhante ao registrado na
Bahia e em outros estados do Norte e Nordeste do Brasil.
Por outro lado, de acordo com os dados coletados, o rebaixamento e o alçamento das
médias seguem os mesmos padrões e possuem a presença de uma vogal baixa na sílaba
seguinte como principal favorecedor. Para a autora,
de acordo com os argumentos apresentados, pode-se dizer que o processo de alteamento das vogais médias pretônicas é variável e se dá por meio de uma assimilação regressiva desencadeada por uma vogal alta imediatamente seguinte à pretônica. No entanto, nem todos os casos de alteamento registrados encaixam-se nessa descrição e as vogais pretônicas também sofrem assimilações desencadeadas pelas consoantes a elas adjacentes. Por vezes, os fatores que favorecem o alteamento de E não favorecem o de O, e vice-versa. É possível que realmente haja algum tipo de condicionamento lexical, mas isso não foi averiguado neste trabalho. (CÉLIA, 2004, p. 84).
Benedita Campos (2008, p. 95), em Alteamento vocálico em posição pretônica no
português falado no Município de Mocajuba-Pará, nos fornece um “Mapa representativo da
realização das médias em alguns estados brasileiros”, formulado através dos estudos de
diversos autores7, e nos diz que, no português falado do Pará, o alçamento da vogal pretônica
é recorrente, entretanto, divide espaço com o rebaixamento.
7 Mota (1979); Bisol (1981); Callou & Leite (1986); Callou, Leite & Coutinho (1991); Maia (1986); Viegas (1987); Barbosa da Silva (1991); Bortoni-Ricardo et al (1991); Yacovenko (1993); Pereira (2000); Célia (2004); Schwindt (2002); Guimarães (2007); Kailer (2006); Silveira & Tenani (2007); Nina (1991); Freitas (2001); Rodrigues (2005); Dias, Cassique & Cruz (2007); Oliveira (2007) e Araújo & Rodrigues (2007).
28
Para Campos (2008), o efeito da vogal alta na sílaba tônica parece caracterizar
harmonização vocálica, tanto em (e) quanto em (o). A autora, em sua pesquisa, constata que:
além da existência de um fenômeno de harmonização vocálica, o peso relativo – representando as correlações com outros fatores - encaminha para o que caracterizamos neste trabalho como levantamento sem motivação aparente, uma vez que não temos vogal alta tônica que exerça efeito sobre a pretônica, mas vogais médias de 1º grau. É interessante observar que o efeito exercido pelas vogais médias de 2º grau apresentou pesos menos relevantes e, no processo de articulação estas estão mais próximas das altas do que aquelas (1º grau), o que poderia possibilitar maior distanciamento. (CAMPOS, 2008, p.135, grifo nosso).
Ainda em Campos (2008, p. 130), em sua análise do alçamento da vogal pretônica no
dialeto de Mocajuba/PA, verifica-se a presença da manutenção da vogal média em posição
pretônica; entretanto, a ausência do fenômeno é superior à sua presença em apenas dois
pontos percentuais. Por outro lado, em relação ao peso relativo, tanto para o alçamento quanto
para a manutenção da vogal média pretônica, há uma equivalência (.5) que, assim, atesta
“uma situação de variação neutra no português falado no município de Mocajuba (PA).” Com
isto, tendo como base os estudos de Dias et al (2007), Oliveira (2007) e Araújo & Rodrigues
(2007), nos municípios de Breves e Cametá/PA, reformula o mapa dialetológico do estado, no
qual o alçamento divide espaço com o rebaixamento, conforme dado a seguir:
TABELA 1 O comportamento da vogal média em posição pretônica no Pará8
Municípios Presença alçamento Peso relativo
Presença de alçamento Percentual
Belém .29 /o/ e .22 /e/ - Breves - 81% (urbana) Bragança - 14% para /e/; 26% para /o/ Cametá .29 29% para /e/; 40% para /o/ Mocajuba .50 49%
Fonte: CAMPOS, 2008
Conforme Dias, Cassique e Cruz (2007), em sua pesquisa sobre o alçamento das
vogais pretônicas em Breves/PA,
a vogal contígua à sílaba tônica /u/ ou /i/ elevam (sic) as possibilidades de ocorrência de alteamento, assim como a distância mais próxima da vogal pré-tônica em relação à tônica (no caso a distância 1), em contrapartida, quanto maior a distância da tônica em relação à pré-tônica, menor a possibilidade de ocorrência do
8 Conforme Campos (2008, p. 131).
29
fenômeno estudado, o que comprova a existência do fenômeno da harmonização vocálica, no qual a pré-tônica favorece o alçamento pré-tônico. (DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007, p. 16).
Tal fato encontra eco nas palavras de Silva (1989, p. 146), que nos diz que o contexto
mais favorável para o alçamento das pretônicas é o das vogais altas. Para a autora, tal fato se
trata, “evidentemente, de um processo de assimilação regressiva da altura da vogal da sílaba
subsequente, de uma regra de harmonização vocálica”.
Conforme nos mostram Dias, Cassique e Cruz (2007, p. 07), em estudo realizado em
Breves/PA, após a primeira análise quantitativa, há a predominância do não alçamento da
pretônica, a saber:
TABELA 2 O alçamento em Breves/PA
Variável Dependente Valores de Aplicação Percentual
Ausência de alteamento 1498/2624 57%
Presença de alteamento 1126/2624 43%
Fonte: DIAS, 2007
Nos estudos desses autores, observa-se que as médias baixas [ε] e [ɔ] (184 e 216
ocorrências, respectivamente) realizam-se menos do que as médias altas [e], [o] (1086 e 976
ocorrências, respectivamente). Tal fato, na opinião dos autores, “conflitua com a divisão
dialetal de Antenor Nascentes, na qual os dialetos do Norte do Brasil se caracterizariam pela
realização de vogais baixas; mas, por outro lado, reforça as suposições de Silva Neto (1957, p.
75)9, que caracteriza o Pará como uma ilha dialetal em relação aos demais dialetos
circunvizinhos.” (DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007, p. 08).
Também dizem que a questão do alçamento das vogais médias em posição pretônica
“é um fenômeno que está em um gradual processo de extinção” (DIAS, CASSIQUE &
CRUZ, 2007, p. 15), sendo a sua ocorrência proporcional à faixa etária na qual o falante
encontra-se inserido.
9 Para Silva Neto, no Pará, em 1759, prevalecia a língua geral: “fala-a toda a nação indígena que se relaciona nas povoações. Nas cidades, fala-se da porta da sala para dentro; e nas vilas e demais povoações, excetuada Pauxis no Baixo Amazonas, é a única, não por se ignorar a portuguesa, mas porque, constrangidos os indígenas, os Mamelucos, em falá-la pela dificuldade de formarem os tempos dos verbos, do que as dispensa a geral, respondem por esta se se lhes pergunta por aquela.” (NEIVA (1940) apud SILVA NETO, 1950, p. 76-7, grifo nosso).
30
Graebin (2008), baseando-se nos estudos de Silva Neto10, nos diz que essa regra de
harmonização vocálica é variável, pois ocorre, também, em palavras cujo ambiente fonético
seria desfavorável à aplicação da mesma, como f[u]gueira, b[u]neca e s[u]taque.
A autora, em sua pesquisa sobre a pronúncia das vogais médias pretônicas em
Formosa/GO, ainda nos diz que “os pesos relativos referentes à elevação, na fala de Formosa,
não apontam as vogais altas como as principais condicionadoras e, portanto, não se pode falar
de uma regra gramatical de harmonização vocálica nesta pesquisa.” (GRAEBIN, 2008,
p.161).
Conforme Bisol (1981), Cavaliere (2005), Cristófaro-Silva (2005) e Oliveira (1991),
tal processo é um caso de variação linguística, tendo em vista que não provoca alteração no
sistema. Nas palavras de Cavaliere (2005):
Em outros termos, quando temos /i/ e /u/ tônicos, as pretônicas médias /e/ e /o/ se elevam em linguagem distensa até nivelarem-se às altas: menino [mi’ninU], bonito [bu’nitU], não obstante, por motivos variados, sobretudo os que visam estabelecer distinção ou ênfase no discurso, o falante sempre tenha a possibilidade de manter a pronúncia da vogal média de segundo grau [me’ninU], [bo’nitU]. (CAVALIERE, 2005, p. 76).
Entretanto, para Bisol (1981), a questão da variação da pretônica está
sujeita à própria natureza de um fenômeno probabilístico: a) a maior probabilidade de aplicação da regra e seu maior uso estão diretamente relacionados com a multiplicidade de fatores concorrentes. b) No entanto a regra pode deixar de funcionar em contextos que satisfaçam todas as suas condições de operabilidade. c) Por outro lado, a regra pode operar em contextos inesperados, embora o faça com raridade. (BISOL, 1981, p. 260-1).
A autora nos diz ainda que, em consonância com o observado por Dias, Cassique e
Cruz (2007), a regra do alçamento da vogal média pretônica11 parece estar em equilíbrio no
que concerne aos quatro grupos estudados no dialeto gaúcho: “ela não apresenta indícios de
tendência de expansão por alargamento de abrangência contextual.” (BISOL, 1981, p. 262).
Por outro lado, a população mais jovem a utiliza menos e, portanto, essa regra, assim como
em Breves/PA, parece estar em processo de regressão.
Graebin (2008, p. 128) toma como uma variável independente, em seus estudos sobre
a vogal média pretônica na fala de Formosa/GO, o controle lexical, tendo em vista que
10 Para o referido autor, a harmonização ocorre entre vogais homorgânicas anteriores e posteriores e as não homorgânicas. (GRAEBIN, 2008). 11 Que a autora toma como o fenômeno da harmonização vocálica.
31
observou, no momento da codificação dos dados, itens lexicais como você, pessual, semana,
minino, purque com grande frequência, além de serem produzidos de modo categórico com
uma variante.
Tendo colhido e codificado os dados da fala de Formosa, a autora nos dá a seguinte
tabela sobre o comportamento das vogais médias em posição pretônica:
TABELA 3 O comportamento das vogais médias pretônicas na fala de Formosa/GO
Variante média fechada [e, o]
Variante média aberta [ε, ɔ]
Variante alta [i, u]
Vogal /e/ 2265/3683 61,5%
446/3683 12,1%
972/3683 26,4%
Vogal /o/ 1780/2863 62,2%
420/2863 14,7%
663/2863 23,2%
Total 4045/6546 61,8%
866/6546 13,2%
1635/6546 25%
Fonte: GRAEBIN, 2008
A partir desses valores, pode-se verificar que, na fala de Formosa/GO, as vogais
médias (e, o) apresentam índices semelhantes de variação, sendo que na variante média aberta
houve uma dissemelhança no comportamento das mesmas: a vogal (o) se sobressai levemente
(14,7% contra 12,1% da vogal (e)); fato contrário ocorre na variante alta, onde (e) (26,4%) se
sobressai a (o) (23,2%). A partir de comparações com estudo da fala de Brasília/DF,
Jeremoabo/BA, Salvador/BA e Recife/PE, conclui que “a fala de Formosa ocupa, de fato, um
lugar intermediário entre a fala de Brasília e a fala de cidades nordestinas.” (GRAEBIN, 2008,
p. 150).
A autora conclui, tendo por base o trabalho dialetológico de Nascentes, que
a presença da variação ternária das vogais médias /e/ e /o/ em posição pretônica (média-fechada ~ média-aberta ~ alta) liga a variedade falada em Formosa às variedades linguísticas da Bahia e do norte de Minas Gerais, ao mesmo tempo que a separa das variedades faladas ao sul de Goiás, região onde predomina a variação binária (média-fechada ~ alta). A comparação dos resultados percentuais do corpus de Formosa com o de outras pesquisas dialetológicas (Rossi, 1963; Zágari, 1998) e sociolinguísticas (Silva, 1989; Soares, 2004; Corrêa, 1998), referentes ao subfalar baiano, confirmou a classificação feita por Nascentes (1953). Por outro lado, a comparação evidenciou também que o nível de abaixamento na fala de Formosa (13,2%) é bem menor que o encontrado em Salvador (59%) e em Jeremoabo (50,5%), mas maior que o verificado em Brasília (3,5%), ficando, assim, num nível intermediário. (GRAEBIN, 2008, p. 208).
32
Diferentemente desta “marca dialetal” comprovada no falar dos formosenses,
Rodrigues (2005, p. 113) constata, em Cametá/PA, uma perda de identidade dialetal, tendo
em vista que “a ausência de alteamento /o/ > [u] é 16% maior que a sua presença.” Ainda em
relação à ausência de alçamento da vogal pretônica, o autor nos diz que, na sua variável classe
gramatical do vocábulo, o falante evita o fenômeno quando se trata de nomes (37%),
enquanto que a ocorrência do alçamento nos verbos é bem maior, 49%.
O alçamento, no Português do Brasil, é caracterizado pela modificação do traço [-alto]
para o [+alto] das vogais médias (e) e (o), que se realizam como vogais altas [i] e [u] (coruja
~ c[u]ruja; bebida ~ b[i]bida) de forma variável. Muitos trabalhos têm discutido esse
fenômeno e, segundo Cristófaro-Silva (2005, p. 84), “o estudo da variação dialetal das vogais
pretônicas no português brasileiro ainda merece uma investigação detalhada.” Para Viegas
(2001), hoje, em relação ao processo de alçamento, temos:
a) a maioria dos itens alçados pode ser caracterizada como constituindo um processo de harmonização vocálica – ambiente favorecedor: vogal alta seguinte –, pelo menos no caso de e; b) nem todos os itens que têm ambiente caracterizando um processo de harmonização vocálica alçam; c) existem itens que alçam apesar de não terem ambiente caracterizador de harmonização vocálica. O item (a) indica que houve um “sentido mecânico”, como diziam os NG, mas a atuação desse “sentido mecânico” foi selecionada pelos itens lexicais, como indicam (b) e (c). Ou seja, existe um sentido, uma direção, mas ela não é automática. (VIEGAS, 2001, p. 36).
Ainda para a autora, considerando-se a constituição de regras, o alçamento das médias
pretônicas no dialeto de Belo Horizonte parece possuir exceções (como murango e simestre),
além de serem “sensíveis à fronteira de morfema12 (renascimento, coautor) e serem “cíclicas”
(cunhicia, piquinininho); “ou seja, têm características das regras lexicais.” (VIEGAS, 2001, p.
41).
Sobre o aspecto difusionista, Viegas (2001), ao estudar o processo de alçamento das
vogais médias pretônicas em Belo Horizonte/MG, observou que, apesar de ser bastante
regular em suas fases iniciais, ainda há uma seleção lexical a qual, para a autora, atua em
nível de familiaridade do item no dialeto.
Para comprovar a sua tese, a autora faz uma análise histórica de alguns itens lexicais e
a compara com a pronúncia de informantes atuais. Conclui que o processo de alçamento
difere no que diz respeito às vogais médias pretônicas posteriores e anteriores, sendo, nestas,
12 Nominais prefixados.
33
menos regular que naquelas, apesar de, em ambos os casos, não se aplicar a alguns itens,
mesmo que os mesmos possuam ambiente favorecedor para a aplicação da regra. E nos diz:
Parece-me que há aqui também a questão da formalidade e/ou valoração social e semântico-pragmática do item. Mais uma vez temos evidências de que estamos diante de um processo de difusão lexical, pois a regra atinge alguns itens e não atinge outros. Mesmo com todo o esforço para encaixarmos todos os itens em uma regra, fica um resíduo (itens que têm ambiente mas não alçam), característico do processo de difusão lexical – a seletividade lexical. (VIEGAS, 2001, p. 114).
Silva (1989, p. 60), em um estudo diacrônico do alçamento das pretônicas, nos diz
que, em relação aos estudos dos gramáticos do passado, não há conclusões que possam ser
consideradas definitivas sobre o vocalismo do português antigo, principalmente no que
concerne à alternância entre médias e baixas. Em suas palavras, a preocupação com a difusão
das normas de prestígio e, consequentemente, a falta de interesse pelos dialetos, juntamente
com a discussão da reforma ortográfica que perpassava as descrições, “são provavelmente as
causas de não terem sido registrados outros detalhes sobre a pronúncia das pretônicas.”
(SILVA, 1989, p. 60). Para esta autora, a regra de alçamento13 possui formulação binária nos
diversos dialetos em que é aplicada e/ou conhecida, regulando, assim, a variação entre vogal
[-alta] e vogal [+alta]. Em seus estudos sobre o alçamento das vogais médias (e) e (o) no
dialeto de Salvador, a autora nos propõe algumas regras, sendo elas:
Regra 1 – Regra Variável de Elevação (5ª versão) – RVE-114
V <+alt.> / X C1 _______________________ C1 V
-ac +alt <+alt.cas/alt> +ant +alt
+rec +rec -cor -nas
+ant +alt
-cor +nas
Condição: X não pode conter acento 1
Uma vogal pretônica recuada, ou seja, O, tem maior probabilidade de se tornar alta (u) quando: é uma átona casual que varia na família lexical com uma vogal acentuada alta; está precedida, na ordem de importância, de uma consoante velar (alta recuada) ou de uma labial (anterior não-coronal); e/ou está seguida de, pelo menos, uma consoante, preferencialmente labial, que a separa de uma vogal, principalmente alta não-nasal e, secundariamente, alta-nasal. Exemplos: descubrir / descubro (sic). (SILVA, 1989, p. 188).
13 Ao que a autora nomeou “Regra Variável de Elevação”. 14 Transcrito conforme apresentado em Silva (1989).
34
RVE-2
V <+alt> / C _________________ C1 V
-ac + ant <+alt.cas/alt> +alt
- rec -cor -nas
+ant +alt
+cor +nas
-lat
Condição: X não pode conter acento 1
Uma vogal pretônica não recuada, ou seja, E, tem maior probabilidade de se tornar alta (i) quando: é uma átona casual que varia na família lexical com uma vogal acentuada alta; está precedida na ordem de importância de uma consoante labial (anterior não-coronal) ou dento-alveolar, exceto X e X (anterior coronal não-lateral); e/ou está seguida de, pelo menos, uma consoante que a separa de uma vogal não-nasal e, secundariamente, de uma vogal alta nasal. Exemplos: sirviço / sirvo. (SILVA, 1989, p. 188).
Regra 2: Regra Categórica de elevação (RCE)
V <+alt> / # ______________ C $
-ac +cor
-rec -soa
+cont
-son
Uma vogal pretônica não-recuada se torna alta em posição inical absoluta, se é seguida na mesma sílaba por uma consoante sibilante ou chiante surda [+coronal –soante +contínua –sonora]. Ex.: iscuro, iscola, ispécie, istado. (SILVA, 1989, p. 230).
35
Regra 3: Regra Variável de Elevação e (RVE-3) – versão provisória
V <+alt> / # ______ $ C V
-ac -soa <+alt>
-rec +cont
-cor
+ant
+son
Uma vogal pretônica não recuada E, tem maior probabilidade de se tornar alta em posição inicial absoluta, se é seguida de uma consoante sibilante sonora [-soante +contínua –coronal +anterior +sonora], pertencente à sílaba vizinha e uma vogal alta. Ex.: ixibida, ixata, ixame (SILVA, 1989, p. 237).
A autora considera que essas regras podem sofrer interferências morfológicas, como
em letrinha e sobreposta, por exemplo, que deveriam se realizar como l[i]trinha ou l[ε]trinha
e s[u]breposta ou s[ɔ]breposta, respectivamente. Entretanto, nos diz que
essa interferência nem sempre acontece. Quando essas barreiras se afrouxam e o significado do vocábulo perde seu vínculo semântico original, as regras descritas passam a atuar sobre a pretônica. Veja-se, por exemplo, o u de direturia (diretôr+ia), o ô de farôlete (faròl+ete), e o ò de astròlugia (astru+logia), podendo, portanto, caracterizar condicionamento lexical. (SILVA, 1989, p. 317, grifo nosso).
Fala-nos a autora que, em uma visão diacrônica do processo de rebaixamento, pode-se
dizer que as pretônicas com o traço [-alto] já existiam em grande número no século XVIII e,
como no caso do alçamento, eram condicionadas fonológica e morfologicamente. Assim
sendo, o rebaixamento da média pretônica não é uma tendência “exclusiva dos dialetos
brasileiros”, estando, também, no Português Europeu, no de Goa e no crioulo de Cabo Verde
(SILVA, 1989, 75-6).
O rebaixamento, na visão da autora, mesmo sendo considerado uma característica
dialetal do norte do Brasil, principalmente após a divisão dialetal de Antenor Nascentes, e de
acordo com outros estudos (vide Célia (2004), por exemplo), é, pois, traço definidor
importante dos falares brasileiros, tendo em vista que o mesmo é realizado em outras regiões
do país além daquela do subfalar baiano. E conclui que não só a vogal acentuada é
determinante da altura da vogal pretônica, mas, também, a vogal não acentuada, sendo ambas,
a tônica e a átona, da sílaba subsequente, afinal, “a vogal da sílaba acentuada não contígua,
36
sozinha, não torna alta uma pretônica, qualquer que seja o dialeto em foco.” (SILVA, 1989, p.
97).
Em seus resultados, pôde constatar que é possível encontrar as variantes [u, o, ɔ] e [i,
e, ε] no mesmo vocábulo (prop[u]rção, prop[o]rção, prop[ɔ]rção e n[i]c[i]ssita,
n[e]c[e]ssitam, n[ε]c[ε]ssita, respectivamente), além de verificar que as vogais médias e as
baixas não se encontram em uma distribuição complementar perfeita, tal qual apregoava em
sua dissertação O ensino da leitura segundo perspectivas de uma análise ortográfico-
fonológica (1974).
Prova disto nos dá Yacovenco (1993, p. 80) ao demonstrar a distribuição das médias
pretônicas de acordo com seu tipo e em função das regras variáveis:
TABELA 4 Distribuição das médias pretônicas no falar culto carioca
Tipo de Pretônica Manutenção Alçamento Abaixamento Total
No de ocorrências
% No de ocorrências
% No de ocorrências
% No de ocorrências
Anterior 1299 75,6 361 21,0 58 3,4 1718
Posterior 788 67,2 350 29,8 35 3,0 1173
Anterior nasal 188 68,1 87 31,5 1 0,4 276
Posterior nasal 221 83,7 42 15,9 1 0,4 264
Ditongo 115 87,1 13 9,8 4 3,0 132
Total 2611 73,3 853 23,9 99 2,8 3563
Fonte: YACOVENCO, 1993
Tais dados comprovam que o rebaixamento, mesmo em número inferior ao alçamento
e à manutenção da pretônica, ocorre no falar culto carioca, tendo como contexto favorecedor
os segmentos orais anterior e posterior, respectivamente. Divergentemente dos resultados da
Tabela 4 são os encontrados em Silva (1989, p. 106). A autora nos fornece a seguinte tabela
de ocorrência das variantes em contextos orais e nasais15:
15 Observando-se apenas os totais de ocorrências das variantes.
37
TABELA 5 Ocorrência das variantes [u, ô, ò, i, ê, è] em Salvador/BA
Recuada O �ão recuada E
u Ô ò i ê è
Contexto não nasal 247/969
25,5%
190/969
19,6%
532/969
54,9%
374/1620
23,1%
386/1620
23,8%
860/1620
53,1%
Contexto nasal 46/208
22,1%
14/208
6,7%
148/208
71,1%
51/472
10,8%
20/472
4,2%
401/472
84,9%
Total 293/1177
24,9%
204/1177
17,3%
680/1177
57,8%
425/2032
20,9%
406/2032
20,0%
1261/2032
62,0%
Fonte: SILVA, 1989
Através dos resultados podemos, então, comprovar que, no dialeto de Salvador,
diferentemente do falar culto carioca, o rebaixamento da vogal é superior ao seu alçamento e
à sua manutenção, sendo [ô] e [ê] as variantes em menor percentual. Se no falar culto carioca
o contexto nasal era desfavorecedor ao rebaixamento da média pretônica – apenas 0,4% -, em
Salvador é significativamente favorecedor: 71,1% e 84,9% contra 54,9% e 53,1% do contexto
oral. Tendo, assim, verificado a baixa ocorrência das vogais médias [ô] e [ê], justifica seus
números através do que intitulou “Regra Variável de Timbre” e conclui que “as pretônicas no
dialeto estudado se tornam obrigatoriamente baixas se a vogal da sílaba seguinte é nasal e
podem tornar-se altas por uma regra variável que atinge igualmente as que se encontram em
contextos orais16.” (SILVA, 1989, p. 128).
Viana (2008, p. 29) nos fornece o seguinte quadro17 de tendência de realização das
vogais pretônicas no PB:
16 Vide p. 33 desta Dissertação. 17 Conforme Cardoso (1999).
38
Região Estados Vogais Baixas Vogais Médias NORTE Amazonas ε / ɔ
Pará ε / ɔ e / o Acre ε / ɔ
NORDESTE Ceará ε / ɔ Rio Grande do Norte ε / ɔ
Paraíba ε / ɔ Pernambuco ε / ɔ Alagoas ε / ɔ Sergipe ε / ɔ Bahia ε / ɔ
SUDESTE Minas Gerais ε / ɔ e / o Rio de Janeiro e / o São Paulo e / o
SUL Paraná e / o Rio Grande do Sul e / o
CENTRO OESTE
Mato Grosso do Sul e / o
Quadro 3: Comportamento das pretônicas no PB Fonte: VIANA, 2008.
Freitas (2001), em seus estudos sobre o dialeto de Bragança/PA, nos diz que, no
dialeto do município, o que predomina é a variável média da pretônica, em detrimento da
baixa e da alta, sendo esta a que menos se realiza, permitindo, assim, levantar a hipótese de
que o Pará “constitui uma ilha dialetal no falar do Norte do Brasil.” (FREITAS, 2001, p. 24).
Para a autora, o contexto de vogais baixas favorece exclusivamente o rebaixamento,
com probabilidade de ocorrência maior do que o alçamento (favorecido pelos contextos de
vogais altas) e da manutenção (favorecida pelos contextos de vogais médias).
A autora, tomando como variável a classe morfológica, verifica que o comportamento
da vogal difere conforme a classe: os verbos não favorecem a manutenção das vogais médias
pretônicas e favorecem o alçamento, diferentemente dos nomes, que favorecem a manutenção
e desfavorecem o alçamento e o rebaixamento. Comportamento diverso têm os advérbios, que
favorecem o alçamento e desfavorecem a manutenção; já os pronomes favorecem o
rebaixamento com índices elevados de ocorrência. Tais fatos nos mostram, então, que a
variação da vogal média pretônica possui um condicionamento morfológico, o qual supõe, por
sua vez, um condicionamento lexical em um nível mais abrangente.
Em Minas Gerais, no município de Pará de Minas, Viana (2008) constata a presença
de rebaixamento, alçamento e manutenção para as vogais médias (e) e (o) em posição
pretônica, a saber: p[ε]reba, m[i]nino, s[e]cr[e]taria; c[ɔ]légio, c[u]nversa, [o]itenta. A
39
autora, baseando-se em seus 17.188 dados selecionados do corpus de Pará de Minas, nos dá a
seguinte tabela:
TABELA 6 Valores totais de ocorrência em Pará de Minas18
Pretônicas Realizações �úmero de dados
Percentual Total
Anteriores /e/ (i) 4.012 37,57% 10.679 (e) 6.647 62,24% (ε) 20 0,19%
Posteriores /o/ (u) 1.622 24,92% 6.509 (o) 4.714 72,42%
(ø) 173 2,66% Fonte: VIANA, 2008
O que podemos observar, a partir da Tabela 6, é que há a presença das variáveis [i, e,
ε] e [u, o, ɔ] no dialeto paraminense. A manutenção das vogais médias prevalece no dialeto
estudado, seguida pelo alçamento das mesmas, sendo que a vogal (e) alça mais do que a vogal
(o). Para a autora, os índices de alçamento das vogais médias pretônicas mostram que este
processo está se “cristalizando” em Pará de Minas, tanto no nível da oralidade quanto no da
escrita, conforme figuras que mostram ocorrências como p[i]ru e c[i]rzido (VIANA, 2008, p.
114). No que concerne ao rebaixamento das vogais em posição pretônica, este ocorre em
números pouco significativos em relação aos outros fenômenos, entretanto, a vogal média (o)
torna-se baixa mais frequentemente do que a vogal (e) - 2,66% e 0,19%, respectivamente.
A autora também observa que o comportamento das vogais médias em posição
pretônica difere de item lexical para item lexical, o que a faz concluir que há, neste processo
de variação, um condicionamento lexical. Em suas palavras:
Percebe-se que a mudança ocorre e propaga-se em palavras com estrutura sonora semelhante, porém, em alguns casos deixa algumas palavras permanentemente sem alteração sonora e, em outros casos, atinge a todas as palavras da língua que potencialmente poderiam sofrer a mudança sonora. Diante desses exemplos, concluí que há um condicionamento lexical. (VIANA, 2008, p.98).
18 Adaptado.
40
Além disso, a autora conclui que o processo de variação das médias pretônicas varia
de indivíduo para indivíduo, sendo, pois, intraindividual. Tal fato pode ser explicado pelo que
nos propõe Oliveira (2006):
A montagem da forma fonética do léxico é individual, muito embora os mecanismos acionados sejam os mesmos. É evidente que os falantes de um mesmo dialeto apresentarão mais semelhanças do que diferenças entre si. Afinal todos eles desfrutarão de um mesmo contexto social no seu desenvolvimento da linguagem. E é evidente, também, que as diferenças irão crescer quando falantes de dialetos diferentes são comparados. (OLIVEIRA, 2006, p.18).
Tal quadro de pretônicas [i, e, ε, u, o, ɔ] também é verificado em Juiz de Fora/MG
onde, apesar da tendência ser a manutenção das médias pretônicas, há tanto o alçamento
quanto o rebaixamento. Esses fenômenos, em relação ao comportamento das médias
pretônicas no dialeto juizforense, “não são ‘casuais’, visto que tendem a ocorrer em certos
ambientes” (CASTRO, 1990, p. 246). O autor também nos diz que os dados apontam para
variação através de difusão lexical, pois
algumas palavras com frequência excessivamente alta (retiradas da análise), ou seja, “as mais frequentes”, segundo Viegas, ocorrem com a pretônica alteada em ambientes que tendem a propiciar o seu alteamento, como em siguinte, pulítico, em que o alteamento ocorre diante de vogal alta imediata, ao passo que as menos frequentes tendem a não ocorrer, no mesmo contexto, com a pretônica alteada, como em alêrgia, eufôria. Entretanto, palavras com frequências semelhantes tiveram, no mesmo contexto, comportamentos diversos. Por exemplo, minino e dumingo são frequentes e ocorreram com a pretônica alteada; pêríodo e prôfissão são frequentes e não ocorrem com a pretônica alteada; amaduricido e cuchila não são frequentes e ocorrem com pretônica alteada; amadurêci e categôria não são frequentes e não ocorrem com pretônica alteada. (CASTRO, 1990, p. 248).
2.2 As vogais médias postônicas
Conforme dito no início deste capítulo, em relação às postônicas, teríamos dois
quadros distintos:
1º quadro (primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas
átonas):
altas /u/ /i/
médias /../ /e/
baixa /a/
41
2º quadro (vogais átonas finais, diante ou não de /s/ no mesmo vocábulo):
altas /u/ /i/
baixa /a/
Nesta dissertação, interessa-nos apenas o quadro 119, sobre o qual passaremos, a
seguir, a tecer alguns comentários.
As vogais postônicas não finais, ou mediais, ocorrem entre a vogal tônica e a vogal
átona final em vocábulos proparoxítonos. De acordo com Cristófaro-Silva (2005, p. 87), a
pronúncia das vogais postônicas mediais no PB possui grande variação, que, na opinião da
autora, está intimamente relacionada ao estilo de fala, formal e informal, sendo que no estilo
formal teríamos duas possibilidades: [i, e, a, o, u] e [i, e, ε, a, ɔ, o, u]. Para a autora, são as
vogais baixas [ε, ɔ] que dotam alguns dialetos de especificidade; além disto, “a ocorrência das
vogais [e, o] e [ε, ɔ] em posição postônica medial depende sobretudo da vogal tônica que a
precede” (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 87). Ainda para a autora, no estilo informal, as
postônicas mediais [i, a, u] seriam reduzidas a [ˆ, ə, ¨], respectivamente.
Em sua pesquisa, André Pedro da Silva (2006) utiliza os estilos formal e informal para
acompanhar o comportamento das postônicas médias em posição não final e nos diz que, na
maioria dos dialetos do PB, tem-se, “em estilo formal, as vogais [i, e, a, o, u] ocorrendo em
posição postônica não-final. Já em alguns outros dialetos, como o da região Nordeste, por
exemplo, as vogais [ε, ø] ocorrem em posição postônica medial em estilo formal.” (SILVA,
2006, p. 53).
O autor, de acordo com os estudos realizados em Sapé/PB, especificamente em relação
ao comportamento das vogais médias [e, ε, o, ɔ] – em posição postônica não final -, observa
que, na maioria dos dialetos do PB, [o, ɔ] são reduzidas a [¨], como em pér[o]la (estilo formal
do dialeto carioca), pér[ɔ]la (estilo formal do dialeto sapeense) e pér[¨]la (estilo informal dos
dialetos carioca e sapeense). Isto posto, conclui que “o grupo [e, ε] apresenta a maior variação
fonética dentre as vogais postônicas mediais.” (SILVA, 2006, p. 54). Em sua pesquisa, nos
mostra que
há uma pequena variação (elevação da vogal postônica não-final e/ou abertura dessas vogais) apesar da grande influência de neutralização, tendo em vista a análise ser feita em falar coloquial de uma cidade nordestina. Assim, temos mais árv[u]ri e/ou árv[ɔ]ri que árv[o]ri; núm[i]rus e/ou núm[ε]rus que núm[e]rus; abób[u]ra e/ou abób[ɔ]ra que abób[o]ra. (SILVA, 2006, p.55).
19 Devido ao fato de que (e) e (o) em posição postônica final é, categoricamente, realizado como [i] e [u], respectivamente. Somente em alguns poucos dialetos as vogais [e] e [o] ocorrem em posição atóna final.
42
Cavaliere (2005, p. 81) nos dá o seguinte quadro das vogais postônicas mediais:
Quadro 4: Vogais postônicas mediais Fonte: CAVALIERE, 2005.
Para o autor, entretanto, há quatro fatos que devem ser observados em relação ao
comportamento das postônicas mediais: (1) “as altas manifestam-se predominantemente pelos
alofones [ˆ] e [¨]”, o que se verifica na pronúncia de vocábulos como hábito [‘abˆt¨] e cédula
[sεd¨lå]; (2) “a vogal baixa (...) manifesta-se pelo alofone [å]”, como em [‘kalåm˘]20; (3) “as
vogais médias de 2º grau (/e/ e /o/) entram em neutralização respectivamente com as altas /i/ e
/u/”, como em palavras como número e pérola, que podem ser pronunciadas [‘numiɾ˘,
numeɾ˘] e [‘pεɾ¨la, ‘pεɾola], respectivamente; (4) “não há registro no português do Brasil de
vogais médias de primeiro grau (/ε/ e /ɔ/) nesta posição”, não sendo, portanto, aceitas as
pronúncias [‘numεɾ˘] ou [‘pεɾɔla] no PB (CAVALIERE, 2005, p. 80-1). Tem-se, então, um
novo quadro de postônicas mediais:
Quadro 5: Novo quadro de vogais postônicas mediais
Fonte: CAVALIERE, 2005.
Pode-se notar, a partir daí, que o quadro proposto por Cavaliere (2005) é divergente
daquele proposto por Mattoso, para o qual, em posição postônica não-final, “há a
neutralização entre /o/ e /u/, mas não entre /e/ e /i/” (CÂMARA JR, 2007, p. 44), o que
20 Em geral, não é característica do PB.
Altas /i/ /¨/ Médias /e/ /a/ Anteriores central posteriores
Altas /i/ /¨/ Médias /e/ /a/ Anteriores central posteriores
43
podemos observar na rima de vocábulos tais como pérola e cérula. Divergentemente deste,
“há uma distinção entre /e/ e /i/, embora seja difícil encontrar pares opositivos mínimos (mas
uma pronúncia */nu’miru/, em vez de /nu’meru/, para número, ou */tè’pedu/, em vez de
/tè’pidu/, para tépido, é logo rechaçada).” (CÂMARA JR, 2007, p. 44).
Também divergentemente do quadro proposto por Mattoso Câmara Jr., e também do
proposto por Cavaliere (2005), os resultados da pesquisa realizada por Vieira (1994, p. 104)
no dialeto gaúcho demonstra a existência de “um sistema vocálico postônico diferente [...] e
definem (sic) contextos nos quais este sistema é preservado ou diminuído variavelmente em
função da neutralização das vogais médias”.
Diferentemente das vogais médias em posição pretônica, o quadro das postônicas,
assim como os fenômenos fonológicos a ele inerentes, ainda é pouco explorado no PB. Na
visão de Ribeiro (2007, p. 27), “um trabalho que se dedique às palavras proparoxítonas deve
lidar, grosso modo, com pelo menos cinco possibilidades de realização fonético-fonológica,
de causas e naturezas diferenciadas”; são eles:
(1) Alçamento: diz respeito, no PB à modificação do traço [-alto] para o [+alto] das
vogais médias /e/ e /o/, que se realizam como vogais altas [i] e [u] (período ~
perí[u]do; termômetro ~ termô[i]tro) de forma variável.
(2) Rebaixamento: é o caminho inverso do alçamento, ou seja, palavras que possuam a
vogal alta são pronunciadas com a vogal média alta, tal como em nód[u]lu ~
nód[o]lo.
(3) Hipercorreção: tentativa de corrigir algo que não estava errado, redundando, assim
em novo erro como em frigorifico ~ frigorif[e]co.
(4) Síncope: supressão de um ou mais segmentos na(s) sílaba(s) átona(s) postônica(s) de
um vocábulo como em árvore ~ árvre.
(5) “Outras alterações21”: em casos em que não houve síncope como, por exemplo,
véspera, pronunciada por [‘vεspara] ~ [‘vεspura].
Ribeiro (2007), em seu estudo sobre a vogal média postônica não final no falar de
Belo Horizonte/MG, conclui:
Neste trabalho, encontraram-se realizações indicativas de DL. [...] Outras indicações de que as vogais da posição aqui investigadas são passíveis aos processos difusionistas podem ser expressas pelo comportamento peculiar de algumas palavras aqui pesquisadas. A palavra véspera, por exemplo, uma palavra pouco frequente, foi pronunciada como véspura por muitos falantes com menor escolaridade e pertencentes à classe social mais baixa; a palavra próspero, contudo,
21 Conforme Amaral (2001, p. 103).
44
que possui o mesmo contexto não vira próspuro em nenhuma das ocorrências. A mesma diferença de comportamento acontece com as palavras cômoda e cômodo, porém, com outros processos fonológicos envolvidos. O mesmo falante que pronuncia cômbada para cômoda, fala que construiu um [»komudu] na frente de casa, e não um cômbadu ou mesmo cômbudu. Diferenças dessa espécie apontam para a hipótese da DL e acabam por situar a investigação dos fenômenos fonológicos no par item léxico – indivíduo. (RIBEIRO, 2007, p. 163).
Além de indicativos de difusão lexical, também nota um comportamento linguístico
que difere de falante para falante, entretanto, nos diz que essa variação intraindividual “pode
ser considerada uma situação marcada na língua” (RIBEIRO, 2007, p. 163).
A autora nos dá um quadro do alçamento das vogais médias postônicas não finais, a
saber:
TABELA 7 Estatística do alçamento das vogais médias postônicas não finais em Belo Horizonte/MG22
Alçamento Dados obtidos %
Vogal alçada /i/ 327/870 37
Vogal não-alçada /e/ 543/870 62
Vogal alçada /u/ 756/953 79
Vogal não-alçada /o/ 197/953 20
Fonte: RIBEIRO, 2007
O que podemos depreender dos dados é que se comprova, também em posição
postônica não final, o comportamento diferenciado das vogais (e) e (o), sendo esta a de maior
ocorrência em proparoxítonas e a que mais alça; o que pode, então, para a autora, comprovar
que, no dialeto de Belo Horizonte, além da maior difusão do alçamento de (o) ~ [u] do que de
(e) ~ [i], “há menor controle do falante por parte desse processo, ambas (/o/ e /u/) são reflexos
do estreito espaço fonológico que divide as vogais /o/ e /u/.” (RIBEIRO, 2007, p. 151, grifo
nosso).
Antes de passarmos aos resultados da pesquisa de Guimarães (2006), cabe aqui um
pequeno parêntese sobre o Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil.
Antenor Nascentes inscreve o norte, o nordeste e o noroeste de Minas Gerais, assim como a
Bahia e o Sergipe, no subfalar baiano, que difere dos outros subfalares pela presença das
vogais médias baixas [ε, ɔ].
22 Adaptado.
45
Suzana Cardoso23, em seu trabalho Tinha /ascentes razão?, em um exame do Atlas
prévio dos falares baianos (APFB) e d’O esboço de um atlas linguístico de Minas Gerais, nos
diz que há indicações nos dois atlas que confirmam a divisão proposta por Nascentes.
Entretanto, realizações de [o, u] e [e, i] também foram documentadas no APFB, sempre em
número menor que as variantes baixas. Para [o] e [e] Cardoso (1986) “propôs dois tipos de
explicação – analógica e fonológica, de harmonização vocálica” (apud SILVA, 1989, 70).
Pode-se, portanto, daí, tirar duas conclusões: primeiro, pelas indicações fornecidas por
esses trabalhos, parecem gerais os fenômenos que ocorrem na área “baiana”; segundo, que a
elevação das vogais, documentada nos falares do Sul, também ocorre nessa região (SILVA,
1989, p. 70).
Essa divisão, para Rubens Guimarães (2006), é ainda mais marcada no que concerne
ao Estado de Minas Gerais, no qual, ao sul, temos a realização de vogais médias fechadas
(hip[o]pótamo, r[e]lógio) e, ao norte do estado, de médias abertas (hip[ɔ]pótamo, r[ε]lógio).
Entretanto, para o autor, no norte de Minas, o sistema vocálico encontra-se em variação,
podendo ora ocorrer como alta [i, u], ora como baixa [ε, ɔ], ora como média [e, o]. Teríamos,
então, duas possibilidades de sistema vocálico em posição pretônica24:
1º quadro: Sistema Vocálico I em posição pretônica no norte de Minas.
Anterior Central Posterior
altas i u
médias e o
baixa a
2º quadro: Sistema Vocálico II em posição pretônica no norte de Minas
Anterior Central Posterior
altas i u
médias ε ɔ baixa a
23 Conforme nos diz Silva (1989, p. 70). 24 Conforme Guimarães (2007, p. 19).
46
Neste trabalho, focaremos somente duas das cinco possibilidades citadas por Ribeiro
(2007)25: o alçamento e o rebaixamento, sendo estes tanto para as vogais médias em posição
pretônica quanto em posição postônica não final.
Rubens Guimarães (2006), em sua pesquisa sobre a vogal média pretônica, colheu
dados das seguintes cidades do norte de Minas: Bocaiúva, Montes Claros e Mirabela. Acerca
da ocorrência das médias baixas [ε, ɔ], nos diz que os seguintes contextos se mostraram
favoráveis: (a) a sílaba tônica ser também da mesma altura (hip[ɔ]pótamo, r[ε]lógio); (b) a
vogal da sílaba seguinte ser baixa (r[ε]alidade, c[ɔ]ração); (c) o fato da sílaba pretônica ser
fechada pelo arquifonema /R/ (j[ɔ]rnal, gov[ε]rnador); (d) sílaba tônica constituída com /eN/,
/oN/ (pr[ε]sentes, m[ɔ]mento). Conforme o autor,
verificou-se pela observação dos dados que, naquilo que tange às vogais médias em posição pretônica, o sistema é um pouco mais complexo [...] Embora haja a neutralização, processo fonológico através do qual as vogais médias perdem o contraste em sílabas átonas, observa-se a presença tanto de vogal média-baixa, quanto de vogal média-alta e, ainda, de redução vocálica na pauta pretônica. [...] Entretanto, a presença de [ε, ɔ], embora ainda constatada, parece já não se fazer tão marcante quanto à época da confecção do EALMG26. Por conseguinte, existem contextos que favorecem a presença dessa variante na sílaba átona em questão, mas não garantem uma produção uniforme dessas vogais pelos falantes. Um fator que chancela tal produção, sem qualquer sombra de dúvida é a presença de vogal média-baixa em posição tônica. Nessa circunstância, há uma produção maior de [ε, ɔ] em sílaba pretônica do que de [e, o]. (GUIMARÃES, 2007: 85-6).
E ainda:
O falante da região Norte opta pela utilização da vogal média-alta, ou seja, pela manutenção da estrutura nos contextos em que não se aplica nenhum processo fonológico, como é o caso do item ‘cebola’. Já em itens como ‘coruja’, ou ‘coelho’, nos quais é possível observar a presença também de vogal alta, haveria uma inversão no ordenamento das restrições para demonstrar esse o processo de redução vocálica. (GUIMARÃES, 2007, p. 102)
Por tudo o que foi aqui discutido, o que podemos verificar, em relação ao
comportamento de (e, o), em posição pretônica, é que há certa discordância quanto à
motivação, ou não, do alçamento das vogais médias.
Se, por um lado, Bisol (1981); Campos (2008); Silva (1989) e Dias, Cassique e Cruz
(2007); entre outros, explicam o fenômeno do alçamento como processo de harmonização
vocálica, Yacovenco (1993) e Graebin (2008), entre outros, dizem que a regra de
harmonização é variável.
25 Vide p. 43 desta Dissertação. 26 Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais.
47
Tal fato é consonante ao que supomos, afinal, se esse processo – alçamento – não for
variável, como explicar ocorrências como b[i]zerro, J[i]sus, alg[u]dão, Ge[u]grafia? Tais
considerações são válidas também para o rebaixamento, onde vemos s[ε]rviço, além de
s[e]rviço, e s[i]nhora, mas não s[ε]nhora.
Além, como explicar o alçamento em c[u]nhecia, c[u]nheci, c[u]nhecido, e a
manutenção categórica em c[o]nhecimento, a não ser se pensarmos em condicionamento
lexical?
Já em relação às médias (e, o) em posição postônica não final, cremos que possui um
quadro formado por cinco vogais - /i, e, a, o, u/ - sendo que, conforme nos disse Cristófaro-
Silva (2005), as vogais baixas [ε, ø] ocorrem somente em situações dialetais bem específicas
dependendo, principalmente, da vogal tônica que as precede, como em br[ø]c[ø]lis e
x[ε]r[ø]x.
Como pudemos verificar neste Capítulo, a variação das vogais médias, seja em
posição pretônica ou postônica não final, é, pois, um processo controverso, sendo que ocorre
em determinados contextos em um item lexical e, em outro item, sob os mesmos contextos,
não ocorre.
Assim sendo, cremos que a questão da variação deste sistema vocálico complexo do
norte de Minas deva ser feita sob a luz de uma teoria que dê conta de explicar a relação
trinária entre [i, e, ε] e [u, o, ɔ]. Antes de passarmos à análise e discussão dos dados, faz-se
necessário, pois, discutir sobre a Teoria da Difusão Lexical, a qual tomamos, neste trabalho,
como base de interpretação.
48
3 MODELOS DE MUDA�ÇA SO�ORA
Diversos foram os modelos propostos para dar conta da variação e do processo de
mudança linguística pelo qual passa as línguas. Trata-se de um confronto que já dura mais de
um século entre teorias linguísticas que analisam, sob óticas diferentes, a questão: a hipótese
sobre a regularidade da mudança sonora, levantada pelos neogramáticos e a crença de que
cada palavra tem sua história, defendida por dialetólogos. Em meados da segunda metade do
século XX, uma nova polêmica que favorecia o posicionamento do segundo grupo se instalou
no debate. Trata-se da teoria da Difusão Lexical, iniciada por William Wang (1969). Desde o
início da década de 1980, William Labov tem utilizado seus conhecimentos sobre a natureza
da mudança linguística e desenvolvido análises empíricas em busca de evidências que possam
solucionar essas controvérsias. Não obstante, Paul Kiparsky (1982), à luz da Fonologia
Lexical, propõe olhar para o léxico como um domínio de regras fonológicas que interagem
com regras morfológicas. Neste capítulo, propomos a discussão de duas propostas teóricas
que postulam explicações para a implementação da mudança sonora: o Modelo Neogramático
e o Modelo da Difusão Lexical – ambos considerados, também, em uma perspectiva
variacionista.
3.1 O Modelo �eogramático
Consolidando uma teoria de mudança linguística posteriormente adotada como
método de investigação comparativista e histórico, os membros da Universidade de Leipzig –
um grupo de linguistas indo europeístas - formulou a Tese Neogramática sobre a evolução
fonética, na segunda metade do século XIX.
Os Junggrammatiker (novos gramáticos) advogavam que as leis fonéticas eram
operadas sem exceção, isto é, dentro de certos limites geográficos, uma mudança de um som
para outro, em determinada língua, atingiria uniformemente todo o léxico que contivesse esse
mesmo som, em iguais condições fonéticas. Diziam que as mudanças eram foneticamente
graduais e lexicalmente abruptas, concebendo os estudos científicos da linguagem como de
49
natureza exclusivamente histórica, restringindo-se, pois, à criação de uma teoria geral acerca
da mudança.
Para eles, é no nível diacrônico que há de se buscar uma protoforma fonética que dê
conta de todos os sons resultantes, isto é, a fonologia da protolíngua em conjunto com as
regras ordenadas, de onde os sistemas linguísticos das línguas descendentes são derivados,
formam um todo integrado, assim como a descrição sincrônica da língua (BYNON, 1977).
Nas palavras de Theodora Bynon:
A posição geral a partir da qual os neogramáticos abordaram seu tema foi a suposição de que a mudança linguística deve ter ordem e, assim, ser passível de investigação sistemática. Basearam-se na perspectiva de que o desenvolvimento da linguagem é regido por regras relativas a certos aspectos universais da própria linguagem [....] que a língua é essencialmente uma atividade humana [...] os princípios de base para o estudo de sua evolução devem ser procurados dentro das regras gerais que governam o comportamento humano27. (BYNON, 1977, p. 24, tradução nossa).
Assim sendo, na opinião de alguns neogramáticos, a mudança sonora seria mecânica,
não envolvendo a consciência do falante, isto é, fisiológica. Em seu nível fonológico, então, a
mudança seria governada por princípios de regularidade.
Theodora Bynon (1977), em seus estudos dos verbos irregulares do Inglês, nos
esclarece que essa “normatização” é produtiva, afinal, o que é irregular hoje era regular.
Torna-se irregular, por sua vez, passando por um processo regular.
Sobre a questão, diz a autora que:
Aplicado a mudanças específicas em línguas particulares, isto significa que (a) a direção na qual um som muda é o mesma para todos os membros da comunidade de fala em questão (a menos que uma divisão em dois dialetos esteja em progresso), e (b) que todas as palavras em que há mudança sonora, a mudança ocorre no mesmo ambiente fonético e irão refletir a mudança da mesma forma28. (BYNON, 1977, p. 25, tradução nossa).
O modelo Neogramático tem, então, a sua proposta maior baseada nas leis fonéticas,
as quais, para esses estudiosos, pressupõem ação imediata nas formas da língua. Em outras
27 The general position from wich the neogrammarians approached their subject was the assumption that language change must have order and thus be amenable to systematic investigation. They based their expectation that language development is rule-governed on certain universal aspects of language itself […] Since language is essentially a human activity […] guiding principles for the study of its evolution should be sought within the general rules that govern human behaviour. 28 Applied to specific changes in particular languages this mean that (a) the direction in which a sound changes is the same for all the members of the speech community in question (unless a division into two dialects is in progress), and (b) that all the words in which the sound undergoing the change occurs in the same phonetic enviromment are reflect by the change in the same way.
50
palavras, todos os itens léxicos que contêm o som em mudança são afetados simultânea e
uniformemente.
Para esses pesquisadores, na reconstrução lexical é, também, a forma fonológica que
tem o papel principal, porque, aqui, mais uma vez, tem-se a regularidade da mudança do som
como um critério sistemático e, no que diz respeito às diferenças semânticas, as mesmas
podem ser explicadas por uma conexão etimológica - se duas palavras em línguas diferentes
mostrarem correspondência sonora regular, as diferenças semânticas existentes poderão ser
explicadas postulando mudanças semânticas plausíveis de um significado subjacente anterior
(BYNON, 1977, p. 62).
Para explicar os casos de não atuação da mudança, os neogramáticos concordavam
que as leis fonéticas só admitiam exceções quando não eram anuladas por outra lei ou por
fatores que exercessem ação reguladora no sistema. Dessa maneira, existiam dois princípios
fundamentais para dar conta da regularidade da mudança: a mudança sonora e a analogia29,
ambos operando interdependentemente. O primeiro princípio – mudança sonora – opera
independentemente da estrutura semântica e gramatical da palavra e cobre todos os níveis de
desenvolvimento fonológico. Já o segundo – analogia -, é concebido através da relação entre
estrutura fonológica e gramatical.
Assim, a mudança sonora seria regular, pois opera automaticamente. Por outro lado, a
analogia seria totalmente dependente da estrutura gramatical, opaca pela mudança sonora e
reparada pela analogia.
Se, como vimos anteriormente, a mudança sonora era mecânica, não envolvendo a
consciência do falante, isto é, fisiológica, a analogia, por sua vez, era considerada, conforme
Bynon (1977), “matéria psicológica”. Emprestando dos gregos o conceito de analogia, os
neogramáticos utilizaram esse expediente para dar conta das anomalias (ou resíduos) causadas
pelas mudanças sonoras. Para eles, a analogia atua como uma espécie de “regularidade
proporcional”, tornando “normais” paradigmas tidos por “anormais”. Bynon (1977, p. 44) nos
explica que as mudanças analógicas são totalmente dependentes da estrutura gramatical e,
mesmo quando a regra é claramente enunciável, não poderá ser predito se ela irá ou não ser
aplicada em qualquer caso particular.
Entretanto, é preciso esclarecer que devemos recorrer à analogia, conforme a teoria
neogramática, somente quando a regra de mudança sonora não se aplicar. Ainda em relação à
analogia, ela pode ocorrer no nível paradigmático (mudança analógica - em categorias 29 Na teoria neogramática, a analogia e a mudança sonora são os dois componentes básicos da mudança linguística (BYNON, 1977, p.34).
51
gramaticais ou semânticas) ou sintagmático (criação analógica - produz novas formas através
da extensão da correlação existente entre forma/função, além do seu domínio original).
Assim sendo, teríamos duas faces da mudança analógica: (1) efeito de regularização
no nível gramatical para eliminar alternâncias irregulares e (2) reduzir o número total de itens
irregulares na língua.
Outro recurso adotado como explicação para as irregularidades de determinadas
mudanças foi o empréstimo. Sendo que cada idioma só toma de outro idioma itens que sejam
compatíveis com sua própria natureza estrutural, os empréstimos, para os Junggrammatiker,
são, então, concebidos como fator de pouca importância, pois apenas idiomas estruturalmente
compatíveis entre si sofrem empréstimos. Entretanto, esses idiomas são capazes de interferir
no desenvolvimento natural dos sons da fala, contrariando a esmagadora força das leis
fonéticas.
Em resumo, o ideário neogramático pode ser esquematizado da seguinte maneira:
/X/ /Y/ W, regularmente, através de condicionamentos fonéticos. /X/ /X/ W, através de analogia ou empréstimo linguístico. Como vimos, os neogramáticos tiveram o mérito de aliar uma perspectiva histórico-
científica da linguagem aos resultados do método histórico-comparatista então vigente. Seus
princípios inauguraram, dessa maneira, uma nova visão aos estudos indo europeístas, pois
aplicaram seus achados a muitos ramos dessa protolíngua encadeando os fatos históricos
numa ordem natural e confirmando determinadas correspondências entre idiomas
aparentados.
Entretanto, tal teoria não dá conta de fatos linguísticos divergentes que coexistem num
mesmo período de tempo como, por exemplo, bibia e bebê (do verbo beber); avenida,
avinida; almoçar, almuçar; sinhora, senhor; sigundu, sεgundo (=número ordinal), segundo
(=conforme)30. Afinal, como conclui Bynon (1977):
[...] a descrição do modelo neogramático dada nas páginas precedentes contém necessariamente um determinado elemento da interpretação pessoal. Isto seria difícil evitar, desde que, na literatura neogramática, os critérios são mais implícitos, frequentemente, na solução de problemas específicos do que indicados explicitamente. Além disso, a apresentação sistemática da gramática comparativa era em geral dedutiva, partindo da estrutura hipotética da protolingua e, então,
30 Exemplos extraídos do corpus da pesquisa Um olhar semiolinguistico sob o manto da Princesa do /orte: história oral e dialetologia (TONDINELI, 2009).
52
estabelecendo as regras pelas quais as formas das línguas históricas poderiam ter sido derivadas. Tal apresentação resultou, naturalmente, no escamoteamento de muitas perguntas31. (BYNON, 1977, p. 74-5, tradução nossa).
Tal conclusão vem ao encontro do comentário de Labov (2008) sobre o modelo
neogramático. O autor nos diz que “os herdeiros da tradição neogramática, que deveriam se
interessar sobremaneira pelo estudo empírico da mudança regular em progresso, abandonaram
a arena da pesquisa significativa em favor de argumentos abstratos e especulativos.”
(LABOV, 2008, p. 195).
Já Weinreich, Labov e Herzog (2006, p. 66) nos dizem que um dos problemas que
surgiu pela inserção da teoria fonêmica na teoria neogramática da mudança sonora “foi a
tentação de identificar a nova distinção analítica, subfonêmico/fonêmico, com as distinções
históricas (reciprocamente coextensivas) infinitesimal/discreto, flutuante/estável,
irregular/regular e inconsciente/consciente”. E concluem, através de diversas evidências
empíricas, que o coloquialismo, na variação, “é o produto de um processo regular e racional
de evolução linguística. Aparentemente, existem forças motivadoras na mudança linguística
que podem passar por cima de qualquer tendência de preservar distinções cognitivas.”
(WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006, p. 70).
É mister lembrar que a alternância entre variantes distintas não é negada pelo modelo
neogramático; o que o difere do modelo de Difusão Lexical, do qual falaremos a seguir, é a
explicação para essa alternância.
3.2 O Modelo de DifusãoLexical
Quando, em 1969, William Wang publicava seu texto Competing changes as a cause
of residue, que mais tarde tornou-se clássico na Linguística Histórica, estava colocando em
choque o ideário neogramático com uma teoria conhecida na literatura por Difusão Lexical
(doravante DL).
31 [...] the description of the neogrammarian model which we have given in the preceding pages necessarily contains a certain element of personal interpretation. This it would be difficult to avoid since in the neogrammarian literature criteria are more often implicit in the solution of specifc problems than explicity stated. Moreover, the systematic presentation of comparative grammar was on the whole deductive, starting from the hypothetical structure of protolanguage and then stating the rules by which the forms of the historical languages could be derived from it. Such a presentation naturally resulted in the begging of many questions.
53
Baseando-se em Sapir (1921), que dizia que a tendência de isolar a fonética e a
gramática é irrelevante e desastrosa para os limites (provinciais) linguísticos, Wang (1969)
nos diz que:
Nos últimos anos, acumulou-se um impressionante conjunto de provas de que há regras diacrônicas que dependem de condições que são totalmente não-fonéticas, e. g., fatores que são morfológicos e sintáticos. Isso não deveria ser surpreendente: na fonologia, regras diacrônicas frequentemente deixam resquícios na forma de regras sincrônicas, e existem inúmeros casos em que as regras sincrônicas são, obviamente, dependentes de 'pré-requisitos gramaticais'32. (WANG, 1969, p. 236, tradução nossa).
Chen e Wang (1975) nos dizem que a origem da mudança tem como causa a anatomia,
o aparelho fonador. A questão maior, e que aqui a discutimos ao expor os modelos
neogramático e difusionista, diz respeito à implementação da mudança.
Wang (1969) estuda a implementação da mudança linguística em três dimensões:
fonética, lexical e cronológica. A dimensão cronológica pode ser estudada em cada um dos
três parâmetros relativamente independentes: (1) foneticamente (som X > som Y);
lexicalmente (morfema > morfemas nas partes relevantes de um vocabulário individual); (3)
socialmente (falante > falante em um dialeto).
A questão maior, então, se refere ao parâmetro (1) – nível fonológico. De que forma
ocorreria a mudança? De modo gradual ou abrupto? Wang (1969) nos responde a essa questão
dizendo que mudanças podem operar no nível fonológico – mais abstrato do que o fonético -;
assim, foneticamente graduais. Logicamente, as mudanças não-fonéticas – lexicais,
morfológicas e sintáticas – não podem ser incluídas dentro do que se chama gradual.
Ainda conforme Wang (1969, p. 241), existem quatro possibilidades lógicas de como
as mudanças operam em um vocabulário individual33, a saber:
1. fonética e lexicamente abrupta;
2. foneticamente abrupta e lexicalmente gradual;
3. foneticamente gradual e lexicalmente abrupta;
4. fonética e lexicalmente gradual.
32 In recent years, an impressive body of evidence has accumulated that there are diacronic rules which depend on conditions that are altogether non-phonetic, e. g., factors which are morphological and syntatic. That this is so should not be surprising: in phonology, diacronic rules frequently leave counterparts in the form os synchronic rules, and there are numerous instances where synchronic rules are obviously dependent on ‘grammatical prerequisites’. 33 Devido ao fato de um falante poder, de modo fácil e consistente, distinguir o som X do som Y sem um treinamento especial para isto.
54
O autor nos diz que o modelo da difusão lexical estipula as possibilidades 2 e 4, e
esclarece:
Destes dois, (2) é o mais atraente: uma vez que a realização fonética é abrupta, e que o vocabulário individual não muda de maneira repentina, a conclusão óbvia é que o que realmente ocorre é uma espécie de difusão de morfema para morfema em seu vocabulário. Esta difusão dentro de um léxico é basicamente o mesmo mecanismo que aquele mais comum, de difusão de um dialeto para outro dialeto de uma língua, e se difunde apenas no seu âmbito de funcionamento; a difusão lexical é mais local, as outras formas são mais globais34. (WANG, 1969, p.241-2, tradução nossa).
Esclarece-nos, ainda, que a hipótese da DL é somente um meio pelo qual a pronúncia
de morfemas muda, sendo um dos primeiros meios através do qual um som é implementado.
Exemplo disto podemos ver no quadro abaixo:
[u] [o]
fogão (eletrodoméstico) fogão (aumentativo de fogo) botão (peça de vestuário; de flor) botão (aumentativo de bota/calçado) Porção (quantidade/muito(a)s) porção (uma certa quantidade) folhinha (calendário) folhinha (folha pequena)
[i] [e] peru (ave) Peru (país) Preciso (verbo) preciso (adjetivo) Sentido (adjetivo) sentido (ordem militar)
Quadro 6: Contextos específicos e variação linguística Fonte: LEE & OLIVEIRA, 2003.
Conforme os exemplos, podemos verificar que a pronúncia de morfemas muda de
palavra para palavra ou, dito de outra forma, de contexto lexical para contexto lexical.
A DL, então, possui uma perspectiva temporal e uma dimensão lexical do processo
fonológico. A regularidade é, pois, obtida a longo prazo: “uma regra fonológica amplia
progressivamente o seu campo de operação para uma porção cada vez maior do léxico, até
que todos os itens relevantes tenham sido transformados pelo processo35.” (CHEN & WANG,
1975, p. 256, tradução nossa).
Oliveira (1992) apresenta evidências de que o contexto fonético não seria a melhor
explicação para a aplicação das variantes altas ou não, como seria de se esperar pelo modelo
34 Of these two, (2) is the more compelling: for given that the phonetic implementation is abrupt, and that an individual’s vocabulary does not change all that suddenly, the obvious conclusion is that what actually takes place is a kind of diffusion from morpheme to morpheme in his vocabulary. This diffusion within a lexicon is basically the same mechanism as the more observed forms of diffusion across dialects of language, and diffuses only in its scope of operation; lexical diffusion is more local, the other forms are more global. 35 A phonological rule gradually extends its scope of operation to a larger and larger portion of the lexicon, untill all relevant items have been transformed by the process.
55
neogramático. O autor lista palavras (algumas delas encontram-se no Quadro 6 deste trabalho)
que, mesmo tendo sido configurado o ambiente fonético propício à aplicação da regra de
alçamento, não foram atingidas. Assim, evidenciou-se que a mudança sonora é lexicalmente
gradual, conforme postulado pelos difusionistas. O autor postula, então, que, no seu estágio
inicial, todas as mudanças sonoras são de caráter difusionista. A regularidade neogramática
viria nos estágios seguintes da mudança.
Para Oliveira (1991), o mecanismo da mudança difusionista se daria através de três
condições (não necessariamente na ordem proposta), a saber: (a) “X ocorre num nome
comum”; (b) “Z oferece um contexto fonético natural para Y”; (c) “X é parte de uma palavra
que ocorre em contextos informais de fala”.
E nos esclarece que “enquanto o disparo de uma mudança deve ser concebido em
termos abstratos, que justifiquem sua razão de ser, sua implementação não pode ser removida
das condições de uso.” (OLIVEIRA, 1991).
A difusão lexical descartaria, pois, a regularidade, pautando-se pela existência de
irregularidades, isto é, mesmo que haja condicionamentos fonéticos há, por outro lado, “a
possibilidade de mudanças sonoras que não sejam foneticamente condicionadas36”
(OLIVEIRA, 1991).
Tal assertiva pode ser vista nas sete variáveis interdependentes associadas à mudança
sonora, a saber:
1. tempo,
2. espaço,
3. falantes e ouvintes,
4. sons ou sequências sonoras substituídas ou em substituição,
5. condições estruturais (fonológicas e gramaticais) para a substituição;
6. fatores sociais que governam a substituição, e
7. itens lexicais que satisfaçam as condições estruturais e sociais de substituição37.
(KHRISHNAMURTI, 1976, p. 01, tradução nossa)
Na interpretação deste autor, a linguística tradicional considera apenas os itens de 1, 2,
4 e 5 na questão da mudança sonora. Porém, como descartar a questão dos falantes, da
comunidade de fala e do item lexical resultante dessa influência intradialetal? Afinal,
36 O ambiente fonético pode ser visto como um “assimilador a posteriori, e não como um condicionador a priori de uma inovação.” (OLIVEIRA, 1992, p. 35). 37 Adaptado de: […] (1) time, (2) space, (3) speakers and hearers, (4) replaced and replacing sounds or sound seuqences, (5) structural (phonological and grammatical) conditions for replacement, (6) social factors governing replacement, and (7) lexical items that fulfill the structural and social conditions of replacement.
56
conforme já dito anteriormente, falantes possuem papel relevante na construção fonética do
léxico, sendo, pois, um processo individual. Mesmo que em uma mesma comunidade de fala
as diferenças existentes entre os falantes forem menores do que as semelhanças, quando
comparamos dialetos diferentes, essas diferenças crescem, mesmo que os mecanismos
acionados para a montagem fonética-lexical sejam os mesmos (2008).
Labov (1981) chega à conclusão de que as condições nas quais cada ponto de vista
repousa são válidas. Defende a ideia de que há alguns casos de mudança explicáveis pelo
modelo neogramático e outros pelo modelo difusionista, pois se questiona: se Wang e seus
seguidores estão certos sobre Difusão Lexical e os neogramáticos ainda mais certos sobre a
regularidade da mudança, como ambos podem estar certos?
Labov (1981), apesar de, em muitos casos, confirmar a proposta neogramática, ao
investigar o caso da alternância entre [æ] frouxo e [æ] tenso na Filadélfia, reconhece que nem
todo fenômeno de mudança é neogramaticamente explicável. Há casos em que as evidentes
exceções, conforme nos mostra o autor, não podem ser resolvidas no âmbito da ação conjunta
analogia-empréstimo, pois há inúmeros outros mecanismos que podem interferir na
propagação da mudança.
Como conciliar esse paradoxo? Labov (1981) afirma que um grupo diz que fonemas
mudam, outro diz que palavras mudam. Essas formulações são slogans abstratos que perdem
o contato com a realidade. Enfim, para o autor, os dois modelos não são rivais: são
mutuamente complementares na explicação da mudança.
Revisitando a controvérsia neogramática, Oliveira (1991) prediz que todos os casos de
mudança fonética são lexicalmente implementados. Como enquadrar, nessa afirmativa, os
casos que Labov (1981) exemplifica como de mudança neogramática? Oliveira (1991)
argumenta em sua assertiva dizendo que os exemplos que Labov (1981) chama de “regulares”
não dão mostras de que, em estágios anteriores, não tenham sofrido espalhamento pelo léxico
(daí a importância da variável ‘tempo’ em trabalhos de orientação léxico-difusionista). De
fato, como garantir que determinadas mudanças, hoje regulares, não tenham sido, num recorte
histórico, lexicalmente implementadas? Por isso, Oliveira (1991 e 1992) afirma que não há
casos de mudança neogramática. A hipótese neogramática passa a ser vista apenas como
“efeito neogramático”, isto é, como resultado final do processo de mudança.
A DL, portanto, que tem como expoentes Cheng e Wang (1975), Phillips (1984) e
Shen (1990), entre outros, tenta dar conta das irregularidades, predizendo que as mudanças
sonoras não são foneticamente graduais e lexicalmente abruptas, mas exatamente o contrário.
57
Para os difusionistas, as mudanças são foneticamente abruptas e gradualmente implementadas
no léxico das línguas. Dessa maneira, os difusionistas deslocam o foco da mudança da
unidade sonora para a unidade morfo-lexical.
A tese difusionista é fortemente reforçada por três argumentos, fundamentalmente: (a)
inúmeras exceções a determinadas mudanças fonéticas não podem ser explicadas unicamente
por analogia e/ou por empréstimo; (b) muitos processos fonológicos não são explicados
somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama variada de fatores, incluindo os
de natureza discursivo-pragmática e sócio-geográfico-social; e (c) nem todos os vocábulos
que contêm o som em mudança são afetados simultaneamente e da mesma maneira. Longe de
se aplicar a todas as palavras ao mesmo tempo, as mudanças fônicas reconhecem limites
temporais, quer por razões socioculturais, quer por razões pragmáticas, sendo, pois, contínuas.
Retomando Oliveira (1991, 1992), verifica-se, então, que o contexto fonológico não
seria a melhor explicação para a variação/mudança linguística, sendo, pois, lexicalmente
gradual. Em 2006, o autor mantém a sua posição incorporando o indivíduo à questão da
variação/mudança linguística. Concordamos, pois, com Oliveira (2006), em relação ao seu
posicionamento sobre a variação, quando nos diz que:
Do ponto de vista da compreensão ela é regida por princípios gerais da língua, e do ponto de vista da produção ela é regida por princípios menores (que são, na realidade, funções de alguns princípios maiores), sendo sua aplicação determinada individualmente e lexicalmente. (OLIVEIRA, 2006).
3.2.1 Evidências de Difusão Lexical
Cristófaro-Silva (2001, p. 10), em seus estudos sobre Difusão Lexical, nos diz que, ao
seguir a proposta difusionista, assume-se que a mudança sonora ocorre no nível da palavra,
que pode ou não ser afetada, afinal, “o falante faz escolhas lexicais específicas em situações
específicas. A variabilidade sonora de um falante expressa a variação linguística.” Para
exemplificar seu argumento, nos fornece como exemplo a palavra precisa através de duas
orações onde tal vocábulo é utilizado como verbo, em uma, e como adjetivo, em outra.
Verifica que na forma verbal “é corriqueiro haver o cancelamento do tepe [p]ecisa”; já no
emprego do adjetivo, “é quase impossível que o tepe não se manifeste e tem-se quase sempre
58
[pr]ecisa. Embora ‘precisa’ possa ocorrer tanto como ‘[pr]ecisa’ ou como ‘[p]ecisa [...] há
claramente uma preferência por usos específicos.” (CRISTÓFARO-SILVA, 2001, p. 11)
Viegas (2001) nos diz que
o modelo difusionista explica melhor a realidade do que o modelo neogramático, pois admite a postulação de regras com um efeito neogramático para alguns tipos de mudanças (para as que os fundadores do modelo neogramático chamavam de mudança sonora, aquelas bem regulares) e além disso abrange outros tipos de mudanças (aquelas que os neogramáticos chamavam de mudanças esporádicas, não favorecidas por fatos fonéticos apenas). As “exceções” não são exceções no modelo difusionista, pois, sendo lexical a implementação da mudança, espera-se que os itens todos não tenham exatamente o mesmo “comportamento”. O modelo difusionista descreve melhor o processo porque permite-nos fazer uma análise condizente com as realidades históricas e sociais das comunidades de fala, ou seja, de acordo com a produção e o uso do item e sua valoração social. (VIEGAS, 2001, p. 210).
A autora postula, portanto, que o alçamento das vogais médias pretônicas na oralidade
da região metropolitana de Belo Horizonte/MG é lexical e está intimamente relacionada ao
status social que é dado a um determinado item.
Para Ribeiro (2007),
não se pode dizer que o ambiente fonético é desconsiderado pela DL, ele pode ser visto como um “assimilador a posteriori, e não como um condicionador a priori de uma inovação” (OLIVEIRA, 1992, p.35). Ou seja, não é que o contexto não tenha nenhuma interferência, prova disso é o fato de o caminho natural da mudança de [e] é o alçamento para [i] e não a oclusiva [k], por exemplo, mas, para difusionistas, não é o contexto que vai licenciar a mudança, sendo esse papel exercido pelo léxico. O fato de o programa GOLDVARB ter apontado o contexto precedente e o contexto seguinte como desfavorecedores, e também os outros fatores estruturais, parece corroborar com essa hipótese. O que deve ficar claro é que o fato de a língua apresentar variação no mesmo contexto não implica necessariamente DL. A explicação para essa variação é que vai diferenciar uma proposta difusionista de uma proposta neogramática. Difusionistas não enxergam as realizações do tipo cócuras para cócoras ou mesmo variações do tipo âncura ~ cócoras como exceções a uma regra já implementada na língua, mas sim como uma propagação lexical dessa regra. Já neogramáticos, guiando-se pelo princípio da exceptioness, explicariam as “exceções” (não existentes na teoria difusionistas) por empréstimo ou analogia. (RIBEIRO, 2007, p. 162).
E ainda:
Outras indicações de que as vogais da posição aqui investigadas são passíveis aos processos difusionistas podem ser expressas pelo comportamento peculiar de algumas palavras aqui pesquisadas. A palavra véspera, por exemplo, uma palavra pouco frequente, foi pronunciada como véspura por muitos falantes com menor escolaridade e pertencentes à classe social mais baixa; a palavra próspero, contudo, que possui o mesmo contexto não vira próspuro em nenhuma das ocorrências. A mesma diferença de comportamento acontece com as palavras cômoda e cômodo, porém, com outros processos fonológicos envolvidos. O mesmo falante que
59
pronuncia cômbada para cômoda, fala que construiu um [»komudu] na frente de casa, e não um cômbadu ou mesmo cômbudu. Diferenças dessa espécie apontam para a hipótese da DL e acabam por situar a investigação dos fenômenos fonológicos no par item léxico – indivíduo. (RIBEIRO, 2007, p. 163).
O mesmo caminho nos indica Célia (2004, p. 83), ao comprovar que alguns vocábulos
alçaram mesmo “sem que houvesse um ambiente vocálico favorecedor” como em “p[i]queno,
s[i]mestre, fut[i]bol, d[i]s[i]spero, s[i]nhor, c[u]meçar, alm[u]çar, c[u]meu, b[u]neca,
c[u]légio”. A autora nos diz que, pelos resultados obtidos, mesmo não sendo o objetivo do
trabalho, “é possível que realmente haja algum tipo de condicionamento lexical” (CÉLIA,
2004, p. 84).
Klunk (2007) comprova o que nos diz Célia (2004) ao nos dizer que
a elevação de /e/ no contexto em questão ocorreu sempre com as palavras pequena(s), pequeno(s), o que nos permite dizer que a regularidade está tendenciada, pois o número de ocorrências deste item é relativamente grande, fato que tem a aparência de uma variação que está ocorrendo no léxico. (KLUNK, 2007, p.65).
Valendo-se da noção de frequência proposta por Leslau (1969)38, Klunk (2007)
conclui, em sua pesquisa sobre o alçamento das vogais médias pretônicas em Porto
Alegre/RS, que é um processo de difusão lexical, pois “as palavras que mais alçam são
aquelas consideradas mais familiares, mais comuns e de uso frequente, como, por exemplo:
cumpadre, cumadre, sinhora, piquena, futibol.” (KLUNK, 2007, p. 81).
Separando vocábulos em grupos de palavras e palavras isoladas, a autora conclui que
“os dados revelam que o alçamento de /e/ só ocorre esporadicamente, enquanto /o/ mostra um
indício de difusão lexical ao envolver palavras do mesmo paradigma derivacional” (KLUNK,
2007, p. 89).
Vianna (2008) nos apresenta três situações que evidenciam a atuação lexical no
processo de variação das vogais médias pretônicas:
A primeira postula que dada uma regra A B/C__D, há no mesmo item lexical, estruturas CBD coexistindo com estruturas CAD. A segunda envolve os itens lexicais que possuem contexto fonológico para que alcem, mas não alçam e assim apresentam estruturas CAD. A terceira refere-se aos itens lexicais que não
38 Nas palavras de Oliveira (1995), “Leslau utiliza uma noção de frequência relativa, e não de frequência absoluta, o que me parece ser uma atitude acertada, muito embora Leslau reconheça que sua análise falha por tentar determinar esta frequência relativa ‘de ouvido’”. Ainda conforme Oliveira, citando Leslau (1969, p. 181), “there is, of course, the question of the method of determining the relative frequency of use of a particular Ethiopian word. No such statistical data are at our disposal for the Ethiopian languages as are avaible for other languages. In view of this fact I admit that I relied on intuition in estimating relative frequency, rather than on statistical information.” (OLIVEIRA, 1995, p.81).
60
apresentam contexto para que sofram o processo de alteamento, mas alçam mesmo assim. (VIANNA, 2008, p. 94).
Yacovenco (1993) já percebia a existência desses fatores ao estudar o comportamento
das vogais médias pretônicas no falar culto carioca. Tendo a “palavra base” como um dos
fatores da variação, nos diz:
A palavra base apresenta uma influência indefinida quanto à aplicação das regras variáveis. Ora a palavra base parece contribuir para a aplicação da regra de manutenção, como é o caso da anterior oral, da posterior nasal e dos ditongos; ora parece favorecer a realização alta da posterior oral e da anterior nasal e, por outras vezes, a palavra base parece atingir a realização da regra de abaixamento sobre a anterior oral e sobre os ditongos. (YACOVENCO, 1993, p. 118).
Essa indefinição e esse comportamento variável nos leva a pensar em difusão lexical,
afinal, nas suas conclusões sobre a influência da palavra base, a autora nos dá uma visão de
plasticidade lexical39.
Para Viegas (2001, p. 94), a variação nas vogais médias pretônicas é um caso de
difusão lexical, afinal, “mesmo com todo o esforço para encaixarmos todos os itens em uma
regra, fica um resíduo (principalmente aqueles itens que têm ambiente mas não alçam)
característico do processo de difusão lexical – temos a seletividade lexical.”
Quanto a essa “seletividade lexical”, nos diz Lee e Oliveira (2003):
Os casos de fogão, folhinha, preciso e porção são mais interessantes ainda pois mostram a migração associada a uma especialização semântica, o que se configura como uma das maneiras de se resolver um caso de variação. Em última análise, para casos como estes teríamos que ter um tableau para cada palavra ou conjunto de palavras (que formariam uma classe), o que certamente nos remeteria a uma posição difusionista para o tratamento da variação e mudança (LEE & OLIVEIRA, 2003, p.13).
Neste Capítulo, situamos a questão da variação e da mudança linguística de acordo
com a visão neogramática e a difusionista. Assim, pudemos verificar que o processo de
variação e mudança linguística não é homogêneo, regular, como postulavam os
neogramáticos, e, sim, sujeito a diversos fatores que extrapolam o nível fonético/fonológico.
Estão, além disso, condicionados a contextos semânticos e lexicais; em outras palavras, as
variantes que compõem uma variável linguística são armazenadas no léxico estabelecendo
relações sonoras e semânticas.
39 Para maiores detalhes sobre a questão da plasticidade lexical, ver Oliveira (1995, p. 88).
61
4 CO�TEXTO SOCIAL E METODOLOGIA
Neste capítulo, faço uma breve descrição do contexto histórico, socioeconômico e
geográfico do município de Montes Claros. A apresentação desse contexto é importante para
que se possa caracterizar a comunidade de fala onde esta pesquisa se realizou e,
consequentemente, apontar os fatores não estruturais (ou sociais) que se mostraram relevantes
para essa comunidade e, também, o quão recente é a formação de um dialeto genuinamente
montesclarense, o qual perde as características do subfalar baiano (conf. GUIMARÃES,
2006) e assume uma nova configuração.
Além disso, comento, também, sobre os procedimentos metodológicos utilizados na
pesquisa.
A microrregião de Montes Claros pertence à mesorregião Norte de Minas. Sua
população foi estimada, em 2006, pelo IBGE40, em 588.321 habitantes; possui uma área total
de 22.248,177 Km2 e está dividida em 22 municípios: Brasília de Minas, Campo Azul,
Capitão Enéas, Claro dos Poções, Coração de Jesus, Francisco Sá, Glaucilândia, Ibiracatu,
Japonvar, Juramento, Lontra, Luislândia, Mirabela, Patis, Ponto Chique, São João da Lagoa,
São João da Ponte, São João do Pacuí, Ubaí, Varzelândia, Verdelândia e Montes Claros,
cidade alvo deste estudo.
Figura 1: Microrregião de Montes Claros
Fonte: <http://www.informacaosobre.com/Montes_Claros>. Acesso em: 20 ago. 2009
40 BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 25 ago. 2009.
62
4.1 Montes Claros de ontem
As primeiras notícias que se têm dos montes claros nos é dada pelo Padre Navarro, em
sua carta, para os seus irmãos na Bahia, na qual conta sobre a expedição de Bruzza Spinoza41.
Conta-nos o historiador Hermes de Paula (1979) que Spinoza,
procurando localizar um ponto de referência para o prosseguimento da jornada, avistou, não muito aquém da linha do horizonte, um agrupamento de montes esbranquiçados e despidos de vegetação. Virou-se então, para seus companheiros e teria sentenciado: nosso próximo objetivo são aqueles montes claros. (PAULA, 1979, p. 03).
Em 1674, Fernão Dias Pais Leme42, em busca das lendárias esmeraldas que existiriam
na região, organizou a maior bandeira já feita em território brasileiro. Faziam parte dessa
bandeira o mestre de campo Matias Cardoso de Almeida, lugar-tenente de Fernão Dias, e seu
cunhado, o jovem Antônio Gonçalves Figueira43. Matias Cardoso e Figueira, convencidos de
não passar de sonho irrealizável a velha lenda esmeraldina, voltaram a São Paulo.
No ano de 1691, o Alferes Antônio Gonçalves Figueira volta à região, como guia da
tropa do coronel João Amaro Maciel Parente, para se encontrar com Matias Cardoso a fim de
fazer guerras aos índios e fazê-los prisioneiros.
Ao final de sete anos de combates, Gonçalves Figueira resolve ficar e funda, na bacia
do Rio Pardo, a fazenda Brejo Grande, onde instalou o primeiro engenho de cana do sertão.
Fundou, ainda, as fazendas de Jaíba, Olhos D´água e
41 A primeira expedição que se embrenha pelo sertão parte de Porto Seguro, em 1553. Compõem-na portugueses, mamelucos, “mazambos” e índios tupiniquins sob a chefia do espanhol Francisco Bruzza Spinoza. A bandeira Spinoza-Navarro, da qual o jesuíta Aspilcueta Navarro fazia parte, percorreu desde o Jequitinhonha até São Mateus, no Espírito Santo. 42 A importância desta célebre bandeira deve-se aos pousos que foi deixando pelo caminho, criando a ligação entre São Vicente e a bacia do rio das Velhas, uma espécie de caminho que passou a ser seguido por muitos, além do estabelecimento de bases relativamente sólidas para a posterior ocupação. Estes pousos eram pequenas roças e criações de animais, onde se produziam suprimentos para as necessidades da bandeira e uma possível retirada. A imprecisa localização destes pousos é motivo de debates ainda hoje, quando se discute quais cidades tiveram neles as suas origens, quais desapareceram e quais permanecem ainda hoje. 43 Gonçalves Figueira e seu cunhado Mathias Cardoso (este era casado com Inês Gonçalves, irmã de Figueira), após deixarem a guerra no sertão nordestino encaminharam-se para o norte de Minas, onde junto com muitos parentes e pessoas próximas fundaram as grandes fazendas de gado que nos primeiros anos dos setecentos se tornariam essenciais para o abastecimento das minas. Mathias, antes mesmo de sua entrada na guerra, já havia estabelecido o seu arraial na beira do São Francisco, e os seus parentes acabaram concentrando-se nas margens do dito rio, enquanto os Figueiras fixaram-se junto ao Verde Grande. É de 1690 a concessão de 80 léguas quadradas ao tenente-general e outras dezenove pessoas. (FAGUNDES e MARTINS, 2002, p.65).
63
obteve, por alvará de 12 de abril de 1707, uma sesmaria de légua e meia de largo por três de comprimento sob as condições do Foral, não podendo alhear terras e nem se apoderar de aldeias e terras dos índios, situada nas cabeceiras do rio Verde pela margem esquerda, tendo ao sul os montes de xistos calcáreos (esbranquiçados), estabelecendo aí a Fazenda dos Montes Claros. (PAULA, 1979, p. 05).
Figueira constrói a sede de sua fazenda dos Montes Claros no vale do Rio Vieira,
afluente do rio Verde, onde se construíram, além de casas, os currais e uma capela. Ao final se
sua vida, Gonçalves Figueira retorna à sua terra natal, Santos/SP, ficando a Fazenda dos
Montes Claros entregue aos agregados e, posteriormente, ao seu primogênito, o Sargento-Mor
Manoel Ângelo Figueira.
Entretanto, Manoel Ângelo, mostrando não ter gosto pela vida rural, resolveu se
mudar para São Paulo e, em 1768, vendeu a fazenda para o Alferes José Lopes de Carvalho, o
qual mandou construir uma nova capela, ao redor da qual fazendeiros da vizinhança
construíram casas para passar o fim de semana. Assim sendo, “esse arraialzinho embrionário
passou a se denominar Formigas.” (PAULA, 1979, p. 12).
Figura 2: Casa da sede da Fazenda dos Montes Claros
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTES CLAROS. Secretaria de Cultura de Montes Claros
Em fins do século XVIII, as fazendas se desdobram em três arraiais: Tabua, Formigas
e Cruzeiro, sendo este o que mais se destacava na época. Entretanto, em 1808, uma epidemia
de varíola força os seus moradores a se mudarem para Formigas, enquanto Cruzeiro era
incendiado para conter a doença.
Auguste de Sainte-Hilaire44, naturalista francês, passando por Formigas, em 1817,
assim o descreve:
44 “O sábio francês Auguste Saint-Hilaire (1779-1853) foi um dos primeiros cientistas vindos da Europa a poderem percorrer livremente territórios do Brasil Colônia. Isso foi possível graças à mudança da disposição da
64
A povoação de Formigas está situada à entrada de uma planície, a quatro jornadas de Vila do Fanado (Minas Novas), a cinquenta léguas do Tijuco, e a mais duzentas da Bahia e do Rio de Janeiro. Um dos ramais da estrada do Tijuco e da Bahia passa por Formigas. Essa povoação que pode compreender atualmente duzentas casas e mais de oitocentas almas é certamente uma das mais belas que vi na Província de Minas. [...] A Maioria das casas é construída ao redor de uma praça irregular [...] que forma um quadrilátero alongado, e, por sua extensão, seria digna das maiores cidades. [...] A Igreja está situada no fundo da praça [...] há ainda em Formigas ruas paralelas a dois dos lados da própria praça. As casas são quase todas pequenas, mais ou menos quadradas, baixas e cobertas de telhas. Três ou quatro têm sobrado; algumas são construídas de adobes, as outras de barro e varas cruzadas. As janelas são pequenas, quadradas, pouco numerosas, fechadas por um simples postigo. Veem-se na povoação uma hospedaria, várias vendas, e, enfim, algumas lojas em que se vendem fazendas e quinquilharias. (PAULA, 1979, p. 13)
Em 13 de outubro de 1831, o arraial de Nossa Senhora da Conceição e São José foi
elevado a Vila de Montes Claros de Formigas e, em 3 de julho de 1857, pela Lei nº 802, a
Vila de Formigas foi elevada à cidade de Montes Claros, nome que “veio ao encontro de uma
velha aspiração dos formiguenses, conforme se lê no livro de atas das sessões da Câmara em
26/7/1844.” (PAULA, 1979, p. 18). Ainda segundo o autor, em 1885, Montes Claros possuía
3.219 habitantes, sendo 1.586 mulheres e 1.633 homens.
A cidade teve como sua primeira atividade econômica a pecuária extensiva de corte,
destinada ao abastecimento dos centros mineradores do Estado. Com o declínio da atividade
mineradora no Estado, há um enfraquecimento da economia regional e um distanciamento da
cidade de Montes Claros, a qual volta as suas relações de comércio para a Bahia.
Nesse mesmo período são introduzidas algumas culturas agrícolas na região,
principalmente o algodão e a mamona. Essas culturas propiciaram o aparecimento de uma
incipiente industrialização com a fundação de pequenas unidades fabris, sendo a primeira a
fundada em 1880 pela sociedade Rodrigues, Soares, Bittencourt, Veloso & Cia, localizada no
Cedro.
Com a ligação da cidade à malha ferroviária da Central do Brasil (01/09/1926),
intensifica-se o comércio de gado e do algodão pelas novas facilidades de transporte,
fortalecendo o vínculo da região com o sul do Estado e do País e, consequentemente,
Corte portuguesa, instalada no Rio de Janeiro desde 1808, e que resolveu abrir-se às nações amigas. Durante seis anos, de 1816 a 1822, ele, infatigável, visitou as províncias do centro e do centro-sul do Brasil, recolhendo pelo caminho um proveitoso acervo botânico, registrando cada passo das suas andanças num saboroso diário de viagem, publicado mais tarde na França em diversos volumes que até hoje encantam os seus leitores como um retrato fiel e objetivo da paisagem e dos costumes do Brasil daqueles inícios do século XIX. O que Jean-Baptiste Debret, seu contemporâneo e conterrâneo, fez com o pincel, Auguste Saint-Hilarie fez com a pena. Falecido em 30 de setembro de 1853, celebra-se em 2003 os 150 anos da sua morte.” (SCHILLING, Voltaire. Lembrando Saint-Hilaire, 2003. Disponível em: <http://www.educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/06/001.htm>. Acesso em 22 ago. 2009.
65
expandindo e abrindo o mercado para produtos industrializados, o que determinou uma
crescente especialização da economia regional em termos da pecuária e da cotonicultura.
A cidade se expande consideravelmente a partir desse período, com um aumento
significativo de sua população, principalmente pelo crescimento econômico da década de 40 e
pela migração consequente da seca e do desemprego na região e no Nordeste do país.
A partir de 1964, quando da aprovação do primeiro projeto industrial na região
mineira da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), iniciou-se uma
transformação no processo de desenvolvimento regional. A cidade de Montes Claros
constitui-se, então, a partir daí, como polo industrial regional.
4.2 Montes Claros de hoje
Montes Claros é o principal centro urbano do norte de Minas e, por esse motivo,
apresenta características de uma metrópole regional, pois seu raio de influência atinge todo o
norte de Minas Gerais e sul da Bahia.O município de Montes Claros localiza-se na Bacia do
Alto Médio São Francisco, ao Norte do Estado de Minas Gerais, estando integrado na área do
Polígono da Seca, Região Mineira do Nordeste. É servido pelas rodovias BR-122, BR- 135,
BR- 251 e BR- 365, tornando o município um dos maiores entroncamentos rodoviários
nacionais, interligando-o com o Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.
66
Figura 3: Ligações rodoviárias no Norte de Minas
Fonte: DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Montes Claros/MG
Possui aeroporto com voos domésticos, de transporte de cargas e passageiros. Seu
Sistema Ferroviário liga aos principais terminais portuários do Sudeste (Porto de Vitória, Rio
de Janeiro, Santos e Sepetiba). Possui duas universidades públicas (Federal e Estadual), além
de cerca de 10 particulares. É sede de duas emissoras de televisão locais. Atravessou, nas
últimas décadas, um grande desenvolvimento econômico, promovido graças à atuação direta
do Estado, dotando a região de infraestrutura e estimulando a industrialização através de
incentivos fiscais. O município torna-se, então, polo de desenvolvimento regional. Conforme
nos diz Fernanda Gomes (2007),
Montes Claros foi o principal ponto de convergência do fluxo migratório da região, absorvendo camponeses e migrantes do Norte e Noroeste de Minas e de parte do Sul da Bahia. Com base em Pereira (2003), os fatores que contribuíram para isso foram: concentração fundiária; longos períodos de seca; transformações na estrutura produtiva; expansão industrial; e desenvolvimento de um complexo e diversificado setor de serviços, comércio e administração na cidade. Esses fatores, em conjunto, motivaram um rápido crescimento populacional em Montes Claros, gerando um descompasso entre infraestrutura e serviços disponíveis e a crescente demanda. Além disso, a indústria e os outros setores da economia não conseguiram absorver toda a mão de obra disponível, ocorrendo assim um aumento das atividades informais e do desemprego na cidade. (GOMES, 2007, p. 67).
67
Por outro lado, a concentração de serviços especializados (educação, saúde,
entretenimento, comércio, indústria) fez com que Montes Claros adquirisse vantagem em
relação às outras cidades da região, contribuindo, assim, para fortalecer ainda mais a sua
centralidade e posição hierárquica no Norte de Minas. Entretanto, tal posição exigiu uma
reformulação da dinâmica do município, que, segundo Gomes (2007), se deu em termos de:
• Industrialização: formação de centros industriais nas cidades de Montes Claros, Pirapora, Várzea da Palma e Bocaiúva, alterando a divisão do trabalho pré-existente; • Urbanização: aumento da população urbana, sobretudo nas cidades mais industrializadas da região, acompanhado de processos migratórios intra-regionais; • Estratificação social: ampliação da classe média e a difusão gradativa de um modo de vida urbano (ainda que para um grande número de cidades do Norte de Minas este fato é questionável, visto que grande parte da população que vive na região adota um estilo de vida rural e está ocupada em atividades ligadas à agropecuária), implicando em mudanças no comportamento da sociedade e nas formas de consumo; • Melhoria da circulação dos meios de transporte e comunicação: viabilização de interações espaciais mais eficientes de mercadorias, pessoas, informação e capital com a substituição do sistema ferroviário por uma densa rede rodoviária. • Industrialização do campo: modernização da agricultura e reestruturação fundiária, que alteraram as relações sociais de produção e foram acompanhadas de um êxodo rural. • Diversificação da economia e reorganização do setor empresarial: alterações dos padrões de compra e consumo da população regional com a entrada do capital financeiro e investimentos empresariais, envolvendo não apenas o setor industrial e comercial, mas também a expansão do setor de serviços. (GOMES, 2007, p. 84-5).
Hoje, segundo a autora, Montes Claros pode ser considerada uma cidade policêntrica,
pois o incremento das atividades econômicas da cidade tem permitido uma maior dinâmica na
sua estrutura através da renovação das formas de uso e ocupação, como se pode ver na Figura
4.
68
Figura 4: Subcentros de Montes Claros Fonte: GOMES, 2007.
4.3 Um perfil econômico de Montes Claros e do �orte de Minas
A região do Norte de Minas é heterogênea em relação à sua economia e população. A
base econômica da região esteve, até a década de 70, calcada na agropecuária (com destaque
para a bovinocultura de corte) e, em menor proporção, nas atividades comerciais.
Apesar da importância da agropecuária para a região do Norte de Minas, é preciso
considerar que, de acordo com Oliveira (2000), ela esteve associada aos seguintes fatores:
69
forma de ocupação e prática extensiva com alta concentração de terra; distribuição de renda
afetada pela posse da terra; rigidez das relações sociais patriarcais com a submissão do
empregado em relação ao patrão; características geoclimáticas desfavoráveis, marcadas por
longos períodos de seca; e uso de técnicas agrícolas rudimentares. Além da agropecuária,
outras atividades do setor primário são importantes para a economia do Norte de Minas, como
o reflorestamento e o carvoejamento.
A partir da década de 1970, com o advento da SUDENE, deu-se início, no Norte de
Minas, à chamada “era da industrialização”, quando se verificou um incremento das
atividades industriais em detrimento das atividades do setor agropecuário. Apesar do
incremento da atividade industrial no Norte de Minas, o processo de industrialização da
região não foi comum a todos os municípios da região. A maior parte das indústrias se
concentra apenas em quatro municípios: Montes Claros, Pirapora, Bocaiúva e Várzea da
Palma (este pertencente à microrregião de Pirapora).
Apesar de Montes Claros apresentar uma maior diversidade produtiva e o maior PIB
da região do Norte de Minas, sua distribuição de renda é bastante desigual. Os 50% mais
pobres da cidade possuem uma renda total de 12,20%; já os 10% mais ricos possuem 45,45%
da renda (IBGE, 2000). Além disso, 76% dos chefes de domicílios da cidade possuem
rendimento de até 3 salários mínimos, o que demonstra o baixo poder aquisitivo e de consumo
da população.
TABELA 8 Renda mensal do chefe de família de Montes Claros
SALÁRIO %
Até 1 salário mínimo 42,52
De 1 a 3 salários mínimos 33,22
De 3 a 5 salários mínimos 8,22
De 5 a 10 salários mínimos 7,68
Mais de 10 salários mínimos 4,92
Sem rendimento 3,44
l % Fonte: IBGE, 2000
O PIB do setor de serviços de Monte Claros passou de 44%, em 2000, para 54%, em
2003, o que reforça a tendência de expansão do setor terciário da cidade. Mas é preciso
destacar que o setor secundário também teve uma participação significativa (42% do PIB, em
70
2003). Já o setor primário (agricultura e pecuária) teve uma baixa participação no PIB
municipal. Ainda em 2003, verificou-se que 69% da população do município estavam
ocupados em atividades de comércio e serviços: 23% na indústria e 8% na agropecuária.
É preciso considerar que o setor industrial e a administração pública também
absorvem parte considerável da população ocupada do município de Montes Claros. O setor
terciário da cidade tem se ampliado e se diversificado cada vez mais, devido à crescente
demanda do parque industrial e à presença de um mercado regional em expansão.
De acordo com dados do escritório da SUDENE (localizado em Montes Claros), a
maior parte dos indicadores sociais da região do Norte de Minas registrou uma significativa
melhoria. De 1960 a 1999, a taxa de analfabetismo caiu 50,4%; a expectativa de vida ao
nascer apresentou um incremento de 48,9%, a taxa de mortalidade infantil reduziu-se em
50,2% e o IDH apresentou variação de 103,2% (enquanto que o IDH do país cresceu 68% no
mesmo período).
Houve, em Montes Claros, um aumento também dos serviços pessoais (especialmente
das atividades de lazer e entretenimento) que está associado à própria ideia do urbano, da
globalização e da diversificação dos padrões de consumo requerida pela sociedade urbana.
Esses fatores implicaram o surgimento de novas edificações na cidade, como shoppings,
cinemas, supermercados, loja de departamentos e outros. Percebe-se, então, que Montes
Claros tem se consolidado nos últimos anos como uma Cidade Polo-Regional de Serviços.
A segregação socioespacial e o processo de periferização, características das médias e
grandes cidades brasileiras, foram determinantes no processo de expansão urbana de Montes
Claros. Segundo Pereira (2004), após a década de 70, verificou-se, em Montes Claros, um
crescimento urbano, num padrão urbanístico disperso, mas com alto grau de concentração
espacial dos equipamentos e da infraestrutura nos bairros de alta renda.
No caso de Montes Claros, um fator específico contribuiu para acentuar o processo de
favelização e de periferização da cidade: os movimentos migratórios e o êxodo rural, mais
notáveis na década de 1970. Os movimentos migratórios em direção a Montes Claros,
intensificados pelo processo de industrialização e maior articulação rodoviária de Montes
Claros com outros centros urbanos do país, provocaram modificações na estrutura urbana da
cidade e contribuíram para acentuar os problemas urbanos, tais como: aumento do
favelamento e da pobreza urbana, maior periferização, rápida expansão do tecido urbano,
aumento do déficit habitacional, proliferação de assentamentos subnormais, insuficiência dos
71
serviços que não suprem a demanda, marginalização da população do processo econômico
(grande número de pessoas desocupadas e subocupadas), entre outros.
De acordo com o Programa de Aplicações em Desenvolvimento Urbano de Montes
Claros (1974), a cidade, enquanto capital regional atraía, além da população do Norte de
Minas, a população flutuante (móvel) da região Nordeste do país, sendo que, na década de
1970, muitos imigrantes já estavam na cidade pela quarta vez. De acordo com esse programa,
o aumento da pobreza urbana em Montes Claros esteve diretamente relacionado com o
intenso fluxo de pessoas que se dirigiram à cidade. Se considerarmos Montes Claros, na
década de 60, com uma população urbana estimada em 50 mil habitantes, vamos encontrar,
em 1978, uma população com 172 mil habitantes, o que equivale a um aumento de 244% da
população montesclarense em 19 anos.
Com esta “explosão demográfica” a cidade começou a ser sufocada por uma série de
graves questões de ordem social: falta de habitação, carência de um eficiente sistema de
abastecimento d’água, inexistência de uma política agressiva de saneamento básico,
surgimento das favelas, aumento do índice de marginalidade e criminalidade, delinquência
juvenil, menor abandonado, falta de um planejamento urbano e uma série de problemas
congêneres.
A tudo isso se soma o agravamento de que a densidade populacional alcançava índices
de crescimento na ordem de 7% ao ano, enquanto que a oferta de emprego não crescia em
proporções suficientes para dar conta da demanda da mão de obra existente. Isso criou uma
lacuna social quase incontrolável, levando uma boa parte da população a viver de
subempregos para garantir a sua sobrevivência.
Houve uma nítida ocupação pelas classes mais altas de Montes Claros nas regiões
oeste e sudoeste da cidade. Os bairros localizados nessas regiões possuem, em geral, boa
infraestrutura, ruas largas, sistema viário bem articulado, facilidade de acesso e são mais
arborizados. Segundo nos diz Gomes (2007):
A mercantilização do espaço urbano de Montes Claros conduz à formação de uma cidade dividida em diferentes zonas homogêneas (em termos de renda, aspectos culturais, qualidade da residência e outros). Um exemplo de área homogênea é o Bairro Ibituruna, localizado na zona oeste, que é ocupado por uma população de classe alta, sendo formado por edificações de um padrão alto ou luxuoso, além de possuir cinco parcelamentos residenciais horizontais fechados (condomínios fechados) no seu interior, formando uma espécie de um “enclave” dentro de outro “enclave”. (GOMES, 2007, p. 99-100).
72
Esse crescimento urbano desordenado deixou sequelas até hoje percebíveis na cidade,
como os grandes espaços vazios no interior da cidade e áreas ocupadas em regiões
susceptíveis a desmoronamento e inundação.
4.4 A linguagem em Montes Claros
A presença das bandeiras na região Norte de Minas pode ser comprovada através da
linguagem dos seus habitantes. Fenômenos como a epêntese, verificada no vocábulo despois,
de uso culto nos séculos XV e XVI; a redução de ditongo nos vocábulos premero e tercero; e
arcaísmos como arreceber e amontava são variantes comuns na região45. Constata-se,
também, a ocorrência de um repertório verbal composto de vocábulos como muntcho (uso de
africadas, características do século XVII), preguntou (que, alternadamente à forma perguntar,
era utilizado no século XVII), dereitos, fruito, faiá, entre inúmeros outros, os quais
constituem, sem dúvida alguma, marcas da presença da linguagem bandeirante.
Para Antenor Nascentes, em seu Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do
Brasil, Montes Claros encontra-se na zona do subfalar baiano46, o qual teria como uma de
suas características a “predominância das vogais pretônicas baixas, como [ɔh’vaʎu], [sεrẽnu]”
(MARTINS, 2006, p. 03-4). Entretanto, conforme observações empíricas e baseando-nos no
trabalho de Guimarães (2006), o que encontramos, em Montes Claros, é um sistema complexo
no que diz respeito ao comportamento das vogais médias (e) e (o) em posição pretônica, o que
nos dá, pois, um quadro diferente daquele postulado por Nascentes. De acordo com as
observações do autor, na região norte de Minas47,
verificou-se pela observação dos dados que, naquilo que tange às vogais médias em posição pretônica, o sistema é um pouco mais complexo [...] Embora haja a neutralização, processo fonológico através do qual as vogais médias perdem o contraste em sílabas átonas, observa-se a presença tanto de vogal média-baixa, quanto de vogal média-alta e, ainda, de redução vocálica na pauta pretônica. [...] Entretanto, a presença de [ε, ɔ], embora ainda constatada, parece já não se fazer tão marcante quanto à época da confecção do EALMG48. Por conseguinte, existem contextos que favorecem a presença dessa variante na sílaba átona em questão, mas não garantem uma produção uniforme dessas vogais pelos falantes. Um fator que chancela tal produção, sem qualquer sombra de dúvida, é a presença de vogal
45 Corpus linguístico da pesquisa Mitos e ritos da cultura popular: a folia de reis em cena (TONDINELI, 2009). 46 Ver figura 5: Isófona de [ε] e de [ɔ] em Minas Gerais. 47 Bocaiúva, Mirabela e Montes Claros. 48 Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais.
73
média-baixa em posição tônica. Nessa circunstância, há uma produção maior de [ε, ɔ] em sílaba pretônica do que de [e, o]. (GUIMARÃES, 2006, p. 85-6).
Figura 5: Isófona de [ε] e de [ɔ] em Minas Gerais
Fonte: GUIMARÂES, 2006.
74
Tal fato pode ser consequência do processo intenso de migração ocorrido nos últimos
tempos (vide item 4.3). Tendo como base o falar vernacular, podemos observar que a
caracterização linguística reflete a cultura de um povo e que fatores externos a influenciam
diretamente, provocando mudanças (sejam elas linguísticas ou culturais). Verificou-se,
portanto, que o convívio com pessoas de outras regiões fez com que a linguagem do visitante
fosse absorvida pelo morador nativo, caracterizando o fenômeno da transculturação ou
entrelaçamento cultural (ORTIZ, 1983, apud TONDINELI, 2009) e/ou de homogenização
linguística (CHAMBERS, 1995, apud TONDINELI, 2009).
Consequentemente, características dialetológicas, antes percebidas em uma grande
escala da população, são, agora, fato-histórico. Paralelamente, a inserção cultural propõe,
além de uma (re)formulação da sociocultura, um novo modelo linguístico, o qual distancia-se,
na mesma proporção do crescimento educacional e populacional, cada vez mais do dialeto-
raiz.
4.5 A pesquisa: procedimentos metodológicos
O material de análise desta pesquisa é composto de gravações49 de 13 informantes50 da
região urbana de Montes Claros, sendo 07 do sexo feminino e 06 do sexo masculino. Esses
informantes encontram-se distribuídos em três faixas etárias: 15 a 30 anos, 31 a 50 anos e
acima de cinquenta anos.
Dentre os fatores extralinguísticos considerados para esta pesquisa, encontra-se,
também, a variável grau de escolaridade. Neste sentido, selecionamos informantes que se
encaixassem em um dos três níveis: informantes sem estudo ou que cursam ou que
concluíram somente o 1º grau, informantes que cursam ou que concluíram seus estudos até o
2º grau, informantes que cursam ou que concluíram o 3º grau.
Além das variáveis extralinguísticas sexo, faixa etária e escolaridade, levamos em
consideração, para esta pesquisa, a classe social a que pertence o informante – média ou
baixa. As classes sociais terão, como base de investigação e subdivisão, os bairros mais
49 Entrevistas realizadas entre os meses fevereiro e julho de 2009 com a ajuda de duas jornalistas. 50 A escolha dos informantes para esta pesquisa segue, além das variáveis extralinguísticas dadas no Quadro 7, o critério de ser a pessoa nascida na cidade de Montes Claros – seja em sua zona urbana ou rural – e aí residir -, e que não tenha se ausentado da cidade por período máximo de seis meses.
75
característicos das mesmas, tendo em vista que a questão do rendimento não nos parece
relevante na realidade de Montes Claros, pois, na grande maioria das vezes, as famílias mais
tradicionais mantêm um nível de status social que não condiz com a sua situação financeira.
No Quadro 7 mostramos a distribuição do número de informantes nos grupos de
fatores sociais.
SEXO IDADE ESCOLARIDADE CLASSE
SOCIAL
Feminino - 07
Masculino - 06
15 a 30 anos - 05
30,1 a 50 anos -04
Acima de 50 anos - 04
1º grau - 04
2º grau - 03
3º grau - 06
Baixa - 06
Média - 07
Quadro 7: Grupos de fatores sociais Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à classe social dos informantes, e devido ao tratamento que demos a esta
variável, cabe-nos, aqui, um esclarecimento sobre os bairros que compuseram a amostra51:
Todos os Santos e Centro, para a classe média; Maracanã e Amazonas, para a classe baixa.
Antes disso, entretanto, é mister esclarecer que a amostra compõe-se, na sua maioria, de
informantes dos bairros Todos os Santos e Maracanã pela maior afinidade das entrevistadoras
com seus moradores e, consequentemente, um acesso mais facilitado às variáveis
extralinguísticas propostas neste trabalho.
4.6 Caracterização dos bairros – variável classe social52
Nesta seção, exporemos cada um dos bairros que compuseram a amostra dos
informantes desta pesquisa, a saber: Centro, Todos os Santos, Amazonas e Maracanã.
51 De acordo com dados levantados pela Prefeitura no ano de 2003. 52 Vide mapas dos bairros em anexo.
76
4.6.1 Bairro Centro
A Região Central de Montes Claros é muito antiga e possui toda infraestrutura
necessária, como: água, luz, esgoto, asfalto etc.
De acordo com dados históricos, as primeiras habitações deste bairro não foram
aprovadas. O centro foi aprovado por partes, devido ao fato de que a maioria das
habitações/edificações53 foi feita através de usucapião ou de invasões e desmembramentos das
fazendas então existentes no século XIX.
A área central funciona como principal ponto de articulação dos diversos fluxos
viários, provenientes das áreas periféricas. Com ruas estreitas de perfis irregulares, apresenta
uma estrutura viária relativamente hierarquizada. A área do centro de Montes Claros é de
1.555.699,00 m².
TABELA 9
População residente no bairro Centro (Região Administrativa)
População Total % em relação à Montes Claros Homens Mulheres
6932 2,39% 2916 4016
Fonte: MONTES CLAROS, 2003
TABELA 10 População Residente por faixa etária – Centro
(Continua)
IDADE PESSOAS HOME�S MULHERES
0 A 5 ANOS 393 186 207 6 A 10 ANOS 431 217 214 11 A 15 ANOS 536 264 272 16 A 20 ANOS 707 303 404 21 A 24 ANOS 525 218 307 25 A 29 ANOS 518 228 290 30 A 34 ANOS 435 193 242 35 A 39 ANOS 507 210 297 40 A 44 ANOS 481 216 265 45 A 49 ANOS 392 154 238 50 A 54 ANOS 399 163 236 55 A 59 ANOS 284 104 180 60 A 64 ANOS 325 137 188
53 De acordo com dados da Prefeitura Municipal, o número de edificações na região central de Montes Claros é 9.551, até o mês julho/2009.
77
(Conclusão) IDADE PESSOAS HOME�S MULHERES
65 A 69 ANOS 281 97 184 70 A 74 ANOS 241 72 169 75 A 79 ANOS 192 74 118 80 ANOS A MAIS 285 80 205 TOTAL 6932 2916 4016
Fonte: MONTES CLAROS, 2003
TABELA 11
Pessoas Residentes Alfabetizadas por faixa etária – Centro
Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres
05 a 14 anos 828 12,95 404 424 15 a 24 anos 1350 21,12 587 763 25 a 34 anos 946 14,8 419 527 35 a 44 anos 976 15,26 424 552 45 a 54 anos 776 12,14 310 466 55 a 64 anos 592 9,26 239 353 65 a 74 anos 499 7,8 169 330 75 a 80 anos ou mais 425 6,64 144 281 Total 6392 100 2696 3696
Fonte: MONTES CLAROS, 2003
Pela importância do comércio e serviços existentes na região central, observa-se que o
mesmo oferece praticamente todos os produtos nos diversos ramos de atividades. Conforme
indicadores econômicos da Região do Norte de Minas, Montes Claros classifica-se nas
categorias A, B, C, D e E, que vai de menos de ½ salário mínimo a mais de 20 salários
mínimos.
A Região Central é, ainda, dotada de uma rede de ensino básico, eficiente, garantida
pela atuação das redes estadual, particular, escolas de ensino profissionalizante (Escola
Técnica de Saúde do Centro de Ensino Médio e Fundamental da Unimontes), escolas de
ensino livre, escolas de ensino especiais e diversos cursinhos preparatórios para o vestibular.
78
4.6.2 Bairro Todos os Santos.
O Bairro Todos os Santos teve a sua aprovação em janeiro de 1978. De acordo com os
dados históricos, quem criou o Todos os Santos foi Simeão Ribeiro Pires ao definir,
inicialmente, um ponto de apoio através de dois eixos definidores: Rua Santa Maria e Rua São
José, ao lado do Orfanato, centro nevrálgico do bairro.
A sua região administrativa é composta por duas unidades: Todos os Santos/Vila
Santo Antônio e Todos os Santos/Mauriceia. De acordo com o censo do IBGE de 2000,
possui 1.140 habitantes.
Limita-se com os bairros: Centro, Melo, Vila Mauriceia, Jardim Panorama, Barcelona
Park e Vila Brasília, além de um prolongamento – Todos os Santos II. De acordo com Leite
(2003),
A região centro-oeste de Montes Claros, em 70, era uma zona de classe média alta, e continua sendo, onde residiam os fazendeiros, médicos, advogados, engenheiros e chefes políticos. A região abrangia os bairros: Todos os Santos, São Luiz, Melo e Santa Maria. Todos bem dotados de infraestrutura. Talvez tenha sido essa região a que menos mudou ao longo destas quatro décadas, a classe de pessoas que habitam a região continua sendo praticamente a mesma, com exceção da população da Vila Brasília e da Vila Três Irmãs, na parte de urbanização pouco tinha para ser feito a não ser um problema muito antigo da região que é a drenagem da água pluvial e continua sem solução, isso é apenas mais um reflexo da falta de planejamento urbano de Montes Claros. A área ocupada da região aumentou muito pouco, apenas foi ocupado o espaço vazio da margem esquerda do Rio Vieira surgiram apenas três novos bairros neste local: Vila Brasília, Vila Três Irmãs e Vila Santo Antônio. (LEITE, 2003, p. 04)
O Bairro Todos os Santos é ocupado praticamente por residências. Por ser o bairro que
comporta a Universidade Estadual de Montes Claros, possui pontos comerciais, barzinhos,
restaurantes e xerocadoras. Além destes, há 03 padarias, 02 locadoras de vídeo, 01 mercearia,
01 sorveteria, 02 açougues, 01 sacolão e 01 lojinha de variedades. Possui, também, lojas de
aluguel de roupas, agência de viagens, 02 produtoras de vídeos e eventos, 01 farmácia, 01
laboratório de análises clínicas, 01 banca de revistas e jornais e 01 posto de gasolina.
No Bairro Todos os Santos encontramos, também, o Estádio José Maria Melo, de
propriedade da Associação Atlética Cassimiro de Abreu, com capacidade para 6.000 pessoas.
E, além da Universidade, temos duas escolas: uma particular e uma pública para crianças
especiais.
79
4.6.3 Bairro Amazonas
A Região Administrativa do Amazonas é composta pelos bairros: Amazonas, Jardim
Brasil e Vila Santa Cruz.
Limita-se com os bairros (Região Administrativa): Edgar Pereira, Brasília, Santos
Reis, Distrito Industrial e Renascença. Aprovado em 1998, possui ainda partes não
legalizadas, devido às construções por ocupação. A parte legalizada denomina-se Jardim
Brasil. A sua Região Administrativa conta com uma área de: 973.882,00 m².
TABELA 12 População Residente no bairro Amazonas (Região Administrativa)
População Total % em relação à
Montes Claros Homens Mulheres
2185 0,75% 1051 1134 Fonte: MONTES CLAROS, 2003
TABELA 13 População Residente por faixa etária - Amazonas
IDADE PESSOAS HOME�S MULHERES
0 A 5 ANOS 277 147 130 6 A 10 ANOS 213 94 119 11 A 15 ANOS 210 102 108 16 A 20 ANOS 237 111 126 21 A 24 ANOS 200 94 106 25 A 29 ANOS 203 93 110 30 A 34 ANOS 223 100 123 35 A 39 ANOS 177 93 84 40 A 44 ANOS 139 64 75 45 A 49 ANOS 92 51 41 50 A 54 ANOS 56 26 30 55 A 59 ANOS 61 30 31 60 A 64 ANOS 42 22 20 65 A 69 ANOS 24 11 13 70 A 74 ANOS 13 5 8 75 A 79 ANOS 10 5 5
80 ANOS A MAIS 8 3 5 Total 2185 1051 1134
Fonte: MONTES CLAROS, 2003
80
TABELA 14 Pessoas Residentes Alfabetizadas por faixa etária – Amazonas
Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres
05 a 14 anos 357 19,93 167 190 15 a 24 anos 476 26,57 221 255 25 a 34 anos 420 23,45 191 229 35 a 44 anos 303 16,94 151 152 45 a 54 anos 134 7,48 69 65 55 a 64 anos 78 4,35 45 33 65 a 74 anos 18 1,01 10 8
75 a 80 anos ou mais 5 0,27 3 2 Total 1791 100 857 934
Fonte: MONTES CLAROS, 2003
O bairro Amazonas possui bares, restaurantes, sorveteria, mercearia, comércio de
aviamentos e confecções, posto de gasolina, comércio de plástico e embalagens, comércio de
materiais de construção, farmácia, representações comerciais em geral e de prestação de
serviços, agência de turismo, laboratório de análises clínicas e de radiografia e serralheria. O
bairro Amazonas é dotado, também, de uma rede de ensino estadual.
Considerado um bairro de classe C e D (conforme indicadores econômicos da Região
do Norte de Minas), o bairro Amazonas (Região Administrativa) desenvolve diversas
atividades econômicas, atendendo sua população e a de bairros adjacentes.
4.6.4 Bairro Maracanã
O Bairro Maracanã se formou a partir de um loteamento cujos proprietários eram os
Srs. José Alves Vieira, Hermínio de Souza Pinto, Air Lélis Vieira e Antônio Gomes da Mota.
Sua aprovação se deu em 1961.
O bairro apresenta inúmeras alternativas de investimentos de acordo com sua
localização geográfica, apresentando uma economia bastante diversificada, com um comércio
vibrante, gerando negócios a cada dia.
O bairro Maracanã está localizado na Região Sul da cidade de Montes Claros,
limitando-se com os bairros: São Judas Tadeu, Santo Inácio, Jardim São Geraldo e Santo
Amaro. Sua região administrativa conta com uma área de 2.782.387,00 m².
81
TABELA 15 População Residente no bairro Maracanã (Região Administrativa)
População Total % em relação à Montes Claros
Homens Mulheres
15120 5,22% 7410 7710 Fonte: MONTES CLAROS, 2003
TABELA 16 População Residente por faixa etária – Maracanã
IDADE PESSOAS HOME�S MULHERES
0 A 5 ANOS 2164 1115 1049 6 A 10 ANOS 1634 830 804 11 A 15 ANOS 1642 820 822 16 A 20 ANOS 1711 839 866 21 A 24 ANOS 1250 582 668 25 A 29 ANOS 1410 641 769 30 A 34 ANOS 1320 643 677 35 A 39 ANOS 1136 550 586 40 A 44 ANOS 837 431 406 45 A 49 ANOS 630 310 320 50 A 54 ANOS 464 237 227 55 A 59 ANOS 299 145 174 60 A 64 ANOS 243 106 137 65 A 69 ANOS 163 80 83 70 A 74 ANOS 101 37 64 75 A 79 ANOS 66 28 38
80 ANOS A MAIS 60 16 44 TOTAL 15120 7410 7710
Fonte: MONTES CLAROS, 2003
TABELA 17 Pessoas Residentes Alfabetizadas por faixa etária – Maracanã
(Continua)
Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres
05 a 14 anos 357 19,93 167 190 15 a 24 anos 476 26,57 221 255 25 a 34 anos 420 23,45 191 229 35 a 44 anos 303 16,94 151 152 45 a 54 anos 134 7,48 69 65 55 a 64 anos 78 4,35 45 33
82
(Conclusão) Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres
65 a 74 anos 18 1,01 10 8 75 a 80 anos ou mais 5 0,27 3 2
Total 1791 100 857 934 Fonte: MONTES CLAROS, 2003
Pela sua localização geográfica, o bairro Maracanã, e áreas adjacentes, possui um
Centro Comercial bastante diversificado, oferecendo praticamente todos os produtos nos
diversos ramos de atividades. Conforme indicadores econômicos da Região do Norte de
Minas, o bairro Maracanã classifica-se nas categorias C, D e E.
Possui comércio de aviamentos, açougue, abatedouro de frangos, sacolão, farmácia,
papelaria, banca de revistas e jornais, mercearias, bares, restaurantes, sorveteria, lanchonetes,
sapataria, loja de artigos de cama e mesa, comércio de materiais de construção, comércio de
som e instrumentos musicais, locadoras de vídeo, casa de peças, escolas, creches, centro de
saúde, posto policial, posto de gasolina, casa lotérica e serviços em geral.
O bairro Maracanã é dotado de uma rede de ensino básico, garantida pela atuação das
Redes Estadual, Municipal, e Particular (Caic Antonio Alves dos Santos, Escola Municipal
Dominguinhos Pereira, Escola Estadual Carlos Albuquerque, escolas infantis: Pequena Fada,
Mundo Mágico, Alegria de Viver, Creches e outras).
O bairro Maracanã desenvolve atividades nos diversos setores socioeconômicos,
atendendo sua população e a de bairros adjacentes. Verifica-se o funcionamento pleno do
comércio nos dias úteis e aos sábados. Conforme apresentado, o bairro é atendido em diversos
segmentos, cuja demanda parcial é absorvida pelos serviços terceirizados.
Neste Capítulo, apresentamos a cidade de Montes Claros/MG, local onde foi realizada
a nossa pesquisa, assim como discorremos sobre os aspectos que englobam os bairros Centro,
Todos os Santos, Amazonas e Maracanã, que constituem a classe social do falante, como
explicitamos no Capítulo IV.
Assim, no próximo Capítulo, explicitaremos os grupos de fatores linguísticos e
extralinguísticos que compuseram o nosso corpus, além de discorrermos sobre como foi
realizada a pesquisa em si.
83
5 PROCESSAME�TO DOS DADOS
Juntamente com as entrevistas (gravações), iniciou-se a fase de transcrição
ortográfica das mesmas, tendo em vista o próximo objetivo: seleção das ocorrências das
vogais médias (o) e (e) em posição pré e postônica (não final) em todas as suas variantes: [e,
ε, i] e [o, ɔ, u].
As entrevistas54 se deram em duas fases: num primeiro momento, mais informal, no
qual se falou sobre o bairro onde mora o informante e sobre aspectos gerais da vida de cada
um; e, num segundo momento, mais formal, mostrou-se aos entrevistados uma série de
figuras para a coleta das vogais médias postônicas não finais, tendo em vista que as mesmas
ocorrem em palavras proparoxítonas, de pouco uso na nossa língua.
Neste teste mostramos 53 figuras para que os informantes pudessem identificar cada
uma delas, a saber: abóbora, alienígena, almôndegas, âncora, apóstolos, árvore, astrônomo,
átomo, auréola, autódromo, bafômetro, brócolis, bússola, câmera, catálogo, centímetro,
cérebro, cócegas, cômoda, córrego, crisântemo, cronômetro, época, fenômeno, fósforo,
gêmeos, gôndola, helicóptero, horóscopo, hóspedes, mármore, números, óleo, ópera,
orquídea, pálpebra, parêntesis, páscoa, pérola, pêssego, petróleo, pólvora, prótese,
psicólogo, quilômetro, semáforo, símbolo, taxímetro, termômetro, útero, velocímetro,
velocípede e xerox (em anexo).
Esta fase das entrevistas foi codificada como linguagem formal, tendo em vista que
os informantes ficavam tensos ao se depararem com o “desafio” de identificar cada uma das
figuras. Além disso, em alguns momentos, foi necessário dizer o nome correspondente à
figura para que o informante pudesse repeti-lo, tendo em vista que o mesmo não conseguia
identificá-la.
As figuras alienígena, brócolis, crisântemo, símbolo e velocípede se mostraram as
mais complexas. Na primeira – alienígena -, a identificação, muitas vezes, se dava como etê
ou extraterrestre; a segunda, brócolis, foi também identificada como couve-flor por alguns
entrevistados; crisântemo foi ora suprimido pelos informantes, ora identificado como
margarida; símbolo, na sua grande maioria, foi identificado como seleção brasileira; já
velocípede foi identificado, também, como velotrol.
54 Para a realização das entrevistas e maior fidelidade nas transcrições, utilizou-se gravador digital Panasonic modelo RR-US450 e microfone de lapela Omni.
84
Realizadas as transcrições, separamos as ocorrências das vogais médias (e) e (o) em
posição pretônica55 e postônica não final. Essas ocorrências foram codificadas de acordo com
os grupos de fatores estabelecidos e transpostos para o programa VARBRUL. Apresentamos,
a seguir, as variáveis estruturais e não estruturais que compõem os grupos de fatores
utilizados na pesquisa.
5.1 Variáveis dependentes
1. Alçamento de (e, o) em posição pretônica – ac[i]ndia, alm[u]çar – e em posição
postônica não final – pêss[i]go, gônd[u]la.
2. Manutenção de (e, o) em posição pretônica – m[e]nor, f[o]rmados – e em posição
postônica não final – prót[e]se, autôn[o]ma.
3. Rebaixamento de (e, o) em posição pretônica56 – am[´]ricano, c[ø]mércio.
5.2 Variáveis independentes
5.2.1 Vogal da sílaba seguinte e vogal da sílaba precedente
Os contextos vogal da sílaba seguinte e vogal da sílaba precedente têm em vista
analisar se os processos de alçamento e rebaixamento das vogais médias pretônicas (e, o)
ocorrem devido à harmonização vocálica, como nos dizem os estudos de autores como
Câmara Jr. (2008); Bisol (1981); Yacovenco (1993); Klunck (2007); Campos (2008); Dias,
Cassique e Cruz (2007); Silva (1989), entre outros57.
Para tanto, utilizamos os fatores: (E) vogal baixa anterior, (e) vogal média anterior, (i)
vogal alta anterior, (a) vogal central, (O) vogal baixa posterior, (o) vogal média posterior, (u)
55 Na seleção das pretônicas foram consideradas, também, as palavras do teste com figuras. 56 Não ocorreram rebaixamentos de (e) em posição postônica não final; somente as palavras brócolis e xerox rebaixaram quando a vogal em posição postônica não final era a média (o). 57 Para esclarecimentos sobre esses estudos, vide Capítulo 2 – O comportamento das vogais médias (e, o ) no Português do Brasil - deste trabalho.
85
vogal alta posterior, tanto para a análise das vogais médias (e,o) em posição pretônica quanto
para a posição postônica não final. Ainda utilizamos, para as pretônicas, no que se refere à
vogal da sílaba precedente, (X) – não há vogal no contexto precedente.
5.2.2 Status da tonicidade
Neste grupo, baseando-nos em Câmara Jr. (2007, p. 62-65), analisaremos a “pauta
acentual” de cada vocábulo que compõe o nosso corpus. De acordo com Mattoso Câmara Jr.,
podemos analisar os vocábulos fonológicos com (como em /abilidade/, ser hábil) e sem
pausas (como em /abilidade/, hábil idade). Consideraremos, aqui, somente os vocábulos
fonológicos com pausas.
Assim, este grupo de fatores analisa a importância de, no processo derivacional, a
vogal média permanecer átona ou adquirir atonicidade. Dessa forma, foram criados os
seguintes fatores:
(P) Átona permanente (como em verdade~verdadeiramente e locar~locadora)
(S) Átona casual (como em caderno~caderninho e foco~desfocar)
Assim objetivamos, com este grupo de fatores, verificar que tipo de vogal está mais
propensa a variar, a átona permanente, ou seja, aquela que é sempre produzida de forma
átona, seja qual for o processo derivacional, como em doença – adoecer, ou se é a átona
casual, aquela que se torna átona durante o processo derivacional, como em cabelo –
cabeludo.
5.2.3 Contexto fonológico precedente
Na visão neogramática, os segmentos adjacentes ao fenômeno observado são
prementes de investigação para que, assim, possamos verificar a possibilidade de participação
de cada um deles, bem como as possíveis interferências. Conforme mostrado em estudos
anteriores - Célia (2004), Graebin (2008), Cristófaro-Silva (2005), Viegas (2001), entre
86
outros, a atuação das consoantes precedentes é relevante, uma vez que criam condições
diferenciadas no comportamento das vogais médias pretônicas.
Para tanto, utilizamos os fatores: (V) vogal, (O) oclusiva, (F) fricativa/africada, (L)
lateral, (N) nasal, (T) tepe, (S) semivogal, tanto para a investigação do comportamento das
variáveis (e) e (o) em posição postônica não final quanto em posição pretônica. Nesta,
incluímos, ainda, (X) – não há contexto fonológico precedente.
5.2.4 Contexto fonológico seguinte
Em qualquer investigação linguística que focaliza um objeto fonológico,
considerações quanto ao tipo de consoante que ocorre, tanto anterior quanto posteriormente a
um fonema, é indispensável.
Seguindo, ainda, Graebin (2008, p. 119), as possibilidades de configuração silábica
para os contextos fonológicos seguintes são: “(1) Vogal seguida de vogal (ditongos e hiatos) –
passear, doença, oitenta, soldado [...]; (2) consoante da sílaba seguinte: comida pequeno; (3)
sílabas do tipo CVC com coda em /R/, /S/ e /N/: perguntar, estudar, contei.”
Neste trabalho, as consoantes que se seguem às vogais médias pretônicas foram
caracterizadas com os mesmos fatores estabelecidos para a consoante antecedente,
excetuando-se (X).
5.2.5 Distância da sílaba tônica
Sendo que este trabalho inclui o estudo das vogais pretônicas e postônicas não finais,
isto é, anteriores/posteriores à sílaba tônica, esta se apresenta como elemento relevante, uma
vez que é a sua determinação que nos dirá qual a vogal a ser examinada.
Com este grupo pretendemos, portanto, observar a influência da contiguidade das
vogais (e, o) em posição átona em relação à tônica. Assim sendo, determinamos três níveis de
distância, a saber:
1) Distância 1: imediatamente anterior/posterior à sílaba tônica, como em específica.
87
2) Distância 2: duas sílabas antes/após a sílaba tônica, como em depender.
3) Distância 3: três ou mais sílabas antes/após a sílaba tônica, como em democratizar.
5.2.6 2asalidade
Sabemos que as vogais possuem comportamentos diferentes conforme a sua
nasalidade. Verifica-se, por exemplo, que a vogal (e) nasalisada, em posição inicial, tende a
alçar. Daí, portanto, a relevância dos fatores oral (O) e nasal (~).
5.2.7 Classe morfológica
Dividimos as palavras colhidas nesta pesquisa em três tipos – nome, verbo e palavras
compostas – para que possamos, assim, examinar de forma ampla o efeito do componente
morfológico no que se refere ao comportamento das vogais médias (e, o) em posição
pretônica e postônica não final. Assim, temos os fatores:
N – nominal, como em professor.
V – verbal, como em conseguia.
C – palavras compostas, como em desordenado.
5.2.8 Grau de formalidade
Tendo em vista que nenhum falante utiliza a língua da mesma forma em todas as
ocasiões, a escolha entre várias possibilidades linguísticas poderá ser diferente em um estilo
mais casual e um mais formal.
Assim, utilizamos, neste trabalho, conforme Labov (2008), um estilo mais simples
durante a entrevista (fala monitorada) e, buscando um estilo mais formal (estilo de leitura), o
88
uso de figuras para identificação (as quais, pela sua complexidade de identificação, às vezes
vieram acompanhadas de palavras – veja as figuras em anexo). O autor ainda diz:
Se existe comparação entre estilos casuais e monitorados, e se as variáveis que estamos usando desempenham um papel importante nesse contraste, elas não parecem operar com sinais de tudo-ou-nada. O uso de uma única variante – mesmo uma altamente estigmatizada [...] – não produz em geral uma reação social marcada; apenas cria a expectativa de que tais formas podem ocorrer, de modo que o ouvinte começa a perceber um padrão socialmente significativo. [...] Contudo, a fala prestigiada, a raridade com que essas formas ocorrem as torna irrelevantes. Qualquer padrão de expectativa estabelecido por elas desaparece, até que a próxima seja ouvida. (LABOV, 2008, p. 136-7).
Sabemos que medir o estilo de fala é algo altamente complexo. Entretanto, neste
trabalho, optamos por acrescentar este grupo de fatores na esperança de verificarmos a
presença das médias baixas [´, ø], às quais associamos a um grau de formalidade maior.
Assim sendo, neste grupo de fatores, temos: (F) estilo formal e (I) estilo informal, os
quais nos fornecerão subsídios para que possamos verificar na língua de prestígio – contexto
formal – indícios de mudança no fenômeno em estudo.
5.2.9 Posição da pretônica
Tendo em vista as inúmeras discussões a respeito de ser a pretônica, em posição
inicial, em determinados contextos fonológicos, favorável ao alçamento, decidimos nos valer
da posição da mesma para compreendermos melhor os resultados de estudos anteriores
através da nossa própria pesquisa. Verificamos, então, se as vogais médias (e, o)
encontravam-se em posição inicial da palavra – I – (como em educação, morando), ou em
posição medial da palavra– M – (como em professora, namorar).
89
5.2.10 Item léxico58 (só na análise das postônicas)
Para que possamos ilustrar este grupo de fatores, lembramos que a tese difusionista é
fortemente reforçada por três argumentos, fundamentalmente: (a) inúmeras exceções a
determinadas mudanças fonéticas não podem ser explicadas unicamente por analogia e/ou por
empréstimo; (b) muitos processos fonológicos não são explicados somente por
condicionamentos sonoros, mas por uma gama variada de fatores, incluindo os de natureza
discursivo-pragmática e sócio-geográfico-social; e (c) nem todos os vocábulos que contêm o
som em mudança são afetados simultaneamente e da mesma maneira. Isto é, longe de se
aplicar a todas as palavras ao mesmo tempo, as mudanças fônicas reconhecem limites
temporais, quer por razões socioculturais, quer por razões pragmáticas, sendo, pois, contínuas.
Assim, para que possamos confirmar uma das hipóteses iniciais da nossa pesquisa –
que a mudança é difusionista –, acrescentamos, na análise das variáveis (e) e (o) em posição
postônica não final, este grupo de fatores.
5.2.11 Indivíduo59
Além do já exposto no grupo de fatores item léxico, Ribeiro (2007), em sua pesquisa,
confirma que os itens lexicais podem variar em uma comunidade de fala, havendo, além da
variação no nível da comunidade de fala, uma variação intraindividual, determinante na
escolha léxico-fonológica de cada falante.
Nas palavras de Marques (2006, p. 44), “há estudiosos que argumentam que a
mudança linguística se encontra no indivíduo (MILROY, 1992; CROFT, 2000), pois, se uma
inovação não passar de um falante para o outro, não há mudança.”
Diz-nos Oliveira (2005) que
o falante, de posse de seu conhecimento da estrutura fonológica da língua, domina, de fato, uma série de princípios gerais. Alguns desses princípios [...] são refratários à ação de outros princípios, enquanto outros [...] estão sujeitos a princípios
58 Vide relação de figuras/palavras no 3º parágrafo deste Capítulo. 59 Esclarecemos que os treze falantes que compuseram a amostra preenchem todas as células propostas para a pesquisa, conforme exposto no Capítulo 4 – Contexto social e metodologia -, Quadro 7, p. 75.
90
secundários [...]. Alguns princípios (que ainda precisam ser determinados) definem nós, ou pontos, sujeitos, ou não, à ação de princípios menores. (OLIVEIRA, 2005, p. 16).
E ainda: “no que se refere à produção, os princípios menores [...] definem a forma
fonética adotada pelo falante” (OLIVEIRA, 2005, p. 17).
Assim, em nossa pesquisa, levaremos em consideração o falante, a saber:
N – /hinhinha60 22 anos 3º grau Classe média (Todos os Santos) S – Sá-Maria 80 anos 1º grau Classe média (Todos os Santos) B – Badu 22 anos 3º grau Classe Média (Todos os Santos) L – Livíria 22 anos 3º grau Classe Baixa (Maracanã) D – Dionora 41 anos 1º grau Classe Baixa (Amazonas) F – Flausina 21 anos 3º grau Classe Média (Todos os Santos) R – Rolandina 40 anos 2º grau Classe Média (Todos os Santos) A – Lalino 45 anos 3º grau Classe média (Centro) I – Rudimira 57 anos 3º grau Classe Baixa (Maracanã) P – Apolinário 59 anos 2º grau Classe Média (Centro) C – Anacleto 34 anos 1º grau Classe Baixa (Maracanã) J – Jó Joaquim 26 anos 2º grau Classe Baixa (Maracanã) M – Francolim 56 anos 1º grau Classe Baixa (Maracanã)
5.2.12 Sexo
Faz parte do conhecimento geral o fato de que homens e mulheres não falam da
mesma maneira. Além das diferenças em relação ao tom, há preferências por certas estruturas,
sejam elas semânticas, sintáticas, morfológicas ou fonológicas.
Para Labov (2008, p. 282), “as mulheres são mais sensíveis do que os homens aos
valores sociolinguísticos explícitos”, sendo que, mesmo em contextos menos formais, as
mulheres são mais ponderadas linguisticamente do que os homens em contextos formais.
Além disso, como nos mostram estudos diversos, as mulheres utilizam formas
linguísticas mais “avançadas”; o que é comprovado por Labov, Yaeger & Steiner (1972) em
estudo realizado sobre a evolução do inglês da cidade de Nova York. Os autores, na análise
dos resultados, verificam que as mulheres se encontram “quase uma geração inteira à frente
dos homens no alçamento de (eh).” (apud LABOV, 2008, p. 346).
60 Os nomes dos falantes são pseudônimos retirados das obras de Guimarães Rosa.
91
Desse modo, verificam que a questão do sexo é relevante no que se refere à mudança
linguística concluindo: “a diferenciação sexual da fala frequentemente desempenha um papel
importante no mecanismo da evolução linguística.” (apud LABOV, 2008, p. 348).
Assim sendo, este grupo de fatores busca refletir sobre as diferenças fonéticas e
fonológicas que podem ocorrer ligadas, de modo mais frequente, a um determinado sexo;
assim, temos: (F) feminino e (M) masculino.
5.2.13 Faixa etária
Se atentarmos para o processo de aquisição de linguagem de uma criança, podemos
verificar que existem diferenças linguísticas devidas à idade do falante, afinal, uma criança
não consegue articular sons que os adultos produzem eficientemente.
Weinreich, Labov e Herzog (2006) apresentam alguns problemas empíricos para uma
teoria da mudança linguística, a saber: o problema dos fatores condicionantes; o problema do
encaixamento; o problema da implementação e o problema da transição da mudança. A
respeito da transição, dizem:
A mudança se dá (1) à medida que um falante aprende uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato dentro de sua competência, e (3) quando uma das formas se torna obsoleta. A transferência parece ocorrer entre grupos de pares de faixas etárias levemente diferentes; todas as evidências empíricas reunidas até agora indicam que as crianças não preservam as características dialetais de seus pais, mas sim as do grupo de pares que domina seus anos pré-adolescentes. (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006, p. 122).
Assim, é possível realizar um estudo da mudança mediante a observação do
comportamento linguístico dos falantes em diferentes faixas etárias. Para tanto, temos três
fatores:
1 – 15 a 30 anos.
2 – 30,1 a 50 anos.
3 – mais de 50 anos.
92
5.2.14 Grau de escolaridade
Estudos de cunho sociolinguista verificam a tendência de falantes com terceiro grau de
escolaridade produzirem mais as formas padrão do que aqueles de outros níveis de
escolaridade. Tal fato é condizente com o que apregoa o senso comum, afinal, pressupõe-se
que, quanto mais estudo, maior será a elaboração discursiva do falante.
Além disso, a questão do grau de escolaridade está intimamente ligada à
estigmatização linguística, tendo em vista que os falantes que não possuem grau de instrução,
ou que o possuem em pouca quantidade, estão mais propensos a cometer “erros” e, para evitá-
los, espelham-se naqueles que possuem grau de escolaridade elevado. Assim, os falantes que
possuem 3º grau, por exemplo, seriam considerados exemplos linguísticos e detentores do
prestígio.
Vale ressaltar que, na nossa divisão, são considerados falantes cursando determinado
grau ou que concluíram aquele grau específico, a saber:
A – 3º grau.
B – 2º grau.
C – 1º grau.
5.2.15 Classe social
A questão da língua de prestígio e da estratificação linguística está estreitamente
relacionada a este grupo. A língua é o reflexo da sociedade e, portanto, a classe social de
maior status deterá a língua de prestígio, enquanto que a classe social mais baixa, assim como
acontece em grande parte das relações sociais, poderá ser linguisticamente estigmatizada.
Labov (2008), em seus estudos na cidade de Nova York, expõe que:
Um grande volume de dados mostra que os falantes da classe média baixa têm a maior propensão à insegurança linguística e, por conseguinte, tendem a adotar, mesmo na idade madura, as formas de prestígio usadas pelos membros mais jovens da classe de status mais elevado. A insegurança linguística é mostrada pelo intervalo bastante amplo de variação estilística usado pelos falantes da classe média baixa; por sua grande variação dentro de um dado contexto estilístico; por seu esforço consciente de correção; e por suas atitudes fortemente negativas para com seu padrão de fala nativo. (LABOV, 2008, p. 146).
93
É válido lembrar que a mostra teve por base os bairros de Montes Claros/MG,
conforme discutido anteriormente, no Capítulo Contexto social e metodologia, item 4.6, deste
trabalho.
5.3 Aspectos da quantificação dos dados
Após a seleção das ocorrências, codificou-se cada uma delas de acordo com as
variáveis estruturais e não estruturais. Foram criados 6 arquivos de tokens, a saber: alçamento
das pretônicas (e); rebaixamento das pretônicas (e); alçamento das pretônicas (o);
rebaixamento das pretônicas (o); postônicas não finais (e); postônicas não finais (o).
Nesta pesquisa, como instrumento para análise quantitativa, utilizou-se o programa
estatístico GOLVARB 2001. Esse programa fornece frequências e probabilidades sobre os
fenômenos estudados, permitindo o tratamento estatístico de dados variáveis, realizado
através de modelos matemáticos.
O programa VARBRUL foi desenvolvido por Sankoff e Rousseau (1974, 1978) e
utiliza um algoritmo baseado no procedimento de máxima verossimilhança para estimar os
efeitos dos fatores. O diagnóstico dado pelo programa difere de alguns outros tipos de análise
multivariada pelo fato de pressupor que os vários grupos de fatores têm efeitos independentes.
O modelo, condizentemente com a nossa concepção, incorpora a ideia de que os processos
linguísticos são influenciados por diversas variáveis independentes, tanto linguísticas quanto
sociais, prevendo a necessidade de uma análise multivariada, em que cada efeito de um fator
na análise é calculado enquanto são controlados, até o máximo possível, os outros fatores.
De acordo com Guy e Zilles (2007), a preparação de materiais para a realização de
uma análise com o VARBRUL envolve vários aspectos, a saber:
1. Constituição da amostra através de critérios coerentes com a pesquisa.
2. Cuidados relacionados com a validade e a confiabilidade. A confiabilidade seria
basicamente equivalente à possibilidade de reproduzir ou replicar o resultado: se repetirmos o estudo usando os mesmos critérios, ou se outro pesquisador fizer estudo equivalente, os resultados seriam iguais? Se não forem, não haverá confiabilidade, mas, se forem, é possível confiar neles. (GUY & ZILLES, 2007, p. 116).
94
Em relação à validade, dizem os autores que “[...] é uma questão mais sutil, ou mais
teórica: o objeto estudado (a variável dependente) está ligado ao fenômeno que queremos
investigar [...] pelo próprio exame daquele objeto.” (GUY & ZILLES, 2007, p. 116).
3. Planejamento do sistema analítico mediante a definição das variáveis, o que inclui a
definição do grupo de fatores.
4. Seleção dos dados.
5. Eliminação dos casos que não se enquadram nos critérios estabelecidos (casos
duvidosos da variável dependente).
6. Preparação do arquivo de ocorrências.
Tendo sido todos os aspectos cumpridos e tendo em mãos os dados quantitativos,
refletiremos, qualitativamente, no próximo capítulo, acerca das situações encontradas no
comportamento das vogais médias (e) e (o), em posição pretônica e postônica (não final), na
busca da comprovação de uma das principais hipóteses que guiam este trabalho: a mudança é
difusionista, além de apresentar respostas pertinentes aos questionamentos suscitados pela
pesquisa.
95
6 A�ÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, tratamos, com base nos índices percentuais e pesos relativos, das
relações existentes entre as variantes [ε, e, i, u, o, ø] e as variáveis independentes, sejam elas
linguísticas ou extralinguísticas.
Para tanto, dividimos este capítulo em quatro subseções, cada uma verificando uma
posição específica das variáveis (e) e (o): pretônica (e), pretônica (o), postônica não final (e) e
postônica não final (o). Nelas, realizaremos os cálculos probabilísticos61 das variáveis para
que pudéssemos, então, observar o comportamento de cada uma, vislumbrando, assim, os
ambientes favorecedores e desfavorecedores.
No presente estudo, foram selecionados 9.149 dados da amostra, os quais foram
submetidos ao programa GOLDVARB 2001. No corpus, 5.470 dados referem-se à variável
(e) – 5.078 em posição pretônica e 392 em posição postônica não final -, e 3.679 referem-se à
variável (o) – 3.299 em posição pretônica e 380 em posição postônica não final.
Conforme já havíamos dito, o comportamento das pretônicas forma, na cidade de
Montes Claros/MG, um quadro complexo. Já em relação às postônicas não finais, além de se
comportarem de modo diferenciado das pretônicas, verificamos, ainda, comportamento
diferenciado em relação às variáveis (e) e (o): na variável (o), em posição postônica não final,
o alçamento (53,2%) é predominante. Já em relação à variável (e), a manutenção da variável
predomina, tanto em posição pretônica (71%) quanto em posição postônica não final (78%).
6.1 O comportamento da variável pretônica (e)
De acordo com os dados coletados da fala dos montesclarenses, verificamos a seguinte
distribuição na realização da variável (e) em posição pretônica:
61 Os dados percentuais encontram-se em anexo.
96
Alçamento
28%
Manutenção
71%
Rebaixamento
1%
Pretônica (e)
Gráfico 1: Percentual de ocorrência das variantes da variável (e)
Fonte: Dados da pesquisa
Como podemos observar pelo Gráfico 1, a manutenção da variável (e), em posição
pretônica, prevalece entre os falantes montesclarenses. O percentual de 1% de rebaixamento
aponta para uma das hipóteses iniciais deste trabalho: que o falar de Montes Claros não é mais
caracterizado pela realização da vogal baixa [ε], tal como nos indicava Antenor Nascentes ao
colocar esta cidade dentro do subfalar baiano em sua divisão dialetal.
Para que possamos realizar o estudo da variável (e) em posição pretônica, falaremos,
separadamente, sobre os fenômenos de alçamento e de rebaixamento. As tabelas a seguir,
tomando cada um dos grupos selecionados pelas rodadas stepping up e stepping down62
isoladamente, demonstrarão o comportamento da variável (e) em relação às diversas variáveis
independentes selecionadas na análise.
62 Para maiores esclarecimentos, vide Guy e Zilles (2007).
97
6.1.1 Alçamento do (e) pretônico
Dos 5.078 dados coletados, 1.413 referem-se ao alçamento de (e) em posição
pretônica e 3597 à sua realização como [e]63.
Dentre os grupos de fatores, as rodadas stepping up e stepping down excluíram
posição da pretônica64, sexo do falante e grau de escolaridade. Apesar de não selecionado
pela stepping up, o grupo indivíduo não foi eliminado pela rodada stepping down.
Já os grupos faixa etária e classe social foram eliminados pela stepping down, mas
selecionados pela rodada stepping up.
Apresentamos, a seguir, os valores atribuídos a cada um dos fatores nos grupos
selecionados nas rodadas stepping up e stepping down. Os pesos relativos apresentados
resultam da melhor rodada stepping up do programa.
TABELA 18 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
u 159/3597 187/1413 0,735 o 448/3597 201/1413 0,594 ø 106/3597 127/1413 0,621 a 1076/3597 208/1413 0,266 ´ 23/3597 14/1413 0,458 e 911/3597 290/1413 0,445 i 874/3597 386/1413 0,664
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com os pesos, mostram-se favorecedoras as vogais [u], [i], [ɔ] e [o] no
contexto da sílaba seguinte, na mesma ordem de favorecimento do fenômeno, como em
ass[i]g[u]rar, acont[i]c[i]a, m[i]lh[ɔ]re, m[i]lh[o]rou.
63 68 dados coletados referem-se ao rebaixamento de (e) em posição pretônica analisados no item 6.1.2 deste capítulo. 64 Tendo em vista que as variáveis (e, o), em posição pretônica, podem ocorrer em sílaba inicial ou medial, utilizamos, pois, da variável independente posição da pretônica em nossa análise (para maiores esclarecimentos, vide item 5.2.9 deste trabalho).
98
Já as vogais [a, e, ´], no contexto da sílaba seguinte, não são favorecedoras do
processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica, embora ele ocorra, como em
t[i]atro, san[i]amento, d[i]z[´]nove, s[i]m[´]stre, b[i]zerro, apar[i]ceram.
A presença das altas [u, i] como favorecedoras do processo de alçamento de (e) é
condizente com a questão da harmonização vocálica. Por outro lado, [o, ɔ], em contexto de
sílaba seguinte, como favorecedores do alçamento de (e), mostram que a regra da
harmonização vocálica pode, sim, ser uma causa de realização do fenômeno, mas a sua
aplicação não é generalizada. Se assim o fosse, a presença da baixa [ɔ] não poderia ocasionar
em alçamento da pretônica (e), e sim o seu rebaixamento, assim como [o] deveria favorecer a
manutenção da variável. Assim, temos, por exemplo, m[i]lh[ɔ], m[´]lh[ø]res, e não
m[´]lh[ɔ]; s[i]nh[ɔ]ra, e não s[´]nh[ɔ]ra; camp[i][o]nato, e não camp[e][o]nato;
sobr[i]n[o]me, e não sobr[e]n[o]me.
Antes de partirmos para a análise do grupo de fatores vogal da sílaba precedente, é
mister esclarecer que as variantes baixas [´, ø] foram agrupadas com as variantes fechadas [e,
o], respectivamente, para a eliminação de nocautes, tendo em vista que não ocorreu alçamento
da pretônica (e) quando as baixas [´, ø] encontravam-se na sílaba precedente. Os dados de
manutenção referentes a [´, ø], como vogal da sílaba precedente, também foram mínimos: 02
para cada caso.
TABELA 19 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
u 143/3597 26/1413 0,461 o 260/3597 29/1413 0,297 a 293/3597 34/1413 0,330 e 275/3597 6/1413 0,067 i 522/3597 38/1413 0,248 Não há vogal na sílaba precedente 2104/3597 1280/1413 0,635
Fonte: Dados da pesquisa
Na análise da vogal da sílaba precedente, de acordo com os pesos relativos dados na
Tabela 19, verificamos que o alçamento da variável (e) só é favorecido quando há ausência de
vogal na sílaba precedente, como em b[i]zerro, p[i]rigo, s[i]guro, [i]xistia e t[i]atro.
99
Os demais fatores (vogal [e], como em dep[e]ndendo; vogal [i], como em
int[e]ressante; vogal [o], como em prof[e]ssor; vogal [a], como em apr[e]ndizado; vogal [u],
como em sup[e]rvisora) não são favorecedores do processo de alçamento da variável (e) em
posição pretônica. Ou seja, não há diferenciação de efeito entre eles, o que nos permite supor
que não estejam envolvidos no processo.
A consideração quanto ao tipo de contexto que ocorre posteriormente a um fonema,
assim como a análise do contexto precedente, é indispensável, não só no presente caso, mas
em qualquer investigação linguística que focaliza um objeto fonológico. Assim, vejamos, na
Tabela 20, os contextos fonológicos seguintes que favorecem ou desfavorecem o alçamento
da variável (e) em posição pretônica.
TABELA 20 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 993/3597 701/1413 0,655 Oclusiva 685/3597 162/1413 0,492 Nasal 721/3597 421/1413 0,549 Tepe 744/3597 49/1413 0,231 Lateral 260/3597 54/1413 0,441 Vogal 77/3597 25/1413 0,887 Semivogal 117/3597 1/1413 0,019
Fonte: Dados da pesquisa
No grupo de fatores contexto fonológico seguinte temos as vogais (como em
san[i]amento e t[i]atro), as fricativas (como em b[i]xiga e J[i]sus) e as nasais (como em
m[i]nino e s[i]mestre) como fatores favorecedores do processo de alçamento da variável (e)
em posição pretônica (0,887; 0,655 e 0,549, respectivamente).
As semivogais (l[e][y]tura), os tepes (int[e][‰]essante), as laterais (p[e][l]ejar) e as
oclusivas ([e][d]ucação) são fatores que desfavorecem o processo de alçamento da variável
(e) em posição pretônica.
É mister esclarecer que a única ocorrência de semivogal, em d[i][y]xá, foi um caso
isolado da falante Flausina que, em outras ocorrências deste contexto, manteve a vogal média
[e] em posição pretônica (como em l[e][y]tura, aprov[e][y]tar, r[e][w]niram e
past[e][w]rização).
100
Passemos, agora, à análise dos contextos fonológicos precedentes que favorecem ou
desfavorecem o alçamento da variável (e) em posição pretônica.
TABELA 21 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 985/3597 155/1413 0,395 Oclusiva 1362/3597 306/1413 0,464 Nasal 380/3597 180/1413 0,527 Tepe 374/3597 6/1413 0,031 Lateral 128/3597 11/1413 0,434 Vogal 8/3597 1/1413 0,700 Semivogal 39/3597 1/1413 0,160 Não há contexto fonológico precedente 321/3597 753/1413 0,873
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com o nosso corpus, a ausência de contexto fonológico precedente foi o
fator que mais favoreceu o alçamento da variável (e) em posição pretônica. Tal fato vai ao
encontro do que encontrou Viana65 (2008) em seus estudos sobre a média pretônica em Pará
de Minas. Diz a autora que “observa-se, também, no processo de alteamento da pretônica (e),
que fronteira morfológica é percentualmente muito mais alta que a presença de qualquer
consoante” (VIANA, 2008, p. 83).
Os outros ambientes favorecedores do alçamento seriam os fatores: vogal
(Paca[i]mbu) e nasal (m[i]ntindo; m[i]lhorar; m[i]dida), sendo este moderadamente
favorecedor. A ocorrência de oclusivas e de laterais, em contexto fonológico precedente à
variável (e) em posição pretônica, são moderadamente desfavorecedoras do processo de
alçamento (como em p[e]rgunta). As fricativas (v[e]rdade), os tepes (apr[e]ndizado) e as
semivogais (c[y][e]ntista) são também desfavorecedoras do alçamento do (e) pretônico.
É mister esclarecer que a única ocorrência de semivogal (p[y][i]dade) foi um caso
isolado do falante Jó Joaquim que, em outras ocorrências deste vocábulo, manteve a vogal
média [e] em posição pretônica (como em p[y][e]dade). Aqui, verificamos variação
individual.
65 Utilizamos este autora como base comparativa dos dados relativos às pretônicas (e, o) pelo fato de a mesma, além de estudar o alçamento e rebaixamento das médias em posição pretônica, ter realizado sua pesquisa em uma cidade de Minas Gerais – Pará de Minas.
101
A seguir, verificaremos o grupo de fatores status da tonicidade.
TABELA 22 Status da tonicidade no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Átona permanente 1335/3597 631/1413 0,625 Átona casual 2262/3597 782/1413 0,418
Fonte: Dados da pesquisa
Considerando-se o peso relativo dos fatores, verificamos que a átona permanente –
0,625 - favorece o processo de alçamento (como em m[i]nino e s[i]nhora), e a átona casual –
0,418 – desfavorece fracamente o processo de alçamento (como em [e]rrado).
Outro grupo de fatores escolhido pelas rodadas do VARBRUL foi distância da sílaba
tônica, a saber:
TABELA 23 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Distância 1 2261/3597 817/1413 0,525 Distância 2 1013/3597 464/1413 0,591 Distância 3 323/3597 132/1413 0,364
Fonte: Dados da pesquisa
Verificamos que as distâncias 2 (0,591) e 1 (0,525) são as que favorecem o processo
de alçamento da variável pretônica (e), sendo a distância 2 a que possui maior peso.
Viana (2008, p. 87) verifica, em relação à oralidade de Pará de Minas, que a distância
2 é a mais favorecedora do processo de alçamento da variável (e), considerando-se o peso
relativo 0,62.
Em nossos dados, verificamos que a distância 2 é favorecedora (como em pr[i]cisava)
do processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica. Entretanto, sem dúvida, o
peso encontrado por Viana (2008) é maior do que o que encontramos em Montes Claros, o
qual pode ser considerado moderadamente favorecedor.
A seguir, mostraremos os pesos relativos referentes à nasalidade da variável pretônica
(e).
102
TABELA 24 �asalidade no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Oral 2935/3597 1015/1413 0,473 Nasal 662/3597 398/1413 0,599
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto ao alçamento da variável (e), verifica-se que o fator nasal (como em ac[i]ndia)
é mais favorável do que o oral (como em qu[i]ria), embora ambos sejam favorecedores, ou
não, em um nível moderado.
Tais valores são condizentes com o que nos mostra Viana (2008) sobre o falar de Pará
de Minas, cujo fator nasal é moderadamente favorável e o oral moderadamente desfavorável
ao alçamento da pretônica (e).
A Tabela 25 nos fornece os pesos relativos do grupo de fatores classe morfológica.
TABELA 25 Classe morfológica no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Nome 2238/3597 836/1413 0,441 Verbo 1190/3597 461/1413 0,526 Palavras compostas 169/3597 116/1413 0,876
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à classe morfológica, de acordo com resultados de outros estudos, as
palavras compostas são favorecedoras do processo de alçamento da variável (e) em posição
pretônica. Conforme diz Viana (2008, p. 90): “diferentemente do que diz Bisol (1981), a
respeito de os prefixos não alçarem, no dialeto da região urbana de Pará de Minas, os prefixos
de/des alçam frequentemente, (disvalorizados, dismiricia), assim como outros prefixos
(impimentada, sobrinome)”.
Podemos observar, em relação aos dados apontados por Viana (2008), que o que
encontramos no dialeto de Montes Claros é a mesma situação que vista em Pará de Minas. No
falar montesclarense, somente os nomes não são favorecedores do processo de alçamento da
103
variável (e) em posição pretônica (como em [e]x[e]cutivos e univ[e]rsitário), e os verbos
favorecem moderadamente o fenômeno (como em ass[i]gurar).
Quanto ao grau de formalidade, temos:
TABELA 26
Grau de formalidade no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Informal 3352/3597 1391/1413 0,527 Formal 245/3597 22/1413 0,129
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme os valores obtidos, verifica-se que o nível informal de fala é fator
favorecedor do alçamento da variável (e) em posição pretônica, mesmo que moderadamente.
Essa insensibilidade ao estilo de fala sugere, segundo proposta de Labov (1981), que estamos
diante de um processo de natureza difusionista.
O favorecimento da variante média alta [i] é, pois, o resultado esperado para a fala
informal, a qual exige menor grau de monitoração.
Antes de iniciarmos a nossa análise do grupo de fatores indivíduo, lembramos que este
grupo foi selecionado apenas pela rodada stepping down. Assim, utilizamos, na Tabela 27, os
pesos relativos da melhor rodada stepping down.
TABELA 27 Indivíduo no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Anacleto 209/3597 98/1413 0,550 Apolinário 240/3597 128/1413 0,539 Badu 259/3597 105/1413 0,550 Dionora 293/3597 121/1413 0,552 Flausina 160/3597 80/1413 0,511 Francolim 249/3597 170/1413 0,687 Jó Joaquim 371/3597 91/1413 0,328 Lalino 728/3597 162/1413 0,393 Livíria 294/3597 100/1413 0,502 Nhinhinha 205/3597 99/1413 0,523 Rolandina 168/3597 64/1413 0,600
104
(Conclusão) Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Rudimira 327/3597 138/1413 0,430 Sá-Maria 94/3597 57/1413 0,655
Fonte: Dados da pesquisa
Verificam-se, pela análise dos dados da Tabela 27, que Francolim, (0.687), Sá-Maria
(0,655), Rolandina (0,600) e Dionora (0,552) são os sujeitos que mais favorecem o alçamento
da variável (e) em posição pretônica.
Apolinário (0,539), Nhinhinha (0,523), Badu (0,550), Anacleto (0,550) e Livíria
(0,502) favorecem fracamente o alçamento. Já Jó Joaquim, Lalino e Rudmira desfavorecem o
alçamento de (e) em posição pretônica.
Se atentarmos para as características sociais de cada um dos sujeitos, temos:
a) Nhinhinha 22 anos 3º grau Classe média
b) Sa-Maria 80 anos 1º grau Classe média
c) Badu 22 anos 3º grau Classe Média
d) Livíria 22 anos 3º grau Classe Baixa
e) Dionora 41 anos 1º grau Classe Baixa
f) Flausina 21 anos 3º grau Classe Média
g) Rolandina 40 anos 2º grau Classe Média
h) Lalino 45 anos 3º grau Classe média
i) Rudimira 57 anos 3º grau Classe Baixa
j) Apolinário 59 anos 2º grau Classe Média
k) Anacleto 34 anos 1º grau Classe Baixa
l) Jó Joaquim 26 anos 2º grau Classe Baixa
m) Francolim 56 anos 1º grau Classe Baixa
Assim, podemos verificar que os três grupos de fatores resultantes de nossa análise –
favorecedores, fracamente favorecedores e desfavorecedores – são compostos de sujeitos
diversificados pela faixa etária, pelo grau de escolaridade e pela classe social. Esta
heterogeneidade, aliada à seleção do grupo de fatores indivíduo, pode ser vista como um forte
indício de que tratamos, aqui, de um processo de natureza difusionista, insensível a fatores
sociais (cf. LABOV, 1981). Vejamos, então, os pesos relativos atribuídos aos dois grupos de
105
fatores extralinguísticos, faixa etária e classe social, excluídos pela stepping down e
selecionados pela rodada stepping up.
TABELA 28 Faixa etária no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
15 a 30 anos 1289/3597 475/1413 0,523 31 a 50 anos 1398/3597 445/1413 0,444
Acima de 50 anos 910/3597 493/1413 0,544 Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 29 Classe social no alçamento da variável (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Média 1854/3597 695/1413 0,548 Baixa 1743/3597 718/1413 0,450
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com a Tabela 28, verificamos que os informantes que favoreceram o
processo de alçamento da variável pretônica (e) estão nas faixas etárias de 15 a 30 anos –
0,523 – e acima de 50 anos – 0,544. Entretanto, as diferenças entre os pesos relativos de todos
os fatores que compõem este grupo não são tão acentuadas, ficando todos eles próximos de
0,50. Confirma-se, aqui, a insensibilidade do alçamento de (e) aos fatores sociais.
Tal fato também pode ser verificado no grupo de fatores classe social, Tabela 29, onde
vemos que a classe baixa é moderadamente desfavorecedora do processo de alçamento e a
média é, por sua vez, moderadamente favorável ao alçamento da variável (e) em posição
pretônica.
Mesmo tendo sido selecionados pela rodada stepping up, a exclusão dos grupos de
fatores extralinguísticos pela stepping down, além da pouca diferença entre os pesos relativos
(conforme se verifica nas Tabelas 28 e 29), sugere um processo de natureza difusionista.
Afinal, como nos diz Labov (1981, p. 296), os fatores não estruturais não condicionam
processos fonológicos sujeitos à difusão lexical.
106
Vimos, aqui, que o comportamento da variável (e), em posição pretônica, no dialeto de
Montes Claros, possui vários pontos em comum com o falar pará-minense. Pudemos verificar
que a regra de harmonização vocálica, proposta em vários estudos como justificativa para o
alçamento da pretônica (e), não se sustenta confortavelmente, pois vemos [o, ø] como
favorecedores do processo quando em contexto de sílaba seguinte (como em m[i]lh[ø]re e
m[i]lh[o]rou).
Além disso, a insensibilidade ao estilo de fala, a heterogeneidade idioletal e a exclusão
dos grupos de fatores sociais pelo VARBRUL nos indicam que o processo de alçamento da
variável (e), em posição pretônica, possui natureza difusionista.
6.1.2 Rebaixamento do (e) pretônico
Dos 5.078 dados coletados, 68 referem-se ao rebaixamento da variável (e) em posição
pretônica e 3597 à manutenção da variável pretônica (e)66.
Em relação ao rebaixamento da variável (e) em posição pretônica, foram selecionados,
pelas rodadas stepping up e stepping down, os grupos de fatores vogal da sílaba seguinte,
vogal da sílaba precedente, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente e
classe morfológica. O grupo grau de escolaridade, apesar de ser eliminado pela rodada
stepping down, foi selecionado na stepping up.
A seguir, passaremos à análise de cada um dos grupos selecionados.
TABELA 30 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (e)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Recuadas [ø, o, u] 714/3597 10/68 0,407
Central [a] 1075/3597 9/68 0,309 Anteriores [´, e, i] 1808/3597 49/68 0,649
Fonte: Dados da pesquisa
66 1413 dados coletados referem-se ao alçamento da variável (e) em posição pretônica analisados no item 6.1.1 deste capítulo.
107
Ao analisarmos os pesos relativos da Tabela 30, verificamos que, dos três fatores,
somente as anteriores [´, e, i] são favorecedoras do processo de rebaixamento da pretônica (e)
– como em r[´]c[´]be, s[´]t[e]mbro e am[´]r[i]cano.
As recuadas [ø, o, u] (como em r[e]n[ø]va, ass[e]ss[o]ria e cob[e]rt[u]ra) e a central
[a] (como em consid[e]r[a]da) não são favorecedoras do rebaixamento da variável (e), em
posição pretônica, no falar de Montes Claros.
Aqui, assim como aconteceu com os valores relativos ao alçamento de (e), temos a alta
[i] e a média [e] como favorecedoras do processo de rebaixamento da variável (e), o que não é
condizente com uma análise em termos de harmonização vocálica. Por outro lado, [´], em
contexto de sílaba seguinte, como favorecedor, é condizente com a regra da harmonização
vocálica. Entretanto, a sua aplicação não é categórica; afinal, temos dez[e]ss[´]ti, e não
dez[´]ss[´]ti; [e]x[´]rcício, e não [´]x[´]rcício.
Se assim o fosse, a presença da baixa [ɔ] não poderia ocasionar o alçamento da
pretônica (e), e sim o seu rebaixamento, assim como [o] deveria favorecer a manutenção da
variável. Assim, temos, por exemplo, m[i]lh[ɔ], e não m[´]lh[ɔ]; s[i]nh[ɔ]ra, e não
s[´]nh[ɔ]ra; camp[i][o]nato, e não camp[e][o]nato; sobr[i]n[o]me, e não sobr[e]n[o]me.
A seguir, discorreremos sobre os fatores que compõem o grupo vogal da sílaba
precedente.
TABELA 31 Vogal da sílaba precedente no rebaixamento da variável (e)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Recuadas [ø, o, u] 402/3597 8/68 0,591
Central [a] 294/3597 14/68 0,739 Anteriores [´, e, i] 800/3597 7/68 0,281
Não há vogal na sílaba precedente 2101/3597 39/68 0,533 Fonte: Dados da pesquisa
Neste grupo de fatores – vogal da silaba precedente -, a vogal central [a] (como em
c[a]t[´]quese), as recuadas [ø, o, u] (como em pr[ø]j[´]to, [o]f[´]reci e m[u]lh[´]rão) e a
ausência de vogal na sílaba precedente (como em s[´]rviço) são os fatores que favorecem o
rebaixamento da variável (e) em posição pretônica.
108
Somente as anteriores [´, e, i] não são consideradas favorecedoras do rebaixamento da
pretônica (e) quando em sílaba precedente (como em B[´]r[e]nice, ind[e]p[e]ndentes e
[i]nt[e]ndeu).
Outra vez, assim como ocorreu com o grupo de fatores vogal da sílaba seguinte, os
itens lexicais dados como exemplo aplicam-se às categorias específicas expostas por
Cristófaro-Silva (2005), a saber:
1. Rebaixam quando em formas derivadas por sufixação (-mente, -inho(a), -zinho(a), -
íssimo(a));
2. Rebaixam quando, no radical, há as baixas [´, ø] em posição tônica;
3. Rebaixam sem a presença de qualquer outra média baixa na palavra;
4. Rebaixam quando ocorrer uma vogal nasal em/en ou om/on em posição tônica;
5. Rebaixam quando seguida por consoante que ocorra na mesma sílaba.
Entretanto, ocorrências como am[´]ricano não se encaixam em nenhuma dessas
categorias específicas dadas por Cristófaro-Silva (2005), o que nos indica que o processo de
rebaixamento da variável (e), em posição pretônica, pode se tratar de um caso de difusão
lexical. Além disso, mostra que falantes específicos fazem escolhas específicas, tendo em
vista que am[´]ricano foi pronunciado somente por Lalino.
A seguir, falaremos sobre o contexto fonológico precedente no rebaixamento da
variável (e), no falar montesclarense.
TABELA 32 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (e)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 985/3597 25/68 0,630 Oclusiva 1409/3597 19/68 0,407 Nasal 380/3597 10/68 0,630 Tepe 374/3597 4/68 0,360 Lateral 128/3597 7/68 0,823 Não há contexto fonológico precedente 321/3597 3/68 0,353
Fonte: Dados da pesquisa
Como não houve ocorrências cujo contexto fonológico precedente fosse vogal ou
semivogal, esses fatores foram excluídos.
109
Os fatores lateral, nasal e fricativa são os favorecedores do processo, com pesos de
0,823; 0,630 e 0,630, respectivamente (como em col[´]guinha, m[´]ntindo, s[´]vera).
A ausência de contexto fonológico precedente, o tepe e as oclusivas não favorecem o
fenômeno de rebaixamento da pretônica (e), como em [e]ducação, dir[e]tamente e at[e]nção.
Já em relação ao contexto fonológico seguinte, conforme exposto na Tabela 33, as
oclusivas (0,760) e os tepes (0,686) são os fatores que mais favorecem o rebaixamento da
variável (e), em posição pretônica (como em s[´]tembro e int[´]ressa). Os demais fatores
(fricativas, nasais, e laterais) não favorecem o fenômeno.
TABELA 33 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (e)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 992/3597 5/68 0,259 Oclusiva 879/3597 33/68 0,760 Nasal 722/3597 4/68 0,319 Tepe 744/3597 22/68 0,686 Lateral 260/3597 4/68 0,450
Fonte: Dados da pesquisa
A seguir, apresentamos os pesos relativos referentes ao grupo de fatores classe
morfológica (Tabela 34).
TABELA 34 Classe morfológica no rebaixamento da variável (e)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Nome 2237/3597 50/68 0,561 Verbo 1191/3597 11/68 0,337 Palavras compostas 169/3597 7/68 0,808
Fonte: Dados da pesquisa
Assim como verificamos em relação ao alçamento de (e), no rebaixamento, é também
o fator palavras compostas o que mais favorece o fenômeno de rebaixamento da variável (e),
110
em posição pretônica (como em el[´]troeletrônico), seguida pelos nomes (como em
s[´]questro).
Somente os verbos não favorecem o rebaixamento de (e) – como em s[e]ntava,
[e]xistia e [e]ntraria – o que condiz com o que encontrou Viana (2008, p. 74) em seus
estudos do dialeto de Pará de Minas.
A seguir, apresentamos os pesos relativos para grau de escolaridade dos falantes,
grupo que foi excluído pela rodada stepping down, mas selecionado pela stepping up.
TABELA 35 Grau de escolaridade no rebaixamento da variável (e)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
1º grau 845/3597 27/68 0,664 2º grau 779/3597 14/68 0,511 3º grau 1973/3597 27/68 0,422
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com os valores da Tabela 35, vemos que são os falantes com o 1º grau de
escolaridade os que mais favorecem o processo de rebaixamento da variável pretônica (e),
seguidos pelos falantes com grau de escolaridade média, fracamente favorecedores do
fenômeno.
Aqui, verificamos que há uma razão inversamente proporcional entre o grau de
escolaridade do falante e o favorecimento do rebaixamento; assim, quanto menor for o grau
de escolaridade do falante, maior será a probabilidade de rebaixamento da variável pretônica
(e). Por outro lado, quanto maior a escolaridade, menor será a possibilidade de aplicar a regra
variável de rebaixamento.
Se compararmos os pesos relativos da Tabela 35 com os valores de Viana (2008),
verificamos que os falantes com o menor grau de escolaridade são os que mais favorecem o
fenômeno de rebaixamento de (e), tanto em Pará de Minas quanto em Montes Claros.
Entretanto, enquanto que no falar paraminense os falantes com ensino superior
possuem peso neutro, no dialeto montesclarense eles são moderadamente desfavorecedores do
fenômeno; já os falantes com o 2º grau de escolaridade são moderadamente favorecedores.
Assim como ocorreu em relação ao alçamento da variável (e), a insensibilidade aos
grupos de fatores extralinguísticos, no rebaixamento da pretônica (e), pode ser indicativo de
um processo de natureza difusionista.
111
Nesta sessão, vimos que as variantes [i, e], em vogal da sílaba seguinte, são
favorecedoras do processo de rebaixamento da variável pretônica (e), o que não condiz com
uma análise em termos de harmonização vocálica (como em s[´]rv[i]co e am[´]r[i]cano).
Podemos verificar, também, que os casos expostos encaixam-se, em sua quase
totalidade, nas categorias propostas por Cristófaro-Silva (2005). Entretanto, ocorrências como
am[´]ricano indicam processo difusionista, pelo fato de não se encaixar em nenhuma das
grupos específicos para o alçamento das variáveis (e, o) indicados pela autora. Também como
indicativo de difusão lexical tem-se a insensibilidade do fenômeno aos grupos de fatores
extralinguísticos.
6.2 O comportamento da variável pretônica (o)
Gráfico 2: Percentual de ocorrência das variantes da variável (o)
Fonte: Dados da pesquisa Assim como vimos em relação à variável (e), a manutenção da variável pretônica (o)
também se sobressai no falar de Montes Claros, em detrimento do alçamento – 14% - e do
rebaixamento – 4%. Ainda em comparação com a variável (e) em posição pretônica,
verificamos que o rebaixamento de (o) é maior do que o de (e); por outro lado, o alçamento de
(o) é inferior ao da variável pretônica (e).
112
Para que possamos realizar o estudo da variável (o) em posição pretônica,
mostraremos, a seguir, o seu comportamento, tendo por base os fenômenos de alçamento e de
rebaixamento. As tabelas a seguir, dos grupos selecionados pelas rodadas stepping up e
stepping down, demonstrarão o comportamento da variável (o) perante as diversas variáveis
independentes às quais a nossa análise foi submetida.
6.2.1 Alçamento do (o) pretônico
Dos 3.299 dados coletados, 462 referem-se ao alçamento da variável (o) em posição
pretônica e 2.704 à manutenção da variável (o)67.
Dentre os grupos de fatores, as rodadas stepping up e stepping down excluíram vogal
da sílaba precedente, nasalidade, grau de formalidade, sexo do falante, faixa etária e classe
social. Apesar de eliminado por stepping down, o grupo escolaridade foi selecionado pela
rodada stepping up.
A seguir, apresentaremos os dados referentes a cada um dos grupos selecionados nas
rodadas stepping up e stepping down. Os pesos relativos apresentados constituem aqueles da
melhor rodada stepping up do programa.
TABELA 36 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
u 271/2704 40/462 0,566 o 260/2704 1/462 0,025 ´ 163/2704 52/462 0,596 a 829/2704 35/462 0,267 e 616/2704 172/462 0,689 i 565/2704 162/462 0,806
Fonte: Dados da pesquisa
67 133 dados coletados referem-se ao rebaixamento da variável (o) em posição pretônica analisados na seção 6.2.2 deste capítulo.
113
Antes de iniciarmos a nossa análise, esclarecemos que não houve ocorrências da vogal
baixa [ø] na sílaba seguinte à variável (o) em posição pretônica.
A partir da Tabela 36, podemos verificar que as vogais anteriores [ε, e, i] e a posterior
alta [u], no contexto da sílaba seguinte, são favorecedoras do processo de alçamento da
variável (o) em posição pretônica (como em c[u]m[´]ça, b[u]n[i]to, g[u]v[e]rno e
c[u]st[u]ma).
Aqui, vale lembrar que a média [o], como fator do grupo vogal da sílaba seguinte, foi
responsável por somente um alçamento realizado pela falante Rudimira que, em outras
ocorrências deste contexto, manteve a variável (o) em posição pretônica (como em
c[o]mpr[o]misso, c[o]l[o]cando, c[o]ntou, c[o]ntrole).
Já as vogais [a, o], no contexto da sílaba seguinte, não são favorecedoras do processo
de alçamento da variável (o) em posição pretônica., como em l[o]c[a]dora e m[o]n[o]grafia.
A presença das vogais altas [u, i] como favorecedoras do processo de alçamento de (o)
é condizente com uma explicação em termos de harmonização vocálica. Entretanto,
verificamos que a regra da harmonização vocálica nem sempre se manifesta, pois temos
p[o]pulação, dev[o]lução, c[o]nsiderada, aut[o]rizarem, v[o]luntária, pr[o]dutivo,
c[o]mplicado, esc[o]tismo, l[o]binhos, P[o]rtugal, assess[o]ria, H[o]rizonte, pr[o]dutos,
entre outros contextos onde a vogal da sílaba seguinte é alta e não há alçamento da variável
pretônica (o). Assim, podemos concluir que o alçamento não teria, no contexto fonético, a sua
melhor explicação (OLIVEIRA, 199268). Afinal, mesmo tendo sido configurado o ambiente
fonético propício à aplicação da regra de alçamento, os exemplos acima não apresentam
alçamento.
Antes de partirmos para a análise do grupo de fatores contexto fonológico precedente,
esclarecemos que não houve alçamento com ocorrência do fator tepe, que foi excluído deste
grupo.
68 Para maiores esclarecimentos, vide Capítulo 3 – Modelos de mudança sonora -, p. 48 deste trabalho.
114
TABELA 37 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 331/2704 31/462 0,523 Oclusiva 1542/2704 384/462 0,609 Nasal 290/2704 16/462 0,290 Lateral 208/2704 5/462 0,266 Vogal 22/2704 16/462 0,981 Semivogal 99/2704 8/462 0,769 Não há contexto fonológico precedente 212/2704 2/462 0,041
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação aos pesos relativos gerados pelo VARBRUL, conforme exposto na Tabela
37, a ausência de contexto fonológico precedente é o fator que menos favorece o alçamento
da variável (o), como em [o]bjetivo, seguido pelas laterais (como em l[o]binhos) e pelas
nasais (como em mam[o]rado).
Já as fricativas (como em f[u]rtuna), as oclusivas (como em b[u]cado), as semivogais
(como em ma[y][u]ria) e as vogais (como em pr[e][u]cupa) são fatores favorecedores do
alçamento da variável (o) em posição pretônica.
Para Bisol (1981), as velares e as labiais (p, b, m, f, v) possuem pesos relativamente
altos para o favorecimento do alçamento de (o), sendo que as labiais são preponderantes,
assim como ocorreu nesta pesquisa (Vide Tabelas 21 e 37), e nos explica:
Do que ficou dito se poderia depreender que se a labial exercesse alguma influência sobre a vogal frontal (alta ou média) esta seria a de baixar F269, tornando-a levemente centralizada. Deve estar aí a razão pela qual ela se revelou na análise estatística como um dos contextos que protege a vogal e do efeito da harmonização vocálica. Por outro lado, se a lábia exercesse alguma influência sobre [o], supor-se-ia que fosse a de baixar F2, aproximando-o da área das vogais altas. Tudo indica que assim seja. É a similaridade acústica que existe entre vogal alta posterior e consoante labial (F2 de frequência aproximada), a causa motivadora, ou seja, o principal condutor do processo de assimilação tão frequente neste contexto. Eis aí, a nosso ver, uma explicação plausível para a frequente elevação de /o/ e a escassa de /e/ no contexto da labial que o dado estatístico revelou. (BISOL, 1981, p. 197-8).
Segundo nos diz VIANA (2008, p. 74), as oclusivas e as fricativas também são
favorecedoras do alçamento de (o) em Pará de Minas, assim como a ausência de contexto
69 Formante 2.
115
fonológico precedente, e as nasais são desfavorecedoras do processo. Entretanto,
divergentemente do que ocorre no falar paraminense, em Montes Claros, as semivogais e as
vogais, quando em contexto fonológico precedente são, também, favorecedoras do alçamento
da pretônica (o).
Passemos, agora, à análise dos fatores que compõem o grupo contexto fonológico
seguinte.
TABELA 38
Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 345/2704 78/462 0,662 Oclusiva 584/2704 48/462 0,397 Nasal 847/2704 245/462 0,585 Tepe 600/2704 36/462 0,332 Lateral 247/2704 41/462 0,481 Vogal/semivogais70 81/2704 14/462 0,683
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com a Tabela 38, verificamos que os tepes são os que menos favorecem o
alçamento da pretônica (o) quando em contexto fonológico seguinte (como em m[o]rando),
seguidos pelas oclusivas (como em p[o]pulação) e pelas laterais (como em v[o]luntário).
As nasais (como em v[u]mitando), as fricativas (como em J[u]sé, apr[u]veitar) e as
vogais (como em d[u]ação, raz[u]áveis) são fatores favorecedores do alçamento da variável
(o) em posição pretônica.
Na tabela 39, a seguir, analisamos os pesos relativos dos fatores do grupo status da
tonicidade.
70 As semivogais estão inclusas somente nos dados referentes à manutenção da variável (o).
116
TABELA 39 Status da tonicidade no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Átona permanente 667/2704 140/462 0,638 Átona casual 2037/2704 322/462 0,452
Fonte: Dados da pesquisa
Aqui, verifica-se que a átona casual é fator moderadamente desfavorecedor do
alçamento da variável pretônica (o), como em assess[o]ria, g[o]rducho, sendo que a átona
permanente é favorecedora do fenômeno, como em c[u]nversar, c[u]sturava.
Os valores da Tabela 39 são, portanto, condizentes com o que encontramos no
alçamento da variável pretônica (e), conforme podemos verificar na Tabela 22 deste trabalho.
Consideremos, a seguir, os pesos relativos referentes ao grupo distância da sílaba
tônica.
TABELA 40 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Distância 1 1494/2704 274/462 0,574 Distância 2 902/2704 165/462 0,433 Distância 3 308/2704 23/462 0,325
Fonte: Dados da pesquisa
Aqui, em relação ao alçamento da pretônica (o), verificam-se duas distâncias como
desfavorecedoras do processo – distância 2 (como em c[o]mplicado) e distância 3 (como em
respo[o]nsabilidade), sendo esta a que mais desfavorece o alçamento da variável (o) em
posição pretônica.
Tal fato não condiz com o encontrado no alçamento de (e) em posição pretônica (vide
Tabela 23 deste trabalho), onde as distâncias 1 e 2 são as favorecedoras do processo; aqui,
somente a distância 1 figura como fator favorecedor do alçamento da pretônica (o) - como em
b[u]cado.
117
A Tabela 41, a seguir, nos fornece os pesos relativos referentes ao grupo de fatores
classe morfológica.
TABELA 41 Classe morfológica no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Nome 1700/2704 212/462 0,387 Verbo 921/2704 243/462 0,687 Palavras compostas 83/2704 7/462 0,402
Fonte: Dados da pesquisa
Pelos resultados da Tabela 41, podemos verificar que os fatores nome (como em
pr[o]grama) e palavras compostas (como em desf[o]car) são desfavorecedores do alçamento
da variável pretônica (o), sendo que, dos fatores presentes no grupo classe morfológica,
somente os verbos são considerados favorecedores (como em c[u]nsertar).
Enquanto que em (e) somente o fator nome é desfavorecedor do alçamento, temos, em
(o), também o fator palavras compostas. Os resultados da Tabela 41 condizem com os
resultados de Pará de Minas (VIANA, 2008, p. 74), onde os verbos foram o fator que mais
favoreceu o alçamento da pretônica (o), em detrimento dos nomes, embora em níveis mais
moderados do que os encontrados no dialeto montesclarense.
Expomos, na Tabela 42, os pesos relativos encontrados para posição da pretônica.
TABELA 42 Posição da pretônica no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Inicial 1805/2704 394/462 0,589 Medial 899/2704 68/462 0,306
Fonte: Dados da pesquisa
118
De acordo com os resultados da Tabela 42, verificamos que a posição medial (como
em assess[o]ria) é desfavorecedora do processo; já a posição inicial (como em c[u]chilo) é
moderadamente favorável ao alçamento de (o) em posição pretônica.
Em relação ao grupo de fatores indivíduo, verifica-se, pela análise dos valores da
Tabela 43, que os falantes Badu e Sá-Maria são os que mais favorecem o alçamento da
pretônica (o), seguidos por Francolim, Rolandina, Jó Joaquim e Dionora. Todos os outros
indivíduos da comunidade de fala em estudo têm preferência pela manutenção da variável.
TABELA 43 Indivíduo no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Anacleto 137/2704 20/462 0,435 Apolinário 225/2704 25/462 0,371 Badu 178/2704 57/462 0,691 Dionora 200/2704 46/462 0,561 Flausina 114/2704 8/462 0,318 Francolim 167/2704 36/462 0,672 Jó Joaquim 201/2704 47/462 0,582 Lalino 603/2704 90/462 0,472 Livíria 245/2704 17/462 0,299 Nhinhinha 178/2704 20/462 0,416 Rolandina 140/2704 33/462 0,625 Rudimira 232/2704 32/462 0,477 Sá-Maria 84/2704 31/462 0,690
Fonte: Dados da pesquisa
Pela análise comparativa dos dados referentes às variáveis (e, o) em posição pretônica,
e tendo por base as tabelas 27 e 43, verificamos que o alçamento de (e) é mais comum na
comunidade de fala montesclarense do que o de (o). Enquanto em (o) 6 informantes foram
considerados como favorecedores do alçamento, são 10 os informantes que favorecem o
alçamento de (e).
Ainda, que dos falantes favoráveis ao processo de alçamento de (e, o) somente Lalino
e Rudimira não favorecem o fenômeno em ambas as variáveis, o que nos indica o caráter
individual na variação/mudança linguística. Mais uma vez, a seleção do grupo de fatores
indivíduo pode ser vista como um forte indício de que tratamos, aqui, de um fenômeno de
natureza difusionista.
119
Passaremos, agora, à análise dos dados referentes ao grupo de fator extralinguístico
grau de escolaridade, excluído pela rodada stepping down e selecionado pela stepping up.
TABELA 44
Grau de escolaridade no alçamento da variável (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
1º grau 451/2704 113/462 0,518 2º grau 566/2704 105/462 0,502 3º grau 1687/2704 244/462 0,494
Fonte: Dados da pesquisa
O que verificamos no grupo de fatores grau de escolaridade é que o 1º e 2º graus são
moderadamente favorecedores do fenômeno, sendo que o 3º grau é o único fator considerado
desfavorecedor do processo de alçamento da variável pretônica (o), mesmo que seja, também,
em nível moderado.
A ausência de diferenças significativas entre os três fatores que compõem o grupo
grau de escolaridade, bem como a eliminação deste grupo pela rodada stepping down e a
exclusão dos grupos faixa etária e classe social, nos mostra que os fatores extralinguísticos
não são relevantes para o alçamento da variável (o) em posição pretônica, o que reforça a
visão de que o fenômeno é difusionista (conf. LABOV, 1981, p. 296).
6.2.2 Rebaixamento do (o) pretônico
Dos 3.299 dados coletados, 133 referem-se ao rebaixamento da variável (o) em
posição pretônica e 2.704 à manutenção da variável (o)71.
Dentre os grupos de fatores, as rodadas stepping up e stepping down excluíram
distância da sílaba tônica, nasalidade, classe morfológica, grau de formalidade, indivíduo,
71 462 dados coletados referem-se ao alçamento da vogal média [o] em posição pretônica analisados no item 6.2.1 deste capítulo.
120
sexo do falante, escolaridade e classe social. Apesar de eliminado pela stepping down, o
grupo faixa etária foi selecionado pela rodada stepping up.
É mister esclarecer, ainda, que, pela quase ausência de dados, e para que o VARBRUL
pudesse realizar as rodadas, foi necessário excluir o grupo de fatores vogal da sílaba
precedente.
A seguir, apresentamos os valores referentes a cada um dos grupos selecionados nas
rodadas stepping up e stepping down. Os pesos relativos apresentados constituem a da melhor
rodada stepping up do programa.
TABELA 45 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (o)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
o 259/2704 8/133 0,636 ø 42/2704 22/133 0,989 a 829/2704 3/133 0,154 ´ 122/2704 59/133 0,917 e 616/2704 19/133 0,526 Médias altas [i, u] 836/2704 22/133 0,635
Fonte: Dados da pesquisa
Verificamos que as baixas [ø, ´] (como em g[ø]st[ø]sas, n[ø]v[´]la) se mostram
bastante significativas no que diz respeito ao rebaixamento da variável (o) no contexto da
sílaba seguinte (0,989 e 0,917, respectivamente). Tal fato, apesar de ser uma possível
evidência de harmonização vocálica, não é condizente com a presença das médias altas [i, u],
nem da média [o] como favorecedoras do fenômeno (como em f[ø]t[o]grafia e gl[ø]r[i]osa).
Além disso, temos c[o]l[´]gio e c[ø]l[´]gio; n[o]v[´]la e n[ø]v[´]la, mas não temos
p[ø][´]ta ou h[ø]r[ø]scopo.
De acordo com a Tabela 45, verificamos que o único fator desfavorecedor do processo
é a vogal central [a], como em ac[o]rdar, fato convergente com o encontrado em relação ao
rebaixamento da variável (e) em posição pretônica (Tabela 30).
Na Tabela 46, analisamos os fatores que compõem o grupo contexto fonológico
precedente.
121
TABELA 46 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (o)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 331/2704 24/133 0,723 Oclusiva 1663/2704 57/133 0,397 Nasal 290/2704 44/133 0,801 Tepe 62/2704 1/133 0,493 Lateral 146/2704 3/133 0,647 Não há contexto fonológico precedente 212/2704 4/133 0,311
Fonte: Dados da pesquisa
Antes de iniciarmos a análise, cabe esclarecer que as vogais e as semivogais (22 e 99
ocorrências, respectivamente, em manutenção da variável (o) em posição pretônica), como
contexto fonológico precedente, não apresentaram nenhum caso de rebaixamento. Assim, para
a eliminação de nocautes, as ocorrências das vogais e semivogais em manutenção foram
acrescidas ao fator oclusivas.
No rebaixamento, três contextos fonológicos precedentes são desfavorecedores:
ausência de contexto fonológico (como em [o]pinião e [o]rfanato), oclusivas (como em
c[o]nforto) e tepe (como em pr[o]porcionam).
Já as fricativas (como em f[ø]tografia), as nasais (como em n[ø]vela) e as laterais
(como em fl[ø]resta) favorecem o rebaixamento da pretônica (o) quando em contexto
fonológico precedente.
De acordo com a Tabela 47, no contexto fonológico seguinte, são as fricativas (como
em vel[ø]cípede), as oclusivas (como em C[ø]pacabana) e as laterais (como em c[ø]lega) as
que mais favorecem o processo de rebaixamento da variável (o), em posição pretônica.
Já as vogais/semivogais (como em b[o][y]ola) e as nasais (como em c[o]mportar e
c[o]ndição) desfavorecem o processo; o tepe também é fator desfavorecedor do
rebaixamento, embora mais moderadamente (como em m[o]rando).
Gostaríamos de salientar que a única ocorrência de rebaixamento no fator
vogal/semivogal (chab[ø]itinha72) pode ser explicado pelo fato da média baixa [ø] estar em
ditongo decrescente, ou mesmo pelo fato de ser palavra diminutiva, o que encaixa esta
ocorrência nas categorias expostas por Thais Cristófaro-Silva (2005), que nos diz que “as
72 Assanhadinha.
122
vogais [´, ø] ocorrem em posição pretônica em formas derivadas com os sufixos: -mente, -inh,
-zinh ou –íssim quando o radical do substantivo/adjetivo apresenta /ε, ɔ/ em posição tônica”
(CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 82),
Comparando os dados referentes aos contextos fonológicos seguinte e precedente
referentes ao rebaixamento da variável (e) em posição pretônica, verificamos que os fatores
favorecedores no contexto fonológico precedente são os mesmos para a variável (o) –
fricativas (como em ac[i]ndia e f[u]rtuna), nasais (como em n[i]nhum e n[u]tícia) e laterais
(como em al[i]gria e expl[u]dindo). Entretanto, no contexto fonológico seguinte, enquanto as
fricativas (g[ø]stosa), as oclusivas (C[ø]pacabana) e as laterais (c[ø]lega) favorecem o
rebaixamento da pretônica (o), são as oclusivas (B[´]Beto) e o tepe (int[´]ressa) os
favorecedores do processo em (e).
As oclusivas, em contexto fonológico seguinte, no rebaixamento de (o), constituem o
fator diferencial do fenômeno em Montes Claros e em Pará de Minas, enquanto que, em
relação ao contexto fonológico precedente, em ambas as comunidades de fala os fatores
favorecedores foram os mesmos: fricativas, nasais e laterais, divergindo quanto ao peso
relativo somente no que diz respeito às laterais (no falar paraminense são mais propensas ao
rebaixamento de (o) - 0,75 – do que no dialeto montesclarense – 0,647).
TABELA 47 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (o)
Manutenção Rebaixamento
345/2704 N/Total Peso relativo
Fricativa 584/2704 73/133 0,841 Oclusiva 847/2704 21/133 0,709 Nasal 600/2704 4/133 0,173 Tepe 247/2704 12/133 0,470 Lateral 81/2704 22/133 0,817 Vogal/Semivogal 345/2704 1/133 0,054
Fonte: Dados da pesquisa
Passemos, agora, à análise do grupo de fatores status da tonicidade.
123
TABELA 48 Status da tonicidade no rebaixamento da variável (o)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Átona permanente 667/2704 123/133 0,891 Átona casual 2037/2704 10/133 0,308
Fonte: Dados da pesquisa
Mais uma vez, condizente com o que encontramos anteriormente, é a átona
permanente o fator favorecedor do processo de rebaixamento da variável (o) em posição
pretônica, como em g[ø]stosa e c[ø]leguinha.
Na Tabela 49, a seguir, expomos os dados referentes ao grupo posição da pretônica.
TABELA 49 Posição da pretônica no rebaixamento da variável (o)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
Inicial 1805/2704 129/133 0,669 Medial 899/2704 4/133 0,182
Fonte: Dados da pesquisa
Assim como encontrado em relação ao alçamento da variável (o), é a posição inicial
que favorece o processo de rebaixamento, como em pr[ø]jeto e pr[ø]cesso.
Mais uma vez, temos indicativo de difusão lexical devido à exclusão dos grupos de
fatores extralinguísticos pela rodada stepping down e da seleção, pela stepping up, de um
único grupo – faixa etária -, como mostramos na Tabela 50.
124
TABELA 50 Faixa etária no rebaixamento da variável (o)
Manutenção Rebaixamento
N/Total N/Total Peso relativo
15 a 30 anos 916/2704 39/133 0,571 31 a 50 anos 1080/2704 71/133 0,534 Acima de 50 anos 708/2704 23/133 0,357
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com os pesos relativos expostos na Tabela 50, somente o fator acima de 50
anos é considerado desfavorecedor. Observamos, através da análise dos dados, que a
probabilidade de ocorrência de rebaixamento da pretônica (o) no dialeto montesclarense é
inversamente proporcional à faixa etária, isto é, quanto menor a faixa etária, maior a aplicação
da regra variável de rebaixamento.
Tais dados apontam para uma mudança em tempo real, na qual a possibilidade de
rebaixamento aumenta à medida que a idade diminui, pressupondo ser o rebaixamento um
fenômeno em vias de progressão.
Além disso, a pouca probabilidade de ocorrência do fenômeno nos falantes acima de
50 anos pode vir a ser indicativo de uma das hipóteses deste trabalho: a ocorrência de vogais
médias baixas, que caracteriza a região no subfalar baiano, não é, até então, característica do
dialeto montesclarense. Afinal, pressupõe-se que os falantes mais velhos se encaixariam na
pesquisa que resultou o Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil, de
Antenor Nascentes, cujas edições datam de 1958 e 1961.
Em relação ao rebaixamento da variável (o), em posição pretônica, verificamos que,
assim como em relação ao alçamento, o comportamento do fenômeno em (e) e em (o) é
variável, tendo em vista que em cada uma das variáveis há peculiaridades. A seleção de
apenas um dos grupos de variáveis não estruturais nos mostra que o fenômeno em estudo não
é sensível a fatores extralinguísticos, o que é indicativo de difusão lexical (conforme já dito
anteriormente).
125
6.3 O comportamento da variável postônica (e) em posição não final
Antes de darmos início à análise das postônicas, é preciso esclarecer que, aqui,
diferentemente das pretônicas, não utilizamos os seguintes grupos de fatores: status da
tonicidade, distância da sílaba tônica, classe morfológica e grau de formalidade pela
insuficiência de dados para compô-los. Não utilizamos, também, o grupo posição da vogal
postônica por, neste estudo, as vogais serem sempre mediais.
Esclarecemos, também, que, em um primeiro momento, incluímos o grupo de fatores
item lexical (sobre o qual falaremos no item 6.5 deste Capítulo). Entretanto, para que o
VARBRUL realizasse as rodadas stepping up e down, foi necessário retirá-lo para a análise
que apresentaremos agora devido ao grande número de nocautes apresentado (vide item 6.5
para maiores explicações).
O gráfico abaixo nos mostra o comportamento da variável (e), em posição postônica
não final, na cidade de Montes Claros/MG:
Gráfico 3: O alçamento da variável (e) em posição postônica não final
Fonte: Dados da pesquisa
126
Parece-nos, em comparação com a realização das pretônicas, que a manutenção
também prepondera entre os falantes montesclarenses – 78% - em detrimento do alçamento –
22%.
Das 392 ocorrências da média (e) em posição postônica não final, 87 são relativas ao
alçamento e 305 à manutenção da vogal.
Os grupos selecionados pelas rodadas stepping up e stepping down foram: vogal da
sílaba seguinte, vogal da sílaba precedente, contexto fonológico precedente e contexto
fonológico seguinte.
TABELA 51 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Recuadas [ø, o, u] 190/305 45/87 0,239
Central [a] 60/305 40/87 0,947 Anteriores [´, e, i] 55/305 2/87 0,427
Fonte: Dados da pesquisa
No que se refere ao alçamento da postônica (e), em posição não final, verificamos que
a vogal que favorece o processo, no contexto sílaba seguinte, é a central [a] (como em ár[i]a,
áur[i]a, almônd[i]ga). As demais são desfavorecedoras do processo de alçamento da vogal
variável postônica (e) em posição não final.
Já no contexto da sílaba precedente, de acordo com os pesos relativos da Tabela 52,
verificamos que são três os contextos favorecedores do alçamento da variável (e) em posição
postônica não final: a alta [i] (como em alieníg[i]na, orquíd[i]a e velocím[i]tro), a média [e]
(como em gêm[i]os, pêss[i]go) e a média [o] (como em almônd[i]ga) .
127
TABELA 52 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
u 51/305 2/87 0,001 o 69/305 5/87 0,900 Abertas [ø, ´] 76/305 32/87 0,414
a 26/305 19/87 0,036 e 26/305 17/87 0,952 i 57/305 12/87 0,986
Fonte: Dados da pesquisa
A seguir, apresentamos os valores referentes ao grupo de fatores contexto fonológico
precedente.
TABELA 53 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Fricativa 27/305 4/87 0,789 Oclusiva 115/305 18/87 0,394 Nasal 133/305 16/87 0,139 Tepe 28/305 22/87 0,979 Lateral 2/305 27/87 0,966
Fonte: Dados da pesquisa
Verificamos que o contexto fonológico precedente que mais favorece o fenômeno do
alçamento da postônica (e) são os tepes (como em ár[i]a, áur[i]a), juntamente com as laterais
(como em petról[i]o) e as fricativas (como em cóc[i]ga).
Ribeiro (2007, p. 159)73 nos mostra, em relação ao dialeto da capital mineira, que os
segmentos nasal (bilabial e alveolar) e oclusivas (aqui, englobando os três tipos propostos
pela autora: velar e palatal; labial; alveolar) são os que mais favorecem a ocorrência do
alçamento da média (e).
73 Utilizaremos os dados desta autora como referência, nos itens 6.3 e 6.4, por se tratar de um estudo das médias (e, o) em posição postônica não final no estado de Minas Gerais.
128
Isso diverge do que encontramos em Montes Claros, onde os fatores favorecedores
dados por Ribeiro (2007) são os que menos favorecem o alçamento da postônica não final (e)
no dialeto montesclarense.
Antes de passarmos à análise do contexto fonológico seguinte, é necessário esclarecer
que, em relação à Tabela 54, os fatores fricativa, oclusiva, lateral e tepe foram agrupados em
não-nasal para a eliminação de nocautes.
Os valores da Tabela 54 mostram que os contextos fonológicos seguintes
favorecedores do alçamento da postônica (e), em posição não final são as vogais/semivogais
(como em ár[i]a e Timót[i][w]), com peso relativo de 0.999, isto é, podem ser consideradas
100% favoráveis ao alçamento da variável média (e) em posição postônica não final.
Isto é exemplificado claramente na Tabela 61 deste trabalho, onde verificamos que dos
8 itens lexicais (núcleo, óleo, gêmeos, área, petróleo, orquídea, Timóteo e áurea) que
possuem vogal/semivogal como contexto fonológico seguinte, 5 possuem alçamento
categórico (ár[i]a, petról[i][u], orquíd[i]a, áur[i]a, Timót[i][w]).
TABELA 54 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (e)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Não-nasal 284/305 21/87 0,199 Nasal 18/305 2/87 0,062 Vogal/Semivogal 3/305 64/87 0,999
Fonte: Dados da pesquisa
Assim como ocorreu em relação ao alçamento da variável (e) em posição pretônica,
em posição postônica verificamos que nenhum dos grupos de fatores não estruturais foi
selecionado, sendo tal fato, portanto, sugestivo de difusão lexical.
Em relação ao dialeto montesclarense, comparando-o com os dados referentes ao
dialeto da capital mineira (RIBEIRO, 2007), verificamos que o comportamento da postônica
(e) é diferenciado, apesar de ambos favorecerem a manutenção da variável. Tal fato condiz
com o que nos afirma Oliveira (2008): “É evidente que os falantes de um mesmo dialeto
apresentarão mais semelhanças do que diferenças entre si. (...) E é evidente, também, que as
diferenças irão crescer quando falantes de dialetos diferentes são comparados”.
129
6.4. O comportamento da variável postônica (o) em posição não final
Gráfico 4: O alçamento da variável (o) em posição postônica não final74
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à variável (o), em posição postônica não final, vemos um comportamento
diferente do de todas as outras variáveis aqui analisadas, sejam elas em posição pretônica ou
postônica. Aqui, o alçamento prevalece em relação à manutenção – 53% e 47%,
respectivamente. Entretanto, se levarmos em consideração a margem de 4 pontos percentuais
de erro estatístico, podemos dizer que, em relação às postônicas (o), o comportamento dos
falantes da cidade de Montes Claros é equivalente para os dois processos – manutenção e
alçamento.
Tal fato é confirmado pelo que nos mostra Ribeiro (2007) em relação ao falar de Belo
Horizonte/MG (vide Tabela 7, Capítulo 2, p. 44). Assim como no dialeto montesclarense, na
capital mineira há a tendência de se elevar a média postônica (o), em posição não final.
Analisemos, agora, os fatores que mais favorecem o alçamento. Antes, porém, é mister
esclarecer que os grupos selecionados pelas duas rodadas do VARBRUL (stepping up e
stepping down) foram: vogal da sílaba seguinte, vogal da sílaba precedente, contexto
fonológico seguinte, contexto fonológico precedente e indivíduo.
74 Das 380 ocorrências, 202 foram [u] e 178 [o].
130
Ainda é necessário dizer que, para que as rodadas pudessem ser efetuadas, tivemos
que retirar as 17 ocorrências da palavra páscoa, sendo que a mesma é o único item lexical que
consta de vogal na sílaba seguinte; além disso, o alçamento da variável (o) foi categórico:
pásc[u]a. Também excluímos a única ocorrência de alçamento com ausência de contexto
seguinte – aure[w], variação de auréola.
TABELA 55 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
u 66/178 59/184 0,676 o 6/178 5/184 0,900 a 73/178 115/184 0,432 i 33/178 5/184 0,156
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à postônica (o), em posição não final, conforme Tabela 55, verifica-se que
as recuadas [o, u] são favorecedoras do processo de alçamento no contexto da sílaba seguinte
(como em catál[u]g[o] e autódr[u]m[u]). A anterior [i] e a central [a] não são favoráveis à
aplicação da regra variável de alçamento de (o) em posição postônica não final (como em
bróc[o]l[i]s e gônd[o]l[a]).
Tal situação é inversa da encontrada em (e), cujo ambiente favorecedor é a vogal
central [a], quando em contexto seguinte. As recuadas [o, u] e a anterior [i] possuem pesos
relativos abaixo de 0,50, sendo, portando, desfavorecedoras do alçamento da variável (e) em
posição postônica não final.
Em relação à vogal da sílaba precedente, os fatores favoráveis ao alçamento de (e) são
desfavorecedores em relação a (o). As variáveis (e, o) têm, em comum, somente a vogal
central [a] como ambiente desfavorecedor.
Conforme a Tabela 56, são favorecedores do processo de alçamento da variável (o),
em posição postônica não final, o fator [´] (0,967; como em pér[u]la) e a média alta [u]
(0,9838; como em búss[u]la). Entretanto, não obstante os pesos relativos atribuídos pelo
VARBRUL, as realizações são categóricas quando se olha o item lexical, aonde verificamos
realizações como autódr[u]m[u], mas não sambódr[u]m[u]; côm[u]da, mas não côm[u]do.
131
TABELA 56 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
u 2/178 13/184 0,838 o 29/178 6/184 0,217 ø 64/178 39/184 0,234 a 66/178 28/184 0,216 ´ 11/178 76/184 0,967 i 6/178 22/184 0,247
Fonte: Dados da pesquisa
É necessário esclarecer que, no grupo de fatores vogal da sílaba precedente, foi
retirado o fator [e], tendo em vista que não houve ocorrência do mesmo.
Passemos, a seguir, à análise dos fatores que compõem o grupo contexto fonológico
precedente (Tabela 57) e contexto fonológico seguinte (Tabela 58).
TABELA 57 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Oclusiva 83/178 93/184 0,481 Fricativa 38/178 39/184 0,580 Nasal 34/178 6/184 0,410 Lateral 16/178 7/184 0,417 Tepe 6/178 22/184 0,097 Vogal/semivogal 1/178 17/184 0,983
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 58
Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Oclusiva 45/178 83/184 0,424 Nasal 37/178 10/184 0,152 Lateral 34/178 53/184 0,349 Tepe 62/178 38/184 0,637
Fonte: Dados da pesquisa
132
Verificam-se, pelos dados da Tabela 57, que, quando em contexto fonológico
precedente, os sons vocálicos (como em per[y][u]do e aur[´][u]la) são os que mais
favorecem o processo de alçamento da postônica (o), em posição não final. Também as
fricativas são favorecedoras do fenômeno (como em pólv[u]ra e fósf[u]ro), único fator
coincidente com a variável postônica não final (e).
Tepes (como em árv[u]re), quando em contexto fonológico seguinte, favorecem o
processo, fato divergente do que encontramos em relação às postônicas (e), tendo em vista
que estão inclusos no fator não nasal, o qual é desfavorecedor do alçamento de (e) em posição
postônica não final (vide Tabela 54).
Enquanto que em Belo Horizonte (RIBEIRO, 2007, p.159-160), todos os segmentos,
sejam eles precedentes ou seguintes, mostraram-se favorecedores no processo de alçamento
da média (o), em Montes Claros, conforme podemos verificar pelos dados das Tabelas 57 e
58, dos 10 fatores, apenas 3 deles são favoráveis à aplicação da regra variável de alçamento
na postônica (o) em posição não final.
Na Tabela 59, mostramos as ocorrências de alçamento da postônica (o), em posição
não final, pelos entrevistados neste trabalho.
TABELA 59 Indivíduo no alçamento da variável postônica (o)
Manutenção Alçamento
N/Total N/Total Peso relativo
Anacleto 17/178 6/184 0,253 Apolinário 13/178 14/184 0,599 Badu 18/178 14/184 0,357 Dionora 10/178 19/184 0,684 Flausina 16/178 4/184 0,111 Francolim 16/178 11/184 0,380 Jó Joaquim 14/178 16/184 0,726 Lalino 10/178 33/184 0,775 Livíria 12/178 17/184 0,465 Nhinhinha 17/178 12/184 0,387 Rolandina 12/178 12/184 0,475 Rudimira 17/178 11/184 0,276 Sá-Maria 6/178 15/184 0,804
Fonte: Dados da pesquisa
133
Verificamos, aqui, que o processo de alçamento da variável postônica (o), em posição
não final, é favorecido por apenas 38,5% dos sujeitos entrevistados. Ainda, em relação aos
pesos relativos, dos 5 que favorecem a aplicação da regra variável de alçamento de (o), apenas
1 falante – Dionora - pertence ao sexo feminino. O falante Sá-Maria (sexo masculino),
conforme verificamos nas Tabelas 37, 43 e 59, é propenso a alçar as variáveis (e, o) em
qualquer que seja a posição das mesmas: pretônica ou postônica não final75.
Verifica-se, então, que o alcance do alçamento da postônica (o) é diferenciado dentro
da comunidade de fala montesclarense. Além disso, a seleção do grupo de fatores indivíduo
pode ser vista como um forte indício de que o alçamento da postônica (o) se trata de um
fenômeno típico de difusão lexical (além da exclusão dos grupos de fatores extralinguísticos).
Comparando os dados da Tabela 59 com os dados da pesquisa de Ribeiro (2007),
verificamos comportamentos diferenciados em relação ao alçamento da postônica (o) nas
comunidades de fala de Montes Claros e de Belo Horizonte.
Em uma análise comparativa das variáveis (e, o) em posição postônica não final,
verificamos que a regra de alçamento é variável, pois cada uma delas possui ambientes
favorecedores característicos e, consequentemente, comportamento diferenciado: (e) favorece
a manutenção e (o) o alçamento.
6.5 – Os itens lexicais
Conforme dissemos, esclarecemos que, num primeiro momento, incluímos o grupo de
fatores item lexical, referente às postônicas (e) e (o). Entretanto, para que o VARBRUL
realizasse as rodadas stepping up e down referentes ao alçamento de (e, o) em posição
postônica não final, foi necessário retirar este grupo devido à ocorrência categórica de 38 dos
69 itens lexicais que compõem o nosso corpus, o que ocasionou inúmeros nocautes. Assim,
para evitar a eliminação dos vocábulos encontrados, somente constarão as ocorrências e os
valores percentuais em relação aos itens lexicais referentes às postônicas (e, o), em posição
não final.
Quanto aos itens lexicais referentes às pretônicas, optamos, neste estudo, por não
explorá-los, tendo em vista que os vocábulos aqui considerados na análise foram, na sua
75 Em relação à variável postônica (e), das 30 realizações de Sá-Maria, 19 (36%) foram relativas ao alçamento. De acordo com a 7ª rodada stepping up, possui peso relativo de .680.
134
grande maioria, resultantes de uma série de figuras que foram mostradas a todos os
informantes (exceto autônoma, cômodo, Jâmbore, diáconos, monótona, ídolo, parábola,
Pitágoras, Timóteo e presbítero).
Dos 69 diferentes itens lexicais encontrados no nosso corpus com as vogais médias (e,
o), em posição postônica não final, relativos ao fenômeno do alçamento, 34 dizem respeito à
postônica (e) e 35 à postônica (o) – conforme se vê nas Tabelas 60 e 61. Além disso, em
relação ao rebaixamento das postônicas (e, o), houve, nos dados colhidos, ausência quase
categórica do fenômeno, sendo apenas encontrado em xér[ɔ]x e bróc[ɔ]lis; este último, com
apenas uma ocorrência.
Isso nos faz crer, assim como dito anteriormente por Vieira (1994) e Ribeiro (2007),
que o dialeto montesclarense, no que se refere às médias postônicas em posição não final, é
composto por um quadro com as vogais /e, i, a, u, o/, diferentemente do que postulou Câmara
Jr. (2007, p. 44), que nos apresentou o seguinte quadro das primeiras vogais postônicas dos
proparoxítonos, ou vogais penúltimas átonas:
altas /u/ /i/ médias /../ /e/ baixa /a/
Vejamos, a seguir, os itens lexicais das variáveis (e, o), em posição postônica não
final, colhidos nas entrevistas realizadas.
TABELA 60 Itens lexicais da variável (o) em posição postônica não final
(Continua)
Item lexical Manutenção Alçamento Total
Época 5 (8,62%) 54 (91,38%) 58 Páscoa 0 (0%) 17 (100%) 17 Período 0 (0%) 17 (100%) 17 Auréola 0 (0%) 15 (100%) 15 Pérola 5 (31,25%) 11 (68,75%) 16
Apóstolos 6 (37,5%) 10 (62,5%) 16 Árvore 11 (52,38%) 10 (47,62%) 21 Abóbora 5 (35,71%) 9 (64,29) 14 Bússola 0 (0%) 9 (100%) 9 Fósforo 4 (30,76%) 9 (69,24%) 13 Pólvora 8 (53,34%) 7 (46,66%) 15 Catálogo 6 (50%) 6 (50%) 12 Semáforo 6 (50%) 6 (50%) 12
135
(Conclusão) Item lexical Manutenção Alçamento Total
Astrônomo 9 (69,23%) 4 (30,77%) 13 Mármore 11 (78, 57) 3 (21,43%) 14 Símbolo 5 (62,5%) 3 (37,5%) 8 Átomo 11 (78,57%) 3 (21,43%) 14
Autódromo 7 (77,78%) 2 (22,22%) 9 Ídolo 1 (33,34%) 2 (66,66%) 3
Parábola 1 (33,34%) 2 (66,66%) 3 Pitágoras 2 (50%) 2 (50%) 4 Cômoda 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12
Crisântomo (variação de Crisântemo) 4 (80%) 1 (20%) 5 Gôndola 8 (88,89%) 1 (11,11%) 9 Horóscopo 10 (90,9%) 1 (9,1%) 11 Psicólogo 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Âncora 13 (100%) 0 (0%) 13
Autônoma 2 (100%) 0 (0%) 2 Brócolis 8 (100%) 0 (0%) 8 Cômodo 1 (100%) 0 (0%) 1 Diáconos 1 (100%) 0 (0%) 1 Jâmbore 2 (100%) 0 (0%) 2 Monótona 1 (100%) 0 (0%) 1
Sambódromo 2 (100%) 0 (0%) 2 X[´]r[o]x 1 (100%) 0 (0%) 1
Fonte: Dados da pesquisa
Itens como Jâmbore, âncora, cômodo, sambódromo, autônomas, monótona,
diácono(s), brócolis e Xérox tiveram manutenção categórica, sendo que nos dois últimos
(brócolis e Xérox) houve casos de realização da média (o) em posição postônica não final
como média aberta [ɔ]. Já os itens auréola, bússola, páscoa e período tiveram alçamento
categórico.
De acordo com os dados da Tabela 60, verificamos que, em relação ao comportamento
da postônica não final (o), o alçamento é superior à manutenção da variável (53,52% de
alçamento e 46,48% de manutenção), diferentemente do que verificamos em relação à
postônica não final (e), cuja manutenção é a preferência dos falantes de Montes Claros
(80,35% de manutenção e 19,65% de alçamento).
136
TABELA 61 Itens lexicais da variável (e) em posição postônica não final
Item lexical Manutenção Alçamento Total
Área 0 (0%) 19 (100%) 19 Gêmeos 2 (11,76%) 15 (88,24%) 17 Petróleo 0 (0%) 15 (100%) 15 Orquídea 0 (0%) 13 (100%) 13
Óleo 1 (7,69%) 12 (92,31%) 13 Alienígena 2 (50%) 2 (50%) 4
Áurea (variação de auréola) 0 (0%) 2 (100%) 2 Cócegas 15 (88,23%) 2 (11,77%) 17 Pêssego 12 (85,71%) 2 (14,29%) 14
Almôndega 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Córrego 14 (93,33%) 1 (6,67%) 15 Hóspedes 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Timóteo 0 (0%) 1 (100%) 1
Velocímetro 12 (92,3%) 1 (7,7%) 13 Bafômetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Câmera 9 (100%) 0 (0%) 9
Centímetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Cérebro 14 (100%) 0 (0%) 14
Crisântemo 2 (100%) 0 (0%) 2 Cronômetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Fenômeno 13 (100%) 0 (0%) 13 Helicóptero 12 (100%) 0 (0%) 12
�úcleo 1 (100%) 0 (0%) 1 �úmero 16 (100%) 0 (0%) 16 Ópera 16 (100%) 0 (0%) 16
Pálpebra 12 (100%) 0 (0%) 12 Parêntesis 13 (100%) 0 (0%) 13 Presbítero 2 (100%) 0 (0%) 2 Prótese 14 (100%) 0 (0%) 14
Quilômetro 14 (100%) 0 (0%) 14 Taxímetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Termômetro 15 (100%) 0 (0%) 15
Útero 12 (100%) 0 (0%) 12 Velocípede 8 (100%) 0 (0%) 8
Fonte: Dados da pesquisa
Dos 34 itens dados na Tabela 61, referentes à variável postônica (e), verificamos que a
maioria deles (25 itens) possui manutenção ou alçamento categórico (bafômetro, câmera,
centímetro, cérebro, crisântemo, cronômetro, fenômeno, helicóptero, núcleo, números, ópera,
pálpebra, parênteses, presbítero, prótese, quilômetro, taxímetro, termômetro, útero e
137
velocípede tiveram manutenção categórica. Já área, áurea - variação de auréola -, orquídea,
petróleo e Timóteo tiveram alçamento categórico).
Ainda, verificamos variação intraindividual, a saber: (1) Badu, ép[o]ca e ép[u]ca,
Pitág[o]ras e Pitág[u]ras; (2) Livíria, ép[o]ca e ép[u]ca, catál[o]go e catál[u]go; (3)
Dionora, ép[o]ca e ép[u]ca, psicól[o]go e psicól[u]go; (4) Flausina, ép[o]ca e ép[u]ca; (5)
Francolim, ép[o]ca e ép[u]ca, íd[o]lo e íd[u]lo; (6) Jó Joaquim, paráb[o]la e paráb[u]la; (7)
Sá-Maria, cóc[e]gas e cóc[i]gas. Por outro lado, vemos que determinados indivíduos
mantêm a variável enquanto que outros a alçam categoricamente, como é o caso, por
exemplo, de apóstolos (8 informantes alçam e 5 mantêm de forma categórica).
Assim, através dos nossos dados, podemos confirmar as duas hipóteses levantadas por
Ribeiro (2007):
(1) itens lexicais, que podem se apresentar variáveis quando olhamos para toda a comunidade de fala, possuem pronúncias categóricas para cada indivíduo (a variação intra-indivdual existente é mínima); e, em decorrência disso, (2) não se pode computar como variáveis os itens que possuem pronúncias categóricas dentro da mesma comunidade de fala. (RIBEIRO, 2007, p. 161).
Através da nossa análise sobre o comportamento das vogais médias (e, o), em posição
pretônica e postônica não final, no falar de Montes Claros, pudemos verificar que as mesmas
formam um sistema complexo, principalmente em posição pretônica, onde encontramos
variação entre [´, e, i] e [ø, o, u].
O comportamento das vogais médias – excetuando-se (o) em posição postônica não
final – tem a manutenção como preferência de realização.
Quanto ao comportamento individual, verifica-se que é variável, seja em relação à
posição das variáveis (e, o), pretônicas ou postônicas não finais, seja em relação ao indivíduo;
entretanto, conforme nos aponta Ribeiro (2007, p. 164), “apesar de os falantes terem
apresentado variação intra-individual, (...) essa variação pode ser considerada uma situação
marcada na língua, conforme postulou Oliveira (2006)”. A exclusão das variáveis
extralinguísticas (sexo, faixa etária, grau de escolaridade e classe social) em todas as
posições das vogais médias (e, o) aqui investigadas, confirma a hipótese maior deste trabalho:
que a variação é lexical.
138
Além disso, há vocábulos que alçaram mesmo sem ambiente vocálico favorecedor76,
como apar[i]ceram, b[i]zerro, cr[i]sceu, m[i]lhor, r[i]ais, r[i]lação, s[i]mestre,
ac[u]mpanha, alg[u]dão, b[u]cado, c[u]meça, c[u]mer, v[u]ando, v[u]mitando, entre outros.
Corroborando a hipótese da difusão lexical temos, ainda, casos categóricos como
Jâmb[o]re, ânc[o]ra, com[o]do, sambódr[o]mo, autôn[o]mas, monót[o]na, diác[o]no(s),
bróc[o]lis, Xér[o]x, auré[u]la, búss[u]la, pásc[u]a, perí[u]do, bafôm[e]tro, câm[e]ra,
centím[e]tro, cér[e]bro, crisânt[e]mo, cronôm[e]tro, fenôm[e]no, helicópt[e]ro, núcl[e]o,
núm[]eros, óp[e]ra, pálp[e]bra, parênt[e]ses, presbít[e]ro, prót[e]se, quilôm[e]tro,
taxím[e]tro, termôm[e]tro, ut[e]ro e velocíp[e]de, ar[i]a, áur[i]a - variação de auréola -,
orquíd[i]a, petról[i]o e Timót[i]o, (como visto nas Tabelas 60 e 61), além de pess[u]al,
[i]ntão, d[i]mais, d[e]pois, [e]xemplo, v[o]cê e p[u]rque. Em outras palavras, ambientes
fonológicos semelhantes favorecem ora o alçamento, ora a manutenção de forma categórica.
Podemos, então, sintetizar os elementos favorecedores do rebaixamento e do
alçamento das vogais médias (e, o) em posição pré e postônica não final:
(Continua)
Alçamento Rebaixamento
Pretônica (e)
� [ø, o, u, i] como vogais da sílaba seguinte.
� Ausência de vogal na sílaba precedente.
� Vogal, fricativa e nasal em contexto fonológico seguinte.
� Vogal, nasal e ausência de contexto fonológico precedente.
� Átona permanente. � Distância 1 e 2 da sílaba
tônica. � Variável nasal. � Verbos e palavras compostas. � Fala informal. � Indivíduos: Anacleto,
Apolinário, Badu, Dionora, Flausina, Francolim, Livíria, nhinhinha, Rolandina e Sá-Maria
� [´, e, i] como vogais da sílaba seguinte.
� [ø, o, u], [a] e ausência de vogal na sílaba precedente.
� Lateral, fricativa e nasal em contexto fonológico precedente.
� Oclusiva e tepe em contexto fonológico seguinte.
� Nomes e palavras compostas.
� 1º e 2º graus de escolaridade.
76 Levando-se em consideração os resultados de diversos estudos expostos no 2º Capitulo desta Dissertação.
139
(Continua) Alçamento Rebaixamento
Pretônica (e) � Faixa etária: de 15 a 30 anos e mais de 50 anos.
� Classe média.
Pretônica (o)
� [´, e, i, u] como vogais da
sílaba seguinte. � Vogal, semivogal, oclusiva e
fricativa em contexto fonológico precedente.
� Vogal/semivogal, fricativa e nasal em contexto fonológico seguinte.
� Átona permanente 1. � Distância 1 da sílaba tônica. � Verbos. � Variável em posição inicial. � Indivíduos: Badu, Dionora,
Francolim, Jó Joaquim, Rolandina, Sá-Maria.
� 1º e 2º graus de escolaridade.
� [ø, o, u, i, e, ´] como vogal
da sílaba seguinte. � Fricativa, nasal e lateral em
contexto fonológico precedente.
� Fricativa, lateral e oclusiva em contexto fonológico seguinte.
� Átona permanente. � Variável em posição inicial. � Até 50 anos.
Postônica (e) �ão final
� [a] como vogal da sílaba
seguinte. � [o, e, i] como vogal da sílaba
precedente. � Tepe, lateral e fricativa em
contexto fonológico precedente.
� Vogal/semivogal em contexto fonológico seguinte.
� Não há rebaixamento.
Postônica (o) �ão final
� [o, u] como vogal da sílaba
seguinte. � [´], [u] como vogal da sílaba
precedente. � Sons vocálicos e fricativa em
contexto fonológico precedente.
� Tepe em contexto fonológico seguinte.
� Indivíduos: Apolinário, Dionora, Jó Joaquim, Lalino, Sá-Maria.
� Não há rebaixamento.
140
(Conclusão)
Alçamento
Itens lexicais com (e) em posição postônica não final
� Área, petróleo, orquídea,
áurea (variação de auréola) e Timóteo tiveram alçamento categórico.
� Bafômetro, câmera,
centímetro, cérebro, crisântemo, cronômetro, fenômeno, helicóptero, núcleo, número, ópera, pálpebra, parêntesis, presbítero, prótese, quilômetro, taxímetro, termômetro, útero e velocípede tiveram manutenção categórica.
Itens lexicais com (o) em posição postônica não final
� Páscoa, período, auréola e
bússola tiveram alçamento categórico.
� Cômoda, âncora,
autônoma, brócolis, cômodo, diáconos, Jâmbore, monótona, sambódromo e xérox tiveram manutenção categórica.
Quadro 8: Resumo dos fatores favorecedores do alçamento e rebaixamento das médias (e, o) em posição pré e postônica não final
Fonte: Dados da pesquisa
Como dito no Capítulo 2 – O comportamento das vogais médias (e, o) no Português do
Brasil -, verificamos que tanto o fenômeno do alçamento quanto do rebaixamento das médias
pretônicas (e, o) é um processo variável. Ainda mais em relação ao alçamento, onde
verificamos a ocorrência de [ø, o] como favorecedores do fenômeno da variável (e), e de [´, e]
para a variável (o), o que desmitifica a questão da harmonização vocálica.
Quanto ao rebaixamento de (e, o), pudemos constatar que as categorias específicas
propostas por Cristófaro-Silva (2005)77 dão conta de quase todos os casos encontrados neste
trabalho.
Já em relação às vogais (e, o), em posição postônica medial, verificamos um quadro
formado por 5 vogais: /i, e, a, o, u/; entretanto, assim como postulou Silva (2006), vemos que
no dialeto montesclarense há, ainda, em alguns casos, a redução de (o) a [¨] - paráb[¨]la e
pér[¨]la -, assim como a redução de (e) a [I] – córr[I]go, almônd[I]ga.
77 Vide p. 23, 2º Capítulo deste trabalho.
141
Das cinco possibilidades de realização das médias postônicas em posição não final,
propostas por Ribeiro (2007)78, verificamos três delas: (1) alçamento – pitág[u]ras; (2)
síncope – fósfru; (3) outras alterações – crisânt[o]mo.
Como nos diz Guimarães (2006), no Norte de Minas, pudemos verificar um sistema
vocálico variável, podendo, as médias pretônicas (e, o), ora se manterem, ora se realizarem
como altas [i, u], ora como baixas [´, ø]. Há, assim, duas possibilidades de sistemas, como
dado anteriormente79:
1º quadro: Sistema Vocálico I em posição pretônica no norte de Minas. Anterior Central Posterior altas i u médias e o baixa a
2º quadro: Sistema Vocálico II em posição pretônica no norte de Minas
Anterior Central Posterior altas i u médias ε ɔ baixa a
Já em relação às postônicas não finais, vemos um quadro semelhante ao proposto por
Câmara Jr. (2007), excetuando-se a inclusão da média /o/, como vemos a seguir:
2º quadro (primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas
átonas):
altas /u/ /i/
médias /o/ /e/
baixa /a/
78 Vide item 2.2, p. 43, 2º Capítulo deste trabalho. 79 Vide página 45 deste trabalho.
142
7 CO�CLUSÃO
Ao longo deste trabalho, analisamos o comportamento das vogais medias (e, o) em
posição pretônica e postônica não final no português falado em Montes Claros/MG.
O que pudemos verificar, através dos dados estatísticos, é que a vogal média (o), em
posição pretônica é mais propensa, tanto ao fenômeno do alçamento quanto do rebaixamento,
do que a variável (e). Em relação ao quadro das pretônicas, verifica-se que o mesmo é
composto por 7 vogais [ε, e, i, a, u, o, ɔ], isto é, apresenta três possibilidades de realização no
que concerne às médias (e, o): manutenção, alçamento e rebaixamento.
A ausência de significância estatística em relação aos fatores extralinguísticos – sexo,
faixa etária, grau de escolaridade e classe social – são indícios de que o fenômeno estudado
é de cunho difusionista, apesar de que, para o alçamento, há variação em relação ao fator faixa
etária, para a pretônica (e), e grau de escolaridade, para a pretônica (o). Mesmo sendo
excluído por rodadas do VARBRUL, o grupo de fatores Individuo se mostra significativo a
partir do momento em que podemos verificar que o comportamento diversificado dos
indivíduos, em relação aos processos de alçamento e rebaixamento, compõe uma mostra
variável em relação à idade, sexo, grau de escolaridade e classe social, sendo, portanto,
condizente com a nossa hipótese sobre a variação ser de caráter difusionista.
Prova disso é que, na região Norte, a variação entre as produções dos falantes é maior.
Para uma palavra como serviço, por exemplo, poderemos ter até três realizações possíveis, ou
seja, s[ε]rviço, s[e]rviço e s[i]rviço – inclusive, sendo todas, neste caso, proferidas por um só
sujeito, Dionora.
Quanto ao fenômeno do alçamento, tão caracterizado na literatura como harmonização
vocálica, verificou-se que, na região de Montes Claros/MG, a presença das vogais altas em
posição tônica não foi o fator que mais favoreceu o alçamento; ao contrário, foram as baixas
[ε, ɔ] as que mais favoreceram sua realização do alçamento.
Com relação ao rebaixamento, pode-se dizer que há, sim, uma assimilação do traço [-
alto] da vogal da sílaba seguinte.
Quanto à realização das postônicas não finais (o, e), verificamos um comportamento
diversificado em relação às duas. Enquanto que a primeira se realiza de três maneiras –
manutenção, alçamento e rebaixamento -, a segunda só possui duas maneiras de realização –
manutenção e alçamento.
143
A ocorrência de rebaixamento, seja em pretônicas ou postônicas mediais, em fala
formal, nos faz acreditar que há, assim, uma tentativa dos falantes de evitarem o alçamento
das mesmas e, portanto, uma “hipercorreção” fonética das médias (e, o). Tal fato corrobora as
palavras de Cristófaro-Silva (2005, p. 87-9), que nos diz que a pronúncia das vogais
postônicas mediais no PB possui grande variação, a qual, em sua opinião, está intimamente
relacionada ao estilo de fala formal e informal.
Entretanto, o que encontramos em relação ao rebaixamento das postônicas mediais
contraria o que nos diz a autora sobre o comportamento das mesmas, a saber: na grande
maioria dos dialetos do português brasileiro as vogais médias nasais ou nasalizadas são
auditivamente perceptíveis como vogais baixas [´, ø]: “pêndulo, têmporas, côncavo, gôndola,
cênico, tônico, trêmula, Rômulo”. Em dialetos que não apresentam a nasalidade de vogais –
como algumas variantes paulistas –, temos uma vogal baixa em posição tônica seguida de
consoante nasal: c[ε]nico, t[ɔ]nico, tr[ε]mula, R[ɔ]mulo (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p.
87-9).
Neste trabalho, apesar de verificarmos a possibilidade de existir uma vogal baixa em
posição tônica seguida de consoante nasal, como em g[´]meos, ou médias nasais ou
nasalizadas auditivamente perceptíveis como vogais baixas [´, ø], como em m[´]ntira,
também verificam-se contextos, tais como os dados por Cristófaro-Silva (2005), nos quais não
se verifica a percepção das vogais como [´, ø] (como em alm[o]ndega, com som semelhante
ao de m[o]ntes; cron[o]metro e fen[o]meno, com som semelhante ao de sobren[o]me;
par[e]nteses, com som semelhante ao de apar[e]nte), e, sim, apenas nasalização, sem afetar o
traço de altura das médias (e, o).
Além, no dialeto montesclarense, há uma predominância das vogais e das semivogais
como favorecedoras do rebaixamento das postônicas (e, o), em posição não final.
Neste trabalho, encontraram-se, portanto, realizações indicativas de difusão lexical,
sendo que a variação nas vogais médias (seja em posição pretônica quanto postônica não
final) é, pois, um processo controverso, pois ocorre em determinados contextos em um item
lexical e, em outro item, sob as mesmas condições, não ocorre, como é o caso de m[i]lhoris e
m[e]lhor, int[ε]r[ε]ssa, int[e]r[ε]sse, c[u]nserta, c[o]nserva, entre outros.
Observa-se que as palavras que possuem configurações semelhantes às chamadas
proparoxítonas eventuais, como ár[i]as, gêm[i]os, ól[i]o, petról[i]o, áur[i]a, pásc[u]a
realizam-se sempre com vogais altas, para todos os informantes, em todos os itens lexicais
pronunciados. Assim sendo, mesmo descrevendo contextos fonéticos favorecedores ou não da
144
variação, veem-se itens, em ambientes favorecedores, que raramente alçam, e itens, em
ambientes considerados desfavorecedores, alçados.
A difusão lexical descartaria, pois, a regularidade, pautando-se pela existência de
irregularidades, isto é, mesmo que haja condicionamentos fonéticos há, por outro lado, “a
possibilidade de mudanças sonoras que não sejam foneticamente condicionadas”
(OLIVEIRA, 1991). Assim, o ambiente fonético seria visto como um “assimilador a
posteriori, e não como um condicionador a priori de uma inovação” (OLIVEIRA, 1992, p.
35).
Em função disso, conclui-se ser a mudança sonora lenta e gradual, pois afeta
primeiramente algumas palavras especificas e, só então, estende-se, paulatinamente, para
outras formas, o que propõe o modelo da difusão lexical. Concluindo, tendo em vista a análise
quantitativa apresentada neste trabalho, podemos corroborar a hipótese de que a tese
difusionista é fortemente reforçada por três argumentos, a saber:
(a) Inúmeras exceções a determinadas mudanças fonéticas não podem ser explicadas
unicamente por analogia e/ou por empréstimo (como em c[u]nhecia, c[u]nheci, c[u]nhecido,
e c[o]nhecimento).
(b) Muitos processos fonológicos não são explicados somente por condicionamentos
sonoros, mas por uma gama variada de fatores, incluindo os de natureza discursivo-
pragmática e sócio-geográfico-social. Exemplo disto é o que ocorreu, por exemplo, na
elaboração, por Antenor Nascentes, de seu Bases para a elaboração de um Atlas linguístico
do Brasil, que tomou como base a ocorrência de [i, e, ´] e [u, o ø] pretônicos ou, em nossa
pesquisa, ao constatarmos, através dos dados probabilísticos80, a preferência pela manutenção
da média (e) em contextos formais de fala.
(c) Nem todos os vocábulos que contêm o som em pauta são afetados
simultaneamente e da mesma maneira. Longe de se aplicar a todas as palavras ao mesmo
tempo, as mudanças fônicas reconhecem limites temporais, quer por razões socioculturais,
quer por razões pragmáticas, sendo, pois, contínuas (como em s[ε]rviço, além de s[e]rviço, e
s[i]nhora, mas não s[ε]nhora).
80 Cálculos em Anexo.
145
REFER�CIAS
AMARAL, Marisa Porto. A síncope em proparoxítonas: uma regra variável. In.: BISOL, Leda; BRESCANCINI, Cláudia (orgs.). Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. AQUINO, Patrícia Aparecida de. O papel das vogais reduzidas pós-tônicas na construção de um sistema de síntese concatenativa para o português do Brasil. Dissertação (Mestrado em Linguística). Campinas/SP: Instituto de Estudos da Linguagem, 1997. BISOL, Leda. Harmonização vocálica: uma regra variável. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1981. BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2006. BYBEE, Joan. Word frequency and context of use in the lexical diffusion of phonetically conditioned sound change. Language Variation and Change, 14 , pp 261-290, 2000. BYNON, T. Historical Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, p.17-75, 1977. CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Problemas de linguística descritiva. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. 39. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Petrópolis/RJ: Vozes, 2008. CAMPOS, Benedita Maria do Socorro Pinto. Alteamento vocálico em posição pretônica no português falado no município de Mocajuba – Pará. v.1. Dissertação (Mestrado em Linguística). Belém: Universidade Federal do Pará, 2008. CASTRO, Elzimar Cesar de. As pretônicas na variedade mineira juizdeforana. Dissertação (Mestrado em Linguística). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990. CAVALIERE, Ricardo. Pontos essenciais em fonética e fonologia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. CÉLIA, Gianni Fontis. As vogais médias pretônicas na fala culta de �ova Venécia – ES. Dissertação (Mestrado em Linguística). Campinas/SP: Instituto de Estudos da Linguagem, 2004. CHEN, M. & WANG, W.S.-Y. Sound change: actuation and implementation. Language, v.51, n. 2, p.255-81, 1975.
146
CRISTÓFARO-SILVA, Thais. Difusão Lexical: estudo de casos do português brasileiro. In: Eliana Amarante de M. Mendes; Paulo Motta Oliveira; Veronika Benn-Ibler. (Org.). O novo milênio: interfaces linguísticas e literárias. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2001, v. 1, p. 209-218. CRISTÓFARO, Thais Silva. Fonética e fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2005. CRISTÓFARO-SILVA, Thais. Fonética e Fonologia: Perspectivas Complementares. Revista de Estudos da Linguagem, Vitória da Conquista - BA, v. 3, p. 25-40, 2006. CROFT, W. Explaining language change: an evolutionary approach. Harlow: Longman, 2000. DIAS, M. P.; CASSIQUE, O.; CRUZ, R. C. F. O alteamento das vogais pré-tônicas no português falado na área rural do município de Breves (PA): uma abordagem variacionista. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL. V. 5, n. 9, agosto de 2007. FAGUNDES, Giselle; MARTINS, Nahílson. Capítulos Sertanejos. Montes Claros: Formato, 2002. FIDELHOLTZ, J. Word frequency and vowel reduction in English. CLS 11, p.200-213, 1975. FREITAS, Simone Negrão de. As vogais médias pretônicas no falar da cidade de Bragança. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal do Pará, Belém, 2001. GOMES, Fernanda Silva. Discursos contemporâneos sobre Montes Claros: (re)estruturação urbana e novas articulações urbano-regionais. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. GRAEBIN, Geruza de Souza. A fala de Formosa/GO: a pronúncia das vogais médias pretônicas. 2008. 243 f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade de Brasília, Brasília, 2008. GUIMARÃES, Rubens Vinícius Martins. Variação das vogais médias em posição pretônica nas regiões �orte e Sul de Minas Gerais. 2006. 212 f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. GUY, Gregory Riordan; ZILLES, Ana. Sociolinguística quantitativa – instrumental de análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. KIPARSKY, P. Lexical morphology and phonology. In: YANG, S. (org) Linguistic in the Morning Calm. Seoul, Hanshin Publishing Co., p.3-91, 1982. KRISHNAMURTI, B. Areal and lexical diffusion of sound change. Language, v.54, n.1, Março, p.9-25, 1978.
147
KLUNK, Patrícia. Alçamento das vogais médias pretônicas sem motivação aparente. Dissertação (Mestrado em Letras). Porto Alegre: PUCRS, 2007. LABOV, William. Resolving the neogrammarian controversy. Language, v. 57, no 2. p. 267-308, 1981. LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. LEE, Seung Hwa. Variação linguística e vogais no PB. In.: HORA, Demerval da. Vogais: no ponto mais alto das américas. João Pessoa: Ideia, 2009, p. 29-43. LEE, S. H. & OLIVEIRA, M. A.. Variação Inter- e Intra-Dialetal no Português Brasileiro: Um Problema para a Teoria Fonológica. In: Dermeval da Hora Oliveira; Gisela Collischonn. (Org.). Teoria Linguística: fonologia e outros temas. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, p. 67-91, 2003. LEITE, Marcos Esdras. Década 70: a imigração e o caos urbano em Montes Claros. In.: SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI”, 2, 2003, Uberlândia/MG. MARQUES, Sandra Maria Oliveira. As vogais médias pretônicas em situação de contato dialetal. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. MATTOS E SILVA, Rosa. O Português arcaico: fonologia. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2001. MARTINS, Edson Ferreira. Atlas linguístico do Estado de Minas Gerais: o princípio da uniformidade da mudança linguística nas características fonéticas do português mineiro. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL. V. 4, n. 7, agosto de 2006. MILROY, L. Language and Social �etworks. 2 ed. Oxford: Basil Blackwell, 1987. MONTES CLAROS. Prefeitura Municipal. Levantamento socioeconômico Centro – Região Administrativa. Montes Claros: Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação, 2003. MONTES CLAROS. Prefeitura Municipal. Caracterização da região administrativa do Amazonas. Montes Claros: Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação, 2003. MONTES CLAROS. Prefeitura Municipal. Levantamento socioeconômico Maracanã – Região Administrativa. Montes Claros: Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação, 2003. OLIVEIRA, M. A. The neogrammarian controversy revisited. International journal of the sociology of language. Berlin, 89, p.93-105, 1991. OLIVEIRA, M. A. Aspectos da difusão lexical. Revista de Estudos da Línguagem, Belo Horizonte, Ano I, n.1, Jul./Dez, 1992.
148
OLIVEIRA, M. A. O léxico como controlador das mudanças sonoras. In: Revista de Estudos da Linguagem, FALE/UFMG, Belo Horizonte, 1995. OLIVEIRA, M. A. Nem tudo que reluz é ouro: língua e mudança linguística. In: Scripta, Belo Horizonte: PUC Minas, v. 8, n. 16, p. 165-175, 2005. OLIVEIRA, M.A. Variação Linguística e Teoria Fonológica. Trabalho apresentado ao XXI Encontro Nacional da ANPOLL, São Paulo, 2006. OLIVEIRA, Marco Antônio. Variação Linguística, Teoria Fonológica e Difusão Lexical: por uma fonologia Cognitiva. PUC Minas, Julho/2008 OLIVEIRA, Marcos Fábio Martins. O processo de formação e desenvolvimento de Montes Claros e da Área Mineira da SUDENE. In: OLIVEIRA, M.F.M. et al. Formação social e econômica do �orte de Minas. Montes Claros: Ed. Unimontes, 2000, v. 1, p. 13-103. OLIVEIRA, M. A; LEE, S. H. Teorias Fonológicas e Variação Linguística. Revista Estudos da Língua(Gem), Vitória da Conquista, v.3, p.41-67, 2006. PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes. Belo Horizonte: Minas Gráfica, 1979. PEREIRA, Anete Marília; ALMEIDA, Maria Ivete Soares (Org.). Leituras geográficas sobre o �orte de Minas Gerais. Montes Claros: Ed. Unimontes, 2004. PHILLIPS, B.S. Word frequency and the actuation of sound change. Language, v. 60, nº2, p.320-342, 1984. RIBEIRO, Darinka Fortunato Suckow. Alçamento de vogais postônicas não finais no português de Belo Horizonte – Minas Gerais: uma abordagem difusionista. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa e Linguistica). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2007. RODRIGUES, Doriedson do Socorro. Da zona urbana à rural/entre a tônica e a pré-tônica: o alteamento /o/ > [u] no português falado no município de Cametá/Ne paraense – uma abordagem variacionista. v. 1. Dissertação (Mestrado). Belém: Universidade Federal do Pará, 2005. SCHILLING, Voltaire. Lembrando Saint-Hilaire. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/05/14/001_a.htm. Acesso em 12/08/2009. SHEN, Z. Lexical diffusion: a population perspective and a mathematical model. Journal of Chinese Linguistics, [s.l.], v.18, p.159-291, 1990. SILVA, André Pedro da. Supressão da vogal postônica não-final: uma tendência das proparoxítonas da Língua Portuguesa com evidências no falar sapeense. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa). João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2006.
149
SILVA, Myrian Barbosa da. As pretônicas no falar baiano: a variedade culta de Salvador. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1989. SILVA NETO, Serafim da. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1950. TONDINELI, Patrícia Goulart. Um olhar semiolinguistico sob o manto da Princesa do �orte: história oral e dialetologia. Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES, Departamento de Comunicação e Letras. Montes Claros/MG, 2009. VIANA, Vanessa Faria. As vogais médias pretônicas em Pará de Minas: um caso de variação linguística. Dissertação (Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa). Belo Horizonte: PUCMinas, 2008. VIEGAS, Maria do Carmo. O Alçamento de vogais médias pretônicas e os itens lexicais. Tese (Doutorado em Letras – Estudos Linguísticos). Universidade Federal de Minas Gerais, 2001. VIEIRA, Maria José Blaskovski. �eutralização das vogais médias postônicas. Dissertação (Mestrado em Letras). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1994. WANG, W. S.-Y. Competing changes as a cause of residue. Language, v.45, n.1, p.9-25, 1969. WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M.I. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. trad. Marcos Bagno; revisão técnica Carlos Alberto Faraco; posfácio Maria da Conceição A. de Paiva, Maria Eugénia Lamoglia Duarte. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. YACOVENCO, Lílian Coutinho. As vogais médias pretônicas no falar culto carioca. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1993.
150
APÊ�DICE A – Lista de figuras referentes às vogais postônicas (e, o)
ABÓBORA ALIE�ÍGE�A
ALM�DEGA �CORA
APÓSTOLOS ÁRVORE
159
APÊ�DICE B – Relação de palavras alçadas
Pretônica (e) Acendia Acontecia Acredito Alegria Aparecerem Aparecia Assegurar Avenida Benção Bexiga Bezerro Campeão Campeonato Conheci Conhecia Conhecido(as) Consegui Conseguia Conseguimos Conseguir Conseguiram Conseguiu Consequentemente Crescendo Cresceu Deixar Derrubar Desabei Desacreditando Desafio Desafoga Desanimado Desanimando Desapropriar Desarmado Descambar Descansar Descarregar Desceu Descida Descobri Descobriu Descriminar Desculpa
Desembocar Desempenhado Desempenho Desempregadas Desemprego Desinformado Desenvolvem Desenvolvendo Desenvolver Desenvolveu Desenvolvi Desenvolvida Desfazer Desfocar Desgaste Desgraça Desigualdade Desleal Desliga Desligada Desligar Deslumbramento Desmotiva Desnecessário Desonestidade Desordenadamente Desordenado Desperdício Despontando Desrespeitar Desrespeito Destaque Destino Destolcida/Destorcida Destruí Destruiu Desvalorizado(a) Devagar(z)inho Dezenove Dezesseis Dezessete Dezoito Diferença Diferentes Embora Emburra
Embrulhado Empatado Empatar Empatasse Empate Empatou Empolgar Empolgou Empregado(a) Emprego Empresa Empresário Empurrando Empurrão Enca(i)xar Encantado Encantamento Encantou Encarar Encarregou Enchia Encontra Encontrando Encontrar Encontrava Encontrei Encontro Encontros Encostando Encostar Endureci Enfermagem Enferme(i)ro(a) Enfermo Enfiei Enfraqueci Enfrentar Enganada Engano Engoli Engordou Engraçado(as) Engravidava Enlo(u)queci Enorme Enquanto
162
Enrolado Ensaio Ensina Ensinar Ensinava Ensino Entenda Entender Entendeu Entendi Entradas Entrar Entrega Entregar Entregava Entreten(r)imento Entrevistas Entrosou Enviou Envolvi Enxerga Enxergar Enxergando Enxergava Enxergo Enxerguei Esbagaçada Escala (V) Escala (N) Escalando Escapuli Escola(s) Escolaridade Escolhe (iscói) Escolher Escolheu Escolhi Escolhido Escolinha Esconde Esconder Escondeu Esconde Escondi Escondido(a) Escorrega Escorregadia Escote(i)ra Escoteiro(s) Escotismo
Escovei Escrevendo Escrever Escreveu Escrevi Escrevia Escrito Escuro Escuta Escutador Escutando Escutar Escutava Esforça Esforçado(a) Esgotado Esmola Espaço Espaldo (respaldo) Espalhados Espanha Especiais Especial Especialista Especialização Especificamente Específico (a) Espectador(es) Espelhar Espelho Espera Esperando Esperar Esperava Espero Esperta Espetáculo Espírita Espírito Espiritual Espiritualismo Esporte Esposo (a) Espoleta Esquecendo Esquecer Esqueceu Esqueci Esqueço Esqueleto
Esquematizado Esquina Está Estabelecendo Estádio(s) Estado(s) Estadual Estagiário(s) Estágio (s) Estagnação Estamos Estão Estatuto Estava Esteja Estejam Estilo(s) Estima Estimulado Estimular Estômago Esto(u)ram Estrada Estradeiro Estraga Estragou Estrange(i)ro (s) Estranho(a) Estratégica Estreia Estreitinho Estrela Estrelado (as) Estreitas Estrupada (estuprada) Estrutura Estuda Estudada Estudando Estudante(s) Estudar Estudava Estudei Estúdio Estudou Estudos Exatamente Exclui Exclusividade Excursões (ão)
163
Exibição Exige Exigia Existe Existia Existiu Expandir Expedito Experiência (s) Explicação Explicando Explícito Explico (ele) Explodi Explodindo Explodiu Expomontes Expor Exportar Exposição Exposto Expressão Expressar Extensão Exterior Exterminador Externa Extraordinário(as) Extravagante Extremamente Felipe Futebol Geração Gestão Jesus Medida(s) Melhor Melhorada Melhoradinha Melhorando Melhorar Melhoraram Melhore Melhores Melhoria Melhorou Menininha Meninos (as) Mentindo Mentira(s)
Mercearia Mexia Mexido Nenhum (a) Pacaembu Pedi Pedido Pedindo Pediram Pediu Pepino Pequenininho(a) Pequeno (s) Pendurada Perigo Perigosos (as) Penteadeiras Piedade Precisa Precisam Precisando Precisão Precisar Precisaria Precisava Preciso Precisou Preferia Preferível Prefiro Preguiça Pretendendo Queria Questão Reais Recebido Relação Saneamento Segui Seguido(a) Seguinte Segunda Segundo Segurada Seguramente Segurança Segurando Seguro Semana Semestre
Senhor Senhora Senti Sentia Sentido Seringa Servi Serviam Serviço Servido Servindo Serviu Sessão Simeão Simplesmente Sobrenome Teatro(s) Território Testemunha Vestido Postônicas (e) Alienígena Almôndega Área(s) Áurea – variação de auréola Cócega(s) Córrego Gêmeos (as) Hóspede Óleo Orquídea Pêssego Petróleo Timóteo Velocímetro Pretônica (o) Acompanha Acompanhado Acompanhar Acontecia Acostuma Acostumado Acostumei Agostinho
164
Algodão Almoçar Aproveita Aproveitado Aproveitar Atropelada Audiovisual Boate Bocado Boneca(s) Bonito(a) Bonitinho Botãozinho Cochilo Começa Começado Começam Começamos Começando Começar Começaram Começassem Comecei Começo Começou Comentou Comer Comesse Comeu Comida Comigo Conforto Confusão Conheça Conhecendo Conhecer Conheceram Conheceu (eu) Conheci (ele) Conheci Conhecia Conhecida Conhecidos Conheço Conseguia Consertando Consertar Conversando Conversa Conversar
Conversava Conversei Converso Conversou Corregozinho Corria Corrida Costuma Costume Costura Costurar Costurei Costurando Costurava (eu) Descobri Descobriu Diretoria Doação Doente Domingo(s) Dormi Dormindo Dormir Eletroeletrônico Engoli Escondido Escorrega Escorregadia Explodindo Foguete Folia Fortuna Geografia Governantes Governo Impossível João José Maioria Mochila Modificando Moleque(s) Molhada Motivo(s) Negocia Noção Notícia Obrigação Oitocentos Orquídea
Pedagogia Podia Polícia Policiais Policial Política(s) Político(s) Possíveis Possível Povoado Preocupa Preocupação Preocupada Preocupar Preocuparia Preocupou Procurava Proveito Razoáveis Razoavelmente Sobrinho Sofrida Sossega Sossegado Voando Vontade Vomitando Toalha Tomate Torcida Postônica (o) Abóbora Apóstolos Árvore Astrônomo Átomo Auréola Áureu – variação de auréola Autódromo Bússola Catálogo Cômoda Crisântomo – variação de crisântemo Época Fósforo
165
Gôndola Horóscopo Ídolo Mármore Parábola
Páscoa Período Pérola Pitágoras Pólvora
Psicólogo(a) Semáforo(s) Símbolo
166
APÊ�DICE C – Relação de palavras rebaixadas Pretônica (e) Americano Bebeto Berenice Catequese Certíssimo Coleguinha Completamente Derrotas Diretamente Elétrico Eletroeletrônico Interessa Intermédio Extraterrestre Festinha Fundamental Interessa Melhora Melhores Mentindo Merece Mulherão Negócio Nervosos Ofereci Pergunta Projeto Recebe Repó(r)teres Requer
Sequestro Serviço Setecentos Setembro Setenta Severa Tecnologia Velotrol Zezim Pretônica (o) Chaboitinha Colega(s) Colégio Coleguinha Coloca Colocaram Comércio Copacabana Copim (copinho) Coprodução Corregozinho Escolinha Floresta Forró(s) Fotografa Fotografia Fotográfica Fotográfico
Fotografo(s) Gloriosa Gostosa Nordeste Novamente Novela(s) Novecentos Noventa Novinha Ocorre Oposta Otelo Pipoquinha Popó Processo Profético Progresso Projeto Promessa Propostas Rocinha Somente Sozim (sozinho) Sozinho(a) Velocípede Vovó Postônica (o) Brócolis Xérox
167
APÊ�DICE D – Índices percentuais do VARBRUL
D.1 Alçamento da pretônica (e)
CELL CREATION
=============
Name of token file:
C:\Users\Toshiba\Desktop\TOKENS\OFICIAL\PRETONICA\PRETE\Alcamento pretE.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
(12)
(13)
(14)
(15)
(16)
)
Number of cells: 2435
Application value(s): 01
Total no. of factors: 65
Group 0 1 Total %
---------------------------------
1 (2)
o N 448 201 649 12
% 69 30
a N 1076 208 1284 25
% 83 16
u N 159 187 346 6
% 45 54
e N 911 290 1201 23
% 75 24
O N 106 127 233 4
% 45 54
i N 874 386 1260 25
% 69 30
E N 23 14 37 0
% 62 37
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
2 (3)
168
o N 260 29 289 5
% 89 10
X N 2104 1280 3384 67
% 62 37
a N 293 34 327 6
% 89 10
i N 522 38 560 11
% 93 6
e N 275 6 281 5
% 97 2
u N 143 26 169 3
% 84 15
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
3 (4)
P N 1335 631 1966 39
% 67 32
S N 2262 782 3044 60
% 74 25
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
4 (5)
F N 985 155 1140 22
% 86 13
O N 1362 306 1668 33
% 81 18
X N 321 753 1074 21
% 29 70
T N 374 6 380 7
% 98 1
N N 380 180 560 11
% 67 32
L N 128 11 139 2
% 92 7
S N 39 1 40 0
% 97 2
V N 8 1 9 0
% 88 11
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
5 (6)
F N 993 701 1694 33
169
% 58 41
T N 744 49 793 15
% 93 6
S N 117 1 118 2
% 99 0
O N 685 162 847 16
% 80 19
N N 721 421 1142 22
% 63 36
L N 260 54 314 6
% 82 17
V N 77 25 102 2
% 75 24
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
6 (7)
1 N 2261 817 3078 61
% 73 26
3 N 323 132 455 9
% 70 29
2 N 1013 464 1477 29
% 68 31
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
7 (8)
o N 2935 1015 3950 78
% 74 25
~ N 662 398 1060 21
% 62 37
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
8 (9)
N N 2238 836 3074 61
% 72 27
V N 1190 461 1651 32
% 72 27
P N 169 116 285 5
% 59 40
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
9 (10)
M N 1510 149 1659 33
170
% 91 8
I N 2087 1264 3351 66
% 62 37
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
10 (11)
I N 3352 1391 4743 94
% 70 29
F N 245 22 267 5
% 91 8
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
11 (12)
I N 327 138 465 9
% 70 29
N N 205 99 304 6
% 67 32
F N 160 80 240 4
% 66 33
R N 168 64 232 4
% 72 27
L N 294 100 394 7
% 74 25
D N 293 121 414 8
% 70 29
S N 94 57 151 3
% 62 37
B N 259 105 364 7
% 71 28
P N 240 128 368 7
% 65 34
C N 209 98 307 6
% 68 31
J N 371 91 462 9
% 80 19
M N 249 170 419 8
% 59 40
A N 728 162 890 17
% 81 18
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
171
12 (13)
F N 1541 659 2200 43
% 70 29
M N 2056 754 2810 56
% 73 26
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
13 (14)
3 N 910 493 1403 28
% 64 35
1 N 1289 475 1764 35
% 73 26
2 N 1398 445 1843 36
% 75 24
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
14 (15)
A N 1973 684 2657 53
% 74 25
B N 779 283 1062 21
% 73 26
C N 845 446 1291 25
% 65 34
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
15 (16)
- N 1743 718 2461 49
% 70 29
+ N 1854 695 2549 50
% 72 27
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
---------------------------------
Total N 3597 1413 5010
% 71 28
Name of new cell file: Untitled.cel
172
D.2 Rebaixamento da pretônica (e)
CELL CREATION
=============
Name of token file:
C:\Users\Toshiba\Desktop\TOKENS\OFICIAL\PRETONICA\PRETE\Rebaixamento
pretE.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
(12)
(13)
(14)
)
Number of cells: 1502
Application value(s): 10
Total no. of factors: 50
Group 1 0 Total %
---------------------------------
1 (2)
o N 714 10 724 19
% 98 1
a N 1075 9 1084 29
% 99 0
e N 1808 49 1857 50
% 97 2
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
2 (3)
o N 402 8 410 11
% 98 1
X N 2101 39 2140 58
% 98 1
a N 294 14 308 8
% 95 4
e N 800 7 807 22
% 99 0
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
3 (4)
173
F N 985 25 1010 27
% 97 2
O N 1409 19 1428 38
% 98 1
X N 321 3 324 8
% 99 0
T N 374 4 378 10
% 98 1
N N 380 10 390 10
% 97 2
L N 128 7 135 3
% 94 5
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
4 (5)
F N 992 5 997 27
% 99 0
T N 744 22 766 20
% 97 2
O N 879 33 912 24
% 96 3
N N 722 4 726 19
% 99 0
L N 260 4 264 7
% 98 1
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
5 (6)
o N 2934 64 2998 81
% 97 2
~ N 663 4 667 18
% 99 0
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
6 (7)
N N 2237 50 2287 62
% 97 2
V N 1191 11 1202 32
% 99 0
P N 169 7 176 4
% 96 3
Total N 3597 68 3665
174
% 98 1
---------------------------------
7 (8)
M N 1511 30 1541 42
% 98 1
I N 2086 38 2124 57
% 98 1
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
8 (9)
I N 3352 60 3412 93
% 98 1
F N 245 8 253 6
% 96 3
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
9 (10)
I N 327 7 334 9
% 97 2
N N 205 2 207 5
% 99 0
F N 160 2 162 4
% 98 1
R N 168 4 172 4
% 97 2
L N 294 2 296 8
% 99 0
D N 293 7 300 8
% 97 2
S N 94 2 96 2
% 97 2
B N 259 2 261 7
% 99 0
P N 240 3 243 6
% 98 1
C N 209 7 216 5
% 96 3
J N 371 7 378 10
% 98 1
M N 249 11 260 7
% 95 4
A N 728 12 740 20
% 98 1
175
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
10 (11)
F N 1541 26 1567 42
% 98 1
M N 2056 42 2098 57
% 97 2
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
11 (12)
3 N 910 23 933 25
% 97 2
1 N 1289 15 1304 35
% 98 1
2 N 1398 30 1428 38
% 97 2
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
12 (13)
A N 1973 27 2000 54
% 98 1
B N 779 14 793 21
% 98 1
C N 845 27 872 23
% 96 3
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
13 (14)
- N 1743 41 1784 48
% 97 2
+ N 1854 27 1881 51
% 98 1
Total N 3597 68 3665
% 98 1
---------------------------------
Total N 3597 68 3665
% 98 1
Name of new cell file: Untitled.cel
176
D.3 Alçamento da pretônica (o)
CELL CREATION
=============
Name of token file:
C:\Users\Toshiba\Desktop\TOKENS\OFICIAL\PRETONICA\PRETO\Alcamento pretO.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
(12)
(13)
(14)
(15)
(16)
)
Number of cells: 1515
Application value(s): 01
Total no. of factors: 62
Group 0 1 Total %
---------------------------------
1 (2)
a N 829 35 864 27
% 95 4
u N 271 40 311 9
% 87 12
i N 565 162 727 22
% 77 22
E N 163 52 215 6
% 75 24
e N 616 172 788 24
% 78 21
o N 260 1 261 8
% 99 0
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
2 (3)
X N 1806 392 2198 69
% 82 17
i N 270 26 296 9
% 91 8
177
a N 268 21 289 9
% 92 7
u N 32 1 33 1
% 96 3
e N 175 18 193 6
% 90 9
o N 153 4 157 4
% 97 2
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
3 (4)
S N 2037 322 2359 74
% 86 13
P N 667 140 807 25
% 82 17
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
4 (5)
N N 290 16 306 9
% 94 5
O N 1542 384 1926 60
% 80 19
F N 331 31 362 11
% 91 8
L N 208 5 213 6
% 97 2
X N 212 2 214 6
% 99 0
S N 99 8 107 3
% 92 7
V N 22 16 38 1
% 57 42
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
5 (6)
T N 600 36 636 20
% 94 5
O N 584 48 632 19
% 92 7
N N 847 245 1092 34
% 77 22
S N 81 14 95 3
178
% 85 14
F N 345 78 423 13
% 81 18
L N 247 41 288 9
% 85 14
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
6 (7)
1 N 1494 274 1768 55
% 84 15
3 N 308 23 331 10
% 93 6
2 N 902 165 1067 33
% 84 15
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
7 (8)
o N 1875 222 2097 66
% 89 10
~ N 829 240 1069 33
% 77 22
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
8 (9)
V N 921 243 1164 36
% 79 20
N N 1700 212 1912 60
% 88 11
P N 83 7 90 2
% 92 7
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
9 (10)
I N 1805 394 2199 69
% 82 17
M N 899 68 967 30
% 92 7
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
10 (11)
I N 2573 450 3023 95
% 85 14
179
F N 131 12 143 4
% 91 8
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
11 (12)
N N 178 20 198 6
% 89 10
S N 84 31 115 3
% 73 26
B N 178 57 235 7
% 75 24
L N 245 17 262 8
% 93 6
D N 200 46 246 7
% 81 18
F N 114 8 122 3
% 93 6
R N 140 33 173 5
% 80 19
A N 603 90 693 21
% 87 12
I N 232 32 264 8
% 87 12
P N 225 25 250 7
% 90 10
C N 137 20 157 4
% 87 12
J N 201 47 248 7
% 81 18
M N 167 36 203 6
% 82 17
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
12 (13)
F N 1193 187 1380 43
% 86 13
M N 1511 275 1786 56
% 84 15
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
13 (14)
1 N 916 149 1065 33
180
% 86 13
3 N 708 124 832 26
% 85 14
2 N 1080 189 1269 40
% 85 14
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
14 (15)
A N 1687 244 1931 60
% 87 12
C N 451 113 564 17
% 79 20
B N 566 105 671 21
% 84 15
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
15 (16)
+ N 1522 264 1786 56
% 85 14
- N 1182 198 1380 43
% 85 14
Total N 2704 462 3166
% 85 14
---------------------------------
Total N 2704 462 3166
% 85 14
Name of new cell file: Untitled.cel
D.4 Rebaixamento da pretônica (o)
CELL CREATION
=============
Name of token file:
C:\Users\Toshiba\Desktop\TOKENS\OFICIAL\PRETONICA\PRETO\Rebaixamento
pretO.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
181
(11)
(12)
(13)
(14)
(15)
)
Number of cells: 1355
Application value(s): 10
Total no. of factors: 55
Group 1 0 Total %
---------------------------------
1 (2)
a N 829 3 832 29
% 99 0
i N 836 22 858 30
% 97 2
E N 122 59 181 6
% 67 32
e N 616 19 635 22
% 97 2
o N 259 8 267 9
% 97 2
O N 42 22 64 2
% 65 34
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
2 (3)
S N 2037 10 2047 72
% 99 0
P N 667 123 790 27
% 84 15
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
3 (4)
N N 290 44 334 11
% 86 13
O N 1663 57 1720 60
% 96 3
F N 331 24 355 12
% 93 6
L N 146 3 149 5
% 97 2
X N 212 4 216 7
% 98 1
T N 62 1 63 2
182
% 98 1
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
4 (5)
T N 600 12 612 21
% 98 1
O N 584 21 605 21
% 96 3
N N 847 4 851 29
% 99 0
S N 81 1 82 2
% 98 1
F N 345 73 418 14
% 82 17
L N 247 22 269 9
% 91 8
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
5 (6)
1 N 1494 107 1601 56
% 93 6
3 N 308 6 314 11
% 98 1
2 N 902 20 922 32
% 97 2
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
6 (7)
o N 1875 129 2004 70
% 93 6
~ N 829 4 833 29
% 99 0
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
7 (8)
V N 921 6 927 32
% 99 0
N N 1700 126 1826 64
% 93 6
P N 83 1 84 2
% 98 1
Total N 2704 133 2837
183
% 95 4
---------------------------------
8 (9)
I N 1805 129 1934 68
% 93 6
M N 899 4 903 31
% 99 0
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
9 (10)
I N 2573 126 2699 95
% 95 4
F N 131 7 138 4
% 94 5
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
10 (11)
N N 178 7 185 6
% 96 3
S N 84 11 95 3
% 88 11
B N 178 5 183 6
% 97 2
L N 245 14 259 9
% 94 5
D N 200 11 211 7
% 94 5
F N 114 7 121 4
% 94 5
R N 140 6 146 5
% 95 4
A N 603 47 650 22
% 92 7
I N 232 7 239 8
% 97 2
P N 225 2 227 8
% 99 0
C N 137 7 144 5
% 95 4
J N 201 6 207 7
% 97 2
M N 167 3 170 5
% 98 1
184
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
11 (12)
F N 1193 63 1256 44
% 94 5
M N 1511 70 1581 55
% 95 4
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
12 (13)
1 N 916 39 955 33
% 95 4
3 N 708 23 731 25
% 96 3
2 N 1080 71 1151 40
% 93 6
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
13 (14)
A N 1687 94 1781 62
% 94 5
C N 451 25 476 16
% 94 5
B N 566 14 580 20
% 97 2
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
14 (15)
+ N 1522 85 1607 56
% 94 5
- N 1182 48 1230 43
% 96 3
Total N 2704 133 2837
% 95 4
---------------------------------
Total N 2704 133 2837
% 95 4
Name of new cell file: Untitled.cel
185
D.5 Alçamento da postônica (e)
CELL CREATION
=============
Name of token file:
C:\Users\Toshiba\Desktop\TOKENS\OFICIAL\POSTONICA\Postonica E.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
)
Number of cells: 244
Application value(s): 10
Total no. of factors: 42
Group 1 0 Total %
---------------------------------
1 (2)
a N 40 60 100 25
% 40 60
u N 45 190 235 59
% 19 80
i N 2 55 57 14
% 3 96
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
2 (3)
a N 19 26 45 11
% 42 57
o N 5 69 74 18
% 6 93
e N 17 26 43 10
% 39 60
O N 32 76 108 27
% 29 70
u N 2 51 53 13
% 3 96
i N 12 57 69 17
% 17 82
Total N 87 305 392
% 22 77
186
---------------------------------
3 (4)
T N 22 28 50 12
% 44 56
N N 16 133 149 38
% 10 89
O N 18 115 133 33
% 13 86
F N 4 27 31 7
% 12 87
L N 27 2 29 7
% 93 6
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
4 (5)
S N 64 3 67 17
% 95 4
O N 21 284 305 77
% 6 93
N N 2 18 20 5
% 10 90
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
5 (6)
o N 85 288 373 95
% 22 77
~ N 2 17 19 4
% 10 89
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
6 (7)
N N 9 25 34 8
% 26 73
S N 11 19 30 7
% 36 63
B N 11 23 34 8
% 32 67
L N 9 20 29 7
% 31 68
D N 6 24 30 7
% 20 80
F N 6 22 28 7
% 21 78
187
R N 4 23 27 6
% 14 85
A N 8 25 33 8
% 24 75
I N 4 25 29 7
% 13 86
P N 6 25 31 7
% 19 80
C N 4 23 27 6
% 14 85
J N 5 28 33 8
% 15 84
M N 4 23 27 6
% 14 85
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
7 (8)
F N 49 158 207 52
% 23 76
M N 38 147 185 47
% 20 79
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
8 (9)
1 N 40 118 158 40
% 25 74
3 N 25 92 117 29
% 21 78
2 N 22 95 117 29
% 18 81
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
9 (10)
A N 47 140 187 47
% 25 74
C N 25 89 114 29
% 21 78
B N 15 76 91 23
% 16 83
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
188
10 (11)
+ N 55 162 217 55
% 25 74
- N 32 143 175 44
% 18 81
Total N 87 305 392
% 22 77
---------------------------------
Total N 87 305 392
% 22 77
Name of new cell file: Untitled.cel
D.6 Alçamento da postônica (o)
CELL CREATION
=============
Name of token file:
C:\Users\Toshiba\Desktop\TOKENS\OFICIAL\POSTONICA\PosOcorrigido.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
)
Number of cells: 259
Application value(s): 10
Total no. of factors: 45
Group 1 0 Total %
---------------------------------
1 (2)
a N 115 73 188 51
% 61 38
i N 5 33 38 10
% 13 86
u N 59 66 125 34
% 47 52
o N 5 6 11 3
% 45 54
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
2 (3)
189
E N 76 11 87 24
% 87 12
a N 28 66 94 25
% 29 70
O N 39 64 103 28
% 37 62
o N 6 29 35 9
% 17 82
u N 13 2 15 4
% 86 13
i N 22 6 28 7
% 78 21
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
3 (4)
O N 93 83 176 48
% 52 47
F N 39 38 77 21
% 50 49
T N 22 6 28 7
% 78 21
N N 6 34 40 11
% 15 85
L N 7 16 23 6
% 30 69
S N 17 1 18 4
% 94 5
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
4 (5)
O N 83 45 128 35
% 64 35
T N 38 62 100 27
% 38 62
L N 53 34 87 24
% 60 39
N N 10 37 47 12
% 21 78
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
5 (6)
o N 174 141 315 87
190
% 55 44
~ N 10 37 47 12
% 21 78
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
6 (7)
N N 12 17 29 8
% 41 58
S N 15 6 21 5
% 71 28
B N 14 18 32 8
% 43 56
L N 17 12 29 8
% 58 41
D N 19 10 29 8
% 65 34
F N 4 16 20 5
% 20 80
R N 12 12 24 6
% 50 50
A N 33 10 43 11
% 76 23
I N 11 17 28 7
% 39 60
P N 14 13 27 7
% 51 48
C N 6 17 23 6
% 26 73
J N 16 14 30 8
% 53 46
M N 11 16 27 7
% 40 59
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
7 (8)
F N 90 90 180 49
% 50 50
M N 94 88 182 50
% 51 48
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
191
8 (9)
1 N 63 77 140 38
% 45 55
3 N 51 52 103 28
% 49 50
2 N 70 49 119 32
% 58 41
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
9 (10)
A N 91 90 181 50
% 50 49
C N 51 49 100 27
% 51 49
B N 42 39 81 22
% 51 48
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
10 (11)
+ N 104 93 197 54
% 52 47
- N 80 85 165 45
% 48 51
Total N 184 178 362
% 50 49
---------------------------------
Total N 184 178 362
% 50 49
Name of new cell file: Untitled.cel